terça-feira, 5 de novembro de 2013

Médicos cubanos - sustos trabalhistas - JOSÉ PASTORE


O Estado de S.Paulo - 05/11

Li nos jornais que o governo se assustou ao saber que o subterfúgio da "bolsa-formação" a ser usado para remunerar os médicos cubanos não está isento do recolhimento das contribuições previdenciárias. O aviso veio da Secretaria da Receita Federal. O órgão alertou que a importância mensal paga aos médicos constitui salário e, como tal, está sujeita ao recolhimento ao INSS de 11% pelos contratados e de 20% pelo contratante. Para o governo, a despesa mensal subiu de R$ 10 mil para R$ 12 mil por médico.

Como se trata de salário, haverá sobre ele incidência de todos os encargos sociais (FGTS, seguro acidente do trabalho, salário-educação, descanso semanal remunerado, férias, abono, aviso prévio e outros) que somam 102,43% do salário. É isso que diz a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

O governo, que previa gastar R$ 511 milhões para contratar 4 mil médicos cubanos por quatro anos, terá de reservar mais de R$ 1 bilhão só para essas despesas. Não estão nessa conta os gastos com transporte e acomodação dos médicos no Brasil, nem tampouco os adicionais por insalubridade e periculosidade a que muitos farão jus.

Há que se considerar ainda que, mais cedo ou mais tarde, os médicos cubanos conhecerão o alcance das nossas leis trabalhistas, que, se não forem cumpridas, detonarão ações judiciais - individuais ou coletivas - com vistas a receberem atrasados e reparar danos morais. Eles saberão que, ao contrário de Cuba, as portas dos tribunais do Brasil estão permanentemente abertas para todos os cidadãos que aqui trabalham. Basta acioná-los.

Por isso, a conta pode subir muito. Todos sabem que, no campo trabalhista, quem paga mal paga duas vezes. Pagamentos realizados por força de sentenças judiciais são sujeitos a elevadas multas e pesada correção monetária.

Suponho que os competentes advogados da União tenham prevenido os nossos governantes sobre os riscos a que estavam submetendo a Nação. Tudo indica, porém, que a urgência para montar um programa eleitoral falou mais alto, e venceu. Agora, o bom senso recomenda fazer provisões para o desfecho, que pode ser desastroso.

Tenho estranhado o silêncio do Ministério Público do Trabalho. Da mesma forma, intriga-me o mutismo das associações de magistrados do trabalho. Mais surpreendente ainda é a indiferença das centrais sindicais, que, sendo contrárias à necessária regularização da terceirização no Brasil, assistem pacificamente a um tipo de contratação que tem tudo do trabalho escravo. Basta lembrar que os médicos cubanos não podem trazer seus familiares; estão impedidos de sair do Brasil; se pedirem asilo, será negado; e ainda têm 70% do seu salário confiscado e remetido ao governo cubano, que nada pode fazer para os brasileiros. Situações mais brandas que essa têm sido denunciadas pelas centrais sindicais como "análogas ao trabalho escravo". Neste caso, "ouve-se um sonoro silêncio". Não me deterei nesse aspecto, pois o assunto já foi bastante comentado pela imprensa. Não comentarei tampouco a insinuação de que os recursos que vão para Cuba acabarão voltando para o Brasil - não se sabe para quê.

A minha preocupação está na área trabalhista, porque, a julgar pela conduta rigorosa da Justiça do Trabalho, a conta dessa contratação pode se tornar colossal, o que vai demandar recursos que poderiam ser aplicados na própria solução eficaz do problema da saúde em prazo médio.

Para dizer o mínimo, a fórmula escolhida pelo governo agrediu o interesse nacional. Por mais nobres que sejam os propósitos do Programa Mais Médicos, nada justificava afrontar o nosso ordenamento jurídico de forma tão contundente. Afinal, tudo poderia ser feito seguindo as regras vigentes, como, aliás, ocorre com os médicos que vêm da Argentina, Portugal, Espanha e de outros países que aqui estão para ajudar a aliviar a dor dos brasileiros. Até quando nossos governantes poderão desperdiçar o dinheiro do povo impunemente?

Meia década perdida - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 05/11

Os resultados da indústria de setembro deixaram ainda mais claro que os incentivos pára o setor não estão surtindo efeito. A produção industrial está 3,2% abaixo do recorde, atingido em maio de 2011, e no acumulado do ano cresceu apenas 1,6%. Foram cinco meses de alta, três de queda e um de estagnação. A indústria ainda produz menos do que em setembro de 2008, quando teve início a crise internacional.

O gráfico abaixo mostra o índice de base fixa da produção industrial, medido pelo IBGE. Em setembro de 2008, a indústria marcava 130,6 pontos. Em setembro deste ano, apontava 126,65 pontos, 3% a menos. Durante todo o período, em apenas cinco meses a indústria teve um ritmo mais forte do que antes da crise.

A produção industrial fechou o terceiro trimestre em queda de 1,4% e vai pesar sobre o PIB do período, que será divulgado dia 3 de dezembro. O Banco Central reconhece que o número será fraco, e as projeções do mercado são de retração.

A economista Silvia Matos, do Ibre/FGV prevê queda de 0,4% no PIB, em relação ao trimestre anterior.

— O período de julho a setembro será fraco, principalmente, por causa da indústria — afirmou.

A produção de bens de capital tem sido o destaque do ano, com alta de 14,6% de janeiro a setembro. Mas os números recentes mostram perda de vigor, de acordo com o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial. Os investimentos estavam concentrados na fabricação de caminhões, que disparou no início do ano pela obrigatoriedade de uso do novo motor Euro 5.

"Mesmo no segmento de bens de capital, que vem puxando fortemente o crescimento da indústria nacional em 2013, vem ocorrendo uma significativa perda de ritmo ao longo do ano, com pronunciada desaceleração no terceiro trimestre: 9,4%, 4,2% e 1,4%, respectivamente, no primeiro, segundo e terceiro trimestres" disse o instituto.

Silvia Matos chama atenção para outro ponto: o indicador de estoques de bens de capital, do Ibre, mostra que há um aumento, o que deve prejudicar a produção no último trimestre.

A política industrial não deu o resultado esperado, apesar das muitas medidas tomadas: queda dos juros, desvalorização do real, redução do preço da energia, aumento de barreiras comerciais, corte de impostos para setores escolhidos e muito crédito subsidiado do BNDES.
Alvaro Gribel e Valéria Maniero (interinos)


Sem recessão no quarto tri

Apesar da previsão de queda do PIB no terceiro trimestre, o cenário para o quarto tri será um pouco melhor, de acordo com Silvia Matos, do Ibre/FGV. Isso evitaria a recessão técnica no país, que acontece quando dois trimestres seguidos ficam no vermelho. A recuperação só não será mais forte porque a produção industrial continuará jogando contra.

— O PIB do quarto trimestre pode ficar entre 0,5% e 1%, mas não podemos esperar muito, porque a indústria está fraca, com crescimento concentrado em apenas alguns setores — disse.

Silvia prevê que a economia crescerá 2,5% este ano, graças a um forte "anabolizante", a agropecuária que, segundo a economista, deve ter alta de mais de 10%. Sem ela, o PIB cresceria em torno de 2%. já a indústria deve ter expansão de 1,1% e os serviços, de 2,1%, de acordo com a economista.

Síndrome da PDVSA - ANTONIO MACHADO


CORREIO BRAZILIENSE - 05/11
Uma grande petroleira com controle majoritário estatal, em resumo, tem duas vocações: focar a atividade principal, servindo ao país e aos acionistas, como fez a Petrobras na maior parte do tempo de sua existência sexagenária, ou atender a vários objetivos, tipo agência social e de desenvolvimento do governo de turno - caso da exaurida PDVSA, da Venezuela. Qual delas se deu melhor nesses anos?
É essa resposta que a diretoria da Petrobras, sob o comando de sua presidente Graça Foster, cobra do governo Dilma Rousseff. Desde que os aumentos dos preços da gasolina e do diesel passaram a depender de autorização informal do ministro Guido Mantega, que acumula o Ministério da Fazenda com a direção do Conselho de Administração da estatal, o seu caixa, ou receita operacional, verga sob o peso de seu fabuloso plano de investimento de cinco anos.

A Petrobras tem de investir quase US$ 50 bilhões ao ano até 2017, e ainda há o pré-sal para desbravar como a operadora única de todos os campos licitados sob o regime de partilha da produção, como o de Libra, além de ter obrigatoriamente, segundo a nova lei do petróleo, um mínimo de 30% dos desembolsos em cada área (no caso de Libra, a fatura foi de 40% para fechar a conta com os demais sócios - Shell, Total e duas petroleiras chinesas). De onde sairá o caixa para tais obrigações? Essa é a pergunta oculta da proposta enviada a Dilma.

