terça-feira, 9 de setembro de 2014

Projetos especiais dão fôlego ao mercado de imóveis de alto padrão

 9 DE SETEMBRO DE 2014


Oportunidades de nicho e renda real elevada dos compradores garantem lançamentos nobres mesmo em época de desaceleração
Cyrela by Pininfarina. Prédio com estilo de Ferrari (Imagem: Divulgação)
Cyrela by Pininfarina. Prédio com estilo de Ferrari (Imagem: Divulgação)
Seja pelas notícias macroeconômicas ruins, pelas incertezas políticas do País ou pelo calendário atípico de 2014, o mercado imobiliário se retraiu, levando, inclusive, empresários do setor a revisar as projeções de resultado para este ano – o Sindicato da Habitação (Secovi-SP) já admite redução de 25% nas vendas e de 20% nos lançamentos.
Este momento de desaquecimento não é homogêneo, no entanto. Nos empreendimentos de alto padrão, acima da faixa de preços beneficiada pelo Sistema Financeiro da Habitação (SFH), outros fatores movimentam fortemente o mercado. “Imóveis de padrão mais alto têm uma característica diferente daqueles populares, embora também sofram os efeitos da situação econômica”, afirma o presidente do Secovi-SP, Claudio Bernardes.
Ele acredita que as dinâmicas regionais de demanda e oferta de empreendimentos com esse perfil tenham mais influência para o desenvolvimento de novos produtos pelas incorporadoras. “Há crescimento no número de imóveis lançados quando se identifica uma oportunidade de nicho”, diz.
Dados apurados pela Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp) indicam que 774 unidades com quatro ou mais dormitórios foram lançados em São Paulo entre janeiro e julho – desde 1.999 o mercado não recebia menos de 1.000 imóveis nesse período. No entanto, a situação é outra para os imóveis de até um dormitório também voltados ao segmento de alto padrão: 2.655 bens foram lançados em 2014, número que nos últimos cinco anos é menor apenas que 2013 e 2011.
Douro. Vista para o Museu do Ipiranga (Imagem: Divulgação)
Douro. Vista para o Museu do Ipiranga (Imagem: Divulgação)
Consumidor. O diretor financeiro da incorporadora Alfa Realty, Nicolaos Theodorakis, diz que os potenciais compradores desses imóveis estão menos suscetíveis a algumas variações econômicas do que os consumidores médios. “A inflação corrói a renda real das pessoas, então aquelas com menor renda são mais afetadas”, explica.
Em parceria com a MDL Realty, a empresa desenvolve projetos focados no segmento premium, como Douro, na Vila Monumento, zona sul. O projeto arquitetônico do edifício prioriza grandes varandas para os apartamentos, com unidades tipo de 130 m² e coberturas com 233 m². Cada imóvel terá duas frentes, além de vista para o Museu do Ipiranga.
A Vila Monumento, segundo Theodorakis, é desejada pelos paulistanos da região, por isso permite o desenvolvimento de um produto com valor mais elevado – o metro quadrado médio das unidades é de R$ 9.300. A localização é, aliás, o ponto mais importante para os compradores, em busca de facilidades, na opinião de especialistas.
Segundo o diretor de incorporação da incorporadora Even, Marcelo Dzik, os compradores de unidades nobres exigem que os prédios fiquem em regiões verdadeiramente consolidadas, com boa oferta de serviços. A companhia, que atua pontualmente no segmento, tem dois projetos com unidades de grandes metragens – o Acervo Pinheiros e o Design Arte, este na região dos Jardins. “Quando falamos de projetos mais compactos, a proximidade com o metrô é mais um fator considerado.”
Design Arte. Arquitetura Contemporânea (Imagem: Divulgação)
Design Arte. Arquitetura Contemporânea (Imagem: Divulgação)
Dizik conta que a ideia de exclusividade é central para os produtos, especialmente para os maiores. No Design Arte, onde o metro quadrado médio está avaliado em R$ 18.385, há um apartamento por andar, e no Acervo Pinheiros, com metro quadrado médio vendido a R$ 16.336, os halls de entrada são privativos, ainda que existam dois apartamentos por andar.
Esse conceito se entende até a projetos compactos. O Forma Itaim, da Huma Desenvolvimento Imobiliário, tem três unidades por pavimento para dar mais conforto aos moradores. “O hall não tem aquele aspecto de corredor de hotel”, diz o fundador da empresa, Rafael Rossi.
O apelo estético, denotado pela assinatura de arquitetos renomados, e os acabamentos também diferenciam os edifícios nobres, na opinião dele. O espanhol Fermín Vázquez é o responsável pelo projeto, que chama a atenção, entre outros fatores, por placas cerâmicas colorindo a fachada.
Até o momento, 40% dos 123 apartamentos do prédio, com metragens partindo dos 45 m², foram comercializados, resultado considerado dentro do esperado pelo incorporador. “Alguns compram uma unidade na primeira visita ao estande. Outros visitam dez estandes e depois voltam.” A menor velocidade de venda é uma das marcas do segmento de alto padrão.
Forma Itaim. Colorido (Imagem:Divulgação)
Forma Itaim. Colorido (Imagem:Divulgação)
“Normalmente, esse é um investimento que chamamos de definitivo. Então, ele é pensado muito bem”, diz a diretora geral de atendimento da imobiliária Lopes, Mirella Parpinelle. A flexibilidade de plantas, as medidas de sustentabilidade e automação dos produtos são aspectos valorizados pelos consumidores, segundo ela.
Luxo. Alguns empreendimentos apelam para o luxo internacional para conquistar. A Cyrela apresentou recentemente um edifício na Vila Olímpia projetado pelo escritório italiano Pininfarina, conhecido por ser responsável pelo design de Ferraris. “É um produto único. Para quem compra um empreendimento como este, não existe mercado ruim”, diz Efraim Horn, Copresidente da Cyrela.
GUSTAVO COLTRI

