domingo, 8 de abril de 2012

PÁSCOA DE SANGUE NA NIGÉRIA! TERROR ISLÂMICO EXPLODE CARROS-BOMBA CONTRA CRISTÃOS EM IGREJA.


Domingo, Abril 08, 2012


Pelo menos 20 pessoas morreram neste domingo de Páscoa em um ataque com dois carros-bomba diante de uma igreja em Kaduna, na região norte da Nigéria, país que foi cenário de vários atentados islamistas nos últimos meses.

— Agora temos 20 mortos da explosão dupla. Bombas escondidas em dois carros explodiram diante da igreja — afirmou uma fonte dos serviços de segurança que pediu anonimato.

O grupo islamista nigeriano Boko Haram executou uma série de ataques contra igrejas e outros lugares no Natal de 2011. O mais violento teve como alvo um templo cristão perto da capital federal Abuja, deixando 44 mortos. O papa Bento XVI condenou os "sangrentos atentados" na Nigéria durante a mensagem de Páscoa "urbi et orbi" (para a cidade e o mundo), neste domingo.

— À Nigéria, que nos últimos tempos foi cenário de ataques terroristas sangrentos, que a alegria pascal conceda as energias necessárias para recomeçar a construir uma sociedade pacífica e respeitosa da liberdade religiosa de seus cidadãos — disse.

Depois das explosões, rapidamente as autoridades instalaram um cordão de segurança.

— Enquanto estávamos no local, vimos os policiais levando mortos e feridos. As operações de resgate continuavam — afirmou um morador da região.

O presidente nigeriano Goodluck Jonathan, cujo governo enfrenta uma insurreição islamista que deixou mais de mil mortos desde 2009, discursou ao país no sábado para incentivar a população a enfrentar os desafios do momento.

— Minha mensagem à nação é que devemos seguir tendo fé em nossa capacidade coletiva de superar todos os desafios atuais. Enquanto povo fiel, nunca devemos cair na desesperança — disse na mensagem de Páscoa o presidente, que é cristão.

— São previstos ataques durante o fim de semana santo, durante as celebrações de Páscoa, e por esta razão intensificamos nossas operações — disse na quarta-feira o tenente Iweha Ikedichi, porta-voz de uma força especial mobilizada em Kano, uma grande cidade do norte do país, onde se temiam atentados.

A insurreição do grupo Boko Haram no norte da Nigéria, cada vez mais violenta, não dá sinais de trégua, apesar da tentativa de iniciar um diálogo indireto no mês passado. Os mediadores das negociações se retiraram depois que um suposto porta-voz do Boko Haram declarou que a organização não podia confiar no governo. Do portal da RBS/Diário Catarinense

Dilma: a razão e a emoção, por Carlos Brickmann



Ela está longe de ser uma senhora de modos suaves: é agressiva, trata mal os subordinados, é chegada a gritar com eles. Seu humor é inconstante: o mais que se sabe de suas atitudes é que está irritada, descontente, intratável.
Entre os auxiliares que escolheu havia alguns que não eram capazes de nada, e outros capazes de tudo; entre o caso Erenice e hoje, foi obrigada a demitir um monte deles, muito mais pela capacidade do que pela incapacidade que demonstraram.
E, no entanto, a popularidade da presidente Dilma Rousseff continua em alta. Pega bem, no eleitorado, o jeito ríspido de tratar os subalternos (como dizia Samuel Wainer ao presidente Getúlio Vargas, em seus jornais ele atacaria o Governo, os auxiliares, jamais o chefe do Governo).
A irritação da presidente contribui para identificá-la com o eleitor, também irritado com as coisas que acontecem. E, embora ela tenha escolhido seus ministros, embora os conhecesse de longa data do Governo anterior, ao demiti-los passa imagem de que está limpando o Governo. Como Jânio Quadros fez há cinquenta anos, passa a vassoura na sujeira.
Talvez o grande erro da oposição, cada vez mais magra, esteja na incapacidade de enxergar não apenas os fatos, mas a imagem que os fatos passam. O voto é mais emocional que racional.
Sarney foi popularíssimo durante o Plano Cruzado, elegeu todos os governadores, menos um, e isso porque combateu os tubarões, falou mal da carestia e pôs só nos empresários a culpa pela alta de preços. Não é mau nem bom: é assim.
A oposição aprende ou cada pesquisa a surpreenderá.

Marin de Dirceu (por Juca Kfouri)


JUCA KFOURI

Por incrível que pareça nada é mais crível que a nova aliança que surge em nosso futebol
SEGUNDO O BLOG de Josias de Souza, José Maria Marin e José Dirceu jantaram juntos em Paris e de lá voltaram no mesmo voo da Air France.
Marin, agora presidente também do Comitê Organizador Local da Copa, e Dir­ceu, consultor para toda e qualquer obra, porta de entrada eventual para o cartola no governo federal.
Ambos foram flagrados na esteira do aeroporto de Guarulhos na manhã do último dia 2, o que permite dizer que saíram da França no 1º de abril, por mais que pareça mentira.
Mas parece mentira mesmo?
Parece nada.
Faz todo sentido. Para o cartola e para o consul­tor, que não se dá conta de que parcerias que tais não ajudam a melhorar a imagem de quem se queixa de ter sido cassado injustamente e luta para recuperar seus direitos políticos.
Porque Marin precisa reabrir em Brasília as portas que Ricardo Teixeira fechou. E Dirceu joga o jogo do poder, pragmático, dane-se a cor do gato, importa que coma o rato. Ou o deixe vivo, bem vivo, se interessante for.
E Marin parece ser, como Boris Berezovsky também parecia quando o russo e o ex-ministro da Casa Civil tricotaram perigosamente nos tristes tempos da MSI/Corinthians.
O fenômeno faz parte não de duas faces da mesma moeda, mas da moeda que cai em pé para não distinguir também os petistas dos tucanos, a velha Arena e a parte podre do MDB.
Todos na mesma lama, envolvidos com o que há de pior, seja no futebol, no jogo do bicho, bingos, tráfico de influências, empreiteiras ou mega-agências de propaganda. O poder!
E, é claro, a Copa do Mundo no Brasil se presta a que quem esteja por cima nade de braçada nesta onda, tenha a origem que tiver, seja das lavanderias ou das cachoeiras, importa que jorrem.
O inconfidente Tomás Antônio Gonzaga, autor do célebre poema “Marília de Dirceu”, pagou caro por seu idealismo, entre a prisão e o desterro.
Já Marin jamais foi chegado a ideal algum, a não ser ao de se dar bem e tem obtido inegável sucesso. Já Dirceu deixou para trás quaisquer veleidades do gênero, convencido de que a burguesia precisa ser vencida por dentro e que o melhor meio é juntar-se a ela, com um sorriso nos lábios.
Como se fosse o Gary Cooper da piada em que o ator se encontra cercado de índios por todos os lados e alguém lhe pergunta como fez para se safar: “Virei índio também”, responde o cowboy.
Coluna na

Quando a besta desperta



SOBRE A INTOLERÂNCIA


Por Muniz Sodré em 03/04/2012 na edição 688
www.observatóriodaimprensa.com.br


Uma das figuras mais marcantes dos primeiros tempos do Jornal da Bahia (aquele mesmo que consta na história da imprensa brasileira como o herói de uma luta sem tréguas contra o caudilhismo de Antonio Carlos Magalhães) era um desenhista francês de talento invulgar. Aos 15 anos de idade, quando estreei naquele jornal formador de gente, o francês fazia-se conhecer em toda Salvador como chargista, dotado de uma percepção extraordinária para captar o espírito baiano e satirizar as mazelas políticas. Convocado para a guerra da Argélia, ele teve o conforto de assistir à reação (inútil, no fim das contas) dos baianos, que não queriam vê-lo partir.
O artista voltou são e salvo do conflito, sem ter disparado nem recebido um tiro sequer. Viveu alguns anos na Bahia e, de volta à França, fez uma carreira notável como desenhista de imprensa e de álbuns, além de cineasta, ator e contista. Eu o conheci de bem perto, antes e depois. É que permaneceu amigo de muitos brasileiros, que costumavam frequentar o seu apartamento em Paris, principalmente aqueles que ele considerava a “esquerda criativa”.
Prefiro não citá-lo nominalmente: já faleceu, não há quem responda por ele. Mas eu o evoco aqui porque começam a aparecer na imprensa e em relatos orais pequenas histórias de amigos franceses de espírito convivial e libertário, mais tarde tornados simpatizantes enrustidos, às vezes veementes porta-vozes da pior direita francesa.
Quando o desenhista faleceu em 2008, fazia muitos anos que eu não mais o visitara, mas estava bem a par de sua conversão às hostes da intolerância étnica e xenofóbica. Esta foi uma das grandes decepções de minha vida, logo eu que comungo da bonomia de “Europa, França e Bahia”, que lá estudei, que cultivo a língua e que ainda tenho sinceros amigos franceses.
Fantasia colonialista
Esta história comparece agora a propósito do massacre de crianças judias, um rabino e militares muçulmanos por um extremista francês. Mas principalmente porque a imprensa, não apenas a nossa, mas uma parte da imprensa parisiense levanta a questão do “mal-estar” da consciência francesa. Esta, a despeito de uma história gloriosa de lutas e discursos sobre a fraternidade e a liberdade, ainda parece cultivar, no mais profundo recesso de si mesma (“La France profonde...”), os sentimentos horrendos que, no passado, levaram à rejeição e ao extermínio do Outro – o judeu, o árabe, o estrangeiro.
A realidade é que nem sempre Paris foi a “festa” de que falava Hemingway. Quando o governo de Vichy, chefiado pelo marechal Pétain, extinguiu a Terceira República Francesa em 1940, o grande ponto anti-humano do acordo com a Alemanha nazista era a deportação de todos os judeus franceses para os campos de concentração alemães. A grande maioria da população era colaboracionista, cúmplice daquele “mal-estar” civilizatório, que não acabou com o fim da Segunda Guerra, nem foi realmente redimido pela Resistência Francesa (iniciativa de comunistas, aliás), pois os sentimentos odiosos ressurgem sempre que se lhes dá a oportunidade. Em seu livro sobre o “estrangeiro”, a brilhante analista Julia Kristeva sustenta não haver pior país para o estrangeiro do que a França.
Evidentemente, não é assim que se sente ou mesmo pensa o estrangeiro que vive em Paris como estudante, turista ou exilado. Pelo menos, não inicialmente ou nunca quando se navega na superfície das coisas.O buraco é bem mais embaixo: no fundo dele mora a crença no universalismo iluminista, que mobiliza não apenas a força de trabalho do homem, mas também os recursos próprios à sua conversão ao modelo civilizatório do Ocidente, indispensável a um modo de produzir economia e cultura que sempre implicou saque, domínio e extermínio do Outro. A isto se pode chamar de “monoculturalismo paneuropeu”, ou seja, a civilização pensada no singular.
Essa civilização é oferecida por essa “Paneuropa” como um valor universal, como um Evangelho (“boa notícia”, em grego) ao resto do mundo desde o século 15. Todo e qualquer saber ou toda e qualquer religião que se queira universal tem a sua “boa notícia” a ser difundida a ferro e fogo às civilizações refratárias. Por isso, o fenômeno histórico do colonialismo, ao lado do extermínio físico e da violência predatória, fez-se sempre acompanhar da validação de uma forma única de conhecimento, em detrimento de quaisquer outras.
A respeito disso, o sociólogo português Boaventura Santos é taxativo:
“O genocídio que pontuou tantas vezes a expansão europeia foi também um epistemicídio: eliminaram-se povos estranhos porque tinham formas de conhecimento estranho e eliminaram-se formas de conhecimento estranhas porque eram sustentadas por práticas sociais e povos estranhos”.
Paneuropa não diz respeito, portanto, à dimensão geográfica do continente europeu, e sim a seu sistema-mundo cultural, um sistema de decisões universalista etnicamente orientado, desde o século 15, pela fantasia colonialista de uma unidade absoluta do sentido e refratário à admissão de outras etnias e outros saberes.
Consciência emburacada
O curioso é que esse sentimento civilizatório persiste apesar da conscientização global de que o Ocidente vem perdendo há muito tempo a sua centralidade simbólica e a sua hegemonia política. Atualmente, até mesmo o francês Alain Touraine, sociólogo festejado pela centro-direita política, admite que os europeus já não podem reivindicar, como no passado, o monopólio da ciência, da razão, da liberdade e da tolerância: “A Europa foi tudo isso e seu contrário, em particular no espírito de conquista, de destruição e de construção de ideologias racistas”. Assim, “é preciso ser mesmo cego para não ver que a Europa, onde nasceu esse tipo de modernidade, perdeu terreno, anteriormente, para países como o Japão, e hoje perde para a China, onde se encontram os melhores exemplos de objetos e formas de vida modernas”.
Na realidade, nada disso é muito novo. O fenômeno é progressivo desde a segunda metade do século 20, quando as antigas colônias europeias se tornaram estados independentes, e quando começou a estiolar-se a evangelização que legitimava o controle imperial. A humanitas paneuropeia hoje declina de fato. Tenta ressurgir intelectualmente aqui e ali, sob as capas de uma pretensa universalidade dos direitos humanos, ou então sob as modalidades violentas do fundamentalismo ou do racismo. Nos grotões nacionais, nos buracos profundos da consciência ressentida, a perda do poder simbólico é imaginariamente compensada pela violenta rejeição do Outro.
Esse sentimento de poder civilizatório está latente em cada cidadão das antigas potências coloniais. Foi ele que, de repente, acordou naquele “meu” francês, assim como no francês do outro, pouco importam as diferenças de classe ou de educação. Cultivada ou ignorante, a consciência emburacada teme a proximidade maciça do diferente, estrangeiro, do imigrante, do Outro, despertando ocasionalmente a besta adormecida do provincianismo cego. Foi assim com Pétain – aliás homenageado pelo socialista François Mitterrand –, é assim hoje. A crise econômica ajuda a acordar a besta. É só aguardar os resultados das próximas eleições francesas.
***
[Muniz Sodré é jornalista, escritor e professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro]

