sábado, 17 de novembro de 2012

Elvis Presley: Blue Suede Shoes



ALMA CARIOCA NA CIDADE DO CABO



ARQUITETURA     POR CVONLINE - 21/09/2011
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Depois de desenhar dezenas de casas de luxo construídas na África do Sul, o casal Stefan e Carla Antoni – do estúdio SAOTA Architects – decidiram demolir o bangalô onde moravam e erguer esta bela residência no mesmo local, uma colina de Upper Fresnaye, um dos bairros mais exclusivos da Cidade do Cabo.
Para garantir vistas privilegiadas da praia e do oceano, a solução encontrada por eles foi a sobreposição de camadas e a ocupação total do lote. Acostumados com projetos de residências nos terrenos mais improváveis, os arquitetos procuraram ocupar todo o lote triangular, de declividade acentuada. O resultado é uma construção de design ondulado, com terraços curvos que se projetam para além do terreno, fazendo máximo uso do espaço disponível.
O edifício abriga três andares rodeados por terraços. No primeiro pavimento estão duas suítes, a sala de estar e a cozinha, enquanto no piso inferior, um escritório vem acompanhado de um terceiro quarto, além do volume da garagem. Já na cobertura, acessível a partir de uma escada que começa na sala de estar, o deck e a piscina são emoldurados por imensas camas e uma vista que, segundo o arquiteto, é puro “Rio de Janeiro”, cidade de onde veio toda a inspiração para as curvas do projeto.
O design de interiores também aposta na sobreposição de camadas, resultando em ambientes com aspecto geométrico e volumes escultóricos, que sugerem surpresas conforme se circula entre os corredores e espaços angulosos. A coleção de arte dos arquitetos ajuda a criar um clima de galeria de exposições nos ambientes comuns, decorados com generosos sofás de couro branco, espelhos e objetos de decoração étnica adquiridos ao redor do mundo.
(Clique em qualquer uma das fotos para vê-las ampliadas em galeria)

Duas histórias de derrotas eleitorais



Carla Kreefft
Sempre no fim de uma eleição, é natural que os vitoriosos ocupem espaço na mídia, falem de seus planos e avaliem os motivos que asseguram suas vitórias. Não há nada de errado nisso. O eleitor tem uma curiosidade sobre os eleitos que merece atenção.
O que não é muito comum é ver na mídia espaço para os derrotados. Mas é preciso ressaltar que, muitas vezes, a derrota pode ser mais significativa do que uma vitória.
Considerando as eleições de outubro deste ano, há derrotas que merecem alguma atenção. São Paulo e Belo Horizonte são locais em que o resultado das urnas aponta para duas situações diferentes. Na capital paulista, a derrota de José Serra (PSDB) para Fernando Haddad (PT) tem mais peso para a pessoa do que para o partido. Serra foi vencido por Luiz Inácio Lula da Silva na disputa pela Presidência da República, em 2002. O tucano voltou a ser derrotado em 2010 concorrendo com Dilma Rousseff (PT), a candidata de Lula. E, agora, na disputa pela Prefeitura de São Paulo, o candidato apadrinhado por Lula, o ex-ministro Fernando Haddad (PT), vence Serra.
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RENOVAÇÃO
A incapacidade do tucano de abater seu maior rival ficou evidente, o que levou à necessidade de algumas lideranças do PSDB falarem em renovação, como o senador Aécio Neves e o deputado federal Sérgio Guerra, que comanda a sigla nacionalmente. Mas, na verdade, o PSDB não tem um discurso envelhecido. Ao contrário, o partido demonstra um certo vigor ao puxar para si a bandeira da ética em face da complicada situação do PT com o mensalão. Os tucanos também buscam consolidar uma imagem de bons gestores. E, embora os dois caminhos não estejam consolidados, são boas opções eleitorais.
Já José Serra não deverá ter pela frente muitas oportunidades mais, pelo menos no Executivo. Um futuro mandato de senador em 2014 talvez seja a melhor oportunidade para o paulista. Ou seja, ele perdeu muito mais do que o seu partido.
Em Belo Horizonte, a derrota de Patrus Ananias diante de Marcio Lacerda (PSB) foi pesada. O partido deixa a prefeitura depois de 20 anos e de duas eleições atrapalhadas e, agora, carrega muito mais o gosto amargo do fracasso. Até 2008, Belo Horizonte era a capital em que o PT navegava com mais tranquilidade. Mas uma aliança complicada conduziu à prefeitura um socialista cercado pelo PT e PSDB. Em 2012, PSB e PSDB ficaram, e o PT saiu.
Não seria demais afirmar que o partido caminhou para a sua própria derrota. Já Patrus Ananias, que foi escolhido como candidato na última hora, mostrou ser um homem devotado ao partido e que tem boa aceitação popular. A sua candidatura ajudou a reunificar a legenda que, certamente, saiu muito mais combalida do que ele.

