domingo, 17 de agosto de 2014

O pânico pela epidemia de ebola dispara os anúncios de falsos remédios


O ministro da Saúde nigeriano promove um duvidoso suplemento nutricional

Pacientes com ebola aguardam atendimento em Kailahun, Serra Leoa. / CARL DE SOUZA (AFP)
O pânico suscitado pela epidemia de ebola está fazendo com que alguns fabricantes de suplementos alimentares tentem se aproveitar da situação, oferecendo curas para o vírus. Tanto a Organização Mundial de Saúde (OMS) como a Food and Drug Administration dos Estados Unidos (FDA) alertaram sobre falsos remédios e esta última ameaçou penalizar três empresas norte-americanas se continuarem com suas campanhas. Nenhuma das entidades divulgou a lista de produtos ou empresas que estão na mira.
O que realmente foi divulgado é que o ministro da Saúde da Nigéria se dispôs a promover um suplemento nutricional norte-americano. Bem no momento em que se discutia o envio à Libéria do ZMapp, um medicamento experimental aceito pela OMS, o ministro Onyebuchi Chukwu garantiu que um cientista nigeriano, que morava no exterior e que não foi identificado, estava organizando o envio de outro medicamento para a Nigéria. Vários meios de comunicação locais garantem se tratar do NanoSilver, um produto da Foundation for Natural Remedies, que supostamente contém partículas microscópicas de prata e não é certificado pelas agências reguladoras. A prata mata alguns micróbios em superfícies ou ferimentos, mas pode ser tóxica e seu uso sistemático contra o vírus não foi aprovado pelo FDA. O NanoSilver é vendido no site da fundação, assim como produtos como óleo de cânhamo, chocolate e “comprimidos para a clareza mental”.

Desde que o surto começou — o maior desde 1976, que afetou 2.127 pessoas e provocou a morte de 1.145 na Libéria, Guiné, Nigéria e Serra Leoa —, as falsas curas inundaram a África ocidental. Na Nigéria, correu o boato de que beber água salgada, ou banhar-se nela, protege contra a doença, e por isso estão sendo vendidos sacos de “sal bento para a cura do ebola”. A OMS informou a morte de duas pessoas por ingerir água salgada.Recentemente, a diretora da fundação, Rima Laibow, publicou na internet uma “carta aberta aos chefes de Estado dos países afetados pelo ebola”, garantindo que o NanoSilver curava a doença. Também disse estar em contato com os Governos da África ocidental. A doutora Laibow não foi localizada. Depois que o The New York Times lhe enviou perguntas por e-mail, duas de suas páginas na internet anunciaram que estavam “sob ataque” e direcionavam os visitantes a outros sites que vendiam um produto diferente chamado Solução de Prata. Na rede ainda são encontrados anúncios de suplementos para combater o ebola, como um chamado Monolaurin.
Não é novidade. Durante os 30 anos de epidemia de Aids, as falsas curas proliferaram na África, sobretudo quando os doadores ocidentais começaram a enviar milhões de doses de remédios antirretrovirais. O presidente sul-africano Thabo Mbeki chegou a divulgar em 1997 um produto chamado Virodene, o “milagre africano” contra a Aids, que continha um perigoso solvente industrial.

Três liberianos recebem o soro experimental

Três profissionais de saúde da Libéria recebem desde sexta-feira passada o soro experimental contra o ebola enviado pelos Estados Unidos. Apenas uma pequena quantidade do medicamento, ZMapp, chegou à capital (Monrovia), depois de pedidos dos governantes do país africano, que incluíram uma carta da presidenta, Ellen Johnson-Sirleaf, ao próprio Barack Obama, como informa o jornal The New York Times. As autoridades liberianas não deram detalhes de como escolheram esses três pacientes entre todos os doentes. A Libéria é um dos três países mais afetados, ao lado de Serra Leoa e Guiné, por uma epidemia que mantém em quarentena 1 milhão de pessoas em toda a África, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Os três profissionais de saúde estão recebendo o tratamento com ZMapp no hospital Elwa, de Monrovia, o mesmo no qual os norte-americanos Kent Brantly e Nancy Writebol contraíram o vírus.
Os dois foram os primeiros pacientes de ebola tratados com o soro experimental, que nunca havia sido testado em humanos. O tratamento começou na Libéria e continuou depois de sua transferência para os Estados Unidos, e agora evoluem favoravelmente. No entanto, o missionário espanhol Miguel Pajares, que também contraiu o vírus na Libéria, faleceu na terça-feira passada depois de ser tratado em Madri com o mesmo medicamento. “Conforme meu tratamento continua na unidade de isolamento do hospital universitário de Emory [Atlanta], estou me recuperando em todos os sentidos. Agradeço a Deus pela equipe médica que está cuidando de mim da melhor forma e com compaixão”, afirmou Brantly em um comunicado na sexta-feira passada, o segundo desde que foi internado.
O secretário geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, convocou ontem a comunidade internacional a continuar ajudando os países africanos na luta contra a epidemia.

Poesia da Noite - Como um rio misterioso

Da Costa e Silva



Pissarro - Lavadeiras - 1895Camille Pissarro (1830-1903), francês, Lavadeiras (1895)


SOU COMO UM RIO MISTERIOSO...

Sou como um rio que, de tanto
Refletir sombras, se tornou sombrio...
Rio de dor, rio de pranto,
Ninguém sabe o mistério deste rio.

Rio de dor, rio de mágoas,
Ocultando as imagens que refletes,
Rolam em meu ser as tuas águas,
Sob a treva e o silêncio, como o Letes...

Polícia Federal e MP precisam investigar Roseana Sarney no caso do suborno pago por empreiteira

http://ucho.info/policia-federal-e-mp-precisam-investigar-roseana-sarney-no-caso-do-suborno-pago-por-empreiteira

roseana_sarney_27Chave de cadeia – Fosse o Brasil um país sério e com autoridades responsáveis, a governadora do Maranhão,Roseana Sarney (PMDB), já estaria longe do Palácio dos Leões, sede do Executivo estadual. Isso porque a filha do caudilho José Sarney, também do PMDB, mentiu sobre o escândalo envolvendo o doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava-Jato, e a empreiteira Constran.
Contadora do doleiro, Meire Bonfim da Silva Poza, que já deveria estar presa por ter colaborado com o esquema de lavagem de dinheiro e pagamento de propinas, disse no Conselho de Ética que a Constran pagou a Youssef uma boa quantia em dinheiro para subornar o governo maranhense. A estratégia criminosa tinha como objetivo furar a fila de pagamento de precatórios por parte do Executivo maranhense.
Quando foi preso pela Polícia Federal, Alberto Youssef estava em São Luís, capital do estado. Segundo as investigações, o doleiro foi ao Maranhão para, em nome da Constran, entregar parte da propina que serviria de senha para liberar o pagamento antecipado de um precatório no valor de R$ 120 milhões, referente a uma obra realizada no estado em 1980.
Semanas após a prisão de Youssef, sem explicação convincente e surpreendendo a todos, José Sarney desistiu de disputar a reeleição ao Senado pelo estado do Amapá. Na sequência foi a vez da filha, Roseana, anunciar que estava se retirando da vida pública. Ou seja, naquele momento tudo indicava que Roseana Sarney desistira de concorrer ao Senado. Tudo muito estranho, mas que a sequência dos fartos relacionados à Operação Lava-Jato certamente explica.
Tão logo surgiu a informação de que a Constran havia subornado o governo do Maranhão, a mesma Roseana não perdeu tempo e disse, com a desfaçatez que lhe é peculiar, disse que cumpriu determinação judicial. “Nós só fizemos o que a Justiça mandou e com a anuência do Ministério Público. E decisão judicial a gente não discute, a gente cumpre”, disse a governadora. Acontece que em seguida o Judiciário do Maranhão veio a público negar que determinara o pagamento antecipado do precatório à Constran. Aliás, a dívida da Constran foi excluída do rol de dívidas do estado em setembro de 2013.
A Polícia Federal e o Ministério Público Federal têm o dever de investigar a governadora Roseana e todos os seus quejandos, pois é inaceitável que por ingerência política do clã comandado por José Sarney seja suprimido um capítulo do maior escândalo de corrupção da história nacional, que pode ter movimentado muito mais do que os R$ 10 bilhões inicialmente anunciados.
A explicação de Roseana Sarney para o imbróglio é tão infantil quanto pífia, por isso é preciso que as investigações da Operação Lava-Jato avancem na direção do Maranhão. O Brasil precisa urgentemente ser passado a limpo, mas isso não significa que os coronéis da política brasileira saiam de cena à sombra da impunidade. Roseana e o pai, o ainda senador José Sarney, devem explicações à sociedade e principalmente à Justiça.
Para quem vez por outra usa o conglomerado de comunicações da família para intimidar jornalistas que disparam críticas ao clã, como foi o caso do editor doucho.info, Roseana Sarney está mostrando não apenas a verdadeira face, mas, sim, um currículo imprestável. Em suma, à cena volta o velho ditado que garante ser o tempo o senhor da razão.

