sábado, 8 de agosto de 2015

Opinião: A quem interessa a queda de Dilma - RUTH AQUINO


Se Dilma renunciar, ou se sofrer impeachment, Lula é quem mais ganhará. Quem disse que a política é linear?

Numa bolsa de apostas apartidária, livre e intuitiva, poucos hoje investiriam seu dinheirinho na permanência de Dilma Rousseff como presidente por mais três anos e meio. Não sou a favor do impeachment de Dilma. ... Ainda não surgiram provas irrefutáveis de sua desonestidade, apenas de sua incompetência na gestão econômica e política. Por enquanto, Dilma não é Zé Dirceu. Não parece ter a ganância do companheiro.

O que pode manter Dilma no Planalto? Numa crise econômica provocada por ela mesma e pelo PT, e que nada tem de passageira, a presidente precisa de apoio para recolocar o país nos trilhos. Urgente.

Dilma não pede uma vaquinha, apenas paciência. Pede união a quem pensa “só em si mesmo”. Não tem coragem de mostrar na TV, na galeria dos egoístas, a foto de Eduardo Cunha – quem, mais que ele, tenta tumultuar? A pauta-­bomba do presidente da Câmara é clara: inviabilizar Dilma, derrubar a presidente por estrangulamento e por meios legais. PDT e PTB já aderiram ao motim e anunciaram a saída da base aliada.

O Brasil cai no tal alçapão mostrado pelo ator José de Abreu na TV. Os apelos de Dilma não encontram eco, só barulho. Mas é patética a tentativa do PT de intimidar o brasileiro com a alternativa D ou D: “Dilma” ou “Ditadura”. Isso não existe.

De onde pode vir o apoio para Dilma se manter? Da população, não: só 8% aprovam seu governo e 71% a reprovam, segundo pesquisa Datafolha. Da Câmara, jamais – o Planalto considera Eduardo Cunha “ingovernável”. Do Senado, depende do sedento Renan Calheiros. O vice Michel Temer foi o primeiro a constatar o lugar vago da presidente, ao dizer que “alguém” precisa unir o Brasil. Quem será esse alguém? Temer jogou a toalha como articulador. Ou puxou o tapete. A semana dramática culminou em apelos petistas ao PSDB e aos empresários.

Nenhum presidente governa sozinho. Essa fórmula não fica de pé. Chico Buarque cantava que “é sempre bom lembrar que um copo vazio está cheio de ar”. O ar que emerge dos panelaços hoje cheira a azedo. Dilma descobrirá que não pode fazer troça de manifestações populares. O humor, nesses casos, vira provocação. Se Dilma negociar sua saída do Planalto em nome da governabilidade e ceder sua cadeira ao vice Michel Temer, quem ganhará com isso? Se Dilma sofrer impeachment, e levar junto o vice, com convocação de novas eleições, quem será o mais forte adversário do novo presidente, seja ele do PMDB ou do PSDB?

Em ambas as hipóteses, Lula é quem mais ganhará. Ganhará fôlego para a eleição de 2018. Ganhará liberdade para aumentar as críticas a “tudo que está aí” – como vem fazendo de forma subliminar. Jogará a conta no novo governo e nos economistas liberais. Dirá que sabe como fazer o Brasil crescer. Os remédios amargos para curar o país do “mal de Dilma” não serão mais ministrados pelo PT.

“O Lula é um animal político, dos mais sagazes e mais capazes de manipular a opinião pública”, disse Roberto Romano, cientista político da Unicamp, Universidade Estadual de Campinas. “Lula tem uma liderança inconteste, mesmo em baixa nas pesquisas. A prisão do Dirceu foi um golpe, mas ele já isolou o companheiro. Com Lula é assim: os ônus vão para os auxiliares. Desde o Getúlio (Vargas), não existe personagem mais rápido para se reorganizar. Saindo Dilma, poderá bater sem pudor no Levy, na terceirização. Dirá que Dilma não seguiu a linha dele, e que ele é a salvação da lavoura.”

