quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Núcleo do PT da Papuda será o mais influente do país


O PT se organiza, como sabem todos, a partir de “núcleos”, que são grupos formados em bairros, comunidades, as ditas minorias etc. Se todos os condenados do mensalão ficarem mesmo reunidos no Presídio da Papuda, em Brasília — que já passou por reformas para receber visitantes tão ilustres —, estarão sob o mesmo teto José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoino, João Paulo Cunha e Henrique Pizzolato.
Isso significa que o núcleo do PT da Papuda será, certamente, o mais influente do país. Lá de dentro, Dirceu poderá, como costuma acontecer nesses casos, mandar os seus “salves” para os “irmãos” que estão livres.
Por mais que o PT delibere isso e aquilo aqui do lado de fora, haverá certas decisões que só poderão ser tomadas com a concordância do chefão do núcleo da Papuda.
Por Reinaldo Azevedo

Quadrilha resgatou traficantes em presídios para fortalecer a guerra em favelas do Rio


Por Leslie Leitão, na VEJA.com:
Um dos grandes problemas da segurança pública no Brasil é o fato de, mesmo encarcerados, bandidos conservarem poder, com capacidade de tomar decisões e tramar novas ações criminosas. É desta forma que atua, por exemplo, o Primeiro Comando da Capital, o temido PCC, que, de São Paulo, articula o banditismo em várias partes do país. A ousadia das quadrilhas de São Paulo e do Rio mostra que, lamentavelmente, facções do crime também conseguem, sem muita dificuldade, resgatar os “cabeças” das quadrilhas nos presídios, como revelou a edição de VEJA desta semana, que trouxe com exclusividade o depoimento dado à polícia pelo traficante Rodrigo Prudêncio Barbosa, 35 anos, o Gordinho. Com medo de morrer, ele decidiu revelar à polícia e à Justiça informações preciosas, e detalhou como o Comando Vermelho, facção mais antiga e poderosa nos morros cariocas, conseguiu deflagrar uma série de operações de resgate para levar de volta às favelas alguns criminosos presos. Uma série de fugas ocorridas entre os meses de fevereiro e agosto deste ano ajudaram o CV a se reorganizar nas ruas. E as declarações de Gordinho indicam que o que está por vir é preocupante, com mais armas nas ruas e bandidos dispostos a entrar em guerra para recuperar territórios.
A cinematográfica fuga do presídio Vicente Piragibe, no Complexo de Gericinó, foi o pontapé inicial dos planos do Comando Vermelho. Vinte e sete detentos escaparam por uma galeria de águas pluviais e começaram a impor o terror em bairros das zonas Norte e Oeste do Rio de Janeiro. Estabeleceu-se, então, uma nova cúpula da quadrilha. Luiz Claudio Machado, o Marreta, um dos resgatados, tornou-se o general das guerras, comandando ataques a morros estratégicos para o faturamento e a manutenção do poder do grupo. Marcos Ferreira de Resende, o Playboy, outro “salvo” pela ação dos bandidos, voltou ao posto de homem de confiança de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, no despejo de armas e drogas. Já Claudino dos Santos Coelho, o Russão, um dos assassinos do jornalista Tim Lopes, ficou como responsável financeiro da quadrilha.
Em setembro, Russão foi morto por policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) durante um tiroteio no Morro da Covanca, em Jacarepaguá. Quase simultaneamente, outra peça importante na hierarquia do bando ganhou a liberdade. Mesmo condenado a 73 anos de cadeia por assaltos, sequestros, tráfico e homicídio, José Benemário de Araújo, o Benemário, obteve o benefício da progressão de regime enquanto cumpria pena num presídio federal em João Pessoa, na Paraíba. De lá, sua primeira missão foi reestabelecer as boas relações com o Primeiro Comando da Capital. Como mostrou a reportagem de VEJA, a partir da quitação de dívidas do CV com o PCC foi restabelecido o canal de distribuição de armas e drogas entre São Paulo e Rio.
Com o bando se recompondo, em agosto o CV deu sua mais importante cartada. Claudio José de Souza Fontarigo, o Claudinho da Mineira, e Ricardo Chaves de Castro Lima, o Fu, fugiram da penitenciária federal de Porto Velho, em Rondônia, para onde haviam sido transferidos. Ambos também receberam o benefício de visitar a família, mas não retornaram à cadeia.
Tiroteios
O retorno de chefões do tráfico ao comando das quadrilhas e o fortalecimento dos bandidos é sentido, no Rio de Janeiro, principalmente no aumento das atividades criminosas. Os tiroteios, que vinham se reduzindo desde o início do programa de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) voltaram a ocorrer, mesmo em áreas chamadas de “pacificadas” pelo governo do estado. Uma das primeiras medidas de Claudinho da Mineira e Fu, assim que retornaram ao Rio, foi atacar o Morro da Mineira, no bairro Estácio, ocupado por uma UPP, mas também com forte presença de uma facção inimiga do CV, que controla a venda de drogas no local. Em um dos confrontos no local, no início de outubro, a equipe da UPP chegou a ficar encurralada e precisou de ajuda do Batalhão de Operações Especiais (Bope) para escapar da emboscada. Fu e Claudinho ainda não conseguiram tomar o controle das bocas de fumo. “Eles vão comandar a facção e, agora, com certeza, haverá a compra de armas para promover o ataque ao morro”, afirmou o traficante Gordinho, num trecho das duas horas de depoimento à polícia.
Entre as informações prestadas por Gordinho, um ex-gerente do tráfico do Morro da Fazendinha, no Complexo do Alemão, está o plano para reatar a aliança com o PCC. Mais de 9 milhões em dívidas de drogas e armas foram pagos. Se na Mineira a resistência é do estado e da própria facção rival, em outras áreas da cidade a conquista do território veio com as guerras, que se espalharam por São Gonçalo, favelas da Baixada Fluminense e, principalmente, nas zonas Norte e Oeste da cidade.
O foragido Marreta está por trás da maior parte das ações. De acordo com informações dos setores de inteligência da Polícia Civil, o criminoso foi o responsável pelas invasões. E numa delas acabou baleado no pé. Seu paradeiro, até hoje, é incerto. Mas o novo “estatuto” do CV deixa claro que os bandidos não vão dar trégua: “Quando nossas vozes não são ouvidas, o crime é a melhor razão para que ela venha fazer eco… seremos implacáveis dentro e fora dos presídios”, prega o grupo, numa espécie de mantra macabro que hipnotiza os jovens aliciados e transforma a guerra do tráfico em uma espécie de “causa”.
Por Reinaldo Azevedo

Dora Kramer: Congresso cruza os braços enquanto triplica a bancada dos deputados-detentos — presos sem perder o mandato


(Foto: forbes.com)
(Foto: forbes.com)
BANCADA DO CÁRCERE
Da coluna de Dora Kramer no jornal O Estado de S. Paulo
Encerrada a fase de exame da segunda leva dos embargos de declaração apresentados pelos réus do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal, o Congresso Nacional está prestes a tornar-se refém de uma sinuca construída com as próprias mãos, sustentada na ausência de bom senso e alimentada por uma visão deformada de preservação da autonomia do Poder.
Não bastasse ter mantido a condição parlamentar de Natan Donadon, atualmente residente no presídio da Papuda, Câmara e Senado podem ganhar em breve a companhia de mais dois detentos: os deputados Pedro Henry e Valdemar Costa Neto, integrantes do grupo dos condenados sem direito a recursos passíveis de modificação das sentenças.
Deixemos por ora de lado o caso do deputado e ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, mas com chance de ser absolvido neste último crime por força de embargo infringente.
Sobre isso a Corte vai se debruçar no primeiro semestre do próximo ano, não para anular punições, mas para estabelecer novo regime de cumprimento da pena de um, de outro, de nenhum ou de todos que tenham esse direito. Falemos apenas dos dois deputados em via de receber o veredito final depois de publicado o acórdão relativo a essa etapa.
E por que, então, a referência também ao Senado? Porque o assunto ficará em suspenso e durante algum tempo o Parlamento terá triplicado a sua população carcerária devido à recusa das duas Casas a fazer a sua parte a tempo e à hora.
Postergou o quanto pôde a votação da chamada PEC dos mensaleiros que prevê a perda imediata de mandatos em casos de condenações criminais, de autoria do senador Jarbas Vasconcelos. Quando finalmente foi aprovada no Senado em decorrência da vergonhosa manutenção do mandato de Donadon, ficou parada na Câmara e assim está há dois meses.
O Legislativo também protela a mais não poder a votação da emenda constitucional que muda de secreta para aberta a manifestação dos parlamentares. Há duas propostas: uma na Câmara, outra no Senado, ambas emperradas na resistência de suas excelências a enfrentar o dilema de abrir o sigilo para todo o tipo de votação ou só para os casos de cassações.
Ao mesmo tempo, a Mesa da Câmara entende que o STF não tem a palavra final e o presidente da Casa, Henrique Alves, disse que não levará cassações ao plenário enquanto não for resolvida a questão do voto secreto.
Ou seja, nada anda nessa embolada. Ou pelo menos não anda no ritmo correspondente a um problema que só admite um resultado – o afastamento de condenados – e, portanto, já poderia e deveria ter sido solucionado livrando o Congresso de mais essa afronta ao princípio do decoro parlamentar.

O ITA vai dobrar de tamanho e se modernizar com ajuda do MIT


O Instituto Tecnológico de Aeronáutica, uma das principais escolas de engenharia do país, vai entrar numa nova fase. Para isso, contará com a ajuda do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nada menos que o melhor do mundo na área



André Lessa/EXAME.com
Laboratório de automação do ITA
Laboratório de automação do ITA: um número maior de alunos terá acesso a estas instalações
São José dos Campos - A manhã de terça-feira 27 de agosto seria igual a qualquer outra no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos, no interior de São Paulo, não fosse a disposição dos alunos em não assistir às aulas. Algo surpreendente, visto que o ITA, uma instituição militar, é reconhecido por ter alunos dedicados, disciplinados e, sobretudo, brilhantes.
A relação candidato-vaga de seu vestibular é uma das mais altas do Brasil e seus formandos são disputados a tapa no mercado. “Busco sempre contratar gente do ITA”, diz Alberto Carvalho, presidente da fabricante de bens de consumo Procter&Gamble no Brasil e ex-aluno da instituição.
“Os alunos aprendem a lidar com pressão e desenvolvem uma capacidade técnica impressionante.” Esses alunos pararam para clamar por mudanças. “O pessoal que foi estudar no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), de Boston, nos Estados Unidos, pelo Ciência sem Fronteiras, disse que o curso lá era mais estimulante e tinha mais prática de engenharia do que aqui, embora a qualidade dos alunos fosse igual”, diz Victor Montalvão, estudante do 3º ano de computação e um dos líderes do centro acadêmico.
Outra coisa surpreendente: o reitor Carlos Américo Pacheco faz eco às críticas dos estudantes. “Há uma desvantagem clara em relação aos melhores cursos de engenharia do mundo”, afirma Pacheco. “O ITA é uma escola envelhecida.”
Naquela manhã, ele se reuniu com os alunos para ouvi-los. Os estudantes reclamavam que não têm flexibilidade na grade de disciplinas e que alguns professores abusam do poder. No ITA, só no último ano há disciplinas optativas. Não existe, como em outras universidades, o sistema de créditos, que permite ao aluno se especializar em áreas de preferência. Além disso, quando um professor reprova um aluno, ele é desligado da escola.
As reivindicações dos alunos são simbólicas do momento que o ITA vive — elas chegam em meio a um processo de mudança que é o mais significativo desde a fundação, em 1950. No centro da reforma está o objetivo de aumentar o tamanho da instituição. Hoje, a escola tem 600 alunos de graduação e forma 120 engenheiros por ano. O plano é dobrar esse número.
O vestibular deste ano já ofereceu 50% mais vagas para a graduação. O número de alunos de mestrado e doutorado também crescerá, de 1 200 atuais para 1 800 até 2017. Os professores, hoje 150, serão 300 — o ITA vai contratar mais 60 já no ano que vem. Porém, mais do que crescer, a instituição precisa se atualizar.
Para ajudar nessa tarefa, Pacheco pretende fechar até o fim do ano uma parceria com o MIT, considerada a melhor escola do mundo na área tecnológica. De lá virá a inspiração para mudar o currículo dos seis cursos de engenharia oferecidos. “Já detectamos diversas oportunidades para melhorar o ensino no ITA”, diz Jaime Peraire, chefe do departamento de aeronáutica da instiuição americana.
A parceria será uma espécie de retorno às origens: o ITA teve dois reitores americanos, ex-professores do MIT, na década de 50, quando foi criado por militares da Força Aérea Brasileira. Na década seguinte, o ITA forneceu a base de engenheiros que impulsionou a produção de aviões no país, gerando empresas como a Embraer, fundada como uma estatal em 1969, também em São José dos Campos.
A parceria com o MIT inclui projetos de pesquisa conjuntos e um intercâmbio maior de professores e alunos. Assim, a escola brasileira espera dar uma injeção de qualidade na pós-graduação. A maioria de seus cursos de mestrado e doutorado tem nota 4 na avaliação do Ministério da Educação, numa escala que vai até 7.  
“Melhorar a pós-graduação vai permitir que os novos professores sintam que podem desenvolver também uma carreira notável como pesquisadores”, diz  Carlos de Brito Cruz, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo, ele mesmo um ex-aluno do ITA.
“Isso é o que mais atrai professores de alto nível.” O ITA vai precisar de professores com mentalidade inovadora para atualizar sua grade de disciplinas. No ano que vem, a escola definirá os detalhes de um sistema de créditos que permitirá, em 2015, escolher matérias optativas a partir do 3º ano da graduação — e não mais no último, como é hoje. As áreas de conhecimento que mais serão contempladas são engenharia de sistemas, de inovação e de materiais, cursos que não existem hoje no ITA. 
No plano, está tudo muito bonito, mas, na prática, a mudança sofre com os nós do setor público no Brasil. “Com seu processo de recrutamento, o ITA terá dificuldade de contratar professores com as características adequadas para tocar a modernização”, diz Silvio Meira, outro ex-aluno da escola e fundador do polo de inovação Porto Digital, em Recife.
Meira integra a Comissão de Planejamento Estratégico criada por Pacheco depois que ele virou reitor do ITA, no fim de 2011. O próprio Pacheco sabe que terá dificuldades para tocar o processo. Ele foi secretário executivo do Ministério de Ciência e Tecnologia no governo Fernando Henrique Cardoso e aprendeu a negociar nos gabinetes de Brasília.
“O perfil político de Pacheco foi decisivo para conseguir, nos ministérios da Defesa e da Educação, a liberação de 300 milhões de reais para a construção de quatro prédios”, diz Fernando Sakane, vice-reitor desde 2003. A própria parceria com o MIT, que vem sendo negociada há mais de um ano, ainda depende de acertos típicos da burocracia.
A expectativa de Pacheco era que a presidente Dilma assinasse um documento firmando o pacto na viagem oficial que estava programada para os Estados Unidos em outubro. O cancelamento da viagem foi um balde de água fria. Mas isso não vai pará-lo. “O MIT é um estímulo, mas vamos encontrar caminho próprio”, diz Pacheco. Que caminho, reitor? “Uma escola capaz de despertar a paixão por estudar e empreender.”

Entenda como será prisão de Dirceu e dos outros mensaleiros


O STF ainda irá esclarecer hoje quais réus exatamente deverão cumprir as sentenças imediatamente e as condições. Mas uma vez emitida a ordem de prisão, processo é rápido




José Cruz/ABr
Réus do mensalão com roupa de presidiários em protesto no STF
Protesto em frente ao STF: prisão pode ocorrer nos próximos dias
São Paulo - O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, nesta quarta-feira, pela execução imediata das penas de José Dirceu, José Genoíno e outros réus condenados no julgamento do mensalão.
Após uma sessão confusa, a Corte ainda precisa esclarecer a quais réus, exatamente, essa decisão se aplica - Joaquim Barbosapresidente do Supremo, afirmou que as dúvidas seriam sanadas na sessão desta quinta-feira -, mas é certo que, feito isso, não haverá razões para qualquer demora no caminho à prisão dos condenados a regime fechado ou semiaberto.  
Isso porque há poucas etapas entre a declaração de "transitado em julgado", que significa que o processo está concluído e não cabem mais recursos, e a efetiva detenção dos condenados. 
Segundo Rafael Mafei Rabelo Queiroz, professor da faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), o STF terá que emitir os mandados de prisão - o que poderia ocorrer ainda hoje - e entregá-los à Polícia Federal, que daria cumprimento a esses mandados. 
À polícia cabe o papel de levar o mandado de prisão ao juíz de execução para que ele decida como e onde a pena será cumprida.
Ainda há dúvidas sobre se os condenados a regime semiaberto ou fechado deverão cumprir pena em Brasília - Joaquim Barbosa indicou que mandaria o caso para a Vara de Execução Penal da capital - ou em seus estados de domicílio. De qualquer modo, o juiz em Brasília poderá transferir as sentenças para as devidas unidades da federação.
É de praxe que a justiça leve em conta o domicílio eleitorial do condenado para que ele fique no presídio mais próximo de sua residência e família. 
Na opinião de Queiroz, esse processo todo será muito rápido. Tomando-se como exemplo o caso do deputado Natan Donadon, condenado pelo Tribunal a 13 anos de reclusão, os condenados seriam presos já nos próximos dias. 
No caso de Donadon, entre a determinação da prisão pelo STF e a sua efetivação, passaram-se apenas dois dias.
O STF ainda deve esclarecer, mas o entendimento geral da sessão de ontem é que sejam presos mesmo aqueles réus que já entraram com os recursos chamados embargos infringentes, que dão direito a novo julgamento, o que deve ocorrer em 2014.
Isto significa que, mesmo que José Dirceu ainda tenha chance de ser absolvido do crime de formação de quadrilha (com pena de 2 anos e 11 meses), ele já deve começar a cumprir os 7 anos e 11 meses de prisão aos quais foi condenado por corrupção passiva.  
Neste caso, ele cumprirá a pena inicialmente em regime semiaberto, e não fechado - o que aconteceria se ele fosse começar a cumprir a pena após o julgamento dos embargos infringentes e os juízes mantivessem a condenação.
Sob esta hipótese, como argumentou Barbosa na sessão de ontem, ele seria até mesmo beneficiado: se no ano que vem o STF confirmar sua condenação por quadrilha, ele irá para o regime fechado, mas descontará os dias que passou no semiaberto, quando tem a possibilidade de sair para trabalhar durante o dia com autorização judicial.

Uma carta de Mário de Andrade para Carlos Drummond


“Li seu artigo. Está muito bom. Mas nele ressalta bem o que falta a você — espírito de mocidade brasileira”, diz Mário para Drummond. “Carlos, devote-se ao Brasil, junto comigo”
São Paulo, 10 novembro 1924
Meu caro Carlos Drummond
Já começava a desesperar da minha resposta? Meu Deus! Comecei esta carta com pretensão… Em todo caso de mim não desespere nunca. Eu respondo sempre aos amigos. Às vezes demoro um pouco, mas nunca por desleixo ou esquecimento. As solicitações da vida é que são muitas e as da minha agora muitíssimas e… Quer saber quais são? Tenho o meu trabalho cotidiano, é lógico. Lições no Conservatório, lições particulares. Mas atualmente as minhas preocupações são as seguintes: escrever dísticos estrambóticos e divertidos prum baile futurista que vai haver na alta roda daqui (a que não pertenço, aliás). Escolher vestidos extravagantes mas bonitos pra mulher dum amigo que vai ao tal baile. E escrever uma conferência sem valor mas que divirta pra uma festa que damos, o pianista Sousa Lima e eu, no Automóvel Clube, sexta-feira que vem. São as minhas grandes preocupações do momento. Serão desprezíveis pra qualquer idiota antiquado, aguado e simbolista. Pra mim são tão importantes como escrever um romance ou sofrer uma recusa de amor. Tudo está em gostar da vida e saber vivê-la. Só há um jeito feliz de viver a vida: é ter espírito religioso.
Explico melhor: não se trata de ter espírito católico ou budista, trata-se de ter espírito religioso pra com a vida, isto é, viver com religião a vida. Eu sempre gostei muito de viver, de maneira que nenhuma manifestação da vida me é indiferente. Eu tanto aprecio uma boa caminhada a pé até o alto da Lapa como uma tocata de Bach e ponho tanto entusiasmo e carinho no escrever um dístico que vai figurar nas paredes dum bailarico e morrer no lixo depois como um romance a que darei a impassível eternidade da impressão.
Eu acho, Drummond, pensando bem, que o que falta pra certos moços de tendência modernista brasileiros é isso: gostarem de verdade da vida. Como não atinaram com o verdadeiro jeito de gostar da vida, cansam-se, ficam tristes ou então fingem alegria o que ainda é mais idiota do que ser sinceramente triste. Eu não posso compreender um homem de gabinete e vocês todos, do Rio, de Minas, do Norte me parecem um pouco de gabinete demais. Meu Deus! se eu estivesse nessas terras admiráveis em que vocês vivem, com que gosto, com que religião eu caminharia sempre pelo mesmo caminho (não há mesmo caminho pros amantes da Terra) em longas caminhadas! Que diabo! estudar é bom e eu também estudo. Mas depois do estudo do livro e do gozo do livro, ou antes vem o estudo e gozo da ação corporal.
Eu neste ponto não aconselho nada porque nisso a gente não se muda por causa de conselhos, mas um dos desastres que impedem a felicidade, que é naturalidade, de vocês está aí: em casa lendo, redação de jornal, café com amigos sobre tal livro, tal escritor, escrever coisas depois, talvez cinemas e depois farra com mulheres. Isso não é vida que se leve! Isso é vício. Está muito bem com todas as outras formas de vida juntas, mas assim sozinhos e continuados é miséria, decadência e infelicidade na certa. É horrível.
Veja bem, eu não ataco nem nego a erudição e a civilização, como fez o Osvaldo num momento de erro, ao contrário respeito-as e cá tenho também (comedidamente, muito comedidamente) as minhas fichinhas de leitura. Mas vivo tudo. Que passeios admiráveis eu faço, só! Mas ninguém nunca está só a não ser especiais estados de alma, raros, em que o cansaço, preocupações, dores demasiado fortes tomam a gente e há essa desagregação dos sentidos e das partes da inteligência e da sensibilidade. Estão a gente fica só por milhões de amigos que tenha ao lado. Se não, não. Um sentido conversa com outro, a razão discute com a imaginativa etc. e é uma camaradagem sublime de pessoas tão íntimas como nenhuns Castor e Pólux ideais. E então parar e puxar conversa com gente chamada baixa e ignorante! Como é gostoso! Fique sabendo duma coisa, se não sabe ainda: é com essa gente que se aprende a sentir e não com a inteligência e a erudição livresca. Eles é que conservam o espírito religioso da vida e fazem tudo sublimemente num ritual esclarecido de religião.
Eu conto no meu “Carnaval carioca” um fato a que assisti em plena avenida Rio Branco. Uns negros dançando o samba. Mas havia uma negra moça que dançava melhor que os outros. Os jeitos eram os mesmos, mesma habilidade, mesma sensualidade mas ela era melhor. Só porque os outros faziam aquilo um pouco decorado, maquinizado, olhando o povo em volta deles, um automóvel que passava. Ela, não. Dançava com religião. Não olhava pra lado nenhum. Vivia a dança. E era sublime. Este é um caso em que tenho pensado muitas vezes. Aquela negra me ensinou o que milhões, milhões é exagero, muitos livros não me ensinaram. Ela me ensinou a felicidade.
Bom! não é preciso ninar a vida pra ser feliz dentro dela e ainda tenho umas coisinhas pra lhe dizer e perguntar. Primeiro você me fala numa carta que escrevi ao Martins de Almeida. Ora eu já escrevi duas e da segunda não veio resposta. Não sabe se ele a recebeu? Se não, fico seriamente triste porque era longa, não era pensada, não, mas era tão minha, dada de coração, e eu me horrorizo de me pensarem ingrato ou indiferente. Ele que me escreva qualquer coisa. A carta foi registrada pra avenida Paraopeba 272. Segundo: li seu artigo. Está muito bom. Mas nele ressalta bem o que falta a você — espírito de mocidade brasileira. Está bom demais pra você. Quero dizer: está muito bem pensante, refletido, sereno, acomodado, justo, principalmente isso, escrito com grande espírito de justiça. Pois eu preferia que você dissesse asneiras, injustiças, maldades moças que nunca fizeram mal a quem sofre delas. Você é uma sólida inteligência e já muito bem mobiliada… à francesa.
Com toda a abundância do meu coração eu lhe digo que isso é uma pena. Eu sofro com isso. Carlos, devote-se ao Brasil, junto comigo. Apesar de todo o ceticismo, apesar de todo o pessimismo e apesar de todo o século 19, seja bobo, mas acredite que um sacrifício é lindo. O natural da mocidade é crer e muitos moços não creem. Que horror! Veja os moços modernos da Alemanha, da Inglaterra, da França, dos Estados Unidos, de toda a parte: ele creem, Carlos, e talvez sem que o façam conscientemente, se sacrificam. Nós temos que dar ao Brasil o que ele não tem e que por isso até agora não viveu, nós temos que dar uma alma ao Brasil e para isso todo sacrifício é grandioso, é sublime. E nos dá felicidade. Eu me sacrifiquei inteiramente e quando eu penso em mim nas horas de consciência, eu mal posso respirar, quase gemo na pletora da minha felicidade. Toda a minha obra é transitória e educada, eu sei. E eu quero que ela seja transitória. Com a inteligência não pequena que Deus me deu e com os meus estudos, tenho a certeza de que eu poderia fazer uma obra mais ou menos duradoura. Mas que me importam a eternidade entre os homens da terra e a celebridade? Mando-as à merda. Eu não amo o Brasil espiritualmente mais que a França ou a Cochinchina. Mas é no Brasil que me acontece viver e agora só no Brasil eu penso e por ele tudo sacrifiquei.
A língua que escrevo, as ilusões que prezo, os modernismo que faço são pro Brasil. E isso nem sei se tem mérito porque me dá felicidade, que é a minha razão de ser da vida. Foi preciso coragem, confesso, porque as vaidades são muitas. Mas a gente tem a propriedade de substituir uma vaidade por outra. Foi o que fiz. A minha vaidade hoje é de ser transitório. Estraçalho a minha obra. Escrevo língua imbecil, penso ingênuo, só pra chamar a atenção dos mais fortes do que eu pra este monstro mole e indeciso ainda que é o Brasil. Os gênios nacionais não são de geração espontânea. Eles nascem porque um amontoado de sacrifício humanos anteriores lhes preparou a altitude necessária de onde podem descortinar e revelar uma nação. Que me importa que a minha obra não fique? É uma vaidade idiota pensar em ficar, principalmente quando não se sente dentro do corpo aquela fatalidade inelutável que move a mão dos gênios. O importante não é ficar, é viver. Eu vivo. E vocês não vivem porque são uns despaisados e não têm a coragem suficiente pra serem vocês. É preciso que vocês se ajuntem a nós ou com este delírio religioso que é meu, do Osvaldo, de Tarsila ou com a clara serenidade e deliciosa flexibilidade do pessoal do Rio, Graça, Ronald. De qualquer jeito porque não se trata de formar escola com um mestrão na frente. Trata-se de ser. E vocês por enquanto ainda não são. Responda, discuta, aceite ou não aceite, responda. Amigo eu serei sempre de qualquer forma. Não é a amizade e a admiração que diminuirão, é a qualidade delas.
Amizade triste ou amizade alegre e do mesmo jeito a admiração. Desculpe esta longuidão de carta. Eu sofro de gigantismo epistolar. Como vai o Nava? Vocês não arranjam mesmo um jeitinho de vir passar uns dias em São Paulo? Isto aqui é engraçado. Me avisem antes se um dia se aventurarem até aqui. E até logo. Vou lhe mandar uma cópia do “Noturno”, é só minha irmã ter um tempinho e passará a versalhada a máquina. Olhe, a Estética publicou um poema meu, “Dança”, que eu acho que tem alguma coisinha dentro. Reflita e mande me dizer.
Um abraço do
Mário de Andrade

Revista Bula

Diabetes: os sintomas, tipos e como prevenir e tratar


Posted: 13 Nov 2013 07:52 PM PST
Portal da Ilha

Florianópolis, SC. Dia 14 de novembro, quinta-feira, é o Dia Mundial do Diabetes, doença muitas vezes silenciosa e que já atingiu aproximadamente 10 milhões de brasileiros, de acordo com os últimos estudos.

O segredo para combater a doença é a informação. Sê você tem vontade de urinar diversas vezes, cansaço inexplicável, muita sede, aumento do apetite, perda de peso, visão embaçada, câimbras, formigamento dos pés e infecções na pele e até falta de concentração é melhor procurar um médico.

E não são apenas doces que são proibidos. “Tem que dar atenção a ingestão de carboidratos, pois eles são transformados em glicose no sangue”, salienta a médica endocrinologista Adriana Striebel.

E isto significa cortar pizzas e massas sim. A diabetes é a incapacidade do pâncreas em produzir a quantidade de insulina necessária e, consequentemente, causa um aumento anormal do açúcar ou da glicose no sangue.

A médica explica que a doença pode causar algumas complicações como amputação de membros, cegueira definitiva e longo prazo para tratamento de diálise. "Entretanto, nunca é tarde demais para descobrir e tratar a doença", diz. Existem alguns métodos preventivos para a doença, como hábitos de vida, controle do peso, dieta alimentar balanceada, atividade física regular e ter controle periódico médico”, diz a profissional da clínica Young Soul.

A manifestação da doença é mais forte no tipo 1, de origem genética e normalmente desenvolvida na infância, mas os sintomas também aparecem no tipo 2, relacionado à obesidade e ao excesso de peso

Assim como o aumento de peso pode despertar a diabetes, a redução pode aliviar a sua ocorrência, o que é comum em pacientes que fazem cirurgias estomacais.

Cuidado com as frutas

As frutas possuem açúcar natural, chamado frutose e, se ingerido demais, pode interferir na glicemia. Se o diabético quiser comer uma salada de frutas, o indicado é misturar no máximo três tipos diferentes e ingerir apenas duas colheres de sopas. A regra não é diferente para os sucos.

Tipos de diabetes

Tipo 1: mais frequente em crianças e adolescentes que desenvolvem anticorpos contra o próprio pâncreas.

Tipo 2: mais frequente em obesos, idosos e em pessoas com genética favorável. "Indivíduos com histórico familiar precisa de uma atenção ainda maior.

Diabetes

Quinta do Edson Vidigal tem Mulheres - EDSON VIDIGAL


Posted: 14 Nov 2013 05:36 AM PST

Mulheres


Edson Vidigal

A moça que por sua cultura e exuberante beleza foi eleita Miss Canadá maneja com precisão um rifle C47. Já atuou como atriz e dançarina. Nas Forças Armadas alcançou o oficialato. Ela tem 27 anos de idade e se chama Riza Santos.

Quando as Forças Aliadas na segunda guerra mundial dividiram a Alemanha em duas, a oriental e a ocidental, sobrou para Ângela a repressão e um muro enorme segregando sua gente.

Ângela, que veio do lado mais pobre e mais oprimido é hoje uma das mulheres mais poderosas do mundo. Ela é a Chanceler da Alemanha e líder respeitada da União Europeia.

A Dilma foi uma daquelas moças bonitas de classe média que como o irmão do Henfil descrito nos versos de Aldir Blanc embarcou num rabo de foguete.

Na última ditadura militar a Dilma nem tinha 20 anos de idade quando aderiu à luta armada, foi presa, torturada e amargou 3 anos de cadeia. Hoje é a Presidente da República.

Os militares que batem continência a Dilma e cumprem as suas ordens não tem nada a ver com os militares daqueles tempos. Ela não é só a Presidente. É a Chefe de Estado e Comandante em Chefe das Forças Armadas do Brasil.

Susan Brownell Anthony, editora de um jornal revolucionário, foi presa e levada a julgamento. Seu crime? Votou numa eleição quando as mulheres ainda eram proibidas de votar. Isso foi em 1873 nos Estados Unidos da América. Susan lutou até seus últimos dias de vida pelo voto feminino.

Só depois de 1930 que as mulheres tiveram reconhecido o direito ao voto no Brasil. Getúlio prometera na sua campanha presidencial.

Derrotado, chegando ao poder na crista de uma rebelião popular não cumpriu logo a promessa.

O primeiro anteprojeto da lei eleitoral levado a Getúlio concedia às mulheres o direito ao voto, mas apenas às solteiras que tivessem economia própria e vivessem de trabalho honesto ( o que seria isso?); às casadas que trabalhassem fora de casa, desde que autorizadas pelos respectivos maridos; às viúvas; às desquitadas; às que em consequência da ausência do esposo estivessem na direção da família e as largadas dos maridos há mais de 2 anos.

Numa canetada, Getúlio riscou isso tudo. Nas primeiras eleições para a Constituinte foram eleitas duas mulheres - Carlota Queiroz, 41 anos, por São Paulo e Berta Lutz, pelo Distrito Federal.

A primeira Senadora negra no Brasil foi Laélia de Alcântara, uma médica do Acre, opositora ao regime militar, que como Suplente completou de abril de 1981 a janeiro de 1982 por morte do titular, o Senador Adalberto Sena.

Outra Suplente, Eunice Michilles, nascida em S. Paulo, tirou o mandato quase inteiro do titular João Bosco, fulminado por um enfarte em Brasília, nas primeiras semanas do mandato.

Por meses a Senadora Michilles, uma loura miúda e timida, foi noticia nos jornais e na TV até mesmo quando no plenário descansava os pés fora dos sapatos.

A primeira mulher Governadora não foi quem vocês estão pensando. Foi Iolanda Fleming, do Acre. Erundina, da Paraíba, era Deputada Estadual em São Paulo quando foi eleita Prefeita da Capital na sucessão de Jânio Quadros.

As mulheres que mais apanham dos maridos e ainda sofrem todo tipo de discriminação são as do Egito atualmente.

Por aqui, devemos seguir pregando na defesa dos direitos delas. Afinal, primeiro, as mulheres!

Nota do editor da Aldeia: Ex-presidente do STJ, Edson Vidigal escreve às quintas-feiras para Direto da Aldeia

O gazeteiro encouraçado - FERNANDO ORATAVO NETO

Author: Carlos Newton |
 
 Fernando Orotavo Neto
Na França do século XVIII, antes da revolução mais célebre da história, publicações anônimas chamadas pelo nome de libelos (et pour cause), desafiavam a censura, denunciando um rei impotente, uma rainha luxuriosa, nobres depravados e um clero ganancioso e corrupto.
Um dos libelos mais famosos e vendidos do Ancien Régime foi exatamente “O Gazeteiro Encouraçado” (Le Gazetier Cuirassé). Em 1771, ano de sua primeira edição, o libelo já identificava a França com o despotismo e provocava a monarquia, declarando ser impresso “a cem léguas da Bastilha, sob o signo da liberdade”, isto é, em Londres (onde a liberdade de imprensa já era uma conquista consolidada), bem longe, portanto, do maior símbolo do autoritarismo francês, a torre da prisão, onde muitas cabeças foram decapitadas.
Se as ideias de Voltaire, Montesquieu, Rousseau, Diderot e D’Alembert constituíram o arcabouço da filosofia iluminista, contribuindo para a ascensão de um novo estado democrático, em contraposição ao estado absolutista, então reinante, não se pode vacilar na certeza inabalável de que as anedotas escandalosas da corte francesa, retratadas nos libelos, abriram e pavimentaram o caminho para a concretização da “liberdade, fraternidade e igualdade” – palavras que depois viriam a se tornar o próprio lema da revolução.
Por meio dos libelos, articulistas sem nome e rosto (mas com coragem!) promoviam, em tom jocoso, a discussão acerca da crise política e moral que assolava a França, revelando o quadro de uma sociedade corroída pela incompetência, imoralidade, sordidez e impotência. Sem medo de confrontarem os poderosos, os libelistas – hoje, reconhecidos como precursores do jornalismo investigativo – se desincumbiram da importante função de descortinar a corrupção dos governantes aos olhos do povo. E assim o fizeram, “na anatomia horrenda dos detalhes”, para repetir o poeta Augusto dos Anjos.  O luxo, as riquezas, os privilégios, as intrigas, as nomeações nobiliárias desprovidas de qualquer mérito, as viagens em grande estilo, o desperdício do dinheiro público, o superfaturamento de obras, as comissões e os presentes recebidos pelos ministros e secretários do governo. Está tudo lá,comme il faut! (como é preciso!).
Com efeito, depois de ler a notícia de que o Conselho do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro arquivou o pedido de investigação sobre as suspeitíssimas viagens do governador do Estado à Paris, por 4 (quatro) votos a 2 (dois), fico a pensar como esses gazeteiros retratariam nossos governantes de hoje. O que escreveriam, que anecdotes scandaleusescontariam, ainda a mais se pudessem pegar carona numa máquina do tempo e, saídos diretamente da França do século XVIII, lhes fosse permitido desembarcar no Estado do Rio de Janeiro, em pleno século XXI?
Será que ao menos perguntariam, segundo a fórmula atribuída a Erving Goffman, o que está acontecendo aqui? Ou será que a proximidade com Bangu e a longa distância daqui até Londres (muito mais que cem léguas) não permitiria que pergunta alguma fosse feita, por esses delicieuses gazeteiros, sem prejuízo de suas cabeças ou liberdade?
Mas como este é um artigo de ficção – e qualquer semelhança com viagens à Paris, jantares nababescos no Hotel de France, em Mônaco, regados aos melhores vinhos, champagne e caviar, passeios com helicópteros do Governo para levar cachorrinho de estimação para suntuosas casas de praia, tragédias na Bahia reveladoras de ligações perigosas (entre um Chefe de Governo e um fornecedor do Governo), existência de cavalos puro-sangue na hípica e guardanapos na cabeça, é mera coincidência (disse o MP, muito mais decididamente do que qualquer especialista ou tratado) – resta-nos, a todos, repetir Tartuffe, célebre personagem do genial Molière (neé Jean-Baptiste Poquelin), considerado o maior impostor (ou melhor: hipócrita) de todos os tempos, quando, do alto de sua patifaria intelectual, decretou:“Le scandale du mondeest ce qui fait l’offenseEt ce n’est pas pécher, que pécher en silence” (Tradução livre: O escândalo do mundo é que faz ofensa; e não é pecador, quem peca em silêncio).
 Post Scriptum – Mas quem precisa de perguntas (ou mesmo de gazeteiros) quando todos sabemos, acreditamos e compreendemos, que “o governo não mistura questões privadas com públicas”; como, aliás, teve oportunidade de declarar através de sua assessoria de imprensa (D’aprés Tartuffe, é claro). Ora, se o governo diz; dito está!

Charge do Sponholz

Author: Carlos Newton 

Tirar o máximo, dando o mínimo - CARLOS CHAGAS

Author: Carlos Newton | Date: 
Carlos Chagas
Desta vez foi em Portugal, como havia sido na Grécia, Espanha,  Itália e até França: multidões vão para as ruas das principais cidades protestar contra as chamadas “medidas de austeridade” adotadas pelos respectivos governos para enfrentar a crise econômica. A receita é uma só: demissões em massa, redução nos salários, aumento na jornada semanal de trabalho, diminuição das aposentadorias e pensões, extinção de programas sociais e sucedâneos.
Com elas, equilibram-se as contas dos bancos e das grandes empresas  bem como se maquiam os orçamentos públicos em sucessivas prestações de contas àqueles que  efetivamente gerem a economia mundial, de Nova York a Berlim  e adjacências.
Nada de novo sob o sol. É o trabalhador que paga a conta. Aumentam os preços dos alugueis e dos gêneros de primeira necessidade. Pioram os serviços públicos. Mas festejam as elites e os potentados financeiros, aqueles que da crise conseguem tirar lucros  vantagens ainda maiores.
Indaga-se quando esse embuste cruzará o Atlântico. Por enquanto, o Brasil rejeita a solução imposta à Europa, como tem repetido a presidente Dilma. Para ela, a saída está no crescimento,  não na recessão. Pode ser que resista ainda por algum tempo, enquanto o    círculo se fecha.  Será inexorável, porém, entre  os, a adoção das formas ortodoxas e malandras de condução da economia. Privatizações já se sucedem    como rotina. A conseqüência não demora, pois interessa aos grupos selecionados  para gerir aeroportos, rodovias, ferrovias e o petróleo do pré-sal tirar o máximo dando o mínimo.
Deve cuidar-se a presidente da República. As elites, se  não bastam para reelegê-la, detém influência e poderes para obstar-lhe a conquista do segundo  mandato. As concessões já feitas pelo seu governo acenderam ainda mais ambições e exigências, até a hora final em que iremos aderir à fórmula européia do desemprego, das demissões, dos cortes e tudo o mais. Quanto aos protestos da massa, lá como cá resultam em lamentos e indignação, mas sem meios para passar de depredações.  Parece perigoso juntar as duas pontas do fio… 

Autópsias políticas - SYLO COSTA

Author: Carlos Newton | Date: novembro 14, 2013 
Sylo Costa
Um sertanejo, quando soube o que é autópsia, disse com a certeza dos crentes: “autópsia só dá positiva em defunto pobre”. Agora, na falta do que fazer, virou mania a criação dessas comissões de verdades, criadas para apurar e distorcer fatos na forma de suas conveniências.
Quarenta anos depois, quais as versões dos fatos como o assalto à casa do governador Ademar de Barros? O que teria sido feito com aquele dinheiro, heim, dona Dilma? O ex-Luiz foi homenageado pelos vinte e cinco anos da Constituição. Mas o PT, liderado por ele, foi contra a sua promulgação. Era contra e continua sendo. Homenageado então por quê?
Solidariedade de mensaleiros… Apelam pelo sentimentalismo do nosso povo com autópsias de pessoas que foram ilustres. Procuram chifres em cabeça de cavalo, e ficaram sem graça quando não encontraram nada que provasse que JK tenha sido assassinado e invejam o resultado da autópsia feita nos restos de Arafat, o líder palestino, pois, lá, deu positivo: o homem morreu envenenado.
Vão desenterrar João Goulart e não querem saber de Carlos Lacerda, que morreu de desidratação. Sei não… desidratação? Sim, Lacerda foi comunista em priscas eras, mas, quando morreu, era considerado da direita. E sendo da direita não interessa, não dá caldo.
Do Chile, vem a notícia da autópsia dos restos de Pablo Neruda. Morreu de morte morrida mesmo, para desgosto da esquerda festiva e dos comunistas de Allende, que também foi autopsiado. Neste último caso, demonstrou-se que o ex-presidente se matou, que não foi assassinado, como queria a esquerda.
Alguém próximo ao papa Chico devia lembrá-lo da morte esquisita do papa João Paulo I, o papa Sorriso. E aproveitando essa oportunidade, podia pedir à Sua Santidade que aconselhasse dom Walmor a parar com essa ideia de construção da Catedral da Fé e transformar isso em um hospital católico… Nós não estamos precisando de mais igrejas, já as temos de sobras, e Deus está em todos os lugares.
Só a capital dos baianos – Salvador – tem 365 igrejas… Vaidade leva aos infernos, campo em que Edir é imbatível, com suas propriedades, televisões e as fogueiras de Jerusalém, onde queima, além de malquerenças, toneladas de cartas e correspondências para os santos.
ERREI E QUERO CONSERTAR
Quero consertar, em respeito à verdade e aos leitores, uma afirmação que tenho feito constantemente: a “bolsa-bandido” não foi coisa do ex-Luiz, por incrível que possa parecer. O auxílio-reclusão é um benefício pago pelo INSS aos dependentes do presidiário que não recebe salário ou aposentadoria. Foi instituído pela Lei 8.213 de 24 de junho de 1991, no governo Collor de Melo, que é farinha do mesmo saco.
O governo atual estabeleceu que o benefício não pode ultrapassar o teto estabelecido pela Previdência – R$ 971,78. Os culpados por essa “aberratio legis” foram Collor e Dilma. Não é fácil pedir desculpas, mas a verdade tem de prevalecer, por mim e pelo jornal. (transcrito de O Tempo)

Bandidos estariam infiltrados em protestos, diz traficante

  • Objetivo era enfraquecer o governo estadual e os projetos de pacificação
  • Segundo Rodrigo Prudêncio Barbosa, tiros no Alemão antes do ‘Desafio da Paz’ foram para mostrar poder


Traficante Gordinho fez uma delação premiada - Foto: Reprodução

Traficante Gordinho fez uma delação premiada -REPRODUÇÃO
RIO - Preso no Complexo Penitenciário de Gericinó, Rodrigo Prudêncio Barbosa, o Gordinho, de 35 anos, ex-gerente do tráfico de drogas no Complexo do Alemão, revelou que uma facção criminosa infiltrou bandidos nas manifestações, que acontecem desde junho na cidade, para fazer quebra-quebra com a finalidade de enfraquecer, principalmente, o governo estadual e seu projeto de pacificação das favelas cariocas. O bandido, que fez uma delação premiada, disse que a ideia era executar um “projeto de parar o Rio de Janeiro”.

Gordinho revelou ainda que os tiros disparados antes do início da corrida “Desafio da paz”, em maio, no Complexo do Alemão, foram uma retaliação à presença do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame.“Então, esse projeto de parar o Rio de Janeiro já está vindo. Na passeata daqueles estudantes viciados, o que que nós fazemos (sic)? Botamos o nosso povo pra se enturmar junto com eles (sic), os playboys viciados, pra quebrar. Junto com as passeatas”, revelou Gordinho, em áudio divulgado no programa “CBN Rio”. Ele falou em troca de proteção, pois se sente ameaçado de morte após decidir não participar de uma fuga para que bandidos de confiança voltassem para os morros, segundo reportagem da revista “Veja”.
“Foi um esculacho o Beltrame passar dentro da nossa comunidade, onde o nosso pessoal foi baleado. E ele passou correndo. Então vamos começar o poder paralelo? Vamos mostrar (...) que nós ainda pode (sic) botar o couro para comer?
Num depoimento de duas horas e meia, Rodrigo Prudêncio Barbosa contou ainda que os tiros no Alemão, que assustaram os corredores do “Desafio da Paz, foi o início de um movimento de traficantes para mostrar poder.
“O começo foi isso aí. Aí deram um tiro para mostrar que o Complexo do Alemão ainda não estava morto. Aí, daí pra lá o Marcinho (Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP) e Maluco (Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco) coordenou (sic) o júri. (...) O Marcinho e o Maluco são os chefões mesmo. A voz final é eles (sic). Quem morre e quem vive é Deus no céu que decide, mas para o mundo do crime é os dois (sic)”, disse Gordinho sobre os bandidos que estão presos numa penitenciária federal na cidade de Catanduvas, no Paraná.
Também na gravação, feita por policiais no presídio Bangu 9, Gordinho revelou que, hoje, a pasta de cocaína é enviada por uma facção de São Paulo e levada para Itaboraí, onde haveria um centro de refino da droga.
“A pasta está no valor de 10 mil dólares e esse dinheiro é pago diretamente... Aí vai pra Itaboraí pra virada (transformação da pasta em crack e em pó)”.

Kennedy, a glória de um mito


Elio Gaspari, O Globo
Na sexta-feira da próxima semana completam-se 50 anos do assassinato do presidente John Kennedy. O mistério que acompanha os tiros de Dallas soma-se à mística que as obras inacabadas, bem como as ruínas, produzem na imaginação das pessoas. E se ele não tivesse ido ao Texas? Quase certamente seria reeleito, e aí?
Como todos os exercícios do gênero, cada um pode achar o que quiser.
Começando a prospecção pelo que aconteceu no Brasil 98 dias depois, a resposta é simples: dava na mesma. Na noite de 30 março de 1964, quando o presidente Lyndon Johnson foi avisado de que a rebelião militar brasileira estava prestes a eclodir, o que ele fez foi colocar sobre a mesa os planos deixados por Kennedy. Sem tirar nem por.
Passado meio século, criou-se a mitologia segundo a qual tudo seria diferente se ele não tivesse ido a Dallas. Kennedy queria sair do Vietnã. Tudo bem, mas quem entrou foi ele. Kennedy queria se reaproximar de Cuba. Quem tentou invadi-la foi ele. De quebra, planejava assassinar Fidel Castro.
Kennedy foi o primeiro presidente americano a tirar extremo proveito da construção de um tipo. Seu antecessor, o general Dwight Eisenhower, elegeu-se porque comandara as tropas aliadas durante a Segunda Guerra. O simpático milionário elegeu-se com uma aura de juventude e dinamismo quando, na verdade, era um homem doente, amarrado num colete que lhe poupava a coluna e mantinha ereto com a elegância de um desportista.
Tinha uma mulher linda, chique e espertíssima. Foi ela quem inventou o mito de Camelot e armou um bem-sucedido boicote ao melhor livro sobre o assassinato do marido. É “A morte de um presidente”, de William Manchester, escrito a seu pedido, com sua colaboração.
Num lance de boa-fé que faria inveja a Roberto Carlos, Manchester cedeu à Biblioteca Kennedy os direitos de publicação e, apesar de ter vendido mais de um milhão de exemplares ao ser publicado, o livro foi para a geladeira das obras esgotadas. Felizmente, voltou à livrarias e está na rede, em inglês, por US$ 9,78.
Kennedy foi substituído por Lyndon Johnson, um sujeito sem graça, casado com uma senhora inexpressiva e que tinha duas filhas chatas.
A grandeza do presidente assassinado está em dois episódios que o companheiro Obama parece não ter estudado. Nos dois casos, afastou o mundo da guerra porque não confiou em generais insanos e na Central Intelligence Agency. No primeiro, menor, ele se engrandeceu abraçando um fracasso.
Em abril de 1961, logo depois de sua posse, uma força expedicionária de exilados invadiu Cuba. Em poucos dias ela foi cercada e 1.200 voluntários foram capturados. A CIA entrou no lance acreditando que o novo presidente dobraria a aposta, dando apoio aéreo aos invasores. Enganou-se.
No segundo episódio, quando foram descobertos mísseis soviéticos em Cuba, Kennedy pilotou pessoal e minuciosamente a crise, congelando as opiniões dos chefes militares. Se dependesse deles, muito provavelmente teria começado a Terceira Guerra Mundial. Felizmente Kennedy gravava todas suas reuniões, sem o conhecimento dos outros.
Os russos recuaram publicamente, recolhendo os mísseis de Cuba, e ele recuou em segredo, comprometendo-se a retirar foguetes da Turquia. Se Obama tivesse desafios desse tipo o mundo estaria frito.

Elio Gaspari é jornalista.