domingo, 10 de novembro de 2013

Nova York: uma cidade sobre trilhos


Por Rafael Lisbôa, de Nova York, especial para o blog de Ancelmo Gois

Entro no metrô, pego o jornal que acabo de receber na estação e a manchete não me surpreende. Uma pesquisa recém-concluída por uma organização sem fins lucrativos que monitora a qualidade dos serviços de metrô e ônibus em Nova York revela que 13% das estações visitadas tinham ratos na plataforma. O número aumenta dependendo do distrito. No Bronx, por exemplo, a média é de uma em cada cinco estações com roedores passeando pela área de embarque e desembarque. Definitivamente, limpeza não é o forte do metrô nova-iorquino. Na verdade, a cidade de Nova York em geral não é muito limpa. Numa das maiores e mais densas metrópoles do mundo, são produzidas diariamente 26 mil toneladas de lixo. E, no meio de tanta sujeira, ratos desfilam por toda parte, inclusive bem acima dos subterrâneos da cidade. Ninguém sabe ao certo o número, mas estima-se que haja pelo menos um roedor para cada habitante.

E não é só em relação à limpeza que o metrô é um reflexo de Nova York. Em muitos outros aspectos, em diferentes detalhes, o sistema de metrô que tem o maior o número de estações do mundo parece reproduzir em menor escala o que acontece lá em cima. Comportamentos, manias, rituais nova-iorquinos. Uma simples viagem pelos trilhos da Big Apple pode ser extremamente reveladora da alma da cidade e de seus moradores.

Para começar, o metrô funciona 24 horas por dia em todos os 365 dias do ano. Não poderia ser diferente na cidade que nunca dorme. Se há movimento de dia, de noite e de madrugada, dá até para entender a dificuldade em manter o sistema limpo. Mas o importante é que os trens estejam sempre operando – e bem. E, disso, ninguém pode reclamar. O metrô – sujo ou não -- funciona. E a cidade também. O metrô faz quase 5,5 milhões de viagens por dia. Nova York tem oito milhões de moradores e 50 milhões de turistas por ano. E, apesar de números tão superlativos, da confusão de gente, da loucura em cima e embaixo da terra, tudo funciona.

Dentro de cada trem, é fácil perceber porque a cidade é considerada a capital do mundo. Com tanta gente vindo de fora (pelo menos um terço da população não é americana) e tantos idiomas ouvidos por aqui (são 800!), cada vagão vira uma babel de etnias, cores e sotaques diferentes. Mesmo os cartazes e avisos oficiais aparecem em outras línguas. Os turistas são os que, de fato, mais falam no metrô porque nova-iorquino (de origem ou escolha) não tem tempo para perder com conversa. Estão sempre focados, com fones de ouvido e tentando tornar a viagem produtiva. Usam os minutos lá embaixo para adiantar questões urgentes lá de cima, rascunhado e-mails, mexendo nos aplicativos do smartphone, lendo livros e jornais nos tablets. Na cidade onde tempo é dinheiro, a ansiedade é coletiva. Corre-se na rua. Corre-se dentro e fora da estação do metrô. E, quando se está dentro do trem e não é possível mais correr, fica-se em pé mesmo se houver lugares vazios. Tudo para facilitar a corrida na hora da saída.

Se falta interação diante de tanto individualismo e competitividade, Nova York esbanja tolerância, inclusive no interior dos vagões. Na Big Apple, cada um é o que quiser e ninguém tem nada a ver com isso. E assim é também no metrô. Os mais diferentes tipos de tribos e estilos desfilam pelos trilhos nova-iorquinos. Executivos apertados em ternos caríssimos, socialites empacotadas em roupas de grifes, hipsters com suspensórios e gravatas borboletas vintage, punks com cabelos coloridos e dezenas de brincos na orelha e nos rosto, jovens com camisas de basquete larguíssimas e bermudas no joelho com a cueca toda à mostra. Pode ser alguém vestido com roupa que parece de papel celofane ou uma versão contemporânea da Cleópatra cheia de brilho e lantejoulas (foto), ninguém parece prestar atenção ou se importar. O metrô é o principal meio de transporte da cidade e ponto. Das áreas mais nobres de Manhattan às regiões mais carentes do Bronx, todos os níveis sociais dividem democraticamente o mesmo espaço, os mesmos trens.

Andar de metrô por aqui é também ter contato com algumas das principais questões que preocupam as autoridades em NY. A segurança, por exemplo. Nos letreiros luminosos espalhados pelas plataformas e dentro dos vagões, alertas constantes para avisar à polícia em caso de qualquer comportamento estranho ou situação suspeita. Uma paranoia compartilhada e compreensível de uma cidade traumatizada com o atentado terrorista há 12 anos contra as Torres Gêmeas e de um país em constante sobressalto com ataques de fúria letais e randômicos em escolas, maratonas, aeroportos, bases militares.

Outra preocupação dentro e fora das estações é com o aumento da população de rua. Nem é preciso ser um observador muito atento para reparar, e esbarrar, na grande quantidade de pedintes. Na última década, o número de famílias de sem-teto cresceu mais de 60% e se multiplicou pelas esquinas nova-iorquinas. E também pelos vagões. Em relação ao ano passado, subiu 13% o número de mendigos que perambulam pelo metrô e fazem dos trilhos o seu lar.

Os anúncios publicitários distribuídos nos trens também ajudam a entender os hábitos de quem vive em Nova York. Além dos cartazes óbvios sobre espetáculos da Broadway, a lista de produtos e serviços oferecidos é vasta: abertura de novas turmas de cursos profissionalizantes ou carreiras universitárias, empréstimos bancários, sites de entrega de comida, propagandas de cirurgiões plásticos que anunciam milagres e advogados que prometem transformar qualquer processo em fonte de indenizações milionárias. A leitura do perfil não é difícil, mesmo para os iniciantes na Big Apple. Uma cidade extremamente competitiva e cara, onde é preciso se qualificar para fazer a diferença e às vezes recorrer a financiamentos para se manter por aqui. Na corrida para não ficar para trás, nem sempre dá tempo para parar e comer. Tem quem ache que melhorar a aparência pode ajudar. E, num lugar assim tão duro e com pouco diálogo, muitos embates – mesmo os mais simples – acabam no tribunal.

Nem Estátua da Liberdade, nem Central Park, nem Wall Street. Para conhecer verdadeiramente NY, basta um ticket de metrô. Nada é mais plural. Nada é cosmopolita. Nada é mais nova-iorquino.

Ainda fechado - MIRIAM LEITÃO

 Míriam Leitão - 
10.11.2013
 | 
9h00m
COLUNA NO GLOBO

Ainda fechado

A indústria reclama da entrada forte dos produtos importados, mas de qualquer ângulo que se olhe, o que se vê é que a economia permanece muito, muito fechada. O grau de abertura do Brasil cresceu nas últimas décadas: de 17%, em 1991, para 25%, em 2011. Avançou, mas pouco, e ainda está bem atrás dos outros países, que também ampliaram sua integração de lá para cá.
No mesmo período, o grau de abertura medido pela corrente de comércio (exportações mais importações) sobre o PIB dos Brics e de Indonésia, México e Turquia, juntos, pulou de 33% para 57%. Os nossos parceiros na sigla são bem menos fechados. Em 2011, o grau da Índia era de 54%; da Rússia, 52%; e da China, de 59%. Na América Latina, a Argentina, que inventou medidas protecionistas de todo tipo nos últimos anos, era mais aberta que nós em 2011 (41%, mesmo percentual do Chile). O grau da Colômbia era de 39%. O Brasil também perdia dos EUA e do Japão, ambos com 32%. A Coreia do Sul impressiona por ter subido de 55% para 110%. Num ranking com 122 países, o Brasil era o mais fechado há dois anos.
Esses números, levantados pelo Instituto Brasileiro de Economia, da FGV, estarão na próxima Carta do Ibre. No documento, o instituto aborda a evolução do grau de abertura da economia sob diferentes critérios. Mas o resultado é sempre o mesmo: o Brasil permanece pouco aberto ao comércio internacional.
— Há uma vasta literatura documentando o efeito positivo da abertura comercial no crescimento do PIB e da produtividade. Ela mostra que o fechamento da economia é ruim para o desenvolvimento econômico — diz o diretor do Ibre, Luiz Guilherme Schymura.
O estudo diz que mais protecionismo é prejudicial para a economia como um todo no médio e longo prazo, com riscos, inclusive, para a indústria.
— É bom lembrar que a abertura da economia à importação de bens de capital reduziria o preço relativo do investimento no país, o que seria desejável diante das baixas taxas de poupança doméstica e de formação bruta de capital fixo — afirma Schymura.
Aumentar as transações comerciais com o mundo ganha ainda mais relevância diante dos sinais cada vez mais fortes de esgotamento do consumo interno.
Onde falta mão de obra
Há 64 atividades com escassez de mão de obra, principalmente de trabalhadores mais qualificados, segundo estudo feito pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) antecipado para a coluna. Do total, 72% são atividades relacionadas ao setor de serviços. Há carência de profissionais no comércio varejista, em serviços de alimentação e de tecnologia da informação, por exemplo.
“A razão para essa performance mais aquecida do setor de serviços está na crise econômica internacional. Enquanto a agropecuária e a indústria sofriam com a retração das principais economias, o crescimento do Brasil se deu amparado no mercado interno”, diz o economista Fabio Bentes, da CNC.
Enredo repetido
Todo ano, quando o gasto com seguro-desemprego sobe, o governo promete tomar medidas para combater as fraudes e o rombo nas contas públicas. Uma busca rápida na internet impressiona pela semelhança entre as reportagens deste ano e as do mesmo período de 2012. Pelas contas do economista Fábio Giambiagi, quando a taxa de desocupação estava em 12%, o gasto com seguro-desemprego representava 0,5% do PIB. Hoje, com a desocupação em 5,5%, o país gasta 1%. Não faz sentido.

Varejo no azul. O comércio pode registrar aumento das vendas pelo sétimo mês seguido, se o dado de setembro vier positivo. O IBGE divulga o número oficial na quarta-feira.

Saiba as diferenças e vantagens entre financiamento, Leasing e Consórcio


 fonte: CBN Foz

Existem basicamente três modalidades para quem deseja comprar um automóvel ou imóvel, mas não possui todo o dinheiro disponível para o pagamento à vista

seu contrato artigos  : Saiba as diferenças e vantagens entre financiamento, Leasing e ConsórcioConheça as vantagens e desvantagens do consórcio, do financiamento e do leasing. Lembre-se sempre de comparar a melhor opção e ter a certeza de que poderá honrar com as parcelas das prestações.
Nunca se esqueça de, ao escolher uma modalidade, ler atentamente o contrato e tirar as dúvidas necessárias antes de assiná-lo.
Financiamento
O que é
Trata-se da modalidade mais utilizada no Brasil. Paga-se no financiamento o valor que se quer emprestado da instituição financeira para efetuar a compra e também os juros cobrados que incidem sobre este valor.
O financiamento para automóveis é o Crédito Direto ao Consumidor (CDC). Em 2010, o CMN e o Banco Central adotaram novas medidas para conter a procura pelo financiamento e evitar uma alta de inadimplência.
O financiamento imobiliário segue três tipos de tabela (Price, Sac e Sacre) em que variam as taxas de juros e os prazos para pagamento. O valor das parcelas limita-se a 30% do total da renda do consumidor ou de sua família.
Vantagem:
Aquisição do bem no ato, no nome do consumidor, porém, alienado à instituição financeira, como garantia. É possível vender este bem mesmo sem estar totalmente quitado
Desvantagens:
Taxas de juros, incidência de Imposto sobre Operações Financeira (IOF) e orçamento comprometido por muito tempo para honrar as prestações.
O valor financiado de um veículo no início da operação não corresponderá ao valor total pago ao término do financiamento, já que o bem se desvaloriza.
Saiba mais sobre as resoluções sobre concessão de crédito no site do Banco Central. No site da Caixa  você também poderá ter mais informações sobre programas de financiamento.
Consórcio
O que é
Um grupo de pessoas (físicas ou jurídicas) se reúne, por meio de uma administradora de consórcio autorizada pelo Banco Central, para uma poupança coletiva em que cada membro contribui com um valor mensalmente com o objetivo de autofinanciar a compra de um bem ou serviço.
Para ser contemplado com a carta de crédito para realizar a compra, é preciso ser sorteado ou então dar um lance para obtê-la antes do término do prazo.
Vantagens
De todas as modalidades é a única em que não se cobra juros. Como o consorciado contribui mensalmente, ele acaba se forçando a realizar uma poupança e a ter uma disciplina financeira.
É o tipo ideal para quem não tem pressa para a compra de um bem ou serviço já que a carta de crédito só é conquistada via sorteio (em que todos os participantes em dia com o pagamento concorrem em iguais condições) ou lance seguindo critérios definidos pelo contrato.
Desvantagens
Se não cobra juros, mas há o pagamento de taxa de administração por parte da administradora. Dependendo das características do consórcio, poderá haver ainda cobranças de taxas para fundo de reserva e seguro. Além disso, é preciso apresentar garantias.
Como depende de sorteio ou sucesso ao dar o lance, o consorciado não pode ter o imóvel no momento em que deseja. É preciso, ainda, pagar as prestações do consórcio até o fim do prazo. Quem atrasa o pagamento fica sujeito a multas e não poderá participar dos sorteios.
Se por algum motivo o bem ou serviço sofrerem aumento durante a vigência do contrato, o consorciado terá que arcar com as diferenças.
Mais informações sobre consórcio podem ser obtidas no Banco Central. Existem regras específicas para grupos formados até 5 de fevereiro 2009  e para outros, formados após 6 de fevereiro de 2009 .
Leasing
O que é
Leasing é um arrendamento mercantil. É uma espécie de locação com direito de compra no fim do contrato.
Duas figuras compõem o leasing: o arrendador, que compra o bem e cede seu direito de uso, e o arrendatário, que paga por esse uso e, ao término do acordo, possui a opção de comprar ou não o objeto em questão ou ainda devolvê-lo à instituição financeira.
O Valor Residual Garantido (VRG) é o saldo a ser pago para que o consumidor fique com o bem após o término do leasing. O VRG pode ser pago antecipadamente (no início do contrato), diluído, junto às prestações, ou então no fim do acordo.
Vantagem:
Os juros praticados são geralmente mais baixos do que em financiamentos, já que o bem fica em posse do arrendatário e não de quem contrata o leasing.
Por isso, também não é necessário apresentar garantias, tornando a sua contratação mais ágil. Não há incidência de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o imposto a ser pago é o Imposto Sobre Serviços (ISS). É possível realizar leasing para qualquer tipo de bem e até 100% de seu valor.
Desvantagem:
O bem não é do arrendatário e sim da instituição financeira ou empresa de leasing. O consumidor só se tornará proprietário ao término do contrato e se optar por comprá-lo e efetuar o pagamento do Valor Residual Garantido (VRG) previamente acordado em contrato.
O bem só poderá ser quitado antes do fim do contrato após atingir o prazo mínimo acordado. Caso contrário, a operação passa a ser considerada como compra e venda a prazo.
Fonte de dados: Banco Central do Brasil
Fonte: CBN Foz

