sábado, 20 de outubro de 2012

Dilma diz que PT representa nova forma de fazer política, mas não fala do Mensalão, que faz parte dessa nova forma de fazer política


SÁBADO, 20 DE OUTUBRO DE 2012


No maior comício realizado desde o início da campanha de Márcio Pochmann (PT) pela prefeitura de Campinas, a presidente Dilma Rousseff afirmou neste sábado que o PT "representa uma nova forma de fazer política" no Brasil. Para cerca de 20 mil pessoas que ocuparam duas praças no centro do município, Dilma, ao lado do ex-presidente Lula, subiu ao palanque de Márcio Pochmann para afirmar que ele representa o novo mas não a inexperiência. "Representamos em 10 anos de governo, oito anos do Lula, e dois anos do meu governo, uma nova forma de fazer política com desenvolvimento para o País e onde as pessoas tenham oportunidade de estudar", disse Dilma. Naturalmente, ela não incluiu entre a nova forma de governar a compra criminosa de apoio político de partidos e parlamentares por meio do Mensalão do PT. Na única cidade de São Paulo, fora a capital, onde Dilma e Lula farão campanha nesse segundo turno, a presidente e o ex-presidente atacaram os governos do PSDB. Na cidade, o partido que é oposição ao PT no governo federal, tem um vice na chapa do candidato Jonas Donizette (PSB). O ex-presidente afirmou que o PSDB em 20 anos à frente do governo do Estado de São Paulo não beneficiou Campinas como o PT no governo Federal. "Duvido que os tucanos que estão no governo do Estado tenham colocado nesses 20 anos em Campinas o dinheiro que eu coloquei quando fui presidente", disse Lula, que também afirmou que o PSDB levou para a cidade apenas "presídios e os pedágios mais caros do Brasil".

Futebol em crise - Juca Kfouri


Texto publicado na edição especial de 18 anos da revista “CartaCapital”:*
O futebol do “país do futebol” está em crise.
Em 14º. lugar no ranking da FIFA, embora tal classificação seja nebulosa.
Tão nebulosa, aliás, como a própria mania de dizermos que somos o “país do futebol” quando muito mais que nós, são do futebol países como a Inglaterra, a Argentina e por aí afora.
Basta dizer que em qualquer pesquisa que se faça sobre tamanho de torcida no Brasil, o primeiro contingente é o de pessoas que não se interessam pelo jogo.
Só depois aparecem as torcidas do Flamengo e do Corinthians.
Na Argentina, ao contrário, primeiro vem a torcida do Boca Juniors, depois a do River Plate e, em terceiro lugar, os desinteressados.
Desnecessário dizer que ninguém reverencia o jogo como os ingleses, inventores do futebol moderno, e basta ir a Wembley, mesmo modernizado, ou a Old Trafford, para sentir até o cheiro das velhas bolas de couro ou das chancas de antigamente, palavra que até sumiu do dia a dia nacional.
Mas como está em crise o futebol do país que tem Neymar e que acaba de vender a peso de ouro meninos como Oscar e Lucas?
Que sediará a próxima Copa do Mundo?
Que tem os três últimos campeões da Libertadores, o Inter, o Santos e o Corinthians, este último invicto, o primeiro a conseguir tal façanha com o torneio em 14 jogos, e ao derrotar o poderoso Boca Juniors na final?
Eis que a própria Libertadores pode trazer parte da explicação, porque seus campeões em 2010 e 2011 foram eliminados pelo Mazembe africano na semifinal e impiedosamente goleados pelo Barcelona catalão na final. Perguntando onde está a bola.
Se não é o país do futebol, o Brasil foi sim o país do melhor futebol do mundo por um bom tempo, isto é, por muito tempo, pelo menos durante todo o reinado de Pelé, entre 1958 até meados dos anos 70, o que não se mede, como se imagina, pelas Copas do Mundo conquistadas, mas pela beleza e eficácia do futebol apresentado.
Quiseram os deuses dos estádios que Pelé surgisse para fazer companhia a Mané Garrincha, a Didi, Nilton Santos, e que, ao se despedir, deixasse companheiros como Gérson, Rivellino, Tostão.
Tempos em que o futebol não era jogado apenas com os pés, mas, sobretudo, com a cabeça.
Como jogam hoje em dia Iniesta, Xavi, Messi.
A verdade é que o futebol brasileiro entrou numa burra viagem em que o resultado é tudo, ganhar é preciso, encantar não é preciso.
E deixou de encantar sem, necessariamente, ganhar, pelo menos fora dos nossos horizontes.
Seleções brasileiras perderam a capacidade de se impor, a ponto de agora mesmo, em Londres, os mexicanos não darem a menor pelota para a outrora temida camisa canarinho.
Enquanto os europeus cada vez mais jogam com a bola nos pés, a valorizam e tratam bem, nós passamos a ser o paraíso dos volantes, o cemitério dos camisas 10, a valorizar mais quem rouba a bola do que quem a entrega em domicílio — todo poder aos brucutus e muito cuidado com os violinistas.
Os maestros passaram a ser confundidos com os professores, homens de terno e gravata deselegantes apesar das grifes e dos preços da roupas, invariavelmente incapazes de pensar o jogo como metáforas da vida, tecnocratas especializados na manutenção de seus empregos, pagos a peso de ouro por cartolas irresponsáveis ou administradores de lavanderias, sempre lucrativas para os próprios bolsos e terríveis para os cofres públicos e dos clubes, irrigados pelas Timemanias da vida.
Se não bastasse, a CBF investiu na marca de sua seleção e, com um calendário que não dá vez aos clubes, condenou-os às fronteiras nacionais, incentivando a exportação de pé de obra, como meio de adaptá-los ao mundo europeu e de facilitar os amistosos do time dela sempre longe do Brasil, razão pela qual virou mal amado pela torcida.
Se um técnico dinamarquês, Morten Soubak, fez do handebol feminino brasileiro uma das atrações dos Jogos Olímpicos de 2012 recentemente disputados em Londres, e se um técnico argentino, Rubén Magnano, ressuscitou o basquete brasileiro, falar em estrangeiros no futebol do patropi soa como heresia.
Por mais que, nos anos 50, o húngaro Bella Gutman tenha contribuído para arejar taticamente o futebol brasileiro ao trabalhar no São Paulo e levá-lo ao título paulista de 1957, com uma única exigência, a contratação do já veterano Zizinho.
Gutman era um estudioso, um teórico que tinha, no entanto, como método de trabalho, comandar craques, como Zizinho, o maior ídolo de Pelé.
Pep Guardiola, o revolucionário do Barcelona, está em ano sabático e é quase uma maldade pensar nele a apenas dois anos da Copa do Mundo no Brasil, Copa para qual o país já está classificado, mas, ao contrário do que acontece normalmente, não é tido como favorito.
O que obriga que se ache a solução por aqui mesmo e nem é tão difícil diante do nível muito parecido dos técnicos de primeiro time no Brasil.
Mano Menezes, Felipão, Muricy Ramalho, Tite, Abel Braga, Cuca ou Luxemburgo, nenhum deles faz milagre ou seria capaz de inventar a roda.
Mas a Seleção pode fazer, hoje, um bom time, com um goleiro qualquer porque não há nenhum que brilhe, Daniel Alves, Thiago Silva, David Luiz e Marcelo; Arouca, Paulinho, Oscar e Ramirez: Neymar e Leandro Damião, gente que bem treinada e entrosada não dará vida fácil a ninguém, embora seja mesmo inferior aos selecionados da Espanha, da Alemanha, do Uruguai e da Argentina.
Se ganhar a Copa do Mundo pela sexta vez parece um sonho impossível neste momento — e se perder uma Copa do Mundo pela segunda vez no país pentacampeão parece um pesadelo insuportável — pior é pensar no que fazer, depois da Copa, com os estádios que estão sendo construídos, com dinheiro público, em Cuiabá, Natal, Brasília e Manaus, onde nem sequer times da Primeira Divisão do futebol nacional há.
Sim, porque um dos maiores problemas do futebol brasileiro, diretamente ligado à miséria da cartolagem corrupta, corruptora e incompetente, está na ausência do torcedor dos estádios e não apenas por falta de talentos a serem vistos e aplaudidos, mas, principalmente, pela ausência completa de organização e criatividade.
São raros os clubes brasileiros que trabalham corretamente as categorias de base e, mesmo assim, normalmente, intoxicam os meninos com conceitos táticos antes que eles estejam com os fundamentos bem formados, motivo da fabricação de brucutus em série.
Enquanto se viu na Europa, principalmente na Espanha e na Alemanha, uma crescente preocupação com o desenvolvimento “à brasileira” de talentos (basta ler as entrevistas de Pep Guardiola que não faz segredo disso), no Brasil, ao contrário, buscou-se copiar os modelos europeus. Pior: se na Europa a busca deu certo e foi além, aqui a emenda ficou bem pior que o soneto.
Técnicos de ponta como Muricy Ramalho são capazes de dizer que se você quiser ver espetáculo deve ir ao teatro, ele mesmo um ex-jogador talentoso e muitas vezes espetacular.
O futebol de resultados passou a ser, também, o da permanência dos professores no emprego, à custa da mediocridade ampla, geral e irrestrita.
E importante ressaltar que o mau momento vivido pelo futebol brasileiro não se restringe à falta de conquistas, porque nem mesmo as duas Copas vencidas em 1994 e 2002 encheram os olhos dos mais exigentes, apesar das presenças de craques como Romário, os Ronaldos e Rivaldo.
O time de 1982, de Sócrates, Zico, Falcão, de Telê Santana, não ganhou a Copa e, como diz o jornalista Fernando Calazans, “azar da Copa”.
O que não dá é ver a Seleção Brasileira virar freguesa da mexicana, como virou neste século, com cinco derrotas em 10 jogos, apenas três vitórias, sem contar a decisão olímpica, porque disputado não pelas seleções principais.
Atenção: estamos falando do México, não da Itália, da Holanda ou da França, sempre admitindo a hipótese, por remota que seja, de o México estar se transformando numa potência do futebol mundial.
Tem jeito, tem solução?
Claro que tem, desde que não se tenha uma visão da mão para boca, de curto prazo e que experiências não sejam interrompidas — como fez Ney Franco, ao trocar um promissor trabalho que executava com a base, na CBF, por ser mais um técnico do São Paulo em crise.
Além do mais, se há algo indiscutível mesmo em momentos de entressafra, é que, como diria Pero Vaz de Caminha, em se plantando tudo dá, craques inclusive, às vezes mais, às vezes menos.
Vai que Três Corações já tenha produzido um novo Pelé, ou Pau Grande outro Mané Garrincha, que apareçam em 2013 para brilhar no Maracanã em 14…
Sim, é claro, será preciso muito coração para que isso aconteça. Mas não só.
*Texto publicado na última semana de setembro, antes, portanto, da promissora volta de Kaká à Seleção.
E ainda tem o Ganso…

Polícia - A saúde pede socorro


Um motorista denuncia que, em João Pessoa, ambulâncias são usadas para desviar verbas federais, transportar armas e até traficar drogas

EMERGÊNCIA
O motorista Valdemir Evaristo. Suas denúncias sobre o desvio de dinheiro serão investigadas pela Polícia Federal. Sobre armas e drogas, não (Foto: Marcus Antonio/ÉPOCA)
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) é a linha de frente da saúde pública desde 2003, quando suas ambulâncias começaram a ser distribuídas pelo país. Ainda hoje, a maioria das cidades não dispõe delas em número suficiente. Também são frequentes as denúncias de que elas estão em más condições ou sucateadas. O milhão de pessoas que vivem na região metropolitana de João Pessoa, na Paraíba, dispõe de apenas 16 ambulâncias. Lá, as denúncias envolvem crimes, e não apenas o mau estado dos veículos. Desde o início de agosto, a Polícia Federal (PF) investiga um esquema de venda de plantões disseminado entre os funcionários do Samu da capital paraibana. Segundo as denúncias, eles fazem escalas mensais de dez plantões e recebem por 25. Uma pequena parte do dinheiro, o equivalente a cinco turnos, fica com o funcionário. O restante vai para seus chefes. “É desvio de verbas”, diz o delegado federal Felipe Alcântara, responsável pelo caso.

A apuração começou depois que um dos motoristas socorristas denunciou os crimes. Valdemir Santos Evaristo, de 34 anos, relatou que, no início de 2011, foi convidado a participar da quadrilha por seu então superior imediato, José Leonardo Alves, um ex-policial militar. No mesmo dia, Evaristo diz que foi procurado pelo coordenador administrativo do Samu de João Pessoa, Gilmore Lins. À PF, Evaristo declarou que Gilmore sugeriu que ele pedisse transferência para o Samu de outro município. Novamente, Evaristo não concordou. “Recusei, e minha vida virou o inferno”, diz. Em seguida, começou a receber ameaças. Em março, resolveu contar tudo o que sabia à secretária municipal de Saúde, Roseana Meira. Para provar que dizia a verdade, levou duas testemunhas, uma técnica de enfermagem e uma telefonista do Samu. Roseana ouviu e pediu provas materiais. ...

Dias depois, Evaristo voltou com documentos com evidências de que seus colegas haviam fraudado as escalas de plantão. Nessa conversa, deu mais detalhes da fraude e dos desmandos ocorridos no Samu. Segundo Evaristo, muitos chamados de socorro da população deixavam de ser atendidos porque as equipes estavam de plantão só no papel. Recebiam como se tivessem trabalhado, mas não estavam lá quando ocorriam as emergências. Outras vezes, os doentes deixavam de ser resgatados porque as ambulâncias eram usadas para fins particulares, como para levar os filhos dos funcionários à escola ou fazer compras.

Os delitos e irregularidades presenciados por Evaristo, pela técnica de enfermagem e pela telefonista não se restringiam ao superfaturamento de plantões. Eles relataram que as ambulâncias do Samu também eram usadas para traficar armas e drogas. “Isso era feito de noite e nos fins de semana. A gente via os carregamentos de pistolas e revólveres três ou quatro vezes por mês. Era tudo novinho. A droga era uma coisa mais escondida. No prazo de um ano, só vi oito ou dez vezes”, disse Evaristo a ÉPOCA. Segundo ele, os carregamentos incluíam tabletes de maconha, trouxas de cocaína e pedras de crack. Evaristo diz não saber que destino era dado às armas ou às drogas.

Depois que Evaristo e suas testemunhas fizeram o relato à secretária Roseana Meira, José Leonardo Alves e outros dois envolvidos foram afastados de suas funções. As punições não interromperam as ameaças. “Falei com a doutora Roseana pensando que recobraria minha vida, mas o que aconteceu foi o contrário”, afirma. De acordo com o relato de Evaristo, em junho, a casa dele foi invadida, e sua mulher agredida. Na central do Samu de João Pessoa, diz ele, um soldado dos Bombeiros tentou agredi-lo e jurou matá-lo. Acabou contido pelos colegas. Um colega de Samu entrou armado numa das bases das ambulâncias à procura de Evaristo, que não estava de plantão naquele momento. Ele diz que dias depois foi emboscado por dois homens numa motocicleta. O carona atirou em seu carro.

Apavorado, Evaristo resolveu se esconder no interior pernambucano. Achou que estaria mais protegido se sua história fosse pública e estivesse nas mãos das autoridades. Por isso, gravou dois vídeos em que relata os crimes que presenciou e as ameaças que sofreu. Os depoimentos foram colhidos pelo dono de uma produtora de um amigo de Evaristo. Deu cópias a um amigo, ao produtor e ficou com outra (assista ao vídeo ao lado). Em seguida, Evaristo seguiu a recomendação de um advogado e depôs à PF. A notícia crime registrada pelo delegado Felipe Alcântara é farta em detalhes sobre a venda de plantões. Traz o nome de José Leonardo Alves e de outros quatro acusados por Evaristo, além de quatro testemunhas. Além da técnica de enfermagem e da telefonista que o acompanharam no depoimento à secretária de Saúde, estão relacionados outro técnico de enfermagem e um sargento da Polícia Militar da Paraíba, ex-funcionário do Samu.

O delegado Alcântara considera a denúncia sobre o desvio de verbas públicas suficiente para embasar um inquérito. Para ele, as acusações sobre o superfaturamento de plantões foram consistentes o suficiente para que ele decidisse ouvir a secretária Roseana Meira. Alcântara não deu o mesmo tratamento às informações sobre tráfico de armas e de drogas. Segundo ele, Evaristo não apresentou provas materiais desses crimes nem indicou como elas poderiam ser obtidas.

Questionada sobre as denúncias, a prefeitura de João Pessoa levou 48 horas para se manifestar. Só o fez depois que as questões chegaram ao gabinete do prefeito, Luciano Agra (PSB). A Secretaria de Saúde deu respostas contraditórias às denúncias formuladas por Evaristo. Primeiro, afirmou em nota que aguarda o resultado das investigações da PF para decidir se abre um inquérito próprio para investigar o superfaturamento de plantões. Depois, enviou outra comunicação afirmando que o processo interno está aberto. A secretária Roseana Meira evitou atender a reportagem de ÉPOCA em seu gabinete e em casa. Gilmore, que ofereceu transferência a Evaristo, disse desconhecer as fraudes nos plantões. Indagado sobre o afastamento de José Leonardo Alves, desligou o telefone.

O motorista Evaristo voltou a sua casa na região metropolitana de João Pessoa. Sua família não. A mulher e os dois filhos dele moram, agora, com parentes. Evaristo vive só e usa colete à prova de balas. Quando precisa sair, pede que amigos policiais o acompanhem fardados e armados. “Acho que vou morrer por causa disso. Quero entrar no programa de proteção a testemunhas”, diz.

Por: Felipe Patury
Fonte: Revista ÉPOCA.com - 20/10/2012

Petralhas resolvem patrulhar ministro do Supremo que foi ao lançamento do meu livro! Ou: Por que não dar ambrosia a ruminantes



O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, esteve no lançamento de “O País dos Petralhas II” na Livraria Saraiva do Shopping Pátio Brasil, em Brasília, na terça-feira. Tratou-se de um encontro público, ao qual compareceram mais de 400 pessoas. Não comentei que o ministro esteve presente porque pareceria jactância. Ah, sim: aproveito para informar que a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) também foi. Como não era uma reunião clandestina, como o encontro foi fartamente fotografado pelos leitores, como há filmes na Internet, é evidente que a informação de que Mendes esteve presente iria circular. Ele não foi lá escondido. Aliás, ao chegar, foi entusiasticamente aplaudido.
O subjornalismo de aluguel da rede e os petralhas decidiram fazer barulho a respeito: “Olhem que absurdo! O ministro foi ao lançamento do livro do Reinaldo Azevedo! Como pode?”. Segundo um texto delinquente que circula por aí, que me foi enviado por um leitor, meu livro “criminaliza o PT”. Não tenho o que fazer com a ignorância alheia. Se as pessoas não conhecem o sentido do verbo “criminalizar”, fazer o quê? O PT é apenas um dos temas de “O País dos Petralhas II”, mas está longe de ser o principal. Dos 113 artigos ali coligidos, só 22 dizem respeito ao partido e sua experiência de poder. Mas isso é o de menos. Vamos ao ponto.
Ir ao lançamento de um livro não implica concordar com tudo o que há nele — e é certo que Mendes não concorda. Como eu sei? O Capítulo 8, por exemplo, chama-se “De juízes e juízos”. Trata de assuntos relativos ao Poder Judiciário. Um dos textos, intitulado “Marcha da insensatez” (da página 313 à 318), faz uma crítica severa a decisões tomadas pelo Supremo — algumas delas com o voto favorável de… Mendes! Não há motivo para ele endossar a minha opinião expressa nesse texto (e certamente em outros tantos), ou teria votado de modo diferente.
Qual é o busílis? Mendes é um democrata, um espírito tolerante, alguém que acolhe a diferença — como sou. Esteve lá porque temos uma relação profissional cordial, não porque pensemos a mesma coisa: ministros do Supremo falam com jornalistas, jornalistas falam com ministros do Supremo. Os petralhas — que combato, sim! — fizeram isto com o Brasil: uma autoridade não pode ir a um evento público de lançamento de um livro de alguém que eles têm como “inimigo” sem que isso seja considerado uma afronta.
Que gente curiosa! Que gente exótica! A ida do ministro ao lançamento do meu livro é vista como a adesão ao antipetismo: “Como pode fazer isso em meio ao julgamento?”. Pois é…
Lembro, por exemplo, que, por cinco votos a quatro, o Supremo rejeitou a denúncia contra o ex-ministro Antonio Palocci no episódio da quebra do sigilo do caseiro Fracenildo. Um dos votos contrários — e, pois, favorável a Palocci — foi de Mendes. Expressei a minha discordância no blog. Os petralhas acharam que ele agiu certo. Quando um integrante do STF vota em favor de um membro do partido,  é apenas um homem isento; quanto vota contra, é ou um golpista ou um traidor.
Até agora, no caso do mensalão, concordei com todos os votos de Joaquim Barbosa e Luiz Fux — que não divergiram entre si. Os dois não estiveram na livraria Saraiva. Também não apareceu por lá Ayres Britto, que deixou de acompanhar o relator em apenas três votos. Mas Mendes, que já divergiu nove vezes, foi! Exigir de uma petralha que adote a pluralidade de ideias como um valor é como oferecer ambrosia a ruminantes. Eles gostam é de capim. É da sua natureza.
Que coisa! Mendes não pode ir ao lançamento de seu livro sem que isso arranhe, segundo essa gente, a sua isenção. Prova de independência dá um membro da corte quando cita, sei lá, José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, ou Márcio Thomaz Bastos, advogado de um dos réus e conselheiro de Lula, como referências intelectuais. Isso já aconteceu nesse julgamento.
Por que Mendes não iria? O arquivo reúne o que tenho escrito sobre o julgamento. Participei de 28 debates na VEJA.com sobre o tema. Estão disponíveis no Youtube. Desafio alguém a provar que tenha escrito ou dito coisas que desmereçam a instituição — mesmo quando discordo do voto deste ou daquele ou quando reprovo um ou outro comportamentos.
Anteontem, o ministro Ayres Britto, que tem atuado com correção, numa de suas considerações, exaltou a pena de alguns jornalistas. Pôs na lista Janio de Freitas. Em seus delírios, este senhor tem acusado, frequentemente, o julgamento de golpismo, associando-o ao suicídio de Getúlio e ao movimento militar de 1964!!! Talvez o ministro ignore as diatribes do outro, não sei. Entendo que o elogio ao jornalista seja devido ao estilo — há quem goste… —, não às teses. Britto certamente não concorda com a acusação de que comanda uma Casa golpista. Os petralhas devem achar a deferência justa, isenta e legítima.
Mendes foi ao lançamento do meu livro porque não se deixa patrulhar por vagabundos — e demonstra isso mais uma vez. Foi aplaudido. Mas também não tem medo de ser vaiado. Divergimos, sim, em vários temas — e isso já ficou claro no blog. Mas convergimos numa coisa: acreditamos que o direito tem de ser achado nas leis. Podem chiar à vontade. Quem é dono da sua vontade não se deixa intimidar.

