Giulio Sanmartini
A pedido da presidente Dilma Rousseff, o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, interrompeu as férias com a família para acompanhar o caso da posse como presidente eleito da Venezuela, de Hugo Chávez, que está com câncer em fase terminal. Ele esteve em Cuba nos dias 31 de dezembro e 1º de janeiro, e reuniu-se com o ditador cubano, Raúl Castro, seu irmão Fidel e o vice venezuelano Nicolas Maduro.
Ary Toledo e Garcia
Não encontrou-se com Chávez, que, segundo ele, estava em “situação grave”, “ainda que consciente”. Ele não explicou como pode afirmar que Chávez esteja consciente.
Mas aproveitou a chance de aparecer e cagou a maior goma:
“Não é que um novo presidente foi eleito e, portanto, vai se estender o mandato do antigo. É o mesmo presidente que está sucedendo a si próprio, tem um prazo prudencial. Essas coisas têm que ser examinadas em função da cultura política e das instituições que são diferentes da nossa”.
Todavia a Constituição da Venezuela diz algo diferente do “grande assessor da ‘presidenta”: no artigo 231, estabelece que a posse do novo presidente deve ocorrer em 10 de janeiro. Se houver “ausência permanente” que impossibilite a posse, o presidente da Assembléia (no caso, o chavista Diosdado Cabello) assume e chama eleição em 30 dias.
Mas Garcia corroborou o plano chavista de adiar a posse à espera da melhora no estado de saúde do presidente.
A farsa venezuelana acabou se confirmando no dia 10/1. O que houve na realidade foi
um golpe de Estado para manter Hugo Chávez no poder, com ele em situação incerta, provavelmente gravíssima, num hospital em Cuba.
O Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) venezuelano, aparelhado pelo caudilho, decidiu que a posse para um novo mandato, que deveria ter acontecido nesse dia, é mesmo “mero formalismo”, e poderá ser feita no futuro.
Embora se saiba que só um milagre permitirá a Chávez voltar a Caracas para a “formalidade”.
Criou-se uma situação esdrúxula. Chávez não governa por estar incapacitado. Nicolás Maduro, vice-presidente e indicado pelo caudilho como seu substituto, hoje não tem mandato: o vice na Venezuela é nomeado pelo presidente, como um ministro; Maduro não foi eleito nem reconduzido ao cargo.
Esses fatos confirmam o que diz no vídeo acima o jornalista Augusto Nunes.
(1) Fotomontagem: O humorista Ary Toledo mostrando a Garcia como se manda tomar no rabo por gesto.