quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Cartas de Paris: A rentrée literária, uma invenção francesa

Danielle Legras
No calendário francês, as férias estivais começam em julho e duram aproximadamente um mês. O que significa que enquanto os brasileiros se gelam nos trópicos, os franceses se esbaldam com as altas temperaturas.
Quando as férias chegam ao fim e a rotina retoma seus direitos, a palavra mais usada por aqui é RENTRÉE.
Ela se refere a retomada, a volta. Assim, podemos aplicá-la no sentido de "volta às aulas", "volta ao trabalho" etc. No caso da rentrée literária, o termo se aplica ao período de novos lançamentos. Período que, nessa parte do globo, suscita muitas paixões.
Se você estiver em Paris nessa época do ano, perceberá que as livrarias estarão apinhadas de livros quentinhos recém saídas do forno. Romances históricos, ensaios diversos, livros policiais, biografias, poesia, relatos de guerra, pouco importa o gênero, tem pra todos os gostos.
rentrée literária começa no final de agosto e segue até o mês de novembro. Somente nesse ano, 654 livros terão visto o dia, ou melhor, as estantes dos vendedores.
O entusiasmo mediático em torno deles é tal que o público acaba sendo alvo de avalanches de artigos, matérias, reportagens televisivas. Nesse meio tempo, autores são elevados ao ranking de semi deuses do Olimpo enquanto outros são completamente ignorados.


Críticos literários nos encorajam a ler fulano e esquecer beltrano. Escritores periféricos eoutsiders encontram um lugar ao sol, as editoras mostram a língua para a crise e lançam sucessos de vendas aqui e acolá.
Mas sobretudo, a rentrée literária prepara o terreno para os ilustres prêmios. Eles são numerosos e começam a ser distribuídos a partir da primeira quinzena de novembro.
É o caso do mais antigo e prestigioso, o prêmio Goncourt, criado em 1913 por Edmond Goncourt. Para o(a) autor(a) vencedor(a) o valor simbólico é considerável.
Doravante, ele é visto como alguém que conta na paisagem literária e intelectual. O aspecto comercial também é importante, já que a obtenção de um prêmio dessa categoria pode propulsar um livro à lista dos mais vendidos.
Não sei ao certo, o que isso diz a respeito da sociedade francesa, mas pude observar que a literatura ainda é coisa séria e deveras rentável.
Apesar de tanta euforia, a rentrée literária é considerada como um fenômeno tipicamente francês, pois ela não interessa nem as elites, nem aos leitores estrangeiros.
Em todo caso, é o que afirma Boris Hoffman, que representa inúmeros editores internacionais. Segundo ele "o fenômeno tem pouco impacto no estrangeiro".
Talvez Hoffman tenha razão e a França já não sirva mais como referência cultural para o resto do mundo. Só posso dizer que a rentrée literária ainda faz sonhar escritores, editores e leitores franceses.

Danielle Legras é jornalista e tem duas grandes paixões, seu métier e Paris. Há dez anos, decidiu unir o útil ao agradável. É a nova responsável pela seção semanal Cartas de Paris.

Morena Marina, você se pintou


Faça tudo, mas faça o favor: não mude o discurso da ética que é só seu. O povo não vai perdoar

RUTH DE AQUINO
22/10/2013 07h00


Marina, você faça tudo, mas faça o favor. Não mude o discurso da ética, que é só seu. Marina, você já é respeitada com o que Deus lhe deu. O povo se aborreceu, se zangou, e cansou de falar. Lula e Dilma estão de mal com você e não vão perdoar. Mas o eleitor não poderia arranjar outra igual para embaralhar o jogo sonolento da sucessão em 2014. Pelo menos num dos turnos, vamos discutir princípios e fins. E principalmente os meios.

A abertura desta coluna é um plágio. De mim mesma. Só o ano foi trocado no parágrafo: de 2010 para 2014. Assim abri, há quatro anos, um artigo em ÉPOCA. Parece atual.

Não interessa em quem o povo brasileiro – obrigado por uma lei antidemocrática a ir às urnas – votará para presidente. Se a ideologia influencia pouco a escolha e se ninguém mais sabe o que é esquerda e direita, porque todos comem caviar, viram censores e bebem uísque quando estão ricos, famosos e no poder, a guerra verdadeira envolve propaganda, benesses e mentiras cínicas. O voto é decidido por emprego e inflação, educação e saúde, mas também por simpatia, esmola, promessas e demagogia. O bolso e as bolsas fazem uma diferença absurda no Brasil profundo.


Por que falar bem de Marina? Não tenho religião, não simpatizo com os evangélicos e lamento a minha generalização – elas costumam ser injustas. O pastor deputado Marco Feliciano, agora ansioso para expulsar gays de cultos, porque só pensa naquilo, não ajuda os evangélicos a construir imagem de tolerância. Não significa que todos os evangélicos rezem pela mesma cartilha fanática. É um erro definir alguém por sua crença ou ausência de fé.

Por que falar de Marina se ela não passa, no momento, de uma provável vice de Eduardo Campos, do PSB? Primeiro, por causa de sua biografia. Biografia virou, nessas últimas semanas, uma palavra incendiária por causa da Jovem Velha Guarda Tropicalista (JVGT), guardiã da privacidade de artistas que expõem sua vida pessoal na capa de revistas de celebridades. Sorrisos, filhos, casas, férias, tudo fotoshopado, autorizado, compartilhado.

No caso de Marina, a biografia conta muito, no mínimo para que seja respeitada como pessoa, no pântano de nossa politicagem. Maria Osmarina da Silva Vaz de Lima nasceu no Acre, filha de seringueiros migrantes cearenses. Analfabeta até os 16 anos, aprendeu a ler enquanto trabalhava como empregada doméstica. Pelo Mobral, fez em quatro anos o primeiro e o segundo graus. Marina contraiu cinco malárias, duas hepatites. Formou-se em história. Queria ser freira. Virou marxista. Tem quatro filhos. Foi a mais jovem senadora do Brasil, aos 35 anos. Marina já enfrentou madeireiros, fazendeiros, cangaceiros. Lula a nomeou ministra do Meio Ambiente. Saiu derrotada e desgastada cinco anos depois, em briga com a mãe do PAC, a então ministra Dilma Rousseff.

Por que mesmo falar de Marina, se ela não tem nenhuma chance contra a outra mulher? Quando Marina se mandou para o PV, Dilma disse: “Estou triste. Preferia que ela continuasse no PT, porque é uma grande lutadora”. Na queda de braço entre as duas, a corpulenta Dilma de vermelho ganha fácil da magra Marina de preto.

Em Dilma, as rugas quase sumiram, o cabelo ficou moderno e repicado, o sorriso substituiu a expressão severa, o dedo em riste foi trocado pelo coraçãozinho com as mãos. É a cirurgia da personalidade, o bisturi dos marqueteiros. Marina mantém o coque, as rugas e aquelas palavras intragáveis que ninguém entende. “Programática” é um adjetivo que ela deveria jogar no lixo sem reciclar – com o vocabulário pernóstico que a distancia do eleitor.

Marina é melhor quando esquece que precisa mostrar instrução e recorre a frases simples de efeito. Dilma a mandou “estudar” para ter propostas sobre o Brasil. Marina respondeu: “Ela(Dilma) deu um conselho de professora. (...) Aprender é sempre uma coisa muito boa. Difíceis são aqueles que acham que não têm mais o que aprender”.

Por que falar de Marina, que nem conseguiu pendurar sua Rede no barco da sucessão? Porque a presença de Marina, junto aos olhos verdes de Eduardo Campos, é um fato novo, como há quatro anos. Move as camadas da terra, provoca tremores, obriga as velhas raposas a sair da toca.

É cômico ver Dilma discursando agora sobre a questão ambiental. Mandando beijos e acenos para pequenos agricultores, quilombolas, pescadores, jovens e indígenas, prometendo quintuplicar os produtores de alimentos orgânicos, sem agrotóxicos. E defendendo assentamentos agrários. Seu mentor, Lula, encampa o outro lado: atrai os ruralistas, enxotados por Marina.

Por isso são importantes as biografias não autorizadas. Elas resgatam as contradições, as incoerências, as mentiras históricas, repetidas tantas vezes que acabam virando verdade. No fundo, só servem a um projeto de poder.

Petrobras/BTG Pactual: Dilma e Graça Foster estão com os pés sujos de lama


Ossami Sakamori
Nem bem esquentou a transação atípica de venda de 50% dos ativos da Petrobras Oil & Gas para BTG Pactual, a BTG Pactual associado a Petrobras pretende criar um empresa gigante na área de exploração de petróleo, tal qual OGX.  Vejam as notícias e meus comentários à respeito.
 
O investimento do BTG em 50% da Petrobrás Oil & Gas, que reúne os ativos da estatal na África, é mais do que um primeiro passo do banqueiro na exploração de petróleo: é também o primeiro investimento dele no continente africano. A joint venture de BTG e Petrobrás nasce com presença em seis países, dez campos na carteira e três em produção. Fonte: Estadão.
 
Já a Sete Brasil, segundo a fonte, atuaria como uma prestadora de serviços para a empresa que o BTG Pactual poderia estruturar para atuar no segmento de petróleo. A BTG Pactual tem 27,7% do capital da Sete Brasil. A estatal também é acionista da empresa com 4,6% de participação. Além de BTG e Petrobrás, a Sete Brasil conta com mais seis investidores: os fundos de pensão Petros (Petrobrás), Previ (Banco do Brasil), Funcef (Caixa Econômica Federal) e Valia (Vale), Santander e Bradesco.  Fonte: Estadão.
 