Poderosos e “poderosos” no mensalão



Num esforço para exagerar a dimensão do julgamento do Supremo, já tem gente feliz porque agora  foram condenados “poderosos…”
Devagar. Você pode até estar feliz porque José Dirceu, José Genoíno e outros podem ir para a cadeia e cumprir longas penas.
Eu acho lamentável porque não vi provas suficientes.
Você pode achar que elas existiam e que tudo foi expressão da Justiça.
“Poderosos?” Vai até o Butantã  ver a casa do Genoíno…
Poderosos sem aspas, no Brasil, não vão a julgamento, não sentam no Supremo e não explicam o que fazem. As maiores fortunas que atravessaram o mensalão ficaram de fora, né meus amigos. Até gente que estava em grandes corrupções ativas,  com nome e sobrenome, cheque assinado, dinheiro grosso, contrato (corrupção às vezes deixa recibo)  e nada.
Esses escaparam, como tinham escapado sempre, numa boa, outras vezes.
É da tradição.  Quando por azar os poderosos estão no meio de um inquérito e não dá para tirá-los de lá, as provas são anuladas e todo mundo fica feliz.
É só lembrar quantas investigações foram anuladas, na maior facilidade, quando atingiam os poderosos de verdade… Ficam até em segredo de justiça, porque poderoso de verdade se protege até da maledicência… E se os poderosos insistem e tem poder mesmo, o investigador vira investigado…
Poderoso não é preso, coisa que já aconteceu com Genoíno e Dirceu.
Já viu poderoso ser torturado? Genoíno já foi.
Já viu poderoso ficar preso um ano inteiro sem julgamento sem julgamento?
Isso aconteceu com Dirceu em 1968.
Já viu poderoso viver anos na clandestinidade, sem ver pai nem mãe, perder amigos e nunca mais receber notícias deles, mortos covardemente, nem onde foram enterrados? Também aconteceu com os dois.
Já viu poderoso entregar passaporte?
Já viu foto dele  com retrato em cartaz de procurados, aqueles que a ditadura colocava nos aeroportos. Será que você lembrou disso depois que mandaram incluir o nome dos réus na lista de procurados?
Poderoso? Se Dirceu fosse sem aspas,  o Jefferson não teria dito o que disse. Teria se calado, de uma forma ou de outra. Teriam acertado a vida dele e tudo se resolveria sem escândalo.
Não vamos exagerar na sociologia embelezadora.
Kenneth Maxwell, historiador respeitado do Brasil colonial, compara o julgamento do mensalão ao Tribunal que julgou a inconfidência mineira. Não, a questão não é perguntar sobre Tiradentes. Mas sobre  Maria I, a louca e poderosa.
Tanto lá como cá, diz Maxwell, tivemos condenações sem provas objetivas. Primeiro, a Coroa mandou todo mundo a julgamento. Depois, com uma ordem secreta, determinou que todos tivessem a vida poupada – menos Tiradentes.
Poderoso é quem faz isso.
Escolhe quem vai para a forca.
“Poderoso” pode ir para a forca, quando entra em conflito com sem aspas.
Genoíno, Dirceu e os outros eram pessoas importantes – e até muito importantes – num governo que foi capaz de abrir uma pequena brecha num sistema de poder estabelecido no país há séculos.
O poder que eles representam é o do voto. Tem duração limitada, quatro anos, é frágil, mas é o único poder para quem não tem poder de verdade e  depende de uma vontade, apenas uma: a decisão soberana do povo.
Por isso queriam um julgamento na véspera da eleição, empurrando tudo para a última semana, torcendo abertamente para influenciar o eleitor, fazendo piadas sobre o PT, comparando com PCC e Comando Vermelho…
Por isso fala-se  em “compra de apoio”, “compra de consciências”, “compra de eleitor…” Como se fosse assim, ir a feira e barganhar laranja por banana.
Trocando votos por sapatos, dentadura…
Tudo bem imaginar que é assim mas é bom provar.
Me diga o nome de um deputado que vendeu o voto. Um nome.
Também diga quando ele vendeu e  para que.
Diga quem “jamais” teria votado no projeto x (ou y, ou z) sem receber dinheiro e aí conte quando o parlamentar x, y ou z colocou o dinheiro no bolso.
Estamos falando, meus amigos, de direito penal, aquele que coloca a pessoa na cadeia. E aí é a acusação que tem toda obrigação de provar seu ponto.
Como explica Claudio José Pereira, professor doutor na PUC de São Paulo, em direito penal você não pode transferir a responsabilidade para o acusado e obrigá-lo a provar sua inocência. Isso porque ele é inocente até prova em contrário.
O Poder é capaz de malabarismos e disfarces,  mas cabe aos homens de boa fé não confundir rosto com máscara, nem plutocratas com deserdados…
Poder é o que dá medo, pressiona, é absoluto.
Passa por cima de suas próprias teorias, como o domínio do fato, cujo uso é questionado até por um de seus criadores, o que já está ficando chato
Nem Dirceu nem Genoíno falam ou falaram pelo Estado brasileiro, o equivalente da Coroa portuguesa. Podem até nomear juízes, como se viu, mas não comandam as decisões da Justiça, sequer os votos daqueles que nomearam.
Imagine se, no julgamento de um poderoso, o ministério público aparecesse com uma teoria nova de direito, que ninguém conhece, pouca gente estudou de verdade – e resolvesse com ela pedir cadeia geral e irrestrita…
Imagine se depois o relator resolvesse dividir o julgamento de modo a provar cada parte e assim evitar o debate sobre o todo, que é a ideia de mensalão, a teoria do mensalão, a existência do mensalão, que desse jeito “só poderia existir”, “está na cara”, “é tão óbvio”, e assim todos são condenados, sem que o papel de muitos não seja demonstrado, nem de forma robusta nem de forma fraca…
Imagine um revisor sendo interrompido, humilhado, acusado e insinuado…
Isso não se faz com poderosos.
Também não vamos pensar que no mensalão PSDB-MG haverá uma volta do Cipó de Aroeira, como dizia aquela música de Geraldo Vandré.
Engano.
Não se trata de uma guerra de propaganda. Do Chico Anísio dizendo: “sou…mas quem não é?”
Bobagem pensar em justiça compensatória.
Não há José Dirceu, nem José Genoíno nem tantos outros que eles simbolizam no mensalão PSDB-MG. Se houvesse, não seria o caso. Porque seria torcer pela repetição do erro.
Essa dificuldade mostra como é grave o que se faz em Brasília.
Mas não custa observar, com todo respeito que todo cidadão merece: cadê os adversários da ditadura, os guerrilheiros, os corajosos, aqueles que têm história para a gente contar para filhos e netos?  Aqueles que, mesmo sem serem anjos de presépio nem freiras de convento, agora serão sacrificados, vergonhosamente porque sim, a Maria I, invisível,  onipresente, assim deseja.
Sem ilusões.
Não, meus amigos. O que está acontecendo em Brasília é um julgamento único, incomparável. Os mensalões são iguais.
Mas a política é diferente. É só perguntar o que acontecia com os brasileiros pobres nos outros governos.  O que houve com o desemprego, com a distribuição de renda.
E é por isso que um deles vai ser julgado bem longe da vista de todos…
E o outro estará para sempre em nossos olhos, mesmo quando eles se fecharem.

