terça-feira, 28 de março de 2017

Voto em lista anistia a corrupção



Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Hélio Duque

O golpe do voto em lista tem nos pigmeus morais da baixa política os seus principais defensores. Os seus autores deveriam meditar sobre a fábula do escritor francês Jean de La Fontaine, sobre os morcegos voadores: “Vejam as minhas asas. Eu sou um pássaro. Mas também sou um camundongo, vivam os ratos.” Valores, convicções e princípios estão sendo substituídos por caixa 2, Fundo Partidário e financiamento público de campanha. Pela inexistência de partidos políticos doutrinários e decentes, o poder econômico capturou a representação política brasileira. Em 2014, dados da Justiça Eleitoral registram que 370 deputados federais foram eleitos com doações milionárias de grandes grupos econômicos. Lista fechada para a eleição de parlamentares será a perpetuação dos caciques e donos de legendas partidárias. Se aprovada, conferirá legalidade à fraude e a um atentado político, digno do Estado islâmico, contra a sociedade.
                  
A política aristotélica de servir ao bem comum foi banida, no Brasil, das disputas eleitorais. Serve hoje a interesses pessoais e grupais, onde o bem comum não tem nenhum valor. Passou a ser negócio e transformou-se em atividade econômica garantidora de rápida ascensão social. O voto transformou-se em mercadoria, ofertada no mercado pela manipulação marqueteira e sustentada por muito dinheiro. Realidade que pode se tornar ainda pior com o voto em lista, onde a ditadura dos donos de partido será absoluta. E a indecorosa política uterina tornando-se vitoriosa.
                  
Ao invés de reforma política verdadeira, os autores da manobra imoral querem desconstitucionalizar o sistema eleitoral, aprovando lista fechada para as eleições de 2018 e garantindo o financiamento público de campanha. Pretendem retirar da Constituição os dispositivos que regulam o atual e péssimo sistema eleitoral. Na verdade querem é fugir do encurralamento em que a elite política parlamentar foi colocada pelas investigações e apurações documentais obtidas pela Operação Lava Jato. Igualmente por outras investigações desencadeadas pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal. Observem que os autores da manobra estão citados nas delações da Odebrecht e fazem parte da lista do Procurador Rodrigo Janot e denunciados no Supremo Tribunal Federal.
                  
A pretensão é consolidar a República Oligárquica por essa vanguarda do atraso, ao garantir a perpetuação dos seus mandatos. Com a lista fechada os interesses pessoais e grupais garantirão que, na elaboração dos nomes dos candidatos, os detentores de mandato ficariam nos primeiros lugares. Ante o fato de o voto ser dado ao partido e não ao candidato, a reeleição estaria assegurada. As oligarquias que controlam os partidos passariam a ter um poder de decisão quase totalitário. A corrupção estaria sendo anistiada e a lavagem de dinheiro impunida.
                  
E mais: o financiamento público das campanhas políticas estaria assegurado, substituindo a fartura das doações empresariais que levou vários políticos ao envolvimento nas falcatruas do Caixa 2 e recebimento de “propinas”. Com o voto em lista os envolvidos nesse oceano de corrupção teriam as suas reeleições garantidas, apagando o passado delituoso. Acrescente-se que, paralelamente, o dinheiro público continuaria fluindo para essa outra imoralidade aberrante chamada de Fundo Partidário, um verdadeiro assalto ao contribuinte brasileiro. Demonstrado pela Justiça Eleitoral ao constatar que, entre 2011 e 2016, os partidos movimentaram R$ 3,5 bilhões. Resta indagar: por que o contribuinte tem de repassar recursos para essas entidades privadas?
                  
É lorota de péssimo nível e conchavo escapista dizer que os poderes Executivo, Legislativo e o Tribunal Superior Eleitoral estão interessados na reforma política. Querem aprovar um “penduricalho” espúrio que garanta à reeleição de políticos desonestos, garantindo o “foro privilegiado”.
                  
O que os “morcegos voadores” parlamentares desejam é construir bases oligárquicas que impeça os brasileiros de se encontrarem com a soberania popular. Estaria assegurada a perpetuação de mandatos, garantindo a “prescrição jurídica” das punições aos delinquentes políticos no futuro.