COMENTÁRIOS
 
A forma atípica sobre a transferência de 50% de participação ativos da Petrobras Oil & Gas para BTG Pactual, merece análise mais profunda.  Como a operação é complexa, faz qualquer um acreditar na historinha contada pela Graça Foster e seus superiores imediatos, o ministro Mantega e a presidente Dilma.
Vamos esclarecer primeiro o emaranhado de empresas do complexo Petrobras.   A Petrobras Oil & Gas é subsidiária integral (100%0 da Petrobras Internacional – Braspetro.   A Braspetro com sede na Holanda é também subsidiária integral (100%) da Petrobras S.A.  Isto é fato, para começo de conversa.
A Petrobras S.A. é uma empresa de economia mista cujo controle acionário é da União Federal.  Sendo uma empresa com controle da União Federal, a Petrobras e suas subsidiárias integrais deverão obedecer as regras do setor público, sobretudo as leis de licitações. Dentro da mesma visão, a Petrobras como empresa de capital aberto, deveria efetivar operações com total transparência para não haver dúvidas aos acionistas minoritários.
Um ativo do tamanho da Braspetro ou da sua subsidiária integral Petrobras Oil & Gas, cujo valor contábil histórico deve ser os US$ 3 bilhões, já que 50% foi entregue para BTG Pactual pelo US$ 1,51 bilhões.  Aparentemente, operação de venda de ativos pela Braspetro segue regime jurídico da Holanda como empresa privada, no entanto, não livra a Braspetro e Petrobras Oil & Gas de cumprirem as normas legais brasileiras, já que são subsidiárias integrais com 100% de ações da Petrobras S.A.
Para venda de ativos de uma empresa de economia mista, deveria ter seguido os seguintes procedimentos.  Primeiro procedimento seria contratar auditoria externa independente para “reavaliação dos ativos” à venda.  Segundo procedimento seria a venda destes ativos através de leilão público, com regras claras, sendo que o lance mínimo teria que ser o valor “reavaliado” pela auditoria externa.
Além de tudo, a venda de ativo do tamanho deste, que tem até poços em exploração, deveria não só ter observado as regras das licitações brasileiras, mas também precedido de ampla divulgação nos meios de comunicação nacional e internacional, para a Petrobras obter maiores lucros na venda.  Isto não foi feito!   Vendeu por preço de banana!
Como não foi obedecido regras próprias de licitações nem as boas normas de transparência das coisa públicas, nos permite fazer ilações de que os referidos ativos deveriam estar valendo no mínimo US$ 30 bilhões.  Sendo assim, ainda no terreno de ilações, a BTG Pactual deve ter pago 10% do valor real, isto é US$ 1,51 bilhão pelos 50% do ativos.
O estardalhaço vazado propositadamente pela Petrobras sobre possível associação com a BTG Pactual e a Sete Brasil para possível criação de uma super-petroleira, o ativo da África deve ter sido considerado como como bastante substancial.  Se realmente os ativos da África valesse apenas o valor efetivo da negociação entre Petrobras e BTG Pactual, o banqueiro André Esteves não teria cacife suficiente para bancar a pretensa associação para formação de uma super-petroleira.
RESUMINDO
Os ativos da Petrobras/Braspetro/Petrobras Oil & Gas, da África, foram entregues de mão beijada ao preço de banana para o novo aventureiro na área de petróleo, o André Esteves em substituição ao já falido Eike Batista da OGX.   Sai OGX entra BTG, no quintal do Lula & Dilma.
Para dar uma pseuda legalidade, a operação de venda de ativos da África da Petrobras para a BTG Pactual, fora aprovada pelo Conselho de Administração da Petrobras.  Isto é para enganar trouxa porque simples aprovação no Conselho da Petrobras não torna operação legal, uma vez que não foram obedecidos os requisitos mínimos de transparência e obedecimento de regras de licitações, conforme exposto acima.
Na minha avaliação, já que não houve obedecimento de regras de licitações, concluo que o US$ 1,5 bilhão pago pela BTG Pactual para Petrobras está totalmente subfaturado.  Se a Petrobras tivesse obedecido as boas normas de governança corporativa e seguido rigorosamente as leis das licitações, certamente a Petrobras teria arrecadado US$ 15 bilhões ao invés de US$ 1,5 bilhões.
Esta operação terá que passar pelo crivo da CGU, AGU, MPF e Polícia Federal, para apurar a denúncia apresentada por este blog.  Em não fazendo investigações devidas sobre a operação de venda de ativos da Petrobras para BTG Pactual, considero que a Dilma e Graça Foster é sinal claro de que ambas estão metidos até o pescoço na operação fraudulenta de venda de ativos da Petrobras para BTG Pactual do menino André Esteves.Cada um tira conclusão que quiser.  A minha já está exposta acima e mantenho-a até que me expliquem porque não obedeceram as normais legais de transparência na operação, dito por mim, como fraudulenta.  Dilma e Graça Foster estão com os pés sujos de lama!
Artigo enviado por Mário Assis. Ossami Sakamori é engenheiro civil, 69, formado pela UFPR. Foi professor da UFPR. Empresário. Mercado financeiro. Construtor. Filiado no PDT, não militante. E-mail para contato: sakamori10@gmail.com 
 

CNJ APOSENTA DESEMBARGADOR DO TOCANTINS ACUSADO DE OBTER VANTAGEM PESSOAL

terça-feira, 22 de outubro de 2013


O Conselho Nacional de Justiça decidiu nesta terça-feira aposentar o desembargador Bernardino Lima Luz, do Tribunal de Justiça do Tocantins. Segundo os conselheiros, o desembargador usou o cargo para obter vantagem pessoal. A decisão foi tomada por unanimidade. A aposentadoria compulsória foi com vencimentos proporcionais. O CNJ entendeu que o magistrado esteve envolvido com favorecimento de pessoas ligadas à ocupação irregular de terras no Tocantins. Para o órgão, o desembargador usou o cargo de corregedor para impedir que a Justiça retirasse posseiros da uma propriedade rural, além de influenciar um juiz a decidir em seu favor. O magistrado estava afastado das funções desde setembro de 2012. A decisão atendeu a denúncia do Ministério Público Federal, baseada em investigações da Polícia Federal sobre ocupação irregular de terras naquele estado. Escutas telefônicas feitas durante a investigação revelaram o envolvimento do desembargador.

