terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Marcos Valério disse que Lula sabia de tudo e até recebeu dinheiro do mensalão



Felipe Recondo, Alana Rizzo e Fausto Macedo (O Estado de S. Paulo)
O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza disse no depoimento prestado em setembro à Procuradoria-Geral da República que o esquema do mensalão ajudou a bancar “despesas pessoais” de Luiz Inácio Lula da Silva. Em meio a uma série de acusações, também afirmou que o ex-presidente deu “ok”, em reunião dentro do Palácio do Planalto, para os empréstimos bancários que viriam a irrigar os pagamentos de deputados da base aliada.
 Valério contou tudo…
Valério ainda afirmou que Lula atuou a fim de obter dinheiro da Portugal Telecom para o PT. Disse que seus advogados são pagos pelo partido. Também deu detalhes de uma suposta ameaça de morte que teria recebido de Paulo Okamotto, ex-integrante do governo que hoje dirige o instituto do ex-presidente, além de ter relatado a montagem de uma suposta “blindagem” de petistas contra denúncias de corrupção em Santo André na gestão Celso Daniel. Por fim, acusou outros políticos de terem sido beneficiados pelo chamado valerioduto, entre eles o senador Humberto Costa (PT-PE).
A existência do depoimento com novas acusações do empresário mineiro foi revelada pelo Estado em 1.º de novembro. Após ser condenado pelo Supremo como o “operador” do mensalão, Valério procurou voluntariamente a Procuradoria-Geral da República. Queria, em troca do novo depoimento e de mais informações de que ainda afirma dispor , obter proteção e redução de sua pena. A oitiva ocorreu no dia 24 de setembro em Brasília – começou às 9h30 e terminou três horas e meia depois; 13 páginas foram preenchidas com as declarações do empresário, cujos detalhes eram mantidos em segredo até agora.
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NA ÍNTEGRA
O Estado teve acesso à íntegra do depoimento, assinado pelo advogado do empresário, o criminalista Marcelo Leonardo, pela subprocuradora da República Cláudia Sampaio e pela procuradora da República Raquel Branquinho.
Valério disse ter passado dinheiro para Lula arcar com “gastos pessoais” bem no início de 2003, quando o petista já havia assumido a Presidência. Os recursos foram depositados, segundo o empresário, na conta da empresa de segurança Caso, de propriedade do ex-assessor da Presidência Freud Godoy, uma espécie de “faz-tudo” de Lula.
O operador do mensalão afirmou ter havido dois repasses, mas só especificou um deles, de aproximadamente R$ 100 mil. Ao investigar o mensalão, a CPI dos Correios detectou, em 2005, um pagamento feito pela SMPB, agência de publicidade de Valério, à empresa de Freud. O depósito foi feito, segundo dados do sigilo quebrado pela comissão, em 21 e janeiro de 2003, no valor de R$ 98.500.
Segundo o depoimento de Valério, o dinheiro tinha Lula como destinatário. Não há detalhes sobre quais seriam os “gastos pessoais” do ex-presidente.
Ainda segundo o depoimento de setembro, Lula deu o “ok” para que as empresas de Valério pegassem empréstimos com os bancos BMG e Rural. Segundo concluiu o Supremo, as operações foram fraudulentas e o dinheiro, usado para comprar apoio político no Congresso no primeiro mandato do petista na Presidência.
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NO PLANALTO…
No relato feito ao Ministério Público, Valério afirmou que no início de 2003 se reuniu com o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, e o tesoureiro do PT à época, Delúbio Soares, no segundo andar do Palácio do Planalto, numa sala que ele descreveu como “ampla” que servia para “reuniões” e, às vezes, “para refeições”.
Ao longo dessa reunião, Dirceu teria afirmado que Delúbio, quando negociava com Valério, falava em seu nome e em nome de Lula. E acertaram, ainda segundo Valério, os empréstimos.
Nessa primeira etapa, Dirceu teria autorizado o empresário a pegar até R$ 10 milhões emprestados. Terminada a reunião, contou Valério, os três subiram por uma escada que levava ao gabinete de Lula. Lá, na presença do presidente, passaram três minutos. O empresário contou que o acerto firmado minutos antes foi relatado a Lula, que teria dito “ok”.
Dias depois, Valério relatou ter procurado José Roberto Salgado, dirigente do Banco Rural, para falar do assunto. Disse nessa conversa que Dirceu, seguindo orientação de Lula, havia garantido que o empréstimo seria honrado. A operação foi feita. Valério conta no depoimento que, esgotado o limite de R$ 10 milhões, uma nova reunião foi marcada no Palácio do Planalto. Dirceu o teria autorizado a pegar mais R$ 12 milhões emprestados.
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PORTUGAL TELECOM
Em outro episódio avaliado pelo STF, Lula foi novamente colocado como protagonista por Valério. Segundo o empresário, o ex-presidente negociou com Miguel Horta, então presidente da Portugal Telecom, o repasse de recursos para o PT. Segundo Valério, Lula e o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, reuniram-se com Miguel Horta no Planalto e combinaram que uma fornecedora da Portugal Telecom em Macau, na China, transferiria R$ 7 milhões para o PT. O dinheiro, conforme Valério, entrou pelas contas de publicitários que prestaram serviços para campanhas petistas.
As negociações com a Portugal Telecom estariam por trás da viagem feita em 2005 a Portugal por Valério, seu ex-advogado Rogério Tolentino, e o ex-secretário do PTB Emerson Palmieri.
Segundo o presidente do PTB, Roberto Jefferson, Dirceu havia incumbido Valério de ir a Portugal para negociar a doação de recursos da Portugal Telecom para o PT e o PTB. Essa missão e os depoimentos de Jefferson e Palmieri foram usados para comprovar o envolvimento de José Dirceu no mensalão.

O ministro da Justiça se mira no exemplo de dois antecessores e amplia o capítulo brasileiro da história universal da infâmia


Se os autores tiverem tempo e ânimo para desprezar também os coadjuvantes da Era da Mediocridade, Márcio Thomaz Bastos, Tarso Genro e José Eduardo Cardozo não escaparão de um punhado de parágrafos nos livros que vão contar a verdade sobre o Brasil deste começo de século. Os três foram ministros da Justiça. Os três subordinaram o mais antigo dos ministérios aos interesses eleitoreiros do PT e às conveniências político-policiais do governo. Os três protagonizaram episódios que ampliaram o capítulo brasileiro da história universal da infâmia.
Em julho de 2005, Márcio Thomaz Bastos foi escalado por Lula para garantir a impunidade dos quadrilheiros do mensalão. Nos sete anos seguintes, acumulou as funções de roteirista, diretor e, eventualmente, astro convidado do espetáculo do cinismo que vai terminar com um final exemplarmente infeliz para o elenco de canastrões bandidos. Por decisão do Supremo Tribunal Federal, o último capítulo da farsa concebida por Márcio será encenado na cadeia.
Em agosto de 2007, quando tentavam alcançar a Alemanha e a liberdade depois de terem escapado do alojamento dos atletas cubanos que participavam dos Jogos Panamericanos do Rio, os pugilistas Erislandy Lara e Guillermo Rigondeaux souberam que o ministro da Justiça do Brasil obedece a Fidel Castro. Reduzido a capitão-do-mato do ditador-de-Adidas, Tarso Genro devolveu à ilha-presídio, a bordo de um avião militar venezuelano, os dois fugitivos capturados pela Polícia Federal.
“Eles quiseram voltar”, recitou o ministro. A mentira foi implodida pela segunda e bem sucedida fuga dos pugilistas, que hoje moram e lutam nos Estados Unidos. Mas Tarso Genro não tem cura. Três anos depois da deportação dos dois cubanos, o companheiro gaúcho impediu que o terrorista em recesso Cesare Battisti fosse extraditado para a Itália e ali cumprisse a pena de prisão perpétua aplicada ao matador de quatro “inimigos do proletariado”. Tarso promoveu Battisti a “asilado político”, rasgou o tratado subscrito pelos dois países e luta para premiar o amigo homicida com a cidadania brasileira.
José Eduardo Cardozo está à altura dos antecessores, vem reiterando o desempenho do porquinho de Dilma que sobrou depois que Antonio Palocci reafirmou que é um caso sem remédio e José Eduardo Dutra tornou-se um caso clínico. Surpreendido pelos estrondos da Operação Porto Seguro, o ministro da Justiça foi encarregado pela chefe de provar que Lula conhece só de vista a comandante do escritório da Presidência em São Paulo ─ que não passa de uma funcionária mequetrefe.
Cardozo apareceu para o depoimento na Câmara com cara de quem vai ensinar que um consultor-geral do planeta não tem intimidade com gente do terceiro escalão. Acabou erguendo um monumento à tapeação. “Rosemary não participava do núcleo central da quadrilha”, afirmou no palavrório e quarta-feira. “Ao contrário, foi escanteada pelos seus membros, como mostram alguns diálogos interceptados”.
Desmentido dois dias depois pelo indiciamento de Rose também por formação de quadrilha, não teve tempo para organizar a retirada. “Deixei claro que, naquele momento, não havia elementos de formação de quadrilha”, improvisou. “Mas disse que nada impedia que houvesse indicação diferente se houvesse fatos novos no decorrer da investigação, com base em novos materiais apreendidos”. Ele é sempre o último a saber do que sabem até os porteiros da Polícia Federal.
Levado às cordas na sexta-feira, o ministro está grogue desde sábado, quando VEJA divulgou um e-mail enviado pela protegida de Lula ao seu comparsa Paulo Vieira. “Tarefa cumprida”, começa o recado. As linhas seguintes informam que a remetente conseguiu agendar encontros entre a juíza Vivian Josete Pantaleão Caminha, candidata a desembargadora do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, com figurões da República.
Um deles era Cardozo, confessa a atropeladora da língua portuguesa no trecho transcrito sem correções: “06.08.12. Audiência com o Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo as 19h00 ─ Ministério da Justiça ─ 4° andar sala 400″. Em 8 de outubro, Dilma oficializou a promoção a desembargadora a candidata apoiada pela quadrilha dos pareceres criminosos.
A sorte de Cardozo é ser ministro aqui. No mundo civilizado, qualquer figurão suspeito de ocultação de provas e obstrução da Justiça está arriscado a perder o direito de ir e vir. No Brasil, não perde nem o emprego.

HUMOR A Charge do Néo Correia




OBRA-PRIMA DO DIA - PINTURA Johann Vermeer: A Alcoviteira (1656)


 Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa - 
11.12.2012
 | 12h34m

Como acontecia com todos os pintores holandeses, Vermeer teve que seguir um curso de aprendizado com um mestre que fosse registrado na poderosa Guilda de São Lucas. Essa organização regulava a vida profissional e comercial dos pintores, artesãos e marchands.
O curso era rigoroso e o jovem aprendiz recebia ensinamentos abrangentes sobre a arte e a técnica da pintura e só depois do curso completo podia se filiar à guilda.
Como membro registrado lhe era permitido assinar e vender suas pinturas, assim como as de seus colegas.
Vermeer pagou como taxa de admissão seis florins, em dezembro de 1653. Normalmente, os recém admitidos cujos pais fossem ou tivessem sido membros da guilda pagavam três florins, desde que tivessem seguido o curso regulamentar com um mestre da Guilda, por pelo menos dois anos.
A única explicação encontrada pelos estudiosos da vida de Vermeer para o fato dele ter pago o dobro dos outros filhos de membros da Guilda é a possibilidade de que seu curso não tivesse sido feito em Delft.
Ao lado, detalhe do quadro Jovem lendo carta à janela. A modelo foi Catharina Bolnes, com quem Vermeer casou-se em abril de 1653. Ela era um ano e meio mais velha que ele, natural de Gouda, de família  católica. Era gente conhecida, respeitável e de boa situação financeira. Muitos historiadores afirmam que Vermeer se converteu ao catolicismo após o casamento ou pelo menos que participou ativamente da instrução religiosa de seus filhos na religião da mãe.
O fato inconteste é que foi um casamento feliz. Tiveram 15 filhos, dos quais somente 11 sobreviveram. Viveram em harmonia e alegria durante muitos anos, até o colapso financeiro do pintor, já no fim de sua vida.
A Alcoviteira: as cenas de prostituição quase sempre retratam jovens atraentes, elegantemente trajados em sedas e cetins. Ocupam geralmente toda a tela e o ambiente não é reconhecível.
Na verdade esses quadros não podem ser interpretados como descrições precisas da prostituição na Holanda no século XVII, pois pesquisadores importantes comprovaram que o ambiente da prostituição era insalubre e violento, com mulheres pobres e desesperadas, geralmente migrantes.
Na tela de Vermeer a cortesã e o jovem rapaz que solicita seus favores, provavelmente um soldado devido ao seu casaco vermelho, formam o motivo principal da pintura. A mão esquerda o soldado usa para pagar a moça e a direita ele coloca em cima do seio dela.
Há muito pouco tempo esse quadro passou por uma análise profunda e consequente restauração e ficou constatado que originalmente o rapaz não usava um chapéu e seu rosto recebia tanta luz quanto o da moça. Também que ele olhava para o rosto dela e não para a moeda que deposita em sua mão.
O chapéu pode ter ensombrecido o rosto dele, mas destacou ainda mais a importância que Vermeer pretendia dar à unidade das duas figuras, dando à moça um destaque maior.
Outros detalhes que chamam a atenção:  a jarra de vinho, considerada um verdadeiro tesouro na obra de Vermeer. Em nenhum outro de seus quadros – nem mesmo em A Leiteira – veremos um objeto pintado tão minuciosamente. Pelas cores, a base cinza claro e as riscas em puro lápis lazuli, os especialistas acham que é muito provável que a louça fosse importada da Alemanha, de Westerwald, uma área coberta por densa floresta que fica em Colônia sobre o Reno, famosa por suas cerâmicas desde o século XVI. 
Também o fato, sem comprovação, mas aceito por muitos especialistas e estudiosos, que o rapaz à esquerda, todo sorridente, é um autorretrato do pintor.
E a beleza do tapete que cobre as pernas da alcoviteira. Como mencionado ontem, Delft era famosa pelas belíssimas tapeçarias. Em nove de suas telas, Vermeer usa tapetes talvez com a alegria de usar tantas cores. Nesse quadro, infelizmente, ficou constatado que o azul desmaiou com o tempo. O desenho do tapete é um Ushak, cidade da Turquia Ocidental famosa pelos tapetes com a trama em medalhões.

A Alcoviteira é uma das poucas telas cuja assinatura foi aposta pelo próprio Vermeer. Pode ser vista bem em baixo, no canto à direita, em tinta marron escuro.
A Alcoviteira, óleo sobre tela, mede 143 x130 cm.

Acervo Gemäldegalerie (Museu de Arte Antiga), Dresden

Nova disciplina escolar no Congresso, por Ateneia Feijó



Acabara de pagar minhas compras no supermercado e já estava fora da loja, quando um rapaz me avisou que a moça da caixa estava me chamando. Eu pagara com o cartão. Teria havido algum problema? Voltei. Sorrindo, apontando para um cantinho do balcão ela falou: “A senhora esqueceu seu celular.”
O celular não era meu. Então, a jovem chamou o gerente passando-lhe o objeto esquecido. Não quis se aproveitar de uma situação prejudicando outra pessoa e tampouco se apoderar do que não lhe pertencia. Ela foi ética ou honesta? Ética e honesta!
A recompensa? Sentir-se prazerosamente bem (mesmo inconscientemente), colaborando para um mundo com mais confiança. Por quê? A moça respondeu quando um homem lhe deu os parabéns por sua atitude: “Lá em casa a gente foi criada assim.”
A história é verdadeira. A maioria das pessoas ainda consegue discernir o que é certo do que é errado. Acredito que essa jovem dificilmente seria corrompida ou tentaria corromper alguém.
Haveria alguma câmara filmadora por perto? Ah, para quem estivesse a fim de afanar o celular naquele cantinho seria fácil driblar o alcance da lente.
O hábito de agir corretamente se aprende praticando em família, creches, sindicatos, partidos políticos, delegacias policiais, gabinetes de governo e clubes esportivos. Sem dispensar alegria, brincadeira, bom humor. E cidadania, com garantia de direitos e desempenho de deveres.
Está para ser votado na Câmara de Deputados o projeto de lei do senador Sérgio Souza (PMDB-PR) propondo mais uma modificação na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996. Desta vez, para incluir Cidadania Moral e Ética como disciplina obrigatória no ensino fundamental. E, no médio, Ética Social e Política.
A intenção pode até ser boa. Mas para que sobrecarregar as crianças com essas matérias? É impossível lhes dar qualquer formação ética, social e política apenas com abstrações em sala de aula. Seria necessário citar modelos sociais e políticos existentes; e adotados no país. De exemplos de práticas na presidência da República, no Senado, na Câmara de Deputados...
Uma tremenda saia justa para os professores. Qualquer dia vão querer que lecionem Honestidade como disciplina escolar. Em contrapartida, há quem sugira uma espécie de Enem para os períodos pré-eleitorais. Durante as provas os candidatos ficariam sujeitos a aprovação, reprovação ou punição por malfeitos.
Vou entrar de férias. Retorno dia 21 de janeiro de 2013. Feliz Ano Novo!

