sexta-feira, 11 de setembro de 2015

AS LÁGRIMAS DO ATOR POLÍTICO - GAUDÊNCIO TORQUATO

Gaudêncio Torquato, jornalista, professsor da USP, é consultor político e escritor.

 


As lágrimas do comediante, disse um dia Diderot, escorrem de seu cérebro; as do homem sensível jorram de seu coração. Na política, também é assim. Políticos e governantes, como os atores, vivem de representações. E criam projeções que passam a se confundir com os personagens que representam. Poucos, muito poucos, podem dizer que o “eu” e o “ele” são a mesma coisa. Alguns construíram seus perfis sobre um conceito negativo que, de tanto lapidado e moldado às circunstâncias, passou a ser aceito pelos cidadãos. É, por exemplo, o caso do “rouba, mas faz”. Muitos estendem o ciclo de vida política graças à caricatura que moldaram. É o caso de políticos com o carimbo de “obreiros, estradeiros, fazedores, desenvolvimentistas”.

Até os dias de hoje, os comediantes impressionam seus públicos não por serem furiosos, mas por representarem muito bem o furor. O ciclo dos histriões que, com o embalo da dor, comovem as plateias, está chegando ao fim. A cidadania se expande em todos os espaços da pirâmide, trazendo em seu bojo uma carga de conscientização política, que inclui a capacidade das pessoas de distinguir a verdade de versões, a falácia de fatos. A máscara começa a ser retirada dos atores políticos por grupos que absorvem o escopo ético e moral. O espaço para o engodo se estreita sob uma nova ordem ética, construída ao lado dos vergonhosos escândalos que abalam os pilares da nossa frágil democracia. O avanço racional da sociedade começa a se distanciar dos perfis ficcionais e de um nacional-populismo que, entre nós, teima em fincar raízes desde os tempos de Vargas, prosseguindo na combinação do desenvolvimentismo com política de massas de Kubitschek, no trabalhismo de Goulart, na índole nacionalista de Jânio, na era autoritária-populista-esportiva de Médici, no olimpismo-aventureiro de Collor até o palanque demagógico de Lula, cuja continuidade descambou no tecnicismo misturado com o colchão social arrumado por Dilma. São traços ligeiros do ethos populista dos nossos governantes.

Adhemar de Barros, ícone do populismo paulista, deixou de seu Governo a marca do “rouba, mas faz”, que, mais tarde, viria a ser colada a Paulo Maluf, cujo perfil se associou ao obreirismo faraônico, tão característico que lhe emprestou um slogan muito clonado nas campanhas eleitorais: “fulano fez, fulano faz”.

O populismo do passado se agarrava às emoções das massas e nas grandes mobilizações sociais. A onda massiva na contemporaneidade alcançou o clímax com Luiz Inácio Lula da Silva, um mestre na combinação de signos. Pobre, retirante nordestino, metalúrgico, com um simples curso primário, voz rouca, atarracado, passou a usar um verbo metafórico do gosto das massas. Chegou ao centro do poder e ao assento maior da República, o de presidente, na demonstração muito badalada por ele de que qualquer brasileiro pode vir a ser o chefe da Nação. Virou ídolo. Conseguiu o feito que nem Getúlio alcançou: ser opositor a ele mesmo.

Como? Usando artimanhas de palanque: como presidente, parecia muitas vezes um combatente ao governo que ele mesmo comandava. A verve e o verbo exaltado do oposicionista escondiam as verbas que faltavam às regiões. Um exímio ator.

Hoje, Lula não consegue arregimentar multidões. Tem ainda uma boa audiência para ouvir seu palavrório. Mas as massas não parecem dispostas à mistificação. A vacina ética entra nas veias sociais. O engodo chegou a tal ponto, nos últimos anos, que começa a despertar desconfiança. Quem imaginaria o boneco Pixuleco (imitação de Lula) desfilando pelas ruas do país? Grupos tomam o lugar das massas, na demonstração de que o vigor crítico dos cidadãos se expande. A mídia assopra brasa na grande fogueira dos escândalos e este último, o Lava Jato, chama a atenção do mais distante brasileiro por seus efeitos devastadores. Os espectadores da cena política não querem se entregar às ilusões, preferindo exercitar sua indignação, desmistificar o jogo dos atores e denunciar a encenação dos personagens. A conclusão é patente: a política feita por alguns atores não tem melhorado a vida das pessoas. As crises se escancaram: a economia aperta o bolso dos contribuintes; a política é um mar de lama; a crise solapa os valores morais; começa a faltar água nas torneiras e daqui a pouco poderá haver escuridão com um apagão energético.

Multiplica-se a violência, os serviços públicos se deterioram, o desemprego grassa, os hospitais estão sucateados, os remédios custam caro e a vida se torna insuportável. A classe emergente, a C, teme regressar aos espaços carentes da classe D, de onde veio. Os cidadãos seguram o grito preso na garganta: “chega. Chega de mentiras, de encenação, de rapinagem, de brincar com a nossa vontade. Queremos um novo tipo político. Que chore com o coração e não com o cérebro”.

A insatisfação atinge as alturas. O sentimento de revolta acaba oxigenando a democracia. Afinal de contas, como lembrava John Stuart Mill, em Considerações sobre o Governo Representativo, há duas espécies de cidadãos: os ativos e os passivos. Os governantes preferem os segundos – pois é mais fácil dominar súditos dóceis ou indiferentes – mas a democracia necessita dos primeiros. Numa sociedade passiva, os súditos serão transformados em ovelhas dedicadas tão somente a pastar capim uma ao lado da outra e a não reclamar nem mesmo quando o capim está escasso.

Viva! O povo começa a perceber quando as lágrimas saem do cérebro ou do coração dos nossos comediantes políticos. Não quer mais pagar tributo por um expressionismo cênico, caricatural, grotesco, mímico, que tem feito da vida pública um palco de sentimentos falsos, forçados ou fabricados, e da representação política um altar de glorificação pessoal.

UM DOCUMENTO HISTÓRICO


Old Man
Old Man

Old Man


Uma relíquia, uma jóia do futebol brasileiro. Alguns de vocês vão ter a satisfação de ver em ação, pela primeira vez, craques campeões mundiais de 1958, tais como Newton Santos, Garrincha, Pelé, Djalma Santos, Didi, Zagallo, Vavá, Orlando, Zito e outros.
Curtam bastante. A partida final da Copa do Mundo de 1958.
Demorou 56 anos, mas o torcedor brasileiro já pode, na íntegra e com narração em português, o primeiro título mundias de sua história no futebol.

O responsável pelo resgate histórico foi o engenheiro Carlos Augusto Marconi, 64 anos, um especialista em telecinagem que montou um verdadeiro quebra-cabeças durante anos até concluir o trabalho em 2008. Só nesta semana, no entanto, por ocasião de uma reportagem do jornal “Folha de S.Paulo”, o material foi disponibilizado no Youtube.

Para construir a transmissão da vitória brasileira por 5 a 2 diante dos donos da casa, a Suécia, o engenheiro utilizou áudio ambiente retirado de uma película inglesa, com imagens obtidas em 2006 e narradas em russo. Ele as usou como base em vídeo e cobriu as imagens com áudios de rádios brasileiras.

O trabalho com o som foi ainda mais difícil. Além do áudio ambiente, ele queria usar narrações brasileiras da época. Mas os arquivos que obteve da Rádio Bandeirantes e da Rádio Nacional não tinham a narração completa. Cada um omitia uma parte do jogo. Por isso, ele resolveu juntar as duas. Como naquela época havia um narrador para cada lado do campo, a versão final ficou com quatro narradores. Faltou apenas um minuto do jogo para cobrir com o áudio, que ficou apenas com o som ambiente da partida.