CHARGE DO CAZO

                                              Esta charge do Cazo foi feita originalmente para o

PSICANÁLISE DA VIDA COTIDIANA Solidão


CARLOS VIEIRA
“In solis sis tibis turba locis 
(Nesses locais solitaries sê para ti mesmo a multidão” 
M.E.de Montagne (1533-1592)
No dicionário de Houaiss encontra-se a palavra solidão: “insociabilidade, introversão, misantropia, retraimento, isolamento, incomunicação, insulamento, separação, soledade e solitude”. 
Podemos pensar, junto com o psicanalista inglês, D. Winnicott, que a solidão é um estado inicial da vida de uma pessoa. Imaginemos o seguinte modelo: quando se nasce, nasce no vazio, na perda gravidade, na passagem de um ambiente supostamente protegido(útero) para o mundo, para o fora, para respirar um oxigênio pela primeira vez. O espaço entre nascer e ser recebido por alguém que acolhe, é o primeiro espaço, por ínfimo que pareça, um espaço do sozinho, do desamparo inicial. Guimarães Rosa, nosso escritor com a beleza de sua prosa poética, escreveu no “Grande Sertão” pela fala de Riobaldo, que a morte não era o que mais preocupava nem amedrontava, o que mais tinha medo era do nascimento: nascer é perigoso! 
Nascemos dependentes, frágeis, necessitados de alguém que nos acolha, que nos ame e nos receba com sua amorosidade e generosidade. Há aqueles que são bem recebidos, mas existem também aqueles que são recebidos com indiferença afetiva. Isso marca, para toda uma vida, uma experiência traumática de desafeto, desamor, desprezo, falta de autoestima e, consequentemente de solidão. 
Somos alguém que precisa do outro, que o outro, ou melhor, todas as pessoas que tenham a função materna e paterna, nos acolha e forneçam modelos para que sejamos reconhecidos como pessoa, com um ser individual, separado. Shakespeare em seu texto – Julio Cesar – escreveu que ninguém se conhece senão através do olho de outra pessoa. Isso revela que desde pequeno devemos ser reconhecidos e amados, pois o amor e a consideração dos que fazem parte da nossa criação, serão as pessoas que introjetaremos e carregaremos pelo resta da vida. A solidão, a solidão desamparada,é um estado no qual, dentro de nós não existe alguém como representação de amor, companhia e apoio. Quando estamos sozinhos, na realidade estamos conosco, mas também, dentro de nós, com as pessoas que amamos e nos amam. Essa é a razão pelo qual uma pessoa pode estar só, sozinha, em solidão, mas acompanhada, não abandonada. 
Curiosamente, no entanto, a experiência de ficar só, não nos é facilitada e ensinada quando somos infantes. A angústia dos pais, o medo da solidão, a desconfiança de que o filho ou a filha não tenham recursos para ficarem a sós, dificultam proporcionar uma experiência fundamental – a capacidade de estar só sem entrar em pânico. 
Numa bela e poética história de Guimarães Rosa – “Tão-balalão (O Devente) no livro “Corpo de Baile, Volume II, chega a narrar uma experiência de amor com Doralda, esposa de Soropita, a seguinte passagem:” Doralda, sua mulher, nunca pedira para vir junto. O mimo que alegava:- 
“Separaçãozinha breve, uma ou outra, meu Bem, é a regra de primor: tu cria saudade de mim, nunca tu desgosta...” A beleza de intuição Roseana sugere que uma”separaçãozinha” é importante na vida de relação – uma mãe, por exemplo, precisa ser presente e ausente, sempre, pois essa dicotomia presença-ausência vai permitir que a criança aprende conviver com a falta e volta do objeto amado. Desse modo ela vai se acostumando que a vida nos reserva a “falta”, a ausência , tanto quanto a presença e a reaproximação. Note que na fala de Guimarães isso cria espaço para a “saudade”, que não é senão que a presença na ausência. Ficar só, ter um sentimento de abandono quando se está consigo mesmo, é não presença de pessoas dentro de si. É fácil inferirmos daí, que alguém possa desenvolver, às vezes, a tal conhecida “síndrome de pânico” que se caracteriza por um estado de pavor, de terror de se sentir sozinho, abandonado com uma sensação de morte e dissolução do Eu, de si mesmo. 
Montaigne estava coberto de razão, quando escreve em seu belo ensaio – “Sobre a Solidão” que:” É preciso reservar um canto todo nosso, todo livre, e lá estabelecer nossa verdadeira liberdade e nosso retiro e solidão. Aí devemos praticar nossa conversa habitual, de nós para nós mesmos, e tão privada que nenhum convívio ou comunicação com as coisas externas encontre espaço: discorrer e rir, como se sem mulher, sem filhos e sem bens, sem séquito, sem criados, a fim de que, quando chegar o momento de sua perda, não nos seja novidade despensá-los.” Em última instância, se pensarmos com certa profundeza e coragem, estamos sempre “sozinhos-com”, caso contrário todas as nossas relações seriam, relações de fusões, dando como consequência a perda da nossa individualidade. Somos sempre “juntos-separados.
Deixo-o, caro leitor, hoje, com um belo e doloroso poema de Carlos Drummond:
Minha Tristeza de Porcelana
“Minha funda tristeza, minha tristeza/ de todos os momentos/ dize: queres cear comigo?/Hoje estás tão esquiva e tão vulgar,/ tão quotidiana, tão humana,/ minha pobre tristeza./ Ouve: quero beijar-te/ toda/: beijar-te dos pés à cabeça,/ doidamente, num arrepio./ E possuir o teu pequenino corpo,/ teu frágio e pequenino corpo,/ onde se esconde uma alma tiritante de frio./Minha tristeza de porcellana, és como um vazo chinez, onde floresce, longo,/ o lyrio artificial da minha dor./ Se alguém te esphacelasse,/ se alguém, um pobre alguém , te apertasse entre os dedos,/ e eu te perdesse,/ que seria de mim? Não tenho o luxo dos prazeres ricos,/ não tenho o dinheiro que é preciso/ para vestir a minha alma um pyjama de seda/ com que ella passearia o tédio na alameda/ vazia e branca da minha vida./ Vê: eu só tenho dois olhos/ para te olhar, minha tristeza;/ só tenho uma bocca/ para te beijar, minha tristeza;/ só tenho duas mãos/ para apertar as tuas mãos.”
Nota - Mantive a escrita de Drummond, como foi publicado em seu livro-“Os 25 Poemas de Tristeza Alegria(1924)”Editora COSAC NAIF, São Paulo,2012.
Carlos.A.Vieira, médico, psicanalista, Membro Efetivo da Sociedade de Psicanálise de Brasília e de Recife. Membro da FEBRAPSI e da I.P.A - London.

