domingo, 24 de junho de 2012

Desembargador que mandou soltar bicheiro decidiu a favor dos réus em 28 de 31 casos relacionados a operações da PF


De Jader a Cachoeira, Tourinho Neto cria polêmica

12:33:12



Nas últimas semanas, o desembargador Tourinho Neto mandou soltar o bicheiro Carlinhos Cachoeira, votou pela anulação das escutas telefônicas da Operação Monte Carlo e, por pouco, não lança por terra quatro anos de investigação sobre uma das organizações mais poderosas do país.

Os despachos de Tourinho, na contramão de decisões de outros magistrados sobre o mesmo assunto, surpreenderam muita gente, menos quem conhece o histórico do desembargador. Desde 2002, quando mandou soltar o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) em meio às denúncias de corrupção na Sudam, até o caso Cachoeira, Tourinho Neto fez fama por desmontar importantes operações de combate à corrupção. ...

O desembargador tem se insurgido sistematicamente contra decisões de juízes, delegados e procuradores. Levantamento feito pelo GLOBO em arquivos do Tribunal Regional Federal da 1 Região mostra que o desembargador decidiu a favor de réus em 28 de 31 pedidos de habeas corpus analisados e que tinham relação com operações da Polícia Federal.

— As decisões dele são sempre temperamentais. Ser temperamental não é virtude de um juiz. Juiz precisa de serenidade — afirma o subprocurador-geral da República Carlos Eduardo Vasconcelos.

A série de decisões desconcertantes de Tourinho Neto começou a chamar a atenção pública em fevereiro de 2002. Num breve despacho, o desembargador mandou soltar Jader Barbalho, acusado de desvios de dinheiro da Superintendência da Amazônia. Pelos cálculos do Ministério Público Federal, o grupo do senador teria desviado R$ 1,7 bilhão destinado ao financiamento de projetos agropecuários da Amazônia.

No mesmo despacho, Tourinho entrou na seara pessoal e classificou de “esdrúxula” a decisão do juiz federal Alderico Rocha dos Santos, que autorizara a prisão de Jader. Alderico, coincidentemente, é o magistrado que assumiu agora o caso Cachoeira, depois que o juiz que cuidou da investigação, Paulo Moreira Lima, pediu para se afastar e o titular da Vara, Leão Alves, se julgou impedido de comandar a ação.

Um mês depois da libertação de Jader, Tourinho Neto tomou outra decisão drástica: mandou a Polícia Federal suspender as investigações sobre a origem do R$ 1,3 milhão apreendido num escritório da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (DEM). O desembargador proibiu que policiais e procuradores examinassem documentos apreendidos na investigação.

A partir dali, investigadores perderam a motivação, e nenhum dos acusados sofreu qualquer tipo de punição. O desembargador foi duramente criticado, mas nem por isso deu atenção às queixas de que estaria atrapalhando o combate à corrupção.

Dez anos depois, o roteiro da Sudam quase se repete no caso Cachoeira. O bicheiro só não foi solto porque existia uma segunda ordem de prisão contra ele. Na quinta-feira à noite, o ministro Gilson Dipp, do Superior Tribunal de Justiça, cancelou o habeas corpus concedido por Tourinho, restituindo a decisão da primeira instância que determinara a prisão preventiva de Cachoeira.

— Daqui a pouco, se ele não decretar nossa prisão já estaremos satisfeitos — ironizou um delegado da cúpula da Polícia Federal, depois de Tourinho votar pela anulação das escutas da Monte Carlo.

Fonte: O Globo - 24/06/2012

5 armadilhas financeiras que pegam até os mais atentos


Taxa zero de juro, multas por perda de comandas e taxas indevidas são algumas das práticas abusivas que afetam desde os mais avoados aos mais esclarecidos clientes

  
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Dionaea, espécie de planta carnívora
Algumas técnicas são tão ardilosas que não poupam nem os mais cautelosos
São Paulo – A pressa e a desatenção são inimigas da perfeição e muito amigas das práticas abusivas. Muitos consumidores acabam gastando dinheiro à toa com a cobrança de taxas indevidas em financiamentos, com a compra forçada de certos produtos em vendas casadas, e mesmo com o pagamento de multas - como pela perda de uma comanda em uma casa noturna -, prática esta que poucos sabem ser ilegal.
Algumas dessas práticas se revelam verdadeiras armadilhas para os consumidores mais avoados e podem ser tão bem maquiadas que nem os mais cautelosos conseguem escapar. Veja abaixo cinco exemplos de técnicas usadas por instituições financeiras e estabelecimentos comerciais que são prejudiciais ao consumidor e podem ser contestadas em certos casos.
1. Ofertas com taxa zero de juro
Uma das armadilhas mais escrachadas, que é bastante recorrente na venda de carros, é a propaganda da taxa de juro zero, uma velha tática dos comerciantes para tentar atrair o cliente. Toda compra a prazo tem juro, uma vez que a instituição financeira paga juros pela captação de recursos no mercado e repassa esse custo para emprestar o dinheiro ao consumidor. Por isso, mesmo que os juros estejam embutidos, eles sempre estão presentes nos financiamentos. Para tirar a dúvida, basta comparar o preço à vista com o preço total do financiamento.
Tatiana Viola de Queiroz, advogada da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor - Proteste, afirma que este tipo de prática é considerada propaganda enganosa e, portanto, é condenada pelo Código de Defesa do Consumidor. Ela explica que no momento da venda devem ser apresentadas as taxas de juros cobradas no financiamento e o Custo Efetivo Total (CET) do financiamento, percentual que inclui todas as tarifas, despesas e tributos cobrados pela financeira anualmente. “O juro mensal pode até ser zero, mas o financiamento sempre tem um custo e é importante que o consumidor observe o CET e faça a comparação entre um banco e outro”, recomenda Tatiana.
Rodrigo de Mesquita Pereira, especialista em relações de consumo e sócio do escritório MPMAE Advogados, ressalta que o consumidor pode exigir o cumprimento da oferta e tem chances de sair vencedor. “É a mesma coisa que chegar ao supermercado e ter uma oferta de um sabão a 1 real e quando ele passa o produto no caixa está 1,20 real. O consumidor pode exigir o pagamento pelo valor de 1 real porque sempre que há uma oferta ela acaba obrigando o valor a se vincular a ela”, explica.
2. Títulos de capitalização
Muito bom para os bancos e péssimo para o bolso dos consumidores. Os títulos de capitalização são vendidos muitas vezes como um tipo de “investimento” que permite ao cliente guardar dinheiro de forma programada e ao mesmo tempo concorrer a prêmios "incríveis". No primeiro momento parece fantástico, mas no resgate é uma verdadeira decepção.
Neste tipo de produto, o cliente faz depósitos mensais, sendo que no primeiro mês uma boa parte do valor investido, algo como 90% (varia de acordo com o banco), fica para o banco, enquanto apenas o restante será rentabilizado a favor do cliente. Nos depósitos subsequentes uma taxa menor é paga ao banco, mas ainda alta se comparada às taxas dos “verdadeiros” investimentos. Além dos altos descontos feitos pelo banco, os valores depositados têm rendimento igual ao da poupança (0,5% ou menos ao mês, mais a Taxa Referencial) e no final do contrato, portanto, o cliente resgata o dinheiro com rentabilidade quase nula.
“O título de capitalização é um jogo. O cliente coloca 1.000 reais hoje e daqui a cinco anos ele resgata os mesmos 1.000 reais e ainda sai perdendo por causa da inflação, que não é corrigida”, explica André Massaro, especialista em finanças pessoais da Moneyfit e Trader independente.
De acordo com Mesquita Pereira, se o banco deixar claras as regras no momento da contratação do produto, o consumidor não pode reclamar das cobranças depois. No entanto, ele enfatiza que as cláusulas do contrato que são prejudiciais ao consumidor teriam que ser destacadas de alguma forma. “Se estas informações estão inseridas em um contexto que não fica claro para o consumidor, ele tem elementos pra reclamar”, diz.
3. Cobrança de taxas indevidas em financiamentos
Além de em muitos financiamentos o banco não explicar de forma clara quais são as taxas embutidas no pagamento - o que já representa um desrespeito ao Código de Defesa do Consumidor-, muitos ainda cobram taxas indevidas. Tarifa de Abertura de Crédito (TAC), Gravame eletrônico, taxa de registro de contrato, tarifa de avaliação de bens, tarifa de boleto bancário, serviços de terceiros e seguro prestamista são alguns exemplos.
“Estas taxas são ilegais, porque elas cobram um valor por um serviço não prestado ou cobram duas vezes uma mesma coisa. No caso da TAC, por exemplo, a verificação do crédito que o banco faz já é inerente ao serviço, por isso não deve ser cobrada”, explica a advogada do Proteste. Ela acrescenta que estas cobranças são um dos maiores alvos de reclamação dos consumidores.
O banco só pode cobrar as prestações pelo valor financiado com juros e o IOF, por isso, o cliente pode pedir que o banco retire as demais cobranças, segundo Tatiana. E se o banco se negar a cancelá-las, o consumidor pode enviar uma notificação ao Banco Central e, em último caso, entrar com uma ação no tribunal de pequenas causas.
4. Venda casada
As vendas casadas ocorrem quando o cliente compra um produto ou contrata um serviço e é obrigado a pagar por um segundo produto ou serviço. O caso mais clássico ocorre durante a contratação de empréstimos. O banco, sabendo que o cliente necessita da liberação daquele crédito, aproveita a oportunidade para vender o produto apenas com a condição de que o cliente compre um seguro, ou contrate um outro serviço do banco.
Segundo a Proteste, muitos outros exemplos podem ser enquadrados como venda casada, tais como: concessionárias de veículos que obrigam a contratação de seguro automóvel de uma empresa própria ou parceira; agências de viagem que condicionam a liberação de cheques de viagem usados no exterior à contratação de seguro; provedores de internet que oferecem conexão rápida apenas se for contratado um segundo provedor de acesso; venda de materiais de informática que obrigam a compra conjunta de um equipamento do programa; empresas de linhas telefônicas e TV por assinatura que impõem a contratação de serviços de telefone, TV e internet em conjunto, alegando que não são oferecidos de forma independente; e escolas que exigem exclusividade para compra de material escolar.
Um exemplo curioso, também apontado pela instituição, são os cinemas que permitem em suas salas de exibição apenas o consumo de alimentos vendidos pela rede da empresa. É o mesmo caso das casas de shows que vendem comes e bebes e que não permitem que os espectadores entrem com bebidas e alimentos vendidos fora do local. Funciona como uma venda casada às avessas, pois força o consumidor a comprar os produtos vendidos no local.
Novamente, se o consumidor se sentir lesado, ele pode fazer uma reclamação à empresa e, se não tiver sucesso, pode recorrer a órgãos de defesa ao consumidor ou até mesmo entrar com um processo judicial contra a instituição.
5. Multa aplicada em caso de perda de tíquetes e comandas
Não raro, casas noturnas cobram o consumidor pela perda de comandas e as multas são altíssimas, facilmente superam a casa dos 100 reais. O mesmo ocorre com estacionamentos, que cobram pela perda do tíquete o valor de uma diária.
Como a cobrança é frequente, muitos consumidores acabam pagando sem questionar, mas a prática é ilegal. O controle do consumo dos clientes deve ser de responsabilidade não só dos consumidores, mas também do estabelecimento.
Além disso, conforme explica o advogado especialista em direitos do consumidor, muitas vezes o cliente não é informado sobre a cobrança no caso de perda, e a omissão de informações pode ser considerada uma infração, de acordo com o Código de Defesa do Consumidor. “A cobrança deve ser informada antes de o consumidor fazer a opção de compra, porque isso vai influenciar a compra dele. Não adianta estar explicado no cartão, porque a informação fica perdida no próprio instrumento”, diz Pereira.
O advogado lembra de um caso no qual um consumidor teve que pagar 80 reais após perder um cartão de estacionamento em um shopping e, depois de recorrer à Justiça, teve o valor devolvido em dobro, além de receber uma indenização por danos morais no valor de 1.000 reais.




O HOMEM QUE DESMORALIZOU A PATIFARIA


Percival Puggina
             Tão logo começaram a circular pelo mundo as imagens de Lula e Maluf selando aliança política para beneficiar Haddad no pleito paulistano, a mídia disciplinada pelo PT começou a reprovar o comportamento de Lula. Não o fazer seria escandaloso. Mas era preciso reprovar como quem estivesse surpreso. Como se aquilo fosse uma grande novidade e uma nódoa incompatível com a alva túnica do seráfico ex-presidente.

            Do lado oposicionista, surgiram comentários no sentido de que se tratava de uma aliança entre iguais. Dizia-se que ambos se mereciam. Que seriam parceiros na escassez de escrúpulos. Que os dois seriam dotados de uma consciência maleável como massinha de moldar. Também essa foi minha primeira opinião, até assistir a um debate em que tal afirmação foi feita, recebendo a seguinte contestação de um representante do PT: "Não dá para comparar Lula com Maluf. Lula não é procurado pela Interpol!". Essa frase me levou a colocar os dois personagens nos pratos de uma balança mental das iniquidades. Instalei-os ali, enquanto sopesava as respectivas biografias, que, a essas alturas, enchiam as páginas dos blogs e sites da rede.

            Resultado do teste: Maluf foi catapultado para cima enquanto Lula se estatelava embaixo. De fato, Lula não tem condenação criminal. Mas até mesmo na balança de um juízo moral tolerante, é infinitamente mais danoso do que seu parceiro. O que ele fez com a política, com a democracia, com os critérios de juízo dos eleitores e com as próprias instituições nacionais é pior, muito pior do que o prontuário criminal do seu parceiro na eleição paulistana. Os estragos de Maluf se indenizam em São Paulo, com dinheiro, e se punem com cadeia. Os de Lula levarão décadas para serem retificados na consciência nacional e nas instituições do país.

            A sociedade, em algum momento, emergirá da letargia produzida pelo carisma do ex-presidente e pela rede de mistificações em que se envolve. Compreenderá, então, que o modo de fazer política introduzido por Lula conseguiu desmoralizar a patifaria. Antes dele havia um certo recato na imoralidade. As vilanias eram executadas com algum escrúpulo. Quando alguém gritava que o rei estava nu, as pessoas olhavam para as partes polpudas do rei e se escandalizavam. Com Lula, as pessoas olham para o lado. Não querem ver. São como os julgadores de Galileu que se recusavam a olhar pelo telescópio com que ele lhes queria mostrar o universo: "Noi non vogliamo guardare perché se lo facciamo potremmo cambiare". Não olham porque mudar de opinião pode custar caro.

            Então, o rei aparece no jardim, nu como uma donzela de Botticelli, e as pessoas olham para o Maluf, de terno e gravata com ar de escândalo. Se isso não é a desmoralização da moral, se a influência de Lula nos costumes políticos não nos submete, como cidadãos, aos padrões próprios de um covil de velhacos, então é porque - ai de mim! -  em algum lugar do passado recente, perdi a visão e a razão.

______________
Percival Puggina (67) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

A Lenda do Verão da Lata


Livro resgata o caso das 22 toneladas de maconha que foram jogadas no litoral brasileiro transformando a temporada de 1987 em uma incrível fábula urbana

Marcos Diego Nogueira
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APREENSÃO
Dos sete traficantes, apenas o cozinheiro Stephen Skelton (ao centro) foi preso.
Ele passou um ano na cadeia e foi extraditado
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A história de um navio que, ameaçado pela polícia, despeja 22 toneladas de maconha no litoral brasileiro soa como um conto de surfista. No entanto, o que muitos pensam ser uma lenda urbana aconteceu de verdade e os seus incríveis detalhes são resgatados no livro “Verão da Lata” (Barba Negra), do jornalista Wilson Aquino, de ISTOÉ. A carga suspeita chegaria ao Brasil em agosto de 1987 a bordo de um barco de bandeira panamenha vindo da Austrália. A grande surpresa era como a droga estava acondicionada: em latas de 1,5 kg cada. “O tráfico sempre foi criativo. Para enganar a fiscalização, procurou-se disfarçar a carga camuflando-a da melhor maneira possível”, diz Aquino. 

O que os traficantes não contavam é que o Drug Enforcement Administration, órgão americano de combate aos narcóticos, sabia da operação e avisou à polícia brasileira. No encalço dos bandidos, a Marinha disponibilizou a fragata Independência, a mais moderna embarcação marítima de guerra do momento, mas não conseguiu localizar o Solana Star e seus sete tripulantes – cinco americanos, um haitiano e um costarriquenho – nos primeiros cinco dias de busca. É que, sabendo que o esquema havia vazado, eles “abortaram a operação” e jogaram ao mar uma média de 15 mil latas parecidas com as de leite em pó recheadas de maconha prensada. Atracaram no Porto do Rio, passaram tranquilamente pela alfândega sob a alegação de problemas nos dois motores auxiliares e hospedaram-se em Copacabana com a certeza de que deixaram o porão vazio. Do ponto de vista dos traficantes, o golpe fora um sucesso, exceto pelo detalhe de que, ao invés de afundar, as latas boiaram, e começaram a aparecer uma a uma, primeiro no litoral fluminense, depois no paulista e até chegar à praia do Cassino, no extremo do Rio Grande do Sul.

Dos sete tripulantes, seis escaparam pelo aeroporto do Galeão dois dias depois de chegados ao Rio. Apenas o cozinheiro americano Stephen Skelton ficou preso por um ano até conseguir a extradição. Para tirar o episódio das brumas do mito, Aquino procurou os delegados da Polícia Federal do Rio de Janeiro que participaram da operação há 25 anos. Colheu também depoimentos dos envolvidos e até de quem teve acesso ao que ficou conhecido como “fumo da lata”. “Conversei com surfistas, barqueiros e pescadores do litoral que, na época, não faziam noção de onde vinham as latas.” Entre eles, o roqueiro Serguei, que ainda hoje está viajando.
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O Inexorável Pragmatismo da Silva, por Gaudêncio Torquato



“Fica atento às circunstâncias, observa se elas te são favoráveis ou não. Com aqueles cujos partidos a que pertencem os tornam poderosos ou com aqueles que estão bem na corte usa de todos os meios para fazê-los teus amigos”.
A recomendação é do cardeal Mazarino, autor do célebre Breviário dos Políticos, sucessor de Richelieu como primeiro ministro de Luís XIII e, após a morte deste, senhor absoluto do Reino da França por 20 anos.
Foi este seguramente o conselho que guiou um dos perfis mais execrados do país a se juntar a um dos perfis mais admirados de nossa história em torno do candidato do PT, Fernando Haddad, a prefeito de São Paulo.
A arquitetura de conquista do poder a qualquer custo não apenas sela inusitada parceria entre históricos adversários, o ex-presidente Luiz Inácio e o deputado Paulo Maluf, mas põe em relevo malefícios e desvios proporcionados pelo sistema eleitoral.
Ante perturbadora pergunta sobre a razão para justificar a união dos contrários, o próprio Maluf pinça de seu breviário da política o argumento: “hoje, não existe direita nem esquerda; o que há são minutos e segundos de TV e rádio”.
Maneira de dizer que o socialismo apregoado pelo PT é lorota; que as luzes do passado não iluminam o presente; e que a política, para usar terminologia do dramaturgo Nelson Rodrigues e reinventada pela presidente Rousseff, é conduzida, hoje, pelas mãos de um senhor chamado Inexorável Pragmatismo da Silva.
O “silva” se refere a ele mesmo, o todo poderoso Luiz Inácio Lula da Silva, que comanda no petismo a Era Pragmática, cujos reflexos estão em todas as partes.
É sabido que a esquerda e a direita têm mais serventia para orientar o trânsito do que para criar divisões no arco ideológico. E mais: o estado da política, principalmente nos ciclos eleitorais, resulta da midiatização, fenômeno que leva em conta os tempos dos candidatos no rádio e na TV.
A política, desde os anos 60, ganhou ares de espetáculo. Nos espaços circenses, a imagem dos atores é a coisa que fica gravada na mente dos espectadores. Daí a observação de que a imagem se sobrepõe à verbalização do discurso.
A questão ganhou ênfase a partir do famoso debate entre John Kennedy e Richard Nixon, em 26 de setembro de 1960. Os telespectadores viam um Nixon de “pele pálida, branca e transparente e os cabelos negros como azeviche”, contraste que dava impressão de abatimento. Ao seu lado, postava-se um Kennedy exuberante, sorridente e jovial, a demonstrar confiança e determinação.
Lula aprendeu que a imagem anima ou desanima o eleitor. Intuiu ele que Dilma, sem nunca ter obtido um voto, conquistaria, com larga exposição, a simpatia popular para ganhar o pleito de 2010. Por isso, se esforça para ganhar um minuto e meio de TV.
Mas Haddad não poderá perder votos por conta da...imagem de Lula nos jardins da casa do seu novo (ou velho?) companheiro? Afinal, não foi a foto de Lula congraçando-se com Maluf que afastou Luiza Erundina do cargo de vice na chapa petista? Ora, os pragmáticos chegaram à conclusão que eventuais perdas poderão ser compensadas com a visibilidade aumentada do candidato petista.
O fato é que as campanhas eleitorais se banham nas águas das imagens de candidatos. Para desajustar ainda mais as engrenagens tradicionais da política, dispomos de um sistema eleitoral que privilegia a forma, não o conteúdo. O contato direto com o eleitor se estreita. A mobilização de massas ocorre na esteira dos programas eleitorais.
São os comícios eletrônicos que aproximam o candidato do eleitorado. Por suas ondas, o eleitor se depara com a eloquência dos competidores, o tom de voz, os traços fisionômicos, o sorriso, o aprumo da roupa, as cores dos partidos. Toma corpo o que se chama de telegenia, cujos efeitos surgem nas expressões: “fulano é simpático, carismático; sicrano não tem classe, é grosseiro; beltrano é vago, genérico”.
O resultado é uma operação política – para usar uma expressão atual – terceirizada, pois os candidatos (produtos) são escolhidos pelas cúpulas ou principais lideranças (proprietários) depois de negociações, barganhas, jogo de recompensas (feira, mercado) e “vendidos” (expostos, apresentados) ao eleitor (comprador) pelos intermediários (partidos e meios de comunicação).
A democracia direta, sob esse prisma, fica a ver navios. A consagração nas urnas passa, assim, por um sistema de filtros.
O neologismo pode parecer estranho, mas é realista: vive-se o ciclo da midiocracia, a democracia eleitoral engendrada nos laboratórios midiáticos. A inflexão entre midiocracia e mediocracia (a democracia que privilegia a mediocridade) se estabelece naturalmente. Forma-se a teia que José Ingenieros assim descreve: “enquanto o hipócrita saqueia na penumbra, o inválido moral se refugia nas trevas”.
Maluf escancarou a vertente quando, menosprezando as clássicas posições do espectro ideológico, enalteceu a visibilidade dos candidatos como condição sine qua para a eficácia eleitoral.
Se o tempo de TV fosse totalmente usado para debates entre candidatos – não para apresentação de escopos autoelogiativos – teríamos um processo mais democrático. É lamentável constatar, porém, que o engessamento da política ao marketing torna-se mais forte a cada eleição. O toque de mestre é dado pelo poder pessoal.
Expliquemos.
A moldura do Estado Espetáculo, como se sabe, propicia o fenômeno chamado de personalização do poder, que aparece quando uma pessoa, mesmo não detendo o domínio institucional, demonstra agregar imensa capacidade de influenciar. Esse fato é ainda mais significativo quando o figurante possui carisma, passando a ser visto como pessoa capaz de realizar extraordinárias façanhas, como a eleição de uma mulher para o cargo mais importante do país.
A ciência política chama a atenção para os perigos do paternalismo sob uma liderança carismática. O culto à personalidade, a alienação das massas, a embriaguez do poder são alguns deles. Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.

Gaudêncio Torquatojornalista, é professor titular da USP, consultor político e de comunicação Twitter@gaudtorquato

RECOMENDAÇÃO DE LIVRO - Água para Elefantes

Postado no Blog Leitura com Cappuccino

Diário Literário  

Recebi esse livro da editora Arqueiro, parceira desse blog. Por causa dos meus estudos, quase estava sem tempo para lê-lo, por isso demorei tanto para resenhá-lo, mesmo assim, sempre que tinha um tempo livre o lia e me apaixonei com a historia.

ÁGUA PARA ELEFANTES - SARA GRUEN



Desde que perdeu sua esposa, Jacob Jankowski vive numa casa de repouso, cercado por senhoras simpáticas, enfermeiras solícitas e fantasmas do passado. Por 70 anos Jacob guardou um segredo. Ele nunca falou a ninguém sobre os anos de sua juventude em que trabalhou no circo. Até agora.
Aos 23 anos, Jacob era um estudante de veterinária. Mas sua sorte muda quando seus pais morrem num acidente de carro. Órfão, sem dinheiro e sem ter para onde ir, ele deixa a faculdade antes de prestar os exames finais e acaba pulando em um trem em movimento - o Esquadrão Voador do circo Irmãos Benzini, o Maior Espetáculo da Terra.
Admitido para cuidar dos animais, Jacob sofrerá nas mãos do Tio Al, o empresário tirano do circo, e de August, o ora encantador, ora intratável chefe do setor dos animais.
É também sob as lonas dos Irmãos Benzini que Jacob vai se apaixonar duas vezes: primeiro por Marlena, a bela estrela do número dos cavalos e esposa de August, e depois por Rosie, a elefanta aparentemente estúpida que deveria ser a salvação do circo.
"Água para Elefantes" é tão envolvente que seus personagens continuam vivos muito depois de termos virado a última página. Sara Gruen nos transporta a um mundo misterioso e encantador, construído com tamanha riqueza de detalhes que é quase possível respirar sua atmosfera.

O Livro é dividido em dois tempos diferentes do personagem principal. A vida dele num asilo aos 90 ou 93 anos, e sua juventude aos 23 anos, quando trabalhou no circo. Ambos os períodos são muito interessantes de ler.

Jacob Jankowski após a morte de seus pais num trágico acidente, descobre que perdeu tudo, até a casa que que seus pais hipotecaram e não lhe contaram. Sem onde morar e sem fazer a prova na faculdade que poderia formá-lo, Jacob foge e na ânsia de ir para longe, se joga dentro de um trem em movimento, mudando sua vida completamente ao perceber que o trem pertence ao Circo Irmãos Benzini - O Maior Espetáculo da Terra.

Aceito no circo como tratador dos animais, Jacob relata que há mais sob a lona circense, do que a alegria que um espetáculo pode mostrar. Nos bastidores, duras historias e vidas se combinam para levar a magia ao picadeiro, uma hierarquia clara separando os trabalhadores dos artistas onde a distribuição de privilégios não é democrática. E Jacob ainda tem que administrar suas duas grandes paixões: A Elefanta desobediente Rose, e Marlena, a esposa do tirano ( e Bipolar) dono do circo, Tio Al.

Esse Romance de época é muito envolvente e cativante. A linguagem é bem simples e as vezes até bruta e a leitura flui bastante. O Romance de Jacob e Marlena é descrito na dosagem certa, sem parecer forçado ou "meloso". Cada pagina nos encanta mais com a atmosfera descrita, para logo sermos puxados a realidade quando Jacob, já idoso, volta de suas lembranças nostálgicas, e lutando contra o rotulo de velho inútil e vencer as limitações de sua idade avançada.

É um livro lindo com uma leitura altamente recomendada.

OBRA-PRIMA DO DIA (GRANDES BIBLIOTECAS) Arquitetura: Real Gabinete Português de Leitura (1887)


Enviado por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa
As grandes bibliotecas são lugares apaixonantes. Sempre olhei as prateleiras cheias e coloridas com um misto de respeito e encantamento. Em primeiro lugar, formam um cenário lindo, do qual ninguém se cansa. E depois, a curiosidade, o mistério...
O que será que aqueles tesouros encerram? Que pensamentos, histórias, amores, casos, pessoas, lugares, cidades, paisagens? É fascinante sentar, em silêncio, e olhar essa fieira de amigos silenciosos, e à nossa disposição, que estão ali para nos encantar e instruir.


Nestas duas semanas, falamos das obras-primas que conservam obras-primas. Foi uma doce viagem por lindas e históricas bibliotecas. Na verdade, e vou me repetir, é um passeio que se faz por porta-joias que são verdadeiras joias. 
Não encerro pela mais antiga, nem pela mais rica, nem pela guardiã dos maiores tesouros. Mas pela que sempre figura entre as mais importantes do mundo, em beleza e riqueza do acervo, e que fica no Rio, no coração desta cidade, atrás do histórico Largo de São Francisco, ao pé da Praça Tiradentes e a dois passos das ruas do Ouvidor e Gonçalves Dias, por onde andaram Machado, Lima Barreto, Bilac, Nabuco, João do Rio, e outras figuras de nossa herança cultural. Aliás, todos frequentadores do belíssimo Real Gabinete.


A instituição foi fundada em 1837 e em 1880 a sede original já era pequena para o grande acervo acumulado. Basta dizer que a biblioteca, em 1860, contava com cerca de 33.000 volumes e, vinte anos depois, rondava os cinqüenta mil exemplares.

Inaugurada em 1887, a fachada da nova sede (foto à esquerda), inspirada no Mosteiro dos Jerônimos, em pedra de Lioz trazida de Lisboa, tem quatro estátuas, a saber: Pedro Álvares Cabral, Luís de Camões, Infante D. Henrique e Vasco da Gama, e nos medalhões, os escritores Fernão Lopes, Gil Vicente, Alexandre Herculano e Almeida Garrett.
O interior também é em estilo neomanuelino nas portadas, nas estantes de madeira e nos monumentos comemorativos. Infelizmente, não tenho muitas fotos, mas as que tenho, são representativas.
Aberta ao público desde 1900, a biblioteca do Real Gabinete possui a maior coleção de obras portuguesas fora de Portugal.
Com cerca de 350.000 volumes, possui obras raras como um exemplar da edição "princeps" de “Os Lusíadas” (1572); “As Ordenações de D. Manuel” (1521); os “Capitolos de Cortes e Leys que sobre alguns delles fizeram” (1539); a “Verdadeira informaçam das terras do Preste Joam, segundo vio e escreveo ho padre Francisco Alvarez” (1540); um manuscrito da comédia "Tu, só tu, puro amor", de Machado de Assis, e muitas outras.


Morador do Rio que nunca lá esteve, francamente... não merece morar aqui!
E quem veio ao Rio e não foi lá, sinto muito, foi ao ar e perdeu o lugar... 

Rua Luis de Camões,30  Rio de Janeiro, RJ

LULA COM MALUF , POR MARCOS COIMBRA

O recente encontro de Lula e Paulo Maluf, que sacramentou a aliança do PT com o PP na eleição de São Paulo, provocou dois tipos de indignação: uma autêntica e outra postiça.
Isso, é claro, no mundinho dos profissionais da política e na parcela “politicamente ativa” da sociedade. Juntos, os dois segmentos representam algo perto de 20% da população - se tanto.
Para os restantes - ou seja, para 80% dos eleitores da cidade - deve ter sido um fato de importância secundária.
Daqueles suficientemente relevantes para que sejam notados, mas que logo perdem significado - ou são esquecidos.
Quem vê a política com interesse pequeno ou só a percebe na hora em que é obrigado a votar nem registra essas movimentações. Alguém se lembra, por exemplo, qual foi o candidato que recebeu o apoio de Maluf na última eleição presidencial?
(Para os que não se recordam: José Serra. Sem que isso lhe causasse qualquer embaraço ou deflagrasse reações indignadas).
Muitos militantes petistas ficaram chocados. Afinal, Maluf é um dos símbolos de tudo de que discordam e um adversário histórico da esquerda.
Vê-lo ao lado de Lula - com Fernando Haddad ao centro - na célebre foto do evento, deve tê-los deixado genuinamente indignados. É provável que tenham se perguntado se Haddad precisava disso. E se preocupado com o desgaste que poderia trazer.
Para o PT, a pergunta relevante é o tamanho do prejuízo implícito no benefício que a foto traduz. Pois ela tem um significado inegavelmente positivo: que Haddad terá mais tempo de televisão.
É elevado o risco de perder votos na militância petista e entre eleitores progressistas? Será grande a proporção afugentada pela foto? E para onde iriam?
O eleitor de esquerda decepcionado vai preferir Serra? Pouco provável - especialmente depois da marcha batida em direção à direita empreendida pelo tucano nos últimos anos. Irá para Chalita? Algum outro?
Foi, provavelmente, fazendo cálculos semelhantes que o PSDB firmou aliança com o PR - partido que integrava até outro dia a base do governo Dilma e tem várias lideranças envolvidas em problemas cabeludos. E andava aflito atrás de Maluf, louco para ter o tempo do PP.
Entre os indignados de oportunidade, o mais engraçado é a sem cerimônia com que manipulam a ideia de que “os fins justificam os meios”.
Estavam prontos para celebrar a “competência política” do ex-governador, se tivesse conseguido garantir o apoio de Maluf - como consideraram normal ver Alfredo Nascimento a seu lado.
A coligação do PSDB com o PR e o PP seria saudada como “jogada de mestre”, manobra que esvaziaria a candidatura de Haddad, ao deixá-lo com uma minguada participação na propaganda eleitoral.
Ou seja: para Serra, os fins justificariam os meios.
Por que o raciocínio não se aplicaria a Lula e o PT? Fazer o mesmo que o adversário é pecado? Apenas em seu caso?
A menos que acreditemos que só o PT tem deveres éticos e a obrigação de respeitar uma moralidade na política que não é cobrada do PSDB. Como se dissessemos que do PT se espera mais: comportamentos e compromissos éticos dos quais o PSDB estaria dispensado.
Para o PT, os meios seriam mais importantes que os fins.
Pensar assim pode ser bonito - e há muita gente boa que acredita nisso. Mas é ingênuo.
No mundo real da política - como ensina Serra - o que prevalece é um jogo mais pesado: quem fica cheio de pruridos, perde (e os que tombaram pelo caminho em sua trajetória estão aí para demonstrar).
Nesse mundo, amarrar as próprias mãos - enquanto o outro lado age livremente - mais que ingenuidade, é tolice.

Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

HUMOR: Charge do Sponholz




O intangível, por Miriam Leitão



Miriam Leitão, O Globo
Há valores que não podem ser medidos. Nesta categoria está o maior ganho da Rio+20. Famílias passaram horas nas filas diárias para a exposição Humanidades, no Forte de Copacabana. Quinhentos cientistas de vários países passaram dias trocando informações na PUC. Eventos ocuparam a cidade. Pessoas decidiram mudar de atitude. Empresários compararam práticas, e prefeitos se comprometeram a mudar a realidade local.
Isso não mudará o mundo, nem deterá a mudança climática, mas tornará cada vez mais penoso para os governos adiar a inadiável adoção de políticas públicas e decisões políticas que reduzam o risco que corremos.
A Rio+20 não tinha a ambição de uma COP. Não tinha como objetivo um acordo global de redução das emissões de gases de efeito estufa. Era mais modesta e focada. Tentaria definir economia verde, estabelecer objetivos de desenvolvimento sustentável e decidir como transformar um dos órgãos da ONU na autoridade ambiental.
Desentendeu-se sobre o que é economia verde, registrou que os países terão objetivos, mas não definiu metas nem prazos, e apenas fortaleceu o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
Entre os que disseram que o documento final brasileiro era pouco ambicioso estavam o presidente da França, da União Europeia e até o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, antes de ter sofrido aquela brusca mudança de opinião.
A Rio+20 para mim começou bem antes, quando viajei para preparar matérias especiais. Na Amazônia, fui a Alta Floresta, que está tentando encontrar o equilíbrio entre produção e proteção. Não é a única cidade amazônica que está fazendo isso. Contei a história no domingo passado.
Reencontrei Lélia e Sebastião Salgado com a paixão de sempre pelo trabalho interminável de refazer a Mata Atlântica na parte que lhes coube. A fazenda Bulcão, em Aymorés, estava totalmente degradada, com erosões e sem água, quando eles começaram o trabalho de replantar tudo. Lélia sugeriu plantar uma floresta.
Foi o princípio. Hoje, eles já contam 1,7 milhão de mudas nativas da Mata Atlântica plantadas, produziram mais de cinco milhões de mudas e acalantam o sonho de reflorestar com espécies nativas o enorme vale do Rio Doce.
— É uma área maior do que Portugal, e onde os rios ficarão intermitentes até 2020. Ou seja, os rios que alimentam o Rio Doce serão secos numa parte do ano — disse Sebastião Salgado.
O caso de Sebastião e Lélia, que entrevistei para a Globonews, não é o único. Outros brasileiros devolvem à terra o que foi desmatado no mais ameaçado dos biomas brasileiros. Desmatada de forma inclemente desde o descobrimento, a Mata Atlântica perdeu nos últimos 26 anos 1.735.479 hectares de cobertura florestal.
Os 700 hectares da Fazenda Bulcão foram recobertos nos últimos 13 anos, numa trabalheira sem fim, e hoje Sebastião diz que tem lá uma floresta criança.
A SOS Mata Atlântica calcula que 80% dos remanescentes da Mata Atlântica estão em propriedades particulares. Só de RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) existem 734, que juntas protegem mais de 136 mil hectares do bioma.
As histórias particulares e os dados agregados não deixam dúvida: a convicção de cada pessoa pode levá-la à ação, que, na soma, aumenta a chance da exuberante natureza do Brasil.
Entrevistei Russell Mittermeyer, presidente mundial da Conservação Internacional. O programa reprisará na Globonews hoje às 10h30m. Depois, estará no meu blog. Ouvi-lo é um alívio para quem anda aflito com a enorme perda da biodiversidade brasileira.
Ele é uma lenda na luta pela preservação da biodiversidade do planeta. Descobriu, ou viu pela primeira vez na natureza, 12 novas espécies, entre elas seis macacos amazônicos. Russell Mittermeyer vem ao Brasil há 41 anos, todos os anos. Até agora, já fez 120 viagens ao país. É com base nessa intimidade que ele se diz, apesar de tudo, um otimista com o Brasil:
— A Mata Atlântica faz parte dos 35 hotspots do planeta, os lugares prioritários para a conservação, por ter muita diversidade. Tem apenas 7% a 8% da mata original, mas há todo um grupo enorme de conservacionistas protegendo, há RPPNs e tem as políticas do governo.
Para se ter uma ideia do valor dos hotspots: esses pontos originalmente cobriam 16% de toda a área do planeta, mas nos últimos 100 anos perderam 90% da sua cobertura vegetal:
— Nestes 2,3% de área mundial, há 50% das espécies vegetais, 42% dos vertebrados, e de 80% a 92% das espécies ameaçadas. Criei o conceito de país megadiverso. Existem 18 países que concentram dois terços da biodiversidade do planeta. Nesse grupo, Brasil e Indonésia são os que têm mais biodiversidade. O Brasil é o país que nos últimos 35 anos mais criou áreas protegidas, desde o trabalho pioneiro de Paulo Nogueira Neto.
Mittermeyer é primatólogo e o que o atraiu ao Brasil foram os macacos. O Brasil é o país que tem mais primatas: 135. Entre os que estudou está o Muriqui, o maior macaco das Américas que vive nos raros fragmentos de Mata Atlântica, protegida por particulares.
Fatos assim confirmam minha impressão de que a ação individual tem impacto. O intangível legado da Rio+20 é este. Seus milhares de eventos paralelos podem ter tocado pessoas. Quem sabe quantas crianças verão o mundo com outros olhos? E isso pode ser decisivo.

Sua História de Ninar


Postado no Blog Café com Chantily




E quando a Srta. Responsabilidade resolve bater de vez na sua porta. Eis a pergunta: o que fazer?

Bom, confesso que antes dos meus 17~18 anos meu maior sonho era conhecer a Srta. Responsabilidade, hoje aos meus 23, jovens e inocentes, anos de vida tudo que eu mais desejo é que a Srta. Responsabilidade tire uma folga de mim. Meu deus, que bichinha mais grudenta!

