domingo, 24 de fevereiro de 2013

Arte e análises velhas, por Míriam Leitão



Míriam Leitão, O Globo
A arte da capa do folheto e dos cartazes comemorativos dos 10 anos do PT foi comparada à estética gráfica dos regimes totalitários de direita e de esquerda. Parece mesmo. Aquelas fotos enormes das duas cabeças em um corpo, e um povo miúdo em comemoração, evoca a idolatria personalista de regimes autoritários. O texto é ainda mais discutível.
A versão de que a virtude absoluta está de um lado, e toda a maldade se concentra nos adversários, é bizarra. Hoje, após quase três décadas de democracia, o país foi exposto ao contraditório, teve decepções, aprendeu nuances, vê com espírito crítico mesmo aqueles nos quais vota.
É fazer pouco da inteligência dos brasileiros. Eles não são adoradores infantilizados de líderes macrocéfalos, mas cidadãos capazes de pensar criticamente.
A história democrática recente não está dividida em dois períodos — os anos desastrosos e os anos gloriosos. É uma simplificação grosseira, só aceitável em regimes que controlam a opinião pública, o que é impossível na democracia. Há nuances, virtudes e defeitos nos dois períodos de governo. Há diferenças até dentro de um mesmo período presidencial. O período Palocci é diferente da gestão Mantega, por exemplo, com superioridade para o primeiro, que preservou a estabilidade da moeda, conquistada no governo anterior. O segundo tem tomado decisões perigosas na área fiscal e monetária.
No texto, há um trecho que diz: “A teoria do bolo, de que somente após a economia crescer seria possível distribuir, se tornou uma referência a não ser questionada.” Tal teoria do bolo não foi invenção de nenhum adversário do PT, mas do seu neoamigo Delfim Netto.
Os redatores da cartilha não conseguem provar a tese de que um período concentrou renda e o outro distribuiu. Nos números que contrapõe, admite que houve redução da desigualdade, medida pelo Índice Gini, nos dois períodos. Houve mais redução no governo Lula, mas o processo virtuoso começou após a estabilização da moeda. Só é possível fazer políticas sociais eficientes quando há inflação sob controle.
O PT tem erros a omitir e virtudes a exibir. Fiquemos na segunda parte: a ampliação da rede de proteção social. Mas os dados do próprio governo mostram que o programa anterior estava transferindo R$ 4 bilhões no fim do governo Fernando Henrique. No governo Lula, R$ 15 bilhões, e agora, R$ 23 bilhões. O programa mudou de nome e foi ampliado e aperfeiçoado. Omite-se que a ideia original da campanha de 2002 era distribuir vales para trocar por alimentos. Felizmente, a ideia obsoleta foi abandonada.
O texto alega que nos anos petistas foi feita a organização das finanças públicas, o que na verdade foi um trabalhoso esforço que consumiu anos até se chegar à Lei de Responsabilidade Fiscal. Isso tem sido ameaçado pela alquimia contábil. Em dado momento da cartilha, eles dizem que nos anos petistas o crescimento do PIB por habitante foi de 2,2%. No final desta semana, será confirmado que em 2012 o PIB per capita teve crescimento zero.
Peça de propaganda publicitária não é para dialogar com sinceridade, mas para construir uma versão a ser vendida ao eleitorado. O problema é que faltam 18 meses para o período oficial da campanha eleitoral e o governo precisa governar.
Explicações maniqueístas têm um defeito básico: elas anulam o espaço para a conversa inteligente. O início extemporâneo de campanha põe em risco a ação sóbria do governo para corrigir o rumo na direção do que o país quer, seja quem for que o governe: desenvolvimento com moeda estável.

