domingo, 26 de fevereiro de 2017

O direito da autodefesa - por Rogério Mendelski, Correio do Povo


O assassinato cruel e sem sentido do coronel reformado do Exército Leo Edson Schwalb encerrou aquele ciclo de conselhos de nossas autoridades que recomendam “não reagir e entregar todos os bens materiais em troca de nossas vidas”. É mais ou menos assim o conselho que se transformou em mantra para todos nós, não é mesmo? Por acaso adiantou a atitude do coronel - não reagiu, levantou os braços e entregou a chave de seu veículo – que recebeu dois tiros fatais disparados por um dos seus quatro assaltantes?
A bandidagem de hoje transformou a série televisiva Walking Dead na realidade de Porto Alegre e os zumbis estão nas ruas assaltando, matando, violentando, pichando, invadindo propriedades, destruindo patrimônios públicos e privados e, por fim, debochando das autoridades e levando o medo e o terror a todos nós.
Quando uma sociedade como a nossa perde seus referenciais pela ausência do poder estatal em garanti-los, os cidadãos decentes e vítimas dos zumbis ficam diante da única alternativa possível: a defesa de nossas vidas de arma em punho.
Não, o lado decente deste país não vai se armar na clandestinidade, pois será pelo fim do Estatuto do Desarmamento que os cidadãos serão diferenciados da bandidagem. Esta vai ao Paraguai buscar seus fuzis de assalto e suas pistolas, nós queremos ter o direito de comprá-las no comércio especializado.
Mas há outra diferença fundamental entre nós e os zumbis. Os bandidos se armam para matar as vítimas que eles selecionam. Elas podem ser uma mãe esperando o filho na escola, o comerciante na sua loja, o cidadão atingindo pela bala perdida num tiroteio ou um educado e admirado coronel reformado do Exército.
Já os cidadãos de bem querem ter uma arma para preservar suas vidas e de suas famílias, um direito fundamental de nossa Constituição Cidadã. Cidadã? Não há um exagero semântico no conjunto de muitos direitos e poucos deveres?
O Congresso Nacional prepara-se para a grande discussão do Estatuto do Desarmamento. O deputado Rogério Peninha Mendonça (PMDB-SC) quer revogá-lo e a cada dia que passa ganha mais adeptos em Brasília e aqui no nosso estado o deputado Edu Oliveira (PSD) propôs esta semana na AL a criação de uma Frente Parlamentar pelo Direito do cidadão à Legítima Defesa. Disse Oliveira que irá promover debates pelo Estado e fazer pressão no Congresso Nacional para a aprovação do Projeto de Lei 3722/2012, de autoria do deputado federal Rogério Peninha.  Agora é a hora de apoiá-los. Se até o crime se organiza em muitas facções nacionais, a facção do bem precisa mostrar que é o momento  de nossa autodefesa. Antes de os zumbis assumirem o controle do nosso país

O PAÍS DA IMPUNIDADE: SOLTURA DE BRUNO É UM ESCÁRNIO! - por Rodrigo Constantino



O Brasil é o país em que uma filha que participou do frio e cruel assassinato dos próprios pais – um crime que só não é mais hediondo do que o contrário, quando os pais matam o próprio filho – recebe indulto para sair da prisão no dia das mães. É o país da piada pronta, mas uma piada de muito mau gosto, macabra.
Pois bem: nesse país da bagunça e da impunidade, eis que outro assassino, mandante de um crime com requinte de crueldade assustador, fica em liberdade apenas seis anos depois do ato, mesmo tendo sido condenado a 22 anos – o que, diga-se, já é ridículo e coisa de país da impunidade.
O ex-goleiro do Flamengo foi liberado após a emissão de um habeas corpus, concedido pelo ministro do STF Marco Aurélio Mello, para a revolta de todo brasileiro decente que ainda sonha em viver num país de primeiro mundo algum dia (distante, distante). Bruno  deu uma entrevista logo depois da soltura, bancando o bom rapaz arrependido, o que sempre acalenta alguns corações jecas por aí. Ele disse:“Independente do tempo que eu fiquei também, eu queria deixar bem claro, se eu ficasse lá, se tivesse prisão perpétua, por exemplo, no Brasil… não ia trazer a vítima de volta. Eu quero deixar bem claro que eu vou recomeçar. Não importa se seja no futebol, não importa se seja em outra área profissional, mas como eu vou estar na área do futebol, é o que eu almejo pra mim”.
Atenção aos desatentos: nenhuma punição traz a vítima de um assassinato de volta! Eliza Samudio, que foi sequestrada, morta e teve seu cadáver escondido, nunca irá voltar. E quem acredita no contrário está na área do misticismo. A função da prisão não tem nada de mística ou de ficção científica. Ela serve para punir e ponto. Eis sua primeira e mais básica função, extremamente civilizatória.

