quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Foguete palestino atinge área de Tel Aviv




Sirenes tocam na região pela primeira vez desde a Guerra do Golfo, em 1991


Sistema de defesa israelense é acionado para interceptar míssil palestino
Foto: Tsafrir Abayov / AP
Sistema de defesa israelense é acionado para interceptar míssil palestinoTSAFRIR ABAYOV / AP
BEIRUTE - A troca de bombardeios entre militantes do Hamas e forças israelenses ameaça a maior região metropolitana do país. Segundo o jornal local “Haaretz”, um foguete palestino atingiu nesta quinta-feira a cidade de Holon, que fica na região sul do Distrito de Tel Aviv. Apesar de relatos de diversos moradores sobre uma explosão, o Exército israelense negou a informação e disse que o míssil teria caído no mar, em um local próximo à cidade. Sirenes tocaram pela primeira vez na região desde a Guerra do Golfo, em 1991, e funcionários da sede do Ministério da Defesa foram retirados por alguns momentos ou levados para áreas de segurança.
Segundo o diário "Yedioth", o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu estava no prédio no momento e teve que se esconder em um bunker. Até o momento, não houve registro de danos ou feridos. Mais cedo, outros dois foguetes atingiram um campo aberto na cidade Rishon leTzion, a 12 quilômetros do sul de Tel Aviv. O grupo Jihad Islâmica reivindicou os ataques, de acordo com o “Haaretz”.
Um professor que trabalhava para uma agência de socorro morreu nos ataques israelenses à Gaza, segundo a ONU. A Agência de Socorro para Refugiados Palestinos que pertence à organização disse que Marwan Abu El Qumsan foi morto na quarta-feira. O professor, que tinha idade em torno dos 50 anos, ensinava árabe na Escola Preparatória para Meninos UNRWA, em Jabalia. El Qumsan estava em um carro, próximo ao local onde ocorreu o ataque aéreo. A violência em Gaza fez com que as escolas em Gaza fossem fechadas temporariamente.
É o segundo dia da intensa ofensiva militar israelense contra alvos do Hamas e da Jihad Islâmica na Faixa de Gaza, enquanto militantes responderam com mais de 200 bombardeios desde quarta-feira. No sul de Israel, três pessoas foram mortas após um edifício de quatro andares ser atingido por um foguete na cidade de Kiryat Malachi, a 25 quilômetros ao norte de Gaza. Do lado palestino, foram registradas 18 mortes, incluindo a de um bebê filho de um cinegrafista da “BBC” e a do chefe do braço militar do Hamas, Ahmed Jabari. O Exército israelense também divulgou imagens no YouTube com ataques desta quinta e anunciou a convocação de pelo menos 30 mil reservistas.
Em meio à escalada de tensões, o corpo de Jabari foi velado em seu funeral. Dezenas de pessoas compareceram à cerimônia, que foi protegida por homens fortemente armados. O comandante estava enrolado em um lençol branco - manchado de sangue - e uma bandeira palestina enquanto era levado pela multidão. O som de bombardeios israelenses nas proximidades chegou a assustar algumas pessoas, que continuaram a marcha.
O Exército de Israel atacou mais de 100 alvos palestinos desde a tarde de quarta-feira, quando a morte de Jabari, o poderoso chefe da ala militar do Hamas, foi anunciada junto ao início da operação "Cortina de Fumaça". O grupo islâmico declarou estado de emergência na Faixa de Gaza. O mesmo fez o governo israelense em relação ao sul do país: autoridades continuam a exortar a população para que todos sigam as orientações dos militares e não se envolvam no conflito.
Segundo relatos da agência AP, a maioria dos palestinos permanece dentro de casa à espera do fim dos bombardeios. Alguns fazem atualizações sobre os ataques nas redes sociais, outros rezam para o fim dos confrontos e poucos se arriscam a sair para drogarias e padarias, que continuam abertas, a fim de conseguir o máximo de estoque de comida, água e mantimentos em geral.
- Eu estou tentando acalmar meus filhos - disse Zainab Nimr, de 33 anos e mãe de três crianças. - Nós temos comida suficiente para quatro dias, mas pedi para meu marido sair e comprar o que ele conseguir. Não sabemos quando isso vai terminar - lamentou.
No sul de Israel, onde vivem mais de 1 milhão de pessoas, o clima também é de tensão. O governo declarou estado de emergência e pediu que moradores permanecessem em casa, enquanto aulas de escolas da região foram canceladas. A maior parte do comércio está fechada e patrulhas da polícia israelense rondam as cidades.
A correspondente do jornal britânico “Guardian” na região disse em seu perfil no Twitter (@Harriet Sherwood) que há rumores preocupantes de militantes do Hamas não estão permitindo a saída de estrangeiros da Faixa de Gaza. Ela especula se os militantes poderiam estar planejando usar os visitantes para se protegerem de possíveis ataques mais severos de Israel.
Egito e Qatar condenam Israel; EUA e Reino Unido criticam Hamas
No segundo dia de troca de ataques entre Israel e o Hamas, o presidente egípcio Mohamed Mursi, disse que os bombardeios israelenses são inaceitáveis e podem prejudicar a estabilidade da região. Em entrevista a uma TV egípcia, o líder - que pertence a coalizão Irmandade Muçulmana - acrescentou está em contato com os palestinos e que não vai deixar de apoiá-los.
- Nós estamos em contato com a população em Gaza e com os palestinos e nós vamos continuar apoiando a eles até que essas agressões acabem. Nós não aceitamos, sob qualquer circunstância, a continuidade desses ataques na Faixa de Gaza.
Mursi também disse que falou com o presidente americano Barack Obama pelo telefone nesta quinta-feira. Segundo ele, os dois discutiram meios de alcançar “um fim pacífico para as agressões”. Na quarta-feira, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Mark Toner, acusou os palestinos de lançarem foguetes em território israelense e defendeu o direito do aliado de se defender.
Na mesma linha, o ministro do Exterior do Reino Unido, William Hague, emitiu nesta quinta-feira uma nota pedindo que o Hamas pare imediatamente com os ataques a Israel e acusando os militantes criar uma “situação insuportável” para os moradores do sul-israelense e para os próprios civis palestinos.
- Hamas e outros grupos armados devem parar imediatamente com os ataques. Eu peço que aqueles que exerçam influência na região para que usem seu poder e deem fim aos ataques - disse.
Já o Qatar condenou veementemente os ataques israelenses e disse que o país não pode sair impune dos atentados contra os palestinos. Segundo o primeiro-ministro Hamad bin Jassem al-Thani, o Conselho de Segurança da ONU deveria “assumir a responsabilidade de proteger o mundo” e tomar alguma atitude.
- Os ataques não podem passar sem serem punidos. O Conselho de Segurança da ONU deve assumir a responsabilidade de assegurar a paz no mundo. Nós rejeitamos o extremismo e o terrorismo, mas ataques tão irresponsáveis e sem justificativa deveriam ser condenados pelo mundo - defendeu.
Com a declaração, o Qatar se une ao grupo de Egito, Iran, Jordânia e Síria que condenou as investidas israelenses na quarta-feira.

