sexta-feira, 18 de abril de 2014

ASSESSOR PETISTA QUE HOSTILIZOU MINISTRO JOAQUIM BARBOSA SAIU DE LICENÇA MÉDICA DA CÂMARA DOS DEPUTADOS PARA IR AO ROCK IN RIO

sexta-feira, 18 de abril de 2014


Rodrigo Grassi Cademartori pediu afastamento médico da Câmara dos Deputados para ir ao Rock in Rio

Rodrigo Grassi Cademartori pediu afastamento médico da Câmara dos Deputados para ir ao Rock in Rio(Reprodução Facebook)
Rodrigo Grassi Cademartori, o assessor parlamentar petista que hostilizou o ministro Joaquim Barbosa na saída de um bar na capital federal, pediu demissão do cargo. Ele fez o anúncio horas depois de o site de VEJA procurar o gabinete da deputada federal Érika Kokay (PT-DF) para perguntar sobre a misteriosa doença que o motivou a tirar uma licença médica em setembro do ano passado. Afastado por duas semanas da Câmara dos Deputados, alegando razões de saúde, ele viajou ao Rio de Janeiro para assistir ao Rock in Rio. O próprio militante petista fez o anúncio de sua demissão em seu perfil no Facebook, na noite de quarta-feira. A deputada Érika Kokay (PT-DF), em cujo gabinete Cademartori trabalhava, confirmou ao site de VEJA o pedido de exoneração. 
Rodrigo Cademartori Grassi, o Rodrigo Pilha, ficou famoso depois de perseguir e hostilizar o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, em Brasília. Esse foi apenas o evento mais notório de um currículo recheado de tentativas de intimidação – entre as vítimas, está a blogueira cubana Yoani Sánchez. 
Lotado no gabinete de Érika Kokay, ele parecia exercer unicamente a função de perseguir qualquer um que não se identificasse com as bandeiras do petismo. Mas o empenho do inquisidor em favor da moralidade pública parece não ser legítimo.

Entre 12 e 25 de setembro do ano passado, Rodrigo esteve afastado do trabalho por razões de saúde. É o que comprova o boletim administrativo da Casa.

Rodrigo “Pilha” pede afastamento médico para ir ao Rock in Rio 









Na iniciativa privada, um afastamento de duas semanas somente ocorre quando o empregado é acometido por uma doença de certa gravidade. Mas doença grave seguramente é o que Rodrigo não tinha naqueles dias de setembro. Discrição, tampouco. Só foi possível reconstituir a história a seguir porque o assessor de Érika Kokay é obcecado por se exibir na internet.
Em 13 de setembro, já de licença médica, Rodrigo organizou um luau em sua casa e exibiu fotos do freezer recheado de cerveja. Era só um preparativo para o que viria. No dia 18, uma quarta-feira – dia cheio na Câmara dos Deputados – ele embarcou para o Rio de Janeiro para assistir ao festival Rock in Rio. “Mala pronta, violão, identidade e ingressos na mão ! Rock in Rio 2014, aí vai o Pilha!”, entusiasmou-se, em uma publicação no Facebook.

Nos dias seguintes, Rodrigo exibiu novas fotos no festival, ao lado de um grupo de amigos. Em uma das imagens, ele aparece com um grande copo de cerveja na mão. Tudo isso, claro, no período em que ele alegava estar impossibilitado de exercer seu cargo como funcionário público.

A visita ao Rio de Janeiro também incluiu pelo menos um dia na praia (devidamente documentado e exibido nas redes sociais). O dia ainda foi encerrado com um jogo no Maracanã: Rodrigo assistiu à partida entre Fluminense e Coritiba. Ele próprio fez questão de registrar o momento em fotos e em um vídeo no qual aparece gritando e gesticulando. Perfeitamente saudável. 
E a hipótese de uma cura miraculosa seguida de uma súbita decisão pela viagem ao Rio de Janeiro deve ser descartada porque os ingressos para o Rock in Rio estavam esgotados desde abril. Ou seja, Rodrigo teve um tempo bastante hábil para 'programar' sua licença médica de forma que coincidisse com o festival de música. 