Mídia volta a subestimar Jirau (Denúncia)


GRANDES CANTEIROS DE OBRAS


Por Mauro Malin em 04/04/2012 na edição 688 - Observatório de Imprensa

O mal-estar operário nas obras gigantes de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, continua subestimado pela mídia. Exemplos singulares das condições de trabalho no Brasil, em obras importantíssimas do PAC, esses canteiros, e o de Belo Monte, no Pará, mereceriam cobertura jornalística mais constante e intensa.
O incêndio da madrugada de terça-feira (3/4), um ano após a maior revolta operária do século 21 no país, não era uma possibilidade remota. Circunstancialmente, o simples fato de ter havido 26 dias de greve seria pauta obrigatória de reportagens mais abrangentes.
O que chama a atenção no episódio atual é que ele se deu após decisão dos trabalhadores de voltar ao trabalho. No noticiário de quarta-feira do Valor (que não dá o assunto na capa), o presidente do sindicato local ligado à CUT acusa o sindicato rival, associado à Força Sindical, de ser responsável pelos atos de vandalismo.
Haveria aí um ingrediente adicional numa história que os tem em abundância. Confira em “Jirau & Nova Friburgo − Anotações sobre duas reportagens” e “Mídia surpreendida em Jirau
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Especulação imobiliária engole última área verde da cidade


Gabriel Bonis - Revista Carta Capital




*De Belo Horizonte


Última área verde de Belo Horizonte, que vai receber empreendimento imobiliário, tem tamanho equivalente a 88 estádios do Maracanã. Foto: Gabriel Bonis

