domingo, 20 de abril de 2014

Tarifaço na energia - EDITORIAL ZERO HORA


ZERO HORA - 18/04

O governo federal fez o possível para segurar, mas as leis de mercado são mais poderosas. O represamento demagógico das tarifas de energia não irá até a eleição como pretendiam os atuais detentores do poder. Mais de 3,8 milhões de gaúchos já começam a receber suas contas de luz, a partir de amanhã, com um reajuste médio de 29,54%, mais de quatro vezes superior à inflação prevista para este ano. Em breve, os demais consumidores, atendidos por outras empresas, também estarão enfrentando o tarifaço, que vai se estender ao longo do próximo ano. E isso significa que, uma vez mais, a conta da imprevidência, da falta de investimentos e da equivocada política de mascarar a realidade acaba sendo arcada por todos os brasileiros.
No início deste ano, num discurso contundente que lembrava em tudo o de campanha à reeleição, a presidente Dilma Rousseff confirmou uma redução de 18% nas contas de energia elétrica, superior até mesmo à prevista inicialmente. No mesmo discurso, rechaçou as previsões sobre um apagão que, de fato, não ocorreu, mas impôs um ônus pesado para todos os consumidores. Na impossibilidade de contar com as hidrelétricas, pela escassez de chuvas, o país precisou recorrer às termelétricas, que produzem energia a um custo bem superior.
Infelizmente, confirmou-se na prática o que o governo não queria admitir na época, mas as razões não se restringem à insuficiência de chuva. Faltou também rigor no planejamento e execução de projetos, o que impediu a entrada em operação de dezenas de usinas e ainda hoje mantém algumas delas sem linhas de transmissão. Por isso, não basta o consumidor reagir contra o tamanho das contas, que vão impactar seu bolso e a taxa de inflação. É preciso acima de tudo que cobre mais eficiência do poder público, para evitar a repetição de reajustes tão desafinados com a estabilidade.

Pasadena, a toque de caixa - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 18/04

Ao reconstituir a história da compra da Refinaria de Pasadena, em depoimento na Câmara dos Deputados, quarta-feira, o ex-diretor da área internacional da Petrobrás Nestor Cerveró contou que, depois de um ano de negociações, a diretoria executiva da estatal aprovou em 5 de fevereiro de 2006 a aquisição de metade da instalação pertencente à belga Astra Oil por US$ 359,2 milhões. A decisão foi levada ao Conselho de Administração da empresa e aprovada por unanimidade - no dia seguinte!

Dificilmente se encontrará anomalia maior nos registros da transação que custaria à Petrobrás US$ 1,249 bilhão, conforme o "esclarecimento" de página inteira que ela publicou na imprensa, e deixaria um rombo de US$ 530 milhões, como admitiu a sua atual presidente, Graça Foster, ao depor no Senado na véspera da ida de Cerveró. A nota, aliás, não faz menção ao prejuízo. Limita-se a dizer que o que parecia "um bom negócio" quando foi fechado "transformou-se em um empreendimento de baixo retorno sobre o capital investido".

Da perspectiva do modo pelo qual, pelo menos nesse caso, a maior companhia brasileira toma decisões envolvendo desembolsos milionários, o desenlace do investimento em Pasadena, que de fato poderia parecer promissor dois anos antes da quebra de Wall Street, chega a ser secundário. À luz da revelação de Cerveró - que reduz o Conselho presidido pela então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e integrado por autoridades, empresários e executivos de gabarito à condição de mera repartição homologadora -, pouco importa, por exemplo, se o colegiado avaliou corretamente a estratégia que levou a Petrobrás a buscar um nicho nos Estados Unidos.

Tanto faz também se os conselheiros se fundamentaram apenas em um resumo executivo, "técnica e juridicamente falho", como Dilma admitiu, ou se a papelada completa da operação estava a seu alcance, como rebateu o então presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli. Tanto faz ainda se as cláusulas omitidas no parecer de Cerveró "não tinham importância", como avalia, ou se eram tão lesivas à estatal que "seguramente" levariam Dilma a barrar a compra, se, como afirmou, delas tivesse conhecimento.

O resumo executivo tinha uma página e meia, podendo ser absorvido em questão de minutos por um corpo consultivo composto de presumíveis conhecedores dos padrões técnicos e jurídicos usuais no mundo dos grandes negócios. Já a íntegra do contrato que Cerveró entregou à diretoria executiva tinha 450 páginas. Ainda que ela as tivesse repassado ao Conselho, em vez de encaminhar-lhe apenas o sumário, e ainda que o órgão fosse o mais sábio de todos quantos existam entre os maiores conglomerados econômicos do globo, seria humanamente impossível a seus membros formar opinião a respeito em 24 horas.

Salta à vista que a cúpula da Petrobrás não tinha o mais remoto interesse em que o Conselho debatesse com conhecimento de causa a sociedade na qual ela apostava febrilmente as suas fichas, a ponto de comprar metade da refinaria por um preço praticamente igual ao que a Astra Oil pagou por ela inteira. Ao Conselho não foi dada a oportunidade de julgar se a estatal fazia o que até hoje seus dirigentes sustentam ter sido, na origem, um bom negócio - no que Gabrielli, Graça e Cerveró concordam - ou se estava deitando dinheiro fora, quando não cometendo um ilícito.

No seu depoimento ao Senado, a presidente da Petrobrás confirmou que o resumo executivo encaminhado ao Conselho não mencionava nem a cláusula contratual Put Option, segundo a qual, em caso de desavença, um dos sócios teria de vender a sua parte ao outro, nem a Marlin, que assegurava à Astra Oil um ganho anual de 6,9% sobre as vendas do produto refinado, quaisquer que fossem as condições do mercado. Na Câmara, Cerveró, além de considerar os itens corriqueiros e desimportantes, disse que competia à diretoria executiva e não a ele definir o que o Conselho precisaria saber - daí a 24 horas.

Se a oposição conseguir furar o bloqueio do governo e instalar a CPI da Petrobrás, ela terá de averiguar por que o ente máximo da empresa, sob a condução da atual presidente da República, se prestou a esse papel humilhante.

Petrobrás de escândalo e escândalo - JOÃO MELLÃO NETO


O Estado de S.Paulo - 18/04

Com seus 86 mil funcionários e presença em 25 países, a Petrobrás era o grande orgulho nacional desde a sua fundação. A empresa vinha se superando - desde que foi criada, há 60 anos, por Getúlio Vargas -, ano após ano, até alcançar em 2011, para gáudio nosso, o 12.º lugar entre as maiores empresas do mundo, batendo a General Electric, a Shell, a Microsoft, a Sony, a Nestlé, o JP Morgan, o Wall-Mart, o HSBC, a Procter & Gamble e outros gigantes mais.

Antes de qualquer conclusão precipitada, é preciso levar em conta que esses rankings variam, dependendo de quem os faz. Nós, aqui, nos valemos do ranking da revista Forbes, que é o que tem a maior credibilidade no mundo. O 12.º lugar da Petrobrás em 2011 era motivo de grande orgulho para todos nós, brasileiros. O pré-sal nos garantiria um futuro glorioso, apesar de ser um petróleo de quase impossível extração. Para alcançá-lo seria necessário penetrar em 7 quilômetros de rocha salgada, e nós assumimos esse desafio com destemor. Infelizmente, esses bons tempos passaram.

No balanço referente a 2012, a Petrobrás despencou no ranking, ocupando atualmente um desonroso 120.º lugar. E o lucro? O que houve ninguém viu, o que se sabe é que sumiu... O mistério não é tão difícil de entender: da gestão do então presidente Lula para cá, tem sido notória a apropriação de recursos da empresa para fins outros que não a exploração exclusiva de petróleo.

O fato é que a Petrobrás foi impiedosamente saqueada nos últimos tempos. E mais não se levou por escassez de espaço nas algibeiras. E a empresa, teúda e manteúda, a ninguém negou o seu úbere, servindo a todos com abundância e generosidade.

Chega uma hora, no entanto, em que, por maiores que sejam os recursos, eles simplesmente não dão mais para o gasto. A Petrobrás vive uma fase assim. Simplesmente não dá para empregar tanta gente, pagar salários milionários a uma mão de obra desqualificada e, ainda por cima, remunerar regiamente tantos desocupados e "amigos do rei", mais conhecidos como "consultores de sua majestade". Eles nada fazem de útil, não têm especialidade alguma, todavia, na hora de cavar uma encrenca - ou mesmo uma mera intriga -, revelam-se imbatíveis. E a empresa está na contingência de jogar a mobília no fogo para, assim, produzir algum calor.

No caso da Petrobrás, os escândalos vieram à tona pelo excesso de volúpia e de ganância desmesurada por parte dos ditos consultores que já estavam prestes a incinerar todos os móveis da empresa em troca de alguns trocados.

Em se tratando de Petrobrás, tudo é possível, até mesmo pagar US$ 1,3 bilhão por uma usina em via de sucateamento (a de Pasadena, no Texas), avaliada pelos próprios ex-proprietários em 1/40 disso. Foi a partir desse episódio que a pizza foi para o forno. Mas aí já era escândalo demais. O caso foi crescendo, em escala, do mero erotismo para a mais grosseira pornografia.

Eu mesmo, em minha santa ingenuidade, por um momento cheguei a acreditar na instalação da comissão parlamentar de inquérito (CPI) para apurar o caso Pasadena. Mas qual o quê! Não levei em conta a coesão férrea dos situacionistas. As forças do governo, além de trabalharem coordenadas, têm em cada membro um interesse bem definido pelo qual lutar e, assim sendo, se tornam invencíveis. Ser governista, no Brasil, mais do que uma arte, requer empenho e estômago. É uma arte porque demanda imensa criatividade. Qual biruta de aeroporto, há que saber que os ventos são volúveis e instáveis. A cada momento sopram numa direção e é preciso se fazer de coerente toda vez que eles teimam em mudar.

Eles são como carrapichos, uma praga que está sempre disposta a aderir e, uma vez que o faz, é praticamente impossível desvencilhar-se dela. Seja qual for a natureza do governo, para eles o importante é ter boas relações com o poder, que entendem como uma via de mão dupla. Ou seja, eles fazem todo o serviço sujo, para que os poderosos não tenham de "sujar as mãos", e recebem de volta prebendas e privilégios que a outros não seria de bom tom receber. Mas para eles, acostumados com tarefas grosseiras, tanto faz. Não adianta mudar de governo, porque eles não mudam o seu modo de ser. E, convenhamos, sem eles - os governistas -, é praticamente impossível governar a Nação.

Existem pessoas que colecionam borboletas, outras preferem guardar selos raros. Já essa gente sinistra se dedica a armazenar dossiês. Creiam no que eu digo: não é paranoia minha afirmar que a maioria dos membros do Congresso Nacional - ao menos a parcela que mais se destaca - tem uma ficha bem guardada, e detalhada nos mínimos pormenores, que vai do berço ao túmulo, para a eventualidade de vir a ter alguma utilidade.

Fica a pergunta: mas por que a Petrobrás? Porque ela é e sempre foi lucrativa. E, de mais a mais, é a maior empresa brasileira. Como afirmava Roberto Campos, empresa privada, no Brasil, é aquela que é controlada pelo governo; já empresa estatal é aquela que não é controlada por ninguém...

Assim sendo, quando aparece um negócio graúdo na ponta do anzol, não há santo que lhe resista, nem mesmo aqueles que tenham porventura feito "voto de pobreza".

Há que levar em conta que grande parte dos consultores acima mencionados não tem nada de útil que fazer, e eles nada fazem a não ser tentar cavar novos negócios, valendo-se do bom nome que a Petrobrás ainda tem no mercado.

Já caímos do 12.º para 120.º lugar no ranking mundial das empresas petrolíferas. Para nós, está claro que nem negócios altamente lucrativos, como o do petróleo, resistem a desaforos. Qual surpresa nos reservará o ranking da Forbes no ano que vem?

Do jeito que as coisas vão, teremos no Brasil, em breve, uma nova Pasadena...

Empréstimos liberados - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR


GAZETA DO POVO - 20/04

O episódio que levou a PGE a pedir até a prisão do secretário do Tesouro Nacional ajuda a jogar luzes sobre as relações entre Brasília e o Centro Cívico


Parece surreal que, para conseguir a liberação de um empréstimo de R$ 817 milhões, o governo do Paraná tenha precisado pedir a prisão do secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin. Mas o episódio, ocorrido na semana passada, lança muitas luzes sobre as dificuldades que o Paraná tem tido para receber verbas cuja liberação depende da boa vontade de Brasília.

Como já dissemos em outras ocasiões, é verdade que o governo paranaense vive na corda bamba em relação aos gastos com pessoal, frequentemente superando o limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal, embora mantendo-se sempre abaixo do limite que impede novos empréstimos. Semanas atrás, ao comentar a saída de Jozélia Nogueira da Secretaria de Estado da Fazenda, lembramos que a complicada situação fiscal do estado foi construída ao longo de vários mandatos, graças a cálculos político-eleitorais e falta de planejamento. O Executivo precisa, sim, se esforçar para caminhar mais longe do penhasco. Mas os últimos acontecimentos mostram que falta mais boa vontade em Brasília que no Centro Cívico.

Em 2012, o governo federal lançou o Programa de Apoio ao Investimento dos Estados e Distrito Federal (Proinveste), uma linha de crédito para ajudar os estados a superar os efeitos da crise financeira internacional. Todas as unidades da Federação receberam o dinheiro, menos o Paraná. A Secretaria do Tesouro Nacional (STN) se recusava a liberar os recursos alegando justamente os problemas nas contas do funcionalismo estadual. Mas, em fevereiro deste ano, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello concedeu uma liminar exigindo que a STN destravasse o empréstimo.

Mesmo assim, o Tesouro ignorou a liminar, agora alegando que o Paraná descumpriu o investimento mínimo em saúde no ano de 2013. No dia 3 de abril, Mello teve de voltar a agir, desta vez determinando multa diária de R$ 100 mil à União. Como nem isso serviu para amolecer o secretário Augustin, a Procuradoria-Geral do Estado foi novamente ao Supremo, no dia 8, pedindo o aumento da multa à União, além de uma multa pessoal ao chefe da STN e a expedição de um mandado de prisão contra ele, por crime de desobediência. Finalmente, no dia 10 de abril, o ministro do STF Luís Roberto Barroso concedeu nova liminar, referente não apenas aos R$ 817 milhões do Proinveste, mas também a outros quatro empréstimos. As cinco operações somam R$ 2,3 bilhões.

Se havia alguma dúvida quanto à alegada má vontade por parte do governo federal para com o Paraná, a atitude de Arno Augustin é reveladora do ânimo do Planalto em relação ao governo de Beto Richa. O Supremo analisou os dados e avaliou que o Paraná cumpria os requisitos para a liberação dos empréstimos; ora, decisões do STF existem para ser cumpridas, mas Augustin preferiu queimar dinheiro dos contribuintes e desafiar a autoridade da corte, tudo para manter os recursos longe dos cofres estaduais – isso apesar de, no dia 9, o secretário do Tesouro ter recebido uma comitiva suprapartidária de parlamentares paranaenses: deputados estaduais e federais, base aliada e oposição (tanto em relação a Dilma Rousseff quanto em relação a Beto Richa). Na ocasião, Augustin ainda apresentou uma nova justificativa: o dinheiro do Proinveste só não saiu porque o governo estadual teria pedido um aval da União para reduzir a taxa de juros do empréstimo, e na análise da documentação para a concessão desse aval teria aparecido a questão dos gastos com saúde.

Augustin, no entanto, está longe de ser o único criador de dificuldades para o estado. O senador Roberto Requião, que no fim de 2012 interveio para bloquear a liberação de um empréstimo de US$ 350 milhões do Banco Mundial, crédito esse que já havia sido autorizado por meio mundo – inclusive pela STN, pela presidente Dilma e pela então ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann –, fez o possível e o impossível para barrar a liberação, em uma atitude que parece mais guiada pelo desejo de prejudicar adversários políticos e alavancar a própria carreira que pelo cuidado com o Paraná. No fim do ano passado, encaminhou denúncia segundo a qual o estado descumpria a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) no que diz respeito aos gastos com pagamento de inativos. E, em fevereiro, pediu para entrar como parte na ação que culminou na primeira liminar de Marco Aurélio Mello, em mais uma tentativa de barrar o crédito. Felizmente, o pré-candidato ao governo do estado não teve êxito.

O abominável legado da Copa - EDITORIAL - CORREIO BRAZILIENSE


CORREIO BRAZILIENSE - 20/04
Amazonas, Ceará, Pernambuco, Bahia. Em portos desses estados, salta aos olhos a vulnerabilidade de crianças e adolescentes, sujeitos a todo tipo de exploração. O legado da Copa do Mundo para esses menores chegou antecipadamente, por vias transversas, na forma de piora da qualidade de vida, como a confirmar a máxima de que notícia ruim anda mais rápido. É que, longe de trazer cidadania, obras de revitalização e evolução econômica em áreas portuárias (mas não apenas) têm expulsado e desagregado famílias, agravando o problema.
Essa realidade foi exposta ao longo da última semana na série de reportagens "Cais do abandono", publicada pelo Correio Braziliense. Para cidadãos colocados no caminho do "progresso", restou mais marginalidade. É o caso, por exemplo, do VLT que cruza 20 bairros de Fortaleza. Num deles, ironicamente conhecido como Alto da Paz, máquinas da prefeitura apareceram antes do transporte moderno, demolindo barracos que abrigavam 400 famílias. Para a comunidade, a data entrou para a história como Dia do Desespero.

Pessoas postas à margem da sociedade e que, de repente, ficam até sem os barracos e os vizinhos (não raro, parentes separados à força), se veem num quadro de fragilidade ainda maior. Algumas delas tiveram o lar derrubado para que se construísse uma praça. Outras, paradoxalmente, terminaram ao relento para que os terrenos em que viviam abrissem espaço a promessas de conjuntos habitacionais, com o suposto direito a casas, serviços públicos e regularização fundiária, enquanto enfrentam mais desamparo. Faltam inclusive canais de comunicação, informações precisas, espécie de garantia, nem que seja para o futuro.

Primeiro, o Estado falha ao não assegurar direitos fundamentais aos cidadãos. Depois, omite-se perante a força do poder econômico e os interesses do mercado imobiliário. Em seguida, terá de buscar soluções para problemas mais graves, como a exploração do trabalho infantojuvenil, o abuso sexual de menores, o envolvimento de crianças e adolescentes com o consumo e o tráfico de drogas, a explosão da já intolerável violência. As autoridades precisam abrir os olhos para as consequências dos próprios atos. Não bastam as propagandas federais em que craques do futebol advertem contra esses crimes.

É inaceitável que o poder público, em nome de hipotético desenvolvimento, produza mais miséria. É inconcebível que o tal padrão Fifa sirva para definir a qualidade das obras diretamente ligadas à realização da Copa do Mundo no Brasil, sem enquadrar a questão humana no mesmo gabarito. Esse legado, o país - ciente de que o principal patrimônio de uma nação, qualquer nação, é o seu povo - há de rejeitar, com a consciência, também, que não se trata de casos isolados. A situação foi flagrada em quatro estados, num trabalho que levou 12 dias e traçou um percurso de 8 mil quilômetros.

O Brasil rebaixado - SACHA CALMONA

CORREIO BRAZILIENSE - 20/04
O rebaixamento do Brasil de BBB para BBB- (mas com viés de estável) foi extremamente generoso. O nosso caso é muito mais grave do que se pensa. Se os governantes brasileiros - ao que parece, "bolivarianos" - continuarem a tratar tão primariamente a economia do país, como acontece na Venezuela e na Argentina, em menos de 18 meses estaremos em situação crítica.
O modelo econômico idealizado pela dupla Dilma/Mantega está completamente falido. Depois de desestruturar as matrizes elétricas (Eletrobras e Petrobras), estamos praticando ativamente o controle de preços fundamentais da economia: o da energia elétrica, o dos combustíveis fósseis e os das tarifas de transporte. Se não estivessem garroteados, a nossa inflação estaria girando a 8% ao ano, numa espiral de alta. Enquanto os preços livres giram a 6%, os administrados correm a 2%. Os efeitos danosos são inúmeros, porém três são os mais deletérios.

Em primeiro lugar vem o efeito do aumento do deficit público, por bancar o "congelamento" (subsídio governamental), comprometendo o caixa do Tesouro, o BNDES, o BB e a geração de recursos próprios pelo sistema elétrico e a Petrobras, cada vez mais endividada e sem poder de investimento.

O segundo efeito é que tais preços entram no custo de quase todos os preços da economia. Energia elétrica, combustíveis e transportes são insumos universais que entram na composição dos preços relativos (que foram alinhados pela URV e pelo Plano Real). A política econômica de Dilma é irracional, mas ela e seus áulicos acreditam que estão certos e persistem no erro.

O terceiro efeito danoso é que um dia esses preços vão subir, ou melhor, cair na realidade, ou a economia entrará em transe, como na Venezuela e na Argentina, onde o mesmo receituário foi aplicado à risca: controle de preços; uso da máquina pública e das estatais para programas sociais de estímulo ao consumo (gerando inflação, queda do investimento, fuga de capitais e desabastecimento).

Vale dizer: a continuar assim, caminhamos a passos largos para a desorganização da economia nacional. Para acabar com essa descida ao inferno, será preciso aumentar os preços da energia em 28% e os dos combustíveis em 30% e liberar as tarifas de transportes, o que provocaria, num primeiro momento, um aumento generalizado de preços (realinhamento inevitável), mas que obrigaria de imediato os consumidores (pessoas jurídicas e privadas) ao uso comedido da energia e dos combustíveis (autocontrole e inovações para economizar), devolvendo aos sistemas elétrico, de petróleo e gás capacidade de investimento, além de ressuscitar o etanol, enterrado pelo preço controlado da gasolina.

Sob a desculpa de que isso provocaria retração e queda no emprego e na renda, o governo prossegue no rumo errado. Mas lá na frente será pior. Ao invés de retração, haverá recessão. Ao revés de queda no emprego, haverá desemprego em massa, perda de crédito, queima das reservas cambiais e descrédito internacional. Tudo indica que o governo, primeiro, quer ganhar as eleições. Mas aumentará os preços administrados logo, sob pena de sofrer novos rebaixamentos. Não serão os aumentos suficientes, serão paulatinos. O governo age não por vontade própria, mas empurrado pelas análises do FMI, do Banco Mundial, da OMC e das agências de risco. Tudo à meia boca, de olho nas eleições.

O fraco desempenho das exportações brasileiras, com impacto no saldo comercial de 2014, evidencia o isolamento do país no comércio global. O Brasil vendia muito petróleo para os americanos, mas tivemos problemas com a produção, ao mesmo tempo em que eles aumentaram a exploração do gás de xisto. Os europeus, por causa da crise, tomaram outros mercados e conseguiram espaço no Brasil.

Para a Argentina, vão 50% dos nossos produtos manufaturados e 87% dos nossos automóveis exportados. O país vizinho está em crise cambial e a situação é péssima, sem conserto. Depois da tempestade de 2013, vem a falta de ar em 2014! O jeito é ouvir um tango, enquanto Dilma pensa em sua reeleição. Conseguirá? Depende de nós.

A grande indagação é: se Dilma for reeleita, mudará a receita econômica que está nos levando ao caos? Marco Aurélio Garcia, conselheiro da presidente, disse que a Venezuela passa por uma "crise de crescimento" (a indústria não deu conta do aumento da renda). Omitiu que 50% das fábricas fecharam. Mantega disse que a recuperação da Europa e dos EUA nos trará a bonança. É um vendedor de ilusões. Eles estão é entrando em nossos mercados, pois não temos competitividade, tamanho o sufoco tributário e os "gastos sociais" do governo, perdulário e populista. Pelas demonstrações de seus funcionários e assessores mais graduados, é possível medir o pensamento da atual presidente do Brasil. A vitória de Dilma fará o Brasil enfrentar sua primeira crise estrutural do século 21.

Enfim, descobriram o óbvio - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 20/04

A incapacidade do atual governo de entregar o que promete chegou às páginas do New York Times.

A realização da Copa do Mundo, que deveria ser a vistosa prova da capacidade brasileira de ombrear com as grandes potências globais, acabou servindo para chamar a atenção do mundo para as deficiências crônicas do País. A principal delas, conforme constatou o NY Times, é desperdiçar dinheiro e energia em projetos que nunca chegam a termo ou que se provam inúteis ou caros demais.

Assinada pelo correspondente Simon Romero e intitulada Grandes visões fracassam no Brasil (no Boston Globe, onde foi reproduzida, o título foi Da explosão do crescimento à ferrugem, grandes projetos definham no Brasil), a reportagem mostra que pouco se sustenta na narrativa triunfalista do governo.

Bilhões de reais foram gastos com obras que deveriam comprovar a irresistível ascensão do Brasil em meio a um cenário de relativa bonança financeira - em seu primeiro mandato, ao anunciar a caríssima e ainda inconclusa transposição do Rio São Francisco, o então presidente Lula disse que faria "uma obra que Dom Pedro II queria fazer há 200 anos".

Quando o efeito dessa enlevação passou, veio o que Romero chamou de "ressaca", que "está expondo os líderes do País a duras críticas, alimentando denúncias de desperdício de dinheiro e de incompetência, enquanto os serviços básicos para milhões de pessoas continuam deploráveis".

A reportagem explora, claro, os atrasos das obras para a Copa do Mundo, pois é isso o que atualmente chama a atenção internacional. Constata, por exemplo, que há projetos de transporte público que deveriam servir aos torcedores, mas que "não estarão prontos senão muito depois que o campeonato tiver acabado".

