domingo, 8 de setembro de 2013

Trocas íntimas entre estranhos - MARTHA MEDEIROS


ZERO HORA - 08/09


Alguns poucos leitores às vezes me confundem com conselheira sentimental e me revelam seus conflitos internos, acreditando que eu possa apontar um caminho para que eles vivam melhor. Logo eu! Escrevo sobre assuntos que me interessam e, se servirem para alguém, é uma honra, mas não me sinto à vontade e nem tenho preparo para entrar na intimidade de cada leitor em particular já me atrapalho o suficiente comigo mesma.

Mas já que todos gostam de conselhos, eu inclusive, uma dica posso dar: leia o livro Pequenas Delicadezas, de Cheryl Strayed.

Já falei dessa autora antes. Foi ela que percorreu sozinha uma trilha nos Estados Unidos e narrou a experiência no aclamado Livre, que frequentou a lista dos best-sellers. Eu nem imaginava que ela escrevia uma coluna de aconselhamentos. Pois me tornei fã declarada dessa mulher.

Pequenas Delicadezas é uma seleção de perguntas e respostas publicadas no site The Rumpus, mas de forma alguma é literatura de bisbilhotice, aquela coisa de olhar pelo buraco da fechadura dos dramas alheios, o que tantas vezes revela-se piegas.

Cada carta gera um ensaio em que Cheryl conta experiências próprias para ilustrar seu pensamento sobre as questões levantadas. Esbanjando sensatez (coisa que não anda sobrando por aí), ela equaliza causas e efeitos com docilidade, mas sem abusar do bom mocismo e sem encontrar solução para tudo.

Ao contrário, ela reconhece que a vida é bem sacana às vezes. Nossos pais nem sempre foram uns anjos, nossa infância “feliz” pode ter sido uma farsa e a maneira como estamos narrando nossa história para nós mesmos pode estar cheia de ficções que já não conseguimos sustentar. Dá para mudar o passado? Não dá. A única coisa que dá para mudar é a maneira como enxergamos tudo o que nos aconteceu (e ainda acontece) e ver o que é possível perdoar, esquecer ou redimensionar.

É comum considerar o escritor como uma espécie de guru – parece que ele é imune a problemas. Cheryl se atreve no papel e se dá como exemplo justamente porque sua vida não foi um passeio de carrossel.

Porém, ela encontrou suas ferramentas de superação – a própria coluna deve ser uma delas. Sem constrangimento e com absoluta empatia, envolve-se com a dor de quem lhe escreve, mesmo suspeitando que todos sabem direitinho o que devem fazer de suas vidas, só estão aguardando que alguém, mesmo um desconhecido, lhes dê uma espécie de licença. “Se é por falta de licença, sinta-se autorizado”, é o que ela parece dizer.

Pequenas Delicadezas não explora as churumelas do amor nem pretende ser um oráculo. Apenas confirma que viver não é fácil, mas é o que temos pra hoje.