A resposta põe em questão a instrumentalização da Petrobras para outros fins que não sua atividade principal de pesquisar e produzir petróleo, para exportá-lo em forma bruta ou refiná-lo para consumo no mercado doméstico. O receio com a inflação, razão de Mantega dar de costas à autonomia da empresa para definir a política de preços, é o que desfalca o seu caixa. E é com ele que a estatal banca mais de metade de seu plano de investimentos. Esse é um dado crítico.

Dificuldade é artificial
Outro é que, a rigor, a Petrobras apresenta defasagem de caixa não por causa da gasolina e do diesel (os demais derivados, como nafta e querosene de aviação, seguem os preços de mercado). O gargalo vem da relação entre a geração de receita, sendo a gasolina o ganha-pão da estatal, e o que ela se viu forçada a arcar pela lei aprovada no governo Lula. Fosse menos restritiva ao capital privado, tal como o modelo de concessão (que não foi revogado), a conta do investimento poderia ser rateada. Visto por tal ótica, o problema é artificial.

O modelo de partilha é o meio de o governo exercer maior controle sobre o ritmo da produção, não sobre a receita. Dependendo da taxa de exploração, entre royalties e cobranças parafiscais, os regimes de concessão e de partilha são equivalentes. Mas é esse último que permitiu ao PT criticar a lei de concessão aprovada no governo FHC, criando a ideia de que o Estado deveria receber mais na exploração do pré-sal, por ser menor o risco exploratório. Isso se vai ver.

Governo teme o que fazer
No caso da concessão de Libra, o grosso do custo de exploração em termos individuais é da Petrobras, não de seus sócios. Mas isso não é o que a empresa questiona e, sim, que lhe falta preço para bancar o custo do pré-sal. Sua capacidade de endividamento, dada pelo seu patrimônio, também bateu no teto. Os críticos da licitação de Libra ignoram tal restrição, como se o tamanho do campo bastasse para se endividar à larga e tocar o desafio sem parcerias. Isso é falso.

O conselho de administração da Petrobras vai examinar o plano que a presidente da estatal chamou para si em reunião no dia 22. Não há decisão tomada, mas há alguma confusão. Mantega disse desconhecer o plano proposto e uma fonte do Palácio do Planalto afirmou, na sexta-feira, que a presidente aprovava a ideia de um gatilho para ajuste dos preços dos combustíveis. Nesta segunda-feira, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República desmentiu que Dilma tivesse opinião formada sobre a proposta. De fato, não há gatilho nenhum.

As escolhas estão postas
A Petrobras sugere um mecanismo automático de fixação do preço com base na variação cambial, no preço da gasolina nos EUA e na cotação internacional do barril de petróleo. Não foi dito se a fórmula terá efeito retroativo. Provavelmente, não. É desnecessário. Basta a ela compensar as defasagens quando importa gasolina a um custo maior do que vende ao mercado interno, mais uma margem para o caixa voltar a cobrir a maior parte dos investimentos, aliviando suas dívidas.

Qual o nexo do pleito? Sem as reservas da Venezuela, as maiores do mundo, a Petrobras chegou à Bacia de Campos, quando o país dependia do petróleo importado, depois ao pré-sal, com a dívida controlada. Já a PDVSA, submetida ao chavismo, hoje produz cerca de 40% do que produzia em seu melhor momento. Ambas são gigantes - um à deriva, o outro defendendo sua missão estratégica. As escolhas estão postas.

O nacionalismo foi puído
As decisões políticas têm consequências. Ao pretender da Petrobras o que suas contas não permitem - monopolizar a operação do pré-sal, além de servir de instrumento de política industrial (incentivando a produção nacional, mesmo a um custo maior que os importados) e de linha auxiliar do Banco Central -, o governo, na prática, puiu sua retórica nacionalista e de crítica à privatização.

Tais riscos não deveriam existir, pois, segundo se ouviu de gente do primeiro escalão do governo durante a tramitação no Congresso da lei que introduziu o modelo de partilha, o monopólio na operação do pré-sal entrou como agrado a setores nacionalistas e para negociar, sobretudo com o PMDB. Só que ninguém se opôs. A chefia da Petrobras à época, além disso, desconsiderou a inconsistência entre o caixa e o que a lei exigia, embora não esperasse que a gasolina acabasse represada no altar na inflação. Deu tudo errado.

Em busca de um culpado - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 05/11

Até recentemente, os experimentalistas da política econômica, de dentro e de fora do governo federal, se negavam a reconhecer alguma desordem nas contas públicas. "Isso aí não passa de papo de obtusos ligados ao Fundo Monetário Internacional (FMI), ou, então vai sendo motivado por interesses dos rentistas", diziam eles.

Hoje a conversa está mudando de tom e de rumo. Até mesmo o tão confiante ministro Guido Mantega começa a ficar preocupado. Aparentemente, teme por algum descarrilamento. Mas corre o risco de remover o trilho errado.

Ontem, realizou uma primeira reunião de emergência com dirigentes das centrais sindicais, com seguimento já marcado para dia 7. O objetivo declarado é negociar cortes nas despesas com seguro-desemprego.

Mantega deve ter olhado descorçoado para o rombo recorde apontado nas contas públicas em setembro (R$ 9 bilhões) e saiu procurando por um culpado. Identificou uma brutal despesa com seguro-desemprego e abono aos desempregados, projetada para todo o ano de 2013 em R$ 47 bilhões (pouco menos de 1% do PIB). E concluiu que, além de alguma fraude, o problema aí só pode estar na alta rotatividade nas contratações de pessoal pelas empresas.

Difícil de entender o que o trabalhador tem com isso, a ponto de ser convocado para amassar um barro com o ministro, se não é ele que toma a iniciativa de buscar a porta de saída da empresa em que trabalha, mas é empurrado nessa direção pelo patrão dele.

Além disso, se há o excesso de rotatividade, este em princípio está menos relacionado com maldades de empresários, postas em marcha nesse ambiente de pleno-emprego, e mais, com os malabarismos empreendidos pelas empresas para reduzir custos de produção e sobreviver.

E onde estão esses custos? Estão reconhecidamente no excesso de impostos, na baixa qualidade da infraestrutura, na Justiça que leva anos e anos para dirimir um conflito, no excesso de burocracia e tal. Isso tudo é mazela velha de guerra e não pode ser entendida como causa dos rombos recordes recentes nas contas públicas. Se esses apareceram mais agora do que antes, foi pelas opções equivocadas de política fiscal (excesso de despesas) feitas pelo governo Dilma, que entornaram o balde.

As leis trabalhistas foram moldadas num tempo em que o Brasil namorava com o fascismo e, mesmo que tenham ajudado a dar alguma ordem nas relações entre capital e trabalho, já não servem para modernizar a economia e garantir a expansão do emprego, num mercado global cada vez mais competitivo. Tal como estão, essas leis provocam o definhamento da atividade produtiva, como se vê na indústria. E isso não é bom para o emprego. Mas o remédio não é essa meia-sola que pretende reduzir a rotatividade nas contratações de pessoal, mas reformas profundas.

Mais embaixo, no entanto, está a desordem nas contas públicas. E não vai ser no âmbito das centrais sindicais que o problema vai ser resolvido. Antes de tudo é preciso levar esses desequilíbrios a sério e não seguir pensando que isso é cisma do FMI.

Reforma para boi dormir - OCTÁVIO COSTA


BRASIL ECONÔMICO - 05/11


O grupo de trabalho que discute a reforma política na Câmara dos Deputados realiza hoje a última reunião, pois vence amanhã a delegação para elaborar a proposta de emenda constitucional que será submetida a uma comissão especial. Nos debates iniciados em agosto, os parlamentares avançaram basicamente nos pontos de seu interesse e aprovaram, por exemplo, uma rotina mais maleável para a prestação de contas dos candidatos na Justiça eleitoral.

Também incluíram um bode na sala que não estava em cogitação: a adoção do voto facultativo. Ainda vão decidir sobre o fim da reeleição, com mandato único de cinco anos, mas passaram ao largo de um ponto essencial, que é o financiamento de campanha. Apontaram apenas um teto, sem determinar a origem do dinheiro.

O texto final da PEC será encaminhado ao plenário antes do fim do ano. A decisão do Congresso, porém, ficou para o ano ano que vem. Até lá, haverá tempo de sobra para os senhores deputados ajustarem o foco nas mudanças que, de fato, podem alterar os rumos da política brasileira. Temas como os limites nas coligações e a cláusula de barreira para novos partidos não podem ficar fora da nova legislação. Mais importante ainda é a questão do financiamento de campanha. Não adianta desconversar.

Há algo de podre no atual modelo de captação de recursos pelos candidatos. E quem diz isso é gente que conhece a fundo o processo eleitoral. Mais novo ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Roberto Barroso chegou ao cargo por ser constitucionalista renomado. Com sua vasta experiência em processos polêmicos, ele não tem dúvida: a origem da corrupção política no Brasil está no financiamento das eleições. As dívidas assumidas na campanha são pagas no exercício do mandato.

Em entrevista publicada ontem, seu colega no STF Antonio Dias Toffoli, que também é ministro do Tribunal Superior Eleitoral, foi ainda mais enfático ao criticar o atual método de arrecadação. “Nesse tipo de relação, que está subentendida na relação de financiamento por empresas, há um jogo de interesses, sem dúvida nenhuma, porque empresas não têm ideologia”.

Para Dias Toffoli, não se deve permitir que as empresas financiem campanhas eleitorais por um motivo simples: “Quem não vota não tem o direito de participar das eleições como financiadores”. O jovem ministro defende duas fontes de recursos. A saber, uma parte virá pelo financiamento público, por meio do fundo partidário. E outra parte via financiamento dos simpatizantes e filiados. Ele se refere sempre a pessoas físicas, pois “a aproximação entre empresas e campanhas quase beira a extorsão”.

As opiniões dos ministros do Supremo não deveriam cair vazio. Por mais que o corporativismo prevaleça nas deliberações do Congresso, seria prudente dar atenção às preocupações do Judiciário. Em vez de perder tempo com questões totalmente fora de pauta, como o voto facultativo, os parlamentares fariam melhor se atacassem os vícios históricos do processo eleitoral. A contribuição das empresas, obviamente, não é gratuita e desinteressada.

Parte desse desvio se explica pelo alto custo das campanhas, ponto que também merece discussão. Na verdade o grupo de trabalho da Câmara fez muito esforço para enrolar a opinião pública sem chegar a conclusão alguma. Chega de conversa fiada.

SOBE E DESCE

sobe
A entrada e a saída de produtos pelo Porto de Santos somaram, até setembro, 85,7 milhões de toneladas, uma elevação de 11,6% na comparação com o mesmo período de 2012. Renato Barco é o presidente da Companhia Docas

desce
O ex-prefeito de São Paulo e ex-governador do Estado Paulo Maluf (PP-SP), de 82 anos, foi condenado pelo superfaturamento de obras do túnel Ayrton Senna e teve seus direitos políticos suspensos por cinco anos

PSICANÁLISE DA VIDA COTIDIANA - Saudades


CARLOS VIEIRA 
“Nós possuíamos, realmente, um mundo maravilhoso: nele o sol era um rio de 
ouro que nascia todas as manhãs e o ar um país transparente que podíamos 
viajar com os olhos... Mas víamos que a sua vida seguia para longe, levada 
pelos homens. E, então, ficávamos olhando, olhando... 
Cecília Meireles, in Episódio Humano.
Saudades da minha terra natal, que nunca me conformei que a chamassem de Capela, pois seu nome original era belo, poético e singelo: Conceição do Paraíba. A matriz, Nossa Senhora da Conceição, foi onde pela primeira vez foi acometido de um alumbramento: a primeira comunhão; experiência surreal, acompanhada de uma sensação de levitar, de receber a “graça” de Deus. 
Saudades de acompanhar o Pároco, como coroinha, nas missas de Réquiem. Missas de sétimo dia, na qual cantávamos em latim os mais belos e dolorosos cantos gregorianos. Saudade de Anita, que ao colocar a pátena para que ela comungasse, pisquei os olhos para nos encontrarmos na praça após a missa. Na praça, as moças rodavam em círculo e os rapazes, parados as observavam com olhos de futuros namorados, era um verdadeiro desfiles de jovens belas, coradas de praia e vestidas de minissaias. 
Saudades do grupo escolar, do Teobaldo, um grande mentiroso da cidade, mas que contava suas mentiras e nos alegrávamos e morríamos de sorrir. Saudade da fazenda, da fazenda de meu pai que distava da cidade alguns quilômetros. Saudades do meu primeiro cavalo, o Bolinha: companheiro, lindo, castanho e de um trote e uma passada produzindo um conforto nas cavalgadas. No meio da semana, à tarde, saía no Bolinha para namorar na cidade. Apeava e amarrava-o no muro da casa de Anita, ficávamos namorando até ao entardecer, quando retornava à casa da fazenda. 
Saudades das procissões de São Benedito, procissões belíssimas, meus parentes segurando o andor do santo, o cântico ladeira abaixo, os sinos batendo numa nota só, as pessoas pagando promessas e um coroinha recolhendo doações à Paróquia. 
Saudades já de Maceió, terra dos generais, praia da Pajuçara, onde o mar beija as areias. Saudades dos papos em torno dos “sete coqueiros gêmeos” que nasceram juntos e ainda permanecem lá. Saudades dos bailes no Iate Clube: foi ali, pela primeira vez, que conheci e dancei ao som de Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Vanderléia. Magnífico, magnífica “jovem guarda”. Os bailes eram desafios para nós. Tínhamos que tirar a jovem para dançar, e algumas vezes, uma delas nos recusava: a algazarra era geral, quando levávamos “um fora”. Mas, o que é belo na adolescência é a maneira lúdica e brincalhona de reagir diante de tais experiências. 
Saudades do Sérgio, do Kelmo. Éramos três colegas muito íntimos e todos estudavam no Colégio Diocesano, colégio dos Irmãos Maristas. Sim, naquela época era uma verdadeira dádiva de cultura: estudávamos latim, francês, inglês, um pouco de alemão, filosofia, ciências e cultura teológica, sem esquecer o futebol e o Irmãos Silvino, grande espanhol, técnico do time de basquete. 
Saudades das tardes que nós três subíamos a ladeira do Farol, e íamos conversar no alto da cidade: geralmente eram conversas sobre como modificar a cidade, como planejar a vida das pessoas com mais justiça social, questões sobre o “ser” e o “ter”. Nessa época líamos Sartre, Graciliano Ramos, Eric Fromm, Proust e Carlos Drummond entre outros, sem deixar de ler nosso poeta alagoano maior – Jorge de Lima. Saudades das indagações sobre o sentido da vida, sobre o namoro, o casamento, e a pobreza cruel do Nordeste, onde os senhores de engenhos e usineiros escravizavam os empregados para auferir lucros exorbitantes. Nessa época foi apresentado, através dos seus livros de poesia concreta, João Cabral de Melo Neto. 
Saudade de Rosa! Rosa foi uma experiência inédita: começamos a namorar por cartas e bilhetes, e somente quatro meses após, tivemos a ousadia e a coragem de nos encontrarmos na rua do Macena. Rua do Macena, perto da rua da Alegria, da rua Augusta e da rua do Sol. Nomes lindos, esteticamente belos, hoje transformados em nomes de políticos, médicos e advogados ilustres da cidade. A beleza dos nomes poéticos deu lugar a falta de inspiração e os interesses políticos. Ruas arborizadas, revelando um ar provinciano, repletas de pássaros, bucólicas e espaço amoroso dos nossos namoros. Na rua Augusta morou meu primeiro analista – Dr.Sadi Carvalho, uma figura exótica, magra, culta e de uma intuição nunca vista pela minha pessoa. Lia Freud no original, dava conselhos e regras de como viver bem emocionalmente. Foi dele uma frase que mora na saudade: “as nossas forças emocionais dirigem nossas vidas”. Sadi foi meu primeiro analista, aos 16 anos. Morou também na rua Augusta, minha esposa atual, que pedi para namorá-la através do escrito de um acróstico, acróstico sobre seu nome. 
Saudades do mar, do mar de Maceió! Mar de várias cores, águas mornas, límpidas e um sal que salpicava por nosso corpo, e às vezes entrava pela boca, sal de Iemanjá, sal de batismo de mar, sal de salgar a vida em transitórios estados de infinitude e transcendência. Mar que vai, que leva e traz tudo que por ele nadar ou se afogar. Mar de cores de arco-íris , no entanto mar de águas-vivas, que às vezes enrolavam em meu peito, ardendo, ardendo, que só saía passando areia da praia. 
Saudade da livraria que agora a memória me trai, só me lembro que era vizinha à Farmácia Nacional, onde às sextas-feiras se reuniam os fazendeiros, agiotas, prefeitos do Estado. Ali compravam, vendiam fazendas, lotes de gado, conversavam sobre os crimes, principalmente políticos e familiares. Vez por outra, sabia que alguém fora assassinado na porta da farmácia. O assassino, em sua postura “ética” não fugia, se entregava, pois a honra, a traição e todos os motivos foram vingados. 
Saudade do Cine São Luiz! Ah o cinema!, o escurinho do cinema, os filmes de faroeste e as belas, dolorosas e trágicas películas de casos de amor. Ali, conheci na tela Kim Novack, a loira mais linda que percorria meus sonhos e apontavam para a escolha de uma mulher assim na vida. Chorei nos filmes de Sinatra e acompanhei todo o seriado do Zorro e Tom Mix. Havia um pistoleiro, claro, um personagem de mocinho, Hopolano Casside, que depois soube que o nome era Hopolan Kassid. 
Saudades dos namoros dentro no cinema: mãos nas mãos, arrepios de descarga de adrenalina, beijos, somente nas mãos, o que já era uma grande conquista. Sair desfilando pela Rua do Comércio com a namorada era uma façanha estonteante! 
Saudades dos papos com Getúlio Mota, pintor modernista, e com meu amigo Luiz Gutemberg, jornalista, que anos depois saíra de Maceió para a cidade grande do Rio de Janeiro, e que o reencontrei em Brasília. Foi o primeiro jornalista que convidei para fazermos uma palestra, juntos, sobre “Infância” de Graciliano Ramos no Instituto de Psicanálise. Dois alagoanos e um conterrâneo ilustre, um dos maiores escritores que esse país já teve e tem, Graciliano tinha a sabedoria de poder escrever sem perder nem desperdiçar uma palavra. Suas palavras enxutas, lavadas na água e no anil, como escreve em São Bernardo, outro romance seu. 
Saudades enfim, de uma época em que tive a coragem e o medo de sair da minha terra em direção a São Paulo. Mais ou menos trinta pessoas, entre parentes e amigos bradando: fica, fica, o que você vai fazer lá longe? Chorava ao entrar no avião, sem olhar para trás, caso contrário não teria coragem de me separar da família e dos amigos. 
A experiência de ir morar na “selva de pedra”, de alguém que nascera na pequena Conceição do Paraíba, é para outra ocasião. A “formiguinha” diante do “elefante”. 
Relendo um belo livro de Augusto Frederico Schmidt – “Saudades de mim mesmo, uma antologia da prosa”, Editora Globo, escritor e poeta que nos brinda com sua forma leve, gostosa e de uma prosa poética que encontro também em Paulo Mendes Campos, escreveu: 
“Saudades das coisas esquecidas, das pequenas alegrias, dos primeiros livros que amei. Saudade do olhar irônico, meio comovido, com a distante adolescente da rua São Clemente, já com o uniforme do colégio, me via passar correndo para não perder o bonde que me levava para a cidade."
Carlos.A.Vieira, médico, psicanalista, Membro Efetivo da Sociedade de Psicanálise de Brasília e de Recife. Membro da FEBRAPSI e da I.P.A - London.

Gastos Públicos - Lanches de ministro da Fazenda em voos da Força Aérea têm até caviar



Os lanches oferecidos ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, durante voos da Força Aérea Brasileira (FAB) têm iguarias como canapés de caviar, camarão e salmão defumado. As refeições a bordo de aeronaves custam até R$ 74,6 mil por ano, valor do contrato firmado pelo Ministério da Fazenda com a empresa RA Catering, especializada em fornecer refeições rápidas para companhias aéreas. As informações são da ONG Contas Abertas. ...

A pasta assinou no mês de outubro o contrato de um ano com a empresa, que fornecerá refeições e lanches ao ministro quando ele se deslocar de Brasília a outras localidades da Federação ou ao exterior, em alguma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB). O contrato foi feito sem licitação, de acordo com uma lei que o permite quando houver inviabilidade de competição, em especial para a contratação de serviços técnicos singulares, com profissionais ou empresas especializados.

Por mês, o valor estimado de gasto com a empresa é de R$ 6,2 mil, mas ele depende da necessidade do serviço. O contrato prevê o fornecimento de água mineral, refrigerantes e sucos diversos, cafés da manhã, almoços e jantares, além de bandejas de frutas inteiras e fatiadas. Também estão disponíveis a Mantega sanduíches (de atum, frango e peito de peru), iogurtes, chocolates, sopas e queijos diversos.

A RA Catering também tem contrato com os ministérios das Relações Exteriores, Meio Ambiente, Integração Nacional e com a Advocacia-Geral da União. Destes, o mais caro é com o ministério da Integração Nacional, de R$ 108,6 mil, e o mais barato é o da pasta de Meio Ambiente, de R$ 8 mil.
Fonte: Terra - 04/11/2013

