Em um gesto criticado por beneficiar ditaduras, a presidente Dilma Rousseff e o seu antecessor e padrinho político, Lula, renegociaram US$ 1,036 bilhão de dívidas de países, quase todos africanos. Desse volume, US$ 717 milhões foram perdoados - 69,2% do volume total das operações financeiras. Em dois anos e sete meses, Dilma reestruturou a dívida de cinco países - US$ 431,2 milhões -, dos quais US$ 280,3 milhões foram perdoados. Foram beneficiados Gabão, Senegal, Sudão, República do Congo e São Tomé e Príncipe - neste último, a dívida foi reescalonada e os prazos de pagamento alterados. A maioria dessas dívidas foi adquirida a partir de meados dos anos 1960, em financiamentos à exportação de bens e serviços brasileiros realizados por meio de convênio de crédito entre o Banco do Brasil e governos estrangeiros, via Fundo de Financiamento às Exportações (Finex), hoje extinto. Nos oito anos de Lula (2003-2010), foram perdoados US$ 436,7 milhões em dívidas de quatro países: Moçambique (US$ 315,1 milhões), Nigéria (US$ 84,7 milhões), Cabo Verde (US$ 1,2 milhão) e Suriname (US$ 35,7 milhões). Em Moçambique, foram perdoados 95% da dívida, a maior proporção da década. "Na África nós temos tido um grande empenho em expandir as nossas relações culturais, comerciais e de investimento. Para tornar mais fluida essa relação, viemos resolvendo esses problemas para poder ter uma relação agora mais efetiva", disse Dilma em maio passado, durante viagem à Etiópia para participar das comemorações dos 50 anos da União Africana. Na ocasião, Dilma anunciou que reestruturaria a dívida de 12 países africanos - ainda falta o Senado aprovar relatórios de Costa do Marfim, República da Guiné, Guiné-Bissau, Mauritânia, República Democrática do Congo, Tanzânia e Zâmbia. A legislação autoriza a União a conceder "remissão parcial" - e não total - das dívidas, em negociações bilaterais ou entendimentos do Clube de Paris - um fórum intergovernamental de credores. "O mecanismo de alívio das dívidas é positivo para os países endividados, pois abre novas formas de investimento externo. E também para o país que alivia a dívida, que geralmente quer investir no país endividado.