quarta-feira, 7 de outubro de 2015

OS ANOS DE CHUMBO


Da Redação

Este artigo não é novo.  Foi sugerido por nosso leitor Daniel Albuquerque. É de primeiríssima linha. Tenho uma filha historiadora, que sofre do mal relatado por Portinari neste artigo. Infelizmente, as faculdades de Ciências Humanas estão abarrotadas por fanáticos que não buscam ou ensinam verdades, mas tão somente as “verdades” das propagandas da esquerda. É uma pena.


OS ANOS DE CHUMBO

AC Portinari Greggio

Caros amigos: Escrevi esse texto em 2001, quando minha filha cursava o colegial no Mackenzie, em São Paulo. Ela e um grupo de colegas foram encarregadas de redigir um trabalho sobre os tenebrosos Anos de Chumbo. Haviam aprendido algo sobre o assunto nas aulas e nos livros didáticos. Mas, como acontece com muitos estudantes brasileiros, começavam a desconfiar dos livros e dos professores. Por isso, tiveram a idéia de consultar-­me, pelo pior dos motivos ­ o fato de eu ser muito mais velho, quase um Matusalém, na sua perspectiva de adolescentes. A conversa que tive com as meninas deu origem ao que vai aí abaixo. Não sei se já lhes mandei esse material. Caso positivo, nem percam tempo. Mas, se nunca o receberam, e tiverem disposição para perder dois minutos, aí está.

Os Anos de Chumbo… neles.  A história dos horrores do regime militar faz lembrar a velhíssima piada carioca, do sujeito que passeava em Copacabana, quando chegou outro, afobadíssimo: – “Zé! Volta pra Niterói que a tua casa tá pegando fogo! Tua mulher, teus filhos! Corre, Zé!” Apavorado, o homem voa para o cais (naquele tempo não existia a ponte), empurra, abre caminho, passa à frente, entra na barca e aguarda aflito a travessia. Chegando a Niterói, pegou um táxi. Subitamente, caiu em si: – “Espera aí. Eu não me chamo Zé, não moro em Niterói, vivo em apartamento e não sou casado. Que é que eu estou fazendo aqui?”

Minha filha de 17 anos e suas amigas conversavam sobre o período dos “anos de chumbo”. Perguntaram-­me como era a vida naquela época de medo e opressão. Sugeri que procurassem conhecidos, parentes e amigos de mais de quarenta anos de idade – os que tinham vivido na ditadura – e indagassem: Que restrição sofreu você pessoal e diretamente, durante o regime militar? Quantas vezes os militares o proibiram de falar, de escrever, de pensar o que bem quisesse? Em quantas ocasiões concretas você foi impedido de exercer sua profissão, de escolher seu local de residência, de estudar, de viajar para onde bem entendesse? “Perguntem à vontade. Duvido que encontrem uma só pessoa comum – dentista, contador, marceneiro, operário, marujo, corretor, engenheiro, dona de casa, comerciante, zelador, agricultor, despachante, motorista – que lhes diga: Fui perseguido. Não pude exercer meu ofício. Confiscaram meus bens. Impediram-me de falar. Não me deixaram viajar. Proibiram-­me de estudar. Não me deixaram sair à noite, namorar, dançar. Não permitiram que praticasse minha religião. Perguntem a milhares, centenas de milhares, milhões de pessoas: ninguém se lembrará de nenhum caso concreto, direto, pessoal, de repressão.” “Mas se procurarem entre artistas, intelectuais, políticos, jornalistas e outros dessas categorias, certamente encontrarão alguns que realmente foram, dum jeito ou de outro, cerceados nas suas atividades, quando essas eram de contestação violenta ao regime.” “Se fizerem pesquisa exaustiva, concluirão que quase todos os reprimidos pelo regime militar se concentram nessas poucas profissões e mesmo dentro delas não passam de ínfima minoria.” “Logo, os tais anos de chumbo só existiram para um minúsculo grupo de indivíduos que de modo nenhum podem ser considerados sequer como amostra do povo brasileiro”.