CHARGE DE NEO CORREA

A charge de Néo Correia

 

Governo da Venezuela obriga rede de lojas Daka a baixar preços de eletrodomésticos


  • Segundo Maduro, empresa manipula preços, lesando a economia do país
  • Neste sábado, centenas de pessoas reuniram-se nas lojas para aproveitar os valores mais baixos


Soldados venezuelanos tentaram controlar a multidão que foi à rede atraída pelos preços mais baixos
Foto: JUAN BARRETO / AFP
Soldados venezuelanos tentaram controlar a multidão que foi à rede atraída pelos preços mais baixos JUAN BARRETO / AFP
CARACAS - O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ordenou uma "ocupação" militar na cadeia de lojas de produtos eletrônicos Daka, em uma ofensiva contra o que o governo socialista afirma ser uma manipulação de preços que lesa a economia do país. Gerentes das cinco lojas, com 500 funcionários, foram presos e a empresa foi forçada a vender produtos a “preços justos”, disse o presidente na última sexta-feira. Na manhã deste sábado, centenas de pessoas reuniram-se nas lojas da rede Daka para aproveitar os valores até 50% mais baixos.
- Estamos fazendo isso para o bem da nação - afirmou Maduro, que acusa empresários bem sucedidos e políticos da direita de travarem uma "guerra" econômica contra ele.
- Eu ordenei a ocupação imediata desta rede de lojas para oferecer seus produtos a preços justos. Não deixe nada sobrar no estoque... Vamos vasculhar toda a nação na próxima semana. Esse roubo ao povo tem de parar - complementou.
Maduro, que assumiu o governo após a morte de Hugo Chavez, em abril, parou completamente com as nacionalizações, neste caso, dizendo que autoridades iriam forçar a Daka a vender produtos a preços fixados pelo estado. Críticos afirmam que a inflação galopante do país - a taxa anual é de 54%, a maior desde que Chavez chegou ao poder, em 1999 - ocorre devido a má gestão econômica e ao fracasso das políticas socialistas, e não a empresários inescrupulosos. Muitos economistas preveem uma desvalorização do câmbio venezuelano após as eleições, talvez no começo do próximo ano, mas autoridades do alto escalão negam a previsão repetidamente.
Em janeiro deste ano as autoridades do governo da Venezuela obrigaram as lojas da espanhola Zara no país a fecharem as portas por três dias, como sanção por supostas cobrança excessiva de juros, remarcação de preços e propaganda enganosa praticadas pela rede. A marca de propriedade da Inditex funciona nos país como franquia por meio da companhia Phoenix World Trading.


Em resposta a Dilma, TCU diz que paralisação de obra depende de decisão do Congresso


  • Tribunal destacou que atua de forma preventiva

BRASÍLIA - O Tribunal de Contas da União (TCU) divulgou nota neste sábado contestando as críticas da presidente Dilma Rousseff que, na sexta-feira, classificou como "absurdo" o fato de a instituição recomendar ao Congresso a paralisação de obras públicas federais nas quais foram detectadas sérias irregularidades, incluindo superfaturamento.
Na nota de esclarecimento, o TCU afirma que é seu papel constitucional fiscalizar a aplicação dos recursos públicos e que os técnicos avaliam as obras, apontando, quando há, as irregularidades. Ressalta que cabe ao Congresso Nacional a palavra final sobre a paralisação ou não dos serviços.
A nota do tribunal referiu-se especificamente à obra rodoviária que motivou a declaração da presidente, em entrevista durante sua passagem pelo Rio Grande do Sul na sexta-feira: "Por exemplo, com relação às recomendações do TCU sobre a obra da BR-448/RS, foram encontrados indícios de superfaturamento, na ordem de R$ 90 milhões. Cabe à Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional deliberar sobre a paralisação ou não da referida obra", explica a nota.


A internet livre incomoda o governo, por Elio Gaspari

Elio Gaspari, O Globo
Misturando ignorância, prepotência e marquetagem, o comissariado meteu-se numa salada de iniciativas que envolvem a liberdade da internet. Produziu ridículos, empulhações, lorotas e, por incrível que pareça, uma boa ideia.
O ridículo: Doutora Dilma propôs que a internet seja colocada sob algum tipo de supervisão da ONU. Se isso acontecer, a ONU criará a ONUNet, que funcionará em Genebra, dirigida por um marroquino, abrindo-se a quinta representação de Pindorama naquela aprazível cidade.
A empulhação: o comissariado quer que os provedores de conexões e de aplicações guardem seus dados no Brasil. Disso poderá resultar apenas a criação de cartórios de armazenamento a custos exorbitantes. Acreditar que essa medida conterá a espionagem estrangeira é pura parolagem. Estimula apenas a xeretagem e os controles nacionais.