Quer saber a melhor parte da infância, eu lhe digo. É não ter responsabilidade com nada, a não ser de acordar um pouco mais cedo para assistir aquele seu desenho favorito. Ser criança é tão fácil e mesmo assim, esses pequenos seres humanos ainda conseguem se queixar de suas vidas quando a amiga não veio na sua casa na hora marcada, ou porque o bolo de chocolate que ela tanto esperava comer no café na tarde a mamãe, enquanto tomava um chá com a Srta. Responsabilidade na lavanderia, deixou o bolo passar do ponto e torrar.

Certo meu bebezinho, então você fazia aquele beiço e ficava furiosa com a vida e com seus planos que nunca davam certo. Sonhava com as visitas da Fada do Dente à noite para conseguir juntar uns 50 reais para comparar o novo lançamento da Barbie sem ter que pedir dinheiro para a mamãe, ou sem ter que incomodá-la no super mercado pela milésima vez só porque você deseja a boneca mais cobiçada de qualquer criança com 5~6 anos de idade.

Ai! Só de pensar em ser criança eu já até cansei. Que vida difícil mesmo. Ainda ter que ir deitar às 8 horas da noite e ouvir aquela historinha maravilhosa de ninar, que por sinal é sempre a mesma, a nossa favorita.

Então a gente cresce, dia-a-dia, indignados com o fato de que tudo dá errado. Papai disse que chegou tarde e cansado do trabalho e não pode me levar na praçinha. Que injustiça, o que eu tenho com isso? Deve pensar a inocente criança, então nesse momento a mamãe nos chama para a mesa, pois o jantar está servido.

Crescemos assim, achando que somos incompreendidos, que a nossa vida é difícil. Na adolescência ninguém nos entende porque choramos quando o garoto mais gato da escola não nos da bola e ainda nos criticam quando nos apaixonamos e namoramos com o mais 'meia boca' em beleza.

Afinal, quando é que as coisas vão ficar fáceis na vida? Tô pra te dizer, caro leitor que até hoje eu me pergunto isso e eu tenho apenas 23 anos. Não me sinto mal com isso, pois vejo alguns de 40, 50, 60 anos se perguntando a mesma coisa, mas o engraçado é que ao responderem eles sorriem sempre. Confesso, não entendo por que!

Oba! Formada no 2º grau, é hora de dar uma direção na vida, buscar um trabalho. Droga de vida, quando é que as coisas começam a ficar fáceis? Ah! Óbvio, quando vem o primeiro salário, é claro. Ele popularmente é chamado de independência, por mínimo que seja.

E essa tal Srta. Independência, olha.. tô pra te dizer novamente. Eita “Senhorina” mais patricinha - falando popularmente. Tudo tem um preço e sempre pede do bom e do melhor. O tênis do ano que tanto sonhávamos e só ganhávamos no Natal, agora ficou ainda mais distante, porque temos outras contas para pagar.

E o tempo vai passando, os Natais vão deixando seus votos de renovação e então enquanto os tênis novos ficam surrados pelo tempo, somos apresentados a Sra. Realidade.

Olha que pessoinha mais pra baixo ein. Ela parece praticamente um retrato de Monalisa, felicidade e tristeza em um único retrato. Feliz quando tudo da certo, quando sobra salário no final do mês. Triste, quando sobra mês no final do salário e assim, mensalmente cada vez mais ficamos próximos da Sra. Realidade, amigos de infância – praticamente.

Esqueci de apresentá-la falando nisso. A Sra. Realidade é uma pessoa já bem vivida, que sabe por onde vir e se não vir, como se irá cair. Sabe cada passo, tem precisão nos mesmos e sabe que se erramos coincidentemente ela nos marca um café às surpresas com o seu bom amigo, Velho Passado.

A Sra. Realidade hoje gostaria de finalizar esse post, então como ela estava até pouco aqui jantando comigo vou traduzir algumas das palavras que ela me deixou:

Viver é muito simples e fácil, o difícil é saber aceitar quando as coisas não saem como esperamos. Conhecer os parentes da Sra. Realidade um a um a cada dia da vida não é muito fácil também, se até mesmo rejeitamos desconhecidos no Facebook e Orkut, quem dirá na vida real.

Saber aceitar simplifica as coisas, ter vontade e perseverança melhora qualquer situação. Não entregar-se jamais é a essência que cada um deve carregar. Vire a cara para o jovial Dom Orgulho e aceite a companhia da gentil Humildade. Jamais encolha a mão em prol de uma ajuda, mas também saiba quando ter que dispor as mãos em parada, ou a um exagero.

Ser criança é uma maravilha e deixe isso claro aos seus filhos. Dê a eles toda a dedicação que puder, por mais que seu trabalho te consuma mais que a energia da sua garotinha em casa. Sorria, se você tirou tempo para criar, ter, montar uma família, tire um pouquinho a mais para fazê-la feliz.

Aquele acompanhamento diário com a Srta. Responsabilidade (praticamente sua psicóloga) todos temos, o que diferencia uns dos outros é o simples fato de saber sorrir e agradecer por ter construído sua própria história de ninar.

Ser jovem é uma delícia, é quando descobrimos os gostos mais interessantes da vida. O beijo, os prazeres do corpo, a liberdade, a música e o principal de todos esses: quando descobrimos nós mesmos e o que queremos de fato.

Ser adulto, pai, mãe, tio, avó é apenas um complemento, um enriquecimento daquilo que temos como dádiva e que muitas vezes só sabemos reclamar.

Viver é apenas um dom. Os prazeres da vida a que nos damos o luxo é o enriquecimento da alma e que nos fazer ter um coração tão puro e tão bondoso, cujo qual após nosso término aqui acabamos por receber uma estrela. Como aquelas que nos são dadas nas provas em que tiramos 10. 

Só que recebemos um prestigio maior ao receber essa estrela. Papai do Céu na verdade a coloca lá no alto, próximo da lua, para que todos possam ver que pessoa maravilhosa que tivemos a oportunidade de ser. E não é atoa que as estrelas só aparecem e brilham à noite, pois é à noite que são contadas as mais belas histórias de ninar.

GEDIEL, Camila. Sua História de Ninar. 2011.