É evidente que a Copa é irrelevante quando se levam em conta as necessidades de infraestrutura do País, razão pela qual pouco importa se as obras de mobilidade urbana estarão prontas antes ou depois do Mundial. O importante é que sejam finalizadas no prazo mais curto possível e que sirvam adequadamente aos brasileiros em seu duro cotidiano.

Mas é compreensível o espanto do jornalista estrangeiro ao constatar a divergência entre o discurso retumbante do governo sobre a capacidade do Brasil de realizar a Copa do Mundo e a realidade dos atrasos das obras anunciadas e dos gastos exorbitantes com elas.

Além de abordar esses problemas, o correspondente do Times foi ao Piauí para ver de perto uma parte das obras da Transnordestina, ferrovia que começou a ser construída em 2006, deveria estar concluída em 2010 e que hoje, ainda incompleta, tem vários trechos que, abandonados, servem de ganha-pão para catadores de sucata.

Na hipótese de ser concluída algum dia, a obra de 1,8 mil km, de vital importância para o Nordeste, ligará o sudeste do Piauí, o sul do Maranhão e o oeste da Bahia aos Portos de Suape (PE) e de Pecém (CE). No momento, contudo, o que se vê, nas palavras do jornalista americano, são "longos trechos desertos onde trens de carga deveriam estar trafegando", enquanto "vaqueiros magrelos cuidam de seu gado à sombra de pontes ferroviárias abandonadas". Certamente não foi a isso que Lula quis se referir quando lançou a Transnordestina, ao dizer que a ferrovia seria a "redenção" do Nordeste.

Como sempre, os governistas se defendem responsabilizando os outros. Ouvido na reportagem, o ministro dos Transportes, César Borges, atribuiu os atrasos à burocracia e à necessidade de emissão de diversas licenças. Lula, por sua vez, admitiu que uma parte dessas exigências foi criada pelo próprio PT quando o partido estava na oposição, para dificultar o trabalho do governo, "sem levar em conta que, um dia, podíamos chegar ao poder".

Esse discurso maroto, porém, serve apenas para tentar disfarçar algo que todos - brasileiros e estrangeiros - já começaram a perceber: que concluir obras e evitar desperdício de dinheiro público definitivamente não é o forte do atual governo.

PETROBRÁS: A CASA DO ESPANTO



Casa comigo - MARTHA MEDEIROS


ZERO HORA - 20/04

Os dois namorados estavam dentro do carro, à noite, estacionados em frente ao prédio da excelentíssima, discutindo a relação. Discutindo mesmo, aos berros, brigando. Em meio a algum pra mim chega!, surgiram dois meliantes armados e interromperam aquele bate-boca. Transferiram os namorados para o banco de trás e saíram em disparada com eles: sequestro relâmpago. Rodaram a cidade durante 50 minutos, fizeram saques em caixas eletrônicos, até que os levaram para um lugar ermo, no meio do mato.

Duas coronhadas, uma em cada um, rostos sangrando, mas era pouco: despiram os dois, deixando-os apenas com a roupa de baixo, e os amarraram em troncos de árvores. Não houve agressão sexual, mas não se pode dizer que foi um passeio no bosque. Em plena madrugada, abandonaram o casal imobilizado e seguiram com o carro do rapaz rumo à impunidade garantida.

Restou o silêncio. Assustados, os dois tentaram, tentaram de novo, e conseguiram, finalmente, se desamarrar. Livres, sozinhos, sem saber onde estavam, olharam um para o outro e tiveram um ataque de riso. Ele a abraçou fortemente e só conseguiu dizer duas palavras: “Casa comigo”.

Aconteceu mesmo. Quem me contou, olho no olho, foi a protagonista feminina da história. Eu não conseguiria imaginar pedido de casamento mais romântico. Sem vinho, sem luz de velas e sem anel de brilhantes – um pedido movido simplesmente pela emergência da vida, pela busca de uma felicidade genuína, pela supressão da razão em detrimento da emoção verdadeira.

Estavam para morrer, os dois. Foram unidos pelo mesmo pensamento desde que foram surpreendidos por dois estranhos armados: acabou. Não tem mais por que discutir a relação. Não tem mais relação. Não tem mais manhã seguinte. Não tem mais futuro. Acabou. Que perda de tempo. Para que brigar? Para que se estressar com ciúmes, com queixas, com mágoas? Acabou.

E então descobrem que não acabou. Desamarram-se, estão nus por fora e por dentro, despidos de qualquer racionalidade, apenas aliviados com o desfecho da aventura e absolutamente tomados pela potência do que é essencial na vida. O amor.

Casa comigo.

Estão casados há 10 anos. Não sei se plenamente felizes. É provável que os motivos dos ciúmes e das queixas e de tudo aquilo que explodiu naquela discussão dentro do carro antes do sequestro tenha se repetido outras vezes. A realidade impõe os seus caprichos. Obriga a gente a pensar e manter a sanidade. Maldita sanidade.

Mas houve um momento em que eles não pensaram. Só sentiram. Sentiram tudo. Sentiram sem amarras. Sentiram soltos. Sentiram livres. Pura emoção. E a emoção se impôs: casa comigo. Tiveram os piores padrinhos do mundo: a violência e o medo. Mas que beijo deve ter sido dado ali no meio do nada.

Para o governo do PT, comprar votos é mais negócio do que educar


Do Claudio Humberto

DILMA PREFERE BOLSA FAMÍLIA À EDUCAÇÃO BÁSICA
Desde que tomou posse como presidenta da República em janeiro de 2011, Dilma Rousseff investiu mais no programa Bolsa Família do que em Educação Básica, segundo o Portal da Transparência do governo. Os gastos com a transferência de dinheiro que garante “agradecimento nas urnas” já superam os R$ 64,9 bilhões, quase 20% a mais do destinado para educação das crianças do País no mesmo período.

O ex-presidente Lula, mentor de Dilma, gastou R$ 47,8 bilhões com Bolsa Família em seu segundo mandato, 60% mais que em Educação.


Segundo dados do Banco Central, o valor gasto pelo governo Dilma com Bolsa Família é superior aos lucros dos bancos no Brasil em 2013.