Charge do Alpino


Charge do Duke


Charge O Tempo 08/09

Corredor polonês racista é coisa do cotidiano brasileiro


1
Fátima Oliveira
Uma “historinha” sobre falta de caráter, xenofobia e racismo de um médico idoso, que em nada difere de gente desprezível de outras profissões, pois o microcosmo das categorias profissionais é revelador das ideias dominantes numa sociedade de “racismo cordial”, onde ninguém se diz racista, só os outros são!
Na manhã de 1º de agosto passado, fui aos Correios do meu bairro com uma grande caixa para ser despachada. Como não havia lugar no balcão para a caixa de preciosidades para minha neta Clarinha, avisei a funcionária de que seria a próxima. Aguardei ao lado. Chegou a minha vez. Ao dizer: “Encomenda PAC”, um senhor todo pimpão, cabelos menos brancos que os meus, mas aparência de 70 e cacetada, fez de conta que eu não existia e entregou um envelope. Negra, aprendi a reagir quando fazem de conta que sou invisível.
Na maciota, mas firme, disse: “Senhor, é a minha vez! Estava na fila!”. E ele: “Isso aqui é rápido. É meu voto para o Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo. Sabe o que é isso?”. Eu: “Senhor, espere! Estou sendo atendida!”. Ele: “Desculpe-me, não a vi! Sou muito educado! Pode passar, madame! Nordestino não respeita fila!”.
E o muito educado foi esbravejar no fim da fila: “Esse povo do Nordeste nem sabe o que é fila. Lá não existe isso. Conheço essa gente do meu consultório de ajudar pobres ali na favela. Há muitos desses nordestinos lá que eu ajudo! Favela não, que esse nome é discriminação e tá errado, da comunidade da Barragem Santa Lúcia. Sou caridoso. Atendo de graça lá. Ora, não vou me trocar com qualquer uma, sou médico, sou rico!”.
MOLEQUE SAFADO
Gargalhei e, com o sangue fervendo, detonei: “E moleque, safado, xenófobo e racista. E cale a boca: sou tão médica quanto o senhor, há quase 40 anos…”. Ele (mirando a negra que vos fala): “Será? Então sou médico há mais anos que você!”. Eu: “E daí? Tá pensando que medicina nasceu só para o senhor, que é branco e do Sudeste? Deixe de bestagem e de xenofobia. Vou chamar a polícia para o senhor deixar de ser safado. Suma daqui, seu moleque, se não quiser sair algemado. Chispa!”.
Assustadíssimo, tropeçou nos próprios pés e, tremendo como vara verde, saiu feito um azougue… “Já vai? Espera a polícia, quero ver tua riqueza te safar!”. Mas ele fugiu! O único temor foi de o sujeito ter ou simular uma “sapituca” e eu ter de socorrê-lo ali…
Quando um médico setentão diz o que disse, demonstra que há caráter de todo tipo em qualquer profissão. Não é surpresa que médicos jovens portem cartazes “sou médico, sou culto, sou rico”, que evidenciam uma faceta da desfaçatez reinante; nem é coisa de outro mundo, é daqui mesmo, a exibição do corredor polonês do banditismo do racismo ocorrido em Fortaleza, uma criminosa intimidação a médicos cubanos.
E Juan Merquiades Duvergel Delgado, médico, negro, cubano, tirou de letra: passou por ele – eternizando numa foto, que ganhou o mundo, a naturalização e a banalização do racismo brasileiro! Aliás, o maior mérito da importação de médicos, que oficializa a precarização do trabalho médico – pois até o governo solapa direitos trabalhistas e ainda quer aplausos –, é comprovar a falta de vergonha de ser racista sem medos!
Negro no Brasil vive num corredor polonês racista. Mas só negros percebem e sentem, como o aceite ou a omissão diante de práticas racistas institucionais, a exemplo do engavetamento da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da População Negra, que não andou um milímetro em sua implementação no atual governo. “Pra quem sabe ler, um pingo é letra”. (transcrito de O Tempo)

INIMIGOS MÉDICOS Percival Puggina

          Quando viu o povo na rua, cobrando atenção à Saúde Pública, Dilma adotou prática tão antiga quanto namorar no portão. Escolheu um inimigo e o apontou à sociedade: os médicos brasileiros. A partir daí, jogou contra eles os raios e trovões que conseguiu recolher em seu repertório.

          A saúde pública tem problemas. Falta atendimento, dinheiro, leitos. São longas as filas. Espera-se meses por um exame e anos por uma cirurgia. De quem é a culpa? Segundo a presidente, a culpa é dos médicos. Sua Excelência cuidou de passar à sociedade a impressão de que eles preferem viver nos grandes centros não porque ali estejam os melhores hospitais, laboratórios e equipamentos, mas porque ali estão os melhores restaurantes, clubes e cinemas. Foi para a tevê tecer ironias com o fato de que os primeiros a fazerem opções no "Programa Mais Médicos" preferiram localidades litorâneas. A compreensão dessa mensagem pelos sem discernimento (estamos falando de dezenas de milhões) fica assim: os doutores gostam, mesmo, é de praia.

          Através dessas paquidérmicas sutilezas, o governo tenta convencer a sociedade de que os médicos não vão para as pequenas comunidades porque se lixam para as carências com que ele, governo, se preocupa. Opa! Preocupa-se agora, preocupa-se depois das vaias, preocupa-se depois das passeatas. E esquece que, pelos mesmos motivos, milhões de outros profissionais também preferem trabalhar em centros urbanos mais dinâmicos. Identificado o inimigo, a presidente partiu para o ataque. Criou um 2º ciclo de formação médica, obrigatório, a serviço do SUS, com duração de dois anos, a ser prestado onde houver necessidade. Fez com que os médicos perdessem a exclusividade de diversas atribuições relativas a diagnósticos e prescrição de tratamentos. Jogou na lixeira a insistente e lúcida recomendação no sentido de que seja criada na área médica uma carreira de Estado, semelhante à que existe para as carreiras jurídicas. Explico isso melhor: espontaneamente, nenhum juiz ou promotor vai solicitar lotação em Paranguatiba do Morro Alto. No entanto, como etapa de uma carreira atraente e segundo regras bem definidas, sim. É desse modo que se resolvem as coisas numa sociedade de homens livres.