A morte do menino boliviano e a desorganização do futebol sul-americano



Tostão (O Tempo)
A absurda morte de um jovem boliviano, por causa de um sinalizador jogado por um torcedor do Corinthians, retrata bem a falta de civilidade, a desorganização e a violência (na arquibancada, no gramado e fora do estádio) no futebol sul-americano. Não foi uma fatalidade, foi um assassinato, mesmo sem intenção de matar. Poderia ter acontecido com torcedores de todos os clubes e em todos os estádios, o que não exime o Corinthians de culpa. A punição dada é provisória, até o julgamento pela Conmebol.
 Torcendo na cadeia…
Se pessoas equilibradas fazem besteiras quando estão em grupo, por se sentirem poderosas, audaciosas, liberarem suas agressividades e por não se sentirem culpadas, como se a responsabilidade fosse do grupo, imagine um marginal, desequilibrado, com um sinalizador, no meio de uma multidão.
Além da violência, falta organização ao futebol sul-americano. Isso é essencial, até para armar uma retranca, como fez o Milan. O Barcelona tem algumas deficiências e, por isso, perde, como todas as outras grandes equipes. Acho até que, pelo risco que corre, por causa da maneira de jogar, poderia perder mais vezes.
O Milan colocou dez jogadores perto da área, sem espaço entre eles, e ainda contra-atacou. O Barcelona não criou chances de gol, o que é raríssimo, mesmo contra adversários que usam a mesma estratégia. Faltou também desarmar mais à frente, uma de suas virtudes.
Os times europeus são mais organizados que os brasileiros. Há muitas equipes e jogadores fracos na Europa, mesmo na fase de grupos da Liga dos Campeões, mas é raro ver uma equipe desorganizada. Na derrota para a Inglaterra, Neymar não sabia se era segundo atacante ou se era um jogador pela esquerda, com a obrigação de marcar o lateral. Oscar correu todo o campo, atuou bem individualmente, mas ninguém soube qual foi sua posição e função.
Organizar não significa compartimentar e repetir sempre a mesma movimentação e as jogadas, mas as equipes precisam ter uma estratégia muito bem-definida e exigir que os atletas, craques ou não, a cumpram.
Por outro lado, os treinadores europeus erram muito mais do que os brasileiros nas escalações, substituições e posicionamento dos jogadores. Sir Alex Fergusson adora colocar o atacante Rooney pelos lados, para marcar o lateral, como fez contra o Real Madrid e em muitos outros jogos. Na vitória recente do Bayern sobre o Arsenal, Arsene Wenger escalou o velocista Walcott, que joga pela direita, de centroavante. O time ficou sem sua melhor jogada e sem centroavante.
Um ótimo técnico precisa organizar bem um time e escalar os jogadores nos lugares certos, além de saber formar e comandar um grupo, ter gana por vitórias e compromisso com a qualidade do jogo. O restante é conversa fiada, exibicionismo.

A dimensão das fraquezas humanas



Carlos Chagas
Até chapéu de vaqueiro ele pôs na cabeça para chamar a atenção. Marcou lugar na primeira fila do auditório de mil pessoas, defronte ao Lula, a Dilma, a Rui Falcão e muitos ministros, além de convidados especiais. Claro que foi visto e notado. Formaram-se filas de companheiros para cumprimentá-lo, no plenário, mas lá de cima, nem um piscar de olhos.
 Chamando atenção…
Não foi citado pelo mestre de cerimônias ou por qualquer orador, a começar pela presidente e o ex-presidente da República. Muito menos viu-se convidado a integrar a mesa que dirigiu os trabalhos, apesar de haver presidido o partido por longos anos. A imprensa registrou que pelo menos dois ministros passaram por ele, na entrada, simplesmente ignorando-o. Por artes do serviço de segurança, os fotógrafos e cinegrafistas não conseguiram aproximar-se para aquele flagrante obrigatório ditado pelas circunstâncias, que seria ele de costas em primeiro plano e, ao fundo, os donos do poder.
Falamos de José Dirceu e da festa dos dez anos do PT no governo, quarta-feira. De graça, essas coisas não acontecem, quer dizer, tudo foi organizado para omitir o outrora herdeiro presuntivo do Lula, hoje condenado a dez anos de cadeia pelo Supremo Tribunal Federal. O mesmo verificou-se com outros dois sentenciados, José Genoíno e João Paulo Cunha, fora da primeira fila.
A glória é tão efêmera quanto a ingratidão é farta. Na verdade, o PT acaba de rejeitar seus filhos antes queridos e bajulados. Durou pouco a tentativa de fazê-los mártires e de levar o Judiciário ao pelourinho. Sobrou cautela, faltou coragem na festa de quatro dias atrás. No recôndito das celas que em breve ocuparão, os três companheiros condenados, mais o quarto, Delúbio Soares, que não compareceu, terão tempo para meditar na dimensão das fraquezas humanas. Em sigilo, fora das luzes, parece que já foram recebidos, semanas atrás, pelo primeiro-companheiro, mas na noite capaz de renovar-lhes a solidariedade e o sentimento de inocência, nem pensar. Estarão na dúvida se não foram mesmo culpados…
SAUDADES
Milton Campos, Pedro Aleixo, Tancredo Neves, Oscar Correia, Magalhães Pinto, Afonso Arinos, Bilac Pinto, Gustavo Capanema, José Maria Alckmin, Benedito Valadares, Juscelino Kubitschek e quantos outros mineiros ilustres andam fazendo uma falta danada…
ASSIM É DEMAIS
Não deve ser verdadeira a informação de que o ex-presidente Lula cuidará da próxima reforma do ministério, de forma a sedimentar o bloco partidário de apoio à reeleição de Dilma. Conselhos e palpites ele pode dar, mas transferir as decisões do palácio do Planalto para São Bernardo é demais.
Lembra-se, a propósito, episódio passado no Rio Grande do Sul. Borges de Medeiros ficou cinco mandatos como presidente do estado, a Constituição local permitia. Depois de uma revolução para depô-lo e da ascensão de Getúlio Vargas ao palácio Piratini, a primeira visita recebida pelo futuro presidente da República foi do inconteste chefe político que ainda imaginava deter todo o poder. O velho Borges puxou do bolso uma folha de papel e começou a ler a lista de suas instruções para a composição do secretariado. Getúlio, sem elevar a voz, quase com humildade, atalhou: “Dr. Borges, e senhor é o chefe do partido e mandará nele o quanto quiser. Mas no meu governo, mando eu…”
Apesar de mineira, Dilma viveu boa parte de sua vida no Rio Grande. Deveria reler as biografias do saudoso mestre.

Ministério Público se mobiliza para manter o direito de investigar e levanta os podres dos deputados paulistas



