O poeta baiano Antônio Frederico de Castro Alves (1847-1871), símbolo da nossa literatura abolicionista, motivo pelo qual é conhecido como “Poeta dos Escravos”, no poema “A Canoa Fantástica” demonstra toda a sua criatividade poética, numa visão ensandecida sobre o destino da canoa e o que ela conduz.
A CANOA FANTÁSTICA
Castro Alves
Pelas sombras temerosas
Onde vai esta canoa?
Vai tripulada ou perdida?
Vai ao certo ou vai à toa?
Semelha um tronco gigante
De palmeira, que s’escoa…
No dorso da correnteza,
Como bóia esta canoa!…
Mas não branqueja-lhe a vela!
N’água o remo não ressoa!
Serão fantasmas que descem
Na solitária canoa?
Que vulto é este sombrio
Gelado, imóvel, na proa?
Dir-se-ia o gênio das sombras
Do inferno sobre a canoa!…
Foi visão? Pobre criança!
À luz, que dos astros coa,
É teu, Maria, o cadáver,
Que desce nesta canoa?
Caída, pálida, branca!…
Não há quem dela se doa?!…
Vão-lhe os cabelos a rastos
Pela esteira da canoa!…
E as flores róseas dos golfos,
— Pobres flores da lagoa,
Enrolam-se em seus cabelos
E vão seguindo a canoa!…
Onde vai esta canoa?
Vai tripulada ou perdida?
Vai ao certo ou vai à toa?
Semelha um tronco gigante
De palmeira, que s’escoa…
No dorso da correnteza,
Como bóia esta canoa!…
Mas não branqueja-lhe a vela!
N’água o remo não ressoa!
Serão fantasmas que descem
Na solitária canoa?
Que vulto é este sombrio
Gelado, imóvel, na proa?
Dir-se-ia o gênio das sombras
Do inferno sobre a canoa!…
Foi visão? Pobre criança!
À luz, que dos astros coa,
É teu, Maria, o cadáver,
Que desce nesta canoa?
Caída, pálida, branca!…
Não há quem dela se doa?!…
Vão-lhe os cabelos a rastos
Pela esteira da canoa!…
E as flores róseas dos golfos,
— Pobres flores da lagoa,
Enrolam-se em seus cabelos
E vão seguindo a canoa!…