Arquitetos criam peças para cachorros


Profissionais famosos assinam 'móveis caninos'

17/11/2012 | POR REDAÇÃO; FOTOS HIROSHI YODA
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Os cachorros não ligam a mínima para bens materiais e não gostam de seus donos por nenhum motivo que não seja quem eles são por dentro, certo? Mesmo assim, os donos se derretem por eles, e fazem de tudo para alegrá-los. Arquitetos, aparentemente, também. É o que se deduz diante do projeto Architecture for Dogs ("Arquitetura para Cães", em português), concebido por Kenya Hara, diretor criativo da Muji, loja que traduz a essência do design japonês para o mundo. Ele chamou 13 renomados profissionais e estúdios de arquitetura e design para criarem peças especialmente pensadas para o melhor amigo do homem. O resultado você confere abaixo!
  (Foto: Hiroshi Yoda)
Poltrona para cães e donos, do Atelier Bow-Wow
Perfeita para ler num cantinho sossegado, mas sem deixar seu cachorro com ciúmes, a poltrona de madeira criada pelo escritório japonês Atelier Bow-Wow tem dois lugares, um em frente ao outro.
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  (Foto: Hiroshi Yoda)
Camarim para cães, de Konstantin Grcic
Seu cachorro é uma estrela? Para tratá-los como celebridade, o alemão Konstantin Grciccriou um divertido mini camarim para cães, com direito a espelho redondo e lâmpadas em toda a borda. A peça já vem com o próprio palco, onde o cachorro pode brilhar à vontade.
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  (Foto: Hiroshi Yoda)
Labirinto para cachorro, de Shigeru Ban
Ótimo para distrair pequenos pets, o pequeno labirinto de papelão criado pelo arquiteto japonês Shigeru Ban promete divertir os cães. De quebra, a peça ainda decora, de forma bem-humorada, o lar.
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  (Foto: Hiroshi Yoda)
Casinha diferente para cachorro, de Sou Fujimoto
Que tal uma casa para o cãozinho feita só de arame, capaz de abrigar pequenos objetos pessoais do dono – como plantinhas e outros adereços – e do cachorro – como bolinhas, brinquedos e até livros? Foi isso o que fez o arquiteto Sou Fujimoto ao construir essa pequena e diferente casinha para pets. 
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  (Foto: Hiroshi Yoda)
Almofada para pets, de Kayuzo Sejima
Inspirada nos cães  peludos e brancos da raça bichon frisé, a premiadíssima arquiteta Kayuzo Sejima, do escritório Sanaa, criou esta almofada, na deliberada intenção de confundir os limites entre animal e objeto. Onde termina um e começa o outro? 
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  (Foto: Hiroshi Yoda)
Escultura de madeira, de Kengo Kuma
Metade enfeite, metade abrigo pensado para cães pequeninos, como os da raça pug. Foi este o emprego que o arquiteto Kengo Kuma deu a algumas ripas de madeira cuidadosamente cortadas. Ótimo para os momentos em que os cãezinhos cansam do dono, e precisam de um canto para ficarem quietos.
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  (Foto: Hiroshi Yoda)
Casinha de balanço para cachorros, de MVRDV
Criatividade não falta para o pessoal do escritório holandês MVRDV. Prova disso é a casinha de balanço para cachorros que os arquitetos criaram. Além de bela, conta com uma corda, pela qual a casa pode ser balançada.
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  (Foto: Hiroshi Yoda)
Chaise longe para cães, de Hiroshi Naito
Chaises, espreguiçadeiras e cadeiras de praia não são mais exclusividade dos seres humanos. Afinal, qual cachorro não merece uma peça semelhante para descansar? Essa da foto é uma criação do japonês Hiroshi Naito.
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  (Foto: Hiroshi Yoda)
Carrinho para cães, de Toyo Ito
Um luxo para os cachorros que, na hora do passeio, preferem não colocar as patas na rua. Assim é o carrinho desenhado pelo renomado Toyo Ito. O "veículo" vem equipado com uma almofada para garantir o conforto dos pets, e também uma aba com vários níveis, para protegê-los do sol.
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  (Foto: Hiroshi Yoda)
Escultura de cachorro, de Reiser + Umemoto
Ótima opção de presente para os apaixonados por cães, a pequena escultura em forma de cachorro, inspirada na raça chihuahua, é a criação dos designer Reiser + Umemoto.
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  (Foto: Hiroshi Yoda)


Cadeira para cães, de Torafu
Uma cadeira para cachorros com direito a quatro pés de madeira e assento em tecido, o que permite que o animal descanse no “alto”, foi o projeto dos designers do Torafu. Uma graça!
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  (Foto: Hiroshi Yoda)
Escada para cachorros, de Kenya Hara
Perfeita para cães ativos e brincalhões, que amam correr para lá e para cá, a escadinha criada especialmente para pets, de Kenya Hara, é ótima para os cãezinhos se exercitarem. E ainda decora a casa!
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  (Foto: Hiroshi Yoda)
Capa para cães, de Hara Design Institute
É uma mini casa nas costas? Um super-herói? Não, é uma "capa" para cachorros, no mínimo, inusitada. Criada pelo coletivo Hara Design Institute, a peça em forma de cone protege o animal e, convenhamos, não vai deixá-lo passar despercebido de jeito nenhum.

Generosidades invertidas, por Cristovam Buarque



Cristovam Buarque, O Globo
O Brasil começa com um gesto de generosidade invertida: civilizar os índios, explorando sua mão de obra e obrigando-os a converter suas almas a uma religião que lhes era estranha.
Depois de quatro séculos, o Brasil começou a ser generoso com os escravos africanos: fez a Lei do Ventre Livre. Os filhos de escravos seriam libertos, mas as mães continuavam escravas. Houve a generosidade também com os velhos escravos, quando já não poderiam mais trabalhar.
A Lei Áurea foi outra de nossas generosidades: os escravos já não poderiam ser vendidos, nem obrigados ao trabalho forçado, mas não lhes demos terra para produzir a própria comida, nem escolas a seus filhos.
Mais recentemente, quase no quinto centenário da existência do país, fomos generosos estabelecendo um salário mínimo. Mas tão mínimo que sempre foi insuficiente para cobrir os custos básicos dos serviços e bens essenciais. 
Para não ficar sem trabalhadores há outra generosidade: o vale-refeição. As famílias ficavam sem comida, mas os trabalhadores recebiam a comida que o salário não permitia.
Durante a escravidão fomos generosos oferecendo “casa” para os escravos: as senzalas fétidas e insalubres.
Quando a industrialização pôs os trabalhadores morando distantes do lugar do trabalho, e o salário não permitia pagar passagem de ônibus, oferecemos, generosamente, vale-transporte, mesmo que no final de semana ele e a família não possam visitar parentes ou passear no centro da cidade.
Temos sido generosos ao oferecer renúncia fiscal no cálculo do Imposto de Renda para financiar escolas particulares, inclusive dos filhos de ricos, em um valor superior ao gasto médio anual por criança na escola pública, sobretudo dos filhos de pobres.
Generosamente oferecemos Bolsa Família, mas não nos comprometemos em emancipar os pobres da necessidade de bolsas.
Generosamente não oferecemos creches e pré-escolas para nossas crianças, provocando desespero em milhares de mães que precisam trabalhar, por serem obrigadas a deixar seus filhos com outros filhos ou com vizinhos.
Generosamente oferecemos também cotas para facilitar o ingresso de jovens negros na universidade, mas não fazemos o esforço necessário para erradicar o analfabetismo que tortura cerca de 11 milhões de brasileiros, em sua grande maioria de negros e pardos.
Somos generosos facilitando o endividamento de famílias da Classe C para comprar carros a serem pagos em até 100 meses, sem IPI, mas não eliminamos impostos sobre a cesta básica, nem melhoramos o transporte público para todas as classes, inclusive D e E.
Nossa generosidade chega ao cúmulo ao gastarmos muitos bilhões de reais para fazer no Brasil as Copas e as Olimpíadas, que nossos pobres vão assistir pela televisão, e não adotamos o compromisso de investir os Royalties do petróleo na educação de nossas futuras gerações.
Somos um país coerente, com cinco séculos de generosidade seletiva invertida, ou pervertida.

Cristovam Buarque é professor da UnB e senador pelo PDT-DF.