Não sou a favor do impeachment de Dilma. Também não acho bonito o cenário de Dilma sangrando até o final, sem base e sem chão. A continuidade da presidente interessa à economia, pois o impeachment agrava a crise. Interessa a Serra e Alckmin, que sonham em ser candidatos tucanos em 2018. Interessa à parte do PMDB que quer disputar com alguma viabilidade a Presidência – leia-se o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. Interessa à terceira via, Marina Silva. Interessa a todos que odeiam tanto o PT que têm medo de fortalecer Lula para 2018. Paradoxo? A política nunca foi uma ciência linear.

Não vejo ninguém capaz de unir o país, nem na base aliada nem na oposição. Faltam líderes com credibilidade. O melhor para o Brasil seria que a presidente tivesse habilidade para dialogar com as forças políticas e a população. Utopia.

Enquanto o PT tiver a cara de pau de defender que evitou por seis anos que a crise internacional chegasse ao Brasil, que o país vive “problemas passageiros na economia” e que reprovar Dilma equivale a nos jogar nos braços de uma ditadura de direita, será difícil reconquistar a população. Chamar críticos de trouxas e fascistas é desespero de causa. Diz o PT: “Hoje, há uma pessoa capaz de evitar uma grave crise política no país: você”. Não diga! “Juízo”, aconselham mamãe Dilma e papai Lula. O que você fará no dia 16?
Fonte: Por Ruth de Aquino, revista Época - 07/08/2015 - - 23:50:13

CHARGE DO CAZO - Dilma e as panelas...


Caso Nisman é desafio para jornalismo investigativo


   8/08/2015 06:34:00 PM    
Coisas Judaicas

Por Sheila Sacks
“Uma nação é, antes de tudo, um sistema de segredos.” (José Ortega Y Gasset, escritor e filósofo espanhol, 1883-1955)
Um pouco mais de uma semana após a morte do promotor argentino Alberto Nisman, em 18 de janeiro, o autor do livro “Matar sin que se Note”, o também argentino Gustavo Perednik, doutor em filosofia, escritor e conferencista, revelou que o título da obra sobre a vida e o trabalho de investigação do promotor não foi a preferida pelo seu principal personagem. Diante das quatro ou cinco opções de títulos apresentadas pelo autor, Nisman escolheu a terceira possibilidade, de acordo com Perednik. Com um sorriso irônico, o promotor apontou o dedo para o título “O assassinato de Alberto Nisman”, conta o escritor.
Publicado em 2009 e já com uma quinta edição ampliada, o livro de Perednik é uma versão romanceada da vida e do trabalho de investigação levado a efeito pelo promotor que há dez anos colhia provas sobre o atentado ao centro judaico AMIA (Associação Mutual Israelita Argentina), em 1994, que matou 85 pessoas e feriu mais de 300. Ele destaca que nos seus encontros com Nisman pode conhecer todos os parâmetros e detalhes da investigação. “No livro não existe um único dado que não seja real”, avalia. “E se no título se fala de seu assassinato é porque o ameaçavam e por isso se podia jogar com essa possibilidade”, explica Perednik que vive em Jerusalém.
Na entrevista ao jornal “La Nacion”, de Buenos Aires ("Sin Nisman no habría escrito esta crónica novelada", em 30.01.2015), Perednik também faz elogios ao caráter de Nisman e afirma que o enxergava como “um indivíduo heroico, idealista, que queria justiça e se empenhou até o final sem deixar-se deter por nada”. Sobre a suposta participação do governo argentino na tentativa de encobrir os culpados do atentado, tese defendida pelo promotor, Perednik garante que Nisman era centrado na realidade. “Ele somente falava se tinha provas.”
Acordo secreto
Encontrado morto com um tiro na cabeça no banheiro de sua residência, Nisman, 51 anos, responsabilizava o governo pela tentativa de acobertar os suspeitos iranianos apontados como autores do atentado à AMIA e sobre os quais pesavam pedidos de captura internacional. Sua morte se deu quatro dias após apresentar denúncia à Justiça contra a presidente Cristina Kichner, seu chanceler Héctor Timerman e outros assessores, e na véspera de prestar explicações sobre essas acusações ao Congresso.
A denúncia contida em um relatório de 300 páginas – rejeitada por um juiz federal três meses depois e arquivada em definitivo pela Justiça em maio - acusava formalmente o governo de negociar secretamente um acordo com o Irã para enterrar a investigação em troca da venda de petróleo iraniano à Argentina. Em 2013, os dois países haviam assinado um memorando de entendimento presumivelmente para revisar a causa judicial e interrogar os suspeitos em território iraniano devido à negativa de Teerã de extraditá-los. Porém o acordo jamais entrou em vigência porque apesar de aprovado pelo Congresso foi considerado inconstitucional pela justiça argentina e tampouco obteve aprovação do parlamento iraniano.
Nisman fundamentava suas acusações em uma série de escutas telefônicas envolvendo autoridades, diplomatas e funcionários iranianos, pessoal da inteligência argentina e políticos. Um dia após a sua morte, a jornalista Natasha Niebieskikwiat, do jornal “Clarin”, especializada em temas políticos, revelou que nos dois últimos contatos que teve com o promotor, na quarta-feira e no sábado (Nisman foi encontrado morto no domingo), ele repetiu uma mesma frase que a impressionou. “Eu posso sair disso morto”, preconizava a respeito do conteúdo de suas denúncias. A colunista escreveu que apesar das pressões, Nisman confiava na solidez de sua investigação e disse que naquele fim de semana iria se concentrar na preparação de sua apresentação ante a Comissão de Legislação Penal da Câmara dos Deputados (“Nisman:Yo puedo salir muerto de ésto”, em 19.01.2015) 
Niebieskikwiat falou com Nisman pela última vez no sábado, às 21h17, através do Whatsapp. Ela conta que Nisman não quis dar nenhuma declaração e comentou que sempre lia a coluna da jornalista. “No domingo, não respondeu a nenhuma das mensagens do Whatsapp, apesar de aparecem como recebidas”, observou, acrescentando que o promotor geralmente respondia às mensagens de texto enviadas. Segundo a promotora que investiga o caso, Viviana Fein, a Justiça registrou a morte de Nisman como “duvidosa”.
Jornalista ameaçado
Primeiro a dar a notícia da morte de Nisman, o jornalista Damián Pachter, 31 anos, hoje vive em Israel, depois de abandonar a Argentina seis dias após a divulgação da morte do promotor e ao perceber que estava na mira de agentes dos serviços de inteligência. Em entrevista ao jornal “El País”, ele afirmou que vinha sendo ameaçado pelo Twitter, seguido por agentes policiais e que seu telefone estava grampeado. Pachter, que tem dupla nacionalidade porque viveu dez anos em Israel e serviu às suas Forças Armadas, trabalhava na capital argentina no jornal de língua inglesa, “Buenos Aires Herald”, na versão digital.
Em conversa com a correspondente Noga Tarnopolky, de Tel Aviv (“Primeiro um tuíte, depois a fuga para Israel”, em 26.01.2015), Pachter contou que na tarde de domingo, 18 de janeiro, foi contatado por uma fonte de sua total confiança que lhe revelou que o promotor estava morto. Mas Pachter somente tuitou a informação depois das onze da noite, ainda de forma velada, falando sobre um “incidente” ocorrido na casa do promotor. Meia-hora depois, passando um pouco da meia-noite, diante dos rumores que a notícia causou, o jornalista postou uma nova mensagem pelo Twitter em que confirmava a morte de Nisman, com detalhes: “Encontraram o promotor Alberto Nisman no banheiro de sua casa de Puerto Madero sobre uma poça de sangue. Não respirava. Os médicos estão lá.”
Para o jornalista os seus tuites tornados públicos naquela noite devem ter impedido que se fizessem alterações na “cena do crime”, na qual Nisman foi encontrado morto, daí a insatisfação de setores do governo interessados na hipótese do suicídio. Em um artigo para o jornal israelense “Haaretz”, logo depois de sua chegada ao país, Pachter afirma que jamais irá revelar o nome de sua fonte que assim ficaria vulnerável em sua integridade física. Apesar de até aquele momento somente dispor de 420 seguidores (atualmente tem mais de 10 mil), ele elegeu o Twitter pela velocidade e seu efeito de contágio. O que se mostrou eficiente porque imediatamente vários jornalistas começaram a procurá-lo e a notícia se multiplicou nas redes sociais.
Entretanto, a saída repentina de Pachter da Argentina ensejou comentários de uma provável ligação do jornalista com o Mossad, o serviço secreto israelense. A deputada Elisa Carrió justificou a hipótese ao assinalar em entrevista que “todos os serviços secretos internacionais estavam seguindo esse caso” (a denúncia do Nisman). Em sentido oposto, o semanário “Miradas al Sur” afirmou que a fonte do jornalista foi um médico do “Swiss Medical”, o primeiro a entrar no apartamento de Nisman. Esse profissional seria amigo de Pachter, tendo constatado pela rigidez do corpo que a morte teria ocorrida 12 a 15 horas antes (“La teoria conspirativa”, em 25.01.2007).
Em meio às especulações, dois meses depois, de seu exílio em Israel Pachter encaminha uma representação à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, com sede em Washington, pedindo que o estado argentino garanta a sua integridade física no retorno ao país para seguir exercendo a profissão de jornalista. No documento de 45 páginas dirigido ao secretário executivo da Comissão, o mexicano Emilio Álvarez Icaza Longoria, e ao relator especial para a Liberdade de Expressão, Edison Lanza, do Uruguai, os advogados de Pachter asseguram que o repórter está em perigo desde que tornou pública a informação. “O risco que ele corre é grave, urgente e irreparável”, alertam.
Ajuda a Interpol
Designado em 2004 pelo presidente Néstor Kirchner (1950-2010) para atuar especificamente como promotor especial da causa AMIA, Nisman já vinha trabalhando nas investigações desde 1997. Em 2006, Nisman acusa formalmente o Irã de planejar o atentado e o grupo libanês Hezbollah de executá-lo. Um ano depois, o governo argentino aciona a Interpol (sigla do inglês International Criminal Police Organization) para a captura de cinco iranianos, membros destacados da república islâmica: Ali Fallhijan, ex-ministro da Segurança; Mohsen Rezai, ex-comandante da Guarda Revolucionária e atual membro do conselho que assessora o líder supremo Alí Jamenei; Ahamad Vahidi, ex-chefe da Guarda Revolucionária e ex-Ministro de Defesa; Mohsen Rabbani (que viveu na Argentina por 14 anos, até 1998), ex-adido cultural da embaixada do Irã em Buenos Aires e Ahmad Reza Ashgari, funcionário da embaixada ( “En qué consiste la causa de la AMIA que investigaba Alberto Nisman”, BBC Mundo, em 19.01.2015).
Seis anos depois, com a reiterada recusa do governo iraniano de entregar os acusados, Cristina Kirchner anuncia, em janeiro de 2013, um memorando de entendimento com o presidente Mahmoud Ahmadinejad, do Irã, para que ambos os países trabalhem juntos no esclarecimento da autoria do atentado. Acordo investigado por Nisman e que através de seus contatos com os serviços de inteligência americano, israelense e da própria Argentina pode se municiar de documentos para embasar a denúncia. Segundo o promotor, o acordo permitiria ao Irã interferir na investigação e também influir para que a Argentina pedisse a retirada dos cinco iranianos da lista de procurados pela Interpol.
Entretanto, essa interação que o promotor mantinha com os órgãos de inteligência foi alvo de críticas, principalmente de autoridades e políticos governistas. Sua relação com o homem forte da SIDE (Secretaria de Inteligência del Estado, extinta após a morte de Nisman e substituída pela Agencia Federal de Inteligencia –AFI),Antônio “Jaime” Stiuso, de quem obteve grande parte das informações, resultou questionada em função da apresentação de escutas ilegais como provas. Trabalhando no órgão desde 1972, Stiuso era diretor geral de Operações e responsável pelos contatos com a CIA, o serviço secreto americano, o FBI (a polícia federal ligada à Justiça americana) e o Mossad. Em novembro do ano passado, quebrando um silêncio profissional de mais de 40 anos, o espião falou ao semanário “Notícias” e denunciou que vinha recebendo ameaças. Um mês depois foi demitido e em fevereiro deste ano aposentado compulsoriamente.