A deputada Érika Kokay diz se lembrar do pedido de licença médica, mas afirma que não pode revelar qual foi o motivo alegado pelo funcionário: "Isso é sigilo médico. Não sei como você tem coragem de perguntar", diz ela. A petista também garante que o pedido de demissão foi feito antes de VEJA apontar as incongruências na licença médica solicitada por Rodrigo.

Nuestros Impostos...

Empresário denuncia que Petrobras virou “condomínio político de ladrões de primeira linha”



Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net

O empresário Caio Gorentzvaig, da família fundadora da Petroquímica Triunfo, denuncia em vídeo que foi ameaçado por José Sérgio Gabrielli e Paulo Roberto Costa, “que lhe botaram o dedo na cara”, caso não aceitasse se desfazer de 15% da empresa – que era controlada, com 85% do capital, pela Petrobras. Gorentzvaig acusa Dilma Rousseff de ter estatizado sua empresa, sem um processo de privatização justo.

Depois de reclamar que a Petrobrás se transformou em um “condomínio político de ladrões de primeira linha”, Gorentzvaig cobra que o Ministério Público Federal e a Justiça investiguem o escândalo – que mexe com o maior grupo transnacional do capimunismo tupiniquim, a Odebrecht. Braço petroquímico do grupo, a Brasken, uma joint-venture com a Petrobras, foi a grande beneficiada com a aquisição da fatia da Triunfo.

Caio Gorentzvaig dá a cara para bater na petralhada, detonando: “Gostaria de mandar um recado a seu Gabrielli e seu Paulo Roberto Costa, que se encontra preso no porão da PF em Curitiba. Que os senhores não vão conseguir botar minha família embaixo da ponte. Ministério Público federal, onde estão os senhores? Investiguem este escândalo. É maior que Pasadena e de San Lorenzo. É o caso mais escabroso da Petrobras”.

O vídeo informa que Petroquimica Triunfo foi repassada por R$118 milhões em ações (não R$250 milhões como na reportagem da Veja) para Braskem/Odebrecht. Caio Gorentzvaig revela uma estranha recusa por parte da Petrobras de uma oferta de sua família de R$ 355 milhões em dinheiro, em troca de outra da Braskem de R$ 118 milhões em ações. Os Gorentzvaig, minoritários na petroquímica, foram obrigados a sair do negócio e a também aceitar ações da Braskem em troca de sua participação, depois de uma batalha judicial que se arrastava desde a década de 80.

Um especialista em aquisições e fusões avalia que, no acordo de acionistas, deveria ter uma clausula de drag-along. Ou seja, se a Petrobras decidir vender seus 85%, a família Gorentzvaig também tem que vender seus 15% nas as mesmas condições. Estranhamente, antes do drag-along deveria valer o shotgun clause, ou seja, a Petrobras deveria ter aceitado os R$ 355 milhões cash da família Gorentzvaig, oferta superior. Muito estranho...

Lula explica...

Luiz Inácio Lula da Silva explica por que o PT deve ter medo da CPI da Petrobras, neste vídeo editado pelo site Implicante...


Os novos passos da Operação Lava Jato, focando na corrupção de servidores públicos, e a confirmação feita ontem pelo ex-diretor Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, de que Dilma Rousseff tinha todas as informações sobre a compra da refinaria Pasadena, colocam o governo em xeque-mate. Nem uma “CPI-X Tudo”, como desejam os governistas, pode salvar Dilma Rousseff do provável desastre eleitoral. Dilma tem motivos de sobra para perder e calma e gritar mais ainda com seus assessores. Novos escândalos pioram sua desgovernabilidade.

A Polícia Federal já avisou ontem que vai abrir novos inquéritos para apurar suspeitas de envolvimento de funcionários públicos nos crimes de desvio de recursos públicos, lavagem de dinheiro e evasão fiscal. Também serão abertos inquéritos para detalhar como doleiros abasteceram campanhas políticas com o dinheiro da corrupção. O principal alvo de investigações é o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa – indiciado ontem por organização criminosa, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.