Hélio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Foi Deputado Federal (1978-1991). É autor de vários livros sobre a economia brasileira.

Brasil e o lobo - por Fernão



Artigo para O Estado de S. Paulo 
Nem a imprensa, nem a polícia sozinhos. O problema é quando as duas deixam de lado a função de controlar uma à outra para cair numa espiral de mutua manipulação que anaboliza perigosamente a força de ambas e só pode resultar em catástrofes como a da “Carne Fraca”.
Aquilo foi um filme acelerado dos últimos três anos. Querer proibir que se tire do episódio as conclusões que ele aponta é desperdiçar mais uma oportunidade – talvez a última – de sairmos da rota de desastre. Um caso de fraude a contrato com a merenda escolar, outro de suspeita de utilização de carne além do prazo de validade na fabricação de embutidos e mais dois ou três indícios de pecadilhos menores envolvendo dosagens de conservantes e de componentes empregados em receitas de carnes industrialmente processadas. Nem a Policia Federal nem a imprensa sozinhas conseguiriam, com material tão fraco, destruir o último polo de excelência que sobrevivia no país e por seis milhões de famílias na rua da amargura. Mas juntas...

Tem sido um processo. A imprensa foi sinalizando “ao mercado” que o simples carimbo do “teve acesso a” passava a ser suficiente para legitimar a publicação sem nenhuma apuração independente de material vazado por partes interessadas. Com o tempo passou-se a disputar esses falsos “furos jornalísticos” com a superexposição do material obtido. Policiais e promotores obscuros passaram a ter, de repente, a exposição que não se dá nem a presidentes nos momentos de crise nacional.
O resultado é um clássico da literatura universal. Pode-se conjecturar quanto de amor à justiça, de vaidade, de simples leviandade ou de intenções criminosas tem havido por trás de cada um desses episódios. Mas negar que as coisas evoluíram para um esquema fácil demais de delação + grampo telefônico + exposição de pedaços de verdade, resultando em generalizações temerárias, injustiças, insegurança jurídica, paralisia econômica e destruição maciça de riqueza; negar que essa arma está ao alcance de todo e qualquer bandido da politica e tem sido usada para por a verdade a serviço da mentira e a justiça a serviço do crime é pelo menos tão desonesto quanto afirmar que é sempre só a isso que se resume a Lava Jato.

Ha duas disputas sobrepostas nesta encruzilhada da vida nacional. Aquela com que mais se procura entreter o público é a da corrida pela herança formal da terra arrasada em que o país se vai transformando e anima a novela da corte que hipnotiza a imprensa. Essa disputa, até segunda ordem, ainda se resolve no voto que, não por acaso, é a bola da vez. A outra, mais subterrânea e essencial, regida pela aritmética, é a que, mais cedo ou mais tarde, terá necessariamente de desaguar numa profunda revisão da repartição do PIB entre a casta que se apropriou do estado e detém os privilégios ilegítimos que se especializou em contrabandear para dentro da ordem legal e a multidão dos trabalhadores da economia privada sucessivamente saqueada para sustenta-los.
Essa disputa obedece a alinhamentos que transcendem os que regem o discurso das confrarias envolvidas na primeira e faz com que, nos bastidores, manobrem e votem na mais perfeita ordem unida do mais reacionário “pastor” à mais carbonária das “passionarias” do Congresso, sempre a favor do privilégio (dos 86% de funcionários excluídos da reforma da previdência, por exemplo) e contra o povo miserável que pagará mais impostos por isso.
Encurralada pelo esgotamento do organismo hospedeiro que colonizou, a “privilegiatura” brasileira, assim como todas que a precederam na História, vai se arrastar até onde lhe permitirmos que se arraste. Mas a extensão dessa sobrevida, indefensável por qualquer tipo de argumento racional, dependerá essencialmente de manter o eleitorado confundindo essas duas lutas uma com a outra.

