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domingo, 24 de março de 2013
BRASIL TEM POTENCIAL PARA PRODUZIR ENERGIAS LIMPAS
Café com sustentabilidade promovido pela FEBRABAN reuniu ontem especialistas em São Paulo.
Tremores na ilha, por Miriam Leitão
Depois de uma semana de bancos fechados e o país em confusão, o governo do Chipre baixou ontem à noite várias medidas para tentar desesperadamente evitar a bancarrota. O Parlamento aprovou projetos que permitem fechamento de banco, criação de fundo com ativos estatais, controle de capitais e estatização de fundos de pensão. Tudo para dar uma contrapartida e receber o resgate de € 10 bilhões.
No caso do Chipre, os europeus usaram o manual do que não fazer numa crise, e a situação pode piorar porque a negativa do Parlamento do país ao projeto europeu fortalece a resistência aos remédios amargos. Hoje, há uma possibilidade concreta de que o país saia do euro, mas se acontecer isso os poupadores poderão perder ainda mais na desvalorização da moeda que for recriada no lugar do euro.
A CNN Money definiu o Chipre como uma pequena ilha, de bancos gigantes e governo endividado. O país, de um milhão de habitantes, conseguiu trazer de volta para a Europa o ambiente de crise. E ela mesma se debatia ontem atrás de medidas radicais para evitar o pior.
A ideia de fechar os bancos e avisar que os correntistas perderiam parte do valor do dinheiro era tão estúpida que só poderia dar errado. Se o Parlamento do Chipre aprovasse a taxação, na terça-feira, outros países da Europa, como Grécia, Portugal e Espanha, poderiam sofrer corrida bancária. Já a recusa pelo Parlamento, segundo o economista-chefe da Acrefi, Nicola Tingas, que é filho de gregos e tem parentes no país, serviu de motivação a outros países para que resistam às imposições da Troica (FMI, BCE e Comissão Europeia).
— Conversei esta semana com primos gregos e eles estão todos satisfeitos com o resultado no Parlamento do Chipre. Se o país, que é ainda menor que a Grécia, está recusando essa imposição, significa que a Grécia também pode fazer isso — disse.
Tingas acredita que as eleições da Alemanha este ano pressionaram a chanceler Angela Merkel a endurecer o jogo. A ilha é considerada paraíso fiscal, com fortes relações com a Rússia. Há suspeitas de lavagem de dinheiro russo com a venda de armas para países da Ásia e do Norte da África.
O problema é que as medidas que começaram a ser tomadas ontem à noite vão encurralando o aplicador, principalmente os que têm mais de € 100 mil. Uma das medidas aprovadas dá poderes ao ministro das Finanças de restringir movimentação de capital, limitar os saques quando os bancos abrirem, não resgatar todos os cheques apresentados. Estão tentando ao mesmo tempo evitar o pânico e encontrar uma fórmula de negociar um resgate com a União Europeia.
A S&P rebaixou para “lixo” a qualidade dos títulos públicos do Chipre. Quer dizer que o governo não tem capacidade, sozinho, de honrar os empréstimos que tomou. Ou recebe ajuda ou dá o calote. Disse que os dois principais bancos cipriotas precisam de € 10 bilhões em financiamento para tapar buracos. Uma montanha de dinheiro, porque o PIB do país é € 17 bi.
José Júlio Senna, da MCM Consultores, acha que esse valor pode ser só o começo. O sistema bancário do Chipre tem um nível de alavancagem muito alto, cerca de oito vezes o PIB. Ao mesmo tempo, o governo tem dívida de 90%, e o país não possui ativos e indústrias para serem tributados. Só sobraram os depósitos.
Senna avalia que há um risco real de saída do Chipre da zona do euro porque há poucas opções na mesa. Mas explica que os mercados ficaram relativamente tranquilos durante a semana porque acreditam que o BCE não vai deixar a crise se alastrar.
José Júlio Senna, da MCM Consultores, acha que esse valor pode ser só o começo. O sistema bancário do Chipre tem um nível de alavancagem muito alto, cerca de oito vezes o PIB. Ao mesmo tempo, o governo tem dívida de 90%, e o país não possui ativos e indústrias para serem tributados. Só sobraram os depósitos.
Senna avalia que há um risco real de saída do Chipre da zona do euro porque há poucas opções na mesa. Mas explica que os mercados ficaram relativamente tranquilos durante a semana porque acreditam que o BCE não vai deixar a crise se alastrar.
O problema é que a semana termina com a crise em aberto e os cipriotas se debatendo atrás de medidas para tentar evitar o que já está se tornando inevitável: um calote. Uma parte dos depósitos será destruída: ou por um confisco, ou pela volta a uma moeda que perca rapidamente o valor diante do euro.
PSICANÁLISE DA VIDA COTIDIANA Mulher, um poema, uma homenagem!
CARLOS VIEIRA
Mulher, Salve Regina, mãe de Cristo, ser ousado, corajoso, que atendeu à serpente no Paraíso e nos deu humanidade. Caso este ato de irreverência, ousadia e transgressão não tivesse acontecido, o que seria de nós? Anjos, anjos puros, seres indiferenciados, no limbo, sem amor e sexualidade. Daí a expressão bíblica e literária: somos “Anjos Caídos”. Mulher, fêmea, animal, gente, aquela que nos concebeu com tolerância à espera, capacidade de recusa, gritos, sussurros e sorrisos de amor, de alegria ao vê seu bebê vivo, chorando, gritando e denunciando vida. Mulher que sofre quando seu filho cresce, mulher que se contenta quando sua cria se desenvolve, transforma-se em adulto.Mulher que geme a cólica do infante, que estranha sua sexualidade quando grávida e oferece a seu recém-nascido todo seu amor, dedicação, tempo e sua vida.Mulher que aborta, de propósito ou contra seu anseio.Fêmea que mata, que odeia e ao mesmo tempo ama.Ser humano que se dedica, que se escraviza e que sente prazer numa relação sadomasoquista; mulher de bandido.Mulher que inveja, mulher que se complementa com seu homem, cria uma parceria, mulher que cresce, mas sob o domínio da “serpente verde”, a inveja, faz e acontece, luta, briga, mata, escraviza os homens para negar sua feminilidade. Sempre pensei que a mulher nasce aberta, com sua fissura vaginal e o homem é fechado. Que vantagem da abertura! Inacabada, incompleta, aberta para expansão e liberdade. Ás vezes, as mulheres não se dão conta dessa vantagem! Mulheres de Atenas, lutadoras, mulheres do campo, mulheres da roça, mulheres que conseguiram se desprender do cativeiro. Sherazade, exemplo de astúcia, a primeira emancipação ao poder masculino. Negras, vindas da África. Mulheres intelectuais, executivas, ministras e até presidente da república. Mulheres santas, Joana D’Arc, Santa Teresa D'Ávila, filósofa, teóloga, mulher que teve a capacidade de se livrar da sua carnalidade e se tornar santa. Mulher, carmelita descalça, que oferece sua vida para ser “esposa de Cristo”. Mulher que transa, que não transa, mulher que ama e odeia o homem que a ama e odeia. “Há uma mulher.sente por mim o que eu sinto por ela, me odeia, me ama.Quando ela me odeia eu a amo, quando ela me ama, eu a odeio.Não existe outra possibilidade.” Fragmento do livro de Peter Estherházy,”Uma mulher”,Ed.Cosac Naify,2010,SP.Mulher sensual, sensitiva, histérica, madura. Mulher da rua, prostituta que carrega sua angústia do vazio e de não ter tido afeto e oportunidades. Mulheres que amam mulheres, onde a homossexualidade é uma escolha e um modo de ser-no-mundo. Mulheres inférteis, desesperadas e angustiadas com a impossibilidade de não criarem. Filhos adotados por mulheres que ás vezes são mais verdadeiras que as mães que os pariram.Mulher que cria, que faz da arte a maneira de tornar o mundo mais vivível: Clarice Lispector, que dizer dessa pessoa inquieta, “louca-sana” que através da sua caneta descreve o pensamento humano? Em seu belo livro, “Água Viva” mostra a arte dolorosa de criar, de por em palavras o pensamento e de intuir, antes do próprio pensamento, as contrações de ideias ainda indizíveis.Verdadeiro monólogo sobre a arte da criação literária. E na “Paixão Segundo G.H.”outra obra brilhante sua, olha o insight que só se realiza em sua própria autoanálise:” Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema.” ... mas porque não me deixo guiar pelo que for acontecendo? Terei que correr o sagrado risco do acaso. E substituirei o destino pela probabilidade.” “Talvez o que me tenha acontecido seja uma compreensão – e que, para eu ser verdadeira, tenho que continuar a não estar à altura dela, tenho que continuar a não entendê-la.Toda compreensão súbita se parece muito com uma aguda incompreensão.” Mulher esposa, companheira, cúmplice, acolhedora, às vezes distantes, às vezes perto demais, mas sempre dando um sentimento de certeza do seu afeto.Mulher filha, menina-mulher, grata e ingrata, amorosa, possessiva, menina, sempre menina.
Deixo o leitor com um fragmento de Folhas de Relva, obra do grito de liberdade de Walt Whitman(1819-1892), poeta americano, cânone da Literatura Universal:”Não se envergonhem, mulheres:é de vocês o privilégio de conterem os outros e darem saída aos outros – vocês são os portões do corpo e são os portões da alma.A fêmea contém todas as qualidades e a graça de as temperar, está no lugar dela e movimenta-se em perfeito equilíbrio, ela é todas as coisas devidamente veladas, é ao mesmo tempo passiva e ativa, e está no mundo para dar ao mundo tanto filhos como filhas, tanto filhas como filhos. Assim como a Natureza eu vejo minha alma refletida, assim como através de um nevoeiro, eu vejo Uma de indizível plenitude e beleza e saúde, com a cabeça inclinada e os braços cruzados sobre o peito – A Fêmea eu vejo.”
Deixo o leitor com um fragmento de Folhas de Relva, obra do grito de liberdade de Walt Whitman(1819-1892), poeta americano, cânone da Literatura Universal:”Não se envergonhem, mulheres:é de vocês o privilégio de conterem os outros e darem saída aos outros – vocês são os portões do corpo e são os portões da alma.A fêmea contém todas as qualidades e a graça de as temperar, está no lugar dela e movimenta-se em perfeito equilíbrio, ela é todas as coisas devidamente veladas, é ao mesmo tempo passiva e ativa, e está no mundo para dar ao mundo tanto filhos como filhas, tanto filhas como filhos. Assim como a Natureza eu vejo minha alma refletida, assim como através de um nevoeiro, eu vejo Uma de indizível plenitude e beleza e saúde, com a cabeça inclinada e os braços cruzados sobre o peito – A Fêmea eu vejo.”
Carlos.A.Vieira, médico, psicanalista, Membro Efetivo da Sociedade de Psicanálise de Brasilia e de Recife. Membro da FEBRAPSI e da I.P.A - London.