O mesmo destino parecia reservado a Nisman. O promotor foi avisado de que perderia o cargo na Promotoria por conta de reformas na Justiça, daí a pressa em formalizar a acusação. Ele vinha recebendo ameaças de morte e vários e-mails com mensagens intimidadoras foram revelados pela mídia argentina. Segundo a investigação policial, o promotor manteve contato telefônico por 12 minutos com uma linha em nome de Stiuso, um dia antes de morrer. O ex-espião deixou a Argentina após a morte do promotor, alegando ameaças. O tablóide “Perfil” (03.05.2015) informou que suas três filhas e um neto viajaram para os Estados Unidos sem data de regresso. Também revelou que fontes do governo argentino confirmaram que Stiuso tem feito viagens, com assiduidade, entre o Rio de Janeiro, São Paulo e Miami. Para integrantes da equipe da presidente Kirchner, Stiuso interferiu no trabalho de Nisman para prejudicar o governo e seria ele o verdadeiro autor da denúncia sobre o acobertamento dos iranianos.
Em defesa de Stiuso falou o próprio Nisman, ao ser entrevistado pelo canal de TV “TN” (Todo Noticias), após tornar pública a sua denúncia contra Cristina Kirchner e poucos dias antes de morrer. O promotor disse que conhecia o espião e que quando foi indicado para comandar as investigações sobre o caso AMIA, o presidente Néstor Kirchner recomendou Stiuso como a pessoa que mais somava informações sobre o ataque. “O caso AMIA é um atentado terrorista internacional e tenho que trabalhá-lo com organismos de inteligência”, justificou.
Segurança comprometida
Última testemunha a ver o promotor com vida, o técnico de informática e auxiliar de Nisman, Diego Lagomarsino, disse à polícia que havia emprestado a pistola calibre 22, encontrada ao lado do corpo, atendendo pedido da própria vítima que quis a arma para a sua proteção. Um dia antes de ser encontrado morto, segundo Lagomarsino, Stiuso tinha telefonado para Nisman e o havia alertava sobre a possibilidade de seus guarda-costas não serem confiáveis. Disse ainda para que tivesse cuidado com a segurança de suas duas filhas.
No vídeo da cena da morte feita pela polícia e exibido em primeira mão no programa “Periodismo para Todos”, da TV argentina, em 31 de maio, o jornalista Jorge Lanata detalha as irregularidades cometidas pela perícia como a falta do uso de luvas no tratamento das provas e o descuido no recolhimento das evidências, com os peritos pisando no sangue do promotor e usando papel higiênico para limpar o sangue da arma. Lanata, um dos jornalistas mais conhecidos do país, também mostrou o vídeo para o médico legista americano Cyril Wetch, consultor e autor de vários livros que envolvem mortes de pessoas famosas, como o assassinato do presidente John F. Kennedy. Após analisar o caso por um mês, o especialista concluiu pela probabilidade de homicídio. Em entrevista ao programa de Lanata, em 12 de julho, ele concluiu que “as evidências são muito fortes, cientificamente, contra a possibilidade de suicídio”.
A afirmação de que Nisman foi assassinado já tinha sido feita por sua ex-mulher, a juíza Sandra Arroyo Salgado, quando em março reuniu a imprensa para apresentar a conclusão da equipe de peritos contratada por ela para avaliar os resultados da autópsia. “O relatório descarta com contundência as hipóteses de acidente e do suicídio”, disse. A juíza revelou que Nisman foi executado com um tiro na cabeça, de joelhos. “Sua morte é um assassinato que exige uma resposta das instituições do país.” Sofrendo ameaças e vivendo sob proteção policial, Arroyo Salgado e suas duas filhas mudaram de residência após a juíza flagrar um suposto fotógrafo tirando fotos de uma das meninas.
Para o jornalista Jorge Lanata que manteve contato com Nisman na véspera de sua morte, esse caso não seria o primeiro no país a ser dado como suicídio. Ele lembra que à época de Carlos Menem, que presidiu a Argentina por dez anos (1989-1999), esta era a maneira mais comum de desaparecer com as testemunhas. Convidado pela Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) para falar no congresso promovido pela entidade em julho, na capital paulista, Lanata focou no caso Nisman e na atuação da imprensa. Ele criticou a postura do governo kirchnerista que vê os jornalistas como “inimigos” quando estes discordam da posição oficial.   Mas, passados seis meses da morte que chocou o país, a imagem de Nisman vem sofrendo um sério revés ao se tornar pública uma conta bancária não declarada em Nova York e detalhes de sua vida privada vazados pela própria polícia. “Uma estratégia de enlamear o campo que funcionou”, avalia Eduardo Fidanza, diretor de um instituto de pesquisas de Buenos Aires.

Recentemente, uma ampla reportagem sobre a morte do promotor argentino ganhou relevância nas páginas da revista “The New Yorker”, sob a assinatura de Dexter Filkins, ex-correspondente das guerras do Iraque e do Afeganistão do “New York Times”. O jornalista faz um apanhado de todo o histórico da novela AMIA-Nisman, com depoimentos de jornalistas, juristas, colegas de trabalho, funcionários americanos que acompanham o processo da AMIA, especialistas em economia e política externa e da própria Cristina Kirchner, caracterizada por sua atenção exagerado à aparência e ao uso de botox (“Death of a Prosecutor”, em tradução livre, Morte de um Promotor, em 13.07.2015). Sobre a personalidade de Nisman, fica-se sabendo que era um homem meticuloso, amante da vida noturna de Buenos Aires, praticante de windsurf, vaidoso, regrado na alimentação, disciplinado, organizado e empenhado, obsessivamente, nas investigações sobre o atentado à AMIA e em desvendar a real natureza do controverso acordo do governo argentino com o Irã.

Israel: o primeiro país no mundo a banir a venda de peles de animais


   8/06/2015 11:07:00 PM  
Israel: o primeiro país no mundo a banir a venda de peles de animaisIsrael pode virar em breve o destino favorito dos viajantes e amantes dos animais por duas importantes razões: em primeiro lugar, o país está trabalhando em uma lei que o colocaria oficialmente como primeiro país do mundo a proibir completamente o comércio e produção de peles de animais.

Atualmente, tanto na Europa como nos Estados Unidos, alguns lugares já vetaram o uso de pele de animais domésticos, enquanto outros declararam ilegais as fazendas de pele dentro de seus territórios. No entanto, em alguns casos infelizmente isso só aumentou as importações de peles de países que não têm leis de proteção animal, como a China, por exemplo.

A lei na qual Israel está trabalhando abrangeria esses dois pontos, vetando tanto a produção quanto o comércio de peles, um tipo de proibição que hoje só é encontrada no estado da Califórnia.

Em segundo lugar, e de acordo com vários estudos e pesquisas, Israel está rapidamente virando também o país com o maior número de veganos e vegetarianos, contando também com uma maior oferta de produtos, supermercados e restaurantes para quem segue esse tipo de dieta.

