Sogro de Luiz Estevão recebeu depósito de contas secretas e ergueu um impériona Flórida no auge do rombo no TRT Carlos Namba
Em Miami eu moro um pouco na casa de um amigo, um pouco em hotel... Para falar a verdade, eu moro em qualquer canto... Quem diz isso não é um sem-teto. É um senhor um tanto misterioso que se chama Cleto Campelo Meireles. Ele tem 71 anos de idade, quatro casamentos, oito filhos e, apesar do lamento habitacional, é dono de um império imobiliário em Miami, avaliado em 18 milhões de reais. Na década de 80, Cleto Meireles foi uma figura bastante conhecida. Era dono da Haspa, captadora de poupança popular, que, ao ir à falência, deixou cerca de 1,6 milhão de poupadores a ver navios. Com o patrimônio reduzido a uma pequena fração do que era antes da ruína, Cleto Meireles sumiu. Nem amigos antes íntimos sabiam falar com segurança sobre seu paradeiro – uns diziam que morava no Rio de Janeiro, outros que se mudara para os Estados Unidos, alguns supunham até que já falecera. Pois Cleto Meireles está vivíssimo. É sogro do senador cassado Luiz Estevão, tem nada menos que dezesseis empresas em Miami e acaba de se tornar o mais novo personagem nas investigações sobre a roubalheira do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo, a tramóia de 169 milhões de reais que ceifou o mandato de Estevão. Documentos obtidos por VEJA trazem de volta à luz essa figura misteriosa, que, com uma discrição extrema, ergueu uma fortuna na Flórida. Os papéis mostram que Cleto Meireles foi um dos beneficiários das duas contas secretas de Luiz Estevão em Miami – as mesmas que despacharam cerca de 1 milhão de dólares para o juiz Nicolau dos Santos Neto, na Suíça. Em 24 de junho de 1994, o senador cassado enviou um fax ao Delta Bank, em Miami, pedindo "a fineza" de transferir 200.000 dólares de uma de suas contas para uma empresa, a D.E.T. Trading, que pertence ao sogrão Cleto Meireles. A quantia transferida, de apenas 200.000 dólares, é uma insignificância perto dos 169 milhões de reais desviados do TRT paulista. Seria uma leviandade achar que tal repasse, até por seu pouco valor, representa prova de que o ex-senador e o sogro montaram uma sociedade no desfalque do TRT. Mas, se o valor não autoriza ninguém a levantar essa suspeita, há indícios sólidos de que os dois faziam questão de esconder a operação. Ei-los: As duas contas de Luiz Estevão no Delta Bank são clandestinas. Tanto que foram abertas com codinome, o que denota a intenção de esconder o verdadeiro dono. O Ministério Público suspeita que as contas do Delta Bank, por onde passaram 21 milhões de dólares entre 1992 e 1996, foram abertas com o propósito específico de receber dinheiro desviado do TRT. No submundo do crime, quem abre uma conta com objetivo escuso só a movimenta entre parceiros, para evitar que terceiros saibam de sua existência, seu número, agência etc. A exemplo das contas bancárias de Luiz Estevão, a D.E.T. Trading também não é uma propriedade pública de Cleto Meireles. Está escondida sob o guarda-chuva de uma holding. Surge aí a constatação de que o ex-senador despachou 200.000 dólares de uma conta secreta para a conta de uma empresa também secreta de seu sogro. O terceiro fator que chama a atenção é que ambos negam a transação. "Nunca fiz esse depósito. Nunca ouvi falar dessa empresa. Aliás, nunca tive negócios com meu sogro e não vou a Miami faz uns dez anos", afirma Luiz Estevão. Na quinta-feira, em entrevista a VEJA, Cleto Meireles também negou tudo. "Nem conheço essa empresa. Qual é mesmo o nome?", indagou. Em seguida, lembrou-se de que a D.E.T. é de sua propriedade. "É uma das empresas que a holding controla", disse. Mas ambos insistem em negar o depósito de 200.000 dólares, apesar de estar documentado num fax de 24 de junho de 1994 enviado pelo próprio Delta Bank às autoridades brasileiras (veja cópia). O conjunto onde fica o escritório central de Cleto e a lista das empresas Cleto Meireles administra as dezesseis empresas num único escritório de um conjunto comercial que lhe pertence, no elegante bairro de Coconut Grove. Examinando o nascimento das dez companhias que têm registro na Flórida, encontra-se uma impressionante coincidência cronológica com a farra do TRT. No final de 1991, o juiz Nicolau dos Santos Neto estava ocupado em fazer os preparativos iniciais para dar o grande bote nas verbas do tribunal. Abriu sua primeira conta no exterior, num banco da Suíça. Nessa mesma época, Cleