domingo, 1 de junho de 2014

Corrupção, roubo, usura e violência na “URSB”

Posted: 01 Jun 2014 06:13 AM PDT

Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net

Já podemos proclamar que sobrevivemos na “União das Repúblicas Sindicalistas do Brazil”. Viva a Presidenta Dilma Rousseff, que num só golpe de canetada, baixou o Decreto 8243. Nossa “tovarich” instituiu a “Política Nacional de Participação Social” e o “Sistema Nacional de Participação Social”. A PNPS e a SNPS são a base soviética do Capimunismo de Estado Tupiniquim. Quem controla os movimentos sociais vai comandar o País.

O que vem por aí, se tal sistema for implantado do jeitinho que a petralhada autoritária concebeu, é a disputa pela hegemonia na tal de “sociedade civil organizada”. Quem não for aliado, será tratado como adversário e, muito provavelmente, como inimigo – de preferência, a ser eliminado ou neutralizado pela via da legislação casuisticamente aprovada pelos poderosos grupelhos de plantão e sacramentada por um judiciário submisso, ineficiente e injusto.

Se houver reação, o Brasil tende a mergulhar em uma inédita guerra civil. As pré-condições para o conflito social já estão bem configuradas. Basta constatar o crescente poderio econômico e bélico das organizações criminosas. Tudo viabilizado pela combinação cínica e delituosa entre a ação política, sua ideologia mentirosa, e governança organizada do crime. A corrupção, a violência, o terror e a ignorância da maioria dominam o País da Impunidade.

Nessa conjuntura, só prosperam organizações comparsas do capimunismo em vigor. A própria gestão macroeconômica fica submetida à delinquência sistêmica. Lucra quem especula, corrompe, rouba, abusa da usura e sonega impostos (escorchantes, aliás). Lidera o processo quem usa informações privilegiadas obtidas junto aos podres poderes estatais. A hegemonia é da minoria de gangsters mafiosos que exportam a grana que roubam aqui e, na hora certa, fazem o dinheiro voltar no formato de supostos “investimentos estrangeiros diretos”. Por isso, existem tantas dinastias políticas muito ricas – algumas bilionárias.


Não existe crise para esses privilegiados neorricaços da politicagem com o crime organizado. Mas o bicho já começa a pegar para o resto dos brasileiros, de todas as classes, que dependem de trabalhar, produzir de verdade, gerar empregos, pagar impostos e cumprir com seus deveres cívicos. A vida fica complicada para quem depende de crédito novo. Pior é a situação de quem está encalacrado para pagar as dívidas atuais. É o terror dos juros altíssimos e taxas abusivas cobradas pelos bancos que lucram emprestando o dinheiro dos outros (e não o deles). Os banqueiros tupiniquins ostentam lucros recordes graças ao modelo de usura.

A situação brasileira é surreal na comparação com o resto do primeiro mundo. “Está cada vez mais difícil para os bancos americanos gerarem lucro”. Banqueiro brasileiro deve morrer de rir do título dessa reportagem assinada por Robin Sidel e Andrew Johnson, do prestigiado The Wall Street Journal. A mesma publicação traz outra reportagem, escrita por Monica Houston-Waesch e Paul Hannon, informando o aperto bancário na Europa: “Escassez de crédito continua arrastando economias da Zona do Euro”.

Nos EUA, as instituições financeiras estão encontrando dificuldades para conseguir lucros tanto no varejo como no mercado financeiro. Uma forte queda nos empréstimos imobiliários e uma desaceleração no mercado de negociação de ativos levaram a uma retração de 7,6% no lucro líquido no primeiro trimestre em relação a igual período do ano passado nos 6.730 bancos comerciais e instituições de poupança. Os dados alarmantes são do FDIC, a agência norte-americana garantidora dos depósitos bancários. Na terra do Tio Sam, os juros baixos são insuficientes para estimular novos financiamentos imobiliários. O FDCI lista 411 instituições financeiras na “lista de problemas”.

Já no Brasil dos juros estratosféricos, os bancos não sabem o que fazer com tanto lucro recorde a cada resultado trimestral. Por aqui, onde sobra dinheiro, os banqueiros financiam incorporações e construções imobiliárias. O movimento eleva os preços dos imóveis. Também faz os aluguéis dispararem. Inquilinos e comerciantes sofrem pressões espúrias na hora de renovarem seus contratos. As imobiliárias, que operam como cartéis mafiosos, impõem sua vontade. Quem precisa morar ou sediar seu negócio fica sem alternativa. Uns quebram, outros tentam fugir para as periferias – onde os aluguéis também estão absurdos.

O crédito imobiliário também não anda fácil no Brasil – pelo menos para a classe média, que precisa comprovar renda alta para conseguir financiamentos para comprar imóveis com preços claramente especulativos, fora da realidade. Curiosamente, principalmente nas áreas nobres dos grandes centros, como Rio de Janeiro e São Paulo quem aparece como compradores dos imóveis cada vez mais caros?

A resposta inocente de corretores imobiliários: “investidores estrangeiros”. Na verdade, a maioria dos supostos “gringos” são “laranjas” dos bandidos políticos brasileiros – que mandam dinheiro para fora e fazem o famoso “draw-back” (retorno da grana, que a compra de imóveis e investimentos em ações ajudam a “lavar”). Se a Super Receita Federal – que tem uma área de inteligência com profissionais sérios e brilhantes – fizer uma devassa no patrimônio de políticos, nos parentes deles ou em seus parceiros de negócios, vai descobrir uma surpreendente evolução patrimonial, em renda e imóveis, totalmente incompatível com os ganhos normais das figuras com a atividade de “político profissional” (um dos absurdos institucionais tupiniquins). A Operação Lava Jato deu uma pequena demonstração de como toca tal banda de sacanagem.


O cenário é dos mais esquisitos. A “Copa do Jegue”, que a propaganda governamental promete ser a “copa das copas”, já nos deixa o legado de promessas descumpridas, com obras superfaturadas, incompletas e inacabadas, junto com aumentos especulativos de preços (dos aluguéis, vestuário, transportes, comunicação e comida). Se a Seleção Brasileira vencer, a maioria dos problemas tende a ser escondido debaixo dos tapetes – como de costume. Mas se os canarinhos não decolarem, muitas vacas vão para o brejo, junto com as bestas, os jegues, os burros e outros animais nojentos da politicagem tupiniquim.

O cenário político também é tétrico e apavorante. Tanto que o PT resolveu antecipar seu pacotinho de maldades com o Decreto 8243 – para consolidar o aparelhamento da máquina estatal, nos moldes que fazem inveja aos velhos camaradas soviéticos. O PT tem tudo para perder a eleição presidencial. O problema é que, até agora, a “oposição” – com Eduardo Campos e Aécio Neves - ainda não mostrou o que pretende fazer de diferente dos petistas. Nessa inércia, os eternos governistas do PMDB só aguardam a hora de escolher em que Titanic vão embarcar para a próxima gestão...

O Alerta Total insiste na tese clara e objetiva. Não existe previsão de mudança do modelo político e econômico brasileiro, no curto e médio prazos. Com tudo mudando de mentirinha, para ficar a mesma coisa na verdade, o Brasil não cresce o suficiente. Não permite a evolução da mentalidade cultural produtiva, realmente geradora de emprego e renda, superando a especulação financeira ou o clientelismo das “bolsas-assistencialistas”.

O que pode acontecer, com a derrota eleitoral do PT, é um processo violento de conflitos na máquina estatal – infestada pelos parasitas do partido trambiqueiro e dominada pela governança do crime organizado. Quem vencer terá toda sorte de dificuldades para desalojar a petralhada do sistema de poder. O próximo ocupante (menos chance para uma  ocupanta) do Palácio do Planalto terá sua governabilidade bastante prejudicada. Desenha-se um cenário de “guerra civil” no horizonte perdido do Brasil. Depois dela, pode ocorrer uma onda de separatismos...


Se a taça do mundo será nossa, ainda não dá para ter certeza. Mas que, em 2015, não há quem possa com os baderneiros, é uma hipótese a ser levada a sério. O risco institucional nunca foi tão alto. Quem apostar que vai se dar bem a partir do caos instaurado corre o alto risco de se dar mal no final das contas.

A incompetência petista, em parceria com a governança do crime, estuprou a Nação. O Brasil precisa, urgentemente, de um modelo político, econômico e social diferente do atual. O novo paradigma precisa ser focado na gestão eficiente, na honestidade, na produção, no trabalho, no ensino de qualidade, e no desenvolvimento científico e tecnológico, incluindo a recuperação do poder de dissuasão militar. Enfim, temos de implantar um Capitalismo de verdade por aqui.

Se o Brasil, mesmo tirando o PT no poder, continuar no mesmo caminho do passado, com o “Capimunismo de sempre”, nosso futuro próximo será uma mera continuidade da corrupção, roubo, usura e violência que agora domina a “URSB”. Nem o mais FDP dos brasileiros merece um regime tão desqualificado.

Por enquanto, a seleção da máfia vence a Copa do Jegue, de goleada. O consolo é que, no juízo final da competição, os mafiosos não poderão levar o que roubaram para seus túmulos. Então, que a terra lhes seja leve – como diria o velho Machado de Assis.

Vamos ter amor, fé e esperança que seremos capazes de mudar o Brasil para melhor. Já passou da hora de agir. Quem se omitir pagará caro no juízo final – cada vez mais próximo. Não merecemos acabar no saco de lixo da História!

Por isso, “avante, brasileiros, sempre avante” – como está escrito naquela primeira estrofe do Hino Nacional Brasileiro, propositalmente omitida da canção tradicional. Avante! 

Todos na Torcida





Vida que segue... Ave atque Vale! Fiquem com Deus.

O Alerta Total tem a missão de praticar um Jornalismo Independente, analítico e provocador de novos valores humanos, pela análise política e estratégica, com conhecimento criativo, informação fidedigna e verdade objetiva. Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor. Editor-chefe do blog Alerta Total: www.alertatotal.net. Especialista em Política, Economia, Administração Pública e Assuntos Estratégicos.

A transcrição ou copia dos textos publicados neste blog é livre. Em nome da ética democrática, solicitamos que a origem e a data original da publicação sejam identificadas. Nada custa um aviso sobre a livre publicação, para nosso simples conhecimento.

© Jorge Serrão. Edição do Blog Alerta Total de 1º de Junho de 2014.

CHARGE DO PASSO FUNDO


Esquerda e direita - DAVID COIMBRA


ZERO HORA - 30/05

Entre esquerda e direita, prefiro a esquerda. A esquerda faz uma ideia generosa da vida, de defesa do fraco contra o forte. Mas as pessoas de esquerda têm um defeito irritante: o hábito de julgar os outros por suas ideias. Para muitas pessoas de esquerda, quem não pensa como elas é desprezível.

Ideias têm alguma importância. Não muita. Conheço supremos canalhas que são esquerdistas perfeitos. O que torna um ser humano melhor não são suas ideias; são os seus sentimentos e o seu comportamento, sobretudo a forma como trata os outros seres humanos.

O Brasil é governado há meia geração por um partido de esquerda. O PT seria a nêmesis da ditadura militar, a direita mais renhida. Mas, olhando para um e outra, me espanto: como são parecidos! Hoje encontro gente agradecida ao PT pelos ótimos Bolsa Família, Minha Casa eProUni, e lembro que só cursei minha faculdade graças ao Crédito Educativo e que minha mãe só comprou nosso apartamento graças ao BNH. Deveríamos ser agradecidos à ditadura? Os dois, PT e ditadura, tentaram diminuir as diferenças sociais por meio de programas, não com mudanças de sistema.

Ambos, PT e ditadura, são desenvolvimentistas, o PAC é o PND. A ditadura fez a ponte Rio-Niterói, a Transamazônica, a Freeway, o Pólo Petroquímico, a Usina de Itaipu. O PT quer fazer Belos Montes, compra usinas no Exterior, duplica a BR-101, planeja a segunda ponte do Guaíba, pretende terminar a transposição do São Francisco. Em Porto Alegre, a esquerda tem feroz apreço pelo 1 milhão e 400 mil árvores da cidade. Destas, 1 milhão e 100 mil foram plantadas na gestão de Socias Villela, prefeito nomeado pela ditadura. Na ditadura, a imprensa era censurada. O PT sonha com a censura disfarçada pelo "controle social da mídia". O PT e a ditadura são estatizantes, os dois apostaram na indústria automobilística como pilar de desenvolvimento e tiveram seus empresários-modelo, seja os financiadores da Oban nos anos 70, seja Eike e seus R$ 10 bilhões captados junto ao BNDES nos 2000.

Lula aproveitou o bom momento econômico internacional e fez o Brasil crescer até 7,5%. Semelhante a Médici, que levou o país a 10%. Depois de Médici, assim como depois de Lula, a economia virou. Seus sucessores, Geisel e Dilma, tiveram de enfrentar momentos delicados e um país em princípio de ruptura social. Sarney e Maluf, velhos próceres do PDS, o partido da ditadura, são eleitores entusiasmados do PT, embora Maluf reclame que o PT esteja à sua direita.

Mas nem a esquerda nem a direita aproveitaram seus bons momentos para fazer reformas estruturais. Quanto mais rico fica o Brasil, mais degenerado se torna como nação. Na ditadura e na gestão do PT, o Brasil melhorou para milhões de indivíduos; piorou como país. Foram medidas analgésicas, não curativas. Não por má intenção, diga-se. Houve, sim, vontade de fazer o melhor. Por isso, não me agradam petistas que não enxergam decência fora do PT e não me agrada quem chama os petistas de petralhas. Melhor seria se compreendessem que tanto à esquerda quanto à direita há gente, muita gente, que quer o bem do Brasil. É este o sentimento mais importante. Porque na prática, como se vê, não faz muita diferença.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO


“Quem é Eduardo Campos?”
Xuxa, após pedido de desculpas de político pelas grosserias do Pastor Eurico (PSB-PE)


BANCO SANTOS: ARQUIVADO INQUÉRITO CONTRA SARNEY

O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, decidiu ontem à noite arquivar o inquérito policial sobre denúncia de que o senador José Sarney (PMDB-AP) teria se beneficiado de informação privilegiada para sacar R$ 2 milhões do Banco Santos, do seu amigo Edemar Cid Ferreira, na véspera da decretação de intervenção do Banco Central. O ministro deixa claro, em sua decisão, que nem sequer houve crime.

SEM IRREGULARIDADE

O criminalista Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, demonstrou que Sarney não praticou a irregularidade que lhe era imputada.

PGR: ARQUIVAMENTO

O procurador-geral Rodrigo Janot pediu o arquivamento do inquérito contra Sarney até porque o suposto crime prescreveu em 2010.

DE GALOCHA

A Prefeitura de Manaus (AM), que declarou estado de emergência, reza ao céus para que o Rio Negro dê uma trégua durante os jogos da Copa.

DATAS

Em outubro, Joaquim Barbosa, já ex-ministro do STF, faz 60 anos. Em outubro de 2015, Lula, seu criador arrependido, chega aos 70.

JUSTIÇA DE OLHO NO AMIGO ARGENTINO DE GABAS

A Justiça argentina está apertando o cerco contra Amado Boudou, vice de Cristina Kirchner, sobre quem pesam diversas acusações por abuso de influência para enriquecimento ilícito. Boudou é muito amigo do secretário-executivo do Ministério da Previdência, Carlos Gabas. Na última visita que fez a Brasília, há dois anos, o vice-presidente argentino passeou por Brasília na garupa da moto do amigão Gabas.

DISPOSIÇÃO

O deputado Bruno Araújo topa disputar o governo de Pernambuco. Só falta o presidente do PSDB, Aécio Neves, bater o martelo.

ROUBADA

Os bravos policiais militares do Bope, que vão patrulhar as ruas do Rio, não têm culpa, mas já têm apelido nas ruas: Roubocopa.

PUXADOR DE VOTOS

O deputado Romário (PSB-RJ) sofre pressão para desistir do Senado e disputar a reeleição para, com seus votos, ajudar a bancada a crescer.

OPERAÇÃO ABAFA

Os maiores empreiteiros do País montam um “time dos sonhos” (para eles) de criminalistas, com a influência de um Marcio Thomaz Bastos, para tentar anular a Operação Lava Jato na Justiça.

UM A MENOS

O vice-presidente Michel Temer resolveu a confusão do PMDB do Piauí. O deputado Marcelo Castro, ligado ao líder na Câmara, Eduardo Cunha, anuncia segunda-feira que não é mais candidato a governador.

SEM NOÇÃO

Depois de dizer que sugeriu a Lula indicar um negro ao STF, mas não Joaquim Barbosa, o líder do PT na Câmara, deputado Vicentinho (SP), pirou de vez: disse que o PIBinho de 0,2% é “positivo”.

CASO ENCERRADO

Para o Itamaraty, bastam os três meses sem salário como “castigo” para o embaixador Américo Fontenelle por assédio moral, sexual e homofobia no consulado-geral em Sidney (Austrália). Ele queria menos.

O CHAVISMO É AQUI

O líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), tentará barrar decreto de Dilma criando “conselhos populares”, estrutura paralela ao Congresso. Para ele, é cópia do aparelhamento na Venezuela.

MEDO, DESINFORMAÇÃO...

Após embromar por dois dias, a assessoria do Itamaraty se recusou a informar o valor do seu orçamento para tecnologia. Com a má vontade habitual, ainda desafiou a coluna a usar a Lei de Acesso à Informação.

...E UM GRANDE EQUÍVOCO

Suspeitava-se que a invasão de hackers à internet do Itamaraty, há dias, decorreu da falta de investimentos do governo, mas quem ignora até o próprio custo não deve saber grande coisa sobre informática.

À BEIRA DO CAIS

Por falta de know-how e tecnologia, a Zona Franca de Manaus vai recrutar engenheiros argentinos para dar conta das importações marítimas da Argentina, diz o jornal Buenos Aires Herald.

BALDE DE PIPOCA

O pré-aposentado ministro do Supremo, Joaquim Barbosa, já tem filme para alugar no primeiro fim de semana relax: “Um estranho no ninho”.


PODER SEM PUDOR

POLÍTICO TEM MOLA

Durante a apresentação do pífio relatório da CPI do Banestado, o atual prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, era um deputado tucano e lamentou que "a montanha pariu um rato": só denunciou um político, o ex-prefeito paulistano Celso Pitta, para ele "um cachorro morto". O senador Heráclito Fortes (DEM-PI), discordou na hora:

- Fundo do poço de político tem mola!

Círculo do cinismo - EDITORIAL FOLHA DE SP


FOLHA DE SP - 31/05

A cena se repete. Fosse num país minimamente cioso da coerência de seus políticos, quem sabe a encarássemos como "pegadinha" televisiva, ou até como alguma espécie de superstição inócua para garantir a boa sorte nas eleições.

Não. Apresenta-se como aliança real, mais uma vez, o conluio entre um candidato petista e o PP de Paulo Maluf com vistas a uma migalha de tempo no horário eleitoral.

É Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde, quem repete agora o papel de Fernando Haddad, ex-ministro da Educação e atual prefeito da capital, na pantomima das confraternizações com o tradicional figurão da política paulista.

O beija-mão de Haddad a Maluf, nas eleições para prefeito dois anos atrás, foi patrocinado por Lula. Desta vez, o ex-presidente faltou à cerimônia, deixando aos coadjuvantes o encargo pelas declarações de maior impacto.

Padilha tomou a palavra, enaltecendo as "contribuições" que o PP tem a dar nessa aliança. Além do minuto a mais no rádio e na TV, é difícil, contudo, saber que contribuições seriam essas --para nada dizer do que será exigido em troca.

Seria, por exemplo, na área de segurança pública? A habitual truculência de Paulo Maluf no trato dessa questão foi rememorada quando o ex-governador criticou a prevalência do crime organizado nas penitenciárias estaduais.

Estas se transformaram, disse Maluf, num "escritório" de facções criminosas. A denúncia não é absurda, mas tem sua dose de exagero. Também há reuniões desse tipo fora dos presídios; mais precisamente, segundo recente notícia, na sede de uma cooperativa de transportes, com a presença de um deputado estadual petista.

Mencione-se o fato para apontar uma bizarra reviravolta política. Em outros tempos, parecia ser o PT quem sacrificava seu antigo discurso "socialista" e "anticorrupção" ao buscar apoio de Maluf.

Estranhamente, agora é o lado malufista --com sua notória perspectiva policialesca-- que, depois de "contribuir" com o governo Geraldo Alckmin (PSDB), precisa fazer vista grossa. Completa-se, assim, um círculo de cinismo, em que todos se dão as mãos.

O tamanho do Congresso - FERNANDO RODRIGUES


FOLHA DE SP - 31/05

BRASÍLIA - O Tribunal Superior Eleitoral fez uma nova divisão das 513 cadeiras da Câmara dos Deputados entre os 26 Estados e o Distrito Federal. O Congresso não gostou e recorreu ao Supremo Tribunal Federal.

Essa disputa poderia reabrir o debate sobre a assimetria nas representações --o fato de um voto de Roraima (com 8 deputados e 500 mil habitantes) valer muito mais que um voto de São Paulo (70 deputados e 44 milhões habitantes). É quase impossível que os políticos aceitem consertar essa anomalia.

Mas há outro aspecto ainda menos debatido sobre a composição do Poder Legislativo. Trata-se do tamanho da representação nas "Casas do Povo", tanto no nível federal como nos âmbitos estaduais e municipais.

Para ficar aqui em Brasília, a pergunta é: por que a Câmara dos Deputados precisa de 513 cadeiras? E por que o Senado deve ter três senadores para cada unidade da Federação?

O Brasil tem 203 milhões de habitantes. Nos Estados Unidos, a população é de 315 milhões. Em Washington, o órgão equivalente à Câmara de Deputados tem 435 assentos. Os norte-americanos elegem apenas dois senadores por Estado, e não três.

Com mais de 20 partidos num Congresso com 513 deputados e 81 senadores, há quase sempre muito alarido improdutivo e poucos debates relevantes. No início dos anos 1960, a Câmara tinha 404 cadeiras. Veio a democracia e chegou-se agora aos incríveis 513 deputados federais.

O número pode crescer. A Constituição diz que nenhum Estado terá menos de 8 nem mais de 70 deputados. Em tese, se a população for aumentando (é esse o indicador para distribuir vagas), um dia poderá haver uma Câmara com mais de mil deputados. O horror, o horror.

É mínima a chance de vingar tal despautério. Hoje, ninguém tem coragem de defender a ideia em público. No futuro, quem sabe? Essa brecha demonstra como ainda é imperfeita a democracia no Brasil.

Basta de fingir - Cristovam Buarque


Cristovam Buarque
O Brasil comemora sua posição de sétimo maior PIB do mundo, mas o PIB per capita rebaixa o país para a 54ª posição no cenário mundial; no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) ficamos em 85º lugar. Fingimos ser ricos, apesar da pobreza.
Nos últimos 20 anos, passamos de 1,66 milhão para 7,04 milhões de matrículas nos cursos superiores, mas quase 40% de nossos universitários sabem ler e escrever mediocremente, poucos sabem a matemática necessária para um bom curso nas áreas de ciências ou engenharia, raros são capazes de ler e falar outro idioma além do português. Fingimos ser possível dar um salto à universidade sem passar pela educação de base.
Comemoramos ter passado de 36 milhões, em 1994, para 50 milhões de matriculados na educação básica, em 2014, sem dar atenção ao fato de termos 13 milhões de adultos prisioneiros do analfabetismo; 54,5 milhões de brasileiros com mais de 25 anos não terminaram o Ensino Fundamental e 70 milhões não terminaram o Ensino Médio. Fingimos que os matriculados estão estudando, quando sabemos que passam meses sem aulas por causa de paralisações ou falta de professores.
A partir de 1995, no Distrito Federal e em Campinas, iniciamos um programa que serve de exemplo ao mundo inteiro, atualmente chamado de Bolsa Família e que transfere por mês, em média, R$ 167 por pessoa pobre, o que lhe assegura R$ 5,67 por dia, valor insuficiente para aliviar suas necessidades mais essenciais.
E fingimos que, com esta transferência, estamos erradicando a pobreza que é caracterizada efetivamente pela falta de acesso aos bens e serviços essenciais que não estamos oferecendo. Fingimos ter 94,9 milhões na classe média, sabendo que a renda média mensal per capita dessas pessoas está entre R$ 291 e R$ 1.019, quantia insuficiente para uma vida cômoda, especialmente em um país que não oferece educação e saúde públicas de qualidade.
Comemoramos o aumento da frota de automóveis de, aproximadamente, 18 milhões, em 1994, para 64,8 milhões, em 2014, fingindo que isto é progresso, mesmo que signifique engarrafamentos monumentais.
Comemoramos, corretamente, termos desfeito uma ditadura, esquecendo que a democracia está sem partidos e a política se transformou em sinônimo de corrupção. Fingimos ter uma democracia com liberdade de imprensa escrita em um país onde poucos são capazes de ler um texto de jornal. Assistimos a 56 mil mortos pela violência ao ano, e fingimos ser um país pacífico, sem uma guerra civil em marcha.
Fingimos ser um país com ambição de grandeza, mas nos contentamos com tão pouco que os governantes se recusam a ouvir críticas sobre a ineficiência dos serviços públicos. Preferem um otimismo ufanista, comparando com o passado que já foi pior, e denunciam como antipatriotas aqueles que ambicionam mais e criticam as prioridades definidas e a incompetência como elas são executadas. Antipatriota é achar que o Brasil não tem como ir além, é acreditar nos fingimentos.

Cristovam Buarque é senador (PDT-DF).

Decreto agride democracia representativa (Editorial)


O Globo
A democracia representativa, com a escolha dos representantes da sociedade pelo voto direto, bem como a independência entre os Poderes, é alvo prioritário do autoritarismo político. A desmontagem do regime representativo costuma começar pela criação de mecanismos de “democracia direta”, para reduzir o peso do Congresso na condução do país.
É por este ângulo que deve ser analisado o surpreendente decreto nº 8.243, baixado na sexta-feira da semana passada pela presidente Dilma, para criar a “Política Nacional de Participação Social — PNPS”.
O objetivo é subtrair espaço do Legislativo por meio de comissões, conselhos, ouvidorias, “mesas de diálogo”, conferências nacionais, várias novas instâncias a serem criadas junto à administração direta e até estatais, sempre em nome da participação social.
Sintomático que a PNPS esteja subordinada ao ministro secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, representante dos ditos “movimentos sociais” no Planalto. Há várias surpresas no ousado ato. A primeira, rever o regime de democracia representativa por decreto.
Mecanismos de participação do cidadão em decisões de governo são um tema em debate no mundo, para se aperfeiçoar a democracia representativa. Plebiscitos e referendos têm sido usados com frequência em democracias maduras como a americana.
Os próprios avanços tecnológicos no mundo digital são ferramenta importante para aproximar a sociedade do Estado. Mas não se avança nesta direção por decreto, algo como um golpe de Estado na base da canetada.
Outra surpresa, até pela ousadia, é que o decreto formaliza em lei a estratégia antiga de aparelhamento da máquina pública por aliados político-ideológicos do PT. Pois não é difícil imaginar os critérios pelos quais serão escolhidos os representantes da “sociedade civil” para participar de comissões, fóruns, mesas etc. Um dos resultados desta infiltração de partidos e grupos no Estado tem sido, cabe lembrar, casos de corrupção e desmandos, como os denunciados na Petrobras.
O sentido autoritário do decreto denuncia sua origem. Ele sai dos mesmos laboratórios petistas que engendraram a “assembleia constituinte exclusiva” a fim de fazer a reforma política — atalho para se mudar a Constituição ao bel-prazer de minorias militantes —, surge das mesmas cabeças que tentaram controlar o conteúdo da produção audiovisual do país via Ancinav, bem como patrulhar os jornalistas profissionais por meio de um conselho paraestatal. Tem a mesma origem dos idealizadores da “regulação da mídia”.
Além de tudo, a PNPS tornará ainda mais impenetrável a burocracia pública, já uma enorme barreira à retomada de investimentos. Ou seja, também na economia, o decreto vai na contramão de tudo o que o país necessita.
O assunto precisa ser discutido com urgência no Congresso e levado ao Supremo pelo Ministério Público e/ou instituições da sociedade.

Cartas de Buenos Aires: Hermanos, pero no tanto!, por Gabriela Antunes


Chegou finalmente o evento que todos os brasileiros morando na Argentina temem: a Copa do Mundo. Este reino de relativa paz no qual vivemos, onde a bossa nova embala as lojinhas cool de Palermo Soho, as praias brasileiras moram no éden do imaginário dos hermanos e as mulheres brasileiras desfrutam de um mimo extra dos mocinhos graças ao nosso tropicalismo, começa a desmoronar.
A trégua acabou. Não é intencional, mas a cidade pintada de azul celeste e branco começa a parecer uma provocação premeditada.
Silenciosamente, inicio um embargo aos patrocinadores da seleção argentina. Não compro os produtos. Não é uma atitude muito adulta, confesso.
Quando vim morar aqui há mais de quatro anos, cansei de ouvir comentários tipo “Argentina? Você sabe que há argentinos morando lá? ”
Admito que esperei o pior. Esperei aquele argentino da piada, aquele que, para suicidar, pula de seu ego. É certo que dei de cara com um argentino duro, desconfiado, cara fechada, difícil de conquistar. Talvez ele não seja humilde de nascença, quiçá tenha aprendido a ser mais modesto com os difíceis momentos que o país atravessa. Os argentinos padecem de melancolia crônica, mas são incapazes de desejá-la ao seu próximo. Do Brasil, invejam nossa alegria como algo inalcançável, mas não deixam de almejá-la.
Quem tem um amigo argentino sabe que ele é para a vida toda. E mais: aconselho que todo mundo, alguma vez na vida, tenha um amigo argentino.
Argentinos sobrevalorizam nossa prosperidade econômica, nossas praias, mulheres e música. Acham que a grama do vizinho é mais verde do que a deles. Isto é, até a Copa do Mundo chegar.
Eles também querem a Taça. Por enquanto, no barzinho da esquina a piadinha ainda é “ vamos levar essa, hein? ”
Eu respondo “nem a pau” sorrindo, mas me pergunto até quando vou falar de bom humor.
E tenho uma confissão terrível a fazer: prefiro que a Argentina perca a que o Brasil ganhe, se tenho essa escolha.
Serão QUATRO anos de piadinhas. QUATRO anos daquele argentino que tinha aprendido a ser modesto voltando às raízes pernósticas. QUATRO anos de comerciais de televisão com o Messi. QUATRO anos de “o Maradona é melhor que o Pelé”.
Enquanto penduro as bandeirinhas brasileiras na varanda (sou brasileira e não desisto de implicar nunca), vou lembrando do que era entrar na redação do jornal onde trabalhava, quando o Brasil perdia um amistoso que fosse: cabeça baixa, escorregando devagar na cadeira do escritório, encontrando, colado na minha tela de computador, o resultado do jogo da noite anterior. Não tardava muito, vinha um engraçadinho apontar o dedão.
Vai ser dureza.

Gabriela G. Antunes é jornalista e nômade. Cresceu no Brasil, mas morou nos Estados Unidos e Espanha antes de se apaixonar por Buenos Aires. Na cidade, trabalhou no jornal Buenos Aires Herald e hoje é uma das editoras da versão em português do jornal Clarín. 

O DNA do PT, por Mary Zaidan


Dominar e controlar. Binômio caro aos totalitários, esse conceito frequenta a agenda petista com incrível assiduidade. Quer-se dominar todos os espaços, sejam eles institucionais ou não governamentais, o Parlamento, o Judiciário, as ruas. E controlar tudo o que for possível: dos meios de produção à mídia, dos preços ao cotidiano dos cidadãos, que em cada esquina esbarram na abusiva intervenção do Estado em suas vidas.
É no diapasão do domínio e do controle que se encaixa o decreto nº 8.243 da presidente Dilma Rousseff, criando quase uma dezena de instâncias para que gente indicada a dedo palpite na administração pública.
Com o pomposo nome de Política Nacional de Participação Social (PNPS), o decreto é multiuso: serve para tentar se conectar com grupos descontrolados e desconhecidos, que exigem mudança; para reabilitar movimentos populares que trocaram as bases por empregos públicos; para fazer de conta que se está ampliando os instrumentos democráticos. Antes de tudo, é mais uma cartada eleitoral.
Aliados e até juristas do PT dizem que a pretensão foi regular o artigo 1º da Constituição: “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Estranho é ver gente tão preparada fazer pouco da mesma Constituição que logo adiante, no Art. 14, explicita as formas de participação popular: sufrágio universal, voto direto e secreto, com valor igual para todos, plebiscito, referendo e iniciativa popular.
Bastaria usar o cardápio existente. Mas é um caminho inseguro, de controle zero. Iniciativa popular gera coisas como a Lei da Ficha Limpa. Plebiscitos, comuns na maioria das democracias, passam longe da prática brasileira. Da promulgação da Carta de 1988 até hoje foram apenas três. Referendos? Só dois. Um sobre comércio de armas e outro para mudança do fuso horário do Acre.
Pode até não haver inconstitucionalidade no decreto de Dilma, até porque as centenas de comissões previstas não têm poder algum, nem consultivo nem deliberativo. Pouco valem na prática, mas escancaram o regime dos sonhos impresso no DNA do PT: a substituição da democracia representativa pela participação popular direta, bem envelopada, indicada e nomeada, devidamente controlada. Portanto, falsa.
Um modelo semelhante ao implantado por Hugo Chávez na Venezuela, com os seus Comitês de Terras Urbanas, conselhos comunais, coletivos populares. Ligados à Presidência, são aparelhos do poder disfarçados de democracia, que o ex Lula chegou a elogiar como “democracia em excesso”.
Mas nem Chávez foi tão longe quanto Dilma. Não tentou detonar a democracia representativa por decreto.

Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas. Atualmente trabalha na agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa'. Twitter: @maryzaidan, e-mail: maryzaidan@me.com

Ministério da Cultura confunde ciência com religião ao falsificar Machado de Assis

Revista Bula






Machado de Assis

Ministério da Cultura confunde ciência com religião ao falsificar Machado de Assis

Na adaptação de “O Alienista”, realizada com dinheiro público, a escritora-empresária Patrícia Secco escreve que “a índole da ciência é a aceitação” — uma completa sandice que Machado de Assis jamais escreveria
Se o Ministério da Cultura tivesse um mínimo de respeito pela nação brasileira, ao invés de construir um túnel com 60 mil livros, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, para marcar o lançamento da falsificação de “O Alienista”, de Machado de Assis, perpetrada pela escritora-empresária Patrícia Secco, ele mandaria diretamente para a reciclagem os 600 mil exemplares do livro, adaptado juntamente com “A Pata da Gazela”, de José de Alencar. Mesmo jogando fora os mais de R$ 1 milhão gastos com a adaptação, o prejuízo seria muito menor, poupando os jovens e demais leitores brasileiros de consumirem um Machado de Assis completamente adulterado, como demonstrei no artigo “Discípula de Paulo Freire assassina Machado de Assis”.
Mas a somatória dos erros apontados naquele artigo está longe de abarcar todos os problemas da arbitrária adaptação de Patrícia Secco. Explicar a necessária reposição de cada palavra e cada frase do texto original exigiria um livro muito maior do que o próprio conto de Machado de Assis somado à tosca adaptação de sua obra patrocinada pelo MEC. “O Alienista” é um tratado de sociologia do conhecimento em forma de ficção e é justamente essa sua característica essencial que se perde na adaptação de Patrícia Secco. A complexa figura do Dr. Simão Bacamarte — que simboliza tanto o bem quanto o mal que a ciência acarreta — só pode ser plenamente compreendida quando se atenta para a linguagem com que esse personagem é meticulosamente bordado por Machado de Assis no correr da narrativa.
Não só os adjetivos mas até os verbos que descrevem suas ações foram escolhidos a dedo por Machado de Assis e não podem ser alterados de forma alguma, sob pena de se desconstruir esse herói trágico da ciência criado pelo escritor brasileiro. Ao contrário do que tende a parecer à primeira vista, “O Alienista” não é apenas uma crítica arrasadora à prepotência do progresso científico — ele é também uma homenagem à inquietação intelectual do autêntico cientista, que jamais deve abdicar da busca do conhecimento, ainda que ao preço de sacrificar-se a si mesmo. Há casos de cientistas que, com o risco da própria vida, ousaram se tornar cobaias de suas próprias experiências. Foi o caso do médico e microbiologista polonês Alberto Sabin (1906-1993), naturalizado norte-americano, que testou em si mesmo o vírus vivo da poliomielite para produzir a vacina que iria vencer a doença.
Simão Bacamarte é um cientista dessa estirpe e suas demonstrações de imparcialidade, como internar sua própria mulher no manicômio, ou de grande espírito público, como abdicar das subvenções da Câmara à Casa Verde, ajudam a compor o seu caráter incorruptível. Mas tão importante quanto suas ações é sua vida interior, que Machado de Assis, como exímio psicólogo da alma humana, evita descrever explicitamente, preferindo fixá-la por meio de pequenos gestos do alienista, como um olhar perquiridor sobre a multidão, um sorriso complacente para a esposa, um passeio pelas ruas com o boticário. Percebe-se, em cada uma de suas atitudes, mesmo nas mais banais, que Simão Bacamarte jamais baixa a guarda de seu espírito investigativo, que está sempre em busca de dados para confrontar ou corroborar as hipóteses que lhe fervilham na cabeça.

Deturpando o conceito de ciência

Em sua adaptação de “O Alienista”, a escritora-empresária Patrícia Secco passa por cima de todas essas nuances, começando por deturpar o próprio conceito de ciência, atribuindo a Machado de Assis uma afirmação capaz de envergonhar os loucos da Casa Verde. Depois que D. Evarista, contrariando os prognósticos científicos de Simão Bacamarte, não lhe deu filho algum, o médico não se desesperou e, para ter certeza da esterilidade da esposa, esperou três, quatro, cinco anos, só então partindo para um estudo profundo da matéria em busca de uma solução para o problema. Ao descrever essa atitude de Simão Bacamarte, que jamais se deixa guiar intempestivamente pelos fatos, comportando-se sempre como o senhor das situações que vivencia, Machado de Assis reforça essas características de verdadeiro cientista do médico, lembrando que “a índole natural da ciência é a longanimidade”.
Pobre Machado! Ele jamais poderia imaginar que, 132 anos depois, em plena era da física subatômica e do sequenciamento do DNA, uma escritora haveria de envergonhá-lo diante de seus leitores atribuindo-lhe esta frase: “A índole natural da ciência é a aceitação” — pois foi assim que Patrícia Secco simplificou “longanimidade”. Somente essa frase insana – que demonstra não apenas um completo desconhecimento do que seja ciência, mas até mesmo uma total incapacidade de consultar dicionário – já seria mais do que suficiente para que o Ministério da Cultura criasse vergonha na cara e transformasse em papel reciclado o livro de Patrícia Secco, antes que os jovens pensem que Machado de Assis não passa de um néscio, que confunde ciência com religião.
Em qualquer aula, palestra, verbete de enciclopédia e até programa de auditório que porventura trate de ciência, aprende-se que ela é justamente o oposto de aceitação. O cientista pesquisa e descobre ou inventa coisas novas justamente porque não se satisfaz, não se conforma, não se resigna, não aceita respostas prontas e está sempre formulando novas perguntas para os dados que a realidade lhe oferece. Se Machado de Assis estivesse falando da religião do padre Lopes e não da ciência do alienista, aí, sim, ele bem poderia ter escrito: “A índole natural da fé é a aceitação”.

Sem saber usar dicionário

O problema é que Patrícia Secco e o “monte de gente” (segundo suas próprias palavras) que a ajudou a adaptar “O Alienista” não parecem saber usar dicionário. Ao pesquisarem a palavra “longanimidade” no Aurélio e no Houaiss, optaram pelo seu significado mais simples e lateral, sem se preocupar com a essência de seu significado e, sobretudo, com o contexto da frase em que Machado de Assis a usou. Esse é um pecado que nem aluno do ensino fundamental deveria cometer que dirá uma escritora que se arvora a adaptar os clássicos.
O Houaiss define “longanimidade” como a “virtude de se suportar com firmeza contrariedades em benefício de outrem” e oferece como sinônimos “magnanimidade” e “generosidade”. Já o Aurélio define “longanimidade” como “firmeza de ânimo” e abona essa acepção com uma citação de Lima Barreto, extraída de “Clara dos Anjos”, em que o autor, numa prova de que “longanimidade” não se reduz nem mesmo a “resignação”, usa as duas palavras na mesma frase com um conectivo: “Nunca articulou uma acusação contra Flores. Sofria todos os desmandos do marido com resignação e longanimidade”.
O Aurélio também apresenta como sinônimos da palavra em questão os termos “magnanimidade” e “generosidade”. Já no espanhol, que, a exemplo do português, herdou a palavra do latim “longanimitas”, o Dicionário da Real Academia Española também define “longanimidad” como “grandeza y constancia de ánimo en las adversidades”, “benignidad, clemencia, generosidad”. Ou seja, em todos os principais dicionários da língua portuguesa e espanhola, o sinônimo mais próximo de “aceitação” para a palavra “longanimidade”, assim mesmo por extensão de sentido, é “resignação”.

Assassinando a inteligência de Machado

Escritora e empresária Patrícia Secco: deturpando o texto de um gênio
Escritora e empresária Patrícia Secco: deturpando o texto de um gênio
Como foi, então, que Patrícia Secco, assassinando a inteligência de Machado de Assis, atribuiu-lhe a máxima de que “a índole natural da ciência é a aceitação”? Simples: sendo fiel ao seu espírito de que educar é facilitar. A rigor, não havia como substituir a palavra “longanimidade” do texto original de “O Alienista”. Eis um caso em que, mesmo numa adaptação séria, de um livro que se presta a isso, o leitor teria de recorrer ao dicionário – o que, obviamente, não faz mal a ninguém, muito pelo contrário.
Nem a palavra “magnanimidade”, seu sinônimo mais próximo, seria adequada ao texto, pois “magnânimo” traz embutida a ideia de nobreza, superioridade, altivez, mas a ciência às vezes tem de ser humilde e render-se aos fatos como ocorreu com Bacamarte diante da esterilidade de sua mulher. Mas a resignação pontual de um cientista diante de um caso concreto que se mostra refratário ao entendimento não autoriza ninguém a dizer que “a índole natural da ciência é a resignação” — muito menos “aceitação”, como fez Patrícia Secco, numa das centenas de erros graves dessa verdadeira tragédia literária patrocinada pelo Ministério da Cultura.
Para se perceber que “aceitação” não pode ser usada indiscriminadamente como sinônimo de “resignação”, basta pensar se é possível um pastor evangélico dizer a uma pessoa a quem quer converter: “Você resigna-se a Jesus?”. No ato de resignar-se há muito de resistência vencida, dobrada, que se rendeu, enquanto o ato de aceitar pode ser pura entrega, como no caso do crente que aceita Jesus como seu Salvador ou de santos como Francisco de Assis, que, segundo a tradição católica, aceitaram no próprio corpo as sete chagas de Cristo. O Dicionário da Real Academia Española registra essa acepção da palavra “aceptación”: “Asumir resignadamente un sacrificio, molestia o privación”.

“O Alienista” já é uma obra atual

Entre as centenas de erros cometidos por Patricia Secco na adaptação de “O Alienista”, esse é, sem dúvida, um dos mais graves. Secco deturpa a essência da obra ao simplificar justamente a complexa visão de Machado de Assis sobre a ciência, que continua mais atual do que nunca. O século XIX foi o século do positivismo de Augusto Comte, um filósofo que apresenta muitos pontos em comum, do ponto de vista cognitivo e moral, com o Dr. Simão Bacamarte. Ambos viam no conhecimento o mais alto ideal da humanidade e ambos eram inquebrantáveis e incorruptíveis na busca desse ideal. Além disso, a influência do positivismo no Brasil é imensa: forjou a República, enraizou-se nos quartéis, inspirou políticos como Getúlio Vargas e paira até hoje sobre o País no lema da Bandeira Nacional.
Em 1882, quando Machado de Assis publicou “O Alienista” como um dos contos do livro “Papéis Avulsos”, o positivismo impregnava a intelectualidade francesa. Émile Zola ainda não publicara o clássico “Germinal”, mas sua obra já refletia o positivismo de Augusto Comte e tinha um grande número de discípulos no Brasil. Muitos romances eram escritos como ilustração de teses científicas, como o determinismo social do naturalismo, que desagradava Machado de Assis e o levou a criticar duramente o romance “O Primo Basílio”, de Eça de Queirós. “O Alienista” surge como uma crítica a esse cientificismo que impregnava a literatura e, em muitos casos, a engessava.
Essa novela inscreve-se numa linhagem ficcional que remonta a Erasmo de Roterdã, Luciano de Samosata e Menipo de Gadara, sem esquecer a vertente filosófica que se ancora em Montaigne e remonta ao Sêneca da Apocoloquintose. E o que realça o caráter único do Alienista é que ele não é somente uma sátira da psiquiatria — é também a tragédia de um psiquiatra. Simão Bacamarte é cinzelado por Machado de Assis com o mais grave respeito que a ciência fazia por merecer. O discurso de Machado não é contra o objeto de sua crítica, como se vê em Erasmo ou em Luciano, mas empático — ao mesmo tempo em que destrói a verdade fátua do cientificismo de Simão Bacamarte, enaltece a convicção com que ele a busca. De certa forma, Machado de Assis, ao mesmo tempo em que deplora os erros da ciência, também lhe reconhece os méritos.

Ciência como única explicação do mundo

É importante observar que os grandes avanços científicos dos séculos XVIII e XIX levaram até mesmo a uma crescente popularização da ciência entre as classes letradas. As primeiras palestras e exposições científicas destinadas ao público leigo datam de antes da Revolução Francesa. Para se ter uma ideia dessa crescente importância do conhecimento científico, já em 1739, o italiano Francesco Algarotti publicou “A Filosofia de Sir Isaac Newton Explicada para o Uso das Damas” e, em 1770, foram publicados os primeiros livros de divulgação científica destinados a crianças. Foi assim que a ciência saiu do laboratório e ganhou a imprensa, tornando-se, sobretudo a partir no século XX, praticamente a única forma válida de explicação do mundo.
Hoje, praticamente já não existe nenhum aspecto da vida humana que a ciência não esquadrinhe. É como se não houvesse nenhuma verdade fora do conhecimento científico. O debate que se travou no Brasil a respeito das pesquisas com células-tronco embrionárias, por exemplo, foi reduzido pela imprensa a uma luta maniqueísta entre cientistas e religiosos, em que os primeiros encarnavam a razão e os últimos eram a caricatura do obscurantismo. Praticamente não se ouviu a voz da filosofia sobre o tema, o que seria obrigatório numa questão em que é impossível separar, de modo preciso, o fato científico de suas implicações morais. Os filósofos que se apresentaram para aquele debate quase sempre se comportavam como lacaios da ciência.
A chamada “medicalização da vida”, por exemplo, no fundo é apenas um aspecto de um fenômeno mais amplo — a cientifização crescente da existência humana. Prova disso é o enorme sucesso dos cientistas que se dedicam à divulgação científica, como um Stephen Jay Gould (1941-2002) ou um Richard Dawkins, cujos livros ocupam o lugar que já pertenceu à literatura na tentativa de explicar o mundo.
É que o Ocidente voltou a ser tão bacamartiano quanto o mundo positivista da novela de Machado de Assis, e a ciência, com o equivocado assentimento da filosofia, senta praça como exclusiva detentora da verdade, como se toda a complexidade do universo pudesse ser reduzida apenas aos fatos conhecidos.
Mas se Patrícia Secco, deturpando Machado de Assis, escreve que “a índole natural da ciência é a aceitação”, toda essa complexidade que acompanha o desenvolvimento científico e que “O Alienista” capta com incrível precisão termina por desaparecer sem deixar rastro. Com isso, ao invés de facilitar Machado de Assis, ela torna o mundo ainda mais complexo — ao calar uma das vozes geniais que mais soube compreendê-lo.

Preço dos imóveis está alto, mas não é bolha imobiliária, diz pesquisa da USP


De 2005 a 2011, um mesmo imóvel ficou 74% mais caro para uma pessoa de um mesmo estrato social.

Os preços dos imóveis no Brasil cresceram muito acima da renda do brasileiro nos últimos anos. Porém, ao contrário do que muitos dizem, o País não está passando por uma bolha imobiliária, explica uma análise feita pelo coordenador do Núcleo de Real Estate da Escola Politécnica da USP, João da Rocha Lima.
O trabalho mostra que ao se deflacionar a alta dos preços dos imóveis residenciais brasileiros entre 2005 e 2013 com base nos custos de construção, o que se mostra não é um cenário de bolha. No entanto, em 2011, houve um ciclo especulativo que já foi corrigido.
De 2005 a 2011, um mesmo imóvel ficou 74% mais caro para uma pessoa de um mesmo estrato social. Por outro lado, a disparada dos custos de terrenos e de construção faz com que os preços dos imóveis não estejam altos em relação aos custos, sendo que o crescimento da renda do brasileiro no período ainda ficou muito aquém da alta dos preços dos imóveis – o que mostra uma diminuição do poder de compra.
Lima acredita que o valor dos imóveis residenciais nas grandes cidades deve se estabilizar, crescendo apenas modestamente, de acordo com a inflação. Enquanto em outros lugares, os preços podem até cair com construtoras que querem sair de determinada região e fazem liquidações de estoques. O estudo ainda mostra que o espaço para queda de preços seria, em média, 6%.
Não somos os Estados Unidos
O professor lembra que a concessão de crédito imobiliário nos Estados Unidos criou uma demanda artificial, pois possibilita que as famílias financiem imóveis residenciais sem ter, de fato, renda para tal. Já no Brasil, as pessoas precisam pagar, no mínimo, entre 20% e 40% do valor do imóvel para obter um financiamento.
Além disso, é importante lembrar que a formação do preço leva em conta os custos de produção projetados e as margens de lucro visadas, sendo que no Brasil, que tem uma inflação elevada, não adianta analisar apenas a evolução nominal dos preços. Ou seja, para verificar se a alta dos preços é de fato excessiva, é preciso descontar a inflação.
Fonte: InfoMoney