Toda vez que o governo se mete com a internet, há um magano na outra ponta querendo ganhar dinheiro com o atraso tecnológico. Gente que sonha com a boa vida dos anos 80, quando era mais fácil entrar no Brasil com cocaína do que com um computador.
Lorotas: os doutores falam que estão votando um “marco civil para a internet”. De civil, ele não tem nada. É governamental, e inútil.
A boa ideia: no meio dessa salada, ressurgiu a proposta de não se usarem mais softwares fechados como o Windows da Microsoft na rede pública. A Viúva migraria para sistemas abertos, gratuitos, como o Linux. Essa ideia chegou ao Planalto em 2003, quando Lula tomou posse. Foi abatida a tiros pelas conexões comissárias.
Nada do que os doutores estão propondo acontecerá, simplesmente porque a internet é maior que a onipotência de Brasília. Se a doutora Dilma começar uma faxina dos softwares fechados comprados pelo governo, fará um grande serviço, comparável ao do tucano Sérgio Motta, que, nos anos 90, atropelou os teletecas que pretendiam transformar a estatal de telecomunicações num provedor exclusivo de internet.

Se roubar, faça, por Mary Zaidan


Obras sem projeto ou com projetos precários, caras, superfaturadas, com contratos aditados por uma, duas e sabe-se lá por quantas vezes. Boa parte delas atrasada, postergada, paralisada. Ano após ano, o governo joga nos bolsos de alguns poucos os bilhões de impostos dos muitos que trabalham e produzem riqueza, e que quase nada têm de volta. Algo de dar engulho, de alimentar a desesperança.
Mas a indignação da presidente Dilma Rousseff é o avesso disso. “Eu acho um absurdo parar obra no Brasil”, disse, ao comentar a recomendação do Tribunal de Contas da União (TCU) ao Congresso Nacional de suspender a remessa de recursos para sete obras, todas elas com vícios graves, em que a roubalheira corre solta.
Para Dilma, o que importa é concluir o que for possível antes das eleições de 2014. Até porque o máximo que ela conseguir entregar será muito menos do que o prometido no palanque de 2010.
Em tom de desafio, de quem faz mesmo o diabo, garantiu: “De qualquer jeito, essa obra vai ficar pronta. E nós vamos inaugurá-la”. Uma variante do clássico “rouba, mas faz”, tão popular na política brasileira.

Obras na BR-448

A presidente se referia à BR-448, extensão de 22,5 quilômetros entre Porto Alegre e Sapucaia do Sul, essencial para aliviar o tráfego saturado da BR-116 na região metropolitana da capital gaúcha. Em abril, a obra custaria R$ 530 milhões. Agora, já passa de R$ 1 bilhão. O TCU diz que R$ 91 milhões são originários de falcatruas. Mas Dilma afirma que vai inaugurar a obra assim mesmo.
As terras do sul esperam outra obra que já nasce atiçando pulgas por detrás das orelhas: a nova ponte sobre o Rio Guaíba, promessa de campanha, que teve seu edital publicado na quinta-feira, 7. Como não saiu do papel, a travessia ainda não é alvo do TCU. E, se não sofrer embargos, deve ficar pronta em 2020.
A estimativa em 2011 era de que a obra custaria em torno de R$ 400 milhões. Hoje, ultrapassa R$ 900 milhões. Isso para erguer uma ponte de menos de dois quilômetros. Mais de R$ 450 milhões por quilômetro, valor quase três vezes superior ao do quilômetro da maior ponte do mundo, de 42 quilômetros, construída entre Qingdao-Hiawann, na China.
Sobre as outras seis obras – esgoto em Pilar (AL), ferrovia Caetité-Barreiras (BA), Avenida Marginal Leste, Teresina (PI), Vila Olímpica de Parnaíba (PI), ponte sobre o Rio Araguaia (TO-PA) e ferrovia Norte-Sul –, Dilma não bateu de frente. Afinal, não tem chance de vê-las concluídas.
Podem apostar: a culpa por promessa não cumprida será do TCU, jamais de Dilma. Por sua vez, ela vai correr para acelerar o que der a qualquer custo. Não pode correr o risco de seu governo ser taxado como “rouba e não faz”.

Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas. Atualmente trabalha na agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa'. Escreve aqui aos domingos. Twitter: @maryzaidan, e-mail: maryzaidan@me.com

Um outro lado do crack - JAIRO BOUER


O Estado de S.Paulo - 10/11

Você votaria em um prefeito que já usou crack? Na semana passada, Rob Ford, de 44 anos, governante de Toronto, a maior cidade do Canadá, admitiu, após meses de pressão, ter fumado a droga no passado, quando, segundo ele mesmo, estava sob efeito de doses elevadas de álcool. Desde maio se sabia da existência de um vídeo, agora sob o poder da polícia, em que o prefeito aparecia fumando.

Enquanto vários setores pedem sua renúncia, o prefeito disse que não vai abandonar o cargo e que pretende disputar a reeleição em 2014. Embora em política, tanto aqui como no Canadá, as intenções de voto da população possam dar guinadas radicais, mesmo após a revelação de Ford, sua popularidade subiu 5 pontos e alcançou 44%. Na quinta-feira, após a veiculação pelo jornal Toronto Star de um outro vídeo, em que o prefeito aparece visivelmente alterado, em um provável estado de embriaguez, proferindo palavrões e ameaçando alguém de morte, sua situação pode se complicar. A polícia também investiga a ligação do prefeito com traficantes conhecidos da região.

O caso de Ford mostra um outro lado do crack. Diferentemente da imagem clássica que se tem do dependente que perambula pelas ruas sem rumo, em situação de miséria, vivendo de bicos ou de esmolas, com envolvimento frequente em delitos para financiar o uso, existe uma parcela dos usuários que vive outra realidade.