O último beijo de Gabriel García Márquez, por Gabriela Antunes


“Da penúltima vez que o vi, em Buenos Aires, foi para indicar-lhe, em um mapa, um cantinho secreto dos Bosques de Palermo onde poderia, por fim, beijar Mercedes sem ser interrompido”, contou o escritor argentino Tomás Eloy Martínez sobre a emblemática passagem do escritor colombiano Gabriel García Márquez e sua esposa pela cidade.
Era inverno em 1967 (agosto) quando um empobrecido García Márquez e seu recém publicado livro Cem Anos de Solidão desembarcaram na capital argentina, ainda sem fama nem glória. Deixaria a cidade dias depois laureado pela fama.
Trazido a Buenos Aires por Eloy Martínez e por outros companheiros de ofício, a pretexto de um concurso literário, Gabo, como era conhecido em sua intimidade, desceu do avião faminto. Trazia a fome das longas horas de viagem e o desejo de empanturrar-se de churrasco argentino.
Martínez diz ter testemunhado o momento preciso no qual Gabo deixava de ser o obscuro escritor de círculos literários, para abraçar a fama. O romance que o levaria à celebridade foi publicado, pela primeira vez, em Buenos Aires.

Um beijo em Mercedes em Estocolmo. Foto: Topham / AP

Passou incólume pela cidade por três dias. Até que, descoberto, começou a sentir o peso da fama que lhe estava por vir.
Certa manhã, da janela de um café portenho, viu uma dona de casa trazer do supermercado uma cópia de “Cem Anos de Solidão” entre alfaces e tomates.
Não tardou muito para que o escritor se distinguisse dos outros turistas que visitavam a capital. Descoberto em um teatro, foi ovacionado pelo público. “Nesse momento preciso sentir que a fama descia do céu e pousava sobre os ombros do novelista como se fosse ela mesma uma criatura viva”, descreveu Martínez, afirmando que, depois do episódio, García Márquez foi engolido pelo sucesso.
Nunca mais voltou a Buenos Aires.
“Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo. Macondo era, então, uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e, para mencioná-las, se precisava apontar com o dedo”, descreve em um dos trechos do livro que o catapultou à celebridade.
Pode-se sonhar que, em seus últimos momentos, como o Coronel Aureliano Buendia, Gabo teve uma lembrança agradável. Talvez o beijo que deu a sós em Mercedes, debaixo de uma árvore despida pelo inverno nos Bosques de Palermo, quando seu mundo era recente.

Gabriela G. Antunes é jornalista e nômade. Cresceu no Brasil, mas morou nos Estados Unidos e Espanha antes de se apaixonar por Buenos Aires. Na cidade, trabalhou no jornal Buenos Aires Herald e hoje é uma das editoras da versão em português do jornal Clarín. Escreve aqui todos os sábados.

1962, por Luis Fernando Veríssimo


Como aquele personagem do poema do Eliot que podia medir a sua vida em colherinhas de café, posso medir a minha em copas do mundo. A partir da copa de 1986, no México, fui a todas, Mas as anteriores, que acompanhei pelo rádio, pela TV em preto e branco e pela TV (maravilha!) a cores também deixaram dores e saudades. Como a de 62, por exemplo, aquela em que o Pelé se machucou e o Garrincha viu que teria que ser tudo com ele, e foi.
1962. Eu tinha saído de Porto Alegre com a ideia de ganhar algum dinheiro no Rio e seguir para Londres, onde faria alguma coisa ligada a cinema, como diretor ou vendedor de pipoca, ainda era incerto. Me hospedei com uma tia, no Leme.
Não tinha diploma de nada e nenhuma vocação aparente, fora um discutível “jeito para desenho”. A Clarice Lispector, amiga da família e vizinha da minha tia, chegou a telefonar para o Ivan Lessa, que trabalhava em publicidade, para ver se me conseguia um emprego.
O Ivan e eu marcamos um almoço que, não me lembro mais por que, nunca aconteceu. Na verdade, nunca nos encontramos.


Chegou um amigo de Porto Alegre, companheiro de inconsequências, que ganhara uma bolada na venda de umas terras do pai e, entre aplicar bem o dinheiro ou queimá-lo todo num fim de semana carioca, optara pelo mais sensato: arrebanhara outros amigos e os trouxera para o Rio, e me convocou para ajudar a gastar o dinheiro.
Sim, tive meus três dias de condor, mandando baixar no “Fred’s” (o hotel Windsor, ex-Méridien, hoje se ergue sobre as suas cinzas) e requisitando coristas para acompanhar nossos delírios de paulistas. Coube a mim uma chamada Leticia, que, meu Deus, hoje deve ser avó.
Foi uma despedida tardia da adolescência. Depois começou a vida real. Fui trabalhar com um americano com a promessa de ficar rico e quase acabei preso, me casei, tentei um negócio que não deu certo e quatro anos depois de me mudar para o Rio, em vez de ir para Londres voltei para casa.
Em 1962, no Rio, você lia as colunas do Armando Nogueira, do Nelson Rodrigues, do Stanislaw Ponte Preta, do Antônio Maria, do João Saldanha, do Paulo Francis escrevendo sobre teatro e mandando pau na direita, nos jornais; e na “Manchete”, todas as semanas, as crônicas do Rubem Braga, do Paulo Mendes Campos e do Fernando Sabino e, na “Cruzeiro” as gloriosas duas páginas do Millôr.
Jango estava no poder, as reformas eram uma possibilidade (se o Lacerda deixasse, porque os militares estavam sob controle), mas, acima de tudo, havia o Garrincha. No auge, como todo mundo.

Luis Fernando Veríssimo é escritor.

Chutes no traseiro, por Mary Zaidan


Na quarta-feira, exatos 1.550 dias depois de derrotar Chicago, Tóquio e Madri, o Rio de Janeiro anunciou mais mundos e fundos para a Olimpíada 2016, elevando o custo total do evento a R$ 36,7 bilhões. Quase R$ 8 bilhões a mais do que fora orçado em 2008 e, seguramente, cifra inferior à conta que virá daqui a 840 dias, quando os Jogos começarem. Assim como nas obras da Copa do Mundo, ainda inconclusas a 72 dias do pontapé inicial, promete-se que pelo menos 43% do orçamento olímpico será pago pela iniciativa privada.
Difícil crer.
Em 2007, quando Lula brigou pela Copa da Fifa, a lengalenga era a mesma. As garantias do capital privado vinham de todos os lados. O ex-ministro do Esporte, Orlando Silva, assegurava que o Brasil não gastaria “um único centavo” para fazer a Copa.
“Faço questão absoluta de garantir que será uma Copa em que o poder público nada gastará”, corroborou Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, ainda durante as comemorações da escolha do País como sede.
Hoje, o gasto direto de dinheiro público somado à pendura no BNDES beira o total da conta Copa, que ninguém sabe ao certo quanto somará. Fala-se de números que variam entre R$ 25 bilhões e R$ 35 bilhões, uma margem de erro considerável, inadmissível em qualquer país minimamente sério.