Empreiteira explora trabalhadores em canteiro do Minha Casa, Minha Vida


VEJA mostra como a secretária de Inspeção do Trabalho, Vera Lúcia Albuquerque, descobriu funcionários mantidos em condições "análogas à escravidão" no interior paulista

Adriano Ceolin
O programa do governo de combate ao trabalho escravo era exemplar... até aparecer uma grande empreiteira adriano ceolin ESCRAVOS Os fiscais do Ministério do Trabalho libertaram 64 trabalhadores abrigados em condições precárias, sem salário e atolados em dívidas TRABALHO O ministro Brizola, que indeferiu o pedido da construtora para sair da “lista suja”, e Vera Lúcia Albuquerque, que pediu demissão por pressões prioridade O programa habitacional Minha Casa, Minha Vida: vitrine do governo imagem Rubens Menin, dono da MRV: a construtora é a principal parceira do governo
    MINHA CASA, MINHA VIDA O programa do governo de combate ao trabalho escravo era exemplar... até aparecer uma grande empreiteira adriano ceolin
Na próxima semana, o Diário Oficial da União vai publicar a exoneração de Vera Lúcia Albuquerque, secretária de Inspeção do Trabalho do Ministério do Trabalho. A servidora ocupava o cargo havia quase dois anos e, nos últimos meses, começou a ser pressionada para não cumprir o seu dever. Em março do ano passado, fiscais do Ministério do Trabalho depararam em Americana, no interior de São Paulo, com uma daquelas cenas que ainda constrangem o Brasil. No canteiro de obras de uma empreiteira responsável pela construção de residências do projeto Minha Casa, Minha Vida -- o mais ambicioso programa habitacional do governo federal para a população de baixa renda --, foram resgatados 64 trabalhadores mantidos em condições tão precárias que, tecnicamente, são descritas como “análogas à escravidão”. Eles eram recrutados no Nordeste e recebiam adiantamento para as despesas de viagem, hospedagem e alimentação. A lógica é deixar o trabalhador sempre em dívida com o patrão. Assim, ele não recebe salário e não pode abandonar o emprego. É o escravo dos tempos modernos.
Fotos: Walter Campana ABR e Elza Fiuza/ ABR
TRABALHOO ministro Brizola, que indeferiu o pedido da construtora para sair da “lista suja”, e Vera Lúcia Albuquerque, que pediu demissão por pressões
  TRABALHO O ministro Brizola, que indeferiu o pedido da construtora para sair da “lista suja”, e Vera Lúcia Albuquerque, que pediu demissão por pressões
Os fiscais de Vera Lúcia encontraram trabalhadores em condições irregulares nos canteiros de obras tocadas pela MRV, a principal parceira do governo no Minha Casa, Minha Vida. Isso colocou a construtora na lista das empresas que mantêm seus empregados em condições degradantes, o que as impede de fazer negócios com a União e receber recursos de órgãos oficiais. Assim, em obediência às regras, a Caixa Econômica Federal suspendeu novos financiamentos à MRV, cujas  ações perderam valor na bolsa. O que Vera Lúcia não sabia é que muita gente acima dela considera a construtora intocável. Ela conta que começou a receber pressões de seus superiores no ministério para tirar a MRV da “lista suja”. A auditora resistiu, mas as pressões aumentaram muito depois de uma visita de Rubens Menin, dono da MRV, ao ministro do Trabalho, Brizola Neto. Desde então, ela passou a ser questionada pelos assessores do ministro sobre a legitimidade da inspeção da obra de Americana. Um deles chegou a insinuar que os fiscais não tinham critérios nem qualificação para autuar as empresas. “Estão querendo pôr um cabresto político na inspeção do trabalho”, disse Vera, dias depois de renunciar ao cargo.
Germano Luders
IMAGEMRubens Menin, dono da MRV: a construtora é a principal parceira do governo
  IMAGEM Rubens Menin, dono da MRV: a construtora é a principal parceira do governo 
Após a incursão no Ministério do Trabalho, Menin e diretores procuraram Maria do Rosário, ministra da Secretaria de Direitos Humanos, e Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência. Eles tentaram demonstrar que os problemas apontados pela inspeção já haviam sido resolvidos. Na conversa com a ministra Maria do Rosário, a construtora se ofereceu para aderir ao Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, convenção entre o governo, entidades da sociedade civil e empresas. “Ainda assim, pelas regras, não havia como tirar a MRV da lista”, disse José Guerra, coordenador-geral da Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo.
Além da falta de pagamento de salários e da retenção da carteira de trabalho, os fiscais encontraram o alojamento em péssimas condições de higiene, além de comida de má qualidade e estragada. O relatório da fiscalização listou 44 infrações na obra, comprovadas por meio de fotos e depoimentos de trabalhadores. “Os trabalhadores tinham restringido seu direito de locomoção em razão de dívida contraída com o empregador, da retenção de suas carteiras de trabalho e, principalmente, por meio do não pagamento do salário”, diz o relatório. Assinado por dois auditores fiscais, o documento afirma que a MRV usou empresas terceirizadas para diminuir custos trabalhistas e aumentar a margem de lucro do empreendimento: “Os contratos de prestação de serviços firmados pela MRV não passam de simulacros”. Os fiscais também registraram o fato de que os proprietários das empresas terceirizadas eram ex-funcionários da própria MRV.
Entre 2003 e 2011, o governo flagrou 35 000 trabalhadores mantidos em condições degradantes. A maior parte dos casos ainda ocorre em fazendas do Norte, mas eles já não são mais uma raridade em áreas urbanas. A fiscalização e a inclusão das empresas infratoras no cadastro são os instrumentos mais eficientes para inibir a ação dos exploradores. Vera acredita nisso e não cedeu. Só restou ao ministro Brizola Neto indeferir o pedido de reconsideração feito pela MRV ao ministério. A empresa, porém, conseguiu decisão favorável, em caráter liminar, no Superior Tribunal de Justiça. Por essa razão, setores do governo estudam mudanças nos critérios de inspeção. “Há um debate sobre a necessidade de aperfeiçoar os procedimentos de inclusão de empresas na lista, para evitar que eles possam ser questionados na Justiça, como vem ocorrendo”, informa a Secretaria-Geral da Presidência. Fica a lição: não apenas a escravidão, mas as demais mazelas do país tendem a se perpetuar enquanto as Veras Lúcias do serviço público forem obrigadas a sair do caminho por se recusarem a trair sua consciência e compactuar com o erro. 
Claudionor Junior/AE
PRIORIDADEO programa habitacional Minha Casa, Minha Vida: vitrine do governo
  PRIORIDADE O programa habitacional Minha Casa, Minha Vida: vitrine do governo