Aqui no Brasil, a pesquisa Estimativa do Número de Usuários de Crack e/ou Similares nas Capitais do País, divulgada em setembro pelo Ministério da Justiça em parceria com o Ministério da Saúde, revela que, apesar de quase 48% dos usuários viverem nas ruas, 65% se engajarem apenas em trabalhos eventuais e a maioria não ter completado o ciclo básico de educação, outros 5% têm nível superior completo ou incompleto e muitos trabalham de forma mais regular.

Como qualquer tipo de droga, mesmo o crack, apesar de seu alto poder de adição, pode ser usado de maneira única ou até eventual. O levantamento brasileiro mostra que 0,81% da população nas capitais usou o crack em 2012 de forma regular. Mas é provável que uma parcela maior tenha experimentado ou usado a droga de forma esporádica. Com o poder de criar dependência rapidamente, existe o risco de usuários eventuais migrarem para um padrão de consumo mais permanente.

Recentemente, um prestador de serviço com quem trabalho me informou que havia se separado da mulher e que lutava para se livrar do crack. Apesar de estar usando a droga há alguns anos, teve uma piora recente e foi buscar ajuda. Mesmo usando crack, ele manteve seu negócio e conseguiu, apesar das oscilações e das ausências, fazer a empresa prosperar. É claro que havia criado uma estrutura que dava suporte a sua eventual falta de assiduidade.

De fato, com a maior parte das drogas (e até com o crack em alguns casos), há quem consiga seguir o tratamento sem abandonar o trabalho e sem se afastar da rotina do dia a dia. Essa é, em geral, a escolha. Os afastamentos e internações ficariam reservados, então, para situações mais complicadas.

No caso de Ford, talvez mais grave do que a questão do crack seja a sua relação com o álcool e os descontroles que podem surgir em situações de abuso de bebida, até mesmo com o maior risco de exposição a outras drogas. Em uma posição de tanta visibilidade como a vida de um prefeito, o resultado pode ser dramático. É lógico que alguém que enfrenta uma dependência pode se recuperar e voltar a ter um padrão adequado de trabalho e de relações sociais. Mas, sem abordar a questão de frente e, muitas vezes, no limite, sem se retirar temporariamente de cena, para poder focar em um árduo trabalho de reabilitação, o futuro pessoal e político pode ser duramente prejudicado.

Degenerados - LUIS FERNANDO VERISSIMO

O GLOBO - 10/11

Ainda existem milhares de obras de arte desaparecidas na guerra das quais não se tem notícia. Mas aos poucos elas reaparecem. Arte é difícil de matar



Descobriram num apartamento da cidade de Augsburg, perto de Munique, Alemanha, mais de 1.400 quadros desaparecidos durante a Segunda Guerra Mundial. Os quadros incluem pinturas e desenhos de expressionistas alemães como Georg Grosz e Max Beckmann mas também de artistas como Matisse, Chagal, Renoir, Toulouse-Lautrec, Picasso e outros mestres europeus. A descoberta,, segundo o “New York Times”, foi há algum tempo, mas as autoridades alemãs só a noticiaram agora porque temiam que a revelação aumentasse a grossa confusão sobre a propriedade das obras encontradas.

Elas são, obviamente, produto da pilhagem de museus e coleções privadas dos territórios invadidos pelos nazistas na guerra. Mas estavam no apartamento de um descendente de Hildebrand Gurlitt, que, apesar de ser judeu, foi o escolhido por Goebbels para avaliar e ajudar a vender os quadros e era, legalmente, o dono do tesouro.

As obras incluem o que Hitler chamava de arte “degenerada” — os expressionistas alemães, principalmente — que pela sua vontade deveria ser destruída, e as de grande valor comercial, cuja venda reforçaria os cofres do Terceiro Reich. Mas na promiscuidade do achado não se distingue umas das outras, e não deixa de haver uma triste ironia no fato de os mestres do impressionismo francês, por exemplo, estarem de novo na companhia de “degenerados”, como no famoso Salão dos Rejeitados em Paris, que reuniu os enjeitados pelos acadêmicos da época, e de onde saiu a grande arte do século XIX.

Ainda existem milhares de obras de arte desaparecidas na guerra, das quais não se tem notícia. Mas aos poucos elas reaparecem. Arte é difícil de matar. Inclusive a “degenerada” . Há pouco estive num museu em Munique em que havia uma exposição dos expressionistas alemães. Todos mortos, e todos vivíssimos.

Por que não fiz fortuna - HUMBERTO WERNECK


O Estado de S.Paulo - 10/11

Não terei direito a reclamar se um dia meu saldo bancário, de tão esbelto, não me servir mais que a sopa dos pobres; em outras palavras: se por uma rarefação pecuniária eu vier a perder não apenas o pré-sal, como se passou com aquele multiempresário, mas o próprio sal. O culpado serei eu. Não que estivesse fadado a ter fortuna, derretível ou não, como a do referido Sr. X-Tudo. Mas reconheço: joguei fora algumas oportunidades de fazer com que a minha conta fosse, a exemplo de minha pessoa física, acumulando gordurinhas.
A primeira delas foi na juventude belo-horizontina, quando Bueno de Rivera - poeta que sabia como poucos tanger a lira, aí incluída a moeda italiana de então - me propôs criarmos uma produtora de documentários de curta-metragem. Ainda posso vê-lo, olhos semicerrados, corpanzil arreado no sofá da redação do Suplemento Literário, onde eu trabalhava, a me explicar como seria a coisa: filmetes (estávamos longe do hoje antediluviano videocassete) para animar festinhas de aniversário de crianças de famílias abastadas.

Entre rodadas de brigadeiro, os amiguinhos seriam submetidos a uma catadupa de imagens do cotidiano de quem soprava as velas: Flavinha e suas bonecas, Flavinha e as coleguinhas, Flavinha na escola, Flavinha no clube, Flavinha cavalgando na cinematográfica fazenda do vovô. Em pouco tempo, antevia o poeta, não haveria em Belo Horizonte criança rica que não atormentasse o pai para arrancar dele seu próprio filme de aniversário. Mina de ouro! - e o ladino Bueno de Rivera agora arregalava os olhos como em presença de um saco de moedas ou de um decassílabo perfeito.

Vagamente repugnado, desconversei. Como podia um poeta conceber semelhante expediente para cavar dinheiro? Não fiquei em Belo Horizonte para ver se, com sócio mais flexível, o projeto foi adiante. Vai ver que sim, pois o autor de Mundo Submerso já emplacara bolações rentáveis como o onipresente Guia Rivera, GPS de papel que nenhum motorista de táxi podia dispensar. Foi também ele quem editou um aparatoso volume com perfis de figurões da vida mineira, viabilizado porque as famílias dos homenageados toparam comprar antecipadamente três exemplares da obra - publicada sem ônus para Bueno de Rivera, pois o governo de Minas a considerou de interesse público.

Minha segunda chance de ganhar uns cobres veio anos mais tarde, em São Paulo, no momento em que me preparava para ir viver em Paris. Quando fui devolver o quarto e sala onde morava, o proprietário, Rubens Caporal, dono também da Casa Prata, importadora de comidas e bebidas finas, me fez uma proposta: ser na França o seu comprador de vinho, o que lhe pouparia cansativas viagens a trabalho.

Por pouco não reagi ofendido, tão inflado estava por minha condição de jornalista, atividade, julgava eu, incomparavelmente mais nobre que o vulgar comércio. Caído na real, já não pensava assim quando, um ano mais tarde, de passagem por Paris, o boa praça Rubens Caporal teve a generosidade de renovar o convite. Fiquei tentado - quando menos, pelas descidas que faria a caves de sonho, para cafungantes & bochechantes degustações -, mas um persistente orgulho de jovem não me deixou berrar "sim!"

Foi também naquela época que minha amiga e colega Bia Bansen me apareceu com a perspectiva de um dinheirinho, nem tão diminutivo assim. Tendo aberto um parêntese na sua vida de jornalista, ela estava providenciando o lazer de brasileiros que tinham ido ver a Copa do Mundo na Alemanha e que, entre dois compromissos da nossa seleção, estavam ávidos por programas extrafutebolísticos. Você topa administrar o pessoal em Paris? - perguntou a Bia.

Com essa amiga eu não precisaria fazer cerimônia, mas me abstive de explicar o quanto me caíra mal a possibilidade de macular meu currículo de trabalhador intelectual (tomado pela vertigem de sobreloja, eu já me sentia nas culminâncias) com um capítulo como guia turístico. Nem preciso dizer o quanto me arrependi, também naquele episódio - ainda mais ao ver a bem-sucedida carreira que a querida e competente Bia Bansen veio a construir no ramo da comunicação.

Posso pedir mais uma chance?

A juventude da maturidade - MARTHA MEDEIROS


domingo, novembro 10, 2013


ZERO HORA - 10/11


Feliz aniversário!

Foi só ela ouvir o cumprimento e virou o rosto como se estivesse sendo agredida. “Não repita isso de novo. Não sei o que há de feliz em ficar mais velha”.

Respondi: “Você diz isso porque está fazendo 34 anos. Quando fizer 52, vai sentir vontade de pendurar balões pela casa”.

Ela desvirou o rosto e voltou a me encarar como se eu estivesse tendo algum surto de insanidade. Exatamente como aquelas expressões que ilustram a coluna da Mariana Kalil aqui no Donna, com um baloon escrito “HÃ?”.

Só quem atravessa ao menos cinco décadas de vida pode entender a bênção que é entrar na segunda juventude.

Claro que antes é preciso passar pelo purgatório. Poucos chegam aos 50 anos sem fazer uma profunda reflexão sobre a finitude, e dá um frio na barriga, claro. Amedronta principalmente quem ainda não fez nem metade do que gostaria de já ter feito a essa altura. Será que vai dar tempo?

Passado o susto, a resposta: vai. E se não der, não tem problema. Você não precisa morrer colecionando vontades não realizadas. Troque de vontades e siga em frente sem ruminar arrependimentos. Você finalmente atingiu o apogeu da sua juventude: é livre como nunca foi antes.

