Em Brasília foram construídas celas especiais para criminosos
Preso na Itália, o mensaleiro Henrique Pizzolato disse que prefere morrer a cumprir pena no Brasil. Mas ele não tem com que se preocupar. Em Brasília foram construídas celas especiais para criminosos como ele.
Para receber os condenados do mensalão, o governo de Brasília reformou uma ala inteira da Papuda.
As “celas especiais” ganharam textura nas paredes, piso novo, banheiro com chuveiro elétrico, privada, iluminação artificial, colchões novos e pontos para a instalação de aparelhos eletrodomésticos...
Fonte: Por Robson Bonin, revista Veja, - 11/05/2015 - - 12:54:16
Volto ao assunto fundos de pensão. E o motivo justifica: alguns deles correm risco de quebrar, como o Aerus, em 2006, que deixou 15 mil trabalhadores da Varig sem aposentadoria, sem esperança e sem futuro. O risco de quebra do Postalis (fundo dos Correios) foi admitido, há dias, pelo diretor da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), Carlos Alberto de Paula, em reunião com a associação dos funcionários da empresa, como informaram Andreza Matais e Murilo Rodrigues Alves, em reportagem no Estado de 6/5. Na fila atrás do Postalis estão o Funcef (da Caixa Econômica Federal), o Petros (Petrobrás) e a Fapes (BNDES).
Os 70 mil funcionários e aposentados dos Correios terão, por 15 anos, seu salário reduzido para cobrir parte do rombo de R$ 5,6 bilhões, acumulado nos últimos três anos pelo Postalis. Responsável pela regulação e fiscalização dos fundos, o que fez a Previc nestes três anos? Deixou rolar, e a corda foi esticando, esticando, até chegar ao limite em que a legislação determina parar tudo e ratear o déficit entre empresa e funcionários. Corda rompida, sem saída e devendo mil explicações aos funcionários dos Correios e de outras estatais ameaçadas, a Previc agora anuncia que acaba de enviar relatório ao Ministério Público e à Polícia Federal para apurar a responsabilidade de diretores do Postalis em operações fraudulentas e na gestão incompetente, que levaram ao déficit bilionário.
Por que não fez isso antes? Por que não agiu no primeiro momento para evitar o desastre? Por que não apurou as fraudes e afastou diretores responsáveis? Não. Deixou a corda arrebentar, nada fez e transferiu o caso para a polícia. “O sistema da Previc está preparado para pegar inaptidão, erros, e não para lidar com atitudes criminosas”, justificou-se Carlos de Paula.
O.k. Mas o que fez a Previc quando os fundos Postalis e Petros perderam muito dinheiro no Grupo Galileu, que faliu em 2011 com uma dívida de R$ 900 milhões e fechou as portas das Universidades Gama Filho e Cidade, arrastando milhares de estudantes sem diploma e professores sem salários e sem emprego? E nos casos dos Bancos Cruzeiro do Sul e BVA, liquidados pelo Banco Central, nos quais os fundos de estatais perderam milhões de reais? E os prejuízos com a compra de títulos da Argentina e da Venezuela, os dois países na pior situação financeira das Américas? E tantas outras operações igualmente suspeitas de fraude?
Se a Previc “não está preparada para lidar com atitudes criminosas”, como diz seu diretor, tem obrigação de se preparar para exercer com competência, rigor e independência política a função que lhe cabe: regular e fiscalizar. Preparar-se é agir preventivamente para evitar que outros fundos tenham o mesmo destino do Postalis, criar regras para barrar fraudes, má gestão, impedir que partidos políticos ocupem cargos na diretoria, baixar normas de boa governança e punir os que não cumprem metas de desempenho (nenhum dos fundos citados as tem cumprido). Em países de economia avançada os fundos de pensão só podem investir em papéis de empresas classificadas com grau de investimento. Aqui, não, eles desperdiçam milhões, subtraem o patrimônio dos participantes adquirindo títulos de bancos e de empresas cuja compra o mercado financeiro inteiro não recomenda e condena como mau negócio. E fica por isso mesmo.
Nos anos 80 as experiências de corrupção que levaram a Capemi e o Montepio da Família Militar à liquidação extrajudicial (e lesaram quase 1 milhão de pessoas) condenaram a previdência privada ao descrédito como negócio. Os fundos de pensão só prosperaram por nascerem atrelados ao guarda-chuva das estatais. A adesão de empresas privadas chegou mais tarde. Mas a confiança voltou a ficar abalada com a extinção dos fundos da Vasp e da Varig e a intervenção no Portus, que ameaça deixar de pagar os salários, cada vez mais minguados, a 11 mil portuários.
Agora o Postalis ameaça quebrar se a Justiça desobrigar os funcionários de pagarem o rombo. Na fila estão Funcef, Petros e Fapes. O que fará a Previc?
O ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, enviou para o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o relatório da Polícia Federal com mensagens telefônicas que mostram a proximidade dos ministros Dias Toffoli, do STF, e Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), com o empreiteiro propineiro Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS e réu do petrolão. Léo Pinheiro estava preso até a semana retrasada. Foi solto por uma decisão apertada da 2ª Turma do STF - e, para isso, contou com o voto decisivo do amigo Dias Toffoli. De acordo com a Procuradoria Geral da República, Janot vai decidir até a semana que vem quais providências vai adotar no caso. Reveladas por VEJA, as mensagens descobertas pela Polícia Federal nos telefones celulares de Léo Pinheiro mostram que o empreiteiro frequentava a residência de Dias Toffoli. Léo Pinheiro era convidado para as festas de aniversário de Toffoli, e aparece pedindo a um funcionário que providenciasse um presente para o ministro. As mensagens também citam uma reunião entre Pinheiro e Toffoli em 2013. Apesar da proximidade com o réu, Dias Toffoli não viu nenhum problema em participar do julgamento que o libertou. Os arquivos coletados nos celulares de Léo Pinheiro foram reunidos em um relatório de 26 páginas, enviado sob sigilo a Teori Zavascki. Na semana retrasada, Zavascki encaminhou o documento para que Rodrigo Janot se manifeste sobre as providências a serem adotadas tanto em relação a Dias Toffoli quanto a Benedito Gonçalves. Segundo a Secretaria de Comunicação da Procuradoria Geral, Janot está analisando o material. "A resposta deve ser encaminhada ao STF em até 15 dias", informou a Procuradoria-Geral da República em nota na semana passada. O procurador-geral pode, por exemplo, questionar a participação de Dias Toffoli nos julgamentos relacionados à Lava Jato. Também cabe a ele solicitar a abertura de investigação sobre as relações tanto de Toffoli quanto de Benedito Gonçalves com o ex-presidente da OAS. Outra opção de Janot é engavetar o relatório: ele pode simplesmente propor o arquivamento do material. No caso de Benedito Gonçalves, Janot pode sugerir a remessa do material ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O ministro do STJ trocava mensagens diretamente com Léo Pinheiro e costumava pedir favores diversos, inclusive para parentes. Benedito estava em campanha para ocupar a vaga deixada por Joaquim Barbosa no STF e, para realizar o que chama de "projeto pessoal", chegou a pedir a "ajuda valiosa" do empreiteiro, amigo do peito de Lula. Gonçalves era um dos preferidos do ex-presidente para o posto.
O doleiro Alberto Youssef afirmou, em depoimento à CPI da Petrobras nesta segunda-feira (11), que o Palácio do Planalto sabia do esquema de desvios de recursos em obras da estatal, investigado pela Operação Lava Jato. "No meu entendimento, eles tinham conhecimento do que acontecia", disse. "O esquema servia ao interesse do partido (PT), e automaticamente dos partidos da base". O doleiro já havia dito, em outros depoimentos, que integrantes do Planalto sabiam do esquema de corrupção na estatal. Youssef foi um dos principais operadores do esquema. Preso desde março do ano passado, ele fez um acordo de delação premiada com a Justiça e tem colaborado com as investigações desde então. O doleiro citou um episódio que, para ele, demonstra o conhecimento do Planalto sobre o esquema. Foi entre 2011 e 2012, após um racha da base do PP, que era aliado ao governo federal. Na ocasião, o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, que era indicado pelo PP e também participava do desvio de recursos para o partido, disse que só iria se reportar "a quem o Palácio do Planalto determinasse". "O doutor Paulo deixou claro que quem iria indicar o interlocutor era o Planalto", declarou Youssef. Youssef é o primeiro depoente a ser ouvido pela CPI em Curitiba. Os deputados estarão na cidade, sede das investigações da Lava Jato, até esta terça (12). Até lá, devem ouvir mais 12 pessoas, incluindo o lobista Fernando dos Santos Baiano, acusado de ser o operador do PMDB, e os ex-deputados André Vargas, Luiz Argolo e Pedro Corrêa, todos presos na sede da Polícia Federal.
BRASÍLIA - Para quem sonhou em acabar ou pelo menos reduzir ao máximo o velho jogo do fisiologismo político no primeiro mandato, ser obrigada a se entregar a ele no início do segundo deve ser muito frustrante para Dilma Rousseff. Mas foi este o preço e o caminho necessário, o do "toma lá, dá cá", para a petista, sob comando do novo articulador político Michel Temer, conseguir sua primeira vitória na votação do essencial ajuste fiscal. O pior, para a presidente, é que a conta vai sair mais cara caso queira continuar ganhando as próximas votações. Afinal, na semana passada, Temer só venceu a primeira batalha porque buscou e conquistou o apoio de 19 deputados da oposição. Sem eles, teria saído derrotado. Faltaram votos governistas no balaio de Dilma, de gente ainda não saciada em seu apetite por cargos, que vai cobrar sua fatia nesta semana, quando entra em pauta a segunda medida do ajuste –a que restringe benefícios previdenciários. A ordem na equipe de Temer é atender a todos. Cerca de 200 cargos –50 federais e 150 estaduais–estarão sendo distribuídos nos próximos dias, num ritmo nunca visto na história do governo Dilma. Entre eles, de 15 a 20 de diretorias de agências reguladoras. Postos que a presidente Dilma, em seus momentos de força e popularidade alta, fazia jogo duro para negociar com aliados. Preferia deixá-los vagos a entregá-los a políticos. Só que a fragilidade atual da petista reduziu seu poder de barrar pedidos que, antes, dizia não aceitar nem sobre seu cadáver. Postura sempre criticada, com certa razão, pelos aliados. Afinal, num governo de coalizão, eles têm direito de ocupar espaços na administração. O problema é que a turma do fisiologismo político tem um apetite insaciável por cargos e alguns os utilizam para fins nada republicanos. Aí está o escândalo da Petrobras como o pior dos exemplos, alertando que tudo tem limites.
Com a inevitável lembrança do Holocausto, acabaram as comemorações dos 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial. Numa trapaça do tempo, fica a impressão de que, em 1945, confrontado com a barbárie, o mundo reagiu com repulsa geral. Noutra, em 2015, acredita-se que, hoje, coisas daquele tipo são inimagináveis. Infelizmente, as duas suposições são falsas. Milhares de judeus que saíram dos campos de concentração foram recebidos como intrusos quando tentaram voltar às suas casas na Europa Oriental. Quando Heda Margolius, ex-prisioneira de Auschwitz, regressou a Praga, sua vizinha perguntou-lhe: “Por que você voltou?” Em Cracóvia, houve um pogrom em agosto de 1945. Nos 18 meses posteriores ao fim da guerra, mataram-se mais judeus na Polônia, na Hungria e na Tchecoslováquia do que nos dez anos anteriores ao início do conflito. O mundo só começou a encarar o Holocausto a partir dos anos 60, depois que o primeiro-ministro israelense David Ben-Gurion, numa centelha de genialidade, mandou que Adolf Eichmann, capturado em Buenos Aires, fosse levado para um julgamento público em Tel Aviv. O gerente da Solução Final foi enforcado em 1962. A segunda trapaça do tempo é a de que aquilo foi coisa de outra época. O ódio e a violência racial e religiosa continuam aí, expostos no cotidiano do século XXI. O Estado Islâmico, que se assenhoreou de parte do território do Iraque e da Síria, tem os ingredientes da superioridade nazista, com uma diferença: ele mata muçulmanos xiitas, judeus e cristãos. Faz isso ostensivamente e coloca filmes na rede. Um deles, “Clanging of the swords 4” (“O barulho das espadas”), com pouco mais de uma hora de duração. Coisa de profissionais, produzida há um ano. Barra pesadíssima. Os nazistas não propagavam o que faziam. Pelas suas leis e pelos seus discursos, podia-se supor, mas não se podia ver. O Estado Islâmico usa a selvageria como instrumento de propaganda. Algo como coproduções de Heinrich Himmler, comandante da Solução Final, e de Joseph Goebbels, marqueteiro do regime. Na década de 30, havia quem tivesse uma ponta de compreensão para com os nazistas. Afinal, opunham-se aos comunistas. Hoje, esse engano pode ser alimentado, em ponto menor, pela oposição do Estado Islâmico aos Estados Unidos e a Israel. Se há uma diferença entre 2015 e 1945, ela está no fato de que agora saiu do baralho a carta do eu-não-sabia. Só não sabe quem não quer, porque os fatos estão aí, mostrados pelo próprio Estado Islâmico. A comédia da Sete Brasil Depondo na CPI da Petrobras o doutor Luiz Eduardo Carneiro, presidente da Sete Brasil, informou que auditores externos não encontraram irregularidades nos contratos da empresa para a fabricação de navios e sondas para a Petrobras. Um negócio de US$ 27 bilhões. Segundo ele, Pedro Barusco e João Carlos Ferraz, que presidiu a Sete até sua chegada, em 2014, não foram “bons” executivos. Pode-se dizer que Eike Batista, com quem Carneiro trabalhou, não foi um bom executivo porque vendeu nuvens. O caso de Barusco e Ferraz, e da própria origem da Sete, é bem outro. Barusco já confessou ter recebido US$ 100 milhões em propinas. Enquanto Carneiro falava em Brasília, Ferraz continuava negociando sua colaboração com a Viúva. Além de informações valiosas, poderá devolver algum dinheiro, quantia muito menor que a de Barusco. A essa altura, Barusco e Ferraz ajudam, Carneiro atrapalha. O doutor assumiu a presidência da Sete há um ano. Se ele acha que faltaram à empresa “bons” executivos, de duas uma: ou não sabe onde está ou sabe e acha que pode dizer o que bem entende. Chapa Pelo menos um tucano assegura que o prefeito do Rio, Eduardo Paes, do PMDB, ofereceu ao PSDB a Vice-Presidência numa chapa encabeçada por ele. Falta combinar com Geraldo Alckmin e Aécio Neves, prováveis candidatos do PSDB. O atraso da CVM A Comissão de Valores Mobiliários, instituição destinada a proteger os investidores, resolveu investigar a conduta do Conselho Administrativo da Petrobras. Com cinco anos de atraso, viu fumaça em suas decisões. Tudo bem, mas a CVM poderia se perguntar porque fez sete acordos com o diretor financeiro da empresa durante o petrocomissariado. Ao longo de seis anos, o doutor pagou R$ 1,75 milhão para que não se falasse mais dos motivos que haviam levado a CVM a investigar sua conduta. É possível que a CVM tenha sido a única xerife do mercado a fazer tantos acordos desse tipo com um diretor financeiro de uma empresa do tamanho da Petrobras. Deu no que deu. Registro Os integrantes do Conselho de Administração da Petrobras tinham motivos para achar que suas reuniões fossem gravadas. Os conselheiros estranhos à empresa não sabiam que estavam sendo filmados. Pode-se entender que os vídeos tenham sido apagados, mas o banco de dados da empresa deve saber quem fez o serviço e quando. Veneno Um parlamentar recolheu notas de dólar com a efígie de Lula jogadas sobre o plenário da Câmara para distribuí-las, como lembrancinhas, a pedintes e flanelinhas e eleitores de Dilma. Fachin Ninguém pode prever o comportamento do Senado na apreciação do nome do advogado Luiz Fachin para o Supremo Tribunal. Certamente, há ‘‘çábios’’ do Planalto acreditando que ganham a parada, assim como em janeiro acreditavam que derrotariam a candidatura de Eduardo Cunha à presidência da Câmara. Há uma diferença entre as duas situações: contra Eduardo Cunha já não havia linha de recuo. No caso de Fachin, tanto ele como o governo podem desistir da indicação. Terceiro tombo Às 14h de 29 de abril, hora de Tóquio, três empresas do grupo Ishikawajima informaram ao mercado que separaram o equivalente a R$ 207 milhões para cobrir seu prejuízo no estaleiro Atlântico. Pobre Ishikawajima. É o terceiro tombo que toma por se meter nos projetos megalomaníacos de criação de polos navais dos governos de Pindorama. Todo brasileiro com mais de 60 anos já pagou três. O primeiro com Juscelino Kubitschek. O segundo durante a ditadura e o terceiro com Nosso Guia. A Ishikawajima entrou em todos. Nas superproduções do petropetismo, construiu-se uma piada. Os japoneses venderam ao Brasil uma refinaria que não refina e o Brasil vendeu-lhe um estaleiro que não produz. Usina de encrencas Quando o PT pode achar que sua situação melhorou, inventa uma nova encrenca. O presidente do diretório paulista, comissário Emídio Souza, quer ir à Justiça para apreender os cartazes de “Procurados”, com retratos de Lula e da doutora Dilma. Grande ideia. Quem tiver uma impressora poderá fabricar seus cartazes, assim como quem tem uma panela consegue fazer barulho.
Só não vê quem não quer: um STF onde não existam liberais nem conservadores, onde todos, num grau ou noutro, sejam "progressistas" ou marxistas, selecionados a dedo pelo mesmo partido, é uma revolução através das togas. Dispensa luta armada ou desarmada, dispensa Gramsci, movimentos sociais, patrulhamento. Bastam onze homens e seus votos. E tudo fica parecendo Estado de direito.
A bússola das decisões normativas sobre a vida nacional, sobre os grandes temas, está saindo do Congresso, onde opera a representação proporcional da opinião pública. Aquela história dos três poderes, este faz a lei, aquele executa e aquele outro julga - lembra-se disso? - vai para as brumas do passado. Há mais de três décadas estão sendo transferidas para o Judiciário deliberações que vão do acessório ao essencial, do mais trivial ao mais relevante. Já escrevi muito sobre tal anomalia e percebo que a migração prossegue, através dos anos, com determinação e constância.
A judicialização da política, braços dados com o ativismo judicial, causa imensas preocupações cívicas. Opera uma revolução silenciosa. Não usa barracas de campanha, não cava trincheiras e não precisa de arsenais. Ataca a partir de luxuosos gabinetes. Reúne-se em associações e congressos de magistrados militantes. Seu material bélico está contido em meia dúzia de princípios constitucionais que disparam para onde a ideologia aponta.
O QG dessa conspiração sofreu uma derrota, terça-feira, com a aprovação da PEC que postergou para os 75 anos a aposentadoria compulsória dos magistrados. Mas isso não resolve o problema diante do mal que atacou o caráter republicano da nossa democracia - o instituto da reeleição - cortando o movimento pendular do poder. Se o Congresso, e especialmente o Senado, não reagir, se for aprovada a inacreditável indicação do Dr. Fachin (que até o Lula teria achado "basista" demais), se aprofundará o abismo entre o pluralismo como inequívoco princípio constitucional e a composição do STF.
É algo de que, aparentemente, ninguém se deu conta. Pluralismo é pluralismo. Dispensa interpretação. É um severo princípio impresso no preâmbulo da Constituição. Como pode ele ser desconsiderado quando se trata de indicar membros para a mais alta corte do Poder Judiciário (isso para não falar nos demais tribunais superiores)? É admissível que os membros desse elevado poder expressem o ideário e os interesses de uma mesma corrente política? O que a presidência da República vem fazendo e o Senado aprovando é uma revolução branca, via totalitarismo judiciário.
Toleraremos, aqui, o que já aconteceu na Venezuela?
Percival Puggina (69), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+. Originalmente publicado no Zero Hora em 10 de maio de 2015.
O desgoverno faz um esforço concentrado de bastidores nesta segunda-feira, entre senadores, para impedir aquele que pode ser o maior desastre institucional dos últimos tempos: a rejeição do nome do jurista paranaense Luiz Edson Fachin para a vaga deixada por Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal. Dilma Rousseff, que já teve oito grandes derrotas no Legislativo, ao longo de três meses, não aceita sofrer mais uma no Senado, onde o presidente Renan Calheiros promove um mordaz jogo de gato e rato com o Palhasso do Planalto.
Até espalhar que o "doutor Fachin" é grande amigo do popular juiz Sérgio Moro, tido como algoz dos petistas nos processos da Lava Jato, tem sido um argumento curioso para convencer senadores a referendarem o nome dele. Dilma também apela até para outro parlamentar que sempre se posicionou como "opositor sistemático", mas que agora é um dos principais "padrinhos" da indicação de Fachin ao STF. O senador tucano Alvaro Dias até conseguiu uma nova "nota técnica" do Senado para garantir que Fachin não cometeu ilegalidade alguma enquanto acumulou a advocacia privada com o cargo de procurador do Estado do Paraná, entre os anos de 1994 a 2006.
O novo parecer contraria o que foi escrito, semana passada, pelo consultor do Senado, João Trindade Cavalcanti Filho, concluindo que Fachin desrespeitou o impedimento imposto pela Constituição Estadual do Paraná para o exercício da advocacia particular com a função de procurador (advogado) do Estado. A polêmica entre os pareceres marcará a terça-feira quente no Senado, onde tudo pode acontecer. A aposta mais segura é que a aprovação de Fachin custará bem cara ao desgoverno Dilma... O vice-Presidente Michel Temer é, novamente, o grande encarregado de negociar a aprovação de Fachin, contendo a rebeldia dentro do PMDB.
O Globo revelou e-mail enviado pela amigona de Lula, Rosemary Noronha, em 18 de novembro de 2009, manifestando preocupação com a bebedeira de jovens nos arredores de uma universidade particular, em São Paúlo.
Brasil secretíssimo
Reportagem de O Globo revela que o governo federal mantém pelo menos 11,4 mil documentos ultrassecretos.
Desses, 11,3 mil foram produzidos pelo Ministério das Relações Exteriores a partir de 1983.
É como se a diplomacia produzisse uma informação sigilosíssima por semana.
Morte da Transparência
A Lei de Acesso à Informação, criada para garantir a transparência na coisa pública, estabelece que documentos públicos podem ter três graus de sigilo: além do ultrassecreto, há o reservado, que só pode ser divulgado após cinco anos de sua produção; e o secreto, protegido por 15 anos.
Só nos últimos dois anos, 110 documentos foram classificados pelo Itamaraty com o mais alto grau de sigilo previsto na legislação.
Documentos com esse grau de proteção só podem ser divulgados 25 anos depois.
Sem resposta
Cadê a CUT para defender os trabalhadores dos efeitos negativos do arrocho fiscal do Levy?
Cadê a UNE para defender os estudantes que foram vítimas do corte criminoso do FIES?
Resposta: CUT e UNE estão mais preocupadas com a eleição de Lula, em 2018...
Recado do Mourão
Nas redes sociais, um grande desafio do domingão das mães foi interpretar o que disse - ou deixou nas entrelinhas - o comandante militar do Sul, General Antonio Mourão, em entrevista ao jornal paranaense Gazeta do Povo:
"O Exército se posiciona de uma forma muito clara, de acordo com a missão que nós temos. Uma das nossas missões é a GARANTIA dos poderes constitucionais - Constituição, no Artigo 142. O Exército, com as demais Forças Armadas, estará PRONTO para manter as instituições em funcionamento. O Exército NÃO vai assumir o PODER, não vai fazer nada disso. O que vai fazer é MANTER as instituições; garantir que o Executivo, Legislativo e o Judiciário funcionem. Isso é manter a DEMOCRACIA".
Os defensores da Intervenção Constitucional gostaram do que o General de quatro estrelas (aparentemente nenhuma do PT) falou...
Eleição no inferno
Emboladores Caju e Castanha versejando sobre o mote “A eleição no inferno”. Imperdível...
Numa semana tensa em Curitiba, consegui encontrar na crise brasileira alguns momentos de humor. O Ministério da Saúde publicou um edital determinando a apresentação de Helder Barbalho para prestar esclarecimentos. Não sabiam quem era e como poderia ser encontrado. Helder tinha o chamado paradeiro incerto. Helder Barbalho é ministro da Pesca e trabalha ao lado dos burocratas que o procuravam. Sequer usaram uma ajuda do Google, que poderia salvá-los. Ser um dos 39 ministros de Dilma é uma forma de se esconder na gigantesca máquina irracional do governo. Nem eles mesmos se conhecem nesse universo pantanoso. Os prejuízos que a administração petista trouxe à Petrobras são maiores que os recursos para recuperar o Nepal depois do terremoto. Segundo os cálculos do repórter José Casado, a administração petista torrou cerca de R$ 17 milhões por dia, durante seis anos e seis meses. Reconhecer os estragos de um terremoto, no entanto, não é a escolha do PT. Continuam se achando ótimos administradores. Nesses momentos de relativa transparência, as notícias nos brindam com novas peças de humor. Como essa gráfica na Casa Verde, em São Paulo, que, sem máquinas, forneceu R$ 22 milhões de material para o PT e cerca de R$ 1,5 milhão para o PSDB. O nome do dono é Beckenbauer Rivelino, um craque na produção de notas frias. Vinte e dois milhões em panfletos é algo que jamais vi uma campanha gastar. Isso mostra que os escândalos sempre nos divertem com os nomes e nos assustam com sua frequência. E com a quantidade de cifras e porcentagens que atravessam o noticiário, Lula afirmou que era 90% mais honesto que os jornalistas de duas importantes revistas brasileiras. Ele já tinha feito uma incursão desastrosa nas percentagens, afirmando que o processo do mensalão era 80% político. O que é 100% bobagem. Cifras astronômicas aparecem também na investigação sobre João Santana, o marqueteiro oficial. Ele teria recebido US$ 16 milhões por seus conselhos na campanha de Angola. Estão nadando em dinheiro num oceano que começa a ser singrado pelos barcos da investigação. A frente da transparência, cuja capital hoje é Curitiba, com a operação Lava-Jato, tem de se ampliar para o BNDES, estatais, fundos de pensão. Saber o que houve no BNDES é desvendar uma parte substancial da trajetória do governo. Tanto os recursos investidos no país como no exterior precisam ser conhecidos. Não há como evitar que se revelem todos os detalhes da operação. Sobretudo essas que envolviam o ex-presidente Lula, a Odebrecht e o banco oficial. Os dados iniciais indicam que Lula prometia uma obra no exterior, o BNDES financiava e a Odebrecht realizava. Isso teve repercussão internacional, maior até do aqui dentro. Mas merece toda a transparência, no momento em que se busca instalar a CPI do BNDES. Nas ruas de Curitiba, além da operação Lava-Jato, vivem-se conflitos em torno da política de austeridade. A crise econômica que nos envolve é um foco mais dramático ainda do que a frente da transparência, essa possibilidade de conhecer o governo do PT em detalhes, saber que, por hora, davam um prejuízo de R$ 729 mil à Petrobras. Na crise econômica, existe pelo menos uma chance de empurrar o governo para o mínimo de racionalidade, enxugar a máquina, limitar cargos de confiança. É uma forma inteligente de ajuste porque não só atenua o esforço da sociedade, no momento, como também assegura um alívio para o futuro. Não adianta apenas conter custos. É preciso estabelecer as condições de uma retomada. E não será com essa máquina irracional. Vamos economizar duramente para daqui a pouco publicarem um novo edital buscando um dos 39 ministros de Dilma? Mais uma vez o Brasil viveu um grande panelaço, durante o programa do PT, no horário gratuito da fantasia. As pessoas rejeitam o cinismo e desejam mudanças. Será preciso bater panela e, simultaneamente, ter uma pequena receita do que se pode obter nesse momento. O Brasil é hoje um país devastado pela corrupção e pela incompetência. Não só é preciso socorrê-lo após o terremoto como pensar em reconstruí-lo de forma mais sólida. Se pelo menos ouvissem as caçarolas. Crise econômica, política e auditiva. Mas se fazem de Ulisses, exercitam a surdez de quem ouve. No poema, Ulisses goza o espetáculo das sereias, sem assumir as consequências. Na nossa pedestre vida política, a surdez do PT é a tentativa de se manter em cena, sem assumir os desvios éticos nem responder por sua gestão calamitosa. O PT é apenas uma pedra no caminho. Os contornos desse caminho é que precisam ser discutidos. Não importa se essa é a maior e mais complexa das crises. É a que nós temos. E dela, espero, haveremos de sair.