FONTE - https://prosaepolitica.wordpress.com/2015/09/10/um-documento-historico/

MILITARES JA FALAM EM EJETAR DO PODER A MÁFIA PETISTA - LEUDO COSTA



by Leudo Costa
O Presidente do Clube Militar, General Gilberto Rodrigues Pimentel tem produzido textos extremamente duros e ácidos contra Lula, a quem chama de  "líder aventureiro,  irresponsável, despreparado, desprovido de caráter e de condições morais e intelectuais".  Na publicação estampada na página do Clube, datada de 09 de setembro,  Pimentel não mede palavras para afirmar que " o PT não passa de  uma verdadeira quadrilha,  que roubaram tudo que puderam, corromperam, praticaram um populismo fiscal eleitoreiro insuportável e reelegeram-se de modo fraudulento".
Leia na íntegra a nota do Clube Militar
PERSISTIR NO ERRO É BURRICE!
Ninguém, em sã consciência, pode prever como sairemos da caótica situação a que nos levaram esses anos de experiência petista. Muitos souberam desde logo que seu líder não era mais do que um aventureiro irresponsável, despreparado, desprovido de caráter e de condições morais e intelectuais.
Para esses últimos soava inacreditável o que ocorria num país com as dimensões e projeção do Brasil já próximo a ingressar no rol dos países desenvolvidos.
Entretanto a sociedade entendeu que devia embarcar na canoa furada.
Deu no que deu.
Valendo-se da nossa distorcida e frágil Democracia, aparelharam o Estado, montaram uma verdadeira quadrilha, roubaram tudo que puderam, corromperam, praticaram um populismo fiscal eleitoreiro insuportável e reelegeram-se de modo fraudulento.
Afundaram o País.
A Justiça está à caça de quase todos eles, inclusive dos principais chefes.
E o que desejam agora, em meio à bagunça social, política e econômica que se estabeleceu? Simplesmente mais impostos. Mas para quê? Para dar continuidade ao assalto? Para tentar comprar aqueles a quem caberá julgá-los?
Não vamos entrar nessa outra vez!
Que vamos pagar essa conta não tenho dúvidas. Mas tributos novos?
Se é o caso, gente, primeiro um novo governo. Fora todos eles. Depois recomeçamos. Nossa Constituição garante os caminhos institucionais e democráticos para ejetar do Poder a máfia petista.
Afinal, por muito menos Collor se foi.
Gen Gilberto Rodrigues Pimentel é Presidente do Clube Militar.
FONTE - http://cristalvox.com.br/2015/09/10/militares-ja-falam-em-ejetar-do-poder-a-mafia-petista/

O GRAVÍSSIMO PECADO DOS OMISSOS - PERCIVAL PUGGINA


Percival Puggina
Percival Puggina

1. O PAÍS PERDE TRINTA ANOS EM 13

 Os responsáveis pela crise brasileira podem ser classificados em três grupos principais. O primeiro inclui políticos, governantes e formadores de opinião que, numa rara e fecunda combinação de ignorância, incompetência e desonestidade, jogaram o país no abismo. O segundo é formado pelos que se beneficiando do governo concederam sucessivos mandatos a quem, diligentemente, conduzia o país de volta aos anos 80. Uniram-se no palco para a grande mágica petista: o país perde trinta anos em 13! O terceiro é o dos tão descontentes quanto omissos. Refiro-me à turma que não sai do sofá. Quando a água bate nas canelas, pegam as velhas listas telefônicas e sentam em cima. Estes últimos incorrem no gravíssimo pecado de omissão. Eu ficaria feliz se os ônus do que vem por aí incidisse, direta e pessoalmente, sobre cada um desses três grupos em vez de se repartir de modo tão injusto sobre o conjunto da população


2. OMISSOS!

 É gravíssimo o pecado dos omissos no atual momento histórico brasileiro! O sujeito lê uma pesquisa e fica sabendo que quase 70% da população quer o impeachment da presidente e que ela conta com a confiança de menos de 8% da sociedade. Diante desses dados, em seu comodismo, ele se considera contado e se dá por representado. Naquela cabeça de cidadão omisso, o dado da pesquisa fala por ele. Representa-o.


3. TERCEIRIZAM O PRÓPRIO DEVER

Pouco importa se seu congressista, ou o Congresso inteiro, não o fazem. Pouco lhe interessa se o único assunto das lideranças com poder de fogo no parlamento é a formação de um “acordão” que mantenha tudo como está. Não o perturba a inconfiabilidade dos tribunais superiores. Ele terceirizou todas as suas responsabilidades cívicas. Ou o fez para as Forças Armadas, que não podem e não devem intervir fora das previsões constitucionais. Ou o fez para o juiz Sérgio Moro, como se o bravo magistrado e a sala onde trabalha não estivesse situada no andar térreo do enorme e pouco confiável edifício judiciário. A pachorra dos processos criminais contra personalidades do mundo político é simétrica à pachorra dos cidadãos omissos. E esta serve àquela.


4. MOBILIZAÇÃO OU CAOS

No entanto, o fio pelo qual pende esse trágico governo, só poderá ser rompido quando a mobilização do povo, fonte legítima de todo poder, alcançar proporções multitudinárias, se dezenas de milhões (e não centenas de milhares) forem às ruas, pacífica e ordeiramente, rugir de modo reiterado e insistente sua inconformidade para desestabilizar a quietude das instituições.

Uma das páginas mais aviltantes da nossa história está sendo escrita no tempo presente com as tintas da ignorância, da incompetência, da desonestidade e da omissão.


PUGGINA-livro-simul* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site http://www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+. Seu livro mais recente: A Tomada do Brasil pelos Maus Brasileiros. Editora Concreta.

Suseranos e vassalos no Brasil dos dias de hoje - PEDRO LAGOMARCINO


por PEDRO LAGOMARCINO*
suserania-e-vassalagem-historia-da-idade-mediaUma das relações de poder e política mais deploráveis que a história registrou foi a relação de suserania e vassalagem. Produto do feudalismo, para alguns historiadores esta seria uma evolução pedestre da relação escravista greco-romana; ao passo que para outros a relação significava apenas o fato de o suserano “oferecer” suas terras para quem aceitasse produzir, cuidá-las, auxiliar em guerras e a pagar impostos. Nestes casos, quem aceitasse tal condição passava a ser considerado vassalo.
Em tempos de República e em plena vigência do Estado Democrático de Direito, constitucionalistas e historiadores são unânimes ao dizer que a relação de suserania e vassalagem não guarda mais espaço no tempo atual. Entretanto, em se tratando de política e poder, a relação que é modificada ou substituída deixa traços inconfundíveis na relação modificante ou substituinte. É como se substituíssemos apenas o rótulo e houvessem pequenas alterações no “sabor” e “aroma” no seu produto, a ponto de o “paladar” e o “olfato”, habitualmente, reportarem-se ao que era o produto original, embora agora ambos estejam um tanto diferentes.
Ao passarmos a visualizar que o Suserano de ontem é a autoridade Estatal de hoje e o vassalo do passado é o cidadão atual, nos parece que o pensar unânime dos constitucionalistas e historiadores foi colocado em xeque. É que por um lado o suserano não oferece mais as terras ao vassalo, mas diz lhe “conceder” a liberdade e “reconhecer” sua cidadania. Por outro lado o vassalo segue tendo de pagar tributos, para habitar em uma terra que não lhe pertence, nem irá lhe pertencer, dado que a República é de todos. Tributos estes que não sabemos mais em troca de que, dada a ineficiência e o pouco caso que lhe faz o Suserano. Mesmo em tempos de República seguem no sistema atual dois traços característicos do sistema anterior: o pagamento de impostos (cada vez maiores, em níveis nunca antes vistos) e a obrigação de “lutar” em guerras. De lutar em guerras? Sim, porque não há guerra maior para o vassalo (ou cidadão, se preferirem) do que ter de trabalhar comprovados 4 meses do ano, para sobreviver e para custear a carga dos tributos que lhe impõe o Suserano (ou Estado, como queiram).
Como vimos, trocam-se os rótulos, modifica-se um pouco a roupagem, mas tudo segue lembrando o que era o produto original. Em se tratando de Brasil, o “gosto” historicamente é sempre ácido e não se pode falar em “aroma”, e sim em “odor”. Uma Lei praticamente irrevogável. Uma sina. Um paradoxo: tudo muda, mas ao mesmo tempo nada muda. Os suseranos de ontem serão ou foram os Presidentes dos últimos 12 anos, ou foram e são Ministros do Executivo de hoje durante o mesmo tempo. E os vassalos de outrora seguem sendo os cidadãos de hoje.
Mas será que nos últimos 12 anos de história, o Brasil não produziu nada de novo?
Sim, produziu: o vassalo-mor.
Diferentemente do vassalo comum, o vassalo-mor aceita um jugo que, ao lhe ser imposto, chega ao ponto de revelar um determinismo natural: o de trabalhar por terras inférteis e combater em guerras ímpias. É o que podemos observar de muitos Ministros do Poder Executivo, nos últimos 12 anos. Embora o pronome de tratamento nos exija tratá-los por Excelências, muitos não fazem por merecer tratamento algum, essa é a verdade. Dentre os predicados de muitos não estão conhecimentos e sim o fato de possuírem as qualificações, diga-se de passagem, as piores, como investigados ou denunciados, em inquéritos da Polícia Federal ou em denúncias que contra eles promove o Ministério Público. Há outros Ministros que têm mais predicados desabonadores, qual sejam, os de condenados, por usurparem o poder, desviarem-se completamente de suas funções, praticarem improbidade (leia-se: o oposto da probidade), crimes dos mais diversos como verdadeiros representantes de seus mentores. Uma espécie de via do ilícito, engendrada de modo que os “negócios” que passassem por ela, fossem tratados ares de normalidade, mesmo que em tais casos todos saibam que a ilicitude é manifesta.
O poder sempre foi um atributo da autoridade e possui o traço de ungir e revelar grandes homens e/ou estadistas, ou pequenos homens e vermes. Exatamente porque o poder corrompe e o homem é corrompível. Que o digam aqueles que frequentam com habitualidade o balcão de negócios, através do “toma lá, dá cá”. Hoje, articuladores políticos com pseudo-prestígio. Amanhã, investigados, denunciados, réus implorando pela delação, condenados e ímprobos. Algo que passa ao largo das noções mais elementares da República e da Democracia. Pelo contrário, são os exemplos vivos da violação de ambas e da inobservância estreita dos Princípios Constitucionais da Administração Pública (da legalidade, da moralidade, da impessoalidade, da publicidade e da eficiência). Aliás, não precisa ser jurista para saber que os atos atentatórios a estes Princípios, todos, sem exceção, produzem ao fim e ao cabo o Brasil que temos: um case de má gestão de políticas públicas e, em que pese este país tenha uma das mais altas cargas tributárias do mundo (atualmente a 8ª), é um dos que proporciona o pior retorno dos valores arrecadados em prol da sociedade. Para se ter uma ideia, o Brasil arrecada mais tributos que os EUA, que a Suíça e que o Reino Unido. É ou não é de se questionar como eles são tão desenvolvidos e prósperos e nós tão atávicos? A resposta é curta e simples: pela má gestão pública e pelos vassalos-mores que temos. Mais ainda, se somos indiferentes ou omissos, pois em tais casos criamos o habitat necessário para que se reproduzam e deixem seus aprendizes.