Partidarização do STF implica em choque de correntes



Pedro do Coutto
A direção nacional do PT divulgou documento criticando o Supremo Tribunal Federal pelo julgamento dos principais acusados pelo mensalão de 2005, quando o fato veio à tona, e apontou partidarização da Corte. Uma contradição, pois partidarização implica na existência de correntes diversas de pensamento. Logo, o Partido dos Trabalhadores colocou a divisão do tema, sobretudo porque ministros optaram pela condenação e outros pela absolvição.
O PT acentuou também ter faltado isenção, com o STF não garantindo o amplo direito de defesa. Foi o que não faltou, já que a denúncia do Procurador Geral da República foi aceita em 2007 e os julgamentos efetivados cinco anos depois. Tempo não faltou para o exercício tanto por parte da acusação quanto pela defesa.
Num dos trechos o Partido dos Trabalhadores sustenta terem sido fixadas penas desproporcionais. Logo o documento desloca o debate de ter faltado direito à defesa com a aplicação das penas, resultado de condenações. Presunção de culpa em vez de presunção de inocência. Nem uma coisa nem outra. Os fatos surgiram, vieram à tona, comprovaram a existência do esquema de cooptação de parlamentares. Tanto assim que as maiores condenações desabaram sobre Marcos Valério.
Ele não poderia ter agido sozinho. As condenações que recaíram sobre ele constituem a prova de que o esquema ilegal funcionou. Caso contrário, não teria ocorrido o envolvimento de bancos operando créditos fictícios. O PT, de outro lado, reconhece eventuais erros de filiados seus na esfera do sistema eleitoral que aponta ser inconsistente. Inconsistente é o argumento, como se percebe. De repente os gastos não contabilizados em campanhas eleitorais explicaria, só nas eleições de 2002 e numa de Minas Gerais , em 98, a ocorrência de episódios como o que deu origem ao processo mais rumoroso e expositivo da história do país. Não. Nada disso.
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PROFUNDIDADE
O que aconteceu foi a profundidade dos acontecimentos. Tanto assim que o ministro José Dirceu, sete anos antes do julgaento do STF, fora demitido pelo presidente Lula da chefia da Casa Civil. O caso do envolvimento de Marcos Valério com o senador Eduardo Azeredo, PSDB, não é suficiente para caracterizar a partidarização acentuada.
O ministro Antonio Dias Tofoli afirmou que rigor da Corte lembra a Inquisição que durou três séculos no passado. E que penas causadas pelo metal (dinheiro) se pagam com o próprio metal. Admitiu assim, implicitamente, a existência dos delitos, concordando assim com sua prática de fato.
E convergiu com a tese do ministro José Eduardo Cardoso quanto ao descalabro do sistema prisional brasileiro. Mas como Merval Pereira escreveu no Globo de quinta-feira, entretanto, o PT encontra-se no governo há nove anos e nem Lula, tampouco os presidentes que o antecederam agiram para melhorar a situação terrível que o próprio titular da Justiça aponta.
Mas esta é outra questão. O essencial está em que p Supremo, no caso do mensalão, não partidarizou o problema e o julgamento. Se houve partes frontalmente discordantes, como o caso dos ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Levandowsky, a maioria terminou, como toda maioria, prevalecendo. Da composição da Corte, Joaquim Barbosa, Cezar Peluso, Ayres de Brito, Carmen Lúcia, Dias Tofoli foram nomeados por Lula, além de Levandowsky. Rosa Weber por Dilma Rousseff, entre os que participaram do julgamento.

Lula quer transformar em trinca a dupla formada por Toffoli e Lewandowski


A discurseira de candidato a vereador de grotão não surpreendeu os leitores da coluna: no fim de 2009, pouco antes e logo depois de virar ministro, a cabeça e a alma de José Antonio Dias Toffoli foram escancaradas em vários posts. “A Era da Mediocridade contaminou o Supremo”, advertiu já no título, por exemplo, o texto reproduzido na seção Vale Reprise. Passados três anos, o comício em defesa do ex-patrão e sempre chefe José Dirceu fez mais do que demonstrar que, se é péssimo ao ler o que escreveu, Toffoli consegue ser pior quando fala de improviso.

Conjugado com o chilique de Ricardo Lewandowski, que na sessão anterior abandonou o plenário para protestar contra a inesperada entrada em cena do núcleo político da quadrilha, o palavrório de quarta-feira permitiu que o país contemplasse, em toda a sua lastimável inteireza, a espécie de magistrado com que sonha a seita lulopetista: um integrante do rebanho fantasiado de juiz. Um companheiro de toga. Um toffoli. Um lewandowski.
Os devotos de Lula sonham com um não-ministro, confirmaram as declarações dos condenados, a conversa fiada dos comparsas, as falácias dos coiteiros e as notas oficiais emitidas pela direção do PT. O Grande Pastor sempre ignorou ─ ou fingiu ignorar, o que dá na mesma ─ que o Estado Democrático de Direito impõe a independência dos Poderes. E não consegue enxergar diferenças entre ministros de Estado e ministros do Supremo.
No cérebro baldio do ex-presidente, uns e outros devem gratidão a quem os nomeou e estão obrigados a atender aos interesses do padrinho. Aos olhos de Lula, Dias Toffoli sempre será um companheiro bacharel pronto para servi-lo ─ na Advocacia Geral da União ou no STF. E Lewandowski tem de aceitar sem ressalvas as missões que lhe atribui, e executá-las com a aplicação exigida de quem ganhou a toga por ser filho da vizinha.
Ao longo do mais importante julgamento da história, viu-se em ação oito juízes e dois advogados de defesa. O país que presta aplaudiu o desempenho dos ministros que garantiram o cumprimento da lei. Lula anda colérico com a “ingratidão” dos que recusaram o caminho percorrido pela dupla de subalternos que pretende agora transformar em trinca. Terá êxito se Dilma Rousseff indicar Luiz Inácio Adams, 47 anos, para a vaga aberta pela aposentadoria de Ayres Britto.
Como Toffoli entre março de 2007 e outubro de 2009, Adams está na chefia da Advocacia Geral da União. Como Toffoli, que acaba de completar 45 anos, Adams ficará mais de 20 no Supremo até a aposentadoria compulsória.  Como o mais jovem dos ministros, o novo caçula do Supremo jamais decepcionará o padrinho ─ ainda que o preço a pagar seja a desonra. É disso que Lula gosta. É isso o que Lula quer.