Aproximadamente um dos oito milhões de habitantes do país são veganos, e 13% da população considera deixar de consumir carne para começar uma dieta vegetariana ou vegana. Em julho de 2015, uma das revistas de economia mais importantes de Israel indicou que a indústria láctea teria sofrido um duro golpe em novembro de 2014, com uma queda de vendas entre4 e 7% em vários de seus produtos. Outra revista de economia, a The Market falou recentemente sobre o movimento vegetariano e vegano para um estilo de vida e de hábitos alimentares mais saudáveis, e no mesmo artigo detalhou como o mercado está respondendo a essas novas preferências, mostrando como muitas cadeias importantes de supermercados e restaurantes decidiram investir nas propostas de seus clientes.

O gerente de marketing do Café Greg, uma das cadeias de restaurantes mais populares do país, indicou que no último ano e meioviu a demanda de pratos veganos crescer entre 30 e 40% e que por isso teria decidido ampliar seu cardápio com ummenu 100% livre de exploração animal. A resposta dos clientes foi tão boa que nos próximos meses mais 24 pratos veganos serão inclusos.

A internacional Domino's Pizza também incluiu em julho uma pizza vegana em seu cardápio. Os responsáveis pela cadeia esperavam que o produto fizesse as vendas subirem em aproximadamente 5%, mas a resposta dos consumidores foi tão boa que aparentemente a pizzaria está tendo dificuldades para encontrar as quantidades necessárias de queijo vegano para satisfazer a demanda, e inclusive a Tnuva, marca mais importante de produtos lácteos no país, recentemente lançou no mercado sua linha de leites e iogurtes de origem vegetal.

Essas importantes mudanças se devem principalmente a três fatores: Gary Yourofsky, ativista dos direitos dos animais que fez sucesso com um dos seus vídeos no Youtube, viajou para Israel oferecendo palestras em todo o país, atingindo tantas pessoas que novos ativistas começaram a apoiar a luta. Em segundo lugar, uma série de investigações que apresentavam os horrores da indústria da carne foram divulgadas em rede nacional. Por último, não podemos esquecer o excelente trabalho feito agora em 2015 por uma comunidade vegana local, que conseguiu chegar a vários meios de comunicação e incentivar importantes iniciativas, como a vegan-friendly.co.il.

No entanto, apesar dos grandes avanços em relação aos direitos dos animais, a ratificação final para banir a produção e comércio de peles no país foi adiada. A causa do atraso se deve aos políticos pró-pele, que alegam grande perda de rendimentos, além de tentarem isentar a lei para os chapéus de pele usados por uma minoria da população da cultura hassídica, tentando alegar que o projeto seria antissemítico.

Apesar disso, o governo israelense não se amedrontou e espera que o projeto de lei seja aprovado rapidamente.

AUTORIDADE LEGAL E AUTORIDADE LEGÍTIMA - Maria Lucia Victor Barbosa





08/08/2015

 

A corrupção no Brasil tem uma longa trajetória, que aliada à impunidade nos infelicitou ao longo dos séculos. Sem me alongar sobre o tema recordo que o Estado brasileiro teve desde seu início ação centralizadora e tuteladora da Nação. Tudo dependia do governo e, assim, o comércio e a indústria estavam atados às autorizações, às tarifas protecionistas, às concessões, o que facilitava o suborno. Em essência nada mudou.

Em 2002, o PT chega à presidência da República jactando-se de ser único partido ético que vinha para acabar com as mazelas da política brasileira. E melhor: à frente do partido havia um “pobre operário” capaz de salvar a pátria, um padroeiro dos pobres e oprimidos.

Contudo, pode-se dizer que nunca antes nesse país houve um partido tão corrupto quanto o PT. Os petistas institucionalizaram a corrupção e convidaram aliados políticos e a inciativa privada para abrir franquias de roubalheira.