Vista de um dos pontos mais altos da cidade, a última área verde de Belo Horizonte esbanja grandeza. São 10 milhões de metros quadrados, o equivalente a área de quase 88 estádios do Maracanã, repletos de nascentes e mata nativa preservada no interior da sexta maior cidade do Brasil. Espaço suficiente para a instalação até mesmo de uma comunidade quilombola em meio à metrópole.
É neste lugar que será erguido  um novo bairro, cercado por parques. Uma espécie de Alphaville mineira, em referência ao bairro de alto padrão no subúrbio da Grande São Paulo – embora o projeto reserve 10% das cerca de 70 mil habitações a serem construídas no local ao programa do governo federal  Minha Casa Minha Vida, focado nas classes menos abastadas.
Apesar de o empreendimento estar em terrenos privados, a prefeitura criou o arcabouço jurídico para permitir sua construção por meio da Operação Urbana do Isidoro. O projeto, de autoria do prefeito Márcio Lacerda (PSB), foi aprovado por unanimidade na Câmara Municipal, onde a oposição praticamente é nula e PT e PSDB são aliados.
Em meio a este cenário, suspeitas de irregularidades levaram o Ministério Público Estadual a questionar em duas ocasiões o licenciamento ambiental concedido a um dos trechos da área. Em novembro último, o promotor Eduardo Nepomuceno de Sousa recomendou que a prefeitura anulasse o voto da relatora do Conselho Municipal do Meio Ambiente (Comam), Fátima Cristina Gomes Cândido de Araújo.
A servidora é mãe de Maria Diniz Cândido, advogada da Direcional Engenharia, empresa que integra o grupo Santa Margarida Empreendimentos Imobiliários, responsável pela obra. “Há um impedimento objetivo dela em relatar e votar qualquer empreendimento que tenha interesse desta empresa”, ressalta o promotor. 
Na investigação, que já dura mais de um ano, Sousa tenta esclarecer se Maria Diniz foi contratada em período paralelo à relatoria do processo. “É uma coincidência ruim.”
A constatação do Ministério Público mineiro está entre as 14 supostas irregularidades da operação, apresentadas pelo vereador oposicionista Iran Almeida Barbosa (PMDB) e já sob investigação do órgão.
A prefeitura, no entanto, não enxerga conflito de interesses no caso e refutou a recomendação da Promotoria. O conselho, diz a secretária-adjunta de Planejamento, Gina Rende, não entendeu haver irregularidades no relatório e “as pessoas não são tuteladas para opinar”.
Mas, de acordo com o promotor, a servidora está sendo investigada também por suposto recebimento de propina para favorecer a aprovação de empreendimentos imobiliários na região da Lagoa da Pampulha.  “A nossa ótica não é inventada.”
A Promotoria também considerou irregular outro aspecto do licenciamento. Em outubro de 2011, o órgão apontou que a autorização era de responsabilidade do Estado de Minas Gerais e não do Comam, pois a área faz divisa com o município de Santa Luzia, que sofreria impactos diretos com a obra.
Medida rebatida por Rende, em entrevista a CartaCapital. Segundo ela, o estado delegou a competência no licenciamento à prefeitura belo-horizontina. “É o único local na região metropolitana com esse aval.”
Em sua recomendação, Cristovam Joaquim Fernandes Ramos Filho, à época o promotor e atualmente procurador do Estado, pediu a inclusão de um Estudo de Impacto de Vizinhança para analisar as consequências da obra no meio urbano. “Para fazer um empreendimento como esse, é preciso derrubar árvores, saber o que acontecerá com o trânsito, o clima. É espantoso que a Câmara tenha votado sem considerar nada disso”, aponta o vereador.
Copa do Mundo. A construção bilionária, apelidada de Granja Werneck, é diretamente beneficiada pela proximidade com a Cidade Administrativa, projeto do ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves (PSDB), que trouxe a especulação imobiliária para a região. As obras despertaram a atenção de loteadores irregulares para a Zona Norte da capital mineira.
“A cidade tem sofrido com a especulação imobiliária e muitas pessoas se aproveitaram de informações privilegiadas para comprar propriedades na área e lucrar”, afirma Sousa.
Adensar a população nesta parte da cidade é um desejo antigo da prefeitura, que chegou a realizar um projeto semelhante na região anos antes, sem sucesso. “A área é alvo de grande cobiça de loteadores, na medida em que os investimentos do Estado no setor Norte começaram a atrair sua atenção”, diz o secretário municipal de Governo, Josué Valadão, em entrevista a CartaCapital.              
O empreendimento também está relacionado com a Copa do Mundo de 2014, pois o grupo construtor deve entregar à cidade, por 150 dias, três mil habitações mobiliadas e equipadas como hotéis três estrelas para abrigar visitantes durante o mundial. “A Copa do Mundo foi inserida oportunisticamente para facilitar a aprovação do projeto”, contesta o vereador.
Outro questionamento paira sobre a titularidade dos lotes da Granja Werneck. Uma parte da área foi doada na década de 1910 para um médico a fim da edificação de um sanatório. Mas o Ministério Público investiga se os 10 milhões de metros quadrados faziam parte do acordo, pois apenas 200 mil deles foram usados para a instituição. O restante teria sido repassado à família como herança e, neste caso, não poderia ter fim lucrativo por se tratar de uma doação do município.
Sousa confirma ter requisitado ao setor de patrimônio da cidade esclarecimentos sobre a propriedade do terreno, pois a lei “não é clara sobre o que foi doado”. “Percebemos que a prefeitura e o Estado têm um controle patrimonial imobiliário arcaico, principalmente nestas áreas mais antigas.”
O promotor afirma, porém, que os proprietários apresentaram títulos de posse, embora seja preciso compará-los aos documentos da prefeitura. “Vamos tomar o cuidado de ver se há coincidência de área ou invasão.”