A cadernetinha de Costa, indicando serviços e pagamentos com empreiteiras, vai ser esmiuçada nas novas investigações. O Globo informa que Costa anotou numa tabela na caderneta apreendida pela PF, os nomes das empresas e, ao lado, os nomes dos executivos responsáveis, mais a “solução” para cada uma delas. Essa “solução”, segundo suspeita a PF, indica um possível financiamento de campanhas eleitorais. As empreiteiras listadas são Mendes Júnior, UTC/Constran, Engevix, Iesa, Toyo Setal e Andrade Gutierrez.

Os delegados federais Marcio Adriano Anselmo e Erica Mialik Marena denunciaram à Justiça Federal no Paraná que Costa faria parte de uma quadrilha que incluiria o doleiro Alberto Youssef, também indiciado por operar instituição de câmbio sem autorização, falsa identidade em contrato de câmbio e evasão de divisas. Youssef já revelou à PF que teria relação de negócios com pelo menos 47 parlamentares. Se ele abrir o bico, repetindo a delação premiada do escândalo do Banestado, quase 10% do Congresso Nacional brasileiro tem chances de deixar o parlamento para terminar legislando no parlatório da cadeia...

Bom Negócio ponto Petrobras


É dando que se recebe do Estado

As prestações de contas ao Tribunal Superior Eleitoral mostram que cinco empreiteiras fizeram doações legais de R$ 10,5 milhões em 2006, ano de disputa aos cargos de deputado, senador, governador e presidente.

Quatro anos depois, as doações de seis dessas empresas saltaram para R$ 114,5 milhões.

Na última eleição, para prefeito e vereador em 2012, as empreiteiras continuaram generosas com os candidatos, com um desembolso de R$ 116,9 milhões.

Todos beneficiados

O PT aparece no topo da lista de doações recebidas: R$ 83 milhões.

O principal aliado da base de Dilma, o PMDB, foi o segundo beneficiário em repasses, com R$ 47 milhões.

O PSDB vem em terceiro, recebendo: R$ 44 milhões.

Ou seja, os doadores sempre ficam bem, independentemente de quem vencer a eleição, pois investem pesadamente em todos os grandes partidos...

Bateu, levou


O YouTube da Boca Maldita mostra como a ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann (PT-PR) tomou uma bronca do líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), durante votação de uma matéria na Comissão de Constituição e Justiça da Casa.

Gleise tentou intimidar o tucano por acusar o governo Dilma de ter "destroçado" o setor elétrico.

A bela candidata ao governo do Paraná, apoiada pelo André Vargas, falou o que quis e ouviu o que não quis...

Custos olímpicos

Para o cidadão fiscalizar em 2016, se as obras prometidas para as Olimpíadas ficarão prontas e conforme o preço inicialmente programado – sem os tradicionais superfaturamentos:

Autoridade Pública Olímpica (APO) informou ontem que a Rio 2016 custará R$ 36,7 bilhões.

Desse total, R$ 24,1 bilhões (65%) serão destinados às obras de legado do evento, R$ 7 bilhões aos custos operacionais e de organização do Comitê Rio 2016 e R$ 5,6 bilhões restantes são dos 24 projetos já aprovados da Matriz de Responsabilidades, documento divulgado em janeiro que relaciona as obrigações dos entes governamentais e do setor privado em projetos necessários para os jogos, como a Vila dos Atletas e os parques olímpicos.

Probleminha...

O percentual de recursos privados nas obras do legado das Olimpíadas será de 43% (R$ 10, 3 bilhões), contra 57% (R$ 13,8 bilhões) de verba pública.

Como 28 dos 52 projetos da Matriz de Responsabilidades ainda não foram licitados, o valor deve ficar bem mais caro que os R$ 36,7 bilhões – certamente para alegria dos empreiteiros e dos políticos que eles generosamente ajudam a cada eleição...

Estima-se que os 11 projetos do complexo Esportivo de Deodoro acrescentem mais R$ 900 milhões ao custo total.

Os outros 17 projetos que continuarão pendentes ainda não têm orçamento definido.

Burlando seu corredor, Haddad?