O etanol e o Brasil



Mauro Santayana
Repercutiu, esta semana, na imprensa internacional, a notícia de que o Governo brasileiro estaria preparando um plano de contingência para assegurar o abastecimento de combustíveis no fim do ano, quando aumenta o consumo de etanol e gasolina. Esse é um fato que, se confirmado, nos serve de alerta de como o aumento de consumo de combustíveis no Brasil, sem o crescimento da produção, pode afetar a economia e agravar a vulnerabilidade do país no futuro próximo.
Passamos décadas sem investir em novas refinarias, e as planejadas e construídas, a partir do governo Lula, ainda levarão alguns anos para entrar em operação.
Por outro lado, a frota de automóveis vem crescendo a ritmo chinês, devido à melhoria das condições de renda e de crédito. O consumo de gasolina se elevou aos 30 bilhões de litros neste ano. Mas os nossos carros não são quase todos eles flex-fuel ? Então por que não produzir mais etanol para movê-los ?
Permitiu-se a desnacionalização do setor que, hoje, não tem o mesmo compromisso com o país e prefere produzir açúcar para exportação. Tivemos também problemas climáticos e de financiamento para o plantio de cana. Muitas usinas deixaram de funcionar ou são subutilizadas por falta de matéria-prima.
Isso, em um país que vai gastar mais de 15 bilhões de dólares com a importação de combustíveis neste ano e está enfrentado uma queda de 30% no superávit comercial com relação ao ano passado. E teve saldo cambial negativo de 3,823 bilhões de dólares em outubro – situação que já ocorre pelo terceiro mês seguido.
Temos o pré-sal e ele é uma grande conquista. Mas não nos esqueçamos do outro pré-sal, o do etanol, que precisa ser urgentemente reativado – e não apenas no chamado agronegócio – para gerar milhares de emprego.
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DECISÃO INADIÁVEL
O que é mais barato, investir em reais aqui dentro, para produzir cana e etanol, mesmo que com algum prejuízo, ou pagar em dólares, lá fora pela gasolina estrangeira?
Finalmente, e esta é uma decisão inadiável, o Brasil precisa democratizar a produção de álcool, para que ela deixe de ser um negócio exclusivo de grandes usineiros e de multinacionais. Há anos circulam no Congresso, sem nenhum resultado, projetos voltados para a criação de um Programa Nacional de Microdestilarias.
Existem linhas de crédito, mas é preciso mais. A exemplo do Minha Casa, Minha Vida, ou do programa de cisternas do semiárido nordestino, o governo precisa incentivar e mobilizar a população, envolvendo-a em uma grande campanha nacional, para que cada cidade pequena, por meio da agricultura familiar, associações e cooperativas, se torne auto-suficiente e possa fabricar e comercializar livremente seu combustível verde.
O Proálcool, tal como o projetou o grande mineiro Aureliano Chaves, previa a disseminação de pequenas e médias destilarias em todo o Brasil – além das grandes – de forma não só a produzir, mas também economizar a energia gasta no transporte dos combustíveis.
(Do Blog do Santayana)