Vereador Iran Barbosa enviou relatório ao MPE com 14 supostas irregularidades no empreendimento, que está sendo investigado pelo órgão. Foto: Gabriel Bonis

Além das suspeitas investigadas pelo promotor, o vereador Barbosa questiona a validade da operação, que deve durar 12 anos e construir 12% dos imóveis para fins comerciais. Segundo ele, a medida foi aprovada junto a Lei nº 9959, enquanto deveria ter sido realizada em lei específica analisada separadamente pela Câmara.
“Cada operação urbana tem que ter uma lei, não necessariamente exclusiva”, rebate Leonardo Amaral Castro, gerente-técnico consultivo da Secretaria de Governo de Belo Horizonte.
O Ministério Público tem, no entanto, uma compreensão distinta sobre as operações urbanas. O órgão contesta as leis do município por aprovarem este tipo de ação de maneira genérica.
Neste cenário, adianta Sousa, o órgão vai adotar novas medidas contra a Operação. “Essa ação pode envolver o licenciamento de forma pontual, a operação urbana genérica, a relatoria suspeita, ou ampliar para outras possíveis irregularidades.”
A prefeitura analisa o projeto como legal e com benefícios à cidade, como a doação de dois parques públicos pelo empreendedor. Um deles teria 2,3 milhões de metros quadrados e o outro, 500 mil metros quadrados, além de reservas particulares ecológicas a somar 1,2 milhão de milhão de metros quadrados. Esses espaços serão abertos ao público, embora cerquem o empreendimento e o beneficiem de forma direta, inclusive com valorização imobiliária.
A área de construção permitida no terreno, de acordo com a prefeitura, é de quatro milhões de metros quadrados. O local foi divido em três graus de proteção, que chegam a vetar edificações na área de parques e reservas e definem a ocupação entre 30% e 50% nos espaços restantes.
Um plano de proteção da mata nativa visto como insuficiente por Barbosa, para quem os parques não compensariam a perda de um milhão de árvores a serem derrubadas, segundo o relatório enviado à Promotoria mineira, para abrir espaço ao empreendimento.
A região é caracterizada por Floresta Estacional Semidecidual, que pertence à Mata Atlântica, explica o biólogo Rubens C. Motta. “Esta tipologia de mata é a mais comum nos arredores de Belo Horizonte, mas infelizmente restaram poucos fragmentos ainda intactos.”
Por outro lado, a prefeitura defende que não haverá perda de área verde na cidade e garante a manutenção da mata atlântica presente na região, embora haja pressão com a chegada dos prédios. “Esse conceito de mata atlântica é tangível. No meu sítio, mandei plantar mata atlântica”, ironiza o secretário Valadão.
O vereador contesta também as medidas de compensação pelo empreendimento, que somam, entre outras, a construção de 16 unidades municipais de educação, 14 centros de saúde e as vias de ligação com o entorno, Via 540 e Norte-Sul. “Como se constrói uma ‘cidade’ de 240 mil habitantes sem um batalhão de polícia e um hospital?”
Dentro da operação, a empresa fica responsável por construir as vias e fora dela a prefeitura deve desapropriar os terrenos com essa finalidade. O município, diz Rende, vai “pagar isso um dia, se a operação se consolidar.”
“Não se sabe qual seria esse valor, porque não há um estudo de viabilidade financeira”, critica o vereador. Ele cita estimativas em torno de 360 milhões de reais para as desapropriações.
Mesmo com a criação prevista de uma nova regional na cidade, a prefeitura diz não ter estimativas de quanto irá gastar para manter a estrutura a ser construída. “Esses custos seriam do município de qualquer forma”, aponta a secretária-adjunta.
Espécie em perigo
Grupo de falcões-relógio foi encontrado na mata do Isidoro. A espécie nunca havia sido registrada em Belo Horizonte. Foto: AlanH2O/Flickr
Durante o estudo de impacto ambiental, Gustavo Pedersoli, biólogo ornitólogo, que prestou consultoria à empresa responsável pela elaboração do documento, identificou um grupo de falcões-relógio na mata do Isidoro. A espécie nunca havia sido registrada na cidade.
Segundo o especialista, a presença do animal, considerado um predador topo de cadeia alimentar, indica a existência de um ecossistema preservado e uma mata de “expressão interessante” para a cidade.
Pedersoli sugeriu à empresa que fizesse estudos mais aprofundados sobre o animal, devido ao temor de que o manejo equivocado da mata possa levar à extinção da espécie em Belo Horizonte.
Ele também acredita que o falcão-relógio sofrerá forte pressão ambiental com o empreendimento, como ruídos e possível presença de humano na floresta, além de ter uma área de convivência menor.
Veja abaixo mais imagens da área: