terça-feira, 8 de outubro de 2013

Médico do Ceará mostra os recursos com que (não) conta no hospital público em que trabalha — até o sabonete para lavar as mãos é ele quem compra


"O Ministro da Saúde diz que vai aparelhar postos e hospitais. Faz uma contratação a toque de caixa de profissionais sem critério de avaliação, mas não equipa devidamente as unidades já em funcionamento" (Foto: Clayton)
“O Ministro da Saúde diz que vai aparelhar postos e hospitais. Faz uma contratação a toque de caixa de profissionais sem critério de avaliação, mas não equipa devidamente as unidades já em funcionamento” (Foto: Clayton)
Post do leitor blog George Araujo Magalhães, médico urologista e cirurgião geral
COMO VAI A SAÚDE DO TEU PAÍS?
Post-do-Leitor1Sou médico urologista e cirurgião geral. Estou de plantão em Canindé, cidade que dista 120 quilômetros de Fortaleza, cidade-sede de uma das maiores celebrações da fé católica no Ceará. O hospital local serve de polo para mais cinco cidades vizinhas.
A situação é caótica. Não diferente do resto do Brasil.
Aqui há o problema da violência e da criminalidade devido à epidemia do crack, além da débil fiscalização de trânsito, da qual decorre grande incidência de quedas de motocicletas, de pacientes alcoolizados, não-habilitados ou sem capacete.
Venho hoje por meio deste texto esclarecer, a quem gentilmente lê estas linhas, descrever a situação da saúde desta unidade, também nada diferente do resto do país.
Após um atendimento, tenho feito o asseio das mãos com meu sabonete pessoal. Frescura? Não. O hospital não oferece sabonete no setor.
Esta manhã, fui chamado às pressas para ver um paciente de 94 anos internado há alguns dias que apresentou uma parada cardíaca. Feitos os procedimentos devidos, a despeito da má condição clínica do paciente, a morte iminente foi evitada.
Num caso como esse, para os leigos explico que o paciente precisa ficar respirando com ajuda de aparelhos, através de um tubo na traqueia. OK, o tubo foi colocado, as medicações foram administradas, mas…o aparelho?
Pois é, a despeito de o hospital cobrir o atendimento de seis cidades, cerca de 150 mil habitantes, só há um aparelho para ventilação mecânica disponível, que já está ocupado com uma romeira que veio para os festejos de São Francisco. Outro está com uma peça faltando e impossibilitado de funcionar.
Resultado: a ventilação está sendo feita manualmente, com revezamento dos profissionais para que a oxigenação do guerreiro (esse, sim, luta pela vida!) seja mantida. Ou seja, a equipe de plantão já desfalcada está se ocupando com uma tarefa que deveria ser assumida por uma máquina, deixando de atender pacientes.
Em uma noite recente, a mãe de um funcionário do hospital teve um problema semelhante e está na mesma situação, sendo ventilada manualmente.
Aqui não dispomos de unidade de terapia intensiva (UTI). Precisaríamos encaminhar para um hospital de melhor estrutura, no caso disponível apenas em Fortaleza. Acontece que esses hospitais já estão sobrecarregados e há uma fila de mais de quarenta pacientes para admissão nas UTIs, com critérios de prioridade. Um nonagenário é preterido ante um paciente jovem, na maioria dos casos.
Poderia dizer todos os problemas do hospital, mas este foi emblemático e deixa claro como os profissionais da saúde estão trabalhando. Sem contar o risco de vida por escassez de policiais no entorno do hospital e, mesmo, na cidade.
Isso que escrevo não aparece na propaganda. Isso o deputado da Medida Provisória do Mais Médicos omite. Finge que não acontece.
O Ministro da Saúde diz que vai aparelhar postos e hospitais. Faz uma contratação a toque de caixa de profissionais sem critério de avaliação, mas não equipa devidamente as unidades já em funcionamento.
Enquanto as preocupações se voltam às eleições e a convênios obscuros com países ditatoriais, trabalhadores fazem o serviço de máquinas.

Mirando o senado em 2014, ministra petista usa helicóptero do SAMU

8 DE OUTUBRO DE 2013


Ideli Salvatti está usando um helicóptero do SAMU para compromissos políticos que não estão em sintonia com os objetivos de sua pasta.