Ganância de Tarso Genro prejudica o PT gaúcho



Leandro Almeida
Em Porto Alegre, um dos primeiros redutos petistas e vitrine do chamado “modo petista de governar”, eles até tentaram modificar o modelo de fazer política, apresentando um programa de governo acima do personalismo das pessoas, nos quatros mandatos consecutivos na capital gaúcha.

Naturalmente, o vice-prefeito era o próximo candidato ao paço municipal. Foi assim com Olivio-Tarso, Tarso-RaulPont e deveria de ser também com RaulPont-Fortunati. Mas tinha um Tarso Genro no meio do caminho.Que colocou seu nome na disputa. E nas prévias do partido venceu os outros dois postulantes, o prefeito Pont (que com a nova lei poderia ser reeleito) e seu vice José Fortunati (que foi para o PDT logo depois).
Tarso Genro se consagrou nas urnas como o quarto prefeito consecutivo da capital gaúcha. Sua ganância pelo poder não parou ai. No meio do mandato renunciou à prefeitura para ser candidato a governador, depois de desbancar o governador petista Olivio Dutra nas prévias.
O aprendiz de caudilho misturado com messias perdeu a eleição. E o PT perdeu com ele sua dinastia na capital. José Fogaça colocou a última pá de cal nos petistas com dois mandatos consecutivos. E agora seu vice Fortunati se consagra nas urnas com 65,22% dos votos válidos.
E no governo do estado, Tarso Genro, depois de se eleger governador no primeiro turno, vai fazendo um governo fraco. As eleições de 2014 estão aí, esperando para Tarso apagar a última luz do petismo no Rio Grande do Sul.

Quadrilha, só na caverna do Ali Babá Carlos Chagas



Para o ministro Ricardo Lewandowski, quadrilha, mesmo, só a que se reunia na caverna do Ali Babá. Fora daí, nem Al Capone atentaria contra a paz pública e, portanto, também seria absolvido pelo revisor do processo do mensalão.
 Lewandowski, o pizzaiolo
Convenhamos, é juridiquês demais. Porque se José Dirceu, José Genoíno, Delúbio Soares, Marcos Valério e o restante da quadrilha não formavam uma quadrilha, que diabo estariam fazendo? Uma associação para cuidar da saúde dos gatos cegos? Quem sabe fundando uma ONG para proteger as barbas do camarão do Mar Vermelho?
Já ficou claro no julgamento que eles se reuniam para comprar votos de deputados em favor do governo Lula, que desviaram fundos públicos, remeteram ilegalmente recursos para o exterior, simularam empréstimos fictícios junto a organizações bancárias, lavaram e distribuíram dinheiro, cometeram peculato e foram incursos em gestão fraudulenta. Se isso não exprime a atuação de uma quadrilha, porque são os mesmos, só resta blindar a caverna do Ali Babá.
Uma pergunta ganha a curiosidade geral: à medida em que o processo chega ao seu final, mais o ministro Lewandowski procura inocentar todos os réus. Chegou a mudar voto anterior onde condenou cinco mensaleiros, precisamente por formação de quadrilha, pretendendo agora absolver outros treze. Que motivos teriam levado o competente jurista a concluir assim?
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AÇÃO DA PRIMEIRA INSTÂNCIA
Enquanto o julgamento no Supremo Tribunal Federal ainda vai demorar até que os culpados venham a ser instalados na cadeia, quem corre por fora é a primeira instância da Justiça Federal em Minas Gerais. A juíza Camila Velano condenou a dez anos de prisão dois empresários que enviaram recursos fajutos para a conta Dusseldorf, de Duda Mendonça, nas Bahamas. Se quem manda é criminoso, o que dizer de quem recebe?
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AMPLA REFORMA POLÍTICA
O senador Luís Henrique, do PMDB de Santa Catarina, defendeu da tribuna uma ampla reforma política no país. Para ele, o Supremo Tribunal Federal está julgando o sistema político nacional, mais do que pessoas, servidores públicos, empresários e até políticos. São as estruturas que se encontram no banco dos réus. Chegou o momento de as lideranças, no Congresso, darem o grito de basta e promoverem mudanças fundamentais. É inaceitável a forma de financiamento das campanhas eleitorais, tornando-se imprescindível o financiamento público e transparente. Seriam evitados desvios e as eleições custariam no máximo 10% do que se gasta hoje.
O ex-governador também defendeu que a propaganda eleitoral venha a ser efetivamente gratuita. Hoje, as campanhas são milionárias, com recursos de financiamentos privados. Os programas de televisão custam horrores, quando seria fácil determinar que os candidatos apenas se apresentassem ao vivo, sentados num banquinho e dizendo a que vieram.
Outra sugestão de Luís Henrique foi de agrupar todas as eleições num único dia, com mandatos de cinco anos para os eleitos. O país não aguenta eleições a cada dois anos. Para fortalecer os partidos, o eleitor deveria votar em listas fechadas. Hoje, 70% do eleitorado vota em pessoas, mas seis meses depois ninguém lembra mais em quem votou.
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SÓ SE MORA NO MUNICÍPIO
Neste mês em que se homenageia a memória de Ulysses Guimarães, seria bom lembrar uma de suas múltiplas lições, quando dizia que ninguém mora no país nem no estado. Mora-se no município, coisa que muita gente esquece quando tenta levar as campanhas para as eleições municipais a planos estratosféricos. O cidadão quer saber dos candidatos a prefeito como resolverão os problemas de segurança pública, saúde, educação e transporte.