Foto: Michael Buhozer

Acrescente-se aí a desfaçatez do atual ministro, Aldo Rebelo, ao afirmar que nas obras da Copa “não há recursos públicos, apenas empréstimos via BNDES”. Atenta contra a inteligência e desrespeita os brasileiros, que, ao fim e ao cabo, vão pagar a conta.
Além dos R$ 70 bilhões já previstos em orçamentos que crescem mais do que ervas daninhas a cada nova versão, os dois megaeventos esportivos encurtaram as calças do Brasil antes de seu início. Mesmo tendo pedido desculpas formais à presidente Dilma Rousseff pelo vocabulário chulo, não dá para esquecer a frase “o Brasil precisa de um chute no traseiro”, dita há dois anos pelo secretário geral da Fifa, Jérôme Valcke.
Agora foi a vez do Comitê Olímpico Internacional (COI). Em ato inédito na história dos Jogos Olímpicos, o COI se viu obrigado a intervir em uma cidade sede. Seu presidente, Thomas Bach, anunciou que vai contratar um administrador de projetos para coordenar e acompanhar as obras de perto. Em resumo, chutou o traseiro, sem aviso prévio.
Quando penhorou o que não tinha nem ia ter para conseguir trazer a Copa e a Olimpíada para o Brasil, Lula vislumbrou a consagração. Dele e do projeto de poder do PT. Apostou no binômio megalomania e ufanismo, quase imbatível nos governos populistas e em regimes totalitários. Nas democracias, podem se virar contra o jogador e acabar em um chute no traseiro.

Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas. Atualmente trabalha na agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa'. Escreve aqui aos domingos. Twitter: @maryzaidan, e-mail: maryzaidan@me.com

PSICANÁLISE DA VIDA COTIDIANA O Eleitor no Observatório


CARLOS VIEIRA
Heleno tem 25 anos. Advogado, recém-aprovado em concurso para Juiz, salário decente, oriundo de uma família de classe média. Seus irmãos são três, sua mãe se restringe aos afazeres do lar, e seu pai acabou de se aposentar pelo INSS com um salário de um mil e trezentos reais. Moram numa cidade-satélite, ele Heleno, brasiliense e seus pais, candangos vindos do interior de São Paulo.

Heleno vive a angústia de um jovem num país em crise e sem projetos de futuro. Sabe que o nosso Brasil há anos é governado por homens políticos desprovidos em sua maioria, de uma noção de Política como um compromisso social. A Política ainda hoje, século XXI vem sendo a arte, ou a astucia de criar benefícios eleitoreiros e engordar a riqueza daqueles que nós elegemos. Culpados de nós, alienados, seduzidos por promessas fantásticas em véspera de eleições; classe média perdida, desinteressada, visando uma vida individualista, num mundo de concepção consumista. Culpados os responsáveis pela Educação nas escolas e universidades, onde jamais ensinam matérias de politização; culpados os representantes do Governo que a cada dia nos enganam com cálculos, índices, projeções de crescimento, promessas de aplicação do dinheiro do “pré-sal” que ainda continua no útero oceânico; culpados homens do Judiciário que não criam na população um sentimento consistente de justiça individual e grupal; culpados principalmente os homens do Congresso Nacional, mais preocupados com as vantagens partidárias e de trocas de partidos para benefícios próprios; culpadas as famílias, claro, muitas delas, que perderam um senso de ética na educação dos seus filhos.

E o nosso Heleno, jovem advogado, atônito, perdido, sem referência partidária, vive a angústia da responsabilidade de votar. Votar em quem, em qual partido, se programas não existem que determinem mudanças? Reforma Política, Tributária, da Previdência Social, enfim, reformas que criem melhoria para vida digna e justa à população.

Heleno conversa com seus amigos e continua a viver seu desconforto interno. Onde estão as lideranças estudantis, as reuniões e congressos para pensar o Pais, a preocupação de homens idôneos em criarem um fórum para refletir sobre o nosso Brasil? Por mais pessimista que parece minha escrita, vivemos num caos, num clima de descrença, povoado de insegurança, homicídios diários, atos de vândalos quebrando o patrimônio público e privado! Vivemos um momento em que é preciso e necessário que se faça alguma coisa, e não “promessas salvadoras emitidas por homens e partidos! Escândalos por todos os lados, atos de corrupção no passado e no presente, predominância de uma “burocracia de gestões burocráticas”, e não de programas de governo que ultrapassem os interesses de eleições e reeleições! 

Heleno, Heleno, que sua insônia ou seus sonhos elaborem decisões éticas e respeitosas na hora da urna.

E se o Brasil ganhar a Copa do Mundo? Tudo que qualquer torcedor almeja, mas com o cuidado da vitória não ser usada para faturar votos imorais em candidatos perversos! Futebol, carnaval e samba, às vezes são realizações de fantasias para acalentarem uma “depressão histórica” do banzo dos nossos ancestrais africanos. O Brasil hoje se divide em duas classes: uma que vive uma fantasia maníaca de um bem-estar ilusório, produto de lucros dos roubos e corrupções, e outra classe onde a incidência da depressão, a cada dia povoa os consultórios psiquiátricos e analíticos.

“Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus./ Tempo de absoluta depuração./ Tempo em que não se diz mais: meu amor./ Porque o amor resultou inútil./ E os olhos não choram./ E as mãos tecem o rude trabalho./ E o coração está seco.” (fragmentos dos versos do poeta em seu poema:”Os ombros suportam o mundo”.

Versos do nosso querido Drummond, versos que podem ser lidos pensando na falta de amor dos “Homens Públicos” pela população!

Em outro poema, do Carlos, gauche de Itabira, “Congresso Internacional do Medo”, poema de 1940, está escrito:” Provisoriamente não cantaremos o amor./que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos./ Cantaremos o medo, que esteriliza dos abraços...”

E agora Heleno, quando a noite cair e o sono estiver anunciando seu descanso, vamos deixar de lado o ódio, o ressentimento, a vingança, a violência, a inveja, a voracidade canibalística da sociedade pós-moderna e cantar o Amor!
Carlos de Almeida Vieira - psicanalista e psiquiatra.

Lula e Cabral já se preocupam em serem alvos da devassa da PF nos negócios de Eike Batista


Posted: 18 Apr 2014 07:31 AM PDT

Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net

Os surpreendentes desdobramentos da Operação Lava Jato, que indica ligações com escândalos na Petrobras, só preocupam menos Luiz Inácio Lula da Silva do que o agora quase certo ataque direto ao empresário Eike Batista – investigado pela Polícia Federal, por indícios de crimes financeiros. Lula já avalia que o real objetivo é atingi-lo – e não apenas perseguir Eike, alvo da ira de investidores que perderam muitos milhões de dólares com o império X.