O dízimo, por Mary Zaidan
Guia de Dilma Rousseff na cerimônia de entronização e no encontro privado com o Papa Francisco, em uma viagem que ficará marcada pelo contraste entre a gastança da comitiva brasileira e a pregação pelos pobres feita pelo Pontífice, o ministro Gilberto Carvalho não se apoquenta. Nem quando quebra ou deixa quebrar, diante de seu nariz, símbolos de sua fé.
Católico (foi ligado à Pastoral Operária), Carvalho é também porta-voz e apara-arestas do governo e das campanhas majoritárias petistas junto aos evangélicos. Na última sexta-feira, representava a presidente na Convenção Nacional das Assembleias de Deus, realizada em São Paulo.
Ali, ouviu impassível seu colega de governo Marcelo Crivella (PRB), ministro da Pesca, conclamar mais de três mil pastores a aplaudir o governo porque as políticas voltadas aos pobres permitiram aumentar a arrecadação de suas igrejas. "A nossa presidenta e o presidente Lula fizeram a gente crescer porque apoiaram os pobres. E o que nos sustenta são dízimos e ofertas de pessoas simples e humildes.”
Parece brincadeira, mas não é.
Da saia-justa que lhe impôs Crivella, Carvalho escapou sem dar um pio. O mesmo não pode fazer com os custos exorbitantes da estadia em Roma – quatro dias para pouco mais de cinco horas de agenda oficial, gastos de R$ 324 mil só em hospedagem, sem contar os 21 veículos locados, refeições e diárias adicionais. Sem conseguir explicar o inexplicável, considerou o tema como “falta de assunto” e ponto.
Ambos os casos ilustram de maneira cristalina como o governo vê e lida com os mais pobres. Os mesmos pobres que inflam a popularidade recorde da presidente.
Marcelo Crivella. Foto: Célio Azevedo
Em Roma, para ver o Papa apologista da simplicidade, considerou-se normal, ou pior, de praxe, que a presidente e seus ministros – aliás, o que mesmo o ministro da Educação Aloisio Mercadante foi fazer lá? - se hospedassem em um dos hotéis mais luxuosos da Europa, pagos pelos impostos dos brasileiros.
Entre os 132 chefes de estado presentes à cerimônia de entronização, só o vice-presidente dos EUA e o presidente de Taiwan ficaram no mesmo hotel de Dilma.
Mas, se como diz Carvalho isso é falta de assunto, vamos ao dízimo.
"Com a presidenta Dilma, os juros baixaram. Quem paga juros é pobre. Com menos juros, mais dízimo e mais oferta", explicou o ministro da Pesca, diante do secretário-geral da Presidência. Não recebeu qualquer reprimenda. Talvez porque aqui a semelhança não seja mera coincidência.
A lógica cartesiana que o evangélico Crivella expôs é a mesma que orienta os passos da campanha pela reeleição da presidente: o dízimo é o voto.
Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa'. @maryzaidan
Cargos de ministro dos tribunais superiores: o empobrecimento da vida pública brasileira
Hugo Gomes de Almeida
Não ser incautos é dever de todos. Não nos deixamos dominar de entusiasmo por pessoas, que, de uma hora para outra, passam a figurar como nome nacional, ajudadas pela imprensa, as mais das vezes, sensacionalista. Alcançam prestígio popular e chegam a ser mencionadas — veja o absurdo! —para concorrer aos mais altos cargos eletivos.
O eleitorado sempre se deixa influenciar pela mídia, que constrói reputações imerecidas e desfaz as de quem se cobre de méritos. Quem quer tenha acompanhado as lutas políticas, no Brasil, nas últimas décadas, por certo não perdeu de vista a indulgência das classes endinheiradas para com o representante operário e a campanha violenta e sórdida que esses mesmos adversários moveram contra o líder nacionalista Leonel Brizola.
É normal que observemos o que ordinariamente acontece e extraiamos conclusões.
NOMEAÇÃO DE MINISTROS
Há muito acompanhamos como se fazem os ministros dos tribunais superiores. Chegamos, cedo ainda, a conclusões desestimulantes a que pleiteássemos essas ascensões. Por isso, resignamos alcançar posição somente respaldada pelo concurso público. Com essa consciência ética, jamais reverenciamos poderosos, muito menos permitimos que nos pudessem influenciar. Os que mendigam para alcançar ascensões são sempre cobrados quando no exercício do cargo, sem que possam dizer não aos que os beneficiaram.
Embora o texto constitucional se expresse em termos da exigência de notório saber jurídico, convocando-nos para acreditar na essencialidade do mérito intelectual, isso de pouco tem valido. O ser humano, no desenfreio da ambição, a tudo deturpa. Existe ministro prestando serviços no Supremo Tribunal Federal que foi lá entronizado — pasmem! — sem qualquer apreço a essa prescrição da Carta Magna. Não é possuidor desse requisito. Foi reprovado em dois concursos de ingresso na magistratura paulista.
Os postulantes de cargos de ministros desses tribunais podem até ser dotados de saber jurídico. Um ou outro atende a exigência da Lei Maior. Mas não conquistam a cadeira com esteio nessa riqueza de mérito pessoal. Alguns chegam a despersonalizar-se, ao procurar cobrir-se da ajuda de políticos, entre estes alguns de conduta escabrosa.
Quando vemos alguém conquistar cargo de tal relevo nos tribunais, em Brasília, advém-nos de imediato a desconfiança de que o beneficiário abdicara-se de pureza d’alma! Há os que se ajoelham aos pés de políticos conhecidos por dilapidarem o erário. Após a consecução do objetivo, já no cargo, passam a exercitar contorcionismos, jogando para a platéia pouco esclarecida e procurando aparecer como paladinos da moralidade.
Não nos deixamos influenciar por quantos adquirem projeção com o beneplácito artificial da mídia. Porque temos visto gente projetada por esse meio que, na essência, longe está de ser o que procura aparentar.
Uma seresta clássica de David Nasser e Benedito Lacerda
O jornalista, escritor e letrista paulista David Nasser (1917-1980), autor de diversos clássicos do nosso cancioneiro popular, entre os quais “Normalista”, cujo teor poético revela paixão por uma encantadora estudante. O samba-canção “Normalista” foi gravado por Nelson Gonçalves, em 1949, pela RCA Victor.
David Nasser
NORMALISTA
Benedito Lacerda e David Nasser
Benedito Lacerda e David Nasser
Vestida de azul e branco
Trazendo um sorriso franco
Num rostinho encantador
Minha linda normalista
Rapidamente conquista
Meu coração sem amor
Eu que trazia fechado
Dentro do peito guardado
Meu coração sofredor
Estou bastante inclinado
A entregá-lo aos cuidados
Daquele brotinho em flor
Mas a normalista linda
Não pode casar ainda
Só depois que se formar
Eu estou apaixonado
O pai da moça é zangado
E o remédio é esperar.
Trazendo um sorriso franco
Num rostinho encantador
Minha linda normalista
Rapidamente conquista
Meu coração sem amor
Eu que trazia fechado
Dentro do peito guardado
Meu coração sofredor
Estou bastante inclinado
A entregá-lo aos cuidados
Daquele brotinho em flor
Mas a normalista linda
Não pode casar ainda
Só depois que se formar
Eu estou apaixonado
O pai da moça é zangado
E o remédio é esperar.
Assumir a culpa
Carla Kreefft
É preciso estar atento para evitar a análise mais rasa de assuntos polêmicos, como a eleição de Marco Feliciano para a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara de Deputados.
Daqui não saio, daqui ninguém me tira
Dizer que o pastor deputado não tem condições de exercer esse cargo é mais do que uma constatação – já é uma obviedade. A posição preconceituosa demonstrada por ele não merece nem mesmo discussão. Não é possível que o presidente de uma comissão que foi criada para dar amparo legal a segmentos discriminados seja comandada por alguém que lidera uma política de ataques e desrespeito em relação a gays e negros.
Mas a questão que se coloca é como um partido pequeno, como o PSC, consegue maioria absoluta em uma comissão importante como a Direitos Humanos e Minorias. Onde estão os partidos maiores – que sempre se dizem tão importantes, em um momento como esse? A resposta não é complicada. As legendas fizeram uma negociação de acordo com suas áreas de interesse. Assim, o PT abriu mão de disputar a presidência da comissão para ter o apoio dos evangélicos em outras situações. O PMDB, o PSDB e o PP cederam suas vagas para o PSC com os mesmos objetivos.
DESEQUILÍBRIO
As comissões temáticas do Legislativo foram criadas para funcionar com a participação do maior número de partidos possível. O objetivo é fazer com que todas as representações estejam presentes. Por isso, quando da composição das comissões, é executado um quebra-cabeça complicado, que tem como referências os tamanhos das bancadas – legendas maiores têm mais cadeiras e cargos mais importantes, como as presidências e vice-presidências – e o rodízio de indicações.
Quando um partido abre mão de uma indicação em alguma comissão, ele está ciente de que vai provocar um desequilíbrio das representações. Em outras palavras: a sigla cede seu direito de intervir em uma determinada comissão para impor uma intervenção maior em outra. Portanto, provavelmente, PT, PMDB, PSDB e PP avaliaram que a Comissão de Direitos Humanos e Minorias não é assim tão importante para eles. E, por outro lado, o PSC mostrou que tem essa mesma comissão como prioridade. Simples assim.
Isso significa que Feliciano deve permanecer na presidência daquele colegiado? Obviamente que não, mas também não significa que Feliciano e o PSC tenhamque pagar sozinhos. Os partidos que trocaram suas participações na composição das comissões precisam assumir suas responsabilidades. E mais do que isso, essas legendas têm que aparecer para o eleitorado e dizer que preferem tratar de outro assunto do que de direitos dos gays e negros. Essa é a verdade que não pode ser ignorada, especialmente naquele momento mágico: no encontro com a urna.
Escolha de dirigentes de estatais deveria ser ainda mais rigorosa do que a de empresas privadas — diz um dos maiores especialistas em recrutamento do mundo
Ricardo Setti
Entrevista concedida a Duda Teixeira, publicada em edição impressa deVEJA
A PRAGA DA INCOMPETÊNCIA
O suíço especialista em recrutamento diz que a falta de qualificação dos funcionários públicos nomeados por padrinhos políticos chega a ser mais danosa do que a corrupção
Escolher o melhor candidato para comandar estatais ou órgãos públicos deveria ser um processo muito mais cuidadoso e rigoroso do que o adotado pelas empresas privadas. Essa é a tese central defendida pelo suíço Egon Zehnder, um dos mais famosos headhunters do mundo.
Dono de uma empresa de recrutamento com escritórios em 38 países, inclusive o Brasil, ele participou da seleção e escolha de presidentes de estatais e de instituições públicas da Inglaterra, da Austrália, de Singapura e da Suíça. Aos 82 anos, Zehnder entrevista, todos os dias, pessoalmente, candidatos às vagas de consultor em sua empresa.
Defensor apaixonado da meritocracia, ele critica a proliferação de cargos de confiança na administração pública brasileira.
No Brasil, mais de 22 000 cargos do governo federal são de confiança (preenchidos por critérios políticos). Mais de 1 000 só no primeiro escalão. O que o senhor acha desses números?
Mesmo considerando o tamanho do país, são números exageradamente altos. Na Suíça, onde moro, não existe um único cargo público que possa ser preenchido por alguém cuja única qualificação seja atender a critérios políticos.
Por que o excesso de cargos de confiança é ruim?
Quando se fazem concursos públicos ou se adotam outros métodos objetivos de seleção, a chance de que os critérios utilizados tenham sido justos e adequados é maior. A sociedade precisa ter a garantia de que o escolhido é o mais capaz para desempenhar a função, conhece a área e já passou por várias situações parecidas com as que vai enfrentar no futuro.
Exercer um controle rigoroso sobre os processos de recrutamento é algo plenamente possível. Mas é muito difícil ter esse domínio quando se precisa preencher dezenas de milhares de cargos. Se o eleito não tiver as exigências mínimas para a função, certamente a empresa ou instituição enfrentará percalços a curto, médio ou longo prazo. Nenhuma nomeação de diretor de estatal ou de autarquia deve ser 100% política.
Nomeações equivocadas são mais danosas no setor público ou no privado?
A escolha errada de um funcionário de alto escalão traz mais consequências indesejadas em instituições governamentais. Elas têm um papel na sociedade que vai muito além dos interesses econômicos dos acionistas. Um erro na nomeação reduz a possibilidade de a empresa estatal ou o órgão público desenvolver seu papel social e limita a capacidade do país para alcançar seus objetivos estratégicos.
Também leva a resultados decepcionantes em termos de volume de produção e no desenvolvimento interno de tecnologia. Uma pesquisa publicada na revista da Harvard Business School em 2001 mostrou que, entre os diversos fatores que determinam o desempenho de uma empresa e que podem ser controlados, a seleção dos gestores é a que tem a maior relevância estratégica.
A escolha certa do presidente de uma empresa pode ter um impacto positivo de 40% no seu resultado.
Existe alguma relação entre corrupção e incompetência administrativa?
É claro que se devem selecionar sempre pessoas com integridade, para impedir fraudes, tanto no setor público quanto no privado. Estima-se que o custo da corrupção represente 5% do faturamento das companhias, um dado aviltante. Estatisticamente, porém, a corrupção é menos nociva do que a escolha de um gestor ineficiente.
As 6 mil casas prometidas por Dilma agora são 4.702 e nenhuma saiu do papel
Augusto Nunes
Em 27 de janeiro de 2011, 15 dias depois das chuvas que devastaram a Região Serrana do Rio, a presidente Dilma Rousseff e o governador Sérgio Cabral convocaram uma entrevista coletiva para informar que tudo seria diferente no verão seguinte. “Posto que os empresários estão colocando duas mil casas para atender a emergência”, desandou a gerente de país, “nós fizemos um cálculo e estamos colocando mais seis mil casas para as famílias da Região Serrana para atender a emergência, fora, obviamente, do conjunto do Minha Casa, Minha Vida, que aqui para a região do Rio de Janeiro é bem mais do que isso”.
Sempre em dilmês de palanque, a chefe de governo seguiu em frente: “Então, para esse momento de emergência, nós acrescentamos seis mil casas, moradias, que assuma a forma ou de casa ou de apartamento para que essa população que perdeu o seu lar, que perdeu o seu lugar de morar, tenha acesso o mais rápido possível ao seu lar”. Neste 19 de março, 781 dias depois da tragédia de 2011 e dois dias depois datragédia de 2013, não foi entregue uma única casa, uma só residência, um escasso apartamento, qualquer coisa que se assemelhe a um lar. Nada.
Sem que nenhuma tenha saído do papel, as 6 mil casas agora viraram 4.702 moradias ─ nem mais, nem menos. Também os prazos foram reajustados. As primeiras unidades, garantem os numerólogos oficiais, começarão a ser entregues no segundo trimestre deste ano. Ainda que a promessa se materialize, o número de casas é insuficiente para abrigar as 7.479 famílias que atualmente recebem o aluguel social(entre R$ 400 e R$ 500 reais). O relatório da Comissão de Acompanhamento da Recuperação da Região Serrana do Rio de Janeiro, produzido pela Assembleia Legislativa e publicado em dezembro de 2012, informa que o pagamento do benefício consome 3,6 milhões de reais por mês.
Somado o que se gastou desde 12 de janeiro de 2011, o montante ultrapassou a casa dos 86,4 milhões de reais. Esse dinheiro é suficiente para a construção de mais de 1.515 casas populares.
‘Rápidos no gatilho’, por Dora Kramer
PUBLICADO NO ESTADÃO
DORA KRAMER
A desfaçatez anda de tal forma despudorada que a Câmara nem esperou esfriarem os corpos dos recentemente extintos dois salários extras por ano, para torná-los cadáveres insepultos na forma de aumento de verbas compensatórias à “perda” de suas excelências.
Há dois tipos de contas a serem feitas: uma é numérica, a outra política. A Câmara fica devendo nas duas.
Com a primeira promete uma economia de R$ 27,4 milhões deixando de pagar os salários adicionais, mas vai gastar quase tudo (R$ 21 milhões) só com o reajuste daquela cota para despesas extraordinárias que não raro é usada para gastos ordinários – no sentido pejorativo do termo.
Isso sem falar na criação de novos cargos (59), duas novas estruturas (Corregedoria Autônoma e Centro de Estudos e Debates Estratégicos da Casa). A título de verniz, criou-se um tipo de ponto para controlar melhor o pagamento de horas extras dos funcionários do Legislativo.
Positivo? Sem dúvida, mas risível e até provocativo o aperto em face do afrouxamento na rubrica das benesses aos parlamentares que, segundo pesquisa recente, estão em segundo lugar entre os mais caros do mundo.
Mas dizíamos que há uma conta numérica e outra política. Nesta também o saldo é negativo. Confirmou-se a necessidade de adotar parcimônia em elogios quando o Congresso se curva à necessidade de dar cabo a exorbitâncias. Viu-se pela rapidez no gatilho para anular a economia e criação de duas esquisitices.
“Corregedoria Autônoma”? Alto lá: há uma corregedoria em funcionamento e que, pelo visto, foi posta sob desconfiança de atuar sem a necessária independência.
“Centro de Estudos e Debates Estratégicos da Casa”? Espera aí: não seria o Parlamento já um centro de estudos e debates? Não são o estudo e o debate funções do Legislativo junto coma prerrogativa de legislar e fiscalizar?
Ou bem estão sendo criadas instâncias inúteis, ao molde de sinecuras, ou mal estão sendo criadas instâncias com sobreposições de funções. Ao molde de sinecuras.
CRÔNICA Cartas de Buenos Aires: O pop latino de Marcos López
Gabriela Antunes
Latinidade não é exatamente o que vem à mente quando se pensa no país mais ao sul do continente. Com uma capital com ares europeus, população embranquecida, a Argentina parece passar longe do feeling tropical “soy loco por ti América”.
Vibrante não é bem a palavra para descrever os pampas. O país abarca uma grande metrópole, ao redor da qual orbita muito da vida da nação, cidades periféricas, um pasto infinito em seu bojo e grandes extensões ermas e inóspitas ao sul. Impossível pensar em maracas ou caipirinhas. Mas nada disso vem em mente diante de uma obra do fotógrafo Marcos López.
“A umidade cinza da província de Santa Fé. O ressentimento que provoca os amores não correspondidos. Além disso, vale a aclaração: Argentina não é México. A Argentina é um par de pastos ao sul e um grupo de gaúchos a esmo rindo de piadas que nunca entendi”, disse uma vez López.
Na santa ceia almodovariana de López, um churrasco em Mendoza com cores beirando o neon e uma latinidade que, não fosse criolla, jamais seria argentina, fica clara a vocação do fotógrafo ao surrealismo. Na obra do artista, misticismo local, folclore, crenças, tangos, ícones nacionais, figuras históricas se misturam para criar um retrato hiperbólico de um país feito de bairros, armazéns, campos, arenas políticas e personagens absurdos.
Em Buenos Aires desde a década de oitenta, vindo de um povoado da província de Santa Fé carregando melancólicas fotos em preto e branco permeadas da infância na bucólica Gálvez (que até hoje não supera os 20 mil habitantes), López transforma-se numa espécie de Andy Warhol dos pampas, o pai de um movimento pop e nativo.
“Um festival de fotografias hiperbarrocas, instalações, pinturas, vídeos, desenhos, aquarelas, tudo com um inconfundível mix de iconografia mestiça, kitsch, cor furiosa e paixão”, a revista de cultura do jornal Clarín escreve sobre a exposição “Debut y Despedida” que estará até o próximo dia 31 na capital Argentina.
O artista oferece uma mirada exagerada sobre um país com mitos próprios, fantasmas recorrentes, políticos messiânicos e um DNA forjado pela imigração.“O que se chamou de pop latino de Marcos López é um país de vendedores de terrenos virtuais, máscaras de brilhantina, parques de diversões de papelão, promoções com fritas, campanhas políticas chinfrins e cartazes amarrados a arames que prometem o impossível. Não há pessoas e sim personagens bidimensionais, estereótipos elevados à enésima potência”, escreveu uma vez um crítico do jornal Pg 12.
No mundo de Marcos López, a Argentina é uma festa pop e kitsch, um exagero de país.
Gabriela G. Antunes é jornalista e nômade. Cresceu no Brasil, mas morou nos Estados Unidos e Espanha antes de se apaixonar por Buenos Aires. Na cidade, trabalhou no jornal Buenos Aires Herald e mantém o blog Conexão Buenos Aires.
Cartas de Toronto: Pelo direito de ser quem você é
Veronica Heringer
Seis anos de expatriada definitivamente me transformaram em estrangeira quando assuntos como inclusão cidadã e direitos humanos estão em pauta.Mas a distância também me permite apreciar ainda mais quem luta no Brasil por igualdade entre os seus cidadãos, sejam eles brancos, pardos, mulheres, crianças, gays ou transexuais.
Enquanto o presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Marco Feliciano (PSC-SP), insiste em inviabilizar discussão de direitos importantes de cidadãos (e contribuintes!) no Brasil; por aqui, a preocupação com a inclusão cidadã dos canadenses continua mesmo sob a liderança de um governo ultra conservador.
Quem segue os meus relatos sabe que não sou grande fã do Partido Conservador Canadense. No entanto, na última semana, o apoio de 18 conservadores na aprovação da lei C-279, que transforma em ilegal qualquer ato discriminatório contra transsexuais, trouxe um pouco de esperança ao meu coração de new democrat.
O projeto de lei iniciado por Randall Garrison, passou pelo microscópio e ataques de todos os representantes conservadores. O maior deles veio do parlamentar de Calgary Rob Anders que momentos antes da votação argumentou que a “milhares de canadenses eram contra a ‘lei do banheiro.’” Segundo Anders, pedófilos usariam a lei para se proteger ao assediarem mulheres e crianças em banheiros públicos.
É inquestionável que o apoio de 18 conservadores soa irrelevante quando o resto da bancada (136 parlamentares) vota contra a mesma lei. No entanto, no contexto político canadense, onde o partido se une pela defesa de seus valores em qualquer tópico, o apoio de 18 conservadores sinaliza tempos de mudança e até mesmo o início de um novo posicionamento para o partido.
A C-279 segue para aprovação final do Senado. Depois de aprovada, ataques à expressão e identidade sexual serão considerados atos discriminatórios no código de Direitos Humanos canadense e crimes previstos no código penal do país.
Perante a nova lei, discursos contra a sexualidade de um determinado indivíduo ou grupo serão punidos da mesma forma que os baseados em etnia e religião.
Agora é fazer figa e esperar que a revolução no partido conservador se estenda a assuntos relacionados à imigração e direito das mulheres.
Veronica Heringer é bacharel em Jornalismo pela PUC-Rio, mestre em Media Production pela Ryerson University e estrategista em marketing digital. Bloga noMadame Heringer.com
Congresso A confusão envolvendo o deputado-pastor Marco Feliciano expôs a atuação dos parlamentares ligados a igrejas evangélicas. E eles vieram para ficar
Gabriel Castro e Marcela Mattos, de Brasília
Parlamentares evangélicos em momento de oração (Saulo Cruz/Agência Câmara)
"O Senhor disse que aqueles que querem viver piedosamente serão perseguidos. Estamos vivendo um ensaio daquilo que ainda virá com mais intensidade contra os cristãos". Com o colarinho desabotoado, terno e gravata escuros e camisa branca, o pastor Henrique Afonso (PV-AC) faz um alerta às pessoas que acompanham sua pregação na manhã da última quarta-feira. O local: o plenário número dois das comissões da Câmara dos Deputados. O público: oito deputados federais e trinta servidores do Congresso.
O culto ocorre semanalmente. Os parlamentares-pastores fazem um rodízio. A cada semana, uma dupla divide a direção do serviço e a pregação do dia. Na última quarta-feira, o sermão de Henrique Afonso estava relacionado à tensão gerada pela eleição de Marco Feliciano (PSC-SP), pastor da Assembleia de Deus, para a presidência da Comissão de Direitos Humanos. O deputado enfrenta resistência por afirmar que a união de pessoas do mesmo sexo é condenável e dizer que os africanos são vítimas de uma maldição dos tempos bíblicos. O caso apontou os holofotes para a atuação da bancada evangélica no parlamento. Em parte pelos próprios defeitos, em parte pela incompreensão dos adversários políticos, esses parlamentares têm ganhado espaço cada vez maior no debate político nacional. E os sinais são de que eles vieram para ficar.
A presença de evangélicos na política – assim como a de católicos ou espíritas – não é novidade. Partidos de inspiração cristã existem em países como Suíça, Inglaterra e Holanda sem que isso signifique qualquer ameaça à democracia. A mulher mais poderosa da Europa, a primeira-ministra alemã, Angela Merkel, pertence à tradicional União Democrata-Cristã de seu país. A mesma Alemanha tem como presidente o independente Joachim Gauck, um conhecido pastor luterano. O maior partido do Parlamento Europeu, o European People's Party, é composto fundamentalmente por democratas-cristãos. Assim como os cultos na Câmara dos Deputados, a realização de eventos religiosos no Congresso dos Estados Unidos é comum desde a época de Thomas Jefferson. O movimento abolicionista surgiu na Inglaterra, organizado por um grupo de doze protestantes. A campanha dos direitos civis nos Estados Unidos teve como líder o pastor batista Martin Luther King.
Frente Parlamentar Católica?
- Ao contrário dos evangélicos, os parlamentares católicos não compõem uma frente parlamentar. Mas a bancada se organiza informalmente. Entre os deputados que pertencem à Igreja, os mais ativos são os ligados ao movimento da Renovação Carismática – um equivalente ao movimento pentecostal nas igrejas protestantes. Apesar de não se organizarem em um grupo oficial, os católicos são os criadores da Frente Parlamentar em Defesa da Vida e contra o Aborto, presidida pelo deputado Salvador Zimbaldi (PDT-SP). O grupo, engrossado por evangélicos, conta com 220 deputados e doze senadores.
Em Brasília, chama a atenção a atuação organizada desse grupo de parlamentares que, apesar de pertencerem a partidos diferentes, se articulam na defesa de suas bandeiras. E elas costumam ser mais contra do que a favor: contra a legalização do aborto, o casamento gay, a eutanásia e a liberação das drogas. A favor, basicamente, da ampla liberdade religiosa. No total, os evangélicos representam 14,2% dos deputados e 5% dos senadores.
A bancada evangélica também não foge à regra do Congresso Nacional quando o assunto são denúncias de corrupção. Dos 73 integrantes na Câmara, 23 respondem a processo no Supremo Tribunal Federal (STF). Há acusados de corrupção, peculato (desvio praticado por servidor público), crime eleitoral, uso de documento falso, lavagem de dinheiro e estelionato. Há até um condenado a prisão que pode ir para a cadeia em breve:Natan Donadon, que tem pena de treze anos e quatro meses a cumprir.
Outro ponto delicado é a legitimidade do uso de fiéis como plataforma política. São muitos os indícios de que alguns deputados evangélicos utilizam os seguidores como massa de manobra. Na última quarta-feira, em meio à turbulência envolvendo a Comissão de Direitos Humanos, Anthony Garotinho (PR-RJ) dava conselhos a Marco Feliciano no plenário da Câmara e sugeria que o colega renunciasse à presidência do colegiado. Ex-governador do Rio, Garotinho foi direto: "O que você tinha que capitalizar no meio evangélico, já capitalizou".
"Todos os partidos têm buscado, de uma maneira geral, ter evangélicos nos seus quadros, porque é um segmento substantivo do eleitorado brasileiro. Essas religiões estão crescendo, e é claro que há interesse como massa eleitoral", diz o cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB) João Paulo Peixoto. Ele também afirma que os parlamentares evangélicos, se não são melhores do que a média, não fogem à regra dos colegas de Congresso: "Os evangélicos não estão acima do bem e do mal. Embora tenham uma pregação rígida dos valores morais, há também um outro lado que diz respeito à própria condição humana", afirma.
O deputado João Campos (PSDB-GO), pastor da Assembleia de Deus e presidente da Frente Parlamentar Evangélica, reconhece que os desvios éticos prejudicam a imagem dos parlamentares da frente: "Se tiver um processo de corrupção, é claro que incomoda. A exposição negativa pode prejudicar, mas acho que faz parte do processo".
Histórico – A Frente Parlamentar Evangélica foi criada em 2003. Três anos depois, o Congresso foi atingido por um escândalo que colocou os evangélicos em evidência da pior forma possível: a Máfia das Sanguessugas, que desviava emendas parlamentares e abastecia os bolsos de deputados e empresários, envolveu 23 integrantes da bancada. Desses, dez eram da Igreja Universal do Reino de Deus e nove pertenciam à Assembleia de Deus. Talvez por isso, os deputados ligados a essas igrejas perderam espaço nas eleições de 2006. A recuperação nas urnas ocorreu em 2010 com a renovação dos quadros políticos. Hoje, representantes da Assembleia de Deus – que tem diversas ramificações e não possui comando único, como é o caso da Igreja Universal – são os mais numerosos.
Além dos deputados, quatro senadores compõem o time evangélico no Congresso. A maioria desses 77 parlamentares pertence à base da presidente Dilma Rousseff. Mas, como algumas bandeiras relacionadas ao aborto e ao casamento de pessoas do mesmo sexo não são prioridade na pauta dos partidos de oposição, os evangélicos acabam ocupando uma função dúbia: apoiam o governo em temas econômicos e de assistência social, mas divergem abertamente quando o Executivo quer, por exemplo, distribuir o "kit-gay" nas escolas primárias ou relaxar as penas para traficantes de drogas.
A parceria com um governo petista é especialmente contraditória porque o partido tem como resolução oficial a legalização do aborto e a defesa das bandeiras do movimento gay. O autor do sermão da última quarta-feira no culto da Câmara sabe bem disso. Henrique Afonso, que é presbiteriano, foi integrante do PT até 2009, quando acabou punido por não abrir mão da oposição ao aborto. Luiz Bassuma, espírita, também deixou a sigla e foi parar no mesmo PV.
"Nós tínhamos uma cláusula de consciência quando eu entrei no PT, e isso me garantia a expressão da minha cosmovisão", explica Afonso. "A partir do momento em que tiraram essa cláusula de consciência e passaram a defender explicitamente a descriminalização do aborto e outras matérias associadas à bioética, eu tive de ter um posicionamento contrário."
"Nós tínhamos uma cláusula de consciência quando eu entrei no PT, e isso me garantia a expressão da minha cosmovisão", explica Afonso. "A partir do momento em que tiraram essa cláusula de consciência e passaram a defender explicitamente a descriminalização do aborto e outras matérias associadas à bioética, eu tive de ter um posicionamento contrário."
Afonso e Bassuma entraram no PV porque, na época, a sigla tinha como expoente a ex-senadora Marina Silva, também evangélica. Agora, ela pretende formalizar o seu novo partido, a Rede, para disputar as eleições presidenciais de 2014. É pouco provável que o projeto seja bem-sucedido. Mas, se funcionar, Marina será a primeira representante das igrejas protestantes a chegar ao poder máximo.
Estado laico – Anthony Garotinho, um dos expoentes da bancada, afirma que a laicidade - separação do poder político e administrativo da religião - do estado é uma bandeira dos protestantes. "O que não pode é misturar a sua fé com a laicidade do estado", diz. O ex-governador do Rio de Janeiro é um curioso caso de político que mudou de eleitores ao longo da carreira: até 1994, quando se converteu e passou a integrar a Igreja Presbiteriana, ele se definia como marxista. Embora possa parecer contraditória, a defesa da laicidade é uma bandeira antiga dos deputados evangélicos. Antes de temas como a união de pessoas do mesmo sexo ganharem espaço no Congresso, um dos principais alvos dos protestantes eram a Igreja Católica, que eles viam como privilegiada pelo poder público.
A presença dos evangélicos no Congresso é apenas o resultado de uma realidade demográfica: o rápido crescimento das religiões evangélicas, especialmente as pentecostais, deve resultar em uma consolidação da presença de pastores protestantes no poder. A bancada evangélica, aliás, permanecerá em evidência nos próximos dias. A pressão para que Marco Feliciano deixe a presidência da Comissão de Direito Humanos continua crescendo. Ele diz quenão abrirá mão do cargo. Mas, se isso acontecer, os parlamentares de partidos de esquerda que protestam contra o pastor não devem ficar muito animados: os deputados evangélicos permanecerão sendo maioria na comissão. Sinal de novos tempos no Congresso.
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