HUMOR - CHARGE DO ALPINO


Um mendigo que chamou a atenção do Brasil

Marginais do poder, por Merval Pereira



Merval Pereira, O Globo
A definição do que seja crime de formação de quadrilha é a última discussão teórica do plenário do STF antes da definição dos critérios para desempates e dosimetria das penas.
A Corte está dividida entre os ministros que tratam esse crime dentro do estrito texto legal, e por isso não veem a existência de quadrilha no caso em julgamento, e os que, como o decano Celso de Mello, se permitem voos mais altos para chegar à conclusão oposta.
A paz pública, capítulo em que está inserido o crime de quadrilha, é o “bem tutelado”, isto é, o objeto que a legislação procura proteger.
As ministras Rosa Weber e Cármen Lúcia não viram nos fatos descritos na Ação Penal 470 sinais de que havia uma ação criminosa desse tipo, mas apenas coautores de diversas ilegalidades, em benefício próprio, no primeiro momento em que esse crime foi julgado.
A legislação trata de crimes comuns perpetrados por quadrilhas, como roubos, sequestros etc... Para Rosa Weber, “a indeterminação na prática de crimes é a diferenciação de bandos e agentes pura e simples. (...) Entendo que houve aqui crime de coautoria”. Quadrilha, na sua concepção, “causa perigo por si mesma na sociedade”.
Quanto à ameaça à paz pública, a ministra considera que ela só se caracteriza na “quebra de sossego e paz, na confiança da continuidade normal da ordem jurídico-formal”. E os membros da quadrilha têm a decisão de “sobreviver à base dos produtos auferidos em ações criminosas indistintas”.
Cármen Lúcia fez um adendo às ponderações da ministra Rosa que pode ser importante na sua distinção entre o caso já julgado e o que estará em julgamento a partir de segunda-feira. Ela disse que a tese da Procuradoria Geral da União de que havia uma “pequena quadrilha”, formada pelos políticos dos partidos aliados, dentro de outra quadrilha, esta a que vai ser julgada, não a convenceu.
Já Luiz Fux se disse convencido de que, demonstrada a “congregação estável entre os integrantes para o cometimento de crime, está caracterizado também o crime de quadrilha”.
Foi nessa ocasião que o presidente do Supremo, Ayres Britto, fez a observação que já ficou famosa no julgamento: “A pergunta então seria: o réu podia deixar de não saber, nesse contexto?”
Marco Aurélio Mello, que inocentou o deputado Valdemar da Costa Neto do crime de quadrilha, assim o fez por questões técnicas: considerou que não estava configurada a reunião “de mais de três pessoas” como manda a lei, pois um dos réus está sendo julgado em outro processo, na primeira instância.
No caso do núcleo político do PT, em associação com o núcleo operacional e o financeiro, a situação é outra, e não é certo que o ministro continue absolvendo os réus, inclusive porque já condenou outros pelo mesmo crime.
A definição mais abrangente em relação à ameaça à paz pública foi feita pelo ministro Celso de Mello, num voto histórico em que comparou os réus a “uma quadrilha de bandoleiros de estrada”, definindo-os como “verdadeiros assaltantes dos cofres públicos”, preenchendo os requisitos legais com uma aula de História.
Citou Cícero, que se referia à paz pública como sendo “a tranquilidade da ordem (...), o sentimento de segurança das pessoas”. Para o decano do STF, “são esses os valores juridicamente protegidos ao incriminar o delito de quadrilha”.
Celso de Mello identificou um “quadro de anomalia” que revela as “gravíssimas consequências desse gesto infiel e indigno de agentes corruptores, tanto públicos quanto privados, devidamente comprovados, que só fazem desqualificar e desautorizar a atuação desses marginais no poder”.
Embora interfira no resultado do julgamento apenas de maneira remota, pois pode aumentar a pena dos condenados, a definição do crime de quadrilha ganha uma dimensão política relevante neste julgamento.
Isso porque a interpretação mais ampla de que a paz pública brasileira esteve ameaçada, pondo em risco o estado democrático de Direito — assumida por Celso de Mello e pelo presidente do Supremo, Ayres Britto, que chegou a falar em “golpe na democracia” e depois reinterpretou as próprias palavras para amenizar seu sentido —, traz consigo o entendimento de que o que houve foi uma conspiração institucional.

Esgotamento e inflexão, por Cristovam Buarque



Nos últimos vinte anos de governos socialdemocratas, o Brasil melhorou graças à continuidade de quatro pilares: a democracia, a responsabilidade fiscal, a generosidade das bolsas e uma política econômica de crescimento. Estes pilares estão se esgotando.
A democracia se esgota porque não foi capaz de fazer a reforma política; não implantou um sistema ético para o financiamento de campanhas; e não barrou a corrupção.
A responsabilidade fiscal se esgota porque a reforma do Estado não foi feita, não houve controle dos gastos, nem mudança na gestão pública.
A generosidade social começou ainda no governo militar com a aposentadoria rural. Mas foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em seu segundo mandato, que adotou a concepção das bolsas, transferindo renda para quatro milhões de beneficiários.
Lula ampliou este número para 12 milhões e elevou o valor do Salário Mínimo em taxas superiores às da inflação. A presidenta Dilma Rousseff ampliou ainda mais os beneficiários com o programa Brasil Carinhoso.
Mas os programas de pura transferência de renda não estão sendo capazes de induzir a emancipação da população pobre.
O crescimento econômico manteve-se com o mesmo padrão básico: ampliação de produção, exportação de commodities agrícolas ou minerais e produção de bens industriais para o mercado interno, sofrendo, no entanto, uma desindustrialização em função da âncora cambial, da falta de competitividade, do Custo Brasil e da falta de capacidade para inovação.
Este modelo não foi capaz de dar o salto para uma economia de alta tecnologia, com respeito ao meio ambiente, estruturalmente distributiva e pelo qual o propósito da economia não seja apenas aumentar o PIB, mas aumentar o bem estar da população.
Há um esgotamento nos quatro pilares da social democracia brasileira, sendo necessária uma inflexão que permita completar a democracia com uma reforma política, criando mecanismos que tornem a corrupção impossível, eliminando a influência do poder econômico nas eleições.
A responsabilidade fiscal precisa ser completada por reformas na gestão pública, na política fiscal e no controle dos gastos públicos. A generosidade das transferências de renda precisa ser substituída pela emancipação da população para que nenhuma família brasileira precise de ajuda.
E a economia precisa incorporar o equilíbrio ecológico, a distribuição de renda, a produção de bens distributivos e o salto para uma sociedade criadora de bens de alta tecnologia, caminhando para aumentar o bem estar social, não apenas o PIB.
O fim das eleições municipais deveria ser o ponto de partida para o debate desta inflexão. Mas, aparentemente, este radicalismo não entrará nos debates. Vamos continuar discutindo como avançar na mesma direção de um modelo em esgotamento, com a mesma política de satisfazer os interesses imediatos de corporações, sem olhar o longo prazo, sem fazer a necessária inflexão histórica.

Cristovam Buarque é professor da UnB e senador pelo PDT-DF

Elas é que mandam, por Zuenir Ventura



Achava que era só aqui em casa, ou em outras poucas, que a mulher decide, que dá as ordens, que é em suma quem manda. Aí vem o último Censo Demográfico com dados mostrando que o fenômeno é mais geral, pois o número das chefes de família dobrou em uma década: pulou de 9,048 milhões para 18,617 milhões entre 2000 e 2010, enquanto o de homens chefes de família permaneceu praticamente o mesmo: 31 milhões.
Num país machista como o nosso, o fenômeno é no mínimo curioso, e as razões apontadas são econômicas.
Segundo o técnico do IBGE Gilson Gonçalves de Matos, a mudança representa um avanço, porque reflete maior presença feminina no mercado de trabalho e melhor nível de escolaridade.
Os dados revelam também que houve outras mudanças importantes na família brasileira, como o aumento das uniões informais, dos casamentos inter-raciais, das separações e dos divórcios.
Um terço dos brasileiros que vivem uma relação conjugal não formalizou o casamento no civil nem no religioso. A união consensual foi a única que teve crescimento na década, passando de 28,6% para 36,4%, enquanto a proporção de pessoas casadas no civil e no religioso, no mesmo período, caiu de 49,4% para 42,9%.
Mais do que o fim do casamento, como apregoam os pessimistas, o que essas transformações indicam é o declínio do velho modelo patriarcal, com os papéis bem definidos, o homem como único provedor e a mulher na condição subalterna de dependente econômica, emocional e psicológica — o modelo “Amélia”, que achava bonito não ter o que comer.

Quadro de Sonali Gangane

Aos que acreditam na decadência moral da sociedade e na dissolução dos costumes pode-se contrapor uma pesquisa recente do Datafolha, que mostrava a família como uma das instituições mais valorizadas. Quase sete pessoas em dez (69%) afirmavam que ela era “muito importante”.
O sintomático é que a família conquistou essa confiança não porque ficou mais rígida e careta, mas, ao contrário, porque aumentou sua tolerância em relação a temas como virgindade, relacionamentos homossexuais, sexo antes do casamento, namoro em casa, gravidez de solteiras. Por exemplo: 55% não viam problema em que a filha solteira não fosse mais virgem.
No “meu tempo”, mulher separada era estigmatizada. Hoje, conheço várias que já se casaram e se descasaram duas, três vezes, e em suas casas é comum ver reunidos irmãos e meio-irmãos, maridos e ex-maridos, esposas e ex-esposas, pais e padrastos, tudo na mais perfeita harmonia.

HUMOR A Charge do Chico Caruso

O day after do Mensalão, por Ruy Fabiano



Muito bem: o STF reconheceu que houve um mensalão – o mais sofisticado e abrangente ataque aos cofres públicos da história, segundo a Procuradoria Geral da República -, condenaram-se os responsáveis e aguarda-se a pena de cada qual.
Termina aí? Espera-se que não. O Mensalão não foi um acidente de percurso, um caso raro, fora do padrão.
Ele é o próprio padrão, levado ao paroxismo, justamente pelo partido, o PT, que chegou ao poder por ter convencido a população de que poria fim àquele tipo de prática.
O que ele indica é que a política, em seu conjunto, continua enferma, agora em estado terminal. Carece de mudanças profundas, único meio de evitar repetecos.
Neste exato momento, em que se disputa o segundo turno em diversas cidades brasileiras, quantos atos similares estarão sendo praticados, ainda que em escala menor?
Delúbio Soares e Marcos Valério, mais que réus condenados, são arquétipos da política brasileira. Já citei diversas vezes uma fala de Dom Pedro II, a seu ministério, em 1870 – e torno a fazê-lo por sua lamentável atualidade: “Todos os males do país derivam do modo como se fazem as eleições”. Faz 142 anos. Mudou?
Ao tempo da República Velha, havia o célebre voto de bico de pena, em que o eleitor tinha que expor o seu candidato, o que o tornava vulnerável à pressão dos chefes políticos.
Em nome do voto secreto e da lisura eleitoral, fez-se uma revolução, a de 1930. Mas o que mudou? A esperteza é uma metamorfose ambulante. Encontra sempre outros meios de influir.
O dinheiro é onipresente; há a manipulação das pesquisas, do noticiário. Nem mesmo uma decisão tão grave como a do STF é levada a sério por agentes políticos de peso.
José Dirceu, por exemplo. Ele e seu partido fazem pouco da mais alta Corte do país, acusam-na de estar a serviço do conservadorismo e agem como se nada tivesse ocorrido.
José Dirceu, mesmo estando privado de direitos políticos – foi cassado pelo Legislativo e condenado pelo Judiciário -, é cabo eleitoral de Fernando Haddad, candidato do PT à prefeitura de São Paulo, o que leva o Mensalão ao palanque daquela campanha.
Desde a redemocratização, e lá se vão 27 anos, quantas propostas de reforma política já foram apresentadas ao Congresso Nacional? Quantas foram efetivamente votadas? Sempre se vota alguma mudança pontual, em regra um casuísmo, e pronto.
Sabe-se que a legislação partidária é ruim e favorece o caciquismo. Sabe-se que a multiplicidade de partidos no Brasil – são mais de 30 em funcionamento e 57 registrados – provoca a promiscuidade que vemos: venda de horário eleitoral, alianças espúrias, distribuição de verbas milionárias do fundo partidário e, ao final, loteamento de cargos e ministérios.
Sabe-se também que o financiamento das campanhas é espúrio e gera os mensalões. Chegou-se a tal ponto que ninguém se espantava mais com o caixa dois. Achava-se normal.
Foi preciso que a ministra Carmem Lúcia lembrasse que se trata de um crime, já que o advogado de um dos mensaleiros apoiou-se nessa tese para pedir absolvição de seu cliente.
O diagnóstico dos males da política brasileira já está pronto há tempos. Não há quem, nos meios políticos, o desconheça. O que falta é determinação de aplicar os remédios. Quanto a isso, ouvi há dias, de uma senadora, que não há a menor disposição em fazê-lo. É o assunto mais evitado no Congresso.
Se isso é verdade, e se não houver radical mudança, o julgamento do mensalão terá sido em vão, um (mais um) episódio pitoresco da história republicana, a ser arquivado na sequência do impeachment de Collor, da condenação dos anões do Orçamento e de tantos outros da história recente.
Mais uma catarse estéril, a anunciar outras num futuro breve. Vem aí 2014 e, se as regras forem as mesmas, não há dúvida de que as práticas não vão mudar. Haverá mais cautela por parte dos agentes, mas o padrão moral será o mesmo.
Não há o que comemorar no Mensalão. Se a decisão do STF não provocar mudanças profundas, e imediatas, teremos (para variar) mais do mesmo.

Ruy Fabiano é jornalista

Dilma indultará mensaleiros? E Marco Aurélio: Não creio, esvaziaria as nossas penitenciárias



De passagem pela cidade de Guarulhos (SP), onde fez palestra, o ministro do STF Marco Aurélio Mello disse meia dúzia de palavras sobre o julgamento do mensalão. Perguntou-se a ele se acredita que Dilma Rousseff concederá indulto aos condenados que forem mandados à cadeia.
E ele, com uma ponta de ironia: “É cedo para pensarmos em qualquer medida que vise esvaziar o pronunciamento judicial. Não acredito que a presidente, presente as peculiaridades do caso, parta para a formalização de um indulto, sob pena de nós esvaziarmos as nossas penitenciárias.”
Indagou-se também ao ministro o que achou da declaração de Lula sobre o julgamento. Em viagem à Argentina, Lula dissera: “Eu já fui julgado. A eleição da Dilma foi um julgamento extraordinário. Para um presidente com oito anos de mandato, sair com 87% de aprovação é um grande juízo.” Marco Aurélio comentou: “O presidente Lula não é acusado no processo. Evidentemente ele lança algo que sensibiliza, mas sensibiliza muito o leigo.”

Te cuida, Ford. A Renault já é a quinta montadora do país


Nos últimos anos, a Renault deixou para trás a Peugeot e a Honda e virou a quinta maior montadora do país. Os franceses têm gás para entrar no grupinho das líderes

Michele Loureiro, de 
Fabiano Accorsi/EXAME.com
Concessionária da Renault
Concessionária da Renault: o Brasil virou o segundo maior mercado da empresa
São Paulo - Na última década, o mercado automotivo brasileiro mudou para continuar exatamente do mesmo jeito. O número de montadoras no país passou de 15 para 43 com a entrada de companhias coreanas, japonesas e chinesas. Mas, em meio a essa transformação toda, as líderes de mercado permaneceram as mesmas.
Nada muda no topo: desde 2001, Fiat, Volkswagen, General Motors e Ford ocupam as quatro primeiras posições do ranking, exatamente nessa ordem. Mas esse clubinho está, finalmente, ameaçado — e não por uma faminta montadora asiática, mas pela francesaRenault.
A empresa aumentou suas vendas em 210% desde 2007 e mais que dobrou sua participação de mercado, para 6,7%. Ninguém cresceu tanto. No caminho, deixou para trás sua conterrânea Peugeot e a japonesa Honda para assumir o quinto lugar. Agora, os franceses se aproximam de seu novo alvo: a Ford.
A disputa mais intensa da indústria automotiva brasileira, portanto, não é pelo primeiro, pelo segundo ou pelo terceiro lugar. É na briga pela quarta posição que o bicho está pegando. A diferença chegou a 0,8 ponto percentual em agosto, mas voltou a crescer para 1,7 ponto percentual em setembro.
Cada ponto representa 50 000 unidades vendidas num ano. Há apenas dois anos, a diferença entre as empresas era de 4,2 pontos percentuais. Os franceses já ultrapassaram a Ford em três estados — Rio de Janeiro, Paraná e Roraima — e no Distrito Federal. O objetivo declarado da empresa é alcançar 8% de participação de mercado até 2015.
Virando o jogo
O crescimento recente se torna impressionante quando contrastado com a situação vivida pela Renault no país há sete anos. Após anos de prejuízo, a matriz cogitou fechar as portas da fábrica, instalada no Paraná, e deixar o Brasil. Com uma linha de produtos pequena e modelos que não emplacaram, a linha de produção ficava ociosa — a empresa perdeu dinheiro no país até 2008.
Mas, entre abandonar o país e redobrar a aposta, a matriz decidiu pela segunda opção. Com modelos adaptados ao mercado brasileiro e ancorada pelo volume do popular Sandero, a Renault voltou a dar lucro em 2009 (o montante não é revelado) e, sobretudo, a crescer. Dez anos atrás, a subsidiária brasileira era a décima maior da Renault no mundo. Hoje, é a segunda, atrás apenas da França.
O curioso é que, para crescer tanto a ponto de encostar na Ford, a Renault lançou produtos que atingiram a montadora americana como um míssil teleguiado. Primeiro, no segmento popular. Até 2007, a Ford era uma das líderes nesse mercado com o Ka e o Fiesta, que vendiam 98 000 unidades por ano.
A Renault, que só tinha o popular Clio, lançou em 2007 o Sandero, uma rara novidade num segmento dominado por marcas antigas, como Gol e Mille. O modelo foi um sucesso. Em 2011, a Renault vendeu 148 000 carros populares, ante 121 000 da Ford. No fim do ano passado, a montadora desferiu seu ataque mais direto à montadora americana com a chegada do utilitário esportivo Duster.
Desde seu lançamento, em 2003, o EcoSport, da Ford, vendeu mais de 700 000 unidades e liderou com folga o segmento. Com o Duster, isso mudou. Em apenas dois meses, a Renault roubou a liderança da Ford. Desde então, a disputa é carro a carro. Em seu contragolpe, a Ford antecipou para agosto o lançamento da nova versão do EcoSport, programado inicialmente para o Salão do Automóvel de São Paulo, no final de outubro.
A Ford garante que, desde 18 de setembro, o EcoSport voltou a vender mais que o Duster. Naquele dia, o placar foi 165 a 163 a favor dos americanos — a celeridade com que a Ford divulga esse tipo de informação é uma evidência poderosa do incômodo causado pela ascensão da Renault. Procurada, a Ford não quis dar entrevista.
Com o acirramento da crise na Europa, continuar a crescer no Brasil virou uma prioridade global para a Renault. A venda de carros na Europa está devagar, quase parando. De acordo com a consultoria Alix Partners, o mercado europeu só deve voltar ao patamar pré-crise no longínquo 2020.
Em 2006, foram emplacados 16,8 milhões de automóveis no continente. Para 2013, a expectativa é que sejam vendidos apenas 13 milhões. Durante o Salão de Paris, no final de setembro, o presidente mundial da Renault, o brasileiro Carlos Ghosn, discutiu publicamente a possibilidade de fechar fábricas na região.
No Brasil, o plano de investir 1,5 bilhão de reais entre 2010 e 2015 continua de pé. A verba de marketing foi engordada em 30% desde 2010. A Renault sabe, sobretudo, que terá de aumentar sua gama de produtos para continuar crescendo.
Segundo ­EXAME apurou, a empresa estuda sua entrada em outros segmentos no país — entre eles, picapes (nicho em que a Strada, da Fiat, é líder), utilitários esportivos de luxo (como o Tucson, da Hyundai) e hatchs médios (como o Focus, da Ford).  
Mas, se chegarem, os novos modelos não terão vida fácil. A concorrência não para de crescer. A Ford, evidentemente, não está parada e planeja investir 4,5 bilhões de reais no Brasil até 2015 (incluindo sua unidade de caminhões). Uma série de outros lançamentos pode atrapalhar os planos dos franceses.
Duas­ novidades apresentadas em setembro competem diretamente com o Sandero: os populares Etios, da Toyota, e o HB 20, da Hyundai. A General Motors planeja lançar no Salão do Automóvel o Tracker para competir com o Duster e o EcoSport. A chinesa JAC retomou seus planos de investir 900 milhões de reais em uma fábrica na Bahia.
O risco também é interno. Em dezembro, a Renault vai paralisar por dois meses sua fábrica de São José dos Pinhais, no Paraná. Nesse período, a unidade terá a capacidade ampliada em 30%, para 380 000 veículos por ano.
“O motivo da parada é nobre, mas ela vai atrapalhar nossas vendas em 2013”, diz o francês Olivier Murguet, que há um ano assumiu o comando da subsidiária brasileira. O risco da parada é calculado. Mas, pelo menos durante 2013, vai ajudar a manter o clubinho das líderes exatamente como está.