Fausto Macedo e Bruno Boghossian (O Estado de S. Paulo)
Um grupo de promotores de Justiça de São Paulo, insatisfeitos com a Proposta de Emenda à Constituição estadual que lhes tira o poder de investigar, está rastreando os processos que têm deputados como réus em ações de caráter civil e penal, incluindo nessa lista os que já sofreram condenação ou que ainda são alvo de inquéritos.
A ofensiva é uma resposta ao avanço da proposta que concentra exclusivamente nas mãos do procurador-geral – chefe do Ministério Público Estadual – a missão de investigar, até no âmbito da improbidade administrativa, secretários de Estado, prefeitos e deputados estaduais – tarefa hoje conduzida por promotores em qualquer município.
O mapeamento é informal – os promotores pretendem mostrar apenas a razão para a tentativa de “amordaçar” a classe. Também não se trata de iniciativa institucional, mas de alguns promotores preocupados com o risco de perderem prerrogativas que conquistaram em 1988 – a Constituição conferiu ao Ministério Público o papel de fiscal da lei. Eles pesquisam parlamentares paulistas que assinaram a PEC: 33 ao todo. A consulta, ainda parcial, indica que seis deles estão sob investigação.
A proposta vai à Comissão de Constituição e Justiça. Alguns deputados estaduais rastreados têm mais de uma pendência nos tribunais.
PODER DE INVESTIGAR
O procurador-geral de Justiça, Márcio Fernando Elias Rosa, defende enfaticamente o Ministério Público e não abre mão dos poderes que lhe foram conferidos, mas quer evitar atritos com a Assembleia paulista, a maior do País, com 94 deputados.
“As sucessivas investidas que ressurgem contra o regime constitucional do Ministério Público não encontrarão, não encontraram no passado, apoiamento no meio social e jurídico e haverão de ser rechaçadas pelo próprio Legislativo ou pelo Judiciário”, disse, acrescentando:
Segue a mesma linha do procurador-geral a Associação Paulista do Ministério Público, que congrega promotores e procuradores. Seu presidente, Felipe Locke Cavalcanti, afirmou em nota que a entidade é contrária à proposta, por considerar que “ela cerceia, restringe e coíbe o poder de atuação dos promotores, prejudicando a população e o andamento de investigações de grande importância”.
Locke ressalta que a proposta pretende reeditar atribuições previstas no inciso V do artigo 116 da Lei Orgânica do MP do Estado. Nesse inciso, a eficácia da expressão ‘ação civil pública’ está suspensa por liminar concedida pelo Supremo Tribunal Federal na Ação Direta de Inconstitucionalidade 1285/SP. Na prática, essa liminar abriu caminho para que os promotores instaurem inquéritos e proponham ações civis contra gestores públicos com base na Lei de Improbidade.
FIM DO AUXÍLIO-MORADIA
A proposta do deputado Campos Machado, do PTB, joga na mesa do procurador-geral competência única para investigar no âmbito civil secretários de Estado, prefeitos e deputados estaduais – em matéria criminal, essa missão já é do mandatário do Ministério Público.
A proposta foi apresentada depois que a Promotoria arrancou dos deputados o auxílio-moradia – em ação civil, liminarmente acolhida pela 13.ª Vara da Fazenda, a Promotoria apontou inconstitucionalidade na regalia concedida a todos os deputados. A ação mostra prejuízo anual de R$ 2,5 milhões aos cofres públicos.
Promotores que se lançaram ao rastreamento dos antecedentes de deputados acreditam que a ira da Assembleia não se deve à perda da verba de moradia, mas ao contingente cada vez maior de colegas que vão para o banco dos réus em ações por improbidade, enriquecimento ilícito e fraudes. Essas infrações, na maioria dos casos, teriam sido praticadas por eles quando ocupavam cargos no Executivo, como prefeitos de seus municípios de origem.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – No Congresso Nacional tramita proposta idêntica, que visa extinguir os poderes de investigação conquistados pelo Ministério Público. A sociedade civil organizada – perdão, mesmo desorganizada – devia lutar contra esse tipo de projeto de lei, que só interessa aos políticos corruptos e criminosos do colarinho branco. (C. N.)

Renan Calheiros é idiota. Se tivesse ficado quieto no Senado, não estaria submetido à tamanha desmoralização



Carlos Newton
A vaidade e a ambição são dois pecados sem limites. Para um homem público, então, representam um risco enorme. Tancredo Neves, por exemplo, fazia questão de não demonstrar que era rico, embora o fosse. E recomendava a outros políticos que também procederem assim, fossem discretos com a vida pessoal. Pena que poucos o tenham escutado.
Vejam o caso do senador Renan Calheiros. Este fim de semana, protestos em Brasília e grande número de cidades, organizados pela internet. Em São Paulo, por exemplo, cerca de 300 pessoas participaram sábado de um protesto contra o parlamentar alagoano na Avenida Paulista, em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp). Gritando palavras de ordem contra a corrupção, os manifestantes fecharam três das quatro pistas da avenida.
Semana passada, houve manifestação também em Brasília, diante do Congresso. Na internet, especialmente nas chamadas redes sociais, Renan Calheiros é a bola da vez, ninguém é tão citado negativamente quanto ele.
PRIMEIRO DO RANKING
Na verdade, Renan Calheiros conseguiu a façanha de se tornar o mais desmoralizado político brasileiro da atualidade, superando inclusive o outrora imbatível Paulo Maluf e até os mensaleiros José Dirceu, João Paulo Cunha, Valdemar Costa Neto e José Genoíno.
O mais interessante é que Renan Calheiros estava quieto no seu canto, ninguém falava mal dele, e continuava fazendo suas mutretas impunemente. Mas a vaidade a ambição são incontroláveis em pessoas desse tipo. Audaciosa e intempestivamente, ele resolveu voltar a ser presidente do Senado, com a cumplicidade do governo e no PT.
Seu passado então foi desenterrado. Ressuscitaram o caso de sua amante Monica Veloso na capa da Playboy, assim como a fraude das notas frias na venda de gado, o enriquecimento ilícito, toda a sua trajetória de irregularidades voltou à tona. E parece que ele nunca mais vai ter sossego, ficou marcado para sempre.
Valeu à pena todo esse sacrifício de Renan Calheiros só para ser novamente presidente do Senado, depois de ter renunciado ao cargo para não ser cassado? Perguntem a ele. Se arrependimento matasse…