Um outro político sob tensão é Sérgio Cabral Filho - outro parceiro muito próximo de Lula e com fortes ligações com Eike. O ex-governador do RJ, que agora tenta uma complicada candidatura ao Senado, sabe que será atingido nos ataques a Eike. Serginho também teme o imprevisível desenrolar da Lava Jato, já que o caso já investiga outro grande amigo e parceiro de negócios: o empreiteiro Fernando Cavendish, que comandava a Delta. A Polícia Federal já o relaciona aos negócios com o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e a turma de doleiros investigados por lavagem de dinheiro e outros delitos.

Quem complicou Eike Batista foi a Comissão de Valores Mobiliários. A autarquia do Ministério da Fazenda que fiscaliza o mercado de capitais no Brasil enviou um relatório ao MPF em 19 de março, listando evidências de que Eike tenha cometido três infrações: omissão de fato relevante, manipulação de preços (de ações) e prática não equitativa. Eike corre o risco de ser multado na merreca de R$ 500 mil pela CVM. Pagar tal multa, para aquele que ainda seria um bilionário, é uma “calça curta” – para usar uma expressão tão usada pelo empresário.

O pior é que, desde o dia 7 de abril, a pedido do MPF, Eike é investigado pela Polícia Federal, por supostos crimes financeiros envolvendo negociações de ações, em tese irregulares, realizadas em 2013, que causaram grandes prejuízos a investidores. Objetivamente, Eike se tornou suspeito de prática de três crimes, também denunciados por investidores ao MPF: manipulação de mercado, insider trading (uso de informação privilegiada) e lavagem de dinheiro.

Os crimes de manipulação de mercado e insider trading estão previstos na Lei das Sociedades Anônimas (Lei 6.385/76). Rendem penas de 1 a 8 anos e de 1 a 5 anos, respectivamente. Já a lavagem de dinheiro, definida na Lei do Colarinho Branco (Lei nº 9.613/98), pode produzir uma pena de 3 a 10 anos de prisão. Caso seja julgado culpado, depois de muitos anos de infindáveis recursos, Eike corre sério risco de passar a vergonha de ser condenado a uma pena de até 23 anos de prisão.

Para quem sonhava ser o homem mais rico do mundo, e até já investia em uma ousada operação de marketing para construir uma imagem que lhe permitisse ser candidato a Presidente da República do Brasil em 2018, Eike vive um grande pesadelo – que só não é maior do que o sofrido pelos investidores que apostaram nele, destruindo um patrimônio acumulado ao longo da vida.

PT se vira contra Vargas


Os bem indicados

Reportagem de O Globo de hoje confirma que a diretoria da BR Distribuidora é dividida entre PT, PTB e PMDB.

Pelo loteamento, os cargos de diretoria da BR são ocupados por funcionários de carreira do sistema Petrobras, mas apenas após a indicação e o apoio desses partidos políticos.

Curiosamente, dos quatro principais dirigentes da subsidiária da Petrobras, dois foram indicados pelo senador Fernando Collor (PTB-AL), presidente que sofreu impeachment em 1992 após um escândalo de corrupção.

Os padrinhos

O presidente da subsidiária, José Lima de Andrade Neto, foi indicado ao cargo pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA), ligado ao imortal Presidente José Sarney.

Luis Alves de Lima Filho, diretor da Rede de Postos de Serviço, e Vilson Reichemback da Silva, diretor de Operações e Logística, assumiram os cargos em julho do ano passado, apadrinhados pelo senador Fernando Collor.

Andurte de Barros Duarte Filho, diretor de Mercado Consumidor, foi indicado pelo PT.

E o ex-diretor Financeiro, o agora em desgraça Nestor Cerveró, era do senador petista Delcídio Amaral.

Brilha, Brilha, estrelinha...


Danem-se os celulares...

O corregedor do Conselho Nacional do Ministério Público, Alessandro Tramujas Assad, abriu um procedimento para investigar a promotora Márcia Milhomens Sirotheau Corrêa, do Ministério Público do DF.

O CNMP atendeu prontamente ao pedido do Advocado Geral da União, Luis Inácio Adams, (AGU), que fez uma reclamação disciplinar contra Márcia por ela ter sido autora de um pedido de quebra indiscriminada de sigilo de telefones celulares na área do Palácio do Planalto, entre 1º e 16 de janeiro.

O pedido de Márcia, que será intimada na terça-feira por sua ousadia, foi motivado por denúncia de que o reeducando José Dirceu de Oliveira e Silva teria usado o celular de dentro do presídio da Papuda, ao receber uma visita.

Foi-se

Será sepultado nesta sexta-feira, no Cemitério do Morumbi, o empresário Henry Maksoud, que faleceu ontem aos 85 anos.

Famoso por ser dono do Hotel Maksoud Plaza, Henry foi um grande empreendedor, pois fundou a Hidroservice Engenharia, em 1958, e mais tarde, criou o grupo editorial Visão, que publicava a revista “Visão”.

Entre 1988 e 1991, apresentou o programa semanal “Henry Maksoud e Você”, na TV Bandeirantes.

Pedindo penico ao EB?


Recadinho aos arapongas

Por favor, quem grampeia celulares, e-mails e rastreia o computadores, legal ou ilegalmente, deveria, pelo menos permitir duas coisas.

Deixar o computador funcionar direito, e os e-mails trafegarem normalmente, sem tanto atraso...

Permitir que as ligações telefônicas fiquem audíveis, e não caiam o tempo todo, para não atrapalhar as conversas...

E, no mais, deixar quem é honesto trabalhar em paz, torcendo para que o Governo do Crime Organizado pare de operar no Brasil de maneira tão intensa...

Vida que segue... Ave atque Vale! Fiquem com Deus.

O Alerta Total tem a missão de praticar um Jornalismo Independente, analítico e provocador de novos valores humanos, pela análise política e estratégica, com conhecimento criativo, informação fidedigna e verdade objetiva. Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor. Editor-chefe do blog Alerta Total: www.alertatotal.net. Especialista em Política, Economia, Administração Pública e Assuntos Estratégicos.
A transcrição ou copia dos textos publicados neste blog é livre. Em nome da ética democrática, solicitamos que a origem e a data original da publicação sejam identificadas. Nada custa um aviso sobre a livre publicação, para nosso simples conhecimento.

© Jorge Serrão. Edição do Blog Alerta Total de 18 de Abril de 2014.