ABREU E LIMA - MIRANDA SÁ


by Miranda Sá

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Um dos livros de história romanceada do Brasil que mais me comoveu foi “Dezessete” do jornalista, escritor e poeta paraibano Eudes Barros. Por ele passam a exploração colonial portuguesa e os heróis nordestinos lutando pela liberdade.
Descreve a Revolução de 1817 cujo motivo é semelhante à saga de Tiradentes nas Minas Gerais: A derrama, na região das minas; e os pesados impostos sobre a exportação do algodão produzido nos estados da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
Para encher os cofres da corte de João VI, transmigrada para o Brasil por causa das guerras napoleônicas, os ruralistas foram achacados, na melhor expressão do termo.
Assim, organizaram-se com os cidadãos de Olinda e Recife para uma reação independentista, que eclodiu em março de 1817. A Igreja teve uma grande importância no movimento, pregando as idéias iluministas de igualdade e liberdade nascidas da revolução francesa e conquistaram a Europa.
José Inácio Ribeiro de Abreu e Lima, que largou a batina para casar-se, continuou sendo chamado de Padre Roma, e foi um dos chefes da revolução de 1817. Esta, fracassada, levou-o à prisão e à morte. Deixou um filho, um jovem militar de nome Abreu e Lima que, perseguido pelo poder dominante, foi obrigado a abandonar o País.
Abreu e Lima alistou-se como capitão nas tropas de Bolívar, que lutava pela independência dos países andinos. Esteve nas vitórias que libertaram a Colômbia e a Venezuela, e nesses países é reconhecido como um herói.
Nos sombrios dias do narco-populismo que atravessamos, seu nome foi conspurcado numa repugnante parceria de Lula da Silva e o finado Hugo Chávez, que inventaram a instalação de uma refinaria em Pernambuco, com seu patronímico.
O projeto da Refinaria Abreu e Lima é um típico conto-do-vigário. Chávez prometeu investir nele não-sei-quantos bilhões de dólares, e Lula, através do BNDES outros tantos. O dinheiro da PDVESA – Petróleo de Venezuela S.A., nunca chegou ao Brasil e o BNDES esfarelou o investimento na peneira da corrupção que se instalou na Petrobras.
A Refinaria Abreu e Lima custará três vezes mais do que qualquer projeto semelhante em qualquer lugar do mundo, graças a roubalheira desenfreada dos pelegos que privatizaram a Petrobras para o lulo-petismo.
Muitas denúncias caíram no vazio até o último 7 de setembro, o Dia da Pátria, quando estourou como uma bomba o pedido de delação premiada do ex-diretor da estatal, Paulo Roberto da Costa. Os estilhaços causaram polvorosa nos círculos governamentais. E Costa tornou-se um arquivo vivo de um esquema de corrupção jamais visto no País.
Tudo começou na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que revolveu as relações do doleiro Yousseff, com hierarcas do PT e Paulo Roberto da Costa. Descobriu-se um oligopólio das maiores empreiteiras do País, comprovadamente corruptoras, pagando propinas milionárias ao PT, governadores e parlamentares seus aliados.
Envolvidas nas acusações estão às construtoras Camargo Corrêa, Odebrecht, OAS e Mendes Júnior antigas e generosas doadoras de campanhas eleitorais. E a Refinaria Abreu e Lima representou um ponto de convergência do escândalo, pois o delator era responsável por ela, indicado por Lula da Silva.
Como ex-diretor de Abastecimento e Refino da Petrobras, Costa foi responsável pela obra da refinaria pernambucana, campeã em esgotamento de verbas. Ele documentou e sabe de tudo que se passou ali, razão pela qual deixou Lula desesperado, viajando às pressas para participar em Brasília de uma “reunião de emergência” convocada pela presidente Dilma Rousseff. Coincidentemente, usou um jatinho da empreiteira Andrade Gutierrez.
Com as manhas da pelegagem, Lula propôs a adoção de uma linha ofensiva de discurso, e mesmo com Dilma constrangida, chamar urgentemente a amiga Graça Foster para propor-lhe o costumeiro “pedido para sair” da presidência da Petrobras. Ainda há muitas coisas por vir, sacudindo e desmistificando a já combalida Era Lula.
Desse turbilhão de criminalidade lulo-petista, resta aos patriotas brasileiros dignificarem Abreu e Lima, herói de três pátrias, varrendo para sempre, pelo voto, os que enlamearam seu nome.