Leva multa qualquer motorista paulistano que for apanhado trafegando nas faixas exclusivas para ônibus, definidas, autoritariamente, pela Prefeitura de São Paulo, comandada pelo PT.

Mas, no regime petista, parece que alguns são mesmo mais iguais que os outros.

O flagrante da fotografia acima, no corredor da Avenida 23 de Maio, mostra como o carro de chapa de bronze 001, do Prefeito Fernando Haddad, não cumpriu a lei imposta aos demais motoristas paulistanos...

Vargas justiçado pelo PT


Substituto favorito


Zé contra Lula


Padrão Gerdau de rebeldia


Vida que segue... Ave atque Vale! Fiquem com Deus.

O Alerta Total tem a missão de praticar um Jornalismo Independente, analítico e provocador de novos valores humanos, pela análise política e estratégica, com conhecimento criativo, informação fidedigna e verdade objetiva. Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor. Editor-chefe do blog Alerta Total: www.alertatotal.net. Especialista em Política, Economia, Administração Pública e Assuntos Estratégicos.


A transcrição ou copia dos textos publicados neste blog é livre. Em nome da ética democrática, solicitamos que a origem e a data original da publicação sejam identificadas. Nada custa um aviso sobre a livre publicação, para nosso simples conhecimento.

© Jorge Serrão. Edição do Blog Alerta Total de 17 de Abril de 2014.

As feridas abertas da escravidão


Mais de um século após abolir a escravatura, Brasil e EUA apenas agora começam a reconstituir a história de seus heróis negros

MARCELO MOURA
14/03/2014 07h00


HERÓIS O filme 12 anos de escravidão (acima) divulga a história de Solomon Northup, negro livre escravizado nos Estados Unidos. Abaixo e à direita, o relato sobre o Dragão do Mar, líder da revolta  que antecipou a abolição no Ceará (Foto: Jaap Buitendijk/divulgação e reprodução)

