Marina Silva (PSB) já decidiu: caso não dispute o segundo turno da eleição presidencial contra Dilma Rousseff (PT), apoiará Aécio Neves (PSDB).
O anúncio do apoio deverá ser feito nesta segunda-feira. No mais tardar na terça-feira.
Não será um "apoio automático", segundo me garantiu um auxiliar de Marina. O apoio será dado com base no programa de governo de Aécio.
Por mais que tenha dito que Aécio e Dilma não apresentaram programas de governo, Marina admite que informalmente Aécio tem um, sim. E que o programa de Aécio é o mais parecido com o seu programa.
Marina e Aécio defenderam as chamadas "conquistas sociais" dos governos do PT. Assim como a política econômica do PSDB de Fernando Henrique Cardoso, herdada e respeitada por Lula.
De resto, pareceria arrogância demais Marina preferir a neutralidade, como o fez em 2010 quando negou seu apoio a Dilma e a José Serra (PSDB).
A neutralidade removeria Marina do primeiro plano da política nacional.
Marina guarda mágoas de Aécio, que se aliou a Dilma para combatê-la. Ainda assim....
O apoio de Marina a Aécio tocará fogo dentro do PSB. Ali, a ala comandada por Roberto Amaral, o presidente em exercício do partido, pretende apoiar a reeleição de Dilma.
Marina Silva (Imagem: Fernando Donasci / Agência O Globo)
Véspera de eleição é dia de chover no molhado. Ainda mais nesta que é a mais estranha eleição dos últimos tempos. O surreal Brasil está cheio de problemas de difícil solução. Apesar disto, a complicada Dilma Rousseff aparece como favorita – com risco até de vencer no primeiro turno (conforme ontem a mídia argentina fazia previsões). A “oposição” é uma piada séria. O governo, uma tragicomédia... Tudo sem graça!
As pesquisas eleitoreiras cumpriram direitinho o papel de induzir a opinião. Domingo vamos para a dedada obrigatória na urna eletrônica de resultado inconfiável, porém inquestionável pelo dogmático “judiciário eleitoral” (que a nossa cínica retórica tem o desplante de chamar de “justiça”). Eis a sina do País do jeitinho que transforma a delação criminosa em “colaboração” premiada para punir, no final das contas, apenas alguns bodes expiatórios “menos votados”. Os mais votados seguem no poder...
Domingo à noite acaba uma novela e começa outra com o mesmo enredo e os mesmos personagens sem talento para atuar no triste roteiro adaptado ao pragmatismo cínico que vigora na politicagem brasileira. Antes disso, 142.822.046 eleitores (reais, fantasmas ou multiplicados por fraudes) poderão experimentar a ilusão, compulsória a cada dois anos, de que tudo vai mudar para continuar a mesma coisa. Independentemente do vencedor, o Brasil já está perdido. Padecemos da maldição de viver no Pretérito do Futuro com a máscara de vanguarda do atraso.
As elites brasileiras (aqueles que, em tese, deveriam ser os melhores entre os melhores) não conseguem definir o rumo estratégico para o País. As classes dirigentes se comportam como “zelites” (escatológica categoria que se confunde com a famosa marca de vaso sanitário). A classe média trabalha, feito escrava, para pagar impostos e ter a ilusão do acesso a algum consumo. As classes economicamente baixas, maioria decisiva, com visão pragmática, imediatista e consumista, escolhem os governantes que lhes dão (ou apenas prometem) alguma benesse. O coitadismo clientelista vence a meritocracia do trabalho, do estudo, da produção e do empreendedorismo honesto.
O Brasil se transforma em uma grande penitenciária onde os cidadãos de bem são forçados a sobreviver em regime prisional semiaberto ou na ilusão de uma nada confortável “prisão domiciliar”. A maioria da sociedade veste sua imaginária tornozeleira eletrônica e segue deixando a vida lhe levar... Já os corruptos (de todas as classes) vivem numa melhor. Saem vencedores no processo que “legitima” o Governo do Crime Organizado na conjuntura sem Justiça.
Por isso, domingo, parte da ansiedade deste sábado se desfará. Até lá, aguardemos com as perguntas. Será que Dilma Rousseff vence no primeiro turno? Será que o Aécio Neves vai ultrapassar a Marina Silva para que os tucanos possam enfrentar os primos petistas? Ou será a Princesa Verde da Floresta quem vai encarar a Bruxa Vermelha do Planalto?
Antes da resposta fatal, talvez seja mais divertido embarcar no aerotrem do Levy Fidélix, de preferência no vagão cor de rosa do Orgulho Homossexual... Mas a viagem só tem graça se puder pagar com o cartão do Bolsa Família (aquele mesmo que ajuda a comprar o voto)... Assim a véspera do dia seguinte fica mais animada, principalmente para os idiotas, que são muitos, e elegem o pior entre os mais ruins...
Nos embalos noticiosos de sábado à noite, ninguém se surpreenda se as últimas pesquisas vierem com os seguintes números: Dilma Rousseff 39%; Aécio Neves e Marina Silva, empatados ou empacados, em 22%... Numerologia perfeita para uma aposta maluca no Cassino Eletrônico das Urnas Eletrônicas sem direito a recontagem de voto...
Impostura Cívica
Comentário justo e perfeito do empreendedor cultural João Guilherme C. Ribeiro sobre a conivência do Brasil com a corrupção eleitoreira:
“Um país que taxa sabonetes em 42% não está interessado em ficha limpa!”
Por isso, não é surpresa que criminosos “delatores” ganhem o status de “colaboradores” de um judiciário ainda longe de ser considerado “Justiça”... Releia:
Se eleito, Aécio terá algumas prioridades inescapáveis. É imperativo desmontar a 'herança maldita' deixada por Lula e Dilma Rousseff
A ordem em que os três principais candidatos à Presidência da República têm aparecido nas pesquisas parece-me ser o inverso de suas capacidades e do que deles se pode esperar de positivo para o Brasil.
Dilma Rousseff chegou ao Planalto como atriz num dos muitos enredos maliciosos que Lula é capaz de conceber. Com seus próprios recursos ela dificilmente se elegeria vereadora em Porto Alegre ou em Belo Horizonte. Lula "vendeu-a" como uma exímia conhecedora da máquina pública e a grande gestora de projetos que daria continuidade às "grandes conquistas" de seu próprio governo.
Tendo já cumprido um segundo mandato, Lula não iria se desgastar numa luta interna, muito menos emprestar sua popularidade a um candidato político. Queria um candidato que lhe devotasse uma fidelidade canina, o melhor "poste" que pudesse encontrar.
Na campanha e nos debates, ela quase nada precisaria falar; dos votos encarregar-se-iam Lula e os marqueteiros. Foi assim que o Brasil viveu um dos maiores paradoxos eleitorais de que se tem notícia. Nas democracias, candidatos sabem que suas chances de sucesso dependem de se tornarem conhecidos do maior número possível de eleitores. Com Dilma, deu-se o oposto: seu sucesso deveu-se à quase total clandestinidade em que ela se manteve.
Sob muitos aspectos, Marina Silva é o oposto de Dilma. Não creio que ela se prestasse a uma farsa eleitoral. Suas ideias parecem-me se constituir, parte por elaboração própria, parte por uma saudável utilização dos órgãos auriculares.
Apesar dessas qualidades, tinha certeza que o status de favorita que ela chegou a atingir não se sustentaria. Resultara de uma situação extraordinária que se diluiria. O desaparecimento de Eduardo Campos e a comoção dele decorrente catapultaram-na para a segunda posição.
O súbito aumento do apoio a Marina deveu-se à simpatia com que ela passou a ser vista por eleitores que, de outra forma, não a veriam como opção; à reativação e a uma tentativa de canalização mais positiva do manancial de votos contra Dilma e Serra que ela mobilizara em 2010; e à sensação de que ela passara a encarnar uma concepção idealizada de política com possibilidade real de chegar ao Planalto.
Ao envolvê-la numa aura de vencedora, os elementos mencionados proporcionaram-lhe a indispensável interlocução com grupos sociais que até a morte de Campos a viam como problema. Facilitaram a substituição da acanhada plataforma de 2010 por uma mais ampla e realista, respaldada por economistas competentes.
As últimas pesquisas mostram Aécio Neves na terceira posição. Admitindo que as intenções de voto em Dilma e as de votar em branco ou nulo estão mais ou menos consolidadas, Aécio precisa "tomar" de Marina só mais alguns pontos para ultrapassá-la. Difícil é; impossível, não. Se for ao segundo turno, terá o mesmo tempo de TV que Dilma e será visto como uma alternativa real ao oficialismo petista.
Na segunda (29), os agentes econômicos reagiram à melhora de Dilma nas pesquisas avisando que a reeleição será um desastre. As ações da Petrobras despencaram 10%. Corteses como são, Lula e Dilma deveriam pedir desculpas à analista do Santander cuja demissão exigiram por ter tido a "ousadia" de fazer uma previsão nessa mesma linha.
Se eleito, Aécio Neves terá prioridades inescapáveis. Em termos gerais, é imperativo desmontar a "herança maldita" deixada por Lula e Dilma. Reverter o clima de desmoralização que tomou conta do país desde 2003, a aceitação passiva da incompetência e da falta de responsabilidade, a condução ideológica e amadorística da política econômica e a tibieza no combate à corrupção.
Urge restabelecer o império da lei, a validade dos contratos, o valor das instituições e a independência entre os Poderes. Na política externa, Lula e Dilma deram seguidas mostras de obtusidade, no melhor estilo terceiro-mundista. Mas foram além: praticaram ativamente uma opção preferencial por regimes populistas e ditaduras, sabe Deus se como fruto de alguma convicção ou só no juvenil afã de marcar posições antiamericanas.