Terrorismo em rede

http://vespeiro.com/2014/09/09/terrorismo-em-rede/

by fernaslm
a6 tumblr dutchman"Jihadista" holandês "posta-se" no Tumblr
Passei o fim-de-semana fuçando a internet para entender melhor esse fenômeno do Estado Islâmico, o grupo que nasceu dentro da Al Qaeda e acabou por devorá-la, e esse estranho fascínio que ele exerce sobre jovens do mundo inteiro que estão indo para a Síria para, ao lado dele, impor pelo terror um “Grande Califado Islâmico como o que havia no século 7”, com pretensões a substituir tudo que existe hoje em matéria de estados nacionais no Oriente Médio.
Não bastassem as degolas, cruxifixões e fuzilamentos em massa de que o Youtube está cheio, entendi que quando um grupo terrorista assusta o próprio mundo árabe é melhor a gente prestar atenção no que vem vindo por aí.
Neste artigo fico no exame da participação de ocidentais nessa orgia de violência.
Depois de ler uma boa dezena de reportagens e entrevistas em profundidade com jovens cooptados pelo EI – do meio brasileiro, meio belga Brian de Mulder, vulgo Abu Qassem Brazili, de mãe carioca, a casos envolvendo rapazes e moças portugueses, ingleses, franceses, belgas, suecos, norte-americanos, dinamarqueses (este o país que, proporcionalmente à sua população, mais mandou jovens para lutar na Síria) e até chineses – minha conclusão é de que a grande novidade nessa parte do fenômeno é apenas e tão somente o advento da rede mundial.
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Brian de Mulder e a mãe no Rio e feito Abu Qassam Brazili
O Estado islâmico é, também, como tudo o mais hoje em dia, um produto da internet. Psicopatas, nihilistas e desesperados sempre existiram em todas as sociedades, só que agora eles podem articular-se em redes do tamanho do mundo como todos os outros mortais, formar grupos de mutua realimentação de gostos e delírios, conversar uns com os outros e compartilhar “likes” e experiências, execuções sangrentas inclusive, literalmente ao vivo.
Graças à rede mundial e seus mecanismos de busca, também esse tipo de doente – e porque discriminá-los de todos os outros que podem satisfazer suas taras com o recurso a eles? – pode saber hoje, em detalhe e com instantaneidade, que o que de melhor o mercado global oferece para quem tem esse tipo de sede é a jihad islâmica com a liberdade ampla, geral e irrestrita para chafurdar no sangue que ela oferece a todos quantos queiram aderir à festa.
Como não ha, nas democracias ocidentais, leis que impeçam um cidadão de aderir ao que quer que seja e de dar os passos subsequentes para dar substância a essa relação, tudo que é necessário fazer é juntar dinheiro e comprar uma passagem para a Síria, via Turquia, para aproveitar essa oportunidade única.
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Essa foi a primeira vertente de “enganche” de “jihadistas” ocidentais, a maioria dos quais nada têm a ver com a cultura ou com a fé islâmicas, são majoritariamente pós-adolescentes recém “convertidos” que não requerem muita argumentação para embarcar nessa parada. Já estão predispostos a ela.
A última onda tem sido de mulheres. Na fé islâmica, como se sabe, elas não estão autorizadas a ter ideias ou iniciativas próprias, nem que for para morrer pelo Islã. Mas o problema foi resolvido com sites especialmente desenhados para arrumar “esposas” para os jihadistas ocidentais já residentes na Síria. Faz-se o casamento via internet e, então sim, elas também podem ir para a Siria, desde que devidamente vestidas com oniqab, aquela roupa preta que só deixa os olhos de fora.
Para essa “tranche” de europeus explorados pela geração de seus próprios pais, sem emprego nem perspectiva, a jihad parece ser um substituto da heroína, uma forma de suicídio lento que assola o Velho Continente ha décadas como um virus ebola renitente, ou do suicídio rápido que, cada vez mais, eles buscam por formas “criativas” que vão dos esportes ultra-radicais às aventuras temerárias que hoje estão na moda.
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A adesão à jihad pela implantação de um “califado” modelo século 7 aproxima-se dessa categoria. É uma espécie de videogame real com a vantagem adicional de oferecer-lhes, pronto para consumo imediato, aquilo que mais lhes falta: um sentido para a vida, ou melhor, para a morte.
