sábado, 28 de janeiro de 2017

PERDA DA NOÇÃO DE LIMITE - por Percival Puggina


 27.01.2017


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Percival Puggina

 Estou certo de que o leitor concordará com o enunciado: não é condição de “normali dade” de uma ação humana o fato de ela estar sendo praticada por muitos, pela maioria ou por todos. A normalidade de uma ação está condicionada à sua adequação a uma norma. Todos podem estar desrespeitando sinais de trânsito, mas isso não faz “normais” as infrações.“Comum” e “frequente” não são sinônimos de “normal”. Fazer cabeças não é normal.

 O fato de ser muito difícil aos jovens não reproduzirem o que o grupo em que estão inseridos faz (numa estranha conformidade rebelde ou numa rebeldia conformada), associado ao fato de muitos adultos reproduzirem as condutas dos jovens (numa ridícula cirurgia plástica do modo de agir), multiplicou, nas últimas décadas, os problemas de comportamento e suas conseqüências sociais. O já idoso “É proibido proibir!” se constitui, ainda, na expressão síntese de generalizada forma de conduta em que qualquer tentativa de estabelecer limites é vista como repressiva. Nada é abusivo exceto a tentativa de acabar com os abusos. Apenas as empresas e as instituições militares parecem restar como locais onde a autoridade ainda se permite estabelecer limites.

As conseqüências dessa gandaia podem ser contempladas no âmbito familiar, nas escolas e universidades, nos parlamentos, nas ruas e assim por diante. Exemplo do mês? Perdeu a noção de limites o professor paraninfo da turma de formandos da Famecos/PUCRS, quando, em seu discurso, passou a incorrer nos mesmos equívocos jornalísticos que condenou nas primeiras palavras que proferiu. Instalou-se em sua bolha ideológica e a ela referenciou a realidade política do país. Tratou de fazer cabeças entre as cabeças dos convidados cativos de suas poltronas. Não respeitando a pluralidade do auditório e dos formandos, o homenageado fez o que sequer as jovens oradoras da turma fizeram: deu-se o direito de descarregar sobre todos um discurso político a respeito dos fatos recentíssimos da história nacional. Afirmou, o professor paraninfo, que uma “presidenta eleita foi afastada por um golpe parlamentar, civil e infelizmente midiático”; disse haver “um político suspeito de corrupção, assumido a presidência do país”. E por aí andou, silenciando sobre tudo que não lhe convinha, tomando lado, calçando chuteiras e dando bicos na bola dos fatos. Pais, parentes e amigos dos formandos receberam uma porção do que supostamente foi servido à turma, em doses diárias, nos vários anos do curso. Para não deixar dúvidas quanto a isso, falou, também, o diretor da faculdade, endossando, sem pestanejar, o discurso do paraninfo, cujas palavras disse representarem “o que certamente pensa o coletivo da Famecos”.

Coletivo, sem motorista nem cobrador, costuma ser coisa complicada, controlada pela esquerda e concebida para ser inexpugnável.

* Vídeo com a íntegra da solenidade pode ser assistido aqui. Às 2h e 21 min. da gravação começam os referidos discursos.


* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site http://www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

Palestinos na Síria: um Ano de Assassinatos e Tortura - por Khaled Abu Toameh

  • Segundo as denúncias, as autoridades sírias estão ocultando os corpos de mais de 456 palestinos que morreram sob tortura na prisão. Ninguém sabe exatamente onde os corpos estão escondidos ou o motivo das autoridades sírias se recusarem a entregá-los aos seus familiares.
  • Parece que a grande mídia prefere fazer vista grossa no tocante à situação dos palestinos que vivem em países árabes. Esta chicana prejudica antes de mais nada e acima de tudo os próprios palestinos, além de permitir que os governos árabes continuem com suas políticas de perseguição e repressão.
  • É esperar para ver se o Conselho de Segurança da ONU irá se ater às suas prioridades e convocar uma sessão de emergência para discutir a campanha assassina contra os palestinos na Síria. Talvez, de alguma forma, isso irá ultrapassar "a construção de assentamentos" como tema merecedor da condenação mundial.
O ano de 2016 foi bem complicado para os palestinos. Não foi complicado apenas para os palestinos que vivem na Cisjordânia sob o regime da Autoridade Palestina (AP) ou na Faixa de Gaza sob o Hamas. Quando os ocidentais são informados sobre a "situação" e o "sofrimento" dos palestinos, eles imediatamente assumem que se trata daqueles que vivem na Cisjordânia ou na Faixa de Gaza. Raramente a comunidade internacional é informada sobre o que está acontecendo com eles em países árabes. Essa omissão ocorre, sem a menor sombra de dúvida, porque é difícil jogar a culpa do sofrimento dos palestinos nos países árabes em cima de Israel.
A comunidade internacional e os jornalistas das principais agências de notícias só sabem o que acontece com os palestinos que vivem na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. É óbvio que a vida sob a Autoridade Palestina e sob o Hamas não é nenhum mar de rosas, embora este fato inconveniente possa ser bastante desagradável para os ouvidos dos jornalistas ocidentais e para as organizações de direitos humanos.
De qualquer maneira, parece que a grande mídia prefere fazer vista grossa no tocante à situação dos palestinos que vivem em países árabes. Esta chicana prejudica antes de mais nada e acima de tudo os próprios palestinos, além de permitir que os governos árabes continuem com suas políticas de perseguição e repressão.
Os últimos anos foram testemunha das histórias de horror no que tange às condições dos palestinos na Síria. Onde está a atenção da mídia em relação aos palestinos neste país assolado pela guerra? Os palestinos na Síria estão sendo assassinados, torturados, presos e desabrigados. O Ocidente boceja.
Os jornalistas estrangeiros que fazem a cobertura do Oriente Médio circulam às centenas em toda a Jerusalém e Tel Aviv. No entanto, eles agem como se os palestinos só pudessem ser encontrados na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Estes jornalistas não têm nenhum interesse em ir para a Síria ou a outros países árabes para reportar sobre os abusos e delitos perpetrados pelos árabes contra seus irmãos palestinos. Para esses jornalistas, árabes matando e torturando outros árabes não são notícia. Mas quando policiais israelenses atiram e matam um terrorista palestino que joga o seu caminhão em cima de um grupo de soldados matando-os e ferindo-os, aí os repórteres ocidentais correm para visitar a casa da sua família para entrevistar seus membros e lhes proporcionar uma plataforma para que possam expressar suas considerações.
Os palestinos que vivem na Síria, no entanto, são menos afortunados. Ninguém pergunta como eles se sentem em relação à destruição de suas famílias, comunidades e vidas. Especialmente as centenas de correspondentes que se encontram no Oriente Médio .
"O ano de 2016 foi repleto de todas as formas de assassinatos, torturas e de desabrigados palestinos na Síria" de acordo com denúncias recentes publicadas em inúmeros meios de comunicação árabes.
"O ano passado foi um verdadeiro inferno para esses palestinos e suas duras consequências não serão apagadas por muitos anos. Durante o ano de 2016 os palestinos na Síria foram submetidos às formas mais cruéis de tortura e privação nas mãos de gangues armadas e também nas mãos do atual regime sírio. É difícil encontrar uma família palestina na Síria que não tenha sido afetada por tudo isso".
Segundo as denúncias, as autoridades sírias estão ocultando os corpos de mais de 456 palestinos que morreram sob tortura na prisão. Ninguém sabe exatamente onde os corpos estão escondidos ou o motivo das autoridades sírias se recusarem a entregá-los aos seus familiares.
Mais preocupante ainda são as denúncias sugerindo que as autoridades sírias estão retirando órgãos de palestinos mortos. Testemunhos compilados por alguns palestinos apontam para uma gangue ligada ao governo sírio que negocia os órgãos das vítimas, incluindo mulheres e crianças. Mais de 1.100 palestinos estão definhando nas prisões sírias desde o início da guerra há mais de cinco anos. As autoridades sírias não fornecem nenhuma estatística sobre o número de prisioneiros e de detidos, nem permitem que grupos de direitos humanos ou do Comitê Internacional da Cruz Vermelha visitem prisões e centros de detenção.
O documento mais recente sobre o tormento dos palestinos na Síria assinala que 3.420 palestinos (entre eles 455 mulheres) foram mortos desde o início da guerra. A denúncia publicada pelo Grupo de Ação em Favor dos Palestinos da Síria também revela que cerca de 80.000 palestinos fugiram para a Europa, 31.000 para o Líbano, 17.000 para a Jordânia, 6.000 para o Egito, 8.000 para a Turquia e 1.000 para a Faixa de Gaza. O documento também ressalta que 190 palestinos morreram em consequência de má nutrição e falta de cuidados médicos porque os campos e aldeias de refugiados estão cercados pelo exército sírio e pelos grupos armados.

Palestinos fugindo do campo de refugiados Yarmouk perto de Damasco após intensos combates ocorridos em setembro de 2015. (imagem: captura de tela da RT)

Alarmados com a indiferença da comunidade internacional para com o seu sofrimento, os palestinos na Síria têm recorrido às redes sociais para serem ouvidos na esperança de que os tomadores de decisão no Ocidente e no Conselho de Segurança da ONU, obcecados como estão com os assentamentos israelenses, deem atenção ao seu sofrimento. A última campanha nas redes sociais que leva o título: "onde estão os detidos?" refere-se ao destino desconhecido dos palestinos que desapareceram após serem presos pelas autoridades da Síria. Os organizadores da campanha revelaram que de alguns anos para cá 54 palestinos menores de idade morreram sob tortura nas prisões sírias. Os organizadores observaram que centenas de presidiários e detentos, após serem apreendidos pelas autoridades sírias, continuam desaparecidos.
Outra denúncia revela que mais de 80% dos palestinos que vivem na Síria perderam seus empregos e seus negócios desde o início da guerra civil. O documento acrescenta que para sustentar suas famílias muitas crianças palestinas foram forçadas a abandonar a escola e procurar trabalho.
No entanto, para a comunidade internacional e para a mídia ocidental, estes números e relatórios sobre os palestinos na Síria são enfadonhos na melhor das hipóteses. Os países árabes não dão a mínima para os palestinos que estão na Síria sendo mortos, torturados, morrendo de fome. No mundo árabe, as violações dos direitos humanos não são notícia. Notícia é quando os direitos humanos são respeitados em algum país árabe.
A liderança palestina na Cisjordânia e na Faixa de Gaza também está cega no tocante ao sofrimento de seu povo no mundo árabe, especialmente na Síria. Os assim chamados líderes estão ocupados demais se digladiando politicamente para se incomodarem com o bem-estar de seu povo, que está sendo sufocado pelos regimes antidemocráticos e repressivos da Autoridade Palestina e do Hamas. Esses líderes estão mais preocupados com as intenções do Presidente Donald Trump de mudar a embaixada dos EUA para Jerusalém do que a respeito de seu próprio povo. Nas últimas duas semanas Mahmoud Abbas e seus funcionários de alto escalão não perderam a oportunidade para avisar que a mudança da embaixada americana para Jerusalém provocaria distúrbios no Oriente Médio. O assassinato, tortura e desalojamento de palestinos em um país árabe parecem não estar em seus radares.
É esperar para ver se o Conselho de Segurança da ONU irá se ater às suas prioridades e convocar uma sessão de emergência para discutir a campanha assassina contra os palestinos na Síria. Talvez, de alguma forma, isso irá ultrapassar "a construção de assentamentos" como tema merecedor da condenação mundial.
Khaled Abu Toameh é um jornalista premiado radicado em Jerusalém.

 FONTE - https://pt.gatestoneinstitute.org/9853/palestinos-siria-assassinatos