OPERAÇÃO ÚLTIMA CHANCE


Coluna Carlos Brickmann – 26 de fevereiro de 2017

CARLOS BRICKMANN
Carlos Brickmann

Que José Serra operou a coluna no fim do ano é fato conhecido; que os médicos lhe recomendaram que por alguns meses, até a recuperação total do organismo, evitasse viagens prolongadas, é inegável. Que Serra desde então, para cumprir a agenda de chanceler, só viajou na companhia de um médico, com ampla variedade de fortes remédios contra a dor, Brasília inteira sabia. O presidente Temer estava pronto a dar ao chanceler uma licença do cargo, pelo tempo que fosse  necessário. Não queria perder um dos mais eficientes de seus ministros, o primeiro a tomar medidas de impacto positivo, como recolocar Venezuela e bolivarianos em geral no lugar que lhes cabe – e olhe lá!

Mas Serra é um ser político. Preocupa-se com sua saúde (dizem até que é hipocondríaco), mas se preocupa muito mais com seu futuro político. Aos 75 anos, quase 76 no dia das eleições, sabe que esta é sua última chance de ser presidente. E seu sonho não é ser um grande chanceler: é ser presidente.

A idade não o preocupa. Adenauer assumiu a chefia do Governo alemão aos 75 anos, mudou a cara do país e da Europa. Deixou ao poder por vontade própria 19 anos depois, aos 94 anos, após firmar aquilo que se julgava até então impossível: um tratado de paz e amizade entre Alemanha e França.

Mas há uma maldição política que Serra está desafiando: quem muito quer a Presidência não chega lá. Maluf, Quércia, Ulysses, Carlos Lacerda, o brigadeiro Eduardo Gomes se prepararam, lutaram, e ficaram pelo caminho.

A vez dos sem voz

Em compensação, Itamar Franco, José Sarney, o marechal Eurico Gaspar Dutra, o ministro do Supremo José Linhares jamais pensaram em chegar à Presidência. Todos chegaram. Jânio Quadros queria ser presidente, e foi – mas queria mais do que isso e em sete meses acabou largando o mandato.

Aliança sem limites

Serra tem outro problema: seu partido, o PSDB, é integralmente formado por amigos, dos quais todos se detestam. Serra foi candidato e Aécio Neves, então governador de Minas, à época com muito prestígio, abandonou-o (como abandonaria também Geraldo Alckmin, recebendo a devida retribuição quando saiu candidato contra Dilma e foi surrado até em Minas. O PSDB, como ocorre desde 2002, está dividido entre Aécio, Alckmin e Serra. João Dória, que vem conquistando a população de São Paulo, diz que quer apenas ser prefeito. Claro que aceitaria ser candidato à Presidência, mas não liderando um partido rachado. E emendá-lo é mais difícil do que lembrar aos líderes das várias facções que podem voltar a ser amigos, ao menos na época da eleição.

Fogo amigo

O advogado José Yunes, amigo de fé e irmão camarada de Michel Temer, abriu fogo na direção do ex-amigo de fé e ex-irmão camarada. Disse ter recebido e encaminhado uma caprichada propina da Odebrecht a Eliseu Padilha, ligadíssimo a Temer (em seu Governo chegou a ministro) – e ainda por cima o pacote teria sido levado a seu escritório pelo doleiro Lúcio Funaro, frequente personagem das investigações da Lava Jato. Padilha é amigo de Temer, o  mais próximo a ele; mexeu com um, mexeu com outro. Mas Yunes foi mais longe: disse que Temer tinha conhecimento do repasse do dinheiro.

Não podia ser pior? Podia: nesta quarta-feira de Cinzas, o ministro Herman Benjamin, do Tribunal Superior Eleitoral, relator do processo que pode levar à cassação da chapa Dilma-Temer, vai a Curitiba ouvir Marcelo Odebrecht e dois outros delatores da empresa sobre o financiamento à campanha de ambos.

Temer na mira

A acusação examinada pelo TSE é de que Temer, como vice na chapa de Dilma, é igualmente culpado de todas as violações à lei ocorridas na campanha.  Caso  isso tenha  ocorrido, a chapa inteira é cassada e Temer perde o cargo. A defesa de Temer é que, embora companheiros de chapa, cada um conduziu sua própria campanha, e o vice não participou de eventuais ilegalidades patrocinadas pela líder da chapa. Pelo sim, pelo não, Temer gostaria de ver o processo andar devagarzinho, sem ameaçar sua posição de presidente da República. Já o ministro Herman Benjamin quer concluir logo o processo. Ele já disse que o processo não pode durar indefinidamente.

O atirador

O ministro Herman Benjamin poderia retirar, dos abundantes depoimentos já prestados pelo pessoal da Odebrecht, os trechos que interessarem ao processo. Mas preferiu interrogar pessoalmente os principais delatores, para apurar todos os detalhes possíveis. Poderia também ouvir os depoentes por videoconferência, mas preferiu ir a Curitiba para ouvi-los pessoalmente. Temer não está gostando da rapidez com que o caso anda nem com a busca do ministro por detalhes das propinas, E, cá entre nós, faz bem em preocupar-se.

Pressa?

Temer só não pode reclamar da pressa. Daqui a pouco, termina seu mandato sem que o caso seja examinado. Benjamin tem de acelerar, sim.

Chumbo Gordo – www.chumbogordo.com.br
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