O ódio é, em geral, filho da injustiça ou da impotência para mudar a própria condição, nem que seja pelo merecimento. Na Europa do welfare state, essa mesma impotência pode, porém, assumir a forma de um tédio profundo já que, dentro do atual quadro de estagnação, que é função da exploração de uma geração pela geração anterior que não abre mão de seus “direitos adquiridos”, mesmo numa relativa abundância, se não se vai chegar jamais ao ápice, nunca, também, cai-se no buraco absoluto que cria e alimenta ódios porque o Estado está lá para amparar os tropeçados.
É esse previsível e insuperável nada que mata. E é aí que a internet entra para oferecer aos solitários, aos sem esperança, nem fé, nem vontade; aos depressivos reduzidos à solidão gregária do computador, uma alternativa para a droga pesada ou para outras formas mais rápidas de suicídio.
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Esta é a geração que copia e cola a sua própria identidade via Google”, diz Muhammad Hee, um intermediador muçulmano contratado pela prefeitura de Copenhaguen para operar um programa anti-radicalizão em bairros de imigrantes. “E está ficando ‘cool’ ser visto como um ativista”.
Para os verdadeiros jihadistas árabes vem a calhar.
Segundo especialistas, o grupo Estado Islâmico pode ter entre 7 e 10 mil combatentes. E até o momento ha entre 1500 e 2000 europeus e ocidentais em geral que aderiram a eles.
Mustafa Haid, fundador e diretor da Dawlaty, uma ONG de ativismo contra a violência na Síria, afirma que não são os sírios que estão transformando esses jihadistas ocidentais em radicais. “Eles já eram assim. É o contrário, esses caras estão na Síria cometendo atrocidades contra sírios. Um sujeito que se dispõe a abandonar tudo e ir lutar em outro país já tinha atingido um ponto de ultra radicalismo. As missões suicidas são uma estratégia essencial para avanços rápidos do EI e esses ativistas estrangeiros são preciosos para eles porque são frequentemente mais ardentes que os combatentes locais em seu desejo de morrer pela causa. Os estrangeiros chegam aqui inspirados. São os que mais desejam morrer”.
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O diagnóstico combina com o que é feito por estudiosos dinamarqueses, um dos países mais ricos e organizados da Europa. Em novembro passado, o primeiro dinamarques, Victor Kristensen, loiro e de olhos azuis, detonou seu cinturão de explosivos numa missão suicida no Iraque. Desde então mais tres dinamarqueses, estes com raizes arabes e paquistanesas mas nascidos e criados na Dinamarca, morreram em missões suicidas.
Estou ansioso para me tornar um mártir também” confessava um quinto, com nome de guerra de Abu Tarek, baseado em Raqqa, na Síria, a uma jornalista de seu país. Tres dias antes dessa entrevista, a mesma jornalista tinha encontrado Mouin Abu Dahr, outro homem-bomba que tinha vivido na Suécia e na Dinamarca e que, aos 21 anos, se explodiu em frente à embaixada iraniana em Beirute matando 23 pessoas. “Era uma pessoa doce e gentil, muito querida em Aalborg, onde viveu. Ele tinha ficado noivo poucos meses antes de sua missão suicida”.
Ha pouca novidade em tudo isso, enfim, para além das facilidades que a rede mundial acrescenta para potencializar velhas doenças crônicas da nossa espécie.
O lado complicado dessa história está na convivência da democracia com essa nova realidade em que, de ilhas protegidas por fronteiras físicas elas se transformaram em pequenos segmentos de ordem numericamente quase insignificantes contíguos e permeáveis ao grande caos global.
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A preocupação dos países que estão exportando “jihadistas” é que alguns deles podem voltar a seus países de origem – e estão mais ou menos livres para fazer isso dentro de Estados de Direito – e trazer para dentro deles, enormemente multiplicada, essa sua ânsia de mergulhar no nada arrastando multidões atrás de si.
Ocupando porções crescentes de território sírio e iraquiano, os serviços de inteligência ocidentais têm informações de que o EI se apoderou de universidades e cientistas que desenvolveram esse tipo de artefato, e de que se apoderaram também de depósitos de armas químicas do ditador Bashar Al Assad.
Assim, embora o alvo desse grupo seja essencialmente os próprios muçulmanos de outras denominações que estão no caminho do seu projeto de poder – porque é sempre disso que se trata como se verá no próximo artigo – o crescente e inevitável envolvimento ocidental na guerra para prevenir a dissolução completa de qualquer resquício de ordem na sensibilíssima região do Oriente Médio pode acabar resultando em ataques terroristas com o potencial de fazer do 9/11 coisa pouca.
Se parar o bicho come; se correr o bicho pega.
Quem viver verá.
U.S. President Obama addresses during a press conference at Belveder Palace in Warsaw

