sábado, 30 de agosto de 2014

Cartas de Buenos Aires: Argentina: “o Haiti é aqui”, diz estudo

http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2014/08/30/cartas-de-buenos-aires-argentina-haiti-aqui-diz-estudo-547567.asp

Gabriela Antunes
Está cada vez mais down no high society”, é como se traduz o estudo do Institute for Economics & Peace que, nesta sexta-feira, em seu Global Peace Index Rankings, colocou a Argentina em terceiro lugar na escala mundial de países possíveis de entrar em conflito, perdendo apenas para Zâmbia e Haiti.
“Os dez países mais prováveis de ter deterioração de suas condições de paz são Zâmbia, Haiti, Argentina, Chade, Bósnia e Herzegovina, Nepal, Burundi, Geórgia, Libéria e Qatar. Países que vão de baixa a altas rendas e um leque de todas as formas de Governo que excluem uma democracia completa”, afirma o documento.
Esses países podem se tornar palco de conflitos entre 2014 e 2016.
Ainda de acordo com o levantamento, essas nações têm um elemento em comum: nenhuma tem uma democracia forte e plena.
O ranking foi divulgado um dia após a greve geral que atingiu a Argentina nesta quinta-feira, paralisando os serviços aéreos, portuários, de trens, lixeiros, bancos, hospitais, alguns colégios e outros serviços. Os vôos do Brasil para Buenos Aires chegaram a ser cancelados.
O Governo minimizou o impacto da greve convocada por centrais sindicais opositoras a Cristina Kirchner afirmando que 75% dos trabalhadores não aderiram à paralisação. Do outro lado, as centrais sindicais divulgaram que a adesão foi de 80%. Impossível medir de forma independente quem foi o ganhador e perdedor nessa queda de braço.
No entanto, a greve parece corroborar com o estudo, ao expressar que a Argentina padece do aumento da violência, decadência social, econômica e, principalmente, democrática.
“Essa lista mostra que regimes híbridos são mais suscetíveis à deterioração da paz. A presença do Qatar e Argentina na lista indica que renda alta ou uma melhor governança não eliminam completamente o risco do país”, diz o estudo.
O estudo também apontou o aumento da violência como um dos fatores de deterioração.
“O Haiti é aqui”.
A Argentina é único país latino americano na lista dos países mais prováveis de entrar em conflito, junto com países historicamente marcados por guerras ou paupérrimos. É uma previsão aterradora que, apesar das dificuldades por aqui, ninguém vislumbra. Exagero?
O “Good Morning, Vietnam” do Global Índex seria muito questionado pelo Governo de Cristina Kirchner, que nega estar o país em crise, menos ainda no aspecto democrático. Cristina foi eleita, afinal de contas, com 54% dos votos.
Há anos os argentinos vivem sob ameaça de um Armagedom financeiro. Porém, até então, o país não havia sido mapeado como uma “zona de conflito”.

“Manifestação”, quadro do pintor argentino Antonio Berni 

Gabriela G. Antunes é jornalista e nômade. Cresceu no Brasil, mas morou nos Estados Unidos e Espanha antes de se apaixonar por Buenos Aires. Na cidade, trabalhou no jornal Buenos Aires Herald e hoje é uma das editoras da versão em português do jornal Clarín.Escreve aqui todos os sábados.

Taxas de condomínio subiram acima da inflação nos últimos dois anos e meio. Entenda seus direitos como inadimplente ou em caso de altos reajustes



 : Condomínio: sufoco para pagar
Área comum de condomínio: aumento de custos com folha de pagamento e reforma para valorização dos imóveis são argumentos para a alta das taxas – Divulgação/Governo Federal
condomínio deixou de ser uma conta paralela. Com aumentos significativos, a taxa condominial tem ganhado cada vez mais destaquenos orçamentos pessoais.
Nos últimos dois anos e meio, os gastos com condomínio no Brasil subiram, em média, 23,27%, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A alta é superior à variação da inflação medida pelo IPCA no período, de 15,51%.
E se na média a alta fica na casa dos 20%, algumas regiões do país veem um aumento ainda mais acentuado.
Uma aposentada de 86 anos, que preferiu não dizer seu nome, conta que em menos de um ano passou a pagar um valor 30% maior na taxa de condomínio do seu apartamento, localizado em Perdizes, bairro nobre de São Paulo. “O valor sempre aumenta e raramente diminui”, reclama.
O valor pago passou de 665 reais a 870 reais por mês entre outubro de 2012 e setembro de 2013, uma alta de 30,82%. Hoje, a taxa cobrada já chega aos 851 reais. “É o preço de um aluguel, não?”, questiona.
O prédio de 52 apartamentos tem sete funcionários e portaria 24 horas, mas não tem área de lazer.
Entre os argumentos para os reajustes, estão as indenizações pagas a funcionários e algumas reformas imprevistas, além de aumento de custos corriqueiros.
Hoje, o condomínio corresponde a mais de 40% da renda mensal da aposentada, de 2 mil reais. Além de receber a aposentadoria, ela trabalha com a venda de cosméticos e panos de prato.

