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domingo, 5 de janeiro de 2014
A METAMORFOSE KAFKIANA EM NOSSAS VIDAS
PUBLICADO EM RECORTES POR JEFERSON CORRÊA // 31 DEZ 2013
Gregor Samsa metamorfoseado
"Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso.“ E assim começa um dos mais memoráveis livros da literatura mundial:” A metamorfose” ( Die Verwandlung em alemão) de Franz Kafka, publicado pela primeira vez em 1915.
E o que a ideia de ”A metamorfose” pode ensinar sobre nós mesmos? Muito mais do que se possa imaginar. E mesmo para quem nunca leu o livro, pode-se com esta análise assimilar algo para nossas vidas. Há muitas metáforas que podemos encontrar para refletir no cotidiano como comportamentos, sentimentos, atitudes e opiniões que podem ser extraídas mesmo sem o conhecimento da obra, mesmo que conheça-se apenas o básico. Kafka fala de mudanças e de como encarar o absurdo que é a existência, tanto que "Kafkiano" tornou-se um adjetivo para algo absurdo, surreal.
Em nossa sociedade obcecada por aparência, principalmente pela beleza midiática e padronizada, quem de nós gostaria de certo dia, de uma certa manhã monótona qualquer acordar totalmente diferente, com uma aparência monstruosa? Quem em sã consciência não teria medo de encarar as pessoas e o mundo? Quantos de nós nos preocupamos tanto com a aparência refletida no espelho a ponto de acreditarmos ser somente o que o espelho e os olhos dos outros refletem?
Da infância a adolescência, muitos se sentem deslocados, desajustados com as subdivisões da sociedade, parecemos medíocres aos olhos alheios, nossos sonhos parecem tão distantes de se realizar em comparação daqueles que estão conseguindo. Descobrimos que nossas ideologias e crenças podem ser falhas, que os problemas do mundo parecem pesar em nossas costas e nos sentimos feios por dentro e por fora. Precisamos mudar. Nesta época de metamorfoses é que formamos nosso caráter e nos tornamos aquilo que possivelmente seremos quando adultos com toda bagagem adquirida. A todo tempo mudamos, enganam-se aqueles que acham que só existe mudanças bruscas. E essas mudanças constantes só se encerram com nossa morte.
Quando chegamos a fase adulta, encaramos novos problemas da infância e da adolescência com uma carga de dificuldade maior. O peso do mundo ainda parece estar sobre nossas costas e nossa aparência continua ainda sendo uma das importantes questões a lidar. Como encarar os outros se não encaramos a nós mesmos? A cada dia que vivemos, nossa “carapaça humana” muda sua forma e seus pensamentos, e encaramos a realidade de forma diferente do dia anterior. Nada se repete. Todos os dias algo — mesmo que minucioso e imperceptível pra maioria— muda e acontece. Acordamos diferentes, metamorfoseados e temos que enfrentar quaisquer situações por mais absurdas que sejam porque a vida é imprevisível e muitas vezes tão surreal quanto o livro de Kafka ou uma pintura de Salvador Dali.
E como estar preparado para a metamorfose? A resposta mais sincera é: nunca se está totalmente preparado para nenhuma situação. Assim como Gregor Samsa não estava preparado e sofreu pelas consequências de sua transformação em inseto. Muitas vezes algo simplesmente acontece sem que saibamos seu motivo. Nascemos na escuridão do útero caminhando para a luz da vida. E desse momento de nascimento até o fim da vida várias situações ocorrerão neste interlúdio, onde surgirão erros assim como muitos aprendizados. Sempre há insegurança, cobranças, dúvidas e medo dos outros e, principalmente de nós mesmos. Resta-nos ao abrir nossos olhos em cada manhã intranquila arriscar todos os dias, adaptar-nos às adversidades da vida e evoluir de todas as possíveis maneiras. Ser resiliente. Não ter medo da mudança porque querendo ou não, demore o tempo que for, ela virá aos poucos até tornar-se parte integral da realidade. Se analisarmos a vida perceberemos que não mudamos, nós somos a mudança. Existir é transformar e (se) mover. Somos todos uma metamorfose.
Imagem do fotógrafo Taylor James
Têm culpa os nervosinhos?
Posted: 04 Jan 2014 04:24 AM PST
Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net
Só um povo ignorante e sem vergonha na cara consegue suportar que um ministro da Fazenda, com a qualidade de um Guido Mantega, conceda uma entrevista coletiva para comemorar que o Brasil conseguiu, novamente, fazer “superávit primário” (deixar de investir para desviar dinheiro público apenas para pagar juros de dívidas que só crescem). O governo se perde na marketagem propagandística...
Mais patético que isso foi ver Mantega, em tom debochado, alegar que resolveu antecipar o anúncio do pretenso superavit, com um mês de antecedência, para abaixar a ansiedade e para acalmar “os nervosinhos”. Mantega comemorou um resultado fiscal maquiado de R$ 75 bilhões em 2013. Além de não ter economizado nada, o desgoverno, na verdade, deixou de investir no que deveria.
O número é resultado de uma armação contábil e de circunstâncias atípicas. Dele fazem parte R$ 15 bilhões recebidos pelo “leilão” do campo petrolífero de Libra e mais R$ 20 bilhões vindos do programa de parcelamento de dívidas tributárias. Estes R$ 35 bilhões não vão se repetir em 2014. E o governo, além de não ter novas receitas, ainda cria e aumenta cada vez mais despesas correntes. No ano reeleitoral, deve torrar ainda mais dinheiro.
O gestor Mantega é um desastre. O comunicador Mantega consegue ser ainda pior. Ele pode falar o que quiser, mas não conseguirá acalmar ninguém. O desgoverno petralha – centrado em gastança, corrupção e falta de projeto nacional – conduz o Brasil à vanguarda do atraso. O País não tem bússola. Não se sabe para onde vai. O Brasil ignora uma palavra fundamental para ser uma nação desenvolvida: infraestrutura – em todos os seus aspectos. Com a carga tributária em vigor e com juros extorsivos – e sem previsão de mudar -, só maluco ou burro vai investir aqui – onde a corrupção também rouba, sistemicamente, o dinheiro investido.
Exemplo concreto de cagada? Dilma e Mantega faliram a Petrobras. Como os dois podem explicar sua atuação, como presidentes do Conselho de Administração de uma empresa que hoje vale 50% menos do que valia em 2008? Tecnicamente falando, na avaliação do mercado, a maior estatal de economia mista brasileira foi falida pelo desgoverno Lula-Dilma. Será que o plano deles é quebrar a empresa para vendê-la, na bacia das almas, para aqueles que sempre controlaram, historicamente, o Brasil?
O Capimunismo brasileiro é um modelo falido. Um Estado interventor, desperdiçador de recursos e que não investe nas coisas certas, com um discurso de bem estar socializante-comunizante, só vai perpetuar nosso atraso educacional, científico-tecnológico, estrutural e, no final das contas, civilizatório. É inviável um País que prioriza a vagabundagem, pela via da distribuição de bolsas e incentivos governamentais, em vez de dar condições para a produção.
O Brasil caminha, perigosamente, na contramão do mundo. Vamos quebrar ou, com o potencial que temos, no mínimo, vamos sobreviver como de costume, segundo o modelo de uma rica colônia de exploração mantida artificialmente na miséria. Um lugar sem projeto de nação, sem educação, infraestrutura e forças armadas realmente operacionais nunca vai de desenvolver e nem ser soberano.
Nessa toada, a ironia de Roberto Campos tem tudo para se concretizar. O Brasil é um país condenado a não dar certo. E se a petralhada continuar no poder, vamos dar mais errado ainda.
PS – A onda de calor aumenta o consumo de energia. A turma aciona ventiladores e aparelhos de ar condicionados. O Rio de Janeiro, onde a temperatura é infernal, já sofre com cortes de luz. O mesmo acontece em grandes capitais. O País da Copa de 2014 começa a ficar parecido com a Argentina? O assunto já é destaque nas redes sociais.... A FIFA vai se arrepender de fazer seu torneio por aqui? Façam suas apostas... E não fiquem nervosinhos, para não dar razão ao cinismo do Mantega.
Vem coisa...
Vida que segue... Ave atque Vale! Fiquem com Deus. Feliz 2014!
O Alerta Total tem a missão de praticar um Jornalismo Independente, analítico e provocador de novos valores humanos, pela análise política e estratégica, com conhecimento criativo, informação fidedigna e verdade objetiva. Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor. Editor-chefe do blog Alerta Total: www.alertatotal.net. Especialista em Política, Economia, Administração Pública e Assuntos Estratégicos.
A transcrição ou copia dos textos publicados neste blog é livre. Em nome da ética democrática, solicitamos que a origem e a data original da publicação sejam identificadas. Nada custa um aviso sobre a livre publicação, para nosso simples conhecimento.
© Jorge Serrão. Edição do Blog Alerta Total de 4 de Janeiro de 2014.
© Jorge Serrão. Edição do Blog Alerta Total de 4 de Janeiro de 2014.
A SOLUÇÃO É TUNGAR O CIDADÃO - Percival Puggina
Esta manhã do dia 1º de janeiro de 2014 nos traz a notícia de que o Brasil fechou o ano com o impostômetro da Associação Comercial de São Paulo marcando R$ 1,7 trilhões pagos pelos brasileiros, em impostos, ao longo de 2013. Neste momento, transcorridas poucas horas do novo calendário, ele já está contabilizando uma arrecadação de R$ 3,6 bilhões. Só isso já seria uma péssima notícia. No entanto, sabemos todos: por mais que se pague imposto, sempre falta dinheiro às prefeituras, aos estados e à União. E a solução é tungar o cidadão.
Nos últimos dias, repetiu-se a fórmula desonesta, tramposa, velhaca pela qual a receita do imposto sobre a renda e o salário de quem trabalha pode ser permanentemente aumentada sem necessidade de mexer nas alíquotas. O governo federal anunciou a correção da tabela de incidência do IR em percentual inferior ao da inflação confessada pelos medidores oficiais. Na mesma batida, a autoridade fiscal federal anunciou um aumento de seis pontos percentuais na alíquota do IOF aplicado sobre saques em moeda estrangeira no exterior. A troco de quê? Para equalizar com o valor já vigente para as compras com cartão de crédito, ora essa. Em vez de pagarmos 0,38% passaremos a pagar 6,38%. Fica-se com a impressão de que o governo "fez justiça" - porque era injusto que uma operação pagasse menos imposto do que a outra. No entanto, como bom punguista, o governo apenas arrumou um outro bolso para enfiar a mão.
O resultado é que, ano após ano, sob os olhos do Poder Judiciário e do Congresso Nacional, sem ninguém que nos defenda, estamos pagando mais tributo sobre a mesma renda e mais tributo sobre os mesmos bens e serviços. É a infeliz lei da nossa vida: os fatores determinantes da carga tributária nacional - gastança, privilégios, corrupção e incompetência - exigem que o poder público se dedique a tungar os cidadãos.
Nossos tímpanos calejaram de escutar que o país vive sob um sistema econômico iníquo, que gera aberrantes desníveis de renda e concentração de riqueza. Tão repetida cantilena tem sido música ambiental para a troca de afeto e carícias entre o populismo e o esquerdismo, e não faltam devotos do Estado para apadrinharem esse casamento que promete gerar igualdade, justiça e prosperidade. De nada vale os fatos berrarem pela janela que isso é loucura. Se ouvissem a voz dos fatos compreenderiam que estão pretendendo resolver um problema através da reprodução de suas causas.
O efeito da repetição é tão eficiente que quem escreve o que acabei de escrever passa a ser malvisto. De nada vale dizer que o problema do Brasil está no sistema político e não no sistema econômico. De nada vale afirmar que não há concentração de renda maior do que aquela promovida por um aparelho estatal que fica com 40% de tudo que a nação produz! De nada vale informar que tão brutal, perversa e inútil captação de recursos para custear a rapina aos cofres do Estado só faz travar o desenvolvimento do país.
Mais ganancioso e perverso, só traficante. Mas a repetição dos chavões contra o setor privado produz a cegueira política sem a qual ninguém se deixaria conduzir pelo nariz para o abismo, crente de que, graças ao Estado, os pobres estão, mesmo, comendo filé mignon.
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* Percival Puggina (69) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, membro do grupo Pensar+.
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HOUVE UM TEMPO - Percival Puggina
Verdade que era um Brasil ainda muito rural. Metade da população vivia no campo. A elite nacional tinha menos "celebridades", menores quadros e cultura superior. Havia apenas quatro brasileiros para cada dez de hoje. As capitais estaduais compunham razoáveis espaços de convivência. A tevê recém surgia e o processo de formação da cultura e das opiniões passava principalmente pela Educação, pela transmissão oral e pela leitura. O mundo acadêmico era de acesso mais restrito e assim, com menos gente, a qualidade ganhava densidade. O país ainda não fora infestado pelas pragas do relativismo moral e das drogas, e os pais zelavam pela formação do caráter dos filhos. Os religiosos tinham plena consciência de sua função no mundo. Tudo isso é verdade. Era um tempo em que não se metia a mão nos recursos públicos para uso e fins privados com a facilidade proporcionada nestes nossos dias.
Leio, escandalizado, as notícias que chegam da Corte ao cair a primeira chuva de 2014. O destaque é dado ao uso e abuso na utilização dos jatinhos da FAB pelos ministros da nossa desatenta e estabanada "gerentona". Nos últimos seis meses de 2013, um pequeno grupo de 40 pessoas, com cargo ou hierarquia equivalente à de ministros de Estado, realizaram mais de 1,4 mil voos nessas custosas aeronaves supostamente adquiridas para atender demandas da segurança nacional. Todos os voos, informam os requisitantes, são realizados a serviço de suas pastas. Arre gente com serviço externo, que não esquenta cadeira no ministério! José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, por exemplo, realizou 80 dessas viagens em 180 dias e entra para o Guiness Book. Solicita avião a jato com a mesma sem cerimônia que a gente acena para a lotação ou chama o taxi. Imagino o desagrado com que oficiais da FAB assumem o papel de mordomos das regalias aeronáuticas brasilienses. Por outro lado, a revoada dos ministros de Dilma evidencia um admirável amor ao torrão natal. Seus ministros parecem ter muito a fazer em casa e pouco em Brasília e no resto do país. Voam tais quais pássaros, sem pagar passagem nem combustível, mas reconheça-se, são generosos. Fornecem carona como se fossem caminhoneiros da Força Aérea, transportando amigos e companheiros. Bem sei o quanto são desconfortáveis nossos aeroportos e aeronaves. Mas as coisas andariam melhores também nisso, se os figurões da República enfrentassem como o populacho a dura realidade dos voos domésticos brasileiros.
Então, como eu dizia, houve um tempo em que as coisas não eram assim. Ministros e secretários de Estado viajavam em estradas de pó e barro, nas "carroças" definidas como tais por Collor de Mello. Hospedavam-se em casas de amigos. A verba era curta para todos e as diárias não cobriam as despesas. O governador Peracchi Barcellos, que usava um velho Aero Willys quando já circulavam nas ruas os veículos mais luxuosos da época, os cobiçados Ford Galaxie, demitiu um membro do governo que lhe pediu autorização para adquirir um deles. Era diferente a mentalidade dos governantes daquele tempo, como demonstra a conhecida recusa do presidente João Figueiredo quando outro João, o Havelange, lhe propôs realizar uma Copa do Mundo no Brasil: "Você conhece uma favela do Rio? Você já viu a seca do Nordeste? Você acha que eu vou gastar dinheiro em estádio de futebol?"
O país mudou. E em vários sentidos não mudou para melhor. O povo até gosta dessas ostentações (quem muito gasta, supostamente muito pode dar). Mas a revoada de jatinhos da FAB levando ministros para lá e para cá bem que podia, ao menos, se expressar em qualidade de gestão, em rigorosa fiscalização dos demais gastos, em menos corrupção e menor uso de recursos públicos com finalidade estritamente pessoal, política e eleitoral. Ganhar eleição assim, não tem graça. Nem mérito.
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* Percival Puggina (69) é arquiteto, empresário, escritor, titular do sitewww.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, membro do grupo Pensar+.
JOAQUIM BARBOSA VAI SE APOSENTAR, LEWANDOWSKI ASSUMIRÁ O CONTROLE DO PROCESSO DO MENSALÃO DO PT, FARÁ A REVISÃO PROCESSUAL E LIVRARÁ OS MENSALEIROS PETISTAS
sábado, 4 de janeiro de 2014
O jornalista Carlos Chagas, em sua coluna na versão digital do jornal Tribunal de Imprensa, denuncia que já está em curso a desmontagem do processo do Mensalão do PT no Supremo Tribunal Federal. Ele diz que o ministro Ricardo Lewandowski assumirá a presidência da Corte e comandará a revisão do julgamento do processo do Mensalão do PT, e irá absolver os mensaleiros do PT. Sob o título "A luz que se apaga e a escuridão que se aproxima", o jornalista Carlos Chagas avisa que amigos seus, próximos ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, informam: ele pedirá aposentadoria antes de ser sucedido, em abril do próximo ano, pelo ministro Ricardo Lewandowski, na direção maior do STF. Motivo: o desmonte do Mensalão do PT, que começará logo depois da mudança na presidência da mais alta corte nacional de Justiça. "Como? Através de manobra já engendrada pelo PT e pelos advogados dos mensaleiros, com a aquiescência de Lewadowski, que permitirá a revisão dos processos onde foram condenados 25 implicados num dos maiores escândalos da história da República. Estaria tudo coordenado, apenas aguardando a mudança da guarda. Apesar de a revisão de processos constituir-se em exceção na vida dos tribunais, pois acontece apenas com o surgimento de fatos novos no histórico das condenações, já estariam em fase de elaboração os recursos de quase todos os hoje condenados, a cargo de advogados regiamente remunerados, junto com outros ideologicamente afinados com o poder reinante. Nada aconteceria à margem de discussões e entreveros jurídicos, mas a conspiração atinge a composição atual do Supremo Tribunal Federal. E a futura, também. O término do mandato de Joaquim Barbosa na presidência da Corte Suprema marcaria a abertura das comportas para a libertação dos criminosos postos atrás das grades e daqueles que se encaminham para lá. Joaquim Barbosa não estaria disposto a assistir tamanha reviravolta, muito menos a ser voto vencido diante dela. Assim, prepara seu desembarque. Pelo que se ouve, não haverá hipótese de mudar a decisão já tomada, mesmo ignorando-se se aceitará ou não transmudar-se para a política e aceitar algum convite para candidatar-se às eleições de outubro. Tem até abril para decidir, apesar das múltiplas sondagens recebidas de diversos partidos para disputar a presidência da República. A informação mostra como são efêmeros os caminhos da vida pública. Até agora vencedor inconteste na luta contra a corrupção, reconhecido nacionalmente, Joaquim Barbosa pressente a curva no caminho, não propriamente dele, mas dos mesmos de sempre, aqueles que conseguem fazer prevalecer a impunidade sempre que não se trata de punir ladrões de galinha. Afinal, alguns meses de cadeia podem machucar, mas se logo depois forem revogados através de revisões patrocinadas pelas estruturas jurídicas postas a serviço das elites, terão passado como simples pesadelos desfeitos ao amanhecer. Não faltarão vozes para transformar bandidos em heróis. A reação do ainda presidente do Supremo de aposentar-se ficará como mais um protesto da luz que se apaga contra a escuridão que se aproxima".
Transparência - Banco do Brasil paga por festa de aniversário de 50 anos do presidente
A confraternização de fim de ano da diretoria executiva do Banco do Brasil foi realizada na luxuosa casa de eventos Hípica Hall, em Brasília.
Coincidentemente, a festa paga com dinheiro da instituição aconteceu no dia 10 de dezembro, aniversário de 50 anos do presidente do BB, Aldemir Bendine. Cheia de pompa e requinte, a festa teve ‘Parabéns pra Você’ puxado pela cantora Daniela Mercury, com Bendine ao lado. ...
Desde que assumiu em 2009, Bendine sempre realiza a festa de fim de ano na segunda terça-feira de dezembro, pertinho do seu aniversário.
Assessoria do BB disse que havia 150 pessoas, entre funcionários e acompanhantes, mas quem esteve lá afirma que havia mais de mil.
Segundo informou o banco, a cantora Daniela Mercury participou da festa como convidada. E não cobrou nenhum cachê. Humm..
Como de costume, o Banco do Brasil segue cartilha de transparência própria e não divulgou valores. “BB não comenta”, disse a assessoria.
Fonte: Portal Guardian - 05/01/2014
Dá-lhe Maracugina, por Mary Zaidan
Era para ser o ano do Brasil. De o País ir além de suas belezas naturais e da ginga da bola. De se exibir ao mundo como gente grande, maduro. Mas a chance disso já foi perdida.
Ainda que o governo Dilma Rousseff comemore o cumprimento da meta fiscal, a prática continuada de uma política econômica débil, por vezes esquizofrênica, dificilmente será ofuscada por números de um superávit conseguido a partir de falsas exportações, privatização e refinanciamento de dívidas tributárias.
Para um mercado desconfiado, isso não acalma os “nervosinhos”, como imagina o ministro Guido Mantega. É oferecer suco de maracujá para quem precisa de tonificantes à base de ajustes e equilíbrio.
Dilma segue gastando muito e mal. E, ao contrário do que o seu ministro da Fazenda quis fazer crer, continua se valendo de malabarismos. Para fechar 2013 no azul, jogou para os últimos dias do ano pagamentos de R$ 4,1 bilhões, dinheiro que só será contabilizado em 2014. O mais incrível é que imaginam que esses truques marotos vão passar despercebidos.
A presidente pode acusar seus críticos de fazer “guerra psicológica”, mas isso não muda a realidade dos números da gastança. A Copa do Mundo está aí para provar. Os 12 estádios previstos para a competição vão consumir mais de R$ 8 bilhões, 285% a mais dos R$ 2,8 bilhões orçados em 2007, quando o ex Lula apostou as fichas no mundial.
Com a megalomania típica das nações subdesenvolvidas, o resultado, ao invés de promover, depõe contra o Brasil. Já é a Copa mais cara da história. As arenas tupiniquins vão custar mais do que o dobro das da África do Sul (R$ 3,2 bilhões) e da rica Alemanha (R$ 3,6 bilhões).
São números que não podem ser escamoteados. Pior: a síndrome de terceiro-mundismo levou o País a construir elefantes brancos, como os estádios de Cuiabá e Manaus, em estados que teriam de fabricar times e torcidas para ocupar parte dos assentos, e que, depois de julho, terão de ser mantidos.
As obras de infraestrutura que seriam o maior legado do evento seguem atrasadas: dos mais de 100 projetos para as 12 cidades-sede, só 21 foram entregues; 14 foram adiados para o pós-Copa.
É quase impossível saber quanto o País gastará com a Copa. Os cálculos variam de R$ 25 bilhões a R$ 35 bilhões, quase um terço dos R$ 106 bilhões previstos no Orçamento da União para a Saúde em todo o ano de 2014.
Os estádios vão ficar prontos, vão mostrar partidas bonitas de se ver, a seleção brasileira pode erguer a taça. Mas o sumo que se extrairá não será doce. Mesmo que não se repitam manifestações que ousam incomodar governantes, vão sobrar dívidas. E às contas a pagar se somará a fartura de gastos comuns em anos eleitorais. É melhor estocar maracujá.
Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas. Atualmente trabalha na agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa'. Escreve aqui aos domingos. Twitter: @maryzaidan, e-mail: maryzaidan@me.com
‘Mudar o rumo’, um artigo de Fernando Henrique Cardoso
Publicado no Estadão deste domingo
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Ano novo, esperanças de renovação. Mas como? Só se mudarmos o rumo. A começar pela visão sobre o mundo que ressurgirá da crise de 2007-2008. O governo petista, sem o dizer, colocou suas fichas no “declínio do Ocidente”. Da crise surgiria uma nova situação de poder na qual os Brics, o mundo árabe e o que pudesse assemelhar-se ao ex-Terceiro Mundo teriam papel de destaque. A Europa, abatida, faria contraponto aos EUA minguantes.
Não é o que está acontecendo: os americanos saíram à frente, depois de umas quantas estripulias para salvar seu sistema financeiro e afogar o mundo em dólares, e deram uma arrancada forte na produção de energia barata. O mundo árabe, depois da Primavera, continua se estraçalhando entre xiitas, sunitas, militares, seculares, taleban e o que mais seja. A Rússia passou a ser produtora de matérias-primas. Só a China foi capaz de dar ímpeto à sua economia. Provavelmente as próximas décadas serão de “coexistência competitiva” entre os dois gigantes, EUA e China, com partes da Europa integradas ao sistema produtivo americano e com as potências emergentes, inclusive nós, o México, a África do Sul e tantas outras, buscando espaços de integração comercial e produtiva para não perderem relevância.
Nessa ótica, é óbvio que a política externa brasileira precisará mudar de foco, abrir-se ao Pacífico, estreitar relações com os EUA e a Europa, fazer múltiplos acordos comerciais, não temer a concorrência e ajudar o País a se preparar para ela. O Brasil terá de voltar a assumir seu papel na América Latina, hoje diminuído pelo bolivarianismo prevalecente em alguns países e pelo Arco do Pacífico, com o qual nos devemos engajar, pois não deve nem pode ser visto como excludente do Mercosul. Não devemos ficar isolados em nossa região, hesitantes quanto ao bolivarianismo, abraçados às irracionalidades da política argentina, que tomara se reduzam, e pouco preparados em face da investida americana no Pacífico.
Para exportarmos mais e dinamizar nossa produção para o mercado interno a ênfase dada ao consumo precisará ser equilibrada por maior atenção ao aumento da produtividade, sem redução dos programas sociais e das demais iniciativas de integração social. A promoção do aumento da produtividade, no caso, não se restringe ao interior das fábricas, abrange toda a economia e a sociedade. Na fábrica, depende das inovações e do entrosamento com as cadeias produtivas globais, fonte de renovação; na economia, depende de um ousado programa de ampliação e renovação da infraestrutura; e na sociedade, de maior atenção à qualificação das pessoas (educação) e às suas condições de saúde, segurança e transporte. Sem dizer que já é hora de baixar os impostos, sem selecionar setores beneficiários, e de abrir mais a economia, sem temer a competição.
Isso tudo num contexto de fortalecimento das instituições e práticas democráticas e de redefinição das relações entre o governo e a sociedade, entre o Estado e o mercado. Será preciso despolitizar as agências reguladoras, robustecê-las, estabilizar os marcos regulatórios, revigorar e estimular as parcerias público-privadas para investimentos fundamentais. Noutros termos, fazer com competência o que o governo petista paralisou nos últimos dez anos e o atual, de Dilma Rousseff, se vê obrigado a fazer, mas o faz atabalhoadamente, abusando do direito de aprender por ensaios e erros, deixando no ar a impressão de amadorismo e dúvida sobre a estabilidade das regras do jogo. Com isso não se mobilizam no setor privado os investimentos na escala e na velocidade necessárias para o país dar um salto em matéria de infraestrutura e produtividade.
Mordido ainda pelo DNA antiprivatista e estatizante, persiste o governo atual nos erros cometidos na definição do modelo de exploração do pré-sal. A imposição de que a Petrobrás seja operadora única e responda por pelo menos 30% da participação acionária em cada consórcio, somada ao poder de veto dado à PPSA nas decisões dos comitês operacionais, afugenta número maior de interessados nos leilões do pré-sal, reduz o potencial de investimento em sua exploração e diminui os recursos que o Estado poderia obter com decantado regime de partilha. É ruim para a Petrobrás e péssimo para o País.
Além de insistir em erros palmares, o atual governo faz contorcionismo verbal para negar que concessões sejam modalidades de privatização. É patético. Também para negar a realidade se desdobra em explicações sobre a inflação, que só não está fora da meta porque os preços públicos estão artificialmente represados, e sobre a solidez das contas públicas, objeto de declarações e contabilidades oficiais às vezes criativas, não raro desencontradas, em geral divorciadas dos fatos.
Tão necessário quanto recuperar o tempo perdido e acertar o passo nas obras de infraestrutura será desentranhar da máquina pública e, sobretudo, nas empresas estatais (felizmente, nem todas cederam à sanha partidária) os nódulos de interesses privados e/ou partidários que dificultam a eficiência e facilitam a corrupção. Não menos necessário será restabelecer o sentido de serviço público nas áreas sociais, de educação, saúde e reforma agrária, resguardando-as do uso para fins eleitorais, partidários ou corporativos. Só revalorizando a meritocracia e com obsessão pelo cumprimento de metas o Brasil dará o salto que precisa dar na qualidade dos serviços públicos. Com uma carga tributária de 36% do PIB, recursos não faltam. Falta uma cultura de planejamento, cobrança por desempenho e avaliação de resultados, sem “marquetismo”. Ou alguém acredita que, mantido o sistema de cooptação, barganhas generalizadas, corrupção, despreparo administrativo e voluntarismo, enfrentaremos com sucesso o desafio?
É preciso redesenhar a rota do país. Dois terços dos entrevistados em recentes pesquisas eleitorais dizem desejar mudanças no governo. Há um grito parado no ar, um sentimento difuso, mas que está presente. Cabe às oposições expressá-lo e dar-lhe consequências políticas.
É a esperança que tenho para 2014 e são os meus votos para que o ano seja bom.
A busca do novo - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 05/01
O chamado Triângulo das Bermudas da política brasileira, formado pelos estados de Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, reúne 42% do eleitorado nacional e, diante das mudanças na geografia política do Norte e do Nordeste, deve ser o centro das batalhas decisivas da eleição presidencial de 2014.
Minas e São Paulo têm forte predominância do PSDB estadual, mas o PT vem ganhando força em São Paulo, com a recente vitória para a prefeitura da capital que, paradoxalmente, pode mostrar-se uma fragilidade para a candidatura de Alexandre Padilha, com a administração criticada de Fernando Haddad até o momento.
No Rio e em São Paulo, a ex-senadora Marina Silva teve grandes votações em 2010, e pode atuar como ativa apoiadora de Eduardo Campos, no caso de vir a ser confirmada como sua candidata a vice.
Se em 2010 a presidente Dilma elegeu-se com uma votação espetacular no Norte e no Nordeste, onde tirou mais de 11 milhões de votos de diferença para o candidato tucano no segundo turno, este ano há alterações importantes que indicam que a votação naquelas regiões pode ser diluída entre os três principais adversários, mesmo que ela continue com vantagens.
Com a candidatura de Eduardo Campos pelo PSB, a oposição está mais forte no Nordeste, além de Pernambuco, enquanto o PSDB deve ter melhor desempenho na Bahia, devido à aliança com o DEM do prefeito de Salvador ACM Neto em aliança com o PMDB local, e no Amazonas, devido à liderança do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio.
Nesses estados, Dilma teve quase seis milhões de votos de diferença a seu favor, o que não deve acontecer este ano. Em Minas e em Pernambuco, o PSB e o PSDB já acertaram alianças com palanques duplos nos dois estados, o que retira a força da candidatura Dilma.
O Rio, onde a presidente teve uma vitória com 3,7 milhões (43,8%) no 1º turno, e 4,9 milhões (60,5%) no 2º, a situação continua sendo amplamente favorável ao governo federal, mesmo que o governador Sérgio Cabral esteja enfraquecido politicamente.
A reeleição de Dilma tende a ter o apoio não apenas do PMDB local como dos possíveis candidatos Garotinho, do PR, Marcelo Crivella do PRB, e do PT com o senador Lindbergh Farias. PSB e PSDB estão à procura de um candidato que represente o novo na política, na tentativa de explorar a grande rejeição que atinge todos os favoritos. O ex-prefeito Cesar Maia deve ser, como candidato do DEM, o único oposicionista com algum peso.
O senador Aécio Neves articula a candidatura do treinador da seleção brasileira de vôlei Bernardinho, dentro dessa tentativa de apresentar ao eleitor carioca uma alternativa nova. Ao mesmo tempo, coloca em sua balança a possibilidade de que um racha entre o PT e o PMDB de Cabral possa provocar uma dissidência informal que leve parte da máquina partidária a trabalhar em favor de sua candidatura.
O PSB tem em Marina Silva seu principal trunfo no Rio, onde ela obteve uma grande votação em 2010. Por isso, a candidatura própria é a alternativa, podendo optar pelo deputado federal Alfredo Sirkis, ex-PV que se filiou ao PSB, ou o ex-ministro da Cultura de Lula, Gilberto Gil.
O deputado federal Miro Teixeira, que esteve com Marina na formação do Rede Sustentabilidade e se filiou ao PROS, é uma alternativa tanto para o PSB quanto para o PSDB, mas ambos os partidos temem que compromissos do PROS com o governo federal impeçam uma aliança oposicionista. Miro Teixeira tem conseguido autonomia no estado para fazer alianças e se mantém como uma peça importante no xadrez político do Rio, com a simpatia de Marina.
Uma eventual candidatura do ministro Joaquim Barbosa a uma vaga para o Senado pode ser fator novo na disputa, influenciando a corrida pelo governo do Rio. Há pequenos partidos oferecendo legenda para o presidente do Supremo disputar o governo estadual, mas nada indica que esteja inclinado a mais essa aventura, como classificou o ex-presidente Fernando Henrique a possibilidade de Barbosa vir a ser candidato à Presidência da República.
Minas e São Paulo têm forte predominância do PSDB estadual, mas o PT vem ganhando força em São Paulo, com a recente vitória para a prefeitura da capital que, paradoxalmente, pode mostrar-se uma fragilidade para a candidatura de Alexandre Padilha, com a administração criticada de Fernando Haddad até o momento.
No Rio e em São Paulo, a ex-senadora Marina Silva teve grandes votações em 2010, e pode atuar como ativa apoiadora de Eduardo Campos, no caso de vir a ser confirmada como sua candidata a vice.
Se em 2010 a presidente Dilma elegeu-se com uma votação espetacular no Norte e no Nordeste, onde tirou mais de 11 milhões de votos de diferença para o candidato tucano no segundo turno, este ano há alterações importantes que indicam que a votação naquelas regiões pode ser diluída entre os três principais adversários, mesmo que ela continue com vantagens.
Com a candidatura de Eduardo Campos pelo PSB, a oposição está mais forte no Nordeste, além de Pernambuco, enquanto o PSDB deve ter melhor desempenho na Bahia, devido à aliança com o DEM do prefeito de Salvador ACM Neto em aliança com o PMDB local, e no Amazonas, devido à liderança do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio.
Nesses estados, Dilma teve quase seis milhões de votos de diferença a seu favor, o que não deve acontecer este ano. Em Minas e em Pernambuco, o PSB e o PSDB já acertaram alianças com palanques duplos nos dois estados, o que retira a força da candidatura Dilma.
O Rio, onde a presidente teve uma vitória com 3,7 milhões (43,8%) no 1º turno, e 4,9 milhões (60,5%) no 2º, a situação continua sendo amplamente favorável ao governo federal, mesmo que o governador Sérgio Cabral esteja enfraquecido politicamente.
A reeleição de Dilma tende a ter o apoio não apenas do PMDB local como dos possíveis candidatos Garotinho, do PR, Marcelo Crivella do PRB, e do PT com o senador Lindbergh Farias. PSB e PSDB estão à procura de um candidato que represente o novo na política, na tentativa de explorar a grande rejeição que atinge todos os favoritos. O ex-prefeito Cesar Maia deve ser, como candidato do DEM, o único oposicionista com algum peso.
O senador Aécio Neves articula a candidatura do treinador da seleção brasileira de vôlei Bernardinho, dentro dessa tentativa de apresentar ao eleitor carioca uma alternativa nova. Ao mesmo tempo, coloca em sua balança a possibilidade de que um racha entre o PT e o PMDB de Cabral possa provocar uma dissidência informal que leve parte da máquina partidária a trabalhar em favor de sua candidatura.
O PSB tem em Marina Silva seu principal trunfo no Rio, onde ela obteve uma grande votação em 2010. Por isso, a candidatura própria é a alternativa, podendo optar pelo deputado federal Alfredo Sirkis, ex-PV que se filiou ao PSB, ou o ex-ministro da Cultura de Lula, Gilberto Gil.
O deputado federal Miro Teixeira, que esteve com Marina na formação do Rede Sustentabilidade e se filiou ao PROS, é uma alternativa tanto para o PSB quanto para o PSDB, mas ambos os partidos temem que compromissos do PROS com o governo federal impeçam uma aliança oposicionista. Miro Teixeira tem conseguido autonomia no estado para fazer alianças e se mantém como uma peça importante no xadrez político do Rio, com a simpatia de Marina.
Uma eventual candidatura do ministro Joaquim Barbosa a uma vaga para o Senado pode ser fator novo na disputa, influenciando a corrida pelo governo do Rio. Há pequenos partidos oferecendo legenda para o presidente do Supremo disputar o governo estadual, mas nada indica que esteja inclinado a mais essa aventura, como classificou o ex-presidente Fernando Henrique a possibilidade de Barbosa vir a ser candidato à Presidência da República.
Pequenas lições para 2014 - GAUDENCIO TORQUATO
O ESTADÃO- 05/01
O ano que se inicia será um dos mais competitivos das últimas décadas. Principalmente na esfera da política. As razões apontam para o esgotamento do nosso modelo de fazer política, a partir de velhas práticas de campanhas. O desenho é carcomido pela poeira do tempo: são raros perfis identificados com mudanças; formas de cooptação eleitoral se inspiram nos eixos históricos do fisiologismo e do corporativismo, sendo tênue o engajamento do eleitor pela via doutrinária; eleitos, via de regra, acabam distanciando-se das bases, deixando de lado compromissos assumidos; a representação parlamentar, em função do poder quase absoluto do presidencialismo, torna-se deste refém, obrigando-se a repartir com o Poder Executivo funções legislativas; em decorrência da ausência de programas doutrinários, imbricam-se interesses de lideranças e partidos, não se distinguindo diferenciais entre eles, condição essencial para qualificar o voto. A impressão final é a de que o retrato desfigurado está a merecer urgente retoque, se não em todas as nuances da moldura, pelo menos em partes que ofereçam aparência asséptica ao edifício político. Fichas sujas, por exemplo, não podem continuar no mapa eleitoral.
Os ingredientes que entrarão na composição da nova tintura hão de absorver a química de setores e categorias mais participativas, exigentes e dispostas a enfrentar a resistência de defensores de obsoleta arquitetura política. É oportuno lembrar que a pirâmide social não mais se assemelha a um triângulo estático. Os lados que o integram, a partir da base, mostram-se dispostos a sair da letargia, depois de décadas convivendo com a batelada de vírus políticos. Os movimentos sociais e a ocupação das ruas, no ano que findou, sinalizam a intenção de reencontrar o tempo perdido. A coletividade parece descer do céu da abstração para ser uma força na paisagem, fazendo valer sua determinação, princípios e valores voltados para qualificar a vida política. O curto dicionário abaixo poderá servir de baliza para milhares de candidatos na tentativa de aprimorar suas relações com a comunidade nacional.
Estado e Nação
O Estado, infelizmente, está bastante distante da Nação com que os cidadãos sonham. A Nação é a Pátria que acolhe os filhos, que se irmana na fé e na esperança de um futuro melhor; é o habitat onde as pessoas constroem os pilares da existência, constituem o lar, prezam antepassados, cultivam tradições. O Estado é a entidade técnico-jurídica, com seu arcabouço de Poderes, pressionada por interesses díspares e dividida por conflitos. Aproximar o Estado da Nação, formando o espírito nacional, constitui a missão basilar da política. Essa meta precisa ser o centro da agenda do homem público.
Representação
A representação política é missão, não profissão. É a lição de Aristóteles. Resgatar o verdadeiro papel da política – trabalhar pela polis - significa clarificar o papel do representante, as demandas das comunidades, as soluções para a melhoria dos padrões da vida social. A política não é um balcão de negócios. As angústias urbanas se expandem na esteira do crescimento populacional. As periferias não constituem massa de manobra para exploração por parte de siglas, líderes popularescos e oportunistas. Carecem de ações de efeito duradouro, não de quinquilharias e coisas improvisadas. Migalhas poderão alimentar o povo por certo tempo, nunca por todo tempo. Um representante do povo preocupa-se com metas, programas permanentes, medidas estruturantes.
Identidade
A identidade é a coluna vertebral de um político. É a soma de sua história, de seu pensamento, percepções e feitos. Um erro, que o tempo corrigirá, é construir a imagem incongruente com a identidade. Camadas exageradas de verniz corroem perfis. Dizer a verdade dá credibilidade. Os novos tempos condenam a hipocrisia, a simulação. Corretos são conceitos como lealdade, fidelidade, coerência, sinceridade, honestidade pessoal e senso do dever.
Discurso
O discurso deve abrigar propostas concretas, viáveis, simples. E, sobretudo, factíveis. A população dispõe de entidades que a representam. Resta ao político procurar tal universo. O povo quer um discurso sincero. Promessas mirabolantes, planos fantásticos, obras faraônicas, de tão banalizadas, já não despertam interesse. Até as monumentais arenas esportivas entram na lista de suspeições.
Grito das ruas
O grito das ruas se faz ouvir nos espaços dos Poderes em todas as instâncias. Expressam a vontade de uma nova ordem social e política. Urge abrir os ouvidos e a mente para interpretar o significado de cada movimento. Quem não fizer esse exercício, sairá do cenário. Uma linguagem comum se forma nos centros e fundões do país. O povo sabe distinguir oportunistas de idealistas.
Sabedoria
Sabedoria não significa vivacidade; mescla aprendizagem, compromisso, equilíbrio, busca de conhecimentos, capacidade de convivência, racionalidade. Não é populismo. Espertos que procurarão vender “gato por lebre” poderão ser cozidos no caldeirão do voto.
Transparência
A era do esconderijo está agônica. Esconder (mal) feitos é um perigo. A corrupção, mesmo dando sinais de sobrevida, é atacada em muitas frentes. Grandes figuras foram (e continuarão a ser) punidas. Denúncias sobre negociatas agora são objeto da lupa dos sistemas de controle. O público e o privado começam a ter limites controlados.
Simplicidade
Despojamento, eis um apreciado conceito. Lembrem-se do papa Francisco. Ser simples não é arrumar crianças no colo, comer cachorro quente na esquina ou gesticular para famílias nas calçadas. Simplicidade é o ato de pensar, dizer e agir com naturalidade. Sem artimanhas e maquiagens.
Lição final de José Ingenieros: “cem políticos torpes, juntos, não valem um estadista genial”.
O ano que se inicia será um dos mais competitivos das últimas décadas. Principalmente na esfera da política. As razões apontam para o esgotamento do nosso modelo de fazer política, a partir de velhas práticas de campanhas. O desenho é carcomido pela poeira do tempo: são raros perfis identificados com mudanças; formas de cooptação eleitoral se inspiram nos eixos históricos do fisiologismo e do corporativismo, sendo tênue o engajamento do eleitor pela via doutrinária; eleitos, via de regra, acabam distanciando-se das bases, deixando de lado compromissos assumidos; a representação parlamentar, em função do poder quase absoluto do presidencialismo, torna-se deste refém, obrigando-se a repartir com o Poder Executivo funções legislativas; em decorrência da ausência de programas doutrinários, imbricam-se interesses de lideranças e partidos, não se distinguindo diferenciais entre eles, condição essencial para qualificar o voto. A impressão final é a de que o retrato desfigurado está a merecer urgente retoque, se não em todas as nuances da moldura, pelo menos em partes que ofereçam aparência asséptica ao edifício político. Fichas sujas, por exemplo, não podem continuar no mapa eleitoral.
Os ingredientes que entrarão na composição da nova tintura hão de absorver a química de setores e categorias mais participativas, exigentes e dispostas a enfrentar a resistência de defensores de obsoleta arquitetura política. É oportuno lembrar que a pirâmide social não mais se assemelha a um triângulo estático. Os lados que o integram, a partir da base, mostram-se dispostos a sair da letargia, depois de décadas convivendo com a batelada de vírus políticos. Os movimentos sociais e a ocupação das ruas, no ano que findou, sinalizam a intenção de reencontrar o tempo perdido. A coletividade parece descer do céu da abstração para ser uma força na paisagem, fazendo valer sua determinação, princípios e valores voltados para qualificar a vida política. O curto dicionário abaixo poderá servir de baliza para milhares de candidatos na tentativa de aprimorar suas relações com a comunidade nacional.
Estado e Nação
O Estado, infelizmente, está bastante distante da Nação com que os cidadãos sonham. A Nação é a Pátria que acolhe os filhos, que se irmana na fé e na esperança de um futuro melhor; é o habitat onde as pessoas constroem os pilares da existência, constituem o lar, prezam antepassados, cultivam tradições. O Estado é a entidade técnico-jurídica, com seu arcabouço de Poderes, pressionada por interesses díspares e dividida por conflitos. Aproximar o Estado da Nação, formando o espírito nacional, constitui a missão basilar da política. Essa meta precisa ser o centro da agenda do homem público.
Representação
A representação política é missão, não profissão. É a lição de Aristóteles. Resgatar o verdadeiro papel da política – trabalhar pela polis - significa clarificar o papel do representante, as demandas das comunidades, as soluções para a melhoria dos padrões da vida social. A política não é um balcão de negócios. As angústias urbanas se expandem na esteira do crescimento populacional. As periferias não constituem massa de manobra para exploração por parte de siglas, líderes popularescos e oportunistas. Carecem de ações de efeito duradouro, não de quinquilharias e coisas improvisadas. Migalhas poderão alimentar o povo por certo tempo, nunca por todo tempo. Um representante do povo preocupa-se com metas, programas permanentes, medidas estruturantes.
Identidade
A identidade é a coluna vertebral de um político. É a soma de sua história, de seu pensamento, percepções e feitos. Um erro, que o tempo corrigirá, é construir a imagem incongruente com a identidade. Camadas exageradas de verniz corroem perfis. Dizer a verdade dá credibilidade. Os novos tempos condenam a hipocrisia, a simulação. Corretos são conceitos como lealdade, fidelidade, coerência, sinceridade, honestidade pessoal e senso do dever.
Discurso
O discurso deve abrigar propostas concretas, viáveis, simples. E, sobretudo, factíveis. A população dispõe de entidades que a representam. Resta ao político procurar tal universo. O povo quer um discurso sincero. Promessas mirabolantes, planos fantásticos, obras faraônicas, de tão banalizadas, já não despertam interesse. Até as monumentais arenas esportivas entram na lista de suspeições.
Grito das ruas
O grito das ruas se faz ouvir nos espaços dos Poderes em todas as instâncias. Expressam a vontade de uma nova ordem social e política. Urge abrir os ouvidos e a mente para interpretar o significado de cada movimento. Quem não fizer esse exercício, sairá do cenário. Uma linguagem comum se forma nos centros e fundões do país. O povo sabe distinguir oportunistas de idealistas.
Sabedoria
Sabedoria não significa vivacidade; mescla aprendizagem, compromisso, equilíbrio, busca de conhecimentos, capacidade de convivência, racionalidade. Não é populismo. Espertos que procurarão vender “gato por lebre” poderão ser cozidos no caldeirão do voto.
Transparência
A era do esconderijo está agônica. Esconder (mal) feitos é um perigo. A corrupção, mesmo dando sinais de sobrevida, é atacada em muitas frentes. Grandes figuras foram (e continuarão a ser) punidas. Denúncias sobre negociatas agora são objeto da lupa dos sistemas de controle. O público e o privado começam a ter limites controlados.
Simplicidade
Despojamento, eis um apreciado conceito. Lembrem-se do papa Francisco. Ser simples não é arrumar crianças no colo, comer cachorro quente na esquina ou gesticular para famílias nas calçadas. Simplicidade é o ato de pensar, dizer e agir com naturalidade. Sem artimanhas e maquiagens.
Lição final de José Ingenieros: “cem políticos torpes, juntos, não valem um estadista genial”.
O caldeirão dos 'nervosinhos' - ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 05/01
BRASÍLIA - O ano começou fervendo, com sensação de 50 graus no Rio, previsões tórridas na economia e borbulhas na política. Caldeirão perfeito para Copa e eleições.
Mantega tratou de jogar água na fervura anunciando na primeira semana do ano que, ufa!, o governo deve fechar 2013 superando a meta do superavit fiscal em R$ 2 bilhões.
Segundo ele, o anúncio, que costuma ser no final de janeiro, foi antecipado para "acalmar os nervosinhos". Cá para nós, também foi para contrabalançar outros resultados: o Brasil teve o menor saldo comercial em 13 anos; o melhor investimento de 2013 foi o dólar, que entrou 2014 em forte alta; e, segundo manchete do UOL na sexta, o valor da Petrobras encolheu pela metade desde 2010.
E vem aí o anúncio do pibinho, com agentes do governo, e de fora do governo, tremendo diante da perspectiva de rebaixamento do Brasil nas agências de risco. Sem falar nas críticas sobre os jeitinhos e as plataformas de petróleo para reduzir o estrago (inclusive político) do resultado da balança comercial.
Na política, o PMDB ataca o parceiro PT, repetindo um script manjado em ano eleitoral. Os ministérios do PT seguram as emendas peemedebistas, os do PMDB ameaçam retaliar com a mesma moeda, todos se xingam em público. Tudo isso no calor das disputas estaduais. Aliados em Brasília, os partidos de Dilma e do seu vice Temer estão em guerra em Estados como Rio, Bahia, Rio Grande do Sul, Ceará, Maranhão e Amazonas.
E vem aí a reforma ministerial, ateando fogo à base aliada e com os palanques desmontando o tripé feminino do Palácio do Planalto: Gleisi Hoffmann concorre ao governo no Paraná, Ideli Salvatti vai para o Senado em Santa Catarina. Os substitutos deverão ser homens e do PT. Mas a guerra com o PMDB continua.
Dilma e Mantega vão precisar de bem mais que RS 2 bilhões a mais de superavit para acalmar tantos e tão esquentados "nervosinhos".
BRASÍLIA - O ano começou fervendo, com sensação de 50 graus no Rio, previsões tórridas na economia e borbulhas na política. Caldeirão perfeito para Copa e eleições.
Mantega tratou de jogar água na fervura anunciando na primeira semana do ano que, ufa!, o governo deve fechar 2013 superando a meta do superavit fiscal em R$ 2 bilhões.
Segundo ele, o anúncio, que costuma ser no final de janeiro, foi antecipado para "acalmar os nervosinhos". Cá para nós, também foi para contrabalançar outros resultados: o Brasil teve o menor saldo comercial em 13 anos; o melhor investimento de 2013 foi o dólar, que entrou 2014 em forte alta; e, segundo manchete do UOL na sexta, o valor da Petrobras encolheu pela metade desde 2010.
E vem aí o anúncio do pibinho, com agentes do governo, e de fora do governo, tremendo diante da perspectiva de rebaixamento do Brasil nas agências de risco. Sem falar nas críticas sobre os jeitinhos e as plataformas de petróleo para reduzir o estrago (inclusive político) do resultado da balança comercial.
Na política, o PMDB ataca o parceiro PT, repetindo um script manjado em ano eleitoral. Os ministérios do PT seguram as emendas peemedebistas, os do PMDB ameaçam retaliar com a mesma moeda, todos se xingam em público. Tudo isso no calor das disputas estaduais. Aliados em Brasília, os partidos de Dilma e do seu vice Temer estão em guerra em Estados como Rio, Bahia, Rio Grande do Sul, Ceará, Maranhão e Amazonas.
E vem aí a reforma ministerial, ateando fogo à base aliada e com os palanques desmontando o tripé feminino do Palácio do Planalto: Gleisi Hoffmann concorre ao governo no Paraná, Ideli Salvatti vai para o Senado em Santa Catarina. Os substitutos deverão ser homens e do PT. Mas a guerra com o PMDB continua.
Dilma e Mantega vão precisar de bem mais que RS 2 bilhões a mais de superavit para acalmar tantos e tão esquentados "nervosinhos".
Abstinência programada - JOÃO BOSCO RABELLO
O Estado de S.Paulo - 05/01
O aumento do IOF em 1,5 mil por cento e a suspensão das desonerações de impostos marcam o fim da política econômica expansionista, iniciada em 2008, base da sustentação eleitoral dos governos Lula e Dilma.
O governo começa a ter de sacrificar posições, como a de preservar integralmente a aprovação da classe média, para não arriscar perdas na faixa do eleitorado mais importante numericamente.
Por isso, um IOF maior, que tira o humor do eleitor mais bem informado, e pouca ou nenhuma alteração em desonerações concedidas a setores como o de eletrodomésticos.
Carros mais caros, sem qualquer contrapartida na chamada mobilidade urbana, também danificam o patrimônio eleitoral da presidente Dilma Rousseff nos grandes centros urbanos, em que pese a distância que ainda separa os atos de seus efeitos.
O país entra no ciclo da abstinência, que o governo administra homeopaticamente para graduar a retirada da anestesia consumista.
O endividamento das famílias e a inflação em viés de alta, fatores até aqui negligenciados pelo governo Dilma por conveniência eleitoral, impuseram a rendição antes do início formal da campanha.
Não são, certamente, o resultado e o timing esperados pelo governo, embora o primeiro fosse óbvio e o segundo uma arriscada aposta que empurra a conta de truques e maquiagens para 2015.
Jornais estrangeiros já registram esse momento, com o enfoque de uma vida mais cara para a classe média brasileira em 2014.
Lembram a insustentabilidade, este ano, da administração de preços feita pelo governo, em 2013, como no caso da energia elétrica e dos transportes públicos.
No exterior, a camisa de força imposta à Petrobrás é também contabilizada como uma bomba-relógio incontornável.
A empresa fez duas correções nos preços dos combustíveis em 2013, lembram especialistas, mas precisará ir além disso para viabilizar seu Plano de Investimentos.
O governo deveria se preocupar com um aspecto inerente aos processos de correção de rumos: a economia cobra maior velocidade na arrumação da casa do que se levou para desorganizá-la.
Como tudo é feito para que o mal ocorra em 2015, a conta lá será grande para quem vencer.
Como resume o ex-secretário da Receita, Everardo Maciel, a conjuntura não permite otimismos: inflação alta, manipulação de preços, crescimento baixo, desequilíbrio fiscal, endividamento das famílias "são males cuja superação vão requerer ciência, tempo e determinação, temperados pela boa política".
O aumento do IOF em 1,5 mil por cento e a suspensão das desonerações de impostos marcam o fim da política econômica expansionista, iniciada em 2008, base da sustentação eleitoral dos governos Lula e Dilma.
O governo começa a ter de sacrificar posições, como a de preservar integralmente a aprovação da classe média, para não arriscar perdas na faixa do eleitorado mais importante numericamente.
Por isso, um IOF maior, que tira o humor do eleitor mais bem informado, e pouca ou nenhuma alteração em desonerações concedidas a setores como o de eletrodomésticos.
Carros mais caros, sem qualquer contrapartida na chamada mobilidade urbana, também danificam o patrimônio eleitoral da presidente Dilma Rousseff nos grandes centros urbanos, em que pese a distância que ainda separa os atos de seus efeitos.
O país entra no ciclo da abstinência, que o governo administra homeopaticamente para graduar a retirada da anestesia consumista.
O endividamento das famílias e a inflação em viés de alta, fatores até aqui negligenciados pelo governo Dilma por conveniência eleitoral, impuseram a rendição antes do início formal da campanha.
Não são, certamente, o resultado e o timing esperados pelo governo, embora o primeiro fosse óbvio e o segundo uma arriscada aposta que empurra a conta de truques e maquiagens para 2015.
Jornais estrangeiros já registram esse momento, com o enfoque de uma vida mais cara para a classe média brasileira em 2014.
Lembram a insustentabilidade, este ano, da administração de preços feita pelo governo, em 2013, como no caso da energia elétrica e dos transportes públicos.
No exterior, a camisa de força imposta à Petrobrás é também contabilizada como uma bomba-relógio incontornável.
A empresa fez duas correções nos preços dos combustíveis em 2013, lembram especialistas, mas precisará ir além disso para viabilizar seu Plano de Investimentos.
O governo deveria se preocupar com um aspecto inerente aos processos de correção de rumos: a economia cobra maior velocidade na arrumação da casa do que se levou para desorganizá-la.
Como tudo é feito para que o mal ocorra em 2015, a conta lá será grande para quem vencer.
Como resume o ex-secretário da Receita, Everardo Maciel, a conjuntura não permite otimismos: inflação alta, manipulação de preços, crescimento baixo, desequilíbrio fiscal, endividamento das famílias "são males cuja superação vão requerer ciência, tempo e determinação, temperados pela boa política".
Tempo de previsões - BELMIRO VALVERDE JOBIM CASTOR
GAZETA DO POVO - PR - 05/01
“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu”, diz o Eclesiastes. É tempo das previsões. Não consigo deixar de trazer aos meus pacientes leitores as previsões que economistas, analistas, pais e mães de santo, videntes, cartomantes, quiromantes, leitores de borra de café e de entranhas de animais, jogadores de búzios e palpiteiros em geral de minha inteira confiança elaboraram para 2014.
Vamos começar pelos economistas. Aliás, escaldados, os mais prudentes já desistiram há muito tempo de fazer previsões econômicas para o Brasil com prazo superior a uma semana. Explico: o Banco Central publica semanalmente um boletim chamado Focus, nos quais cerca de 100 especialistas do mercado financeiro, grandes empresas e meio universitário reveem suas projeções da semana anterior. Assim, o risco de erros grosseiros diminui sensivelmente; mas a utilidade de fazer projeções para qualquer coisa que dependa do que irá acontecer nos próximos meses também diminui. Um exemplo: em janeiro de 2013, o Focus previa crescimento da produção industrial de 3,2%, balança comercial com US$ 15 bilhões de superávit e dólar a R$ 2,10. O produto industrial vai crescer a metade disso, o superávit comercial não passará de US$ 2,5 bilhões e o dólar encostou em R$ 2,40. Quem apostou nas previsões iniciais descobriu que, como regra geral, o governo Dilma continuará a se inspirar em Groucho Marx, que costumava perguntar aos seus incrédulos interlocutores: “Que você prefere: acreditar em mim ou nos seus próprios olhos?”
Se tivesse preferido acreditar nos próprios olhos, teria descoberto que o país não está crescendo; ao contrário, quando o PIB cresce menos do que a população, ela está empobrecendo. E que não é verdade que o mundo todo também não está crescendo: a economia americana terá um aumento superior a 4% em 2013, a economia europeia já saiu da recessão, a asiática vai bem, obrigado, e a latinoamericana só não vai bem porque a Argentina e a Venezuela vão de mal a pior, enquanto o Brasil anda de lado.
Teria descoberto também que a balança comercial e as contas externas, que o doutor Meirelles deixou pingando azeite, com superávits colossais e reservas internacionais crescentes, já estão voltando à velha rotina: em 2013, o Brasil gastou US$ 80 bilhões a mais do que gerou e logo, logo, estaremos colocando a culpa dos apertos cambiais brasileiros nos gringos, esses malditos...
De resto, as previsões repetem os anos passados: José Sarney prometerá abandonar a vida pública em 2025 para abrir caminho para a renovação da política nacional; as obras para a Copa do Mundo não ficarão prontas e custarão duas vezes e meia mais do que era previsto; a transposição do Rio São Francisco será adiada mais uma vez; dezenas de pessoas morrerão por falta de UTIs, centenas de outras morrerão nos corredores de hospitais à espera de uma vaga e milhares pernoitarão em filas para conseguir uma consulta especializada ou um exame para o segundo semestre de 2015. Milhares de dólares e reais serão encontrados em cuecas e meias em aeroportos e balas perdidas matarão vários inocentes.
Ah, e é claro: as universidades públicas entrarão em greve por tempo indeterminado; quando a greve acabar, os professores e funcionários fingirão repor os dias parados e compensar o atraso do calendário escolar. Se os alunos sairão mais ignorantes ou não das universidades, é outra conversa.
“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu”, diz o Eclesiastes. É tempo das previsões. Não consigo deixar de trazer aos meus pacientes leitores as previsões que economistas, analistas, pais e mães de santo, videntes, cartomantes, quiromantes, leitores de borra de café e de entranhas de animais, jogadores de búzios e palpiteiros em geral de minha inteira confiança elaboraram para 2014.
Vamos começar pelos economistas. Aliás, escaldados, os mais prudentes já desistiram há muito tempo de fazer previsões econômicas para o Brasil com prazo superior a uma semana. Explico: o Banco Central publica semanalmente um boletim chamado Focus, nos quais cerca de 100 especialistas do mercado financeiro, grandes empresas e meio universitário reveem suas projeções da semana anterior. Assim, o risco de erros grosseiros diminui sensivelmente; mas a utilidade de fazer projeções para qualquer coisa que dependa do que irá acontecer nos próximos meses também diminui. Um exemplo: em janeiro de 2013, o Focus previa crescimento da produção industrial de 3,2%, balança comercial com US$ 15 bilhões de superávit e dólar a R$ 2,10. O produto industrial vai crescer a metade disso, o superávit comercial não passará de US$ 2,5 bilhões e o dólar encostou em R$ 2,40. Quem apostou nas previsões iniciais descobriu que, como regra geral, o governo Dilma continuará a se inspirar em Groucho Marx, que costumava perguntar aos seus incrédulos interlocutores: “Que você prefere: acreditar em mim ou nos seus próprios olhos?”
Se tivesse preferido acreditar nos próprios olhos, teria descoberto que o país não está crescendo; ao contrário, quando o PIB cresce menos do que a população, ela está empobrecendo. E que não é verdade que o mundo todo também não está crescendo: a economia americana terá um aumento superior a 4% em 2013, a economia europeia já saiu da recessão, a asiática vai bem, obrigado, e a latinoamericana só não vai bem porque a Argentina e a Venezuela vão de mal a pior, enquanto o Brasil anda de lado.
Teria descoberto também que a balança comercial e as contas externas, que o doutor Meirelles deixou pingando azeite, com superávits colossais e reservas internacionais crescentes, já estão voltando à velha rotina: em 2013, o Brasil gastou US$ 80 bilhões a mais do que gerou e logo, logo, estaremos colocando a culpa dos apertos cambiais brasileiros nos gringos, esses malditos...
De resto, as previsões repetem os anos passados: José Sarney prometerá abandonar a vida pública em 2025 para abrir caminho para a renovação da política nacional; as obras para a Copa do Mundo não ficarão prontas e custarão duas vezes e meia mais do que era previsto; a transposição do Rio São Francisco será adiada mais uma vez; dezenas de pessoas morrerão por falta de UTIs, centenas de outras morrerão nos corredores de hospitais à espera de uma vaga e milhares pernoitarão em filas para conseguir uma consulta especializada ou um exame para o segundo semestre de 2015. Milhares de dólares e reais serão encontrados em cuecas e meias em aeroportos e balas perdidas matarão vários inocentes.
Ah, e é claro: as universidades públicas entrarão em greve por tempo indeterminado; quando a greve acabar, os professores e funcionários fingirão repor os dias parados e compensar o atraso do calendário escolar. Se os alunos sairão mais ignorantes ou não das universidades, é outra conversa.
O exemplo de Michael Bloomberg - ELIO GASPARI
O GLOBO - 05/01
Prefeito de Nova York gastou US$ 650 milhões do próprio bolso e a mulher de Volcker alugava quarto em casa
Depois de governar a cidade de Nova York por 12 anos, o bilionário Michael Bloomberg pegou o metrô e foi para casa. Além de uma grande administração, deixou um exemplo. Durante o tempo em que ocupou a prefeitura gastou US$ 650 milhõesdo próprio bolso.
Prefeito de Nova York gastou US$ 650 milhões do próprio bolso e a mulher de Volcker alugava quarto em casa
Depois de governar a cidade de Nova York por 12 anos, o bilionário Michael Bloomberg pegou o metrô e foi para casa. Além de uma grande administração, deixou um exemplo. Durante o tempo em que ocupou a prefeitura gastou US$ 650 milhõesdo próprio bolso.
Sabia-se que voava em jatinhos e helicópteros de sua propriedade (alô, Sérgio Cabral). Sabe-se agora que seu gosto por aquários no gabinete custou-lhe US$ 62,4 mil. O café da manhã e almoços frugais para a equipe saíram por US$ 890 mil. Uma viagem ao exterior custou US$ 500 mil (alô, Cid Gomes). Seu salário na prefeitura era de um dólar por ano.
Com uma fortuna avaliada em US$ 31 bilhões, Bloomberg gasta como quer. Já deu um bilhão à universidade onde estudou. (No ano seguinte à sua formatura, quando era um duro, deu cinco dólares.) Começou a vida no papelório, deixou a Salomon Brothers com US$ 10 milhões e fundou o império de meios de comunicação que leva seu nome.
Para quem gosta de depreciar o Brasil, ele seria um exemplo de políticos que faltam por aqui. É verdade, mas o casal Clinton está milionário e suas origens são semelhantes às de Bloomberg, sem que tenham produzido um só parafuso. Lyndon Johnson endinheirou-se na política e seus mensalões fariam corar o comissariado petista.
A diferença entre o serviço público americano e o brasileiro está no exemplo. Indo-se para o século 19, Dolley Madison, mulher do presidente James Madison, a primeira locomotiva social de Washington, morreu em absoluta pobreza, eventualmente ajudada por um escravo liberto que trabalhara para ela na Casa Branca. Em 1979, quando Paul Volcker foi nomeado presidente do Federal Reserve Bank, perdeu 50% de sua receita e foi morar numa quitinete de estudante em Washington. Sua mulher ficou em Nova York e equilibrou as contas alugando um quarto de seu apartamento.
No Brasil foram muitos os milionários que passaram por governos. Nenhum soltou a bolsa da Viúva. Em muitos casos as fortunas foram acumuladas por inexplicáveis multiplicações ocorridas durante o exercício dos cargos. Exemplo como o de Bloomberg, nem pensar.
CASA CIVIL
Está dura a competição dentro do comissariado pela substituição de Gleisi Hoffmann na chefia da Casa Civil.
A doutora Dilma tem dois nomes sobre a mesa: Carlos Gabas, ministro interino da Previdência Social, e Aloizio Mercadante, titular da Educação.
Um ascendeu dentro da máquina do serviço público para a qual entrou em 1985, por concurso. O outro emergiu do aparelho partidário, tendo sido fundador do PT, elegendo-se deputado e senador.
Se um dos dois for escolhido, a decisão terá dado o tom de um eventual segundo mandato da doutora Dilma.
O PENTE DE RENAN
O senador Renan Calheiros pagou R$ 27,4 mil à FAB pelo uso indevido do jatinho que o levou de Brasília ao Recife para um implante de 10.118 fios de cabelo. Isso dá R$ 2,70 por fio, deixando-se de lado os serviços médicos do procedimento.
Toda vez que o doutor ajeitar a cabeleira, deverá contar os tufos que saírem no pente. A cada 268 fios que caírem, terá perdido o equivalente a um salário mínimo.
INFRAERO INVICTA
A Infraero é invencível. Em dezembro de 2012, quando os aeroportos do Rio viraram umas saunas, ela dizia que o sistema de ar-refrigerado seria consertado no dia seguinte.
Agora que o Galeão passou pelo mesmo problema, ela informou que o ar-refrigerado funcionava normalmente, salvo nas áreas onde há obras, pois lá ele está desligado.
Tem solução. Basta desligar a refrigeração do presidente da Infraero quando há passageiros que pagam suas taxas no calor.
NO MURO
A entrada do PSDB no governo de Eduardo Campos é um fato maior do que parece. O tucanato pernambucano é liderado por Sérgio Guerra, ex-presidente do partido, e há algum desconforto no PSDB nordestino com a disposição mostrada por Aécio Neves em relação à sua candidatura.
TARSO XIAOPING
O comissário Tarso Genro produziu um interessante artigo intitulado "Uma Perspectiva de Esquerda para o Quinto Lugar". É uma reflexão em torno da sua visão para o futuro do Brasil, com ambiciosas referências ao modelo político e econômico da China. Espremendo, resulta no seguinte: "O 'levantar âncoras' poderá ser uma nova Assembleia Nacional Constituinte, no bojo de um amplo movimento político -por dentro e por fora do Parlamento- inspirado pelas jornadas de junho: com partidos à frente sem aceitar a manipulação dos cronistas do neoliberalismo, abrigados na grande mídia".
O doutor diz que "se quiséssemos enquadrar nas categorias do marxismo tradicional o que ocorreu na China após os anos sessenta, poder-se-ia dizer que a Revolução Cultural como forma específica de revolução política 'permanente' foi sucedida por uma 'Nova Política Econômica' (a NEP leninista), de longo prazo, que tende a se tornar economia 'permanente'." Comparar a revolução do companheiro Deng Xiaoping com a NEP de Lênin é uma licença poética. Uma, houve. A outra, teria havido. Lênin lançou-a em 1921, sofreu o primeiro derrame em maio de 1922, saiu do ar sete meses depois e morreu em 1924. Em 1928 a NEP foi abandonada, e o Estado leninista marchou para a "revolução cultural" de Stálin.
MORENGUEIRA NO PLANALTO
Em ano de campanha acontecem coisas estranhas. No lusco-fusco das festas de fim de ano acontecem coisas ainda mais estranhas. O repórter André Borges revelou que o Ministério dos Transportes alterou o edital do leilão de 2.100 linhas de ônibus interestaduais. Na sua versão inicial, cada consórcio deveria ser liderado por empresas experimentadas no setor, podendo agregar fundos de investimento ou mesmo empresas estrangeiros. A mudança, permitida pelo Planalto, mudou a canção. Nela entrou "Piston de Gafieira", imortalizada pelo velho Moreira da Silva:
"Quem está fora não entra
Quem está dentro não sai"
Engessaram o leilão, cristalizando o oligopólio do sistema de transportes interestaduais. Bloquearam a entrada de estrangeiros e impediram que o setor seja oxigenado por capitalizações do mercado financeiro (com suas auditorias). Os transportecas justificam a mudança dizendo que ela privilegia as empresas com experiência. Nada mais verdadeiro. Em matéria de experiência, a crônica desse setor confunde-se com as trevas das concessões de serviços públicos. Em 1994, o deputado Camilo Cola, dono da Itapemirim, tinha patrimônio de US$ 154 milhões e declarava R$ 10 mil de renda mensal.
Desde 1993 o governo promete leiloar as concessões de linhas de transportes interestaduais. Passaram-se 21 anos e nada. As empresas, felizes, rodam com autorizações especiais do governo. Vale lembrar que os concessionários de transportes públicos lidam com grandes pacotes de dinheiro vivo.
Com uma fortuna avaliada em US$ 31 bilhões, Bloomberg gasta como quer. Já deu um bilhão à universidade onde estudou. (No ano seguinte à sua formatura, quando era um duro, deu cinco dólares.) Começou a vida no papelório, deixou a Salomon Brothers com US$ 10 milhões e fundou o império de meios de comunicação que leva seu nome.
Para quem gosta de depreciar o Brasil, ele seria um exemplo de políticos que faltam por aqui. É verdade, mas o casal Clinton está milionário e suas origens são semelhantes às de Bloomberg, sem que tenham produzido um só parafuso. Lyndon Johnson endinheirou-se na política e seus mensalões fariam corar o comissariado petista.
A diferença entre o serviço público americano e o brasileiro está no exemplo. Indo-se para o século 19, Dolley Madison, mulher do presidente James Madison, a primeira locomotiva social de Washington, morreu em absoluta pobreza, eventualmente ajudada por um escravo liberto que trabalhara para ela na Casa Branca. Em 1979, quando Paul Volcker foi nomeado presidente do Federal Reserve Bank, perdeu 50% de sua receita e foi morar numa quitinete de estudante em Washington. Sua mulher ficou em Nova York e equilibrou as contas alugando um quarto de seu apartamento.
No Brasil foram muitos os milionários que passaram por governos. Nenhum soltou a bolsa da Viúva. Em muitos casos as fortunas foram acumuladas por inexplicáveis multiplicações ocorridas durante o exercício dos cargos. Exemplo como o de Bloomberg, nem pensar.
CASA CIVIL
Está dura a competição dentro do comissariado pela substituição de Gleisi Hoffmann na chefia da Casa Civil.
A doutora Dilma tem dois nomes sobre a mesa: Carlos Gabas, ministro interino da Previdência Social, e Aloizio Mercadante, titular da Educação.
Um ascendeu dentro da máquina do serviço público para a qual entrou em 1985, por concurso. O outro emergiu do aparelho partidário, tendo sido fundador do PT, elegendo-se deputado e senador.
Se um dos dois for escolhido, a decisão terá dado o tom de um eventual segundo mandato da doutora Dilma.
O PENTE DE RENAN
O senador Renan Calheiros pagou R$ 27,4 mil à FAB pelo uso indevido do jatinho que o levou de Brasília ao Recife para um implante de 10.118 fios de cabelo. Isso dá R$ 2,70 por fio, deixando-se de lado os serviços médicos do procedimento.
Toda vez que o doutor ajeitar a cabeleira, deverá contar os tufos que saírem no pente. A cada 268 fios que caírem, terá perdido o equivalente a um salário mínimo.
INFRAERO INVICTA
A Infraero é invencível. Em dezembro de 2012, quando os aeroportos do Rio viraram umas saunas, ela dizia que o sistema de ar-refrigerado seria consertado no dia seguinte.
Agora que o Galeão passou pelo mesmo problema, ela informou que o ar-refrigerado funcionava normalmente, salvo nas áreas onde há obras, pois lá ele está desligado.
Tem solução. Basta desligar a refrigeração do presidente da Infraero quando há passageiros que pagam suas taxas no calor.
NO MURO
A entrada do PSDB no governo de Eduardo Campos é um fato maior do que parece. O tucanato pernambucano é liderado por Sérgio Guerra, ex-presidente do partido, e há algum desconforto no PSDB nordestino com a disposição mostrada por Aécio Neves em relação à sua candidatura.
TARSO XIAOPING
O comissário Tarso Genro produziu um interessante artigo intitulado "Uma Perspectiva de Esquerda para o Quinto Lugar". É uma reflexão em torno da sua visão para o futuro do Brasil, com ambiciosas referências ao modelo político e econômico da China. Espremendo, resulta no seguinte: "O 'levantar âncoras' poderá ser uma nova Assembleia Nacional Constituinte, no bojo de um amplo movimento político -por dentro e por fora do Parlamento- inspirado pelas jornadas de junho: com partidos à frente sem aceitar a manipulação dos cronistas do neoliberalismo, abrigados na grande mídia".
O doutor diz que "se quiséssemos enquadrar nas categorias do marxismo tradicional o que ocorreu na China após os anos sessenta, poder-se-ia dizer que a Revolução Cultural como forma específica de revolução política 'permanente' foi sucedida por uma 'Nova Política Econômica' (a NEP leninista), de longo prazo, que tende a se tornar economia 'permanente'." Comparar a revolução do companheiro Deng Xiaoping com a NEP de Lênin é uma licença poética. Uma, houve. A outra, teria havido. Lênin lançou-a em 1921, sofreu o primeiro derrame em maio de 1922, saiu do ar sete meses depois e morreu em 1924. Em 1928 a NEP foi abandonada, e o Estado leninista marchou para a "revolução cultural" de Stálin.
MORENGUEIRA NO PLANALTO
Em ano de campanha acontecem coisas estranhas. No lusco-fusco das festas de fim de ano acontecem coisas ainda mais estranhas. O repórter André Borges revelou que o Ministério dos Transportes alterou o edital do leilão de 2.100 linhas de ônibus interestaduais. Na sua versão inicial, cada consórcio deveria ser liderado por empresas experimentadas no setor, podendo agregar fundos de investimento ou mesmo empresas estrangeiros. A mudança, permitida pelo Planalto, mudou a canção. Nela entrou "Piston de Gafieira", imortalizada pelo velho Moreira da Silva:
"Quem está fora não entra
Quem está dentro não sai"
Engessaram o leilão, cristalizando o oligopólio do sistema de transportes interestaduais. Bloquearam a entrada de estrangeiros e impediram que o setor seja oxigenado por capitalizações do mercado financeiro (com suas auditorias). Os transportecas justificam a mudança dizendo que ela privilegia as empresas com experiência. Nada mais verdadeiro. Em matéria de experiência, a crônica desse setor confunde-se com as trevas das concessões de serviços públicos. Em 1994, o deputado Camilo Cola, dono da Itapemirim, tinha patrimônio de US$ 154 milhões e declarava R$ 10 mil de renda mensal.
Desde 1993 o governo promete leiloar as concessões de linhas de transportes interestaduais. Passaram-se 21 anos e nada. As empresas, felizes, rodam com autorizações especiais do governo. Vale lembrar que os concessionários de transportes públicos lidam com grandes pacotes de dinheiro vivo.
Debate sem censura - HENRIQUE MEIRELLES
FOLHA DE SP - 05/01
Entramos em 2014 com o noticiário carregado pelo debate eleitoral antecipado por governo e oposição. É a oportunidade para travar um bom debate sobre como assegurar nos próximos anos as taxas de crescimento prevalentes na década passada. Mas traz também o risco de o debate econômico ser dominado totalmente pelo debate eleitoral.
Há hoje peculiar convergência entre partes divergentes na análise das razões do crescimento da década anterior e o papel da situação econômica internacional. Interessa a muitos, por razões opostas, atribuir à economia internacional a forte expansão da década passada ou o baixo crescimento atual. Outra distorção conveniente é apontar a implementação de um modelo de incentivo ao consumo e o boom das commodities como responsáveis pelo crescimento de 2003 a 2010. Os fatos, porém, divergem das versões.
Os termos de troca (valor médio das mercadorias exportadas pelo Brasil) começaram a subir o suficiente para influenciar a economia a partir de 2006/2007, e o boom ocorreu em 2009/2010, após as medidas anticrise adotadas por outros países.
Foi o forte ajuste monetário e fiscal a partir de 2003 que estabilizou a economia e estabeleceu condições para a expansão econômica. A estabilidade propiciou a alta do crédito e do investimento, deprimidos pelos anos de instabilidade (monetária, fiscal e cambial). O desemprego elevado proporcionou mão de obra à economia em expansão.
Nos primeiros anos, o câmbio desvalorizado beneficiou as exportações de manufaturados, até que o impressionante aumento dos saldos comerciais, do investimento e da credibilidade da política econômica ocasionou gradual valorização do real.
Este ciclo durou até a crise de 2008 e 2009, quando houve, aí sim, a primeira mudança importante de modelo no período, com uso de política fiscal para estimular o consumo e avanço dos bancos públicos. Importante notar neste contexto que todas as medidas monetárias e cambiais adotadas pelo Banco Central em 2008 e 2009 foram revertidas já em 2010, com normalização da liquidez e da política monetária.
A compreensão correta de eventos fundamentais e tão próximos temporalmente do debate atual é essencial para a recuperação do crescimento. Por isso é preciso neste momento travar o debate econômico baseado nos fatos, independentemente do debate eleitoral, que passa pelos temas econômicos com distorção natural e inevitável.
A manutenção da realidade histórica no conhecimento coletivo é fundamental para traçar o rumo de uma política econômica que restaure o nível de crescimento e leve o Brasil a patamar compatível com o potencial do país.
Entramos em 2014 com o noticiário carregado pelo debate eleitoral antecipado por governo e oposição. É a oportunidade para travar um bom debate sobre como assegurar nos próximos anos as taxas de crescimento prevalentes na década passada. Mas traz também o risco de o debate econômico ser dominado totalmente pelo debate eleitoral.
Há hoje peculiar convergência entre partes divergentes na análise das razões do crescimento da década anterior e o papel da situação econômica internacional. Interessa a muitos, por razões opostas, atribuir à economia internacional a forte expansão da década passada ou o baixo crescimento atual. Outra distorção conveniente é apontar a implementação de um modelo de incentivo ao consumo e o boom das commodities como responsáveis pelo crescimento de 2003 a 2010. Os fatos, porém, divergem das versões.
Os termos de troca (valor médio das mercadorias exportadas pelo Brasil) começaram a subir o suficiente para influenciar a economia a partir de 2006/2007, e o boom ocorreu em 2009/2010, após as medidas anticrise adotadas por outros países.
Foi o forte ajuste monetário e fiscal a partir de 2003 que estabilizou a economia e estabeleceu condições para a expansão econômica. A estabilidade propiciou a alta do crédito e do investimento, deprimidos pelos anos de instabilidade (monetária, fiscal e cambial). O desemprego elevado proporcionou mão de obra à economia em expansão.
Nos primeiros anos, o câmbio desvalorizado beneficiou as exportações de manufaturados, até que o impressionante aumento dos saldos comerciais, do investimento e da credibilidade da política econômica ocasionou gradual valorização do real.
Este ciclo durou até a crise de 2008 e 2009, quando houve, aí sim, a primeira mudança importante de modelo no período, com uso de política fiscal para estimular o consumo e avanço dos bancos públicos. Importante notar neste contexto que todas as medidas monetárias e cambiais adotadas pelo Banco Central em 2008 e 2009 foram revertidas já em 2010, com normalização da liquidez e da política monetária.
A compreensão correta de eventos fundamentais e tão próximos temporalmente do debate atual é essencial para a recuperação do crescimento. Por isso é preciso neste momento travar o debate econômico baseado nos fatos, independentemente do debate eleitoral, que passa pelos temas econômicos com distorção natural e inevitável.
A manutenção da realidade histórica no conhecimento coletivo é fundamental para traçar o rumo de uma política econômica que restaure o nível de crescimento e leve o Brasil a patamar compatível com o potencial do país.
A indústria baqueia - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 05/01
Nos últimos três anos, o governo Dilma acreditou em que estivesse adotando as melhores políticas de incentivo à indústria. Os resultados foram medíocres. Em 2011, a indústria cresceu apenas 0,3%, seguido de desempenhos também ruins em 2012 (-2,7%) e 2013 (+1,6%).
O diagnóstico geral esteve reconhecidamente equivocado. Não foi por falta de consumo interno que a indústria se ressentiu e segue se ressentindo. A indústria enfrenta dois problemas graves conjugados: falta de competitividade e incapacidade de inserção na rede global de suprimentos.
Quase sempre que são chamadas a opinar, um bom número das cabeças preocupadas com o futuro da indústria avisa que, com esse câmbio, com o real valorizado perante o dólar, não há setor produtivo que consiga prosperar. É uma meia-verdade. O buraco fica ainda mais embaixo.
A indústria brasileira não tem competitividade por duas principais razões: primeira, porque enfrenta um custo Brasil insuportável, na medida em que quase tudo é mais caro por aqui. Até há alguns anos, o governo tratava de compensar com mais câmbio - mais desvalorização do real - esse baixo poder de fogo, mas esse é um recurso limitado porque importações de máquinas, de matérias-primas e de peças mais caras em reais também asfixiam uma indústria que precisa inserir-se mais profundamente nos mercados. Em segundo lugar, porque tanto o governo Lula quanto o governo Dilma não deram importância à abertura de mercados para a indústria, uma vez que descuidaram da negociação de acordos comerciais. Hoje, a maioria dos concorrentes do Brasil está amarrada a acordos de comércio e, por eles, as prioridades vão para indústrias de outros países.
Não foi apenas com mais câmbio que o governo tentou dar mais força para a indústria. Desonerou as folhas de pagamentos, providência que deve ter beneficiado o setor em cerca de R$ 40 bilhões; reduziu impostos para a indústria de veículos, de materiais de construção, de aparelhos domésticos e de mobiliário; derrubou os juros básicos, a fim de azeitar o crédito; criou reservas de mercado por meio da extensão do estatuto do conteúdo local para um grande número de setores, especialmente o dos fornecedores de equipamentos de petróleo; e impeliu o BNDES para empurrar com créditos subsidiados os campeões do futuro.
Assim, o resultado decepcionou porque uma política industrial só funciona quando há confiança e os fundamentos da economia estão equilibrados.
Os próximos anos serão atrozes para a indústria. Apenas o setor de veículos enfrentará em 2015 uma capacidade ociosa de cerca de 1,5 milhão de unidades. Ao longo deste ano toda a indústria deverá enfrentar o aumento da competição da indústria americana (e de outros países) que será fortemente beneficiada com uma redução substancial dos custos da energia, graças à revolução do xisto.
Há sinais de que os dirigentes, afinal, parecem ter acordado para a necessidade de um choque capitalista que recoloque a indústria nos grandes negócios globais. O problema é saber se haverá disposição para fazer o que tem de ser feito, sobretudo em 2014, ano eleitoral.
Nos últimos três anos, o governo Dilma acreditou em que estivesse adotando as melhores políticas de incentivo à indústria. Os resultados foram medíocres. Em 2011, a indústria cresceu apenas 0,3%, seguido de desempenhos também ruins em 2012 (-2,7%) e 2013 (+1,6%).
O diagnóstico geral esteve reconhecidamente equivocado. Não foi por falta de consumo interno que a indústria se ressentiu e segue se ressentindo. A indústria enfrenta dois problemas graves conjugados: falta de competitividade e incapacidade de inserção na rede global de suprimentos.
Quase sempre que são chamadas a opinar, um bom número das cabeças preocupadas com o futuro da indústria avisa que, com esse câmbio, com o real valorizado perante o dólar, não há setor produtivo que consiga prosperar. É uma meia-verdade. O buraco fica ainda mais embaixo.
A indústria brasileira não tem competitividade por duas principais razões: primeira, porque enfrenta um custo Brasil insuportável, na medida em que quase tudo é mais caro por aqui. Até há alguns anos, o governo tratava de compensar com mais câmbio - mais desvalorização do real - esse baixo poder de fogo, mas esse é um recurso limitado porque importações de máquinas, de matérias-primas e de peças mais caras em reais também asfixiam uma indústria que precisa inserir-se mais profundamente nos mercados. Em segundo lugar, porque tanto o governo Lula quanto o governo Dilma não deram importância à abertura de mercados para a indústria, uma vez que descuidaram da negociação de acordos comerciais. Hoje, a maioria dos concorrentes do Brasil está amarrada a acordos de comércio e, por eles, as prioridades vão para indústrias de outros países.
Não foi apenas com mais câmbio que o governo tentou dar mais força para a indústria. Desonerou as folhas de pagamentos, providência que deve ter beneficiado o setor em cerca de R$ 40 bilhões; reduziu impostos para a indústria de veículos, de materiais de construção, de aparelhos domésticos e de mobiliário; derrubou os juros básicos, a fim de azeitar o crédito; criou reservas de mercado por meio da extensão do estatuto do conteúdo local para um grande número de setores, especialmente o dos fornecedores de equipamentos de petróleo; e impeliu o BNDES para empurrar com créditos subsidiados os campeões do futuro.
Assim, o resultado decepcionou porque uma política industrial só funciona quando há confiança e os fundamentos da economia estão equilibrados.
Os próximos anos serão atrozes para a indústria. Apenas o setor de veículos enfrentará em 2015 uma capacidade ociosa de cerca de 1,5 milhão de unidades. Ao longo deste ano toda a indústria deverá enfrentar o aumento da competição da indústria americana (e de outros países) que será fortemente beneficiada com uma redução substancial dos custos da energia, graças à revolução do xisto.
Há sinais de que os dirigentes, afinal, parecem ter acordado para a necessidade de um choque capitalista que recoloque a indústria nos grandes negócios globais. O problema é saber se haverá disposição para fazer o que tem de ser feito, sobretudo em 2014, ano eleitoral.
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