Toffoli só descobriu que cadeias brasileiras são ruins agora, quando petistas estão sendo enviados para lá. Dá vergonha tê-lo como ministro do Supremo


Ricardo Setti

Cadeia brasileira: ruim desde sempre -- mas só agora, que figurões petistas vão para detrás das grades, petistas graúdos percebem o que todo mundo já sabia (Foto: observatoriodesegurança.org)
Petistas, como o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo — o mesmo que disse que, “do fundo do coração”, preferiria morrer a ir cumprir pena numa cadeia brasileira –, acabam de descobrir que nosso sistema prisional é podre.
O engraçado é que o partido de Cardozo está há dez anos no poder e seu Ministério, justamente, tem como uma de suas funções um importante papel de coordenação no sistema penitenciário.
O que fizeram, em 10 anos no poder? Construíram três — só três, para um país de quase 200 milhões de habitantes — presídios federais supostamente de “segurança máxima”.
(Eu próprio já mostrei, tempos atrás, a “segurança máxima” e a vigilância atenta de funcionários de um desses presídios, o de Catanduvas (PR), onde na ocasião estava recolhidos alguns dos mais perigosos e sanguinários do crime organizado no Rio de Janeiro.)
E o próprio Cardozo, o que fez? Bem, esse o Reinaldo Azevedo já fuzilou, devidamente.
Vejam esse trecho desse post de Reinaldo:
“O PT está no poder há dez anos. O que a Secretaria Nacional de Segurança, esta obra de ficção, fez até hoje para combater a violência? Como é que este senhor [Cardozo] comanda a área que está diretamente ligada ao combate à violência e se sai com um diagnóstico do espanto, mas sem medida profilática? O que o ministro Cardozo efetivamente fez para, vá lá, melhorar a situação dos presídios ao menos? Eu conto: em 2011, a Secretaria sob o seu comando gastou R$ 1,5 bilhão a menos do que gastou em 2010.”
Ministro Dias Toffoli: fazendo coro no julgamento do mensalão à declaração absurda do Ministro da Justiça (Foto: Nelson Jr. / STF)
Quanto ao ministro do Supremo Dias Toffoli, que, em ordem unida, reprisou as declarações de José Eduardo Cardozo para, quase aos berros, defender a tese esdrúxula de que não se devem enviar para a cadeia a não ser culpados de crime de sangue. Pregou pena pecuniária aos mensaleiros.
Pessoalmente, eu acharia ótimo que a pena pecuníária fosse ACRESCIDA às outras dos mensaleiros.
Mas Toffoli, em seu ridículo, vergonhoso afã de defender os petistas condenados e evitar que marchem para trás das grades, em que quase babou ao proferir por extenso o nome de Lula, parece ter-se esquecido de duas coisas:
1. Ele está no Supremo há três anos. Em quantos casos de condenação criminal que examinou nesse período — antes das aplicadas a seus camaradas petistas — manifestou-se preocupado com as (péssimas) condições das penitenciárias e cadeiões do país?
2. Que existe em vigor um Código Penal! As penas aplicadas pelo Supremo aos mensaleiros constam do Código Penal! O Supremo não se afastou da lei! Para adotar o rumo pregado pelo ex-assessor de Dirceu, é preciso mudar a legislação.
Repito o que disse hoje pela TV do site de VEJA o que disse o historiador Marco Antonio Villa: me dá vergonha ter um ministro como Toffoli no Supremo Tribunal do nosso país.

Quadro - Valor recorde



"Meu Limão": o mais valioso
O leilão de  arte contemporânea realizado hoje na Sotheby’s foi palco de um novo recorde: a telaMeu Limão, de Beatriz Milhazes, foi vendida por 2,1 milhões de dólares. É o quadro mais caro de um artista plástico brasileiro vivo já vendido.
Bateu o recorde anterior, registrado em fevereiro de 2011, Parede com Incisões a la Fontana, de Adriana Varejão, que foi arrematado em leilão da Christie’s por 1,1 milhão de libras, 2,971 milhões de reais na ocasião.
Por Lauro Jardim

Cardozo deixou de investir R$ 250 milhões em penitenciárias! Mas orçamento do seu gabinete cresceu 247,44%! Eficiência é isso!



José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, acha as prisões brasileiras “medievais”. José Antonio Dias Toffoli concorda com ele (ver post). Muito bem! Coube aos ministros Gilmar Mendes e Celso de Mello lembrar que o Depen (Departamento Penitenciário Nacional) é um órgão do Ministério da Justiça, pasta de que Cardozo é titular. Reportagem de Andreza Matais, Gustavo Patu e Fernanda Odila, na Folha de hoje, demonstra que o ministro deixou de investir R$ 249,4 milhões no melhoramento das penitenciárias. Utilizou apenas R$ 63 milhões dos R$ 312,4 milhões que estavam no Orçamento. Leiam trechos. Volto depois.
*
Embora diga que as condições dos presídios são “medievais”, o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) usou este ano só um quinto do que dispunha para gastar com a melhoria das penitenciárias. Há três ações com recursos fixados no Orçamento que não receberam nada em 2012. No total, o ministro dispunha de R$ 312,4 milhões para ações destinadas a “financiar e apoiar as atividades de modernização e aprimoramento” do sistema penitenciário. Usou R$ 63,5 milhões. Anteontem, o ministro afirmou que “preferia morrer” a ter que ficar muitos anos em algumas prisões brasileiras.
Com os R$ 250 milhões que deixou de gastar, o governo Dilma Rousseff poderia construir oito penitenciárias, ao custo de R$ 30 milhões por unidade -o mesmo previsto para o presídio de Brasília. Dados do ministério mostram que, em 2011, havia 471 mil presos para 295 mil vagas. Ações como “adequação física das penitenciárias”, liberdade vigiada por monitoramento eletrônico e construção da quinta penitenciária ainda não receberam nada. Para “apoio à construção de estabelecimentos prisionais nos Estados”, o governo utilizou 16,4% do que estava autorizado (R$ 39,1 milhões).
(…)
VolteiEis aí. Não obstante, quando saiu apontando o dedo contra São Paulo e mesmo agora, ao fazer sua declaração polêmica — como se não tivesse nada a ver com a área —, o homem ganhou todas as manchetes. Foi tratado como uma espécie de paladino da verdade que ninguém queria ver.
Mais uma vez, como a gente constata, Cardozo recorria ao expediente de livrar-se de suas próprias responsabilidades para jogar o peso nos ombros alheios. Não se esqueçam: em 2011, ele investiu R$ 1,5 bilhão a menos em segurança do que em 2010.
Uma coisa, no entanto, cresceu bastante. O orçamento do gabinete do ministro, em 2011, foi de R$ 10.760.863. Neste ano, é de R$ 37.388.691 milhões — um crescimento de 247,44%!
Texto publicado originalmente às 6h37
Por Reinaldo Azevedo

O Foucault mal lido de Dias Toffoli era só pretexto para protestar contra a eventual prisão de José Dirceu



Constrangedor, para dizer pouco, o desempenho ontem do ministro José Antonio Dias Toffoli, que, do nada e sem que houvesse ambiente para tanto, decidiu fazer um verdadeiro repto contra as penas restritivas de liberdade. Segundo ele, deveriam ser substituídas por penas pecuniárias porque, afinal, “o pedagógico é recuperar o dinheiro desviado”. Quando engatou seu discurso, tentava explicar por que votava com o revisor — Ricardo Lewandowski, que sempre opta por penas mais leves —, mas se alinha com o relator, Joaquim Barbosa, na imposição de multas mais pesadas. Usou a justificativa do voto para fazer um candente discurso contra as prisões — para ele, uma triste herança medieval. Não deixa de fazer sentido… Na Grécia e na Roma antigas, em vez das prisões, tinha-se, na melhor das opções, o degredo e, na mais corriqueira, a morte. Valia até para filósofos… Imaginem se não valeria para mensaleiros. Nesse sentido, pois, a “triste herança medieval” não deixou de ser uma espécie de afirmação humanista, não é mesmo?
Toffoli foi constrangedor, mas foi também patético. Sua invectiva contra a prisão — ecoando, diga-se, editorial recente da Folha; já chego lá — vem a público no momento em que o tribunal aplicou uma pena ao trio do ouro do petismo (José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoino) que rende cadeia. Os dois primeiros, tudo o mais constante, terão de cumprir parte dela em regime fechado. E então os petistas se lembraram, liderados por José Eduardo Cardozo, que as prisões brasileiras são masmorras — talvez à altura, vai-se saber, dos adversários do petismo, mas pouco aptas para receber a nobreza companheira. É asqueroso!
O ministro, como não poderia deixar de ser, citou a fala do dia anterior de Cardozo, que disse que preferiria se matar a cumprir uma pena longa num presídio brasileiro — como se esse setor não estivesse sob sua responsabilidade. Vejam no post abaixo a distância que há entre o que prega aquele valente e o que ele efetivamente faz. Foi, na prática, desmoralizado por três companheiros de tribunal: Gilmar Mendes, Celso de Mello e Luiz Fux. Os dois primeiros lembraram as responsabilidades do governo federal pela situação dos presídios. O terceiro teve de trazer à memória de Toffoli que, no estado de direito, ministros do Supremo impõem penas segundo o que prescreve a lei. Coisinhas como peculato, corrupção ativa, corrupção ativa, gestão fraudulenta, evasão de divisas etc. rendem mesmo cadeia no Código Penal. Por mais criativo que seja o juiz, ele não pode impor uma pena que o legislador — deputados e senadores — não prescreveu no código legal.
Eu poderia aqui fazer uma ironia nem muito sofisticada e lembrar que Toffoli talvez ignore tal fundamento porque levou pau no concurso para juiz. Mas não acho, é evidente, que sua manifestação nasça da ignorância. Ao contrário: ele sabia bem o que estava fazendo. Até porque seu discurso foi eminentemente político — embora, com efeito, tenha esbarrado também na imperícia ao lidar com as palavras e com o pensamento.
Michel FoucaultFalando quase aos berros, coma a voz esganiçada, Toffoli evocou Torquemada para se referir a julgamentos supostamente discricionários e chegou a citar o nome — mas não o texto — de Michel Foucault. Referia-se, creio, ao livro “Vigiar e Punir”, que não deve ter lido. Ou não tentaria, como diria o ministro Marco Aurélio, aplicá-lo à espécie.
O livro de Foucault tenta estabelecer a gênese e a motivação das prisões modernas e as considera formas exemplares de controle social e de contenção da rebeldia, da contestação etc. Trata-se de uma das gigantescas tolices que produziu, embora seja ainda hoje considerada uma espécie de minibíblia em alguns cursos de ciências sociais. Lendo o que vai lá, a gente entende por que este senhor era um dos grandes entusiastas do aiatolá Khomeini e por que detectava pulsões e pulsações verdadeiramente eróticas — e não estou brincando — na revolução islâmica do Irã, que deu naquela maravilha. Não é realmente fantástico que o homem que enxergava, com olhar extremamente crítico, formas de controle social nas prisões, nas clínicas e até nos hospitais tenha sido seduzido por um tirano psicopata? Não quando se é Foucault…
Pior, no entanto, do que ter escrito tudo aquilo é ver aquela obra citada como esforço para manter fora da cadeia os mensaleiros petistas. No autor francês, afinal de contas, está sempre presente a ideia de que os “internados”, os “apartados” da sociedade, são, de alguma maneira, pessoas incômodas à ordem. Quanto Toffoli ler o livro, vai entender o que estou falando. Seria, no entanto, esse o caso se Dirceu, de Genoino, de Delúbio, dos banqueiros, da turma toda? Ao contrário: eles são o esbablishment; eles são o poder; eles representam a ordem vigente — como, diga-se, Toffoli a representa também, ou não seria ministro do Supremo.
Crimes de sangueO ministro defendeu ontem com todas as letras que as cadeias sejam reservadas àqueles que cometem crimes de sangue e que representam perigo — físico — para a sociedade. E chegou a indagar que ameaça poderia encarnar a banqueira Kátia Rabello, “uma bailarina”. É claro que estava falando, no fim das contas, de Dirceu e companhia. Assim, entende-se que os criminosos do colarinho branco jamais seriam encarcerados — afinal, a maioria não costuma andar armada, não costuma matar ninguém, não costuma ameaçar terceiros. Ao contrário até: a sua profissão lhes impõe um temperamento bastante brando, amigável. A maioria até tem a ambição de conhecer vinhos, charutos, essas coisas…
Trata-se de uma defesa que traz um traço odiento e odioso de classe. Os crimes financeiros costumam ser cometidos por pessoas que já atingiram certa posição social. Requerem expertise e conhecimento das altas esferas. Não! Estes estariam sempre longe da cadeia. Já os crimes de sangue, que se misturam à criminalidade das ruas e, por óbvio, atingem com mais frequência os mais pobres, bem…, esses levariam à pena de prisão. Foi o que defendeu a Folha, reitero, em um infelicíssimo editorial recente.
Toffoli estava, é evidente, preocupado com seus amigos do PT, mas se esforçou para dar alcance teórico àquilo que seria uma tese, que mal conseguiu esconder suas motivações originais. Até porque ele não foi nada sutil. No meio do discurso, engrolou uma exaltação a “Luiz Inácio Lula da Silva” e fez questão de negar que o mensalão representasse, como considera a maioria dos ministros, uma tentativa de golpe contra a democracia. Não para ele! A motivação, escandiu as sílabas, foi “pe-cu-ni-á-ri-a”. É mesmo? Para quem? Certamente não para Dirceu, a quem ele absolveu.
Idiossincrasias?Toffoli não estava mesmo num dia feliz. Ao exaltar a beleza do colegiado no Supremo — sei… —, afirmou uma batatada. Disse que cada ministro julgava segundo as suas “idiossincrasias”. HEEEIIINNN? Tolo, sempre pensei que os senhores magistrados julgassem segundo o entendimento que têm das leis. A idiossincrasia é outra coisa. Trata-se de um traço particular, pessoal, vizinho à esquisitice e à mania — tudo aquilo, enfim, de que um juiz deve antes se guardar. Por mais que seja um árbitro dos fatos, das circunstâncias e das leis, tem de buscar, ao contrário do que diz o ministro, o dado objetivo, livrando-se, pois, das tais “idiossincrasias”.
“Ah, mas você já elogiou Toffoli aqui…” Claro que já! E agora crítico. Já aconteceu com praticamente todos os ministros — já aplaudi até voto de Lewandowski. Não faço, como diria este, “crítica ad hominem”. Quando acho que um ministro acerta, aplaudo; quando acho que erra ou que atua contra a honorabilidade do tribunal, vaio. É, entendo, o que deve fazer toda gente: dizer “sim” ao que aprova e “não” ao que reprova.
Toffoli vinha se comportando com razoável discrição no tribunal, embora não estivesse a surpreender ninguém. Ontem, no entanto, parece que foi levado a rasgar a fantasia e a se mostrar por inteiro. 
Texto publicado originalmente às 6h06
Por Reinaldo Azevedo

O que o brasileiro realmente quer de seu país?



Uma das situações mais extravagantes do processo eleitoral recente foi a expectativa de que o julgamento do mensalão pudesse afetar de forma significativa o desempenho do PT nas eleições municipais.
Muitos apostaram que a cobertura jornalística intensiva seria suficiente para paralisar o partido e, sobretudo, o papel de Lula na campanha. Antes mesmo do início do julgamento, foram mais de dois meses de cobertura intensiva, visando trazer o tema para o debate nacional. Não funcionou.
Para mim, não houve novidade. No início do julgamento, em entrevista ao Globo News Painel, afirmei que não acreditava que o mensalão pudesse produzir repercussão importante entre o eleitorado. Naquela mesma semana, uma pesquisa de opinião apontava Lula como a personalidade com maior apoio para ser candidato a presidente em 2014.
Três meses e horas e horas de noticiário depois sobre o mensalão, nem Dilma nem Lula foram abalados com o resultado do julgamento. Ao contrário, a despeito das interpretações conflitantes sobre quem venceu as eleições, o PT foi o partido que mais obteve votos no primeiro turno.
Levantamento realizado pela Arko Advice indica que o PT foi a legenda que mais conquistou votos no primeiro turno das eleições municipais para prefeito em todo o país (16,8% do eleitorado nacional), seguida por PMDB (16,2%), PSDB (13,5%), PSB (8,4%), PSD (5,7%) e DEM (4,4%).
Qual a razão do descolamento entre a chamada “opinião pública” e o eleitorado? Por que, no final das contas, o PT não foi penalizado politicamente pelo julgamento do mensalão? Afinal, o eleitorado nacional tem uma ética, digamos, mais elástica do que a da imprensa?
Tenho algumas pistas. A primeira delas é o fato de que a imprensa escrita no Brasil é pouco relevante em termos numéricos. O impacto dos jornalões na realidade é pequeno. Sequer tiramos 7 milhões de exemplares de jornais por dia.
Em sua maioria, jornais de baixa qualidade editorial. Portanto, a cruzada jornalística em favor do justiçamento dos réus do mensalão não foi assimilada.
O segundo aspecto é que a informação é adquirida pela televisão, que é, predominantemente, de recreio. O noticiário, em que pese sua enorme audiência, é uma revista genérica que cola uma sequência de notícias variadas. Que vão, rapidamente, de acidentes de trânsito a atentados no Iraque, passando por inundações nos Estados Unidos, pela violência em alguma cidade brasileira e pela situação do comércio.
Não sendo palco de debates nem de formação de opinião crítica, o noticiário é tratado como “fast food” e consumido como tal.
O terceiro aspecto reside no fato de o brasileiro estar satisfeito com o Brasil e não desejar ser acordado desta situação por conta de ocorrências obscurecidas pelo passar dos tempos. Até mesmo porque o povo acha que, em se tratando de política, a possibilidade de haver alguma safadeza é grande, e isso não é nenhuma novidade.
Em se vivendo um momento ruim, o julgamento do mensalão poderia ser o detonador de expectativas trágicas para o governo e o PT no âmbito da política. Não é o caso. O meio ambiente social isolou o julgamento da maioria do eleitorado.
Para agravar as coisas, a noção acerca das instituições e de seus papéis é precária. Pesquisa indicou que apenas 4% dos brasileiros sabem para que serve o Supremo Tribunal Federal. Provavelmente, após o julgamento que transformou Joaquim Barbosa em herói nacional, o conhecimento sobre o que faz o STF vai aumentar. Um pouco.
Assim, fazer o exercício mental de que alguns fatos ocorridos há mais de sete anos, envolvendo políticos e vários partidos, agora vão ser julgados é muito cansativo. Em especial para um eleitorado não politizado, pouco interessado, precariamente informado e satisfeito com o cenário econômico.
Não faço um julgamento ético do comportamento do eleitorado diante dos episódios julgados no mensalão. Apenas constato um fenômeno que deveria levar a uma ampla reflexão sobre o que o brasileiro realmente quer do seu país.

Murillo de Aragão é cientista político

Barbosa, Lewandowski, a cana dura e o refresco


 











Relator e revisor do mensalão, Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski esbarraram com microfones nesta terça (13). O primeiro disse que os condenados a mais de oito anos, como José Dirceu, Delúbio Soares e Marcos Valério, não terão direito a “cela especial”. O segundodeclarou que os sentenciados a menos de oito anos, como José Genoino, podem migrar do regime semi-aberto para o aberto.
“A prisão especial é só para quem está cumprindo prisão provisória e não definitiva”, explicou Barbosa, referindo-se ao caráter conclusivo dos veredictos do STF, última instância do Judiciário. “Eu cansei de conceder habeas corpus para que pessoas cumpram o [regime] aberto porque [as colônias agrícolas] estão fechadas. A coisa mais difícil é ter vaga no semiaberto”, realçou Lewandowski.
Caberá a juízes federais ou estaduais definir onde os condenados cumprirão pena após a conclusão do julgamento. Para não desmoralizar o sistema, conviria ao magistrado que for incumbido de tratar do caso de Genoino encontrar uma “vaga” antes que Lewandowski ou outro ministro se anime a conceder um habeas cospus.
A presença de condenados ilustres nas cadeias brasileiras pode produzir dois efeitos benfazejos. Num, o Estado daria um alerta aos criminosos do poder. Noutro, os neodetentos estimulariam a melhoria de um sistema prisional que o próprio ministro da Justiça, o petista reconhece como inaceitável.

Incômodo supremo!











Charge do Aroeira, via O Dia.

As cadeias seriam outras se o doutor Cardozo fosse o ministro da Justiça de Dilma Rousseff


Uma das coisas que se poderiam esperar se José Eduardo Cardozo se ele tivesse sido nomeado ministro da Justiça seria a rápida inserção do drama carcerário na agenda do governo. A adoção de providências contra flagelos como a superlotação dos presídios e a prevalência das facções criminosas sobre o Estado talvez não compensassem do dia pra noite o descaso secular. Mas uma satisfação aos presos submetidos a violações diárias dos seus mais comezinhos direitos certamente estaria na agenda de prioridades de José Eduardo Cardozo se ele tivesse sido acomodado na pasta da Justiça.
Não é papel de repórter fazer sugestões a presidentes da República. Mas já que ninguém se habilita, por que não sugerir a Dilma Rousseff, uma ex-torturada, que aproveite a fase de ajustes ministeriais para levar à poltrona de titular da Justiça um novo ministro. Um nome emerge como opção natural: José Eduardo Cardozo. Não o Cardozo nomeado por Dilma há dois anos, mas o Cardozo que Nelson Rodrigues chamaria de “escocês”. Aquele Cardozo que há dois dias declarou a empresários que prefere morrer a passar uma temporada longa numa cadeia brasileira.
Esse Cardozo legítimo, advogado com canudo da USP, cultor de valores humanistas, muito respeitado entre os juristas, que se lançou na política, passou pela Assembléia Legislativa de São Paulo e ocupou uma cadeira de deputado federal pelo PT, esse Cardozo jamais trataria o orçamento da Justiça com a negligência do outro Cardozo. Se Dilma o tivesse nomeado, não permitiria que o dinheiro federal destinado às penitenciárias fosse subutilizado como reveladopelos repórteres Andreza Matais, Gustavo Patu e Fernanda Odila.
Dos R$ 312,4 milhões reservados no Orçamento da União de 2012 para a melhoria das condições carcerárias apenas R$ 63 milhões foram aplicados. O Cardozo legítimo seria algo de novo no Ministério da Justiça. Seria impensável imaginá-lo convivendo com assessores que consideram “comum e aceitável no setor público” gastar menos do que o previsto no já exíguo orçamento.
Com os R$ 250 milhões que permanecem entesourados, o Cardozo “escocês” teria construído oito xilindrós novinhos em folha se fosse ele o ministro. Sem superfaturamentos, cada unidade sairia a R$ 30 milhões. Não resolveria todo o problema, mas proveria calabouços decentes para os companheiros encrencados no julgamento do mensalão.
E o ministro José Antonio Dias Toffoli não precisaria passar pelo vexame de invocar o inquisidor Tomás Torquemada no plenário do STF para lamentar que condenados como o amigo e ex-chefe José Dirceu sejam enviados à “fogueira” pós-moderna dos presídios “medievais” do Brasil. Melhor: os ministros Gilmar Mendes e Celso de Mello não teriam razões para recordar que o Ministério da Justiça é parte do descalabro das cadeias.
Dilma precisa apressar-se. Do contrário, o doutor Cardozo, o autêntico, terminará concluindo que a repercussão do discurso que fez diante dos empresários desaconselha que aceite um convite para compor a Esplanada. Se demorar muito, quando a presidente resolver convidá-lo, Cardozo talvez responda que prefere morrer a assumir o (en)cargo de ministro da Justiça.

OBRA-PRIMA DO DIA - GRAVURA Albrecht Dürer: São Jerônimo em sua cela


Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa - 
15.11.2012
 | 12h00m

As chamadas meisterstiche (gravuras do mestre) são tema de muitas análises e debates. São elas O Cavaleiro, a Morte e o Diabo, São Jerônimo em sua cela e Melancolia I (da qual falaremos amanhã).
Apesar do artista não ter deixado nada escrito sobre seu desejo de que as três gravuras formassem uma série, o que ele fez com muitas outras obras, elas datam de uma época quando ele parou de pintar e de criar xilogravuras para se dedicar apenas às gravuras em metal. Mais importante que tudo é a extrema complexidade intelectual dos temas dessas gravuras.
São quase idênticas em tamanho e em todas há um crânio, um cão e uma ampulheta. Nenhuma gravita em torno de uma narrativa bíblica ou de qualquer outra obra especificamente. E as três nos oferecem um festival de símbolos e detalhes surpreendentes que estimulam debates.
Há 500 anos que são discutidas e analisadas. Há quem diga que elas representam os três tipos de vidas virtuosas: ativa, contemplativa e intelectual. O Cavaleiro que mostramos na terça-feira é geralmente apresentado como o da vida ativa, pois parte para as Cruzadas enfrentando os perigos desse mundo.
São Jerônimo em sua cela é o exemplo da vida contemplativa, e mostra o grande pilar da Igreja e tradutor da Bíblia para o latim trabalhando em sua cela. Durer dá mais atenção à cela que ao santo, ao contrário de outras obras que fez com São Jerônimo como tema.


São Jerônimo, com um halo de luz sobre a cabeça, está em um degrau mais elevado do que o observador, que somos nós a visitar sua cela. Aos pés do santo, o leão, imponente figura de guardião e de humildade diante do santo que no deserto lhe tirou um espinho da pata. Objetos espalhados pela cena, como livros, uma cômoda, um par de tesouras, falam do estudioso; o chapéu de cardeal faz referência à possibilidade dele vir a ser eleito papa e há os que afirmam que também é como outro halo a indicar sua santidade (reparem que a ampulheta está pendurada ao lado do chapéu).
A luz que filtra pelas janelas, o chiaroscuro dificílimo de conseguir, os detalhes humanos como as chinelas do santo abaixo da banqueta sob a janela, sua expressão de devoção ao que faz, cada um desses detalhes ou tudo junto, não sei bem, o que sei é que essa gravura me emociona, 
Mas o mais curioso, certamente o mais estranho, é o porongueiro (ou cabaceira) que pende das traves do teto. Essa trepadeira originária da África está ali como referência a um famoso debate entre São Jerônimo e Santo Agostinho sobre a tradução da palavrakikayon, que no Antigo Testamento descreve a vinha que Deus criou para proteger Jonas quando a baleia o regurgitou.
Isso simboliza o fato de São Jerônimo ser um erudito, mais ainda que o velho homem dedicado ao trabalho, debruçado sobre o que escreve. 

O monograma de Dürer e a data estão numa placa no chão.

Gravura, 1514, 24.6 x 18.9 – Metropolitan Museum of Art Fontes: A vida e arte de Albrecht, Dürer, de E. Panofsky

Argentina apresenta polêmico plano para mudar mercado da mídia


Marcia Carmo
Atualizado em  14 de novembro, 2012 - 20:33 (Brasília) 22:33 GMT

Cristina Kirchner / AFP
Lei do Audiovisual vai passar a vigorar a partir de 7 de dezembro
O governo argentino apresentou nesta quarta-feira o polêmico projeto para mudar o mercado da mídia no país. Voltada para os setores de rádio e de televisão, a lei, que entra em vigor no próximo dia 7 de dezembro, determina que as empresas que não limitarem suas operações "voluntariamente" à fatia de mercado fixada pela nova norma terão suas licenças leiloadas e licitadas pela administração central.
As informações foram dadas pelo presidente da Autoridade Federal de Serviços de Comunicação Audiovisual (Afsca), Martín Sabbatella. O objetivo, segundo ele, é evitar a formação de "gigantes" no setor de comunicação social no país.
Sabbatella explicou que o Estado "agirá" definindo as empresas que caberão a cada grupo empresarial que não limitar seus negócios até o próximo dia 7 de dezembro (batizado de 7D pela imprensa local).No entanto, para muitos analistas, a iniciativa do governo argentino é uma tentativa de "calar a oposição", especialmente o Grupo Clarín, um dos maiores críticos da administração de Cristina Kirchner.
"Até o dia 7 de dezembro será o titular do grupo empresarial quem vai decidir as empresas que serão transferidas ou colocadas à venda. Depois desse prazo, vamos abrir um processo para a taxação (das licenças) no Tribunal Nacional de Taxação", disse.
"Obviamente que não queremos prejudicar ninguém e por isso vamos escolher as licenças de maior rendimento econômico para que fiquem com seus donos originais e vamos licitar as demais", acrescentou.
Ele disse que as licitações incluirão "os bens" das empresas que o Estado escolherá para serem licitados.
"Os grupos de mídia têm até o dia 7 para apresentar (à Afsca) seus planos de adaptação à lei. Os que não o fizerem, teremos de agir para que a lei seja cumprida", disse.
Sabbatella afirmou ainda que o dinheiro arrecadado com a liquidação das empresas será depositado na conta dos que passarão a ser antigos proprietários das companhias.
"Até o dia 7 de dezembro será o titular do grupo empresarial quem vai decidir as empresas que serão transferidas ou colocadas à venda. Depois desse prazo, vamos abrir um processo para a taxação (das licenças) no Tribunal Nacional de Taxação."
Martín Sabbatella, presidente da Autoridade Federal de Serviços de Comunicação Audiovisual (Afsca)
"Os meios de comunicação que irão à licitação terão um preço mínimo e vamos deixar com os donos (originais) os bens de maior valor ou de valor simbólico. Queremos causar o menor prejuízo possível (aos donos)", explicou.

Empregos

Quando perguntado sobre os postos de trabalho das empresas que serão licitadas, Sabbatella respondeu que conversou com os sindicatos dos trabalhadores do setor para "que estejam atentos para garantir a continuidade" dos empregos.
Ele também afirmou que a empresa deverá ser responsável pelo pagamento dos salários, entre outras obrigações trabalhistas, até que o negócio seja totalmente transferido para o novo dono.
Sabbatella disse, ainda, que a lei estabelece, por exemplo, que nenhum grupo pode ter mais que três licenças em uma mesma cidade. "O Grupo Clarín supera esta cota em 37 cidades", afirmou.
Já o Grupo Uno, disse, tem mais de três sinais em sete cidades.
Com um mapa dos principais meios de comunicação ao fundo, Sabbatella afirmou que a lei estabelece, por exemplo, até 35% de clientes ou população alcançada para o setor de televisão a cabo ou televisão aberta. Os que superam esta margem, como o Clarín, disse devem "se adaptar" à regra.
Segundo ele, o grupo Clarín seria o "único" que "não aceita a lei" e que "não apresentará plano de adaptação" à norma.
Em uma entrevista recente a correspondentes estrangeiros, a direção do Grupo Clarín afirmou que dois artigos da lei, questionados pela empresa, estariam suspensos na Justiça e que, para juristas, "nada aconteceria com a empresa" no dia 7 de dezembro.
Clarín / Reuters
Grupo Clarín seria o mais afetado pela nova lei
Para o deputado opositor Ricardo Alfonsín, da UCR, a expectativa era de que, ao final do prazo, a Suprema Corte de Justiça se “pronunciasse sobre os dois artigos questionados pelo Clarín e não que a lei já entrasse em vigor”.
Além do Grupo Clarín, Sabbatella disse que outros conglomerados também deverão apresentar planos de adaptação à lei tanto nas áreas de licenças e alcances de rádio e de televisão, de sinal aberto ou a cabo.
Ele acrescentou que no caso de grupos que transmitem sinais de televisão através de satélites, o controle deverá ser pela fatia de mercado.
Quando perguntado sobre situação de empresas de capital estrangeiro que com uma licença chegam a mais localidades do que o permitido pela lei, Sabbatella respondeu: "É uma questão técnica e não teremos como controlar isso. Mas uma empresa de satélite de televisão não poderá ter outro negócio, como determina a lei", disse.

Conhecido no caso dos dólares na cueca, José Guimarães será líder do PT


Irmão de Genoino assume vaga de Jilmar Tatto, que participará da administração de Haddad



Irmão de Genoino, Guimarães ficará com liderança do PT
Foto: Agência O Globo / Ailton de Freitas
Irmão de Genoino, Guimarães ficará com liderança do PTAGÊNCIA O GLOBO / AILTON DE FREITAS
SÃO PAULO E BRASÍLIA — O prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad, cedeu nesta quarta-feira às pressões do PT e entregou para o partido duas pastas de orçamento robusto. Anunciou que o ex-tesoureiro da campanha eleitoral de Dilma Rousseff, o deputado federal José de Filippi, assumirá a Saúde e o atual líder do PT na Câmara dos Deputados, Jilmar Tatto (SP), ficará à frente dos Transportes.
As indicações foram costuradas na terça-feira, em encontro de Haddad com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com a indicação de Tatto, poderá ser antecipada a posse de José Guimarães (PT-CE) como novo líder do partido na Câmara. Ele é irmão de José Genoino, ex-presidente do PT, condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a seis anos de 11 meses de reclusão, no julgamento do mensalão. No auge do escândalo, em 2005, um assessor de Guimarães foi preso num aeroporto em São Paulo com dólares na cueca.
Guimarães já seria líder pelo rodízio
Guimarães disse nesta quarta-feira que está pronto para assumir o cargo em fevereiro, mês previsto para a troca na liderança, mas que, se preciso, assumirá antes. Atual vice-líder do PT na Câmara, Guimarães (CE) afirmou que assume a liderança dentro do esquema de rodízio estabelecido há anos pelo PT. Perguntado se a situação do irmão poderia reverter sua indicação, ele disse que não:
— O certo é eu assumir em 1º de fevereiro. Mas estou pronto para qualquer momento. E isso (a condenação de Genoino) não tem nada a ver.
No dia da decisão do Supremo, Guimarães defendeu o irmão, afirmando que toda a família, em especial a mãe de 88 anos, estava indignada com a decisão do STF.
A bancada deverá ainda decidir se antecipa a posse de Guimarães ou se outro deputado ocupará a vaga de líder interinamente. O mandato de líder da bancada é de um ano — de fevereiro de um ano a fevereiro do outro.
Para assumir a vaga de secretário de Transportes de São Paulo, Tatto deverá se licenciar do cargo de deputado, assim como José de Filippi. De acordo com a ordem de suplência, devem assumir no lugar dos dois os deputados Iara Bernardi (terceira suplente) e Hélcio Antonio da Silva (quarto suplente). O primeiro suplente, Vanderlei Siraque, já está exercendo o mandato e o segundo, o próprio Genoino, deverá assumir, com a renúncia do deputado Carlinhos Almeida (PT-SP), eleito prefeito de São José dos Campos (SP).
O PT vinha cobrando de Haddad, desde o início deste mês, postos-chave na administração municipal. No início, Haddad se mostrou propenso a não seguir indicações políticas. Para Finanças e Planejamento, por exemplo, preferiu fazer indicações mais técnicas. Em Transportes, também estudava um técnico para a área, mas foi aconselhado por dirigentes do PT a entregar a secretaria para Tatto.
Tatto foi secretário de Transportes na gestão de Marta Suplicy (2001-2004) e abriu mão da pré-candidatura de prefeito, na disputa deste ano, em favor de Haddad. A pasta de Transportes era reivindicada pelo PP, de Paulo Maluf, que agora, segundo líderes petistas, deve aumentar a pressão pela pasta da Habitação. Na semana passada, após encontro com o secretário-geral do PP, Jesse Ribeiro, o presidente municipal do PT, Antonio Donato, garantiu que a sigla terá um cargo de primeiro escalão na prefeitura. Nesta semana, Haddad se reuniu com o ministro Aguinaldo Ribeiro (Cidades), do PP, para discutir o espaço da sigla na prefeitura de São Paulo.
— As escolhas são minhas. Eu aceito sugestões, mas a decisão final é minha — disse nesta quarta-feira Haddad.