Dilma cometeu estelionato eleitoral e desrespeitou a soberania do país

Transcrito do Blog Tribuna de Imprensa

Jorge Béja
A partir da privatização do Campo de Libra, o Brasil perde parte de seu imenso território e, fundamentalmente, sua soberania. E a presidente Dilma Rousseff, quando candidata, cometeu delito de Estelionato Eleitoral contra o eleitor brasileiro. Este crime está tipificado no artigo 171 do Código Penal, assim: “Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento“. A pena é de reclusão de 1 a 5 anos e multa.
Dilma obteve vantagem para si (foi eleita), vantagem que se tornou ilícita e em prejuízo da população brasileira, porque, mais do que induziu, GARANTIU que o Pré-Sal jamais seria privatizado (seria um crime, disse ela) e assim agiu mediante o pior dos meios fraudulentos, que é a M E N T I R A. Com a palavra, o Ministério Público Federal por sua chefia, o Procurador Geral, para agir de ofício, sob pena de prevaricação.
SOBERANIA
Com o leilão do Campo de Libra, o Brasil fica diminuído na extensão de seu território (8.514.876 mil Km2) e, principalmente, na sua soberania. A plataforma marítima do Brasil é também território brasileiro. É continuidade da continental. Está incluída naquela colossal dimensão. Todo o mar territorial e os recursos naturais da sua plataforma constituem bens econômicos exclusivamente do Brasil.
Está na Constituição Federal (artigo 20). Está no sentimento de nacionalismo do povo brasileiro. São bens inalienáveis, interceirizáveis, intransferíveis, inseparáveis e que sempre se encontram sob poder e jurisdição nacionais, indelegáveis. Jamais objeto de partilha, de consorciamento para a exploração de suas riquezas. São bens fora do comércio.
Entregar, seja qual for o quinhão, porção ou porcentual à exploração e administração estrangeira, ainda que a União e a Petrobrás continuem detentores de uma fatia, é o mesmo que separar parte de um estado brasileiro e entregá-lo ao governo de outro país, ou de empresa externa. É crime de lesa-pátria. É crime contra o Estado Brasileiro.
LEI ESPÚRIA
Se esta ou aquela eventual lei permite este nefasto desmembramento do território nacional, é lei espúria, antinacionalista, manifestamente inconstitucional. Não entendo porque até agora nenhum juiz ou tribunal federal não tenha expedido ordem liminar para a imediata cessação deste nojento e despudorado leilão, com a imediata prisão de seus idealizadores e executores.
Se o Estado Brasileiro ainda não tem condições e meios instrumentais e tecnológicos para ir até o pré-sal e extrair petróleo, a solução não é compartilhar a tarefa com a agregação de estado e/ou empresa estrangeira que, a bem da verdade, passa a ter sobre a área territorial entregue, posse, domínio e concorrente direito de propriedade, mesmo que seja por tempo determinado.
Era o caso de contratar país e/ou empresa estrangeira para, sob o exclusivo comando do Estado Brasileiro, da Petrobras e do povo, prestar seus serviços, pelos quais receberiam paga, remuneração, mas nunca repartição de soberania e de território nacional.