UMA TROCA JUSTA, por Mauro Pereira


militares-hostilizados-foto-fabio-motta-ae-480x320                 Março de 2012: militares da reserva são hostilizados em frente ao Clube dos Oficiais no Rio de Janeiro
Sempre que o assunto descamba para os anos da ditadura e seus desdobramentos, me vem à lembrança um fato ainda recente ocorrido no primeiro trimestre de 2012, cuja temeridade não me permite deixar que caia na insaciável vala do esquecimento. Relembro as cenas da emboscada armada por um grupo muito bem treinado para hostilizar militares, e civis, na porta do Clube dos Oficiais no Rio de Janeiro no dia 29 de março daquele ano, episódio que serviu para escancarar a irresponsável radicalização ideológica patrocinada pelo governo federal que vê na malfadada Comissão da Verdade uma possível reconciliação com a história, mas não enxerga, ou não quer enxergar, a possibilidade bastante plausível de que tangida pelo viés ideológico a justiça almejada pode encurtar o caminho para a vingança consentida.
Recém saídos da puberdade, um punhado de jovens se perfilou para reproduzir palavras de ordem, entoar palavrões, disparar cusparadas e intimidar fisicamente quem se aventurasse deixar as dependências do clube, não poupando sequer anciãos já flagelados pela idade. Acobertado por uma verdade que está condenada ao descrédito por ser revelada pela metade, o grupelho encenou em terras cariocas o mesmo ritual de selvageria usado em São Paulo para intimidar Mário Covas. De diferente, apenas o sangue derramado do ex-governador dos paulistas. Retrato descolorido de um Brasil vilipendiado por autoridades promíscuas e corruptas, envergonhado pela miséria negociada na bolsa da servidão e alquebrado pela capitulação dos bons. Da maioria, pelo menos.
Debilita-se o otimismo com o amanhã quando uma parte de sua juventude alienada tateia sem rumo pelas trevas do analfabetismo, enquanto a outra, manipulada, serve de massa de manobra para atender os interesses de mercenários que fincaram os pés no que sobrou de pior do passado e ainda carregam nas almas atormentadas o sonho embalado na mocidade de transformar o Brasil em um país comunista.
Uns, herdeiros das frustrações de seus pais, outros, doutrinados nas universidades, são conduzidos por líderes que exalam o comunismo por todos os poros. Covardes, perseguem uma verdade canhestra dedicada apenas a condenar os crimes dos seus inimigos. Os seus, a consciência deformada já justificou e os inocentou. Matreiros, fogem do debate franco, cara a cara com a sociedade e negam-se, por exemplo, a quantificar as vítimas que produziram – há quem garanta que superou uma centena -, escorando no andor da hipocrisia o embuste justiceiro que serve de pano de fundo para a revanche inspirada no heroísmo assassino de carniceiros da linhagem de Stalin, de Pol Pot, de Mao Tse Tung.
Profissionais da militância, dramatizam de forma desavergonhada a comoção martirizando seus camaradas, mas, na contramão da sensibilidade, tipificam como mero efeito colateral os inocentes que sucumbiram à histórica sanha sanguinária que os precede e identifica. Insultam a inteligência quando declaram ódio eterno ao capitalismo que os enriquece. Como reagiriam esses valentes se, concentrados às suas portas, os familiares dos brasileiros assassinados pela guerrilha clamassem por justiça a seus mortos?
Encorajada por setores do governo, e da imprensa, a horda se assanha e pelas frestas do cinismo autoritário que a personifica grita por democracia e por liberdade. Qual democracia? A mesma que nas nações onde foi implantada à bala deixou um rastro de destruição consubstanciado no acúmulo de várias dezenas de milhões de cadáveres abandonados nas sarjetas do horror e valeu-se do mar de sangue que estabeleceu para regar o caminho de seus déspotas rumo ao poder, oferecendo como derradeira alternativa de sobrevivência ao cidadão a submissão inquestionável à vontade suprema do tirano da vez? Qual liberdade? A que motivou uma somatória de milhares de cubanos se lançar ao mar em embarcações precaríssimas preferindo virar comida de tubarão a viver na ilha encantada construída por Fidel Castro?
A história é pródiga em nos mostrar que o regime democrático defendido por essas lideranças só se sustenta sob a imposição da dor, no sequestro das liberdades e dos direitos individuais e na prática da barbárie, se necessária. E, ainda assim, não se mantém de pé por muito tempo. Resultado da violência do regime que os inspira não hesitarão em morrer pela causa, porém, jamais estarão dispostos a sacrificar-se pela pátria. Nacionalistas sem nação e mercenários da ideologia, não os reconheço como brasileiros. Da mesma forma, espero que me repudiem como kamarada. É uma troca justa, presumo. Tenho minhas dúvidas, mas há de ter exceção. Sempre tem, é a regra.
A manifestação da mais pura intolerância e o exercício da condenação sumária protagonizado pelos párias que tomaram a frente do Clube dos Oficiais no Rio de Janeiro, é só uma amostra do que poderá ser o desfecho dessa aventura insana disfarçada de Comissão da Verdade. Sob sua inspiração, já são visíveis as pegadas que evidenciam a índole predadora dos seus justicialistas juramentados. Maria do Rosário, Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, entre outros, são personagens que poderão entrar para a história como os mentores e executores da discórdia cuja dimensão, impossível de prever, não descartaria a possibilidade de remeter a sociedade brasileira a uma de suas páginas mais nebulosas

CHARGE DO MARIOSAN




  
Esta charge do Mariosan foi feita originalmente para o