Assédio sexual: o alto custo de ser mulher em um ônibus da América Latina


As autoridades ensaiam novas medidas para lidar com o assédio sexual no transporte público

      
Plataforma de uma estação de metrô em São Paulo. / MARIANA CERATTI (BANCO MUNDIAL)
Contatos físicos, olhares penetrantes, insinuações ou gestos ousados e a sensação de impotência diante dos perpetradores. Essas experiências são cotidianas para milhões de mulheres que utilizam o transporte público na América Latina, onde o problema do assédio sexual adquiriu proporções descomunais afetando, em alguns casos, mais da metade das usuárias de ônibus ou metrô.
“Eu estava no trem em Buenos Aires quando senti que alguém se aproveitava de mim – nos horários de pico há muito pouca distância entre uma pessoa e outra – afastei-me imediatamente. Não tive coragem de dizer a essa pessoa que estava passando dos limites. Fiquei envergonhada e desci do vagão”, Victoria, 30 anos, na capital argentina.

Os dados revelam que esses testemunhos não são casos isolados, mas uma realidade cotidiana: na Cidade do México, 65% das mulheres foram vítimas de alguma forma de violência de gênero no transporte público ou em estações, terminais e plataformas, segundo números oficiais.“Às vezes, no metrô, há olhares insistentes, é incômodo”, conta Beatriz Gómez, de 25 anos, na Cidade do México. María de los Ángeles, sua colega de trabalho, relata que “quando (o Metrobus) está muito lotado, acontece de carregarem uma mochila e passarem a mão em você”.
É uma realidade que se repete de forma quase idêntica em outros países da região. Uma pesquisa feita pela ONG Action Aid em quatro estados do Brasil revelou que 44% das mulheres já sofreram assédio sexual no transporte público.
Nos oito primeiros meses de 2014, foram detidas 129 pessoas por esse tipo de comportamento nos sistemas de transporte coletivo em Bogotá, Colômbia, de acordo com dados da polícia local.
“No entanto, sabe-se que apenas uma fração dessas ocorrências é registrada, o que nos faz pensar que a porcentagem real pode ser muito maior”, diz Shomik Mehndiratta, especialista em transportes do Banco Mundial, referindo-se aos dados fornecidos pelas autoridades mexicanas.