          Nada revela melhor a vocação totalitária do partido que nos governa do que este episódio. É uma vocação que dispensa palavras, que atropela leis e se expressa nas grandes afeições. Cubanas, por exemplo. A vinda dos médicos arrematados em Castro & Castro Cia. Ltda. permite compor um catálogo de transgressões aos princípios da liberdade individual, da dignidade da pessoa humana, da justiça, da equidade, da proporcionalidade, do valor do trabalho. Repugna toda consciência bem formada a ideia de que um país possa alugar seus cidadãos a outro, enviá-los aos magotes como cachos de banana, beneficiar-se financeiramente dessa operação em proporções escandalosas e ainda fazer reféns as respectivas famílias por garantia da plena execução do mandado. E há quem afirme que toda oposição a uma monstruosidade dessas é "preconceito ideológico"! Pois eu digo diferente: acolher como louvável semelhante anomalia política é coisa que só se explica por desvio do juízo moral.

          Dilma e os seus gostariam de dispor dos brasileiros como coisas suas, assim como os Castro dispõem dos cubanos. Sendo impossível, buscam-nos lá, do mesmo modo como, antigamente, eram trazidos escravos das feitorias portuguesas no litoral africano.

Zero Hora8 de setembro de 2013

Deu na Folha: CUT hostiliza manifestantes contra a corrupção no RS

Diego Casagrande
Posted: 07 Sep 2013 11:36 AM PDT
Centenas de pessoas marcharam pelo centro de Porto Alegre na manhã deste sábado (7) em mais uma edição do Grito dos Excluídos, ato que reúne movimentos sociais. Antes da passeata, um dirigente da CUT (Central Única dos Trabalhadores) usou o carro de som da entidade para pedir que os manifestantes não usassem cartazes contra a corrupção distribuídos por um engenheiro na concentração para o ato. Os cartazes, feitos de plástico, tinham mensagens como "Fim da corrupção", "Menos políticos" e "Mais saúde".

O locutor do carro de som disse ao público que a iniciativa era de "coxinhas" e pediu que os apoiadores dessa causa fossem para outra parte da praça onde ocorria a concentração. Falou ainda que a "elite" tentava se misturar ao movimento tendo "interesses reacionários de partidos conservadores". Mas não houve bate-boca entre os dois grupos. No mesmo ponto onde ocorreu o início do Grito dos Excluídos, havia sido marcado um ato pelo Facebook contra a corrupção.

O autônomo Airton Rodrigues, 54, foi ao local, acabou não participando da marcha e afirma que o movimento sindical "desrespeitou" a democracia com a atitude. "Fomos abafados pelo poder do sindicalismo", disse.

O autor dos cartazes foi o engenheiro Sérgio Ribeiro, 76. Ele afirma que produziu mil placas com as mensagens porque considera importante a população se manter mobilizada, como ocorreu em junho. "O nosso movimento está dando medo nos políticos", disse. Ribeiro e o filho distribuíram os cartazes de plástico também entre o público que acompanhou o desfile militar na região central da capital gaúcha.

Reinventado, relógio volta aos pulsos


Com várias funções, os smartwatches recolocam o veterano acessório na lista de desejos de uma geração que não tira os olhos do celular

Lucas Bessel, enviado especial a Berlim
Assista ao vídeo com a apresentação do relógio e entenda como ele funciona:
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Para que carregar um acessório que oferece apenas uma informação se eu posso obter essa e muitas outras informações no celular, no tocador de MP3 ou no tablet? Essa é uma pergunta de lógica indestrutível feita pelos jovens nascidos na era digital que se recusam a ostentar um relógio no pulso. A indústria de tecnologia aposta que isso vai mudar e inicia uma corrida para ocupar os braços desse público. Um passo decisivo foi dado na IFA 2013 – feira de tecnologia mais importante da Europa, que acontece em Berlim, na Alemanha. Em vez de um smartphone, um televisor de ultradefinição ou um aspirador de pó autônomo, quem brilhou nos primeiros dias do evento foi um relógio de pulso inteligente. Batizado de Galaxy Gear, o smartwatch fabricado pela sul-coreana Samsung funciona como uma extensão de quase todas as funções presentes nos celulares.
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MULTIUSO
Shin Jong-kyun, diretor da Samsung, apresenta o
relógio que faz de tudo e até marca as horas
O aparelho realiza e recebe ligações, tira fotos, envia mensagens por comandos de voz e faz vídeos de até dez segundos, entre muitas outras funções. Para a Samsung, maior fabricante de celulares inteligentes do mundo, o Galaxy Gear representa uma vitória contra sua principal concorrente, a americana Apple. A empresa fundada por Steve Jobs tem, segundo fontes do mercado, cerca de 100 projetistas trabalhando no desenvolvimento de um dispositivo de pulso que poderá realizar muitas das funções do iPhone e do iPad. Chamado informalmente de iWatch, o dispositivo pode ser lançado até o fim deste ano. Outras companhias também embarcaram na empreitada: a Sony acaba de anunciar a segunda geração de seu smartwatch, enquanto a Qualcomm lançou o Toq, um relógio que exibe as notificações de qualquer smartphone sincronizado via Bluetooth. O mais conhecido desses dispositivos, entretanto, é o Pebble, fabricado pela Pebble Technologies, companhia que arrecadou mais de US$ 10 milhões via crowdfunding para custear a ideia.
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“Queríamos fazer um dispositivo acessível a todos e reinventamos um objeto que tem mais de um século de idade”, afirmou Pranav Mistry, o indiano que lidera o time de pesquisas da Samsung e que está por trás da concepção do smartwatch. “Você não precisa mais sacar o telefone celular toda hora apenas para ler mensagens”, exemplificou. Mistry é um dos gurus da chamada tecnologia vestível. O conceito tem como maior expoente o Google Glass, óculos que exibem informações como mensagens de texto e mapas diretamente no olho do usuário. A ideia geral é que todos os dispositivos indispensáveis à vida moderna sejam integrados ao corpo ou até à roupa das pessoas. Isso representa um desafio especialmente complicado no que diz respeito ao design. Para ser vestido, precisa ser bonito, fashion e desejável. “O Galaxy Gear vai virar um novo ícone de moda ao redor do mundo”, afirmou JK Shin, chefe da divisão de dispositivos móveis da Samsung. 
O teste definitivo para os smart-watches começa em 25 de setembro, quando o novo aparelho da Samsung será lançado mundialmente. A previsão, segundo o diretor de produto da empresa no Brasil, Roberto Soboll, é de que o Galaxy Gear esteja nas lojas nacionais já no início de outubro. Mas nem todos poderão usá-lo. Num primeiro momento, ele funcionará apenas quando sincronizado com o “phablet” (mistura de phone com tablet) Galaxy Note 3 e o tablet Galaxy Note 10.1, também apresentados na IFA 2013. A promessa é de que o Gear passe a trabalhar junto com os smartphones Galaxy S3 e S4 ainda neste ano, assim que o sistema operacional desses aparelhos for atualizado. Nos EUA, o relógio inteligente vai custar US$ 299. Ainda não há preço definido para o Brasil, mas não deve ficar abaixo de R$ 1,3 mil. Quem disse que pertencer à geração dos nativos digitais sai barato?
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CHARGE DO REGI


CHARGE DO BRUM


Esta charge do Brum foi feita originalmente para o

Orientar filhos que sofrem bullying na escola é um dilema para os pais


seg, 02/09/13
por Ana Cássia Maturano |

Algumas situações colocam a toda prova o papel dos pais. Uma delas é quando um ou outro colega hostiliza ou agride seu filho. A vontade da maioria é ir tirar satisfação, dar alguns sopapos no possível agressor ou ensinar ao pequeno alguns golpes para que o próprio se defenda. Não é nada fácil vê-lo sofrendo nas mãos de outro.
Acontecimentos como esses se dão pela vida toda. No entanto, a atitude a tomar nessas ocasiões se transforma em um dilema para muitos: instruem o filho a se defender, ensinando-o a “brigar”, ou deixam que se vire sozinho? Afinal, ele tem que aprender a lidar com pessoas assim e em assunto de criança adulto não mete a colher.
Nem uma coisa e nem outra. Deve-se considerar, a princípio, como o guri reage à situação. Enquanto alguns se viram sem intervenção alguma, outros parecem sofrer calados à hostilidade alheia.
Preparar os filhos para a vida inclui ensiná-los a se defender. Não com tapas, é certo. As crianças já os praticam o bastante sem que sejam estimuladas a tanto. Talvez, ajudando-os a refletirem sobre as situações que surgem possibilitará que se fortaleçam para enfrentá-las, principalmente considerando aqueles que pouco ou nada reagem.
Quando a situação ocorre continuamente, vale o questionamento do porquê de o filho se submeter ao outro de tal maneira. Muitas pessoas confundem amizade com necessidade de agradar ao outro, mesmo que isso as desagrade.
Recordo-me de uma garota de oito anos que na escola comprava balas ou dava moedas para uma colega em troca de ser sua BFF (best friend forever – melhor amiga para sempre). Porém, no outro dia, apesar do “pagamento”, o compromisso se desfazia. Contou à mãe e a indignação tomou conta. Mantendo a calma, pode lhe dizer que amigos não se compram e que só de a colega lhe fazer tal proposta já indicava que ela não era boa amiga. Caso a colega tivesse fome e ela, dinheiro, que lhe comprasse um lanche. Mas jamais em troca de amizade.
A lição foi aprendida e a garotinha não mais cedeu aos pedidos da colega. No caso, aquela que subornava era alguém que causava uma forte impressão no grupo em geral, e todas queriam ser suas amigas. Ciente disso, e muito habilidosa, ela valorizava sua amizade.
Assim, a mãe, mais que proteger a filha, ensinou-a a perceber a situação e a instruiu como agir – algo a ser aprendido para a vida. O que, de certo modo, ajudou a outra menina a ser diferente. Se tivesse batido boca, o resultado não seria o mesmo e a aprendizagem, outra: diante de dificuldade num relacionamento, o melhor é gritar.
Neste caso, não daria para ficar de braços cruzados e esperar que por si só a criança percebesse o engano daquela relação, ao menos naqueles termos. Se podemos perceber antes, temos o dever de orientá-la, até porque ela pode pensar que tem que ser daquele jeito.
Outras situações têm um tom mais grave por envolver agressão física. Ninguém quer ver o filho apanhar calado. O melhor é que ele se afaste do agressor e, se não tiver jeito, que não permita que ele o agrida. Mesmo que para isso tenha que usar de força física – apenas para se defender (não ir atrás para agredir). Se chegar neste ponto, também cabe uma boa reflexão sobre o ocorrido.
O mais certo para os pais e os filhos é que juntos eles encontrem o melhor jeito de lidar com a situação. Os adultos, por serem mais experientes, têm a obrigação de orientar as crianças, que precisam muito de proteção. Num contexto de aprendizagem que servirá para toda a vida.

Este é o retrato, por Cristiana Lôbo


qui, 29/08/13

A votação na Câmara do pedido de cassação do mandato do deputado Natan Donadon, que está preso na Papuda em Brasília desde 28 de junho, espelha exatamente o que pensa o Congresso sobre cassação de mandatos de parlamentares. É contra. E, pelo visto, em qualquer situação. Donadon foi condenado pelo STF a mais de 13 anos de prisão por crime de desvio de dinheiro público, depois de muitas tentativas de prorrogar o julgamento pela Corte.
A repercussão tem sido grande e isso pode alterar um pouco o resultado de votações próximas, no caso dos parlamentares condenados pelo processo da Ação Penal 470, o chamado Mensalão. Mas, pelos cálculos de importantens lideranças do Congresso, nada que mude o resultado final. No caso do julgamento dos condenados no mensalão, o placar poderá mostrar um número menor de ausências e aumentar o número de abstenções. A cassação do mandato  só é aprovada quando recebe pelo menos 257 votos. Donadon recebeu 233 votos pela cassação de seu mandato e escapou.
É por isso que há um grupo que defende o voto secreto em todas as votações, inclusive, para a cassação de mandatos parlamentares. Eles acreditam que expostos ao julgamento da opinião pública, os parlamentares seriam mais severos com seus colegas. Pode ser. Mas é importante saber que o que pensam o0s parlamentares quando o assunto é o mandato de um colega condenado e que saiu do prédio do Congresso algemado e acompanhado por dois policiais.
Talvez seja criada a seguinte situação para aqueles que estão condenados a menos de oito anos de prisão e que, portanto, cumprirão pena em regime semi-aberto: eles trabalhariam no Congresso durante o dia e voltariam à prisão para dormir. Que tal?

Falta de certidão negativa não inviabiliza pagamento devido pelo GDF

Judiciário

10:06:15

O 2º Juizado da Fazenda Pública condenou o Distrito Federal a pagar o valor contratado com um fornecedor, correspondente a prestação de serviços efetivamente executados, mesmo ante a ausência de certidão negativa de débitos fiscais. O DF recorreu, mas a sentença foi mantida pela 1ª Turma Recursal do TJDFT. ...