Depoimento sobre maioridade penal: 'O menor que matou meu filho não era carente'



Elizabeth Metynoski (mãe do Giorgio Renan)
O menor que matou meu filho não era carente, era classe média alta, estudava em uma excelente escola, nunca passou fome ou coisa parecida. Ele ficou absolutamente impune, o único penalizado foi meu filho que aos 10 anos pegou perpétua no cemitério.
Aqui tem a história do que ocorreu:http://www.giorgiorenanporjustica.org/o_que_aconteceu.htm 
Baixar a maioridade penal realmente não vai resolver todos os problemas que temos hoje em nosso país, mas acredito que vai evitar que os menores infratores fiquem impunes e acabar um pouco com este “Não dá nada” que eles dizem na sua cara. Porque tão terrível quanto perder um filho é ver que o assassinou impune.
Nós que lutamos para mudar as coisas sabemos bem que não é só o menor carente que está aí cometendo delitos. Tem um amigo nosso que perdeu um filho, um jovem que fazia faculdade, trabalhava e era de bom caráter, assassinado em um sinaleiro em São Paulo, durante um assalto cometido por 3 menores cuja intenção era pegar o carro e etc para vender e custear a festa de aniversário de 18 anos do que atirou, que iria acontecer a alguns dias adiante.
Como o que atirou faltavam 4 dias para completar 18 anos, respondeu como menor, ou seja, não é crime, é “ato infracional” e os companheiros dele idem. Aos 18 anos, ficha limpa para todos.
Sei que muitos não concordam comigo, mas o importante é que o assunto seja discutido, ideal seria o plebiscito. Problemas outros o Brasil tem de monte, mas se a população começar a “gritar”, as coisas começam a mudar, o que precisamos é de ação e não reclamação.

'Época': auditoria da CGU revela fraude de R$ 21 milhões no Into



  • Reportagem publicada neste sábado mostra que esquema lesou outros hospitais federais do Rio