Pesquisa aponta os bairros mais valorizados no Rio de Janeiro



Posted: 16 Nov 2012 08:54 AM PST
Com o objetivo de avaliar a realidade do mercado imobiliário nacional, o portal imobiliário Agente Imóvel apresenta o Barômetro do Mercado Imobiliário no Rio de Janeiro. Com base em uma amostra de mais de 16 mil imóveis anunciados no site, o relatório visa identificar as mudanças no setor e fornecer informações detalhadas a respeito dos imóveis à venda no Rio de Janeiro.
Realizado em outubro de 2012, a pesquisa mostrou que o mercado na capital fluminense continua em aceleração. O preço médio por metro quadrado na cidade, por exemplo, apresentou crescimento anual de 14,0% (de setembro 2011 a setembro de 2012), alcançando o patamar de R$ 6.975 por m². Já no período acumulado de janeiro a setembro de 2012, o crescimento foi de 7,6%.
Na comparação mês a mês, o relatório apresentou elevação constante, registrando apenas uma oscilação negativa durante o mês de julho deste ano (-0,8%). A maior valorização anual, no entanto, ocorreu em fevereiro (3,3%), seguida pelo mês de setembro (2,3%).
Como já era de se esperar, os líderes no ranking dos bairros cariocas mais valorizados pertencem à Zona Sul, que também se destacou por registrar o índice de valorização por metro quadrado mais alto da capital e, consequentemente, os preços mais caros da cidade.
Em sequência, as regiões mais valorizadas por metro quadrado corresponderam à Zona Sul (R$ 12.170 por m²), Centro (R$ 6.658), Zona Oeste (R$ 5.550) e Zona Norte (R$ 4.253). Em relação aos bairros, os locais mais valorizados entre agosto e setembro de 2012 medido por preço médio por metro quadrado e valor médio anunciado foram: LeblonIpanema e Lagoa, como pode ser analisado na tabela abaixo.
Em contrapartida, o relatório também mostrou os bairros mais desvalorizados no período, de acordo com o preço médio por metro quadrado. Dessa vez, o topo da lista foi composto por Vargem PequenaItanhangá e Glória.
É válido ressaltar ainda que o relatório Barômetro do Mercado Imobiliário no Rio de Janeiro abrange todos os tipos de imóveis à venda no portal Agente Imóvel, totalizando 16.993 imóveis, entre apartamentos, casas, casas em condomínio, coberturas e quitinetes.
Quer acompanhar as estatísticas do mercado imobiliário no Rio de Janeiro? Acesse nossapágina de tendências, que é atualizada regularmente, para que nossos leitores possam conferir sempre o ritmo do cenário carioca.
Fonte: Agente Imóvel.

Folha de S. Paulo terá acesso a todos os dados da publicidade do Governo Federal



José Carlos Werneck
Em decisão unânime, a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça concedeu mandado de segurança em favor da Empresa Folha da Manhã S/A – que edita a Folha de S. Paulo – e do jornalista Fernando Rodrigues, para obrigar o governo federal a informar seus gastos com publicidade por categoria, agência, veículo e tipo de mídia. Os dados devem ser fornecidos em até 30 dias.
O relator do processo, ministro Arnaldo Esteves Lima,  entendeu que o princípio constitucional da publicidade administrativa incide em favor do bem comum, já que “todo poder emana do povo”. Para ele, se o pedido visa colher elementos para informação destinada ao povo, “nada mais coerente que se atenda a tal pleito, em face das franquias constitucionais”.
Segundo o processo, os valores chegariam a R$ 1,6 bilhão apenas em 2010. A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom/PR) afirmava que os dados pedidos não estariam disponíveis ou teriam caráter estratégico de mercado e, portanto, seriam sigilosos. Sua divulgação prejudicaria o erário, ao impedir a negociação de valores pela administração na contratação de mídia.
Ao defender o ato da Secom/PR, o vice-advogado-geral da União, Fernando Albuquerque, afirmou que o caso estabelece o primeiro precedente do STJ sobre acesso à informação após a edição da Lei de Acesso à Informação (LAI).
Para o ministro Esteves Lima, a pretensão da empresa jornalística é “plausível, razoável, jurídica e legítima”, ao buscar dados e fontes de órgãos públicos para o trabalho essencial de bem informar a população.
“O que desejam os impetrantes, com os dados de fato pretendidos, é viabilizar, no particular, o cumprimento de sua tarefa, que tem especial assento na Carta Magna, de examinar o respectivo conteúdo e, com fidelidade, bem informar a comunidade nacional, credora definitiva das informações de interesse ou mesmo utilidade pública”, acrescentou o relator.
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SEM SIGILO
O ministro enfatizou que a regra da publicidade deve, necessariamente, permear a ação pública e determina que a autoridade forneça à imprensa informações e documentos não protegidos pelo sigilo.
“Não há como, juridicamente, escamotear o direito líquido e certo dos impetrantes. As informações e valores que pretendem são de nítido interesse coletivo, não se fazendo, outrossim, presentes as exceções que visam resguardar a segurança da sociedade e do estado”, disse o relator.
Além da Constituição, o ministro considerou que o próprio decreto que regulamenta as ações de comunicação do Executivo (Decreto 6.555/08) prevê expressamente entre suas diretrizes a “afirmação dos valores e princípios da Constituição”.
“Deixar de atender pleito como o presente atrita, claramente, com tal desiderato, vulnerando garantias e princípios contidos na Constituição Federal, conduta que não deve ser prestigiada”, completou.
O magistrado disse,ainda, que, com a edição da LAI (Lei 12.527/11), o mandado de segurança não se justificaria, por falta de interesse processual. Isso porque o pedido do jornal deveria ser atendido administrativamente pela Secom/PR.
No entanto, a Secom/PR e a União seguiram impugnando o pedido, insistindo na inviabilidade da pretensão. Por isso, o ministro entendeu que ainda havia interesse no julgamento do mandado de segurança.