Ateneia Feijó é jornalista

A árvore de Chanuká, Jane Bichmacher de Glasman


"… Costumes fúteis do povo! Cortam com machado uma árvore do bosque; enfeitam-na com prata e ouro e fixam-na com pregos e martelos para que não se mova…". De quem são essas palavras? De um pastor irritado? De um cristão, contra o materialismo do Natal moderno? De um ateu? Não! Eu as traduzi deJeremias, 10: 3-4! Sim, do profeta bíblico…
Elas só vêm atestar a antigüidade do costume da hoje conhecida como árvore de Natal… Não se sabe dizer ao certo quando ela surgiu. Mas ao longo da história, foi incorporada aos hábitos de vários povos. Lendas tentam explicar o motivo porque ela é usada comosímbolo do Natal – ligadas ao fato de que algum povo adorava árvores. A mitologia fala de vários deuses que morriam e ressuscitavam para simbolizar as forças vitais que emergiam das entranhas da terra: Adad (Assíria), Adônis (Grécia), Apolo (Grécia), Átis (Frígia), Baal (Fenícia), Baco (Roma), Bali (Afeganistão), Balenho (Celtas), Crestus (Alexandria), Buda (Nepal), Deva Tat (Sião), Dionísio (Grécia), Fo (China), Hércules (Grécia), Hórus (Egito), Indra (Tibet), Joel (Germanos), Mitra (Pérsia), Odin (Escandinávia), Prometeu (Cáucaso), Quetzocoalt (Olmecas, Maias), Serapis/Osíris (Egito), Tamuz (Suméria), Thor (Gália). Uma árvore estilizada é o símbolo de muitos deuses ressuscitado.
Os egípcios consideravam a tamareira como árvore da vida e levavam-na para casa nos dias de festa, enfeitando-a com guloseimas para as crianças. Celebravam, no solstício de inverno (dia mais curto do ano; no hemisfério norte, em dezembro), o nascimento de Horus, filho da virgem Isis. Traziam galhos verdes de palmeiras para dentro de suas casas, simbolizando o triunfo da vida sobre a morte. Na antiga Babilônia, em 25 de Tebet (correspondente a dezembro), comemorava-se o nascimento deTamuz, o deus jovem filho de Nimrod e de sua esposa, Semiramis, que também era a sua própria mãe. Celebrava-se a reencarnação de Nimrod em seu filho. Moedas antigas foram encontradas mostrando um toco de árvore (representando a morte de Nimrod) e uma árvore crescendo próxima (Tamuz). O nome Semiramis é a forma helenizada do sumério Sammur-amat (=dádiva do mar). Também era conhecida por Ishtar que gerou a palavra Easter (Páscoa) e Este (onde nasce o Sol).
Os fenícios chamavam-na Ashtart ou Asterath. Cada cidade fenícia tinha seu deus, associado a uma entidade feminina. Biblos adorava Adônis (deus da vegetação), cujo culto se associava ao de Ashtart (a caldéia Ihstar; a grega Astartéia), deusa da fecundidade. Os cananeus adoravam Asherah, em rituais frente a uma árvore que a representava. Sacrifícios eram feitos na Escandinávia ao deus Thor, ao pé de uma árvore frondosa. Nas culturas célticas, os druidas tinham o costume de decorar velhoscarvalhos com maçãs douradas para festividades também celebradas na mesma época do ano. Em 25 de dezembro era comemorado também o dia do deus pagão Adônis. Amante de Vênus, ele morria tragicamente todos os anos no solstício de inverno e ressuscitava. Nessa data Constantino executava alguns prisioneiros e colocava suas cabeças penduradas em uma árvore. Teria alguma macabra relação com a árvore de Natal?
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Na Roma Antiga, os romanos enfeitavam árvores em honra de Saturno, deus da agricultura, pendurando em pinheiros máscaras de Baco, deus do vinho, para celebrar a Saturnália, festival celebrado entre 17 e 23 de dezembro. 25 de dezembro era a celebração do nascimento do sol invicto (Natalis Solis Invicti), do deus Mitra, cujo culto penetrou em Roma no século I AEC e a data, no calendário romano em 274, com o Imperador Aureliano. Romanos trocavam entre si ramos de árvores verdes para desejar boa sorte nas calendas (primeiro de janeiro). Os ingleses tomaram o costume da árvore emprestado para usá-lo durante as comemorações do Natal. Os alemães provavelmente foram os primeiros a enfeitarem a árvore de Natal.
Para alguns, ela data do tempo de S. Bonifácio, que, no século VII, pregava na Turíngia (região da Alemanha) e usava o perfil triangular dos abetos como símbolo da Trindade. Assim, o carvalho, até então considerado como símbolo divino, foi substituído peloabetoLutero, autor da Reforma protestante do século XVI, montou um pinheiro enfeitado com velas em sua casa para mostrar às crianças como deveria ser o céu na noite de nascimento de Jesus. Para os místicos, a árvore de Natal representa esotericamente o Diagrama Cabalístico da Vida conhecido como Árvore Sefirótica. Nele vemos representadas as dez dimensões do Universo nos dez galhos, que vão de Keter (Coroa), a Malkut (o mundo físico). Entre as explicações para a escolha do dia 25 de dezembro como sendo o dia de Natal há o fato de esta data coincidir com a Saturnália dos romanos e com as festas germânicas e célticas do Solstício de Inverno; sendo todas estas festividades pagãs, a Igreja viu uma oportunidade de cristianizar a data. Oelemento judaico que contribuiu para a confusão ou co-fusão foi Chanuká, comemorada na mesma época, só que em data fixa. Provavelmente a proximidade de datas e a fusão dos festejos pagãos de dezembro, com Chanuká, com início em 25 de kislev, tenha determinado o 25 de dezembro.
Não-judeus muitas vezes pensam que Chanuká seja uma espécie de "Natal judaico"… o que não é.  Chanuká celebra a vitória dos Macabeus sobre os invasores gregos que haviam tomado o Segundo Templo, no ano 164 AEC; o maior símbolo é o candelabro de oito velas. Há costumes judaicos e cristãos semelhantes nesta época (decoração, luzes, comidas). Mas a motivação é diferente, para cada um dos grupos religiosos. Se Jesus nasceu em dezembro, seria próximo de Chanuká, que ele, como judeu, comemorou durante sua vida, o que a Bíblia cristã confirma, em João 10:22, 23: "Nesse tempo ocorreu em Jerusalém a festividade da dedicação [em hebraico, Chanuká]. Era inverno, e Jesus estava andando no templo, na colunata de Salomão". Na verdade, consideroNatal e Reveillon as festas cristãs mais judaicas. Afinal, Natal comemora o nascimento de um menino judeu e Reveillon, seu brith-milá (circuncisão).
“ Chrismukkah” é um neologismo norte-americano referindo-se à fusão das festas deNatal e Chanuká comemorada por famílias de casamentos mistos entre judeus e cristãos. Ficou popular entre jovens depois de um episódio do seriado televisivo O.C., quando a festa foi comemorada pelo grupo de Seth Cohen, filho de pai judeu e mãe cristã. Anos antes do atual modismo, eu escrevi um artigo em que criei o neologismo em português “Hanukal” ou “Natuká”. Hoje são organizadas festas temáticas, em que a tônica é a mistura e a convivência de símbolos de ambas as festividades. Também surgiu um lucrativo comércio, na esteira da celebração. Até famílias só judaicas vêm aderindo, a partir principalmente da vontade de ter uma árvore de Natal em casa.
Ironicamente, as mais populares canções de Natal foram escritas justamente por judeus, do francês Adolphe Adam com o hino do Natal Cantique De Noël (em inglês O Holy Night) a Irving Berlin, judeu nova-iorquino nascido na Sibéria, que compôs White Christmas, a canção que moldou o imaginário natalino da América – interpretada mais tarde por Bing Crosby. Musicais da Broadway e o cinema popularizaram inúmeras canções de Natal escritas por músicos judeus, entre elas Rudolph the Red Nosed Reindeer e Rockin’ Around The Christmas Tree de Johnny Marks; Let It Snow de Sammy Cahn e Jule Styne; The Christmas Song de Mel Tormé. Elas valorizam não o aspecto do nascimento de Jesus, mas a reunião das famílias, os presentes e o aconchego a que convida uma manhã nevada de Inverno. Além de Natal e Chanuká, esta época de festas também conta com a Kwanzaa, celebração da cultura negra norte-americana e, dependendo do ano, o Ramadan muçulmano. E a árvore, para os judeus? Bom, esta vai ter sua própria festa, de Ano Novo, em Shvat (em 2010, no dia 30 de janeiro)!
Publicado na Visão Judaica – novembro de 2009
*Jane Bichmacher de Glasman, doutora
em Hebraico, Literaturas e Cultura Judaica-USP, professora
adjunta, fundadora e ex-diretora do Programa da UERJ