9 DE SETEMBRO DE 2014
Oportunidades de nicho e renda real elevada dos compradores garantem lançamentos nobres mesmo em época de desaceleração
Seja pelas notícias macroeconômicas ruins, pelas incertezas políticas do País ou pelo calendário atípico de 2014, o mercado imobiliário se retraiu, levando, inclusive, empresários do setor a revisar as projeções de resultado para este ano – o Sindicato da Habitação (Secovi-SP) já admite redução de 25% nas vendas e de 20% nos lançamentos.
Este momento de desaquecimento não é homogêneo, no entanto. Nos empreendimentos de alto padrão, acima da faixa de preços beneficiada pelo Sistema Financeiro da Habitação (SFH), outros fatores movimentam fortemente o mercado. “Imóveis de padrão mais alto têm uma característica diferente daqueles populares, embora também sofram os efeitos da situação econômica”, afirma o presidente do Secovi-SP, Claudio Bernardes.
Ele acredita que as dinâmicas regionais de demanda e oferta de empreendimentos com esse perfil tenham mais influência para o desenvolvimento de novos produtos pelas incorporadoras. “Há crescimento no número de imóveis lançados quando se identifica uma oportunidade de nicho”, diz.
Dados apurados pela Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp) indicam que 774 unidades com quatro ou mais dormitórios foram lançados em São Paulo entre janeiro e julho – desde 1.999 o mercado não recebia menos de 1.000 imóveis nesse período. No entanto, a situação é outra para os imóveis de até um dormitório também voltados ao segmento de alto padrão: 2.655 bens foram lançados em 2014, número que nos últimos cinco anos é menor apenas que 2013 e 2011.
Consumidor. O diretor financeiro da incorporadora Alfa Realty, Nicolaos Theodorakis, diz que os potenciais compradores desses imóveis estão menos suscetíveis a algumas variações econômicas do que os consumidores médios. “A inflação corrói a renda real das pessoas, então aquelas com menor renda são mais afetadas”, explica.
Em parceria com a MDL Realty, a empresa desenvolve projetos focados no segmento premium, como Douro, na Vila Monumento, zona sul. O projeto arquitetônico do edifício prioriza grandes varandas para os apartamentos, com unidades tipo de 130 m² e coberturas com 233 m². Cada imóvel terá duas frentes, além de vista para o Museu do Ipiranga.
A Vila Monumento, segundo Theodorakis, é desejada pelos paulistanos da região, por isso permite o desenvolvimento de um produto com valor mais elevado – o metro quadrado médio das unidades é de R$ 9.300. A localização é, aliás, o ponto mais importante para os compradores, em busca de facilidades, na opinião de especialistas.
Segundo o diretor de incorporação da incorporadora Even, Marcelo Dzik, os compradores de unidades nobres exigem que os prédios fiquem em regiões verdadeiramente consolidadas, com boa oferta de serviços. A companhia, que atua pontualmente no segmento, tem dois projetos com unidades de grandes metragens – o Acervo Pinheiros e o Design Arte, este na região dos Jardins. “Quando falamos de projetos mais compactos, a proximidade com o metrô é mais um fator considerado.”
Dizik conta que a ideia de exclusividade é central para os produtos, especialmente para os maiores. No Design Arte, onde o metro quadrado médio está avaliado em R$ 18.385, há um apartamento por andar, e no Acervo Pinheiros, com metro quadrado médio vendido a R$ 16.336, os halls de entrada são privativos, ainda que existam dois apartamentos por andar.
Esse conceito se entende até a projetos compactos. O Forma Itaim, da Huma Desenvolvimento Imobiliário, tem três unidades por pavimento para dar mais conforto aos moradores. “O hall não tem aquele aspecto de corredor de hotel”, diz o fundador da empresa, Rafael Rossi.
O apelo estético, denotado pela assinatura de arquitetos renomados, e os acabamentos também diferenciam os edifícios nobres, na opinião dele. O espanhol Fermín Vázquez é o responsável pelo projeto, que chama a atenção, entre outros fatores, por placas cerâmicas colorindo a fachada.
O apelo estético, denotado pela assinatura de arquitetos renomados, e os acabamentos também diferenciam os edifícios nobres, na opinião dele. O espanhol Fermín Vázquez é o responsável pelo projeto, que chama a atenção, entre outros fatores, por placas cerâmicas colorindo a fachada.
Até o momento, 40% dos 123 apartamentos do prédio, com metragens partindo dos 45 m², foram comercializados, resultado considerado dentro do esperado pelo incorporador. “Alguns compram uma unidade na primeira visita ao estande. Outros visitam dez estandes e depois voltam.” A menor velocidade de venda é uma das marcas do segmento de alto padrão.
“Normalmente, esse é um investimento que chamamos de definitivo. Então, ele é pensado muito bem”, diz a diretora geral de atendimento da imobiliária Lopes, Mirella Parpinelle. A flexibilidade de plantas, as medidas de sustentabilidade e automação dos produtos são aspectos valorizados pelos consumidores, segundo ela.
Luxo. Alguns empreendimentos apelam para o luxo internacional para conquistar. A Cyrela apresentou recentemente um edifício na Vila Olímpia projetado pelo escritório italiano Pininfarina, conhecido por ser responsável pelo design de Ferraris. “É um produto único. Para quem compra um empreendimento como este, não existe mercado ruim”, diz Efraim Horn, Copresidente da Cyrela.
GUSTAVO COLTRI
Fonte: Radar Imobiliário