Pesquisa confirma: investir em imóveis é mais rentável do que fazer aplicações financeiras



Estudo feito pelo Grupo EPO e Fundação Dom Cabral mostra que apostar no mercado imobiliário traz vantagens maiores do que investimentos como poupança, CDI ou ações
Uma pesquisa confirmou o que o mercado imobiliário belo-horizontino defende há algum tempo: investir em imóveis é mais rentável do que fazer aplicações em poupança, CDI ou mesmo carteira de ações representada pelo índice da Bovespa (Ibovespa). O levantamento, feito pelo Grupo EPO em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC), comparou a taxa de retorno de investimento no mercado imobiliário de BH com o desempenho das principais aplicações financeiras, considerando o período entre janeiro de 2009 a dezembro de 2013. O resultado apontou que o rendimento imobiliário é o mais atrativo, com taxa de 77% de valorização, superior ao CDI, segundo colocado, com 57,7 %. A poupança atingiu 37,8 %, um pouco acima do Ibovespa, com 37,2%.
Como a taxa de retorno do investimento em imóvel foi avaliada considerando não apenas a valorização do bem, mas também os ganhos obtidos com o aluguel, a rentabilidade pode ser ainda maior, chegando a 106,5%. Para Patrícia Becker, gerente de projetos da FDC, trata-se de uma análise histórica de algumas fontes de investimentos, no qual o retorno no mercado imobiliário mostrou-se melhor. “Já foram feitos vários tipos de análise, mas, para esse fim, foi a primeira vez”, afirma a especialista.
Segundo Marcelo Carvalho, gerente comercial do Grupo EPO, a ideia é repetir a pesquisa todos os anos. “Se, desta vez, consideramos a partir de 2009, no ano que vem faremos do período de 2010 a 2015. Assim, teremos sempre o comportamento dos cinco últimos anos”, diz.
Os dados referentes à evolução dos preços de imóveis foram retirados do Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contáveis (Ipead) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na “Pesquisa Construção e Comercialização: Mercado Imobiliário de Belo Horizonte”. Para o cálculo, foi computado o valor médio de venda (R$/m²), o valor médio do aluguel (R$/m²) e a rentabilidade média do aluguel (%) de salas comerciais e andares comerciais corridos em bairros de luxo da cidade. Como referência, foi empregado o índice de preço na Região Centro-Sul. Para Carvalho, outro dado importante da pesquisa é a média de aluguel com a qual se trabalha hoje, referente a 0,45% do valor do imóvel. “É esse o preço que está sendo praticado, agora que o mercado estabilizou.”
E o ganho pode ser ainda maior para quem compra no pré-lançamento de um empreendimento. Segundo Pedro Damásio, sócio da Talent Construtora, que já vendeu 60% do MedCare, prédio comercial exclusivo para a área de saúde no Vila da Serra, além de ganhar com a valorização do imóvel e com o aluguel, caso opte pela locação do bem, o investidor que prefere imóveis pode ainda ganhar a diferença do valor com o qual comprou e com o qual ele chegou ao mercado. “Quem compra um imóvel ainda em construção paga um preço inferior”, explica. Segundo o construtor, todo empreendimento é lançado com uma margem de lucro, mas durante a obra a tabela vai subindo porque o preço vai sendo ajustado.
Pedro vê claramente dois perfis de investidores: um compra o imóvel no pré-lançamento e o vende assim que fica pronto, lucrando essa diferença do que investiu lá atrás e o que o imóvel vale com a entrega das chaves. Outro compra, ganha a mesma diferença e lucra ainda com o aluguel. Para fugir de uma alíquota máxima de Imposto de Renda, que incidiria sobre o valor recebido pelo aluguel, há investidores que chegam a constituir empresas só para operar esse tipo de receita extra. “O imposto, nesse caso, é menos do que a metade, dependendo do regime de tributação de cada empresa”, conta.
Por: Carolina Cotta