O autor conta ter firmado com o Distrito Federal contrato de prestação de serviços para fornecimento de coffee break (coquetel e ornamentação), no dia 04/12/2012. Acrescenta que prestou os referidos serviços, mas o DF nega-se a pagar a quantia de R$ 7.540,00, objeto da Nota de Empenho nº 2012NE00369, ao argumento de não ter o autor apresentado certidão negativa de débitos com a fazenda pública local.

Ao analisar a demanda, a juíza registra que a Lei de Licitações (Lei nº 8.666/93), em seu artigo 55, inciso XIII, disciplina:

“Art. 55. São cláusulas necessárias em todo contrato as que estabeleçam: (…)
XIII – A obrigação do contratado de manter, durante toda a execução do contrato, em compatibilidade com as obrigações por ele assumidas, todas as condições de habilitação e qualificação exigidas na licitação.

A própria lei disciplina quais são os requisitos para a habilitação de uma empresa a formatar um contrato com a administração, quais sejam:

Art. 27. Para a habilitação nas licitações exigir-se-á dos interessados, exclusivamente, documentação relativa a:

I – habilitação jurídica;
II – qualificação técnica;
III – qualificação econômico-financeira;
IV – REGULARIDADE FISCAL (não consta grifo no original)
V – cumprimento do disposto no inciso XXXIII do art. 7o da Constituição Federal”.

Diante disso, a magistrada conclui que a exigência formulada pela administração pública “está em consonância com a norma de regência, não havendo que se falar em exigência ilegal ou arbitrária”. Ocorre, prossegue a julgadora, “que a retenção de valores não encontra amparo em nenhum dispositivo, pelo contrário viola o princípio da legalidade (art. 37, caput, da CF/88), porquanto ao Estado é imposta a observância dos deveres prescritos em lei”.

A juíza ressalta que a exigência de regularidade fiscal é motivo que impede a participação em licitação e assinatura de contrato administrativo, mas não o pagamento pelos serviços já executados, sob pena de inviabilizar-se a continuidade da execução do próprio contrato já celebrado e a manutenção do serviço público. Assim, “se na norma não há autorização para a retenção de valores, é forçoso o reconhecimento da ilegalidade da conduta do requerido, sob pena, inclusive, de enriquecimento ilícito”.

Logo, constatado que os serviços contratados foram executados e prestados a contento do contratante, a pretensão ao recebimento é medida que se impõe, devendo o valor a ser pago ser atualizado, a partir da data da execução do serviço, quando deveria ter ocorrido o pagamento.

Processo: 2013.01.1.031677-7T
Fonte: Estação da Notícia com TJDFT - 07/09/2013

Eric Clapton Nobody Knows You 12.12.12. Concert HD

Neil Young - Heart of Gold (Live at Farm Aid 1985)

O Brasil das placas...e o Brasil das ruas


O novo livro de Laurentino Gomes, '1889', disseca o início da República. O que esse período pode ter de inspirador para o Brasil de hoje

JOÃO GABRIEL DE LIMA
30/08/2013 13h23 
O BRASIL DAS PLACAS...E O BRASIL DAS RUAS (Foto: Ricardo Jaeger/ÉPOCA, Ricardo Duarte/Ag. RBS e reprodução)

AVENIDA JÚLIO DE CASTILHOS (Foto: Reprodução)
No romance Esaú e Jacó, Machado de Assis conta a história de uma placa – e, usando sua famosa “pena da galhofa”, zomba da Proclamação da República. No livro, o personagem Custódio encomenda um letreiro para seu estabelecimento comercial, a “Confeitaria do Império”. Ao saber que Dom Pedro II está prestes a cair, despacha uma mensagem para o pintor, pedindo que interrompa a confecção da placa: “Pare no d...”. A mensagem chega tarde demais, e Custódio tem de mandar pintar um novo letreiro. Pensa em mudar o nome da loja para “Confeitaria da República”, mas o novo regime não lhe parece muito sólido. “Confeitaria do Governo” – mas o que fazer com os clientes da oposição? No final, a placa que pendura sobre a porta de entrada leva um nome desprovido de controvérsia: “Confeitaria do Custódio”.