Dragão do Mar, líder da revolta que antecipou a abolição no Ceará (Foto: reprodução)
Doze anos de escravidão, produção do diretor britânico Steve McQueen, entrou para a história do cinema ao ganhar o Oscar de Melhor Filme, na premiação da noite do último dia 2. É o primeiro filme de um diretor negro a ganhar a estatueta. Num relativo sucesso de bilheteria, já faturou mais de US$ 140 milhões. Seu maior feito, porém, está fora da esfera do cinema. A associação americana de conselhos escolares (NSBA, na sigla em inglês) incluiu o filme no currículo escolar obrigatório do ensino público. A obra de ficção foi elevada à condição de documento histórico e material didático. O livro homônimo, em que o filme se baseia fielmente, ganhou uma versão para crianças e traduções no mundo inteiro – no Brasil, é publicado por duas editoras diferentes.
Antes do filme, lançado no ano passado, quase ninguém conhecia a história de Solomon Northup, negro livre e bem-educado de Nova York. Em 1842, ele foi sequestrado e forçado à escravidão, por 12 anos,  em fazendas no sul dos Estados Unidos. Resgatado por seus amigos brancos, Northup lutou pela abolição da escravatura e contou sua história a um escritor de livros, David Wilson. O texto foi encontrado e reeditado nos anos 1960, sem grande repercussão, até chegar às mãos de McQueen. “Quando conheci o livro, não consegui largar. Foi como ler o Diário de Anne Frank, mas escrito 100 anos antes”, disse ele. “Minha ideia era transformar Northup num herói, porque ele é um verdadeiro herói americano.”
A consagração do filme, ao mesmo tempo, serviu para realçar como a escravidão de negros, abolida nos Estados Unidos há 148 anos e no Brasil há 125, ainda é pouco conhecida. No Brasil, por mais de um século, prevaleceu a crença de que seria improdutivo vasculhar o passado dos negros no Brasil. Os arquivos sobre a escravidão, dizia-se, se perderam em 1890, dois anos após a abolição, quando o então ministro da Fazenda, Rui Barbosa, ordenou a queima de documentos para dificultar pedidos de indenização de donos de escravos. “A carência e a imprecisão de registros históricos reduziu o brilho de heróis nacionais”, diz Patrícia Xavier, mestre em história social pela PUC-SP. Em sua tese de mestrado, Patrícia estudou a vida de Francisco José do Nascimento, o Chico da Matilde, líder abolicionista morto em 6 de março de 1914 – portanto, há 100 anos. Sua vida também daria um filme.
Negro livre, Chico trabalhava como prático no porto da província do Ceará. Como era difícil atracar no mar agitado, o transporte entre navios e a terra firme era feito em jangadas. Segundo relatos da época, em 1881, Chico liderou os jangadeiros ao se recusar a transportar escravos. Influenciado pela insurreição dos jangadeiros, o Ceará aboliu a escravidão em 1884, quatro anos antes de a Princesa Isabel assinar a Lei Áurea. Autor de livros como O cortiço, o escritor negro Aloísio de Azevedo batizou Chico como Dragão do Mar. O Dragão do Mar é conhecido no Ceará, mas jamais chegou à condição de herói nacional. A falta de registros sobre sua vida dificultou a divulgação. “Achei que conseguiria escrever uma história biográfica do Dragão do Mar, baseando-me em relatos até a década de 1950, mas encontrei fontes escassas e especulação”, diz Patrícia. “Em vez de pesquisar a vida, passei a pesquisar a variedade de memórias sobre ele.”
Diante da escassez de registros precisos, diz Patrícia, a figura do Dragão do Mar foi historicamente apresentada de diversas formas, para atender a diferentes interesses. “Abolicionistas o retrataram como um negro pobre”, afirma. “Isso é improvável. Ele era um funcionário público e tinha duas jangadas.” Nos EUA, o relato de Solomon Northup também não escapa da suspeita de ter sido interessadamente distorcido. Apesar de Northup afirmar que sua biografia “não tem ficção ou exagero”, historiadores questionam alguns trechos. Num momento de sua história, um feitor castiga um escravo até a morte, dentro de um barco. Isso dificilmente aconteceria na América do Norte, onde a população de escravos aumentou menos pelo tráfico e mais pelo crescimento populacional. Negros eram bens valiosos. Podiam sofrer, mas um feitor não teria autonomia para sacrificar o patrimônio de seu patrão.
A falta de informações sobre escravos, testemunhada por Patrícia, está prestes a acabar. Nos últimos 15 anos, historiadores encontraram farta documentação sobre a escravatura no Brasil. O país vive seu auge na divulgação de novas histórias sobre o papel do negro no trabalho forçado. “Descobriu-se que as delegacias de polícia, alfândegas, igrejas, arcebispados e casas particulares estão cheios de documentos”, diz Alberto da Costa e Silva, diplomata, membro da Academia Brasileira de Letras e especialista em história da África. “Era de esperar, pois a escravidão durou quase 400 anos.”
O resgate histórico do período de escravidão ganha força à medida que documentos são descobertos e que a sociedade ganha distanciamento. Um século e meio de abolição é pouco tempo, mesmo para países jovens como EUA e Brasil. O diretor Steve McQueen pôde usar, em seu filme, fazendas do Mississippi onde houve escravidão. O tronco onde dois escravos são espancados, na obra de ficção, foram usados para chicoteamento, um século atrás. “Aquelas árvores viram tudo”, diz McQueen. Método de trabalho largamente empregado na Europa, nas Américas, na Ásia e na África, a escravidão foi extinta apenas na década de 1980 em países como Serra Leoa. Suas feridas continuam abertas.

VELHA HISTÓRIA, NOVO TESTEMUNHO


Anhangüera


Paulo Figueiredo, autor da carta abaixo da ilustração, é filho do ex-presidente João Figueiredo. Por dever de justiça, é de se ressaltar que o Presidente João Figueiredo morreu pobre. Anos após morreu sua esposa, D. Dulce nas mesmas condições. Seu filho Paulo, hoje trabalha como qualquer mortal e nunca se teve notícia de qualquer negócio fantástico envolvendo seu nome, nem tampouco, que enriqueceu no governo do pai.