Em dezembro, pacientes enfretavam filas que davam voltas no quarteirão para conseguir uma senha de atendimento no Into Foto: Márcia Foletto / O Globo / Arquivo: 03/12/2012
Em dezembro, pacientes enfretavam filas que davam voltas no quarteirão para conseguir uma senha de atendimento no Into Márcia Foletto / O Globo / Arquivo: 03/12/2012
RIO — Uma auditoria da Controladoria Geral da União (CGU), concluída em novembro do ano passado, revelou que cinco hospitais e órgãos federais ligados à saúde no Rio foram lesados em pelo menos R$ 23,5 milhões entre 2005 e 2012, segundo reportagem da revista “Época” publicada neste sábado. Desse montante, R$ 21,2 milhões teriam sido desviados do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into). De acordo com o texto, um esquema formado por quatro empresas foi o responsável pelas fraudes. Conforme explica a revista, o relatório da CGU relata comp ras superfaturadas, contratações de serviços não realizados e concorrências “de cartas marcadas”, entre outros problemas.
A reportagem mostra ainda que as três empresas suspeitas de participar da fraude no Into foram contratadas na gestão do atual secretário estadual de Saúde, Sergio Côrtes, que dirigiu a unidade hospitalar de 2002 até 2006. Uma dessas empresas teria sido contratada a convite da direção do instituto, sem ter que se submeter a uma licitação. Segundo “Época”, o relatório da CGU denuncia que esta firma, a Padre da Posse Restaurante LTDA, vendeu ao Into água mineral superfaturada, a um preço 219% mais alto que o do mercado. O montante desviado pela Padre da Posse chegaria a R$ 3,8 milhões, afirma a revista.Além do Into, o Hospital Federal de Bonsucesso, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Hospital Federal dos Servidores do Estado e o Hospital Federal do Andaraí teriam sido lesados pelo esquema.
No entanto, o maior prejuízo nas contas do instituto foi causado, de acordo com o texto, pela Rufolo Empresa de Serviços Técnicos e Construções LTDA. A reportagem mostra que, segundo a CGU, a Rufolo lesou a unidade em R$ 16,9 milhões, por meio da “contratação de serviços sem a necessidade comprovada, serviços contratados sem a comprovação de que tenham sido prestados e preços aprovados de acordo com as propostas encaminhadas pela própria Rufolo, ou por empresas com vínculos familiares e societários com a Rufolo”.
Côrtes: contas aprovadas
Em nota de sua assessoria, Sergio Côrtes informou neste sábado que não comentaria a auditoria da CGU porque não teve acesso ao relatório e que cabe aos atuais gestores dos hospitais citados falar sobre as denúncias. O texto destaca ainda que todas as contas do Into durante sua administração foram aprovadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e que ele foi gestor dos contratos mencionados na reportagem da revista “Época” por apenas um ano.
Conforme a revista, o empresário Adolfo Maia, dono da Padre da Posse, negou ter participado das fraudes. O advogado da Rufolo, Fábio de Carvalho Couto, disse à revista que não há provas materiais para incriminar a empresa.
O Into foi alvo de críticas em dezembro passado, quando mais de mil pessoas se aglomeraram na porta do hospital em busca de atendimento. Os primeiros pacientes chegaram na véspera da distribuição de senhas, muitos usando cadeiras de rodas ou muletas.

Brigadeiros, por Luiz Fernando Verissimo



Cena: festa de aniversário de criança. Dois pais lado a lado.
— Você é o pai da...
— Da Laura. Você?
— Do Miguel. Aquele ali com a espada, batendo na... Miguel! Não se bate assim nas pessoas. Pede desculpa!
— Nós não nos vimos no...?
— No aniversário da Luiza.
— Certo. Estou me lembrando. Bolo de chocolate com amêndoas.
— Isso. E sorvete de creme
— Sou eu que sempre trago a Laurinha nos aniversários.
— Sua mulher já desistiu...
— Não. É que eu gosto.
— Sabe que eu também?
— São um inferno, claro. É preciso ter paciência. Mas tem seu lado bom
— Exatamente. Eu... Miguel! Me dá aqui essa espada! Você ainda vai quebrar alguma coisa!
— Eu sou tarado por brigadeiro de aniversário.
— Eu também! Brigadeiro e guaraná morno, tem coisa melhor?
— Notei que você pega dois brigadeiros cada vez que passa a bandeja, mas não come. Põe de lado.
— Para comer depois dos cachorrinhos-quentes. De tanto vir a festas de aniversário com o Miguel, desenvolvi uma técnica. Primeiro como os cachorrinhos-quentes...
— Ou as empadinhas.
— Ou as empadinhas, ou os croquetes, e depois os brigadeiros. Primeiro o salgado, depois o doce.
— O problema é que estas festas geralmente são desorganizadas. Servem os doces antes dos salgados. Não há nenhum critério. As crianças não ligam. A Laurinha não parou de comer brigadeiro desde que chegou. Ela é aquela ali, com o vestido marrom. Era branco quando ela saiu de casa, agora é marrom.
— Outra coisa. Só servem o bolo depois de cantarem o “parabéns pra você” e assoprarem as velinhas.
— E nós aqui, namorando o bolo de longe. Do que você acha que esse é...
— Meu palpite é morangos com nata batida.
— Mmmmm...
— Mas vamos ter que esperar.
— Paciência...
— Olha, acho que estão vindo as empadinhas. E croquetes!
— Até que enfim...
— Miguel, desce daí!