Política e psiquiatria, por Ruy Fabiano



Nélson Rodrigues dizia que o século XX, entre outras façanhas, introduziu o idiota na vida pública. Pessoas sem qualquer conhecimento de causa passavam a influir e decidir em questões as mais complexas, a partir de slogans e palavras de ordem.
Numa de suas crônicas de “O Óbvio Ululante” (1968), dizia que “os idiotas estão por toda a parte – na política como nas letras, nas finanças como no cinema, no teatro como na pintura (...), liderando povos, fazendo História e fazendo Lendas”.
Sob esse prisma, esboçou um rico e caricatural painel da vida pública brasileira na segunda metade do século passado, atribuindo tal decadência à hegemonia cultural da esquerda, já então em curso, não obstante ainda não no poder.
Ortega y Gasset anteviu o mesmo fenômeno bem antes, no interregno entre as duas guerras mundiais.
No clássico “A Rebelião das Massas”, que começou a ser escrito ainda nos anos 20, deu consistência sociológica e abrangência universal ao fenômeno, ao examinar a ascensão das ideologias coletivistas - fascismo, socialismo e comunismo.
O que nenhum dos dois previu foi que, naquela sequência, outro personagem entraria em cena: o psicopata.
Segundo os doutores norte-americanos Scott O. Lilienfeld e Hal Arkowitz, poucos transtornos são tão incompreendidos quanto a personalidade psicopática. Pensa-se, em regra, que são violentos, mas, segundo eles, não são – muito pelo contrário.
Descrita pela primeira vez em 1941 pelo psiquiatra americano Hervey M. Cleckley, do Medical College da Geórgia, a psicopatia consiste num conjunto de comportamentos e traços de personalidade específicos.
São pessoas muito inteligentes, encantadoras à primeira vista, causam boa impressão e são tidas como “normais” pelos que as conhecem superficialmente.
No entanto, “costumam ser egocêntricas, desonestas e indignas de confiança”. Os psicopatas não sentem culpa jamais. Nos relacionamentos amorosos “são insensíveis e detestam compromisso”.
Sempre têm desculpas para seus erros, atribuindo-os em geral a terceiros. Raramente aprendem com seus equívocos ou conseguem frear impulsos predadores.
Nada menos que 25% dos prisioneiros americanos são diagnosticados como psicopatas, mas as mesmas pesquisas constatam que uma quantidade ao menos equivalente está livre – e no topo.
Os especialistas atestam que muitos são profissionalmente bem-sucedidos e ocupam posições de destaque na política, nos negócios ou nas artes. Pronto: chegamos ao Brasil.
Quem leu a nota de protesto do PT, emitida há três dias, contra o Supremo Tribunal Federal não tem dúvida: foi escrita por alguém portador dos sintomas descritos pelos especialistas.
O mesmo partido que, dias depois da reeleição de Fernando Henrique, propunha uma campanha de “Fora FHC”, pedia a prisão de pessoas que acusava sem prova e sem qualquer fundamento (caso, entre muitos outros, do ex-ministro Eduardo Jorge), protesta agora contra sentenças proferidas a partir de vastíssima documentação, exposta em julgamentos transmitidos ao vivo.
Não é verdade que o ex-ministro José Dirceu tenha sido condenado apenas por ocupar na época dos acontecimentos o cargo de ministro-chefe da Casa Civil.
Há testemunhos abundantes de que lhe cabia avalizar os acordos espúrios. Mais: de que houve encontros em seu próprio gabinete com os infratores.
A nota busca atribuir as condenações a “campanhas de ódio e preconceito” contra Lula e Dilma.
A presidente, porém, em momento algum foi citada, nem nos autos, nem pelos ministros, sendo que oito, dos dez que julgaram, foram nomeados por ela e por Lula – e avalizados pelo PT. Os sofismas são abundantes.
Num deles, atribuem-se os “erros e ilegalidades que tenham sido cometidos por filiados” não a eles mesmos, mas “a um sistema eleitoral inconsistente, que o PT luta para transformar”.
A culpa está sempre em algum lugar, desde que longe do infrator. Nada mais psicopático. O partido, que está no poder há uma década, sempre com maioria no Congresso, não só não tem culpa como tem feito tudo para sanear o panorama eleitoral.
É, pois, uma vítima. Pena que os fatos não combinem. Todas as propostas de reforma eleitoral, até aqui apresentadas, foram casuísticas, superficiais, sem qualquer propósito moralizador.
A nota faz crer aos desavisados – e não são poucos – que a condenação decorreria tão somente da acusação de compra de parlamentares. Nenhuma palavra sobre o desvio de recursos, os tais “erros e ilegalidades cometidos por filiados”.
Roubo é roubo, não importa o destino que se lhe dê – e isso foi dito e repetido por quase todos os ministros. Mas quanto ao destino, restou comprovadíssimo, em documentos e testemunhos.
Ainda dentro de uma argumentação psicopática, a nota evoca a origem operária de Lula e os benefícios sociais de seu governo, como se tais fatores tivessem qualquer relação com as sentenças ou as pudesse revogar ou atenuar.
A iminência das prisões de algumas de suas lideranças fez com que o partido, que historicamente pedia a prisão dos criminosos de colarinho branco e postulava a igualdade de tratamento penal para ricos e pobres, passasse a sustentar o contrário: as prisões são péssimas e só devem acolher os criminosos de sangue.
O ministro da Justiça, responsável pelo sistema carcerário, diz que prefere morrer a habitá-lo.
A nota politicamente é patética. Mas, do ponto de vista psiquiátrico, é um prato cheio. Com a palavra, os especialistas.

Ruy Fabiano é jornalista