A polarização do debate nacional pelo “patrulhamento ideológico” e o medo dos “linchamentos morais” promovidos a pretexto de “defesa da operação Lava Jato” é hoje o principal artifício a que se tem recorrido para estabelecer e manter essa confusão.
Mas fatos são fatos. É em sintonia perfeitamente fina com a alternância das figuras de turno no poder, a evolução do calendário eleitoral e, mais especialmente, o cronograma das reformas que se vão sucedendo os personagens visados nas delações. Marcelo Odebrecht exerce hoje um poder maior que o que jamais sonhou, na sua megalomania, poder comprar com dinheiro. Qualquer nome que meramente pronuncie está condenado a arder eternamente no mármore do inferno. O movimento redentor que começou com o rigor de investigação e as sentenças precisas e individualizadas do “Mensalão” e mobilizou o país inteiro a ter esperança iguala hoje, sob a indiferença geral, todos os políticos ao Lula da hipercorrupção pelo poder ou aos cunhas e cabrais da hipercorrupção pelo dinheiro, todos os empresários que doaram para campanhas ao nosso multinacional Midas pelo avesso e, por ultimo e não por menos, toda a indústria brasileira de proteína animal a uns tantos picaretas e fiscais corruptos pendurados nela.

É o “meio” que tem feito a “condenação” onde quer que se o aplique.
Capturar e punir ladrões é essencial. Mas as culpas são de quem as têm. Todas as democracias do mundo convivem com o financiamento privado de campanhas porque a alternativa é óbvia e ululantemente muito pior. O STF lavrou sentença provando que é fácil diferenciar os raupps do trigo e até Dallagnol já discursou que não importa o "numero" do caixa, todos podem incluir ou não corrupção que é sempre fácil de identificar e punir. Mas a conclusão dessas premissas ninguém afirma em voz alta porque defender financiamento privado e individualização de julgamentos seria “renegar a Lava Jato”.
E tome lista fechada!
O mundo se assustou com o show diário a que nos acostumamos mas em poucos dias já dava pra ver até da China que não é o caso de pegar a arma e sair atirando cada vez que se grita “Lobo!” por aqui.
Não seria hora da gente aprender também?
FONTE - https://vespeiro.com/2017/03/28/brasil-e-o-lobo/

Viver no Brasil - por Armando Soares


            Hoje já se pode afirmar que quem vive no Brasil é um herói, um idiota ou um herói idiota.
            A revista em quadrinhos editada no passado chamava para esse tipo de vida brasileira, vida apertada. Vive-se ou se se consegue viver ou sobreviver no Brasil nessa vida apertada uma grande maioria do povo, não porque queira, mas por não ter outra opção; aqueles que têm outra opção não usam por idiotice ou por mero prazer de sofrer, puro sadismo.

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            O triste dessas verdades é que fomos nós mesmos, os brasileiros, os principais responsáveis por esse tipo de vida apertada, perigosa e doentia. Perigosa porque não se sabe se ao sair de casa para trabalhar, para fazer compras ou se divertir perde-se a vida para qualquer criminosos entre os milhares que habitam as ruas sob a vista de uma polícia mal equipada, e por isso impotente para proteger; sob a vista de uma justiça ineficiente, e de governos que não governam, e de uma mídia que tudo assiste e faz de contas que nada vê, ocupada em dar continuidade ao seu principal e único objetivo egoísta de lucrar com a decrepitude de uma Nação que perdeu o rumo, a moral e a razão de ser e estar.

            Nesse Brasil que nós brasileiros permitimos a sua destruição elegendo políticos e governantes incompetentes e desonestos desde longa data, a pobreza jorra de forma hereditária, natural e geometricamente, nasce de uma raiz econômica e política doente, o que impossibilita que o pobre se liberte da pobreza, e, quando tem a sorte de se libertar para se transformar num  assalariado, num micro empresário, num pequeno empresário, num médio ou grande empresário, logo se vê acorrentado por um Estado devorador de seus salários e ganhos através impostos e taxas absurdas de toda a natureza. Nesse cenário absurdo e estúpido quem mais sofre são os pobres. Mas, como assim, se eles vivem em precárias condições e com dinheiro apenas para sua sobrevivência? Acontece que os alimentos e produtos que compram para suas necessidades todos eles têm seus preços recheados de impostos, o que significa dizer que são os pobres que pagam proporcionalmente os maiores impostos. Essa verdade mostra o quanto os políticos que se alimentam da ignorância dos pobres são bandidos e desonestos. A monstruosidade do Estado não para aí. O Estado devora 4 meses, no mínimo, do salário dos trabalhadores e da classe média, e muito mais se considerarmos os impostos que paga na compra de produtos e alimentos para sua necessidade. O massacre do Estado continua em grande escala sobre os micros, pequenas, médias e grandes empresas. O ataque começa a mostrar suas garras no abrir e fechar um negócio ou uma empresa. Para abrir exigisse um montão de documentos e pagamentos de emolumentos, e para fechar, nunca se consegue, pois, o Estado nunca concede a liberdade do seu escravo. A carga tributária sobre os negócios chega a 70%, ferocidade a que se soma a política trabalhista que tem como finalidade principal a paralização dos negócios privados e a apropriação do patrimônio da empresa e de seus titulares que é distribuído entre advogados e trabalhadores bandidos.

            Quem se achar prejudicado ou roubado nesse cenário brasileiro infernal e procura a justiça vai se defrontar com uma estrutura viciada corporativa inoperante que destrói a vida das pessoas lentamente, dia-a-dia, mês-a-mês, ano-a-ano até sua morte, antes primeiro, causa o empobrecimento do reclamante. A justiça brasileira existe apenas no papel. Para o brasileiro ela representa apenas mais um custo oneroso que sustenta milhares de juízes, funcionários públicos, advogados, rendimentos garantidos pelo trabalho dos pobres, dos assalariados e das empresas; uma estrutura ineficiente enorme criada para explorar quem trabalha e produz. No meio dessas sanguessugas, estão os professores de ensino público, a burocracia, os servidores que são utilizados pelos sindicatos vampíricos mercantilistas para sugar ainda mais os brasileiros que trabalham e geram renda e impostos.

            Para viver no Brasil é preciso estar consciente que o país é uma espécie de fortaleza construída e dominada por classes privilegiadas, por políticos podres, por sindicatos chantagistas, por uma burocracia cara e ineficiente, pelo tráfico de drogas, por instituições carcomidas pelo comunismo e por vadios que se mantém à custa do Estado. O Brasil se transformou num país de ladrões. Roubasse no varejo e no atacado.

            A sociedade é uma herança compartilhada em nome da qual aprendemos a circunscrever as nossas demandas, a ver nosso lugar nas coisas como parte de uma corrente contínua de doações e recebimentos, a reconhecer que as coisas extraordinárias que herdamos não são nossas para destruirmos. Há uma genealogia de deveres que nos vincula àqueles que nos deram o que temos; e nossa preocupação com o futuro é uma extensão dessa linhagem. Levamos em conta o futuro da comunidade não em virtude de cálculos fictícios de custo-benefício, mas, de maneira mais concreta, por nos vermos como herdeiros dos benefícios que retransmitiremos. Precisamos pôr para correr        urgentemente quem está destruindo essa herança.

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Edmund Burke

             A sociedade, para Burke, depende das relações de afeto e lealdade que só podem ser construídas de baixo para cima, por uma interação face a face. É assim na família, nos clubes locais e nas associações, na escola, nos locais de trabalho, na igreja, na equipe esportiva, nos regimentos e na universidade em que as pessoas aprendem a interagir como seres livres, assumindo a responsabilidade por seus atos e levando em consideração o próximo. Quando uma sociedade é organizada de modo hierarquicamente descendente, tanto por um governo centralizado de uma ditadura revolucionária quanto por decretos impessoais de uma burocracia impenetrável, em seguida a responsabilidade rapidamente desaparece da ordem política e também da sociedade. Governos centralizados produzem indivíduos irresponsáveis, e o confisco da sociedade civil pelo Estado leva a uma recusa generalizada dos cidadãos de agirem por vontade própria.

            Vou terminar este artigo com um trecho do verso declamado pelo saudoso Paulo Gracindo no extraordinário show Brasileiro Profissão Esperança, que também contou com a grande e saudosa cantora Clara Nunes, trecho que serve para expressar a minha indignação, e acredito da maioria do povo brasileiro, de tudo que está acontecendo de ruim no Brasil, um caminho que não quero ir nunca, que é o caminho da desesperança e da desgraça.

“Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: vem por aqui!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí! ”




Armando Soares – economista

e-mail: armandoteixeirasoares@gmail.com