Ideli Salvatti Mirando o senado em 2014, ministra petista usa helicóptero do SAMU
A denúncia foi trazida pelo Correio Braziliense. Buscando uma volta ao senado por Santa Catarina, Ideli Salvatti, a atual Ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, estáusando um helicóptero do SAMU para compromissos políticos que não estão em sintonia com os objetivos de sua pasta:
Pré-candidata por Santa Catarina ao Senado, a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti (PT), intensificou a agenda de missões oficiais em sua base eleitoral. Para turbinar as aparições públicas em todo o estado, a ministra utiliza o único helicóptero da Polícia Rodoviária Federal de Santa Catarina, justamente a aeronave destinada à remoção de pacientes graves resgatados em acidentes e tragédias naturais. O equipamento modelo Bell 407 (prefixo PT-YZJ), conveniado ao Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu), é equipado com uma maca, tubo de oxigênio e materiais de primeiros socorros. À disposição de Ideli, o helicóptero tem os equipamentos retirados e a escala de atendimento de urgência suspensa.
O Correio teve acesso a parte das ordens de missão para utilização do helicóptero everificou que a ministra participou de eventos que não têm relação direta com a função de articulação política desenvolvida por ela. São entregas de casas, inauguração de obras, lançamento de projetos e até participação em formatura de bombeiros. De olho nas urnas em 2014, a ordem é reforçar a imagem pública. A petista participou de 35 eventos em Santa Catarina nos últimos dois anos. Só neste ano, foram 18. “Aqui, todo mundo brinca dizendo que o governo federal vai retirar o logotipo do Samu da fuselagem do helicóptero e colocar um adesivo com o rosto da Ideli. Faz todo sentido”, diz um servidor da Polícia Rodoviária Federal de Santa Catarina.
(grifos nossos)
A ministra requisita o helicóptero mesmo nos dias em que seu uso para fins de resgate é mais esperado:
De lá, voou até Timbé do Sul, onde participou do anúncio de publicação do edital de licitação de obras de pavimentação. Durante toda sexta-feira, dia em que os acidentes são mais frequentes devido ao aumento de fluxo nas rodovias, o Bell 407 ficou impedido de participar de operações de salvamento. Uma assessora acompanhava a ministra. Dois dias depois, o Governo do Estado de Santa Catarina enviou o helicóptero para auxiliar na remoção e transporte das vítimas que sobreviveram à tragédia da boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul.
(grifos nossos)
A ministra, por intermédio de sua assessoria, se defendeu usando o mesmo decreto já usado em 2013 por Renan Calheiros:
Por meio da assessoria de imprensa, a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) informou que “o helicóptero da Polícia Rodoviária Federal utilizado em Santa Catarina é multifunção e, de acordo com o Decreto Presidencial 4.244/12, é utilizado para transporte de autoridades, policiamento e missões de resgate”. Na resposta, a SRI comunica ainda que “a ministra chefe da Secretaria de Relações Institucionais fez uso desta aeronave sempre em agendas oficiais, amparada pelo decreto presidência já mencionado, de acordo com disponibilidade da aeronave e anuência da Polícia Rodoviária Federal”. O Correio questionou por que alguns trajetos não eram realizados por via terrestre e se a ministra considerava um equívoco a utilização de uma aeronave que primordialmente é destinada ao resgate de vítimas, mas não obteve resposta.
(grifos nossos)
Contudo, como deveria ser de conhecimento público, nem tudo que é legal é moralmente aceito. O deputado federal Rubens Bueno fez justamente essa crítica:
“Isso que a ministra está fazendo é uso eleitoreiro de um bem público para pavimentar sua campanha. Essa prática imoral tem sido usada nesses anos todos por este governo”, afirmou Bueno.
(grifos nossos)

Novo degrau de juros, por Miriam Leitão

COLUNA NO GLOBO


Nesta reunião do Copom, o Banco Central terá a vantagem de ter o dado da inflação de setembro, na quarta-feira, dia da decisão. E o número tem grande chance de ser o primeiro, desde dezembro, que puxa a inflação acumulada em 12 meses para uma taxa ligeiramente menor que 6%. O BC já comemora antecipadamente, esquecido que parte do resultado é fruto da repressão dos preços administrados.
A notícia da queda da inflação é boa, mas o BC sabe que isso é média de uma taxa de preços livres, que está em 7,64%, e de preços administrados, que está em 1,27% nos últimos 12 meses. A inflação de serviços e de alimentos permanece alta. Portanto, não é hora de fazer a comemoração que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, fez na semana passada em Lisboa, ao falar que a inflação está controlada e em queda: ele sabe que parte do resultado é artificial.

A previsão mais comum no mercado é de nova alta dos juros de 0,5 ponto percentual, coisa que não aconteceria se a inflação estivesse fora da zona de perigo. Foi por ter sido condescendente no passado que a taxa subiu, ficou alta muito tempo, e levou o Banco Central a ter que retomar o caminho da elevação dos juros.

Um dos preços que têm sido mantidos sob controle e criado distorções é o da gasolina. Ontem, a presidente da Petrobras, Graça Foster, disse que o ministro Edson Lobão admitiu que é possível um reajuste até o fim do ano, mas que não há data. É meio constrangedor para a presidente da maior empresa do país ter que ir a Brasília discutir o preço do seu principal produto. Esse problema tem afetado a geração de caixa da petrolífera e é uma das razões que a Moody’s argumentou para reduzir a nota da companhia.

Graça Foster, a propósito, reagiu da forma correta à redução da nota. Disse que “ninguém gosta de nota baixa, mas respeitamos a avaliação da Moody’s” e disse também que “mesmo mantendo grau de investimento, a nova nota é um alerta, e a Petrobras está atenta”. Em vez de ir pelo caminho de criticar as agências, muito comum no atual governo quando a notícia não é boa, ela reagiu admitindo o problema e informando que aumentará a produção e isso vai melhorar indicadores em breve. Por mais que as agências tenham errado, desta vez ela fez um alerta correto. E a executiva da empresa fez bem em reagir desta forma, em vez de atacar o mensageiro.

O Banco Central, no entanto, tem tentado tapar o sol com a peneira. Os indicadores fiscais estão ficando piores e perdendo qualidade, como alertou a agência, mas o Copom na última reunião disse que a política fiscal caminha para a neutralidade. Deu uma guinada completa do que falara nos meses anteriores, quando alertou para o risco inflacionário do aumento de gastos.

É melhor para o governo, até do ponto de vista político-eleitoral, que o Banco Central seja mais duro em relação à deterioração fiscal do país, porque em 2014 naturalmente haverá mais relaxamento. É muito raro um governo fazer ajuste em ano eleitoral. O governo está ampliando os gastos e piorando os indicadores na antevéspera da eleição, confiando em que as concessões e os leilões de privatização de infraestrutura vão gerar as receitas extraordinárias para melhorar as contas públicas no ano que vem.

No curto prazo, no entanto, as notícias são boas. Espera-se que o IBGE divulgue uma inflação moderada para setembro, em torno de 0,3% e 0,4%, e que isso reduza a inflação em 12 meses para 5,9%. Mesmo com esse resultado, o Banco Central deve elevar a taxa de juros para 9,5% na quarta-feira. Se esse será o ponto final no ciclo de aperto monetário dependerá do que o BC disser nas suas comunicações pós-reunião.

O Pibinho e a Pnadona, por EDMAR BACHA


Consta que o general Médici, então ocupando a Presidência do país, teria dito, no auge do chamado milagre econômico do regime militar, que "a economia vai bem, mas o povo vai mal". A frase me inspirou a criar, em 1974, a fábula sobre o reino da Belíndia, uma ilha em que poucos belgas eram cercados de muitos indianos. Recentemente, economistas do governo, preocupados com a sequência de "pibinhos" acompanhados de elevada inflação, resolveram partir para a luta e proclamar que "a economia vai mal, mas o povo vai bem". Marcelo Neri tem dado entrevistas dizendo que Belíndia agora tem novo significado: a renda de nossos "belgas" cresce pouco como a dos europeus, mas a renda de nossos "indianos" cresce igual à dos chineses. Será que o Brasil mudou tanto assim, e deixou de ser uma Belíndia para se tornar uma Indiabela? 

Antes fosse. A realidade é que desde 1980 o país está parado no meio do caminho, incapaz de sair da renda média para se tornar um país rico. A distribuição da renda melhorou a partir da estabilização em 1994 e especialmente nos anos da bonança externa da década passada. Mas essa melhora só foi suficiente para o Brasil deixar de ser o país com a pior distribuição de renda do mundo e continuar no grupo dos países mais desiguais do planeta. 

Marcelo Neri, em artigo no GLOBO (4 de outubro), se entusiasma com o resultado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2012, segundo a qual o crescimento da renda por brasileiro teria sido de 8% de 2011 a 2012, um número maior do que o da China. O contraste com o PIB per capita não poderia ser maior, pois este aumentou apenas 0,1% de 2011 a 2012. Como pode o PIB per capita ter se estagnado e a renda per capita na Pnad ter crescido tanto assim? 

Neri não explica. Apenas assevera que entender o Brasil não é tarefa para amadores e mantém seu otimismo de que em 2013 haverá uma alta na felicidade geral da nação. Euforia ministerial à parte, parece melhor adotar uma atitude mais cautelosa. 

Caberia, antes de tudo, entender por que os dados da Pnad destoam tanto daqueles do PIB. Tarefa para profissionais, diria o Neri! Infelizmente, os profissionais andam batendo cabeça a respeito desse assunto. Alguns acham que o PIB está subestimado. Outros acham que se trata de conceitos distintos de renda real, pois a renda da Pnad é corrigida pela inflação (INPC) e o PIB é corrigido pelo chamado deflator implícito. Outros notam que o PIB é um conceito muito mais amplo que a renda das famílias na Pnad e que a comparação deveria ser feita, não com o PIB, mas com o consumo das famílias nas contas nacionais. Outros salientam que a Pnad apenas pergunta às pessoas qual foi sua renda em setembro de cada ano, enquanto que o PIB engloba uma massa muito maior de informações e cobre o ano inteiro. 

Há, finalmente, a questão do salário mínimo, cujo valor real vem sendo reajustado bem acima da inflação há alguns anos. É possível que a renda reportada pelas pessoas à Pnad seja muito influenciada pelo valor do mínimo legal e supere os ganhos financeiros que elas de fato auferem, especialmente quando transitam da informalidade para a formalidade. A evidência de o consumo das famílias nas contas nacionais não acompanhar o crescimento da renda da Pnad seria um indício dessa superestimação. 

Enquanto os economistas debatem as respostas para o dilema PIB x Pnad, é bom lembrar que o PIB retrata o potencial de produção do país. Se o PIB se mantiver estagnado, mais cedo ou mais tarde toda a população sofrerá. Durante algum tempo, especialmente num país tão desigual quanto o nosso, é possível elevar a renda dos mais pobres através de taxação e transferências, por exemplo. Isso é válido, mas não é sustentável. O Brasil precisa encontrar um caminho em que a distribuição de renda se alie ao crescimento, algo que ainda não conseguimos.
"Como pode o PIB per capita ter se estagnado e a renda per capita na Pnad ter crescido tanto assim"?
Publicado no Globo de hoje. Edmar Bacha é diretor do Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças.

Rondó Alla Turca, por Georgii Cherkin

 Ricardo Noblat - 
8.10.2013
 | 16h30m




Cartas de Londres: A brigada do guarda-chuva, por Beatriz Portugal


Londres é uma cidade acostumada a chuva. São vários os tipos que caem na cidade: o toró intenso que chega do nada e dura minutos, às vezes acompanhado de raro granizo; aqueles poucos pingos que aparecem por segundos acompanhados de sol e céu azul e que são prontamente ignorados; aquela chuvinha fina e persistente, que não se decide se vai ou fica.
Esse último tipo parece ser a especialidade dessa parte do mundo. Os ingleses têm, inclusive, algumas expressões curiosas para esse tipo de chuva, como por exemplo, “está cuspindo” e “está tentando chover”, o que implica uma tentativa não muito árdua.
No entanto, quando realmente chove, o aguaceiro é abusivo. Esse é outro fenômeno que se vê com frequência: a garoa que vem de cima, de baixo e de todos os lados. Não é a toa que muitos londrinos simplesmente não usam guarda-chuva, pois ele não só vira um objeto sem valor mas um entrave. O vento leva o usuário a travar uma batalha penosa com o guarda-chuva, que geralmente acaba em vitória pírrica do acessório: sempre do avesso.


Mas claro que além dos que colocam o capuz, levantam a gola do casaco, apressam o passo e continuam, há os que vão e vem com um guarda-chuva a tira-colo. Mas não um guarda-chuva qualquer e principalmente não aquelas coisinhas sensatas e retráteis que, convenhamos, geralmente dão conta do recado.
Há os que insistem em guarda-chuvas gigantes, crendo que quanto maior for, maior a área de cobertura. Mas a verdade é que não importa o tamanho do guarda-chuva pois – pelo menos em Londres – tudo abaixo do cotovelo fica molhado.
O problema maior nem é o tamanho mas sim a atitude de quem usa esse tipo de guarda-chuva. Abertos, OK, estão lá no alto, mas quando acaba a chuva, os donos desses guarda-chuvas, que por algum motivo são na sua maioria do sexo masculino, não transportam os objetos como qualquer pessoa sensata.
Ao invés de carregá-los como uma bengala, insistem em marchar segurando os guarda-chuvas em paralelo ao chão. Donos do pedaço, empunham suas lanças e transmitem o intimidador aviso de não se aproximar sob risco de ser empalado.
O problema se agrava quando você tenta pegar um ônibus ou metro atrás de um desses espadachins. É necessário esperar que a pessoa se poste em seu lugar de preferência e mesmo assim olhe lá. Caso o guarda-chuva esteja seco, a pessoa senta com o dito cujo na horizontal no colo, impossibilitando que os outros se sentem ao seu lado.
Foi um dia depois de muitos desviando de pontas. Nem chovia mais. A lata de lixo encontrava-se rodeada de guarda-chuvas que não haviam resistido ao vento. Armações tortas, tecidos contorcidos para o lado errado, um verdadeiro cemitério. Tratei de pegar um, o maior que achei. “Mas está quebrado,” me disseram. “Não importa. Estou só me preparando para a hora do rush”.

Beatriz Portugal é jornalista. Depois de viver em Brasília, São Paulo e Washington, fez um mestrado em literatura na Universidade de Londres e resolveu ficar.

Homens de bem - JOÃO PEREIRA COUTINHO


FOLHA DE SP - 08/10

Não são os homens públicos que devem ser virtuosos; são as leis que devem ser implacáveis


Você, leitor, é pessoa honesta e cumpridora. Trabalha. Paga as contas. É decente com a mulher e os filhos. Mas quando olha em volta, o cenário é selvagem. Os colegas usam e abusam da dissimulação e da mentira. Sem falar da corrupção de superiores hierárquicos ou de políticos nacionais, esse câncer que permite a muitos deles terem o carro, a casa, as férias, a vida que você nunca terá.

Para piorar as coisas, eles jamais serão punidos por suas viciosas condutas. A pergunta é inevitável: será que eu devo ser virtuoso? Será que eu devo educar os meus filhos para serem virtuosos?

Essas perguntas foram formuladas por Gustavo Ioschpe em excelente texto para a "Veja". De que vale uma vida ética se isso pode representar, digamos, uma "desvantagem competitiva"?

Boa pergunta. Clássica pergunta. Os gregos, que Ioschpe cita (e, de certa forma, rejeita), diziam que a prossecução do bem é condição necessária para uma vida feliz. Mas o que dizer de todas as criaturas que, praticando o mal, o fizeram de cabeça limpa por terem falsificado a sua própria consciência?

Apesar de tudo, Gustavo Ioschpe tenciona educar os filhos virtuosamente. Não por motivos religiosos, muito menos por temer as leis da sociedade. Mas porque assim dita a sua consciência. Um dia, quem sabe, talvez o Brasil acabe premiando essas virtudes.

A resposta é boa por seu otimismo melancólico. Mas, com a devida vênia ao autor, gostaria de deixar dois conselhos para acalmar tantas angústias éticas.

O primeiro conselho é para ele não jogar completamente fora as leis da sociedade na definição de boas condutas. Porque quando falamos de vidas éticas, falamos de duas dimensões distintas: uma dimensão pública, outra privada.

E, em termos públicos, acreditar que os homens podem ser anjos (para usar a célebre formulação do "Federalista") é o primeiro passo para uma sociedade de anarquia e violência.

Na esfera pública, eu gostaria que os homens fossem anjos; mas, conhecendo bem a espécie, talvez o mínimo a exigir é que eles sejam punidos quando se revelam diabos.

Se preferirmos, não são os homens públicos que têm de ser virtuosos; são as leis que devem ser implacáveis quando os homens públicos são viciosos.

Isso significa que a principal exigência ética na esfera pública não deve ser dirigida ao caráter dos homens --mas, antes, ao caráter das leis e à eficácia com que elas são aplicadas. No limite, é indiferente saber se os homens públicos são exemplos de retidão. O que importa saber é se a República o é.

Eis a primeira resposta para a pergunta fundamental de Gustavo Ioschpe: devemos educar os nossos filhos para a virtude? Afirmativo. Ninguém deseja para os filhos a punição exemplar das leis. E, como alguém dizia, é do temor das leis que nasce a conduta justa dos homens. Desde que, obviamente, as leis inspirem esse temor.

E em privado? Devemos ser virtuosos quando nem todos seguem a mesma cartilha e até parecem lucrar com isso?

Também aqui, novo conselho: não é boa ideia jogar fora os gregos. Sobretudo Aristóteles, que tinha sobre a matéria uma posição sofisticada e, opinião pessoal, amplamente comprovada.

Fato: não há uma relação imediata entre virtude e felicidade. Mas Aristóteles gostava pouco de resultados imediatos. O que conta na vida não são as vantagens que conseguimos no curto prazo. É, antes, o tipo de caráter que "floresce" (uma palavra cara a Aristóteles) no curso de uma vida.

E, para que esse caráter "floresça", as virtudes são como músculos que praticamos e desenvolvemos até ao ponto em que a "felicidade", na falta de melhor termo, se torna uma segunda natureza.

Caráter é destino, diria Aristóteles. O que permite concluir, inversamente, que a falta de caráter tende a conduzir a um triste destino. Exceções, sempre haverá. Mas, aqui entre nós, confesso que ainda não conheci nenhuma. Não conheço maus-caracteres que tiveram grandes destinos.

Sim, leitor, não é fácil olhar em volta e ver como a mesquinhez alheia triunfa e passa impune. Mas não confunda o transitório com o essencial.

E, sobretudo, nunca subestime a capacidade dos homens sem caráter para arruinarem suas próprias vidas.

Educar os filhos para serem "homens de bem" é também ajudá-los a evitar essa ruína.

CHARGE DO J. BOSCO




Esta charge do J. Bosco foi feita originalmente para o

Obrigada, Paulo Coelho. Por Martha M. Batalha

07/10/2013 17h15 - Atualizado em 08/10/2013 09h51


O escritor Paulo Coelho (Foto: Vittorio Zunino Celotto/Getty Images)
Paulo Coelho não vai à Feira de Frankfurt. Segundo ele, o Ministério da Cultura deixou de convidar alguns dos principais best-sellers do país, como Eduardo Spohr, Carolina Munhóz, Thalita Rebouças, André Vianco, Felipe Neto e Raphael Draccon. Ele tentou levar alguns dos autores por conta própria, mas não conseguiu. Então, como protesto, decidiu que também não participaria.
O autor está certíssimo. O Brasil é o homenageado na Feira de Frankfurt, o Ministério da Cultura está levando setenta escritores para representar o país. Não são dez, não são vinte. São SETENTA. Não quero desmerecer os escritores da lista. Não conheço todos. Sei que muitos são bons. Mas eu me pergunto: desses 70, não havia espaço para autores populares, aqueles que aparecem na lista de best-sellers?
Parece que não. No Brasil ainda existe uma divisão preconceituosa entre o que é considerado alta literatura (um conjunto de poucos livros escritos e criticados por intelectuais que se consideram elite) e o resto.
Thalita Rebouças e Raphael Draccon, por exemplo, fazem parte do resto. Thalita escreve textos despretensiosos sobre os grandes temas que afligem adolescentes – relacionamento com os pais, namoro, escola, amizade. Raphael Draccon escreve, aparentemente, sobre dragões e coisas que acontecem num reino chamado Arzallum.
Não, eu nunca li Thalita Rebouças, ou Raphael Draccon. Também nunca li mais do que algumas páginas de Paulo Coelho, o autor nunca me interessou. Independentemente do meu nível de conhecimento, esses escritores têm a minha profunda admiração e respeito, pela capacidade de atrair e cativar leitores. Esses autores criaram mundos, e através de uma elaborada combinação de estilo e trama conseguiram fazer com centenas de milhares de leitores (milhões, no caso de Coelho), dedicassem algumas horas de suas vidas a conhecer esses mundos.
É extremamente importante se orgulhar de autores assim, e ajudar a promovê-los. São eles os autores capazes de criar uma indústria do livro brasileira, o que, diga-se de passagem, não existe.
Vale aqui uma breve explicação de como funciona a maior parte das editoras brasileiras. Dependendo da casa, de 70% a 80% do catálogo é formado por títulos estrangeiros. Isso acontece porque é muito mais barato e seguro comprar um título estrangeiro do que investir num livro nacional. Sai mais em conta adquirir o direito de publicação e traduzir do que começar do zero todo o processo com um autor brasileiro – avaliar centenas de originais, trabalhar com o autor na edição, investir em uma campanha de marketing, etc. Muitas vezes o título estrangeiro já foi publicado e teve boa repercussão, o que aumenta a probabilidade de aceitação no Brasil.
O problema de se ter um mercado editorial brasileiro onde há mais traduções do que títulos nacionais é que ele não é um mercado editorial brasileiro. Ele é uma extensão do mercado editorial americano, ou europeu. Um editor é aquele que analisa originais, que escolhe autores, que ajuda os autores a melhorar o original. Um editor não pode, apenas, comprar o que vê lá fora.
Quando autores nacionais se tornam populares e vendem milhares de livros eles provam que sim, é possível ter um mercado editorial brasileiro. Eles provam que o dinheiro investido na compra de livros estrangeiros pode ser bem investido no Brasil, em mais autores como eles. E então todo um mercado se desenvolve em torno desses autores – advogados de direitos autorais, agentes, promotores de eventos, etc.

E aí a gente volta para o protesto do Paulo Coelho, e para a seleção de Frankfurt. Quando o Ministério da Cultura não apoia esses autores, está dizendo que eles não representam o Brasil, que o que eles fazem é desimportante. Então tá bom, não vamos ter autores assim. Vamos continuar comprando o que vem de fora, porque os dragões e adolescentes americanos são melhores do que os nossos.
Que o protesto de Paulo Coelho sirva pra gente pensar que tipo de país que a gente quer. A gente quer um país elitista, em que juízes, políticos e intelectuais estejam completamente desconectados do resto da população? Ou a gente quer um país mais justo em todas as esferas, um país mais homogêneo, que seja capaz de produzir sem culpa e com orgulho sua própria cultura de massa, seus próprios blockbusters?
Eu sei que país eu quero. E se a gente precisa de título pra dizer o que é bom e o que não é, vamos lá: sou formada em jornalismo, tenho Mestrado em Literatura Brasileira pela PUC Rio e fiz meu Master in Publishing pela New York University. Trabalhei como repórter e editora no Brasil, trabalhei nas principais editoras americanas. Eduardo Spohr, Carolina Munhóz, Thalita Rebouças, André Vianco, Felipe Neto e Raphael Draccon vendem, e porque vendem devem ser admirados e promovidos.
Paulo Coelho, que o seu protesto sirva pro Brasil aprender a ser menos elitista. Você, por muito tempo, também fez parte do resto. Até a crítica estrangeira te elogiar, e o Zagallo soltar a frase que deve ter sido inspirada em você. Paulo Coelho, no final todo mundo teve que te engolir. 
 
perfil Martha Batalha - blog da Ruth (Foto: ÉPOCA)

Quem policia a Polícia. Coluna Carlos Brickmann

08/10/2013 16:24


Mais manifestações, mais quebra-quebras, mais inação da Polícia. Os bandidos estão uniformizados, mascarados, com martelos e marretas, e mesmo assim não são sequer convidados a identificar-se. Quebram equipamentos públicos, põem fogo em ônibus, explodem um carro, ferem gente, viram uma viatura policial, arrebentam vitrines, invadem bancos para depredá-los e ninguém é preso. Cadê o Governo dos Estados, o Governo federal? Há várias hipóteses possíveis:

1 - O Governo ordena à Polícia que não intervenha. 

2 - O Governo ordena à Polícia que intervenha, mas não é obedecido.

3 - O Governo ordena à Polícia que intervenha, mas a Polícia não tem condições para intervir.

São hipóteses intoleráveis: indicam que Estados e União estão sem governo.

Ou há - e esta é uma outra hipótese, a mais terrível e intolerável de todas: a de que haja autoridades interessadas na confusão e na depredação. Já houve imagens na TV de baderneiros jogando coquetéis Molotov, correndo em direção à Polícia, sendo bem acolhidos e, pouco depois, reaparecendo fardados. Pode ser um caso isolado. Tomara - mas, se não for, explica toda a baderna e a inação policial. Nada como agentes provocadores para criar um clima que leve a opinião pública a exigir que as autoridades retomem o controle das ruas e se imponham sobre os vândalos, mesmo com um golpe, mesmo que destruam a democracia.

Resumindo: ou o Governo é irresponsável, ou o Governo é responsável.

Relembrar é preciso

Em 1964, agia nos quartéis o mais famoso agente provocador brasileiro: Anselmo José dos Santos, o Cabo Anselmo. Insuflou a rebelião dos sargentos, levando as Forças Armadas a reagir à quebra da hierarquia e ajudando a convencer a classe média de que o Governo planejava um golpe e deveria ser derrubado.

Bandidos à solta

Há por aí grupos perigosos. Em 22 de março, 20 skinheads, nazistas, mataram alguém de outro bando. No dia 8 de outubro, a Polícia paulista anunciou que estava cumprindo os mandatos de busca e apreensão -sete meses depois. 

Terão eles se privado de participar dos quebra-quebras, fazendo o que sabem: baderna?

Segurança pública e privada

O coronel Alberto Pinheiro Neto, que chefiou as operações da PM do Rio durante as manifestações de junho, é o mais novo astro global. O ex-comandante do Bope assinou com a Rede Globo e já dirige sua segurança patrimonial e corporativa, no Rio. 

Não é o único policial que troca a segurança pública pela privada: o coronel Ferreira Pinto, ex-secretário da Segurança de São Paulo (estava no cargo durante a guerra em que o PCC matou quase cem policiais), não apenas foi contratado pelo presidente da Fiesp, Paulo Skaf, para chefiar a segurança da entidade, como também se inscreveu no mesmo partido do patrão, o PMDB, para se candidatar a deputado nas eleições do ano que vem. Skaf quer ser governador.

Jogo não jogado

A aliança entre Marina Silva e Eduardo Campos muda todo o quadro eleitoral para 2014 - o problema é saber quais serão as mudanças. Não há uma soma automática de intenções de voto de Marina e de Campos: pode haver uma redução, pode haver uma multiplicação. Quem será candidato à Presidência, quem será seu vice, Campos ou Marina? Depende: há ainda mais de seis meses para decidir. 

O que parece certo é que tanto Campos quanto Marina passaram para o campo da oposição. Em caso de segundo turno, podem receber o apoio de Aécio ou apoiá-lo, conforme o caso. É difícil que fechem com Dilma. Neste ponto, Dilma foi prejudicada; Aécio também, mas em caso de aliança no segundo turno, mesmo ficando fora, terá compensações. E ninguém se iluda acreditando que o PT marchará sossegado para a derrota. Se tudo estiver dando errado, sempre resta o trunfo máximo dos petistas: trocar Dilma por Lula. E o jogo embola de novo. 

Saudades de Lula

A base governista não consegue esconder a nostalgia dos tempos que se foram. A senadora amazonense Vanessa Graziotin (PCdoB), da tribuna, discursou: "A presidente Lula (...)" Depois, percebendo o ato falho, corrigiu-se. 

Atenção, leitor, nada de maldade: Vanessa manteve o "a" e trocou "Lula" por "Dilma".

Os voos de Ideli

A ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, do PT, pré-candidata ao Governo de Santa Catarina, andou circulando pelo Estado a bordo do helicóptero do SAMU, o Serviço de Assistência Médica de Urgência. É o único helicóptero equipado para atendimento médico; e, para atender ao conforto de Sua Excelência, equipamentos como maca e tubo de oxigênio são retirados. 

Mas pelo menos a ministra cuidava, ao usar o helicóptero, de assuntos de sua pasta? Imagine! Foi inaugurar obras, participar do lançamento de projetos, entregar casas populares, assistir à formatura de bombeiros - aquilo que, se o PT flagrasse algum adversário fazendo, diria que era campanha eleitoral. Segundo o Ministério, o uso do helicóptero foi legal. 

Claro: quem usufrui da mordomia sempre acha tudo legal.

Um poema de amor, por Machado de Assis


O jornalista, crítico literário, dramaturgo, folhetinista, romancista, contista, cronista e poeta carioca Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) é amplamente considerado como o maior nome da literatura nacional. O poeta escreveu “A Carolina”, este belíssimo soneto sobre o amor.

A CAROLINA
Machado de Assis
Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs um mundo inteiro.
Trago-te flores, restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.
Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.

Ciganos na Europa, uma história de perseguição



Paris (Prensa Latina)
Assentados na Europa desde a Idade Média, ao redor do ano 1400 de nossa era, os ciganos constituem a maior minoria étnica do continente e também a mais perseguida, vítima de preconceitos, discriminação e maltratos.
Sabe-se que partiram de algum lugar do norte da Índia, possivelmente fugindo das invasões mongóis e muçulmanas, e depois de 600 anos chegaram ao Bósforo e dali ao sul da Grécia, numa região chamada o “pequeno Egito”.
Uma das teorias sobre seu nome reforça esta hipótese pois ao chegar a terras da península ibérica foram denominados como “egiptanos”, palavra que derivou na atual designação de “gitanos”, ainda que entre eles se definem como “roms” segundo seu próprio idioma, o romani.
Os preconceitos contra os ciganos foram se acumulando durante séculos no imaginário popular, o que provocou, por sua vez, um maior isolamento entre estes grupos. O século XX não fez senão aumentar os males destas comunidades em solo europeu, sobretudo na medida em que se fortaleceu o regime nazista e suas teorias sobre a pretendida pureza da raça ariana.
Em 1934 começou-se a praticar a esterilização de roms por meio de injeções ou castração na Alemanha e quando estourou a guerra lhes concentrou em campos de trabalho e extermínio, como Dachau, Sachsenhausen e Buchenwald.
HOLOCAUSTO
O holocausto cigano é pouco estudado e desconhece-se o número exato de vítimas, mas especialistas assinalam que essa população ficou reduzida a menos da metade no final do conflito, quando suas condições de vida também não melhoraram.
Sua existência passou despercebida durante o processo de construção da União Europeia (UE), que ocupou boa parte da segunda metade do século XX, e a princípios do século atual lhes mantém à margem dos benefícios sociais e políticos destas estruturas.
A maior parte dos 10 milhões de ciganos na UE são cidadãos de países membros desse mecanismo, mas pertencem a uma espécie de segunda categoria, estão fora do chamado “estado de bem-estar”, e carecem de emprego, saúde, educação e liberdade de mobilização.
Talvez de maneira involuntária a França contribuiu a que se atentasse sobre eles quando o ex-presidente Nicolás Sarkozy (2007-2012) aplicou uma política de expulsões em massa, que provocou uma onda de reações adversas em todo o continente.
Ainda que a pressão externa tenha obrigado o governo francês a frear essas medidas, a situação no interior do país tornou-se a cada vez mais precária e não mudou com a chegada das novas autoridades em maio de 2012.
A 21 de março deste ano, a Comissão Nacional Consultiva dos Direitos Humanos assegurou em seu relatório sobre racismo e xenofobia que “mais ainda que os muçulmanos, os roms migrantes sofrem de uma imagem extremamente negativa”.
Segundo um questionário feito pela entidade, uma ampla maioria de franceses tem um mau conceito destes grupos, sem conhecê-los a profundidade.
Organizações humanitárias assinalam que, ao expressar sua opinião sobre esta comunidade, a população ignora ou evade o tema da proibição de lhes dar trabalho, os obstáculos para inscrever seus filhos nas escolas ou as consequências da constante destruição e desalojamento de seus acampamentos.
A cada vez que são expulsos de um lugar, as crianças perdem sua vinculação docente e os doentes, muitos com padecimentos crônicos, interrompem seu tratamento com severos danos para sua saúde.
Segundo os especialistas, será impossível conseguir a inserção efetiva dos ciganos à sociedade, se dantes não se rompe a corrente histórica de preconceitos e discriminação, e lhes abrem as mesmas possibilidades que ao resto da população europeia. (transcrito do site Pátria Latina)

Burger King muda de nome e deixa público confuso

Ad News


Apesar do buzz, a rede está enfrentando alguns comentários negativos


Reprodução
Burger King muda de nome e deixa público confuso
Burger King muda de nome: tudo parece ser apenas uma jogada de marketing para promover suas novas batatas fritas, as tais "SatisFries"
São Paulo - O Burger King mudou de nome para Fries King, ou "O Rei das Batatas" na tradução. Mas tudo parece ser apenas uma jogada de marketing para promover suas novas batatas fritas, as tais "SatisFries", que são menos calóricas que as tradicionais. O problema é que a empresa não deixou isso claro, o que tem causado uma certa confusão nas redes sociais.
Parece que tudo começou quando o usuário EthanolCataclysm postou no Reedit na manhã desta quarta-feira, 2, a imagem de uma lanchonete da rede com o novo nome.
Pouco depois, o próprio Burger King mudou o avatar de suas redes sociais e postou as imagens da lanchonete modificada num álbum do Facebook.
Apesar do buzz, a rede está enfrentando alguns comentários negativos. No Twitter, por exemplo, usuários estão dizendo que o fato do BK focar nas batatas fritas só corrobora os boatos de que os hambúrgueres da rede não são lá grande coisa. No Facebook, internautas dizem que a marca não deve mudar o nome. Um deles até brinca afirmando que se o Burger King quer mais clientes, deve mudar o nome para Bacon King.
Se por um lado a ação está deixando as pessoas "confusas", por outro também está incitando a curiosidade e - e aqui vai um ponto positivo para a empresa - aumentando a fome dos consumidores. Pelo menos é assim que o Adweek analisa o fato.

Alemã descobre que é neta de oficial nazista conhecido por seu sadismo na Polônia

06/10/2013 - 02h00


DENISE MENCHEN
EDITORA-ASSISTENTE DE MUNDO
Em 2008, aos 38 anos de idade, a publicitária alemã Jennifer Teege fez uma descoberta que a deixou chocada: seu avô, que ela não chegou a conhecer, era o infame comandante Amon Göth, do campo de concentração de Plaszow, na Polônia, cujo sadismo se destacou até mesmo em meio à barbárie nazista.
A revelação, depois de tantos anos, teve um efeito ainda mais devastador sobre Teege porque ela é negra, fala hebraico e viveu por quatro anos em Israel.

Oliver Hardt - 26.set.2013/AFP-Wikimedia Commons - 29.ago.1945
A alemã Jennifer Teege, neta do comandante Amon Göth (no detalhe, no dia de sua prisão)
A alemã Jennifer Teege, neta do comandante Amon Göth (no detalhe, no dia de sua prisão), um dos mais cruéis oficiais nazistas
"O que ele diria sobre isso? Para ele, eu seria uma bastarda, uma mácula na honra da família. Meu avô com certeza teria me fuzilado", afirma ela no livro "Amon", que acaba de lançar na Alemanha (ainda inédito no Brasil).
A suposição não é por acaso. Göth, que acabou julgado e enforcado em 1946, entrou para a história como um dos mais cruéis oficiais nazistas.
No campo de Plaszow, costumava atirar em prisioneiros de forma aleatória, da sacada de sua residência -uma cena imortalizada no filme "A Lista de Schindler", de Steven Spielberg, lançado em 1993, com Ralph Fiennes no papel de Göth.
Teege, hoje com 43 anos, já havia assistido ao filme, mas sequer suspeitava que pudesse ter algum parentesco com o nazista.
ACASO
Em entrevista à Folha, ela conta que a descoberta de suas origens ocorreu por acaso, durante uma visita à biblioteca central de Hamburgo, no norte da Alemanha, onde mora com o marido e os filhos.
À procura de obras sobre depressão, um problema que por muito tempo a afetou, acabou puxando da prateleira um livro chamado "Eu preciso amar o meu pai, não?".
Primeiro, foi a foto na capa que lhe pareceu familiar. Depois, o nome e a data de nascimento da personagem principal do livro não a deixaram ter dúvidas: tratava-se da história de sua mãe, Monika Göth, com quem ela não tinha contato havia anos.
Fruto de um relacionamento de Monika com um estudante nigeriano, Teege nasceu quando os pais já não estavam mais juntos.
Com poucas semanas de vida, foi entregue pela mãe a uma instituição de freiras. Viveu no local até quase completar quatro anos, quando foi então morar com a família que depois a adotaria.
"Depois disso, não tive mais contato com a minha mãe. Ela também já não usava mais o nome de solteira e eu não recebia muitas informações do órgão responsável pela adoção", conta.
Ao ver a foto e o nome da mulher no livro encontrado na biblioteca de Hamburgo, porém, as lembranças voltaram à tona. Ela se recordou de como, ainda criança, escrevera o nome Jennifer Göth em seu primeiro caderno -o sobrenome, depois, acabou trocado pelo da família adotiva.
"A descoberta me deixou completamente transtornada", conta ela, que pediu para o marido buscá-la na biblioteca e passou dias sem sair de casa -primeiro para ler o livro, depois para absorver o impacto de suas páginas.
Mesmo passado o choque inicial, sua vida não foi mais a mesma. Ela decidiu procurar a mãe, e as duas voltaram a se encontrar.
Segundo Teege, a mãe disse que optara por ocultar a história da família para tentar protegê-la do passado, pelo qual ela mesma se sentia assombrada.
"Ela achava que seria melhor se eu não soubesse de nada. Mas qualquer verdade é melhor do que o silêncio", diz a publicitária. "O encontrou foi bom, mas depois perdemos contato novamente."
Sobre o envolvimento de Monika com um nigeriano, Teege afirma que o que aconteceu foi simplesmente paixão.
"Não foi nenhum tipo de protesto", diz, em resposta à pergunta da reportagem sobre se o relacionamento poderia ter sido uma forma de Monika tentar se distanciar da memória de Amon Göth.
HOLOCAUSTO
Além de procurar a mãe, Teege também passou a pesquisar a fundo sobre o papel do avô no genocídio de milhões de judeus.
"Viajei para a Polônia e passei a me ocupar de forma intensiva com o Holocausto. Eu me sentia terrivelmente mal pelos atos dele, mas não responsável. A culpa é algo que não se herda."
Mesmo assim, ela estava preocupada com a forma como seus amigos, especialmente os judeus, iriam reagir à revelação.
Nos quatro anos em que viveu em Israel, para onde foi com 20 anos para se dedicar a estudos sobre o Oriente Médio e a África, ela já sentira um certo mal-estar por causa de sua nacionalidade.
"Isso acontece com muitos alemães. Viver lá foi muito bom e nunca fui alvo de rejeição, mas às vezes me senti desconfortável", diz.
Com a descoberta de suas origens, o temor era que seus dois principais amigos em Israel pudessem se afastar.
A resposta deles, narrada no livro, a tranquilizou: "O Holocausto está no nosso DNA. Mas que culpa você tem? Você é a Jenny. Deixa disso."