E se..., por Mary Zaidan


E se...
Dizem que a morte é a única certeza da vida. E não há crença, ciência ou lógica capaz de explicar seu egoísmo em tragar talentos que fariam diferença entre os vivos. Poderosa, orquestra mudanças radicais e reina absoluta entre o condicional, os inevitáveis “se” que mudariam a história caso ela não tivesse se metido.
Com Eduardo Campos não é diferente.
Político astuto, administrador testado e aprovado, agregador, Campos estava fadado ao sucesso. Vinha firme em linha ascendente. Mesclava com maestria posturas conservadoras com algumas ousadias, entre elas as de atrair e firmar parceria com Marina Silva, provável herdeira de sua candidatura à Presidência da República.
É cedo para dimensionar o tamanho do estrago provocado por sua morte precoce, quanto mais para os “se” que ela provocará, tanto no pleito de agora quanto em 2018, quanto, seguramente, Campos chegaria ainda mais competitivo.
Mas ele fará parte da galeria dos “se” que abriga o primeiro time da política.
E se Tancredo Neves subisse vivo a rampa? Se José Sarney jamais chegasse ao Planalto? Se Ulysses Guimarães não desaparecesse no mar?
E se Luís Eduardo Magalhães não tivesse morrido em 1998, aos 43 anos, pertinho de se tornar governador da Bahia e se credenciar à disputa presidencial de 2002? Se Mario Covas não fosse abatido por um câncer? Seria o sucessor de Fernando Henrique Cardoso? Disputaria com Lula? Teria chances? E se o sergipano Marcelo Déda, também morto aos 43 anos, ainda tivesse voz na cúpula petista?
Não há como escapar dessas hipóteses, que sempre embutem as chances de um País melhor. Com Eduardo Campos não será diferente. E se aquele avião não tivesse caído?
Como candidata, Marina também será refém do “se”.
Feita protagonista pelo acaso – alguns dos seus já dizem, sem qualquer escrúpulo, que por predestinação –, Marina sempre será devedora. Se tiver sucesso, carregará o desconforto de tê-lo obtido a partir da fatalidade que vitimou Campos. Um “se” nada fácil de suportar sobre os ombros.
Oficialmente, o PSB de Campos só ungirá a candidatura Marina Silva na reunião que pretende realizar na quarta-feira, um dia depois da estreia do horário eleitoral no rádio e na TV.
Os socialistas pretendem vincular o aval à indicação de um vice do partido e ao respeito da candidata às alianças regionais que ela já deixou claro que abomina. Mais ainda: querem assegurar que não vão sumir do mapa, relegados pelos integrantes da Rede, partido que a ambientalista, que já foi do PT e do PV, não desistiu de criar. 
O PSB sabe que Marina é sua melhor chance. Mas teme até mesmo a vitória.
E se...

 

Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília, e na Agência Estado (SP). Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas. Escreve aqui aos domingos. Twitter: @maryzaidan, e-mail: maryzaidan@me.com

Sem vaga na UTI, 177 pacientes morreram em hospital do Piauí em julho



Aliny Gama
Do UOL, em Maceio

A falta de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) no HUT (Hospital de Urgência de Teresina), referência pública em urgência e emergência no Piauí, pode ter contribuído para a morte de 177 pacientes que deram entrada na unidade de saúde em estado grave no mês de julho.
Os dados da Sotipi (Sociedade de Terapia Intensiva do Piauí), que faz parte da Amib (Associação Brasileira de Medicina Intensiva) foram repassados para o CRM (Conselho Regional de Medicina) do Piauí na última semana.
Segundo o presidente da Sotipi, Kelson Veras, que é médico intensivista no HUT, tem dias que são registradas pelo menos 10 mortes de pacientes que precisavam de tratamento intensivo e estavam no setor de emergência do HUT, que tem apenas leitos comuns.
"A taxa de mortalidade na UTI é insignificante se comparada a do setor de emergência, pois lá conseguimos salvar o paciente em estado grave. Já no setor de emergência, como são leitos comuns, muitos pacientes que estão inconscientes morrem engasgados com a própria saliva ou sufocados com a língua por não estarem entubados. Isso não aconteceria se eles estivessem em UTI", disse o médico, que é presidente da regional da Amib no Piauí.
Segundo a Sotipi e o CRM, atualmente o HUT possui 36 leitos de UTI, sendo 26 de UTI adulto e 10 de UTI pediátrica. A Sotipi estima que para atender a demanda de pacientes graves no HUT deveriam ser implantados pelo menos 40 leitos de UTI.
"Desde 2011 que estamos indicando que a quantidade de leitos de UTI é insuficiente, mas não foi aberto nenhum leito novo até agora", disse Veras.
Outro lado
A Fundação Hospitalar de Teresina, que mantém o HUT, informou que está investindo na implantação de 20 novos leitos, ainda em fase de licitação.
A fundação admitiu que o número de leitos de UTI é insuficiente para atender a demanda, mas negou que não houve investimento de novos leitos desde 2011. Segundo a fundação, em janeiro de 2013 o hospital recebeu investimentos "ampliando para 44 leitos, sendo 34 de UTI adulto e 10 leitos pediátricos".
"Esse número seria suficiente se fosse apenas para Teresina, entretanto, o HUT recebe a todo momento de maneira desordenada, sem nenhum tipo de regulação, pacientes de todo o Piauí e de metade do Maranhão. Esse grande volume de doentes graves supera a capacidade do hospital, sendo, portanto, necessário que outros hospitais públicos disponibilizem mais leitos para resolver o problema", afirma a fundação.
A fundação destacou ainda que o número de leitos atuais corresponde a cerca de 16,5% da capacidade do hospital, acima dos 6% recomendados pelo Ministério da Saúde, segundo a fundação.
O HUT tem 289 leitos comuns e a média de atendimento mensal é de cerca de 4 mil pessoas.

Política inorgânica - FERNANDO RODRIGUES


FOLHA DE SP - 16/08


BRASÍLIA - Tudo indica que Marina Silva será a candidata a presidente da República pelo PSB. Substituirá Eduardo Campos, morto no acidente aéreo da última quarta-feira (13).

Para além do impacto eleitoral, a tragédia e a possível unção de Marina servem também como um alerta renovado sobre a falta de organicidade na política brasileira.

Uma das falas de Hamlet a respeito da morte é a conhecida "estar pronto é tudo" ("readiness is all"). Parece-me uma exigência dificílima para qualquer um. Só que os partidos e os políticos brasileiros exageram e vivem no limite da falta de planejamento para momentos adversos.

É notória a fragilidade das agremiações políticas. O drama vivido pelo PSB torna a legenda epítome dessa debilidade. A sigla dependia de Eduardo Campos como precisamos todos de oxigênio para respirar. A morte do pernambucano mostrou um agrupamento mergulhado em interesses paroquiais. Cada um pensando na sua sobrevivência eleitoral local. Nem de longe a maioria dos pessebistas se assemelha ao discurso campista da nova política.

A própria escolha de Marina Silva, se vier, será apenas pragmática. Um nome com robustez eleitoral na disputa pelo Planalto é útil aos candidatos a deputado pelo PSB. Vão acelerar suas campanhas, entrando no vácuo produzido pelo rastro marinista --e pela exposição do número 40, o do PSB, que serve a todos na urna eletrônica.

Mesmo com todas as divergências que possam existir entre Marina e o PSB, o projeto com ela candidata tende a dar ao partido uma bancada maior a partir de 2015. Mas a pergunta é: para quê? Esse exército de políticos, cada um pensando de uma forma, estará unificado no Congresso em torno da proposta central que uniu Marina a Eduardo Campos?

Perto de completar 30 anos de democracia formal, o Brasil ainda está longe de conviver com instituições político-partidárias maduras.

A falência bolivariana - KÁTIA ABREU


FOLHA DE SP - 16/08


O Brasil está atado, no Mercosul, a países que estão se precipitando rumo ao abismo 'socialista'


Para quem tinha ainda alguma fantasia sobre a ressurgência do comunismo em nosso tempo, travestido de "socialismo do século 21", a frustração não poderia ser mais completa.

O peso da realidade mais uma vez se impôs, como se pessoas e partidos políticos nada tivessem aprendido com as experiências soviética, do Leste Europeu, da China maoista e de outros países. A fantasia tornou-se o fantasma que assombra a América Latina e, infelizmente, certos partidos políticos entre nós.

Cuba, farol dessa esquerda retrógrada, é um país empobrecido que, em seus melhores momentos, viveu somente da mesada da ex-União Soviética. Posteriormente, sua mesada foi substituída pelo petróleo barato enviado pelo ex-ditador Hugo Chávez.

A falência econômica é manifesta, sendo acompanhada por uma feroz ditadura que nada conce- de em termos de liberdade de expressão, imprensa e circulação. Os direitos humanos são sistema- ticamente pisoteados nessa ilha, tornada uma prisão. Não deixa de surpreender que atraia, ainda, adeptos em nosso país. A única explicação residiria no atraso ideológico das agremiações brasileiras de esquerda.

A Venezuela inovou em seu socialismo. Em vez da conquista violenta do poder, optou por eleições que têm como único objetivo subverter a democracia por meios democráticos. Conseguiu, dessa maneira, captar a simpatia dos comunistas/socialistas brasileiros, em falta de ideias e orientação.

De resto, está seguindo a cartilha cubana e "socialista" em geral. O resultado salta à vista. A liberdade de imprensa está sendo sistematicamente aniquilada, a oposição é violentamente perseguida e adversários políticos são considerados inimigos a serem encarcerados.

O Poder Judiciário torna-se uma pantomina a serviço do Poder Executivo. A economia está em frangalhos. A desorganização produtiva é total. Falta até papel higiênico. Só uma expressão pode nomear o que está ocorrendo: falência completa.

A Argentina, em sua muito especial mescla de peronismo e bolivarianismo, está levando o populis- mo econômico a seu grau máximo de radicalização, acompanhado de severas restrições à liberdade de imprensa e dos meios de comunicação em geral.

De grande parceiro econômico, tornou-se um empecilho à própria expansão da economia brasileira. Atualmente, o país encontra-se novamente em situação de calote, depois de uma negociação forçada de um calote anterior. Ou seja, fundos e credores que não seguiram essa imposição autoritária tiveram, agora, ganho de causa em um tribunal americano.

Se a situação argentina já era ruim, ficou ainda pior. Não é a retórica populista que tirará nosso vizinho do poço.

Ocorre, contudo, que esses vizinhos são membros do Mercosul e nossos parceiros em qualquer negociação bilateral que o Brasil faça ou planeje fazer. O Brasil está atado a países que estão se precipitando rumo ao abismo "socialista".

O comércio, que deveria ser o eixo-mor dessa associação, tornou-se completamente secundário, como se não fosse ele o seu objetivo central. As reuniões do Mercosul converteram-se em simples fóruns inúteis, palcos de agressivos discursos antieconomia de mercado ou anti-Estados Unidos, segundo a cartilha anti-imperialista.

O foco econômico é, hoje, político, sobretudo voltado para a defesa das posições argentinas e venezuelanas, conforme os delírios ideológicos que lhes são característicos.

Não é mais possível o país atrelar o seu futuro a um Mercosul populista, pois teremos apenas o fracasso coletivo daquilo que já é a falência individual desses países.

Urge que o(a) próximo(a) presidente da República reveja as orientações que têm presidido a nossa política externa. Entre elas, impõe-se que essa entidade volte a ser um mercado comum, comercial, e não uma associação aduaneira.

Se nem para o comércio serve plenamente, dadas as restrições existentes em nossos vizinhos, como esses Estados podem agir como um bloco? Não estaremos substituindo a realidade pela ficção ideológica?

Cartas de Buenos Aires: Por amor a Buenos Aires, guias práticos


Gabriela Antunes
Por três anos, a designer gráfica brasileira Anna Mendes percorreu as ruas de Buenos Aires, fez cursos de arquitetura sobre a capital e todos os tours que poderia, mudou de endereço quinze vezes, tudo no intuito de conhecer melhor a cidade. Teve certeza de algo que já sabia: Buenos Aires é mesmo uma “cidade encantadora”.
Deste amor nasceu “Buenos Aires Guia Práctica”, lançado pela editora La Luminosa na Feira de Livros de Autor da cidade neste mês. Trata-se de um guia meticuloso e que traz mais de 200 dicas, divididas em 13 bairros, com sugestões de lugares para comer, beber, comprar, passear e ver a capital com os olhos da viajante Anna Mendes.
Anna não é a única estrangeira a destrinchar Buenos Aires para o mundo. A capital argentina é material para diversos guias escritos por pessoas que vieram, ficaram e resolveram registrar suas experiências.
E os guias elaborados por estrangeiros vêm se tornando uma febre nos últimos anos, como é o caso do “Guia Buenos Aires para Brasileiros”, um best seller feito na medida para os compatriotas pelas jornalistas Claudia Trevisan e Marcia Carmo.
Também a alemã Sieglinde Oehrlein, que veio morar na capital portenha acompanhando o marido, se envolveu fortemente com a cidade e escreveu o que é hoje uma das melhores referências culturais, o “Guia Cultural de Buenos Aires”.
Com uma livraria para cada seis mil habitantes, a cidade é terreno fértil para os amantes da literatura. Por isso, a jornalista Adriana Marcolini dedicou-se a listar, no “50 Livrarias de Buenos Aires”, as melhores.
Cada estrangeiro no seu nicho. Foi o caso da jornalista brasileira Fernanda Paraguassu, que achou o seu: crianças. Fernanda usou sua experiência como mãe para dar as melhores dicas de programas com a turminha no “Buenos Aires com Crianças”.
“Próxima parada Buenos Aires”. É a proposta do inglês Daniel Tunnard que, após dez anos na cidade, resolveu questionar para onde vão as 140 linhas de ônibus que a percorrem. O resultado é o guia “Colectivaizeishon”, cujo título é uma brincadeira com o nome de ônibus daqui, “colectivos”. É uma jornada épica pelo cotidiano da capital argentina.
Botecos, restaurantes e pizzarias, esses foram o alvo de outro gringo, o italiano Pietro Sorba, que escreveu verdadeiras bíblias glutonas que vão, da alta gastronomia portenha, ao pé sujo de bairro.
São tantos forasteiros que registram sua paixão por Buenos Aires que não cabem na coluna. É a mirada de fora sobre o coração da Argentina, ou o coração estrangeiro debruçado sobre uma cidade, como Anna descreveu, “encantadora”. 

 
Buenos Aires Guia Práctica da design gráfica Anna Mendes

Gabriela G. Antunes é jornalista e nômade. Cresceu no Brasil, mas morou nos Estados Unidos e Espanha antes de se apaixonar por Buenos Aires. Na cidade, trabalhou no jornal Buenos Aires Herald e hoje é uma das editoras da versão em português do jornal Clarín.Escreve aqui todos os sábados.

POEMA DA NOITE Quem é que abraça o meu corpo, por António Tomás Botto


Quem é que abraça o meu corpo 
Na penumbra do meu leito? 
Quem é que beija o meu rosto, 
Quem é que morde o meu peito? 
Quem é que fala da morte 
Docemente ao meu ouvido? 
— És tu, senhor dos meus olhos, 
E sempre no meu sentido.

António Tomás Botto (Casal de Concavada, Abrantes, Portugal, 17 de agosto de 1897 - Rio de Janeiro, 16 de março de 1959) - Poeta e contista português, causou polêmica nos meios religiosos conservadores em Portugal quando publicou o livro Canções. Também foi amigo de Fernando Pessoa. Mudou para São Paulo e depois para o Rio de Janeiro, onde morreu atropelado.

INVESTIR EM IMÓVEL PARA ALUGAR AINDA É UM BOM NEGÓCIO

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Fonte: Jornal do Commercio

Coluna do Carlos Brickmann


Carlos Brickmann
Carlos Brickmann

Como no verso clássico do poeta Guilherme de Almeida, Eduardo Campos viveu pouco para morrer bem. E morreu jovem para viver sempre. Por viver pouco, por morrer jovem, deixa uma sólida e indiscutível herança política e eleitoral. O que discute não é a existência da herança: é quem irá desfrutá-la.

Marina Silva sai na frente. Tem luz própria, já mostrou força eleitoral, é a candidata da família de Campos; e sua trajetória, do PT à oposição, é semelhante à dele. Mas a força de Marina é também sua fraqueza: desperta em parte de seu partido, o PSB, o temor de que dê preferência aos companheiros de Rede – a legenda que não conseguiu fundar, mas que é a de seu coração – e deixe os socialistas ao sol e ao sereno. Lula tem bom contato com alguns dirigentes do partido que preferem perder sem Marina a ganhar com ela. Seu objetivo é fazer com que o PSB se abstenha de indicar candidato; ou, pelo menos, provocar um racha, levando alguns socialistas para Dilma e convencendo outros a declarar-se neutros.

Aécio quer que Marina seja candidata e cresça para que haja segundo turno – desde que não cresça muito. O tucano já mostrou que não é empolgante; poderia ser ultrapassado, e Marina iria para o segundo turno contra Dilma. Também não interessa a Aécio que se realize o sonho antipetista, de Marina tirar Dilma do páreo e garantir um segundo turno sem PT. Pois o voto petista seria de Marina, jamais de Aécio. E, se Marina crescer demais, o PT tem sempre a chance de trocar Dilma por Lula. Aí muda tudo. Para citar outro poeta, Caetano Veloso, ou não.

Quem é contra

O presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, não gosta de Marina. Márcio França, secretário nacional de Finanças, chefe do PSB paulista, líder de um terço do Diretório Nacional, brigou com ela ao apoiar a reeleição do tucano Alckmin, que lhe entregou a vice, e que ela rejeita.

Cá entre nós, Marina é difícil, mesmo.

Os lugares

Marina só não será a candidata do PSB se não quiser. Se servia para vice, para substituir o presidente, por que não serviria para substituir o candidato? O tempo também é dela: até dia 22, como criar outra candidatura? Há quem fale em lançar Renata, viúva de Eduardo; mas quem a conhece bem não acredita que ela aceite.

#pronto falei

Quando um político fala a verdade, a surpresa é geral. Até por isso vale a pena ler este trecho da entrevista à Folha de Londrina de Marcelo Almeida, candidato a senador pelo PMDB paranaense, sobre a CPMI da Petrobras.

“Primeiro que não acredito em CPI do Congresso. O PT, o meu partido [o PMDB], os tucanos, não tem mais santo. Não tem partido que signifique transparência, verdade, dignidade. Os partidos, hoje, um quer jogar no outro, todo mundo errou, todo mundo roubou. Um na Petrobras, outro fez um aeroporto, outro tem Pasadena. Eu não acredito nessa ferramenta que é a CPI.”

O herói solitário

Às vezes, o Fantasma, grande personagem criado por Lee Falk e Ray Moore, ia à cidade, disfarçado de cidadão comum – OK, com sobretudo, em qualquer temperatura, cobrindo o uniforme; óculos escuros para esconder a máscara; e um lobo na coleira. Mas aceitava-se que estivesse disfarçado de cidadão comum. Ali, com sua habilidade, desafiava reis e ditadores protegidos por poderosos exércitos; e, herói solitário, solitário vencia. O Super-Homem, criado por Joe Shuster e Jerry Siegel, também não precisava de auxiliares.

Mas tanto o Super-Homem como o Fantasma são personagens de ficção: não existem na vida real. Na vida real também não existe o gatuno de dinheiro público que age sozinho. Ele até pode assumir sozinho a culpa, por dar valor à vida; mas sempre age em equipe.

O suspeito solitário

Como foram formados os cartéis e como funcionou o superfaturamento no Metrô e nos trens urbanos de São Paulo, no Governo Mário Covas, o primeiro da atual dinastia tucana? É isso que se investiga. Robson Marinho, personagem criado por Mário Covas, seu amigo e aliado, é apontado como responsável por desvio de recursos; foi afastado de seu atual cargo, ministro do Tribunal de Contas do Estado, pela mesma suspeita. Cabe à Justiça decidir se Marinho é culpado.

Mas uma coisa é certa: se agiu, não agiu sozinho. Quem bota a mão tem que dividir, ou é jogado às feras. Investigar somente Robson Marinho é no mínimo ingenuidade: todos os seus colegas de Governo, corregedores, secretários de outras pastas, ninguém notou nada? Quem analisava os contratos do Estado e os aprovava? Qual a função da Secretaria da Justiça? E da Fazenda? E dos Transportes? E do Governo? E dos Transportes Metropolitanos? Vai tudo ficar por isso mesmo? As perguntas que não querem calar: só Robson Marinho? E os outros?

Lições de Shakespeare

Eduardo Campos, ao morrer, provocou comoção nacional, transformou-se em personalidade cultuada, suas virtudes foram festejadas. Não permitamos que a frase de Marco Antônio, no discurso após o assassínio de César, volte a ser aqui aplicada: “O mal que os homens fazem vive depois deles; O bem é muitas vezes enterrado com seus ossos”.

Que o bem que poderia fazer sobreviva a ele.

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