A força e a impunidade do PT se deveram basicamente a três fatores: a ilusão gerada pela propaganda, através da qual Lula da Silva foi endeusado. A inexistência de oposições, tanto partidárias quanto institucionais. A falta de cultura cívica do povo sempre dependente do Estado paternalista e indiferente aos escândalos de corrupção dos poderosos.

Além da corrupção o governo petista expandiu os males do Estado Brasileiro: o patrimonialismo, o nepotismo, a burocratização e, sobretudo a incompetência. Tudo sob a imagem da perfeição, das maravilhas que o magnânimo pai Lula prodigalizava aos desvalidos salvando-os da miséria.

 Nos porões do poder, porém, muito mais lucravam os que Lula, para efeitos externos, chama de elites, várias das quais se associaram em contubérnios com a companheirada de modo nunca visto. E, assim, roubou-se em milhões, em bilhões, em avantajadas cifras no país do dá-se-um-jeito.

Primeiro, articulou-se o mensalão ou compra de congressistas como forma de sustentar o projeto de poder do PT. Inabalável, mesmo sob o efeito das condenações do STF onde se notabilizou o ministro Joaquim Barbosa que logrou enviar para as grades maiorais do PT como José Dirceu, José Genoíno, Delúbio Soares, João Paulo Cunha, além dos auxiliares dos criminosos, Lula logrou eleger uma mulher que não consegue sequer proferir um pensamento coerente.

Com ela deu-se o terceiro mandato de Lula da Silva. Foi o tempo do descalabro com todos os possíveis erros que se pode cometer em economia.  Mesmo assim, Rousseff, com pouca margem de votação se reelegeu montada nas mentiras e no terrorismo politico do marqueteiro João Santana, que atribuiu ao adversário o apocalipse brasileiro, que se vê agora é da autoria da criatura de Lula e dele próprio.

O presidente de fato seguiu inimputável, sempre a repetir que não viu nada, não sabia de nada, não ouvia nada, enquanto a inflação, o desemprego, a inadimplência vão infelicitando eleitores e não eleitores do PT.

O megaescândalo do petrolão estilhaçou a Petrobrás, orgulho nacional, tomada de assalto pelo aqui citado contubérnio. Mas, assim como o ex-ministro Joaquim Barbosa surgiu alguém que fez a diferença, o juiz Sérgio Moro, destacando-se também o trabalho da Polícia Federal e de procuradores na 0peração Lava Jato. Nesta ação inédita no Brasil estão indo para cadeia não só doleiros e auxiliares da rapina chamados de operadores, mas também presidentes das maiores empreiteiras, seus diretores e ocupantes de altos cargos na Petrobras.

Possivelmente, o povo tomaria conhecimento desses fatos com indiferença se não fosse o esboroar da economia, pois é certo que não há governo que resista quando a economia vai mal. Junte-se a isso a inconformidade popular que não aceita pagar pela incompetência governamental e temos o resultado da última pesquisa Datafolha, na qual Rousseff aparece como a pior presidente que o Brasil já teve, com 71% de reprovação e só 8% de aprovação.

É dito, falseando a questão, que um impeachment da inoperante presidente levaria ao caos institucional. Quando Collor, com grande participação do PT, sofreu o impeachment por muito menos do que hoje ocorre, as instituições ficaram intactas.

Falso também a presidente dizer-se intocável porque foi eleita pelo voto. Uma coisa é autoridade legal, outra é autoridade legítima. No momento ela não é mais legitimada pela população e o que se chama de crise política pode ser traduzida por crise de representatividade. Ela não representa mais o povo cansado de seu estelionato eleitoral e de sua incompetência.

O PT legou ao Brasil uma crise política de representatividade, uma crise econômica e uma crise de valores. A saída de Rousseff da presidência, dentro dos trâmites legais não é golpe. Golpe é sua permanência. Afinal, a emblemática segunda prisão de Jose Dirceu demonstrou que o PT nunca agiu em nome da causa, mas em causa própria. Não dá para suportar mais um governo assim. A causa caiu.

Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.