Abominável Mundo Novo



Carlos Chagas
A gente é acordado e levanta da cama por conta de um desses irritantes relógios de cabeceira que ignoram nossas variáveis horas de sono, ficam apitando e, sem que tenhamos manifestado nossa opinião, interligam-se com um programa de rádio ou de televisão, daqueles que nesta manhã não nos interessam. Pouco importa a essa máquinas diabólicas se tivemos insônia ou não, durante a noite, e se gostaríamos de ficar mais quinze minutos deitados. Muito menos se o governo nos impôs esse abominável horário de verão que nos rouba uma hora de sono pela manhã e nos obriga a rolar por igual tempo na cama, de noite.
A parafernália da máquina de fazer café emite sinais os mais variados, solta fumaça e, se não estivermos diante dela no momento certo, servirá bebida fria ou pelando. Ao abrir a geladeira para pegar um mamão, é bom não esquecer a porta aberta por mais de um minuto, senão ela começa a imitar a radio-patrulha, com detestáveis e intermináveis bips. Partindo do princípio de que preferimos banho frio, deixamos de ligar o chuveiro elétrico, mas, se precisarmos ligar, cuidado: ele fatalmente fará cair o disjuntor e cortar a eletricidade da casa.
Na hora de sair, será preciso apertar mil teclas em código para acionar o alarme, mas não há um dia na semana em que, errando o dedo indicador, não recebamos um aviso da empresa de segurança sobre já estarem vindo gorilas para enfrentar um ladrão inexistente.
Na garagem, é um horror. Primeiro, a maquininha que abre o portão automático, sempre em desacordo com nossas intenções, ávida por emperrar a grade e levar-nos à chave manual. No veículo, um vestibular inteiro de cibernética: a tecla que abre a porta, aquela que liga o motor, a que baixa o vidro e a que liga o ar refrigerado, todas funcionando apenas se estiverem de bom humor. O rádio, Deus nos livre. Jamais acertamos a emissora das notícias, agredidos com mil botões que tocam música caipira e anunciam produtos que, de raiva, jamais compraremos.
No caminho para o trabalho, começa a luta entre mocinhos e bandidos. Onde estarão , hoje, os pardaizinhos camuflados que nos obrigam a trafegar a cinquenta quilômetros por hora, com a opção de multas de duzentos reais a cada poste? O trânsito é um horror, mesmo se não choveu. Duas horas no engarrafamento para ouvir de um funcionário paranóico a inexistência de vagas que pagamos mensalmente.
No escritório, as mil chaves para abrir a porta que qualquer meliante terá aberto antes. Há que ligar o computador, mesmo velho, e tem início as estações do calvário. O motor escondido no chão, as teclas de ligação, as de ingresso da Internet e, se não tiver havido um desarranjo que apagou a memória e mudou o tipo das letras, seguir-se-á a inglória luta para abrir os e-mails enviados durante a noite.
Anúncios aos montes, de miraculosos produtos para evitar a ejaculação precoce, para performances sexuais dignas do Casanova, para assinar tais ou quais jornais e para manter encontros com maravilhosas garotas de programa que, se acionarmos a tecla para apreciar suas fotografias, mostrarão aos remetentes o número de nossas senhas e de nossas contas bancárias.
Se precisarmos tirar algum dinheiro do banco, ou fazer transferências, uma débâcle completa. No fim, verificaremos não haver saldo, em meio a mil taxas de serviços que pagamos por depositar nosso dinheiro nos bancos, aqueles que tempos atrás pagavam juros pelos depósitos e ainda distribuíam cadernetas.
Intervalo para o almoço, que precisamos deglutir na própria mesa de trabalho. Se pedirmos, via Internet, um sanduíche de ovo frito sem bacon, a certeza é de que virá um misto quente com bacon e sem ovo frito.
Haverá que escrever, no caso dos jornalistas, o artigo diário para os assinantes, mas as agências encarregadas de distribuí-los fatalmente avisarão haver recebido versículos da Bíblia ou contos eróticos do Marquês de Sade.
Nesse meio tempo tocou mil vezes a mais diabólica das maquininhas inventadas pela humanidade, o telefone celular. “Quem fala, é o Carlos? Aqui é a Margarida. Você não gostaria de trocar de provedor?” Não adianta dizer que estamos no trânsito ou ocupados com uma gravação, porque a malsinada interlocutora ligará de novo perguntando se chegamos bem ou se gravamos um comentário criticando o governo. O celular tira fotografias que não queremos tirar, calcula a distância entre a Terra e a Lua, avisa haver recebido recados de assinantes desconhecidos e quando queremos avisar alguém da família que chegaremos atrasados para o jantar, desliga automaticamente e se apresenta fora do ar.
O tempo passa, recebemos pelo correio eletrônico montes de propaganda inócua. Pedidos para ingressarmos na ONG que tenta salvar as barbas do camarão do Mar Vermelho e a memória de Ramsés II. Como descobriram nosso endereço é um mistério, mas fica pior quando os próprios entram em nosso computador ou em nosso celular para indagar se vamos à festa do centenário da descoberta dos besouros que não voam ou da quermesse para a recuperação dos gatos cegos.
Se precisarmos sair para uma entrevista ou conversa com alguma autoridade, é o fim do mundo. Exigem, no Congresso, nas sedes dos partidos ou em algum ministério identificações, cartões de identidade, declarações de fidelidade a este ou aquele potentado, gravata, meias pretas e provas de que votamos no candidato preferido do nosso interlocutor.
Depois, a volta para casa. Na caixa do correio, notificações do Imposto de Renda para apresentarmos no mês passado os recibos de despesas médicas da década de oitenta. Exigências da Previdência Social para comprovarmos haver trabalhado 40 anos nesta ou naquela empresa, apesar das evidências impressas em arquivos que a gente cultiva, não sei se por egoísmo, vaidade ou maldade. Também deixaremos de continuar a receber miseráveis aposentadorias, caso velhos recibos tenham sido jogados fora. Além de convites aos montes para a inauguração de novos centros comerciais, exposições de artistas desconhecidos e fabulosas chances de enriquecer depositando mensalidades a preços módicos.
O elevador não funciona, há que subir oito andares. Depois, o médico se queixa de que não fazemos exercício. A chave não entra na fechadura. As teclas do dispositivo anti-ladrão confundem-nos com o próprio, voltam a apitar e precisamos provar aos seguranças que somos os proprietários. O lanche deixado pela empregada no forno de micro-ondas queimou, ela esqueceu de desligá-lo. No dia seguinte, começará tudo de novo.
Por conta desse abominável mundo novo, percebemos porque Sócrates, Platão e Aristóteles brilharam tanto na busca do conhecimento e da sabedoria. Tinham muito tempo para pensar…