Gabriela Antunes -
10.5.2014
| 14h00m
GERAL
Gabriela Antunes
Não é um problema apenas na Argentina, mas nas últimas semanas a morte de vítimas de bullying em colégios argentinos chocou o país.
O tema é comum no continente. ONGs e entidades internacionais afirmam que pelo menos 70% dos alunos da América Latina já sofreram algum tipo de bullying.
Um em cada quatro argentinos, diz a imprensa local, conhece ou já foi vítima de alguma espécie de violência escolar. De acordo com a consultora TNS Gallup, 87% dos argentinos estão preocupados com o tema. O sofrimento silencioso de 40% dessas vítimas, como reportam as ONGs locais, pode terminar mal.
Foi o caso de Naira Ayelén Cofreces, de 17 anos, barbaramente morta em abril último como decorrência de espancamento por três colegas, na província de Buenos Aires.
Não foi o primeiro caso de morte em consequência de violência escolar nas últimas semanas, mas assustou, graças ao motivo banal do crime. Especula-se que Naira pode ter apanhado pelo simples fato de ser amiga de uma colega que vinha sofrendo com o bullying.
Crédito: Do blog bullyingargentina2012.blogspot.com.ar
O assassinato de Naira deixou pais argentinos de cabelo em pé, enquanto vários casos de violência chegaram às manchetes dos jornais alertando para um grave problema nas escolas.
Pouco depois, em La Plata, cidade natal da Presidente, uma menina de 18 anos foi atacada porque “era linda”. Sobreviveu com o nariz quebrado e com o trauma psicológico de ter sido agredida dentro de um ônibus. Ninguém esboçou reação, chamou a polícia ou interferiu na briga.
É difícil prevenir o bullying pois, segundo o especialista Richard Cardillo, nenhum pai ou mãe sabe que, potencialmente, tem um agressor em casa. “Bullying reúne três requisitos: deve haver uma diferença de poder entre os indivíduos, o autor deve ter a intenção de causar dano físico e psicológico e a agressão tem que acontecer repetidamente, o que serve para identificá-lo.”
O problema na Argentina é tão grave que a sociedade civil vem se organizando como pode. Multiplicam-se as ONGs e os psicólogos especializados no tema (no país com maior número de terapeutas do planeta, não poderia ser diferente).
No ano passado, o Conselho Publicitário Argentino lançou a campanha “Se você não faz nada, você também é parte”. Esta semana, a ONG Bullying Sem Fronteiras lançou a campanha de “selfies” ou autorretratos contra a violência, com a participação de várias celebridades locais.
Aos poucos, se começa a falar mais de uma escalada de violência social na Argentina: a selvageria nos colégios, os linchamentos de ladrões nas ruas, os incidentes nos estádios de futebol... O pavio das pessoas por aqui anda curto.
Gabriela G. Antunes é jornalista e nômade. Cresceu no Brasil, mas morou nos Estados Unidos e Espanha antes de se apaixonar por Buenos Aires. Na cidade, trabalhou no jornal Buenos Aires Herald e hoje é uma das editoras da versão em português do jornal Clarín.