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Flávio. De repente, hoje eu comecei a receber uma enxurrada de mensagens mencionando esta história.
Sou, evidentemente, o cara mais suspeito para tecer considerações sobre qualquer matéria que faça juízo de valor a respeito de meu pai, especialmente em atos do seu governo.
Mas sobre este episódio, especificamente, não posso me furtar a lhe dizer, e com certeza absoluta, que o que está relatado é totalmente verdadeiro.

Até porque, veja você, calhou de eu estar presente no mencionado encontro. Tinha acabado de vir do Rio, e fui direto para a Granja do Torto ver os meus pais, como eu sempre fazia assim que chegava em Brasília. Soube que o “Velho” estava reunido com o Havelange, no gabinete da residência. Como sempre tivemos com ele uma relação muito cordial, me permiti entrar para cumprimentá-lo e dar-lhe um abraço.
“- João e João! Esta reunião eu tenho que respeitar!”, brinquei irreverente, dele recebendo um carinhoso beijo. (Havelange sempre teve o hábito de beijar os amigos). Ia, logicamente, me retirar, mas papai me deixou à vontade:
“- Senta aí, estamos falando de futebol, que é coisa que você adora”.
Fui logo sacaneando: “Vocês já descobriram um jeito de salvar o Fluminense?” (risos – os dois eram tricolores roxos).
“- Ainda não, mas vamos chegar lá. Estamos conversando sobre Copa do Mundo…”
Filho, neste momento, o Havelange está me sugerindo realizar a próxima Copa do Mundo no Brasil e eu vou dar uma resposta a ele com o seu testemunho: “Havelange, você conhece uma favela do Rio de Janeiro? Você conhece a seca do nordeste? Você conhece os números da pobreza no Brasil? Com essa realidade, você acha que eu vou gastar dinheiro com estádio de futebol? Não vou! E, enfie essa tal de Copa do Mundo no buraco que você quiser, que eu não vou fazer nenhuma coisa destas no Brasil!
O Velho não concordava que o país despendesse quase um bilhão de dólares (valor abissal para os números daquela época) para tentar satisfazer o caderno de encargos da FIFA, principalmente diante do quadro de enorme dificuldade financeira que o Brasil atravessava. Uma situação cambial dramática, resultante de um aperto histórico na liquidez internacional – taxa de juros internacionais de 22% a.a, barril de petróleo a 50 dólares no mercado spot – agravada pela necessidade de se dar continuidade a um importantíssimo conjunto de obras de infraestrutura. Muitas delas iniciadas, diga-se de passagem, em governos anteriores, mas que não poderiam ser paralisadas por serem realmente de vital importância para a continuidade do nosso desenvolvimento.
Realmente, era contrastante com o que se fez (ou melhor, o que NÃO se fez) nos governos seguintes: várias hidrelétricas, começando por Itaipu – até hoje é a segunda maior do mundo, além de Tucuruí, Balbina, Sobradinho, todas com as suas gigantescas linhas de transmissão; conclusão da expansão de todas as grandes siderúrgicas (CSN, Usiminas, Cosipa e outras – que fizeram o Brasil passar de crônico importador para exportador de aço; conclusão das usinas de Angra 1 e 2; um programa agrícola que permitiu que ainda hoje estejamos colhendo os frutos da disparada de produção de grãos – graças à Embrapa, ao programa dos cerrados e ao programa “Plante que o João garante”; um salto formidável nas telecomunicações, até então ridículas; multiplicação da malha rodoviária – a mesma, praticamente, na qual hoje ainda rodamos, só que agora sucateada e abandonada; inauguração de dois metrôs: Rio e São Paulo; instalação de vários açudes no sertão nordestino; a construção de 2.400.000 casas populares, mais do que toda a história do BNH até então, e muito mais.
Isto é apenas o que eu me lembro agora, ao aqui escrever rapidamente. Em resumo: naquela época, o dinheiro dos impostos dos brasileiros, simplesmente, destinava-se ao desenvolvimento do país.
Mas, para concluir, já falando do presente: o que se está fazendo com o povo brasileiro é simplesmente criminoso. Só que a roubalheira na construção dos estádios é apenas a ponta do iceberg. Só chamando um Aiatolá para dar jeito, mesmo.
Grande Abraço,
Paulo Figueiredo