Lula e o encantamento do PT pela sedução do poder


Pedro do Coutto
 

Numa entrevista ao jornal El Pais, objeto de reportagem Fernanda Krakovics, edição de segunda-feira 21 de O Globo, o ex-presidente Lula reconheceu frontalmente que o crescimento do PT fez surgirem defeitos e corrupções em seus quadros partidários. Foi importante a autocrítica, certamente feita em tom de desabafo, mas que, no fundo, acrescenta mais uma página reveladora do processo de sedução que o poder exerce sobre número cada vez maior de pessoas. Há mudanças claras de comportamento que decorrem até da simples proximidade com aqueles que movimentam as engrenagens do sistema de decisão.
Os comportamentos mudam. Pessoas, até sem qualidade alguma maior, passam a se julgar importantes, e, ao serem cumprimentadas reagem friamente. Vêm no distanciamento que fabricam uma forma de auto afirmação. Se isso acontece nas situações mais comuns, que dirá nas incomuns? O deslumbramento incorpora um desejo de riqueza que leva à ostentação, uma forma de narcisismo incluindo uma ridícula vontade de se apresentarem como mais importantes que outros que não tiveram o mesmo acesso aos roteiros do poder e a intimidade dos poderosos. Esquecem os amigos de ontem, fogem do passado, e voltam seus pensamentos e suas atitudes em busca de ganhos nem sempre lícitos. O ex-presidente Lula tem razão quando reconhece a existência de corrupção nos quadros de sua legenda.
Exigir que ele desse alguns nomes, por exemplo, seria querer demais. Mas não é difícil identificar. Basta comparar os bens de certos líderes possuem com os ganhos pelo trabalho que desempenham. A incompatibilidade entre um patamar e outro é suficiente para traduzir o inexplicável em termos lógicos. Evidencia-se um processo de ostentação. Hoje, estou convencido que os desonestos não ostentam porque roubaram, mas sim roubam para ostentar. Os desonestos tem dentro de si o impulso da auto confissão pelo trajeto de contrastes em suas vidas. O que era antes e o que passou a ser depois. Após o acesso ao poder, diga-se em síntese.
Foi o que sucedeu com os principais personagens do mensalão, em relação aos quais, punidos pela Justiça, Lula culpa a imprensa, ao acentuar na entrevista a El País que ela julgou os réus antes do pronunciamento do Supremo Tribunal Federal. Neste ponto equivoca-se. Pois foi ele, usando a caneta, quem demitiu o principal acusado do cargo de ministro chefe de sua Casa Civil. E substituiu Duda Mendonça de sua equipe de marketing.
ESVAZIAMENTO DO PDT

O crescimento do PT, aliás, decorre do esvaziamento do PDT. Quando, em 92, Leonel Brizola apoiou Fernando Collor, o PDT perdeu as ruas para o PT. Tanto assim que, depois de alcançar 15% dos votos nas eleições de 89, ficando um ponto atrás de Lula, na sucessão de 94 sua votação caiu para apenas 3%. Perdeu assim 80% de seu eleitorado. Esta parcela foi para o PT. Mas este é outro assunto. A sedução do poder, que visa à riqueza, exige de um presidente da República, de  um governador, de um prefeito, uma noção reforçada de equilíbrio e sensibilidade. Entre as qualidades, a de saber ouvir. Principalmente as opiniões contrárias porque os bajuladores (falsos aliados) vão sempre concordar com tudo.
Os falsos aliados, os falsos amigos, ambos exigem um cuidado especial por parte dos governantes. Qualquer passo em falso, qualquer descuido, qualquer omissão, pode levar ao desastre. Como o mensalão, por exemplo, em relação ao qual, na reportagem de Fernanda Krakovics, o ex-presidente mostra-se benevolente. Foi, isso sim, traído pelos que organizaram as fontes de recursos e as formas equivocadas e desonestas de sua distribuição. Porém – há sempre um porém na história – não contava com o surgimento de um personagem shakeperiano como Roberto Jeferson que, para denunciar José Dirceu, a quem odiava, denunciou a si mesmo. Os imprevistos aparecem sempre em torno dos crimes e dos criminosos. Assim não fosse, todos os que praticaram crimes ficariam eternamente, para citar Fellini, numa doce vida de vinhos finos, de sombras e impunidade. E não assim. Ainda bem.