Para não ficar no prejuízo, administradoras fazem acordos com condôminos

Para contornar a inadimplência gerada pelo aumento das taxas condominiais, administradoras de imóveis têm realizado acordos com os moradores, facilitando o pagamento da mensalidade ao oferecer a opção de parcelamento da dívida por um período determinado.
Segundo Omar Anauate, diretor de condomínios da Associação Brasileira de Administradoras de Bens Imóveis de São Paulo (Aabic), esses acordos têm ajudado a controlar os atrasos nos pagamentos dos condomínios.
Do volume total de taxas condominiais pagas em junho na cidade de São Paulo, os atrasos de até 30 dias corresponderam a 5,81%, segundo a Aabic. E os atrasos de 30 a 90 dias, que configuram inadimplência, representaram 3,41% do total em abril.
O maior controle sobre a inadimplência ocorreu depois que a taxa de atrasos no pagamento chegou a atingir o pico de 7% em setembro de 2013 e alertou as administradoras.
Ainda que os níveis de atraso, no geral, não sejam alarmantes, em alguns condomínios os atrasos chegam representar 30% do total de mensalidades, segundo Marcelo Tapai, advogado especialista em direito imobiliário.

As consequências da falta de pagamento

Conforme explica Omar Anauate, ao deixar de pagar o condomínio, o morador pode ficar com o nome sujo, se estiver no Estado de São Paulo.
“A maioria das assembleias já aprovaram o protesto na região. Mas ele deve ser aplicado de forma igual a todos os moradores, e como último recurso”, diz o diretor da Aabic.
O protesto é uma medida usada em casos extremos porque algumas decisões judiciais já determinaram que o nome sujo não seria válido no caso das taxas de condomínios, já que não se trata da compra de um bem.
“O ideal é optar por uma cobrança extrajudicial sem expor o morador a situações constrangedoras e, posteriormente, enviar uma carta de cobrança judicial para o inadimplente”, diz Marcelo Tapai.
Mas o processo de cobrança na esfera judicial pode levar de dois a seis anos. Ao final deste prazo, o inadimplente pode ter seu apartamento leiloado.
Nesses casos, todos os condôminos são onerados pela perda do valor mensal enquanto a administradora não receber os pagamentos atrasados ou vencer a ação na Justiça.
Ao receber o valor da indenização, uma assembleia de moradores pode decidir usar os recursos extras para abater parcelas das mensalidades ou destiná-los a uma reserva de emergência do condomínio.
Para que a inadimplência seja controlada, é necessária uma política de cobrança efetiva por parte do síndico, uma vez que as multas pelo atraso podem ser baixas e não inibir a inadimplência. “A multa é mais barata do que os juros cobrados no cartão de crédito. A pessoa pode acabar pagando quando quiser”, diz Tapai.

Reajustes mais altos

Todos os gastos que têm impacto na mensalidade do condomínio devem ser aprovados em assembleia, mas para reprovar alguma decisão os condôminos precisam participar das reuniões.
Isso porque, enquanto a primeira chamada pode exigir a presença de 50% dos moradores, a segunda pode pedir apenas que a maioria dos moradores presentes esteja de acordo. “Se três participarem, bastam dois para aprovarem medidas”, diz Tapai.
Para evitar surpresas, como aumento de custos, os conselheiros do condomínio – moradores eleitos em assembleia que têm função de monitorar a atuação do síndico – devem acompanhar as contas da unidade.
Caso percebam que o síndico é omisso em relação à situação financeira do condomínio, é possível exigir que ele cumpra a sua obrigação.
“Isso deve ser feito por meio de uma carta de notificação formal, que deve pedir para que ele apresente um plano de cobrança em prazo determinado”, diz Tapai.
O síndico pode então responder pelos prejuízos e até ser destituído da função por meio de uma assembleia extraordinária.
Anauate explica que também é possível acompanhar contratos com fornecedores e verificar se é possível renegociar valores ou até implantar novos sistemas que economizem recursos.
É necessário também avaliar a proximidade entre o síndico e a administradora do imóvel. “A administradora é apenas uma auxiliar do síndico. Ela não pode influenciar na gestão do condomínio”, diz Tapai.
No caso de conflitos com o representante, contratar um síndico profissional, que não tenha relação com a administradora do imóvel, é uma opção.
A recomendação de fornecedores pela administradora do imóvel também deve ser investigada para evitar eventuais abusos nos valores dos contratos.
Fonte: Exame – Marília Almeida