Certa vez, Sócrates e Hípias debateram o valor do mentiroso a partir da comparação entre os personagens Aquiles e Odisseu. Sagaz, Sócrates primeiro alimentou as argumentações de Hípias para que ele afirmasse e reafirmasse que uma pessoa multiforme, ou seja, mentirosa, age por inteligência e que esta mesma pessoa pode abrigar tanto a mentira quanto a verdade. Em seguida, Sócrates lhe provocou questionando sobre como mentir no cálculo e na ciência. Sem perceber, Hípias começou a argumentar contra seus próprios argumentos, o que foi muito bem aproveitado por Sócrates que, ao final do debate, sugere que “é próprio do homem bom agirvoluntariamente, e do mau, involuntariamente”.
Sócrates ficaria confuso diante de Lula e de Fernando Henrique Cardoso.
Um dos maiores trunfos de Lula é sua estampa de homem semianalfabeto e que por causa disso muitas vezes se expressa de maneira errada e contra suas próprias ideias. Ser visto como ignorante já lhe absolveu de muitas acusações.
Lanço algumas perguntas: Qual o peso da consciência e da ignorância nas manifestações de Lula? Qual o mérito de suas mentiras? Onde estão suas verdades? O que, afinal, deve ser levado em conta?
O mesmo Lula que se gaba de ter tirado milhões de brasileiros da pobreza afirma que seu governo tornou os ricos ainda mais ricos, o que contradiz a convicção socialista de que quanto mais uns enriquecem, mais outros empobrecem.
Lula também diz que graças a ele a corrupção agora é combatida no Brasil. Graças a ele a Polícia Federal e o Ministério Público são instituições independentes e com poder para investigar tudo o que é suspeito. Porém, é comum que no discurso seguinte afirme que o PT, que Dilma e que ele próprio são vítimas de perseguição da mesma PF e do mesmo MP.
Lula usa as mentiras como forma de atordoar o público, os adversários e o restinho de imprensa livre que existe para fazê-los passar a maior parte do tempo tentando desmascarar as mentiras enquanto ele próprio dá continuidade aos seus projetos mais importantes.
O mesmo Lula que frequentemente diz que as acusações de que Dilma praticou estelionato eleitoral não passam de uma ardilosa tentativa de golpe da oposição, disse com todas as letras: “Nós ganhamos as eleições com um discurso e depois das eleições nós tivemos que mudar o nosso discurso e fazer aquilo que a gente dizia que não iria fazer. Isso é um fato”. Falando isso, Lula fez com que a imprensa perdesse mais tempo decifrando suas palavras do que denunciando a pressão que ele vem fazendo para que não se leve a diante as investigações sobre o envolvimento seu e de sua família em esquemas de corrupção.
Entre a ignorância e a burrice existe um universo. Lula é ignorante, mas não é burro. Aprendeu a viver da malandragem; e toda malandragem necessita fundamentalmente de mentiras muito bem contadas.
Lula demonstra inteligência ao dividir seu discurso em duas, em três, em quantas outras versões sejam necessárias. Diante da mídia, pede diálogo. Diante de seus militantes, incita a guerra contra todos os seus críticos. Diante da mídia, se diz inocente e perseguido. Diante de seus militantes, confessa os desvios seus e de seu partido como forma de distribuir a culpa entre todos que levantam sua bandeira para, assim, também distribuir a responsabilidade sobre o acobertamento dessa culpa.
Numa de suas provocações, Sócrates pergunta a Hípias: Os que mentem voluntariamente não se mostram superiores aos que os fazem involuntariamente?
Lanço outra pergunta: O que Lula seria se tivesse estudado em bons colégios, se tivesse feito uma boa faculdade? Respondo: Lula seria alguém como… Fernando Henrique Cardoso, aquele que mente involuntariamente.
FHC acredita nas mentiras que conta. Conta as mentiras que aprendeu na faculdade. Acredita que seu partido faz oposição ao PT. Acredita que o Brasil deve ser salvo pelo mesmo PT que o corrompeu.
Lula não acredita em nada do que diz. Ele apenas diz. Ele apenas mente. Solta todas as mentiras que vem à cabeça sem qualquer pudor porque não se sente responsável por elas, como vimos em recente entrevista concedida ao SBT.
Lula mente porque sabe que precisa mentir. O socialismo é feito disso.
Lula mente para o povão enquanto Fernando Henrique Cardoso mente para ninguém, pois ninguém, nem seus companheiros, acreditam em suas mentiras.
Fernando Henrique Cardoso conta as mesmas mentiras há trinta anos enquanto Lula reinventa as suas dia a dia, moderniza cada uma delas em função de cada situação e de cada público.
A multiformidade de Lula é moldada pela ignorância de seus militantes e eleitores, conscientes e inconscientes. Lula é um mentiroso útil a uma causa inútil. FHC é um mentiroso inútil à mesma inutilidade.
O certo é que o Brasil está cada dia mais distante de um futuro diferente do seu presente. Velhas mentiras continuam sendo substituídas por novas mentiras. Todos mentem.
Sócrates nos pergunta: “Você não percebe, então, que agora está claro que uma mesma pessoa é mentirosa e verdadeira de tal modo que, se Odisseu era mentiroso, torna-se agora também verdadeiro e que se Aquiles era verdadeiro, torna-se agora também mentiroso, não sendo esses homens diferentes nem opostos, mas semelhantes?”.