A retórica da pobreza e a pobreza do investimento

28 de setembro de 2013 | 2h 04

ROLF KUNTZ - O Estado de S.Paulo
O governo tirou da pobreza extrema em apenas dois anos 22 milhões de brasileiros, disse a presidente Dilma Rousseff, em Nova York, em discurso na Assembleia-Geral das Nações Unidas. Se isso for verdade, essa terá sido a informação mais importante da fala presidencial - muito mais importante que a maior parte do palavrório pronunciado naquele dia por vários governantes. Falta esclarecer um detalhe: se as transferências governamentais forem interrompidas, quantas daquelas pessoas serão capazes de se manter fora da miséria? Quantas se tornaram, nos últimos dois anos, mais produtivas e menos dependentes de auxílio oficial? Nenhuma pessoa razoável se opõe a programas de socorro aos mais necessitados. Mas por quanto tempo será possível manter programas tão amplos, e com efeitos ainda pouco claros sobre a capacidade produtiva, se a economia continuar avançando tão lentamente quanto nos últimos dois anos e nove meses?
Por enquanto, as previsões mais otimistas apontam para este ano um crescimento econômico de 2,4%. Essa expansão será puxada, segundo as novas projeções da Confederação Nacional da Indústria (CNI), por investimentos 8% maiores que os do ano passado. Essa é a parte mais interessante do cenário. Se as estimativas forem confirmadas, o aumento do produto interno bruto (PIB) terá sido alimentado, em 2013, menos pelo consumo do que pela aplicação de recursos em máquinas, equipamentos, instalações diversas e obras de infraestrutura. A expansão econômica ainda será modesta, mas o potencial de crescimento será reforçado e resultados melhores poderão surgir em breve.
Mais uma vez, no entanto, o quadro fica bem menos bonito quando se examinam os detalhes. A maior parte do crescimento da produção de bens de capital - máquinas e equipamentos - foi concentrada no setor de material de transporte, especialmente de caminhões. Boa parte da expansão dependeu também da indústria de equipamentos agrícolas, pormenor facilmente explicável pelo bom desempenho da agropecuária, o setor mais dinâmico da economia nacional. Além disso, a retomada da produção de bens de capital para fins industriais pode estar perdendo impulso. Em junho, havia sido 21,4% maior que a de um ano antes. Em julho, a diferença diminuiu para 13,3%, detalhe notado no Informe Conjuntural da CNI. Essa diferença para mais pode ainda parecer considerável, mas a base de comparação é muito baixa.
No conjunto, a aplicação de recursos em bens de capital, instalações e obras de infraestrutura continuará muito abaixo da necessária para um crescimento menos medíocre, se as projeções da CNI estiverem corretas. Em 2011, a soma dos investimentos em capital fixo dos setores público e privado equivaleu a 19,3% do PIB. Em 2012, a proporção caiu para 18,1%. Neste ano, chegará a cerca de 19,1%, se o PIB crescer 2,4% e o investimento, 8%. A meta governamental, já modesta, é alcançar 24% do PIB, taxa obtida nos anos 70 e nunca repetida nas décadas seguintes. Esse objetivo parece ainda muito distante.
Não há acordo, entre os economistas, quanto ao potencial de crescimento econômico do País. O cálculo é complicado, mas o conceito é importante, porque indica o ritmo de expansão sustentável sem novos desequilíbrios. As avaliações mais sombrias indicam um limite na vizinhança de 2% ao ano. As estimativas mais otimistas ficam próximas de 4%. Nem na melhor hipótese, no entanto, a economia brasileira poderá crescer tanto quanto as mais dinâmicas da região - na faixa de 4% a 6% ao ano - sem acumular pressões inflacionárias e desarranjos nas contas externas. Poderá haver um arranque temporário, mas faltará fôlego para uma corrida prolongada.
Mesmo com o crescimento pífio dos últimos anos, o Brasil já acumulou problemas consideráveis. A inflação continua elevada para os padrões internacionais e deve continuar em alta nos próximos meses, depois de um breve arrefecimento no meio do ano. O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, reafirmou em Nova York, num encontro com investidores, o compromisso de continuar buscando a meta de 4,5%, mas ninguém pode dizer com alguma segurança quando a convergência ocorrerá. Um dos principais obstáculos, a farra das contas públicas, deve atrapalhar o combate à inflação ainda por um bom tempo. Quem espera austeridade em tempo de eleição?
Do lado externo, o cenário continua ruim. O BC reduziu de US$ 7 bilhões para US$ 2 bilhões o superávit comercial estimado para o ano. A CNI cortou sua projeção mais drasticamente - de US$ 9,2 bilhões no Informe Conjuntural de junho para US$ 1,76 bilhão no documento recém-divulgado. O BC manteve, no entanto, a previsão de um déficit em transações correntes de US$ 75 bilhões, equivalente a 3,35% do PIB. O investimento direto estrangeiro deverá chegar a 2,64% do PIB. Parte do buraco nas contas externas será coberta, portanto, por outras formas, em geral menos saudáveis, de financiamento.
Não há desastre à vista, até porque o País dispõe de mais de US$ 370 bilhões de reservas, mas a situação poderá ficar mais complicada se a confiança no País cair acentuadamente. O risco é tangível. O Cristo Redentor representado como um foguete em decolagem numa capa da revista The Economist de 2009 foi substituído, na última edição, por uma figura no rumo do desastre, depois de um voo descontrolado.
O desafio imediato, na agenda do governo, é atrair capitais privados para os grandes projetos federais de investimento. Para isso a presidente e as principais figuras da equipe econômica foram a Nova York. O resultado será visto nas próximas licitações. Mas a presidente faria bem se pusesse no alto da agenda medidas para uma recuperação mais ampla da credibilidade - a começar por uma política fiscal mais séria e sem contabilidade criativa, já desmascarada em todo o mundo.
ROLF KUNTZ É JORNALISTA 