“Só para mulheres”

Para lidar com os episódios de assédio e até estupro no metrô da Cidade do México, há anos estabeleceu-se que os primeiros vagões são exclusivos para mulheres nos horários de pico. Barreiras na plataforma delimitam o espaço com anúncios que dizem: “Exclusivo para mulheres e crianças”.
No Metrobus, o sistema de ônibus da capital mexicana, também se determinou que as mulheres entrem pelas portas dianteiras dos veículos, e esperem em áreas exclusivas nas paradas. A rede de transporte público da cidade também tem um serviço de ônibus rosa, em que os homens não podem viajar.
Os especialistas acreditam, no entanto, que essa segregação no transporte público não é sustentável, e insistem que é preciso trabalhar para mudar os hábitos no longo prazo. Além disso, nos microônibus da Cidade do México, esse controle é inexistente.
Outros países, confrontados com o mesmo problema, também estão tomando medidas. No Brasil, a Câmara dos Deputados está analisando um projeto de lei que criminaliza o assédio sexual no transporte público. A proposta prevê multas e até prisão.
Em Bogotá, policiais femininas à paisana patrulham os ônibus do Transmilenio para poder alertar as autoridades sobre qualquer ato de assédio sexual e, se possível, apreender os infratores no próprio veículo.

Campanhas e aplicativos contra o assédio

O Banco Mundial, em parceria com instituições locais, está trabalhando em um programa piloto para encontrar formas eficazes de combater o problema do assédio sexual nos veículos e estações de transporte público na América Latina.
A pesquisa preliminar encontrou quatro denominadores comuns em entrevistas com os usuários e responsáveis pelo transporte público.
- Denunciar não é fácil: existe um sentimento generalizado de que não vale muito a pena registrar ocorrências, porque é complicado e quase nunca dá resultados.
Não há solidariedade entre desconhecidos: se houvesse um maior senso de comunidade, as pessoas se atreveriam a falar quando ocorre um incidente e dariam mais apoio às vítimas.
Segregar não é uma solução suficiente: muitos usuários consideram essa medida “um remendo” que não enfrenta o comportamento impróprio, e alguns consideram ser outra maneira de vitimizar as mulheres, já que sugere que elas “escolhem” sujeitar-se a abusos se não viajam nos espaços reservados a elas.
Melhor infraestrutura = mais segurança: os participantes se sentem mais seguros quando as estações e plataformas estão em boas condições.
A partir desses resultados, os especialistas recomendam várias medidas para enfrentar o problema.
Entre elas, uma campanha de sensibilização que incentive os usuários a se unir contra os agressores, e novos serviços para proporcionar mais segurança ao usuário (por exemplo, ônibus noturnos que vão até as casas dos usuários, como em São Francisco. As recomendações incluem também o desenvolvimento de aplicativos móveis para denunciar o assédio, procurar ajuda ou informação.
“Esses aplicativos devem poder ser usados em um telefone comum, para chegar a mais pessoas”, diz Mehndiratta, enquanto cita como exemplo o Harassmap do Cairo, que cria um mapa interativo dos locais onde ocorrem os incidentes de assédio.

POEMA DA NOITE Passam carros entoando mantras, por Sérgio Cohn


passam carros entoando mantras
intermináveis cânticos da destruição
eu ando lento
atravessando o ar
dançando em pés emprestados
sempre sorrindo quando sob o seu olhar
você
a garota que me disse um dia
nesta mesma rua
num mundo então diferente
"a vida é apenas um crime sagrado
que vem para nada"
e partiu
para ser feliz
eu entro e tranco meu quarto
a noite estala
carros cricrilam lá fora
e nada mais realmente importa

Sérgio Cohn (São Paulo, 16 de abril de 1974) - Além de poeta é editor da Azougue Editorial. Publicou: Lábio dos Afogados (São Paulo: Nankin Editorial, 1999); Horizonte de Eventos (Rio de Janeiro, Azougue Editorial, 2002); O Sonhador Insone (Rio de Janeiro, Azougue Editorial, 2006). Como editor, organizou livros de Celso Luiz Paulini, Jorge Mautner, Vinicius de Moraes, entre outros. Além de ter realizado livros como 'Nuvem Cigana - Poesia e Delírio no Rio na Década de 1970' e Poesia.Br - Poesia Brasileira das Origens ao Século XXI.