“Vejam o que aconteceu com essa minoria quando os anos de chumbo acabaram: estão todos no poder. São os que mandam no Brasil de hoje. Não por acaso: mandam porque era isso mesmo que queriam desde o começo. Sempre quiseram mandar, sempre lutaram para chegar ao poder.” “Hoje essa minoria, tendo aprendido algumas lições, conformasse em disputar eleições e respeitar, com má vontade, uma constituição feita por eles mesmos, mal escondendo sua intenção de rasgá-­la na primeira oportunidade. Mas na época dos anos de chumbo o seu negócio era outro. Instruídos, financiados e armados por governos estrangeiros, queriam tomar o poder pela violência para estabelecer no Brasil um regime semelhante ao de Cuba ou da China.” “A repressão exercida pelos governos militares, portanto, não era contra a cultura, a liberdade de expressão, o progresso, a vocação do povo brasileiro, nada disso. A repressão limitava-­se estritamente a impedir que essa minoria criminosa tomasse o poder.”

“Outra de suas mentiras é dizer que lutavam contra a ditadura. Na verdade, eles lutavam contra a democracia. É preciso colocar as coisas na devida ordem. Antes deles, o Brasil era uma democracia. Eles a atacaram e tentaram destruí-­la. O governo foi obrigado a suspender liberdades e garantias constitucionais que eles usavam como escudo para cometer seus crimes. Foi isso – a reação do governo contra os seus ataques – que eles têm chamado de ditadura. Pois essa ditadura jamais teria existido se eles não tivessem, primeiro, atacado a democracia.” “Que teria acontecido se os militares não tivessem reagido?

A História responde com o exemplo de todos os países onde o comunismo se estabeleceu, sem exceção. Se tivessem vencido, os terroristas assumiriam o poder e, após efetuar os confiscos, prisões, deportações e massacres revolucionários, malograriam na tentativa de realizar suas utopias levariam o País ao caos e à miséria arruinariam o futuro da população. Tendo liquidado a oposição, monopolizado todos os meios de expressão, sufocado a liberdade e exterminado ou exilado os que tentassem resistir à sua tirania, já não haveria quem pudesse disputar­lhes o poder. Acabadas as ilusões e as promessas revolucionárias, restaria a ditadura totalitária e esta rapidamente se corromperia em grau nunca imaginado na história do País.”

“Se os terroristas tivessem vencido a guerra, vocês, meninas, estariam vivendo num Brasil bem diferente, onde a imensa maioria – as dezenas de milhões de pessoas que nunca foram incomodadas pelo regime militar – vegetaria na miséria, em constante terror, proibidas de falar, de viajar, de escrever, de pensar, de escolher seu local de residência. Vocês mesmas viveriam assim. E jamais poderiam sair por aí fazendo perguntas, porque todos teriam medo de falar, e vocês e suas famílias seriam presas, torturadas, violentadas e encarceradas por essa curiosidade. Nem sequer a sua alegre amizade poderia existir: infiltradas no seu grupo haveria sempre algumas que ali estariam para espionar e delatar as demais. Por isso viveriam amedrontadas, desconfiadas umas das outras, a mentir e a fingir, privadas dos mais belos sentimentos da juventude.” “Foi isso que os militares impediram.

É certo que, para enfrentar o inimigo, tiveram de estabelecer um regime autoritário. É certo que houve erros, injustiças e arbitrariedades. Mas tudo o que aconteceu de ruim foram casos isolados, contados nos dedos. Se o outro lado tivesse vencido, a arbitrariedade e a injustiça seriam a regra, não a exceção e seria impossível enumerar casos, porque os números seriam milhões, como são milhões as vítimas de todos os regimes comunistas que já existiram no mundo.” “Mas a propaganda faz milagres. Como os derrotados de ontem controlam hoje os meios de expressão – afinal, todos são da mídia, da igreja, da universidade, das editoras, do cinema, do teatro, da publicidade, das ongues e dos partidos políticos – e só sabem falar de si mesmos, pois os demais, para eles, não existem, chegamos a um ponto em que todos os brasileiros, tal como o Zé da piada, acham que se lembram dos anos de chumbo, época em que “nós” éramos reprimidos pelos militares.

“Nós”, quem? Não éramos nós. Eram eles. Sim, eles, porque hoje são eles que deitam e rolam no poder. Nós continuamos aqui mesmo, onde sempre estivemos.” “Por isso, antes de rir do Zé da piada, convém pensar que nós também nunca moramos em Niterói, e no entanto ficamos aqui estupidamente a lastimar os tais anos de chumbo que jamais existiram nas nossas vidas.”


FONTE - https://prosaepolitica.wordpress.com/2015/10/07/os-anos-de-chumbo/