O MELHOR AMIGO DO HOMEM, por Mauro Pereira

Transcrito do Blog do Giulio Sanmartini

Mais ao sul da América, localiza-se um país de dimensões continentais conhecido como Brasil. Privilegiado por uma geografia cúmplice, destaca-se não só  pela beleza selvagem de matas intocadas, refúgio sagrado da fauna e da flora, mas, também, pela sinuosidade de serras bucólicas entrecortadas por rios piscosos de águas cristalinas cujo silêncio arrebatador dá o toque final à tela esplendorosa que, no auge da inspiração, a natureza pintou. A emoldurá-la, a costa litorânea exuberante.
Desde os primórdios de sua descoberta há mais de 500 anos, seus habitantes destemidos sempre resistiram bravamente às incursões criminosas de aventureiros originários de paragens longínquas, porém, inexplicavelmente, jamais conseguiram demonstrar a mesma valentia no enfrentamento aos seus governantes via de regra corruptos e oportunistas que têm solapado suas riquezas e lhes impingido uma sequência  notável de revezes e humilhações ao longo desses cinco séculos.
images-1Acerca de uns trinta e poucos anos, surgia no cenário trabalhista desse gigante tropical uma figura diferente que representava a outra face dos rígidos padrões cultos e elitistas da época, pois sua origem fora parida nas profundas desletradas dos movimentos sindicais de então.   Embasbacados com a surpresa, os intelectuais e a imprensa encantaram-se com aquela novidade rústica e de comportamento quase pré-histórico encurtando sua trajetória rumo à notoriedade pessoal e à ascensão social, contribuindo de forma decisiva na consolidação de uma das mais meteóricas, e controversas, lideranças políticas. No entanto, apesar das mesuras e dos afagos que se multiplicavam, seu semblante invariavelmente embrutecido parecia alimentar-se de um ódio incontrolável que denunciava o brilho fosco da alma deserta de alegria e vazia de paz.
Com o passar dos anos firmou-se como proprietário absoluto do partido político que criara e que o conduziria a etapas de sua existência que a origem humilde jamais ousara sonhar. Tornara-se presidente da República! Havia chegada a hora do ajuste de contas com as zelites preconceituosas, com os loiros de olhos azuis e, mais particularmente, com um certo professorzinho cultuado pela intelectualidade internacional que lhe havia aplicado duas humilhantes derrotas em outras eleições, ambas no primeiro turno. 
Extasiado com o conto de fadas inesperado do qual era caroneiro ocasional, desfez-se de vez da fantasia de socialista convicto e mergulhou de cabeça nas delícias e nos prazeres propiciados pelo capitalismo. Insatisfeito em ser apenas dono de uma legenda partidária, alçou voos mais ousados e, determinado em acrescentar a propriedade de um país ao seu já vasto acervo particular, juntou-se à escória que perambulava pelo submundo da política local exercendo um dos governos que, se não o mais corrupto – uma multidão afirma que foi – com certeza o mais promíscuo que se teve notícias em plagas brasileiras. Entretanto, nem mesmo seu desempenho notável nas urnas conseguindo reeleger-se presidente e eleger sua sucessora foi capaz de aplacar o rancor que ainda consome suas entranhas, quase todo devotado àquele senhor octogenário de educação esmerada que povoa os seus mais terríveis pesadelos.
Vitimado por essas ciladas do destino, recentemente foi acometido por uma enfermidade que debilitou-lhe as cordas vocais, seu principal instrumento de trabalho. Conformado, decidiu que continuaria a exercitar sua supremacia através de bilhetes. Foi aí que se deu conta da inutilidade dos diplomas que ganhara às baciadas de universidades ordinariamente vassalas.
O cão Petê
O cão Petê
Foi nesse período de provação que estreitou, ainda mais, seu relacionamento com o velho amigo de campanhas memoráveis, aliás, o único que goza até hoje de sua confiança plena. Trata-se do cãozinho de estimação que ganhou no dia de sua primeira posse presidencial ao qual deu o nome de Petê. A fidelidade canina acima de qualquer suspeita transborda o seu orgulho e é sob as luzes dos holofotes e das câmeras televisivas que gosta de exibir o domínio que exerce sobre o animal. Faz questão de convocar a imprensa, a militante, para demonstrar as habilidades do companheiro. Basta um único comando seu e Petê realiza a proeza:
- Em pé! – Incontinente, Petê levanta ávido para satisfazer a vontade do dono.
- Deita! – Abanando o rabo de felicidade, Petê deita, submisso.
- Senta! – De imediato Petê senta, obediente.
- Rola! – Instintivamente Petê rola, sem contrariar a ordem.
Porém, consternado com a doença degenerativa gravíssima que há oito anos devasta seu parceiro de estripulias, diagnosticada pelos veterinários como “corruptelas mensalérias”, o único comando que o proprietário de Petê jamais deu ao inseparável amigo foi o de “se finge de morto, Petê”. Ele sabe que, por uma questão de sobrevivência, desde 2005 Petê se finge de vivo.
Atendido pelos mais renomados médicos especialistas do Hospital Circo Libanês recuperou a saúde da voz roufenha e, plenamente curado, voltou com as forças redobradas a fazer aquilo que sempre fez de melhor:  assombrar as instituições, disseminar o ódio entre os brasileiros e praticar políticalha rasteira.   A tiracolo, o dócil e servil camarada.

Mandato alugado

Transcrito do Blog do Edson Sombra

17:03:12

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Fonte: Revista VEJA - edição Nº 2344 - 21/10/2013