Sendo assim, não passe mais nem um dia ao lado de alguém que lhe esnoba, lhe provoca ou que não se importa com seus sentimentos. Pare de inventar razões para manter seus infortúnios, você já fez sacrifícios suficientes, agora se permita um caminho mais fácil. Se ainda dá trela a fantasmas, se ainda pensa em vingançazinhas ordinárias, se ainda não perdoou seus pais e seu passado, se ainda perde tempo com vaidades e ambições desmedidas, se ainda está preocupado com o que os outros pensam sobre você, está pedindo: logo, logo vai virar um caco.

Para alcançar e merecer a segunda juventude, é preciso se desapegar de todas aquelas preocupações que existiam na primeira. Quando essa Juventude Parte 2 terminar, não virá a Juventude Parte 3, mas o fim. Então, esta é a última e deliciosa oportunidade de abandonar os rancores, não perder mais tempo com besteiras e dar adeus à arrogância, à petulância, à agressividade, ou seja, adeus às armas, aquelas que você usava para se defender contra inimigos imaginários. Agora ninguém mais lhe ataca, só o tempo – em vez de brigar contra ele, alie-se a ele, tome o tempo todo para si.

Eu sei que você teve problemas, e talvez ainda tenha – muitos. Eu também tive, talvez não tão graves, depende da perspectiva que se olha. Mas isso não pode nos impedir a graça de sermos joviais como nunca fomos antes. Lembra quando você dizia que só gostaria de voltar à adolescência se pudesse ter a cabeça que tem hoje? Praticamente está acontecendo.

Essa é a diferença que tem que ser comemorada. Na primeira juventude, tudo vai acontecer. Na segunda, está acontecendo.

Bons negócios entre Brasil e Israel

Transcrito do Blog Rua Judaica - Osias Wurmann

Nos últimos anos, as relações políticas se fortaleceram com uma série de visitas ministeriais e comerciais dos dois lados

RAFAEL ELDAD
O Brasil é o maior parceiro comercial de Israel na América Latina e a tendência é de um aumento significativo nas transações entre os dois países. Os números são promissores e o potencial de cooperação e oportunidades é notório nos setores de tecnologia, saúde e segurança pública. Atualmente, o comércio bilateral gera US$ 1,5 bilhão e é grande o interesse de empresas israelenses no mercado brasileiro.
O desafio é dobrar o intercâmbio comercial e chegar aos US$ 3 bilhões ou até mais nos próximos cinco anos. Para auxiliar neste objetivo, foi instalada este ano no Rio de Janeiro uma missão econômica israelense, e a Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria foi reativada na capital fluminense.
A relação entre os países se fortalece desde a aprovação, em 2011, do acordo de livre comércio entre Israel e o Mercosul. Nosso país importa produtos em grande escala, o que faz do mercado israelense um grande atrativo para empresas do Brasil. Por outro lado, nossas técnicas e produtos agrícolas, como também nossa biotecnologia são alguns dos exemplos da presença israelense no Brasil.
Desde a década de 1960, Israel contribui para o desenvolvimento da agricultura do semiárido brasileiro, por meio da difusão de técnicas de irrigação no Nordeste. Em outubro, o estado do Ceará e Israel assinaram um acordo para transferir tecnologia a produtores rurais do sertão cearense e instalar uma fazenda-modelo na cidade de Quixeramobim. A medida vai auxiliar no combate à seca e levar água para várias famílias da região.
Outro fruto da cooperação bilateral pôde ser colhido recentemente, desta vez na biotecnologia. Também no mês passado, a empresa israelense Protalix Biotherapeutics Inc firmou um acordo de fornecimento e transferência de tecnologia com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para a produção de medicamento para tratar o Mal de Gaucher tipo I, uma doença genética rara.
Um programa de cooperação bilateral em pesquisa e desenvolvimento industrial no setor privado entre Brasil e Israel está com edital aberto até o fim deste mês, o que deverá aproximar e ampliar ainda mais as relações empresariais de ambos os países.
Nos últimos anos, as relações políticas se fortaleceram com uma série de visitas ministeriais e comerciais dos dois lados. Neste mês, uma delegação de 25 diplomatas israelenses estará em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo para participar de seminários sobre o Brasil.
Após a agenda em Brasília, o grupo participa, amanhã, no Rio de Janeiro, da cerimônia de abertura da mostra Os Papas em Israel, a Terra Santa. Estarão expostos na base do Cristo Redentor 18 painéis com imagens dos Papas Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI em visita a locais sagrados para cristãos, judeus e muçulmanos.
Essa mostra, em uma das Sete Novas Maravilhas do Mundo, por onde passam diariamente milhares de pessoas, nos remete a outro avanço na relação entre Brasil e Israel: o turismo. Em 2012, 60 mil brasileiros visitaram a Terra Santa. O número é 20% maior que em 2011. De olho nesse crescimento, o Ministério do Turismo israelense tem como meta levar 140 mil brasileiros a Israel em 2014.
Todos estes fatores farão com que as relações de amizade entre os dois países prosperem ainda mais. No caminho brasileiro rumo ao progresso e ao desenvolvimento, Israel deseja fazer parte desta história.
Rafael Eldad- é embaixador de Israel no Brasil