No livro 1889 (Globo Livros, 416 páginas, R$ 44,90), o jornalista Laurentino Gomes lembra que a Proclamação da República abriu muitos postos de trabalho justamente para eles, os fabricantes de placas. Logo depois que o novo governo tomou posse, 46 logradouros públicos mudaram de nome só na capital do país, o Rio de Janeiro. Até hoje, várias ruas e praças do país levam nomes de republicanos, ilustres ou desconhecidos. Da Praça Serzedelo Correa, no Rio, endereço de estabelecimentos decanos da boemia de Copacabana, à Avenida Benjamin Constant, em Campinas, onde ficam a Biblioteca Municipal e o Museu de Arte Contemporânea. Da Avenida Sena Madureira, em São Paulo, onde se situam várias clínicas e hospitais, à Avenida Júlio de Castilhos, em Porto Alegre, endereço do mercado público e da popular Temakeria Japesca. Ironicamente, ou coincidentemente, várias dessas ruas – a começar pela Júlio de Castilhos – abrigaram passeatas no último mês de junho. É irresistível a pergunta: o que o Brasil das placas, que iniciou a República, tem a dizer ao Brasil das ruas, que pretende revigorar nossa democracia?

Algumas respostas possíveis estão em 1889, último capítulo da trilogia que tornou 1808 (sobre a vinda da família real portuguesa ao Brasil) e 1822 (sobre a proclamação da independência) best-sellers que venderam, somados, 1,5 milhão de exemplares. Como em suas obras anteriores, Laurentino pousa sobre a História um olhar de jornalista. O livro reconstitui, de maneira precisa e detalhada, fatos que todos acham que conhecem, mas na verdade poucos conhecem direito. Deles emergem os campeões de nomes de ruas. São três heróis improváveis que, no livro, protagonizam um enredo de quartelada bufa: Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto e Benjamin Constant. Três militares que em nada lembram os pais fundadores de outra república, a americana, inspiradora do novo nome do país: Estados Unidos do Brasil.

O marechal que fundou a República, Deodoro da Fonseca, na verdade não era republicano. Admirava o imperador Dom Pedro II e hesitou até o último instante em promover a mudança de regime. Outro militar, Floriano Peixoto, surge no livro como um agente duplo. Ajudante general do Exército, era o responsável pela segurança dos integrantes do governo imperial, a quem devia fidelidade. Ao mesmo tempo, conspirava com Deodoro contra os “casacas” – os líderes do poder civil. E Benjamin Constant, o ideólogo da República, tinha pouco da ideologia democrática dos “pais fundadores” americanos, como Thomas Jefferson ou Benjamin Franklin. Influenciado pelo filósofo francês Augusto Comte, achava que a República deveria, como o comunismo, iniciar-se com uma fase autoritária – uma paradoxal “ditadura republicana”.
 
PARQUE DOM PEDRO II (Foto: Rogério Cassimiro/ÉPOCA e reprodução (2))
Havia clima no país para uma mudança de governo. O imperador estava cansado e doente. O Império perdera o apoio de parte dos grandes proprietários de terra quando, em 1888, a princesa Isabel aboliu a escravatura. Perdera também o apoio da caserna, devido a um punhado de brigas regionais que ficaram conhecidas como a “questão militar”. Por que o poder foi parar justamente nas mãos dos republicanos, gente boa de pena, como os jornalistas Quintino Bocaiúva e Júlio de Castilhos, mas péssima de política? Existem várias explicações possíveis. A proposta por 1889 é que, no mínimo, eles agiram rápido e com senso de oportunidade. Uma ala dos republicanos recorreu a um general literalmente de pijama. Atormentado pela aterosclerose, o herói de guerra Deodoro da Fonseca, aos 62 anos, era o único capaz de unir o Exército em torno dele. A data do golpe, previsto para 20 de novembro, foi antecipada porque os republicanos tinham medo de que Deodoro morresse de uma hora para outra. 

Inicia-se aqui o enredo bufo – e os percalços do Custódio do romance, que tinha razões para ficar desconfiado. Quando o velho marechal resolveu marchar, deram-lhe um cavalo cansado que não o derrubasse. Deodoro manteve-se na sela, liderou o levante, valeu-se da traição dos comandados por Floriano, tomou o poder do Visconde de Ouro Preto, primeiro-ministro de Dom Pedro II – e não proclamou a República. Ficou em dúvida entre atender aos apelos de Benjamin Constant e devolver o poder ao imperador Dom Pedro II, a quem admirava. Derrubou o governo e voltou para a cama. Segundo o historiador Hélio Silva, citado no livro, só se decidiu a proclamar a República quando soube quem Dom Pedro II cogitava nomear para o lugar de Ouro Preto, caso recuperasse o poder: o gaúcho Gaspar Silveira Martins. Deodoro e Silveira Martins eram inimigos desde que haviam disputado o coração da viúva Maria Adelaide de Andrade Neves, a baronesa do Triunfo. Silveira Martins, capaz de citar sonetos de Shakespeare em inglês, levou a melhor com a beldade, que ainda por cima era sua conterrânea. Deodoro, mais afeito à ciência militar que aos versos elisabetanos, nunca se recuperou da ferida no cotovelo. Segundo Hélio Silva, a República foi proclamada, entre outras coisas, por esse desejo de vingança pessoal.
>> Danilo Venticinque: Ler para fugir da vida – ou para mergulhar nela 

A República trouxe inegáveis avanços institucionais ao Brasil. Na primeira Constituição, de 1891, foram reconhecidos três poderes independentes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Ao contrário do que acontecia no Império, o Executivo não podia dissolver o Legislativo quando bem quisesse. Deodoro, primeiro presidente do regime republicano, reclamou bastante desse item. O direito de propriedade foi aperfeiçoado, e o direito a voto foi estendido. Na prática, nada disso funcionou direito. Tanto Deodoro quanto seu sucessor, Floriano Peixoto, governaram de regime de exceção em regime de exceção, perseguindo a imprensa e matando os opositores.
 
Rua Floriano Peixoto (Foto: Rogério Cassimiro/ÉPOCA e reprodução)
O calculista Floriano, sempre retratado em cartuns como uma cobra ou um sapo, costumava dizer que havia momentos em que era necessário trancar a Constituição numa gaveta, para depois devolvê-la limpa à população. “Examinando a História em perspectiva, Deodoro, Floriano e Benjamin Constant são figuras menos relevantes que Dom Pedro II ou Getúlio Vargas, que deixaram realmente uma marca no país”, diz o historiador José Murilo de Carvalho, autor de dois clássicos sobre o assunto: A formação das almas e Os bestializados. E efêmeras. Depois de romper com estardalhaço, com direito a desafio para duelo, Benjamin Constant e Deodoro da Fonseca morreram, respectivamente, em 1891 e 1892. Floriano Peixoto morreu em 1895, pouco depois de passar o poder ao paulista Prudente de Morais, o primeiro presidente civil.

Outros brasileiros do século XIX, igualmente elevados ao status de nome de ruas, deixaram contribuição intelectual mais duradora. “Não deixa de ser irônico que as cabeças mais avançadas do período estivessem do outro lado, o Império. Casos de André Rebouças e Joaquim Nabuco, por exemplo”, afirma o historiador Marco Antônio Villa. Nabuco era um liberal cosmopolita, que acreditava em instituições que funcionassem de verdade – como na Inglaterra e nos Estados Unidos, países que conhecia e admirava. Laurentino cita em seu livro uma frase de Nabuco: “A escravidão não permitiu que nos organizássemos e, sem povo, as instituições não têm raízes, a opinião não tem apoio, a sociedade não tem alicerces”.
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Sob o eco da frase de Nabuco, é o caso de voltar à pergunta inicial: o que o Brasil das placas tem a dizer ao Brasil das ruas? Com a palavra, Laurentino. Na última página do livro, ele lembra não as manifestações de junho de 2013, mas as de 1984 – que, segundo ele, fundam um novo período na República: “Ruas e praças de todo o Brasil foram palco de coloridas, emocionadas e pacíficas manifestações políticas, nas quais milhões de pessoas exigiam o direito de eleger seus representantes. A Campanha das Diretas, que pôs fim a duas décadas de regime militar, abriu o caminho para que a República pudesse, finalmente, incorporar o povo na construção de seu futuro”.
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O Brasil de hoje ainda vive enredos bufos com consequências trágicas. É só pensar no mensalão ou nos escândalos do Congresso. Como diz Laurentino, é outro país. A começar por um fato: ao contrário dos tempos de “ditadura republicana”, em que a ameaça de quarteladas estava sempre no ar, somos responsáveis pelos políticos que elegemos. Se nos decepcionarmos, podemos retirá-los do poder mediante voto. Só 100 anos depois de 1889, depois de superar uma enraizada cultura autoritária, elegemos o primeiro presidente da nova fase. Se o Brasil das placas tem uma lição a dar ao Brasil das ruas, talvez seja esta: a democracia é uma construção demorada, difícil – mas quem foi às ruas lutar por ela sabe que o esforço vale a pena. 
 
Avenida Constant (Foto: Rogério Cassimiro/ÉPOCA e reprodução)