É exatamente no momento em que cada autoridade ou agente público acha que pode fazer das atribuições de que está investido um balcão de negócios, através do “toma lá, dá cá”, que passam a existir, dentro do próprio Brasil, milhares de sucursais de “outros escritórios”, nos quais os “donos” são exatamente as próprias autoridades. Consequentemente, interesses manifestamente privados passam a ser travestidos de interesses públicos. Eis os porquês de, de norte a sul, existirem muitos “brasis”, dentro do próprio Brasil. Eis os porquês de a Polícia e o Ministério Público terem de se esforçar para achar nomes impactantes que possam dar a devida conotação do escárnio praticado contra a nação, a exemplo da Operação Cosa Nostra, da Operação Castelo de Areia, da Operação Anaconda, Operação Lava-Jato, da Operação Rodin. E o produto dos crimes comprovados nestas operações e praticados pelos Vassalos-mores é que faz o Brasil não sair do estado de letargia nunca. O Brasil fica sempre para amanhã, fica sempre por acontecer. O estado e a atual situação da falta de gestão, destacamos, eficiente, no ensino público, nas escolas públicas, na segurança pública, no sistema de saúde, na ciência e tecnologia faz do nosso país um ente imediatista, autóctone, sem planejamento, nem alinhamento estratégico, ingovernável e talidomídico.
O grupo de suseranos que dita as ordens é o mesmo há 12 anos e o avião que ensaiava manter a estabilidade, em tempos de Plano Real, está em queda livre. Não há alternância deste sistema completamente esgotado, marcado pelo locupletamento ilícito, a malversação de verbas públicas e pela corrupção. Não bastasse tudo isso, a casta dos vassalos-mores está cada vez a aumentar mais.
Ao que tudo indica o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, parece estar em vias de pleitear seu ingresso nesta nova casta. Chega a ser contraditório, pois recentemente, referido Procurador-Geral nos dava provas de que não iria declinar de exercer suas atribuições, em prol da República, enfatizo, República, do latim, res publica, coisa de todos. Era o que todo brasileiro pensava ao ver a manifestação de Janot diante dos questionamentos e dos olhos de fogo do Senador Collor, perante a Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Resultado? Janot se posicionou de forma exemplar e a votação lhe rendeu 26 votos favoráveis e apenas 1 desfavorável, de modo a não deixar dúvidas, tanto do êxito de seus posicionamentos e, provavelmente, que o único voto contrário, seja do Senador que teve sua Lamborghini apreendida pela Polícia Federal em uma investigação atualmente em curso. Mas, infelizmente, não demorou muito para que algo emergisse dentro de Rodrigo Janot. Simplesmente do dia para a noite, o Procurador-Geral “decidiu”, ou melhor, achou que tinha poderes, para se sobrepor à mais alta Corte, em matéria de legislação eleitoral do Brasil, o TSE – Tribunal Superior Eleitoral. Simplesmente com um “canetaço”, Janot arquivou a investigação da campanha que reelegeu a Presidente Dilma Rousseff. Janot parece mesmo estar de fraldas, quando o assunto é exercer as atribuições de Procurador-Geral da República e não a de advogado de campanha de Dilma, a ponto de o Ministro Gilmar Mendes dizer que a fundamentação para o arquivamento “vai de infantil a pueril” (nestas palavras).
Desde há muito se sabe que no tempo do feudalismo, os senhores feudais não costumavam sujar as mãos e determinavam aos seus vassalos o cumprimento de suas ordens. Será que Janot está se habilitando a vassalo-mor, ao confundir as atribuições de Procurador-Geral da República, com as de advogado particular de Dilma Rousseff? Fato é que, com tal “canetaço”, Janot é um cristal quebrado e já inicia seu novo mandato por negar-se a cumprir não uma simples decisão, mas um acórdão do TSE.
Embora eu seja um tanto avesso a Karl Marx, foi o referido pensador que nos disse que “todo produto guarda em si os traços vestígios do sistema que o engendrou”. Sou mais próximo das ideias de Milton Friedman e Ludwig Von Mises, mas não posso deixar de dizer que, neste caso, a lição de Karl Marx veste como uma luva.
*Pedro Lagomarcino é Especialista em Direito da Propriedade Intelectual (FADERGS), Especialista em Gestão Estratégica de Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual (AVM/Cândido Mendes) e Especialista em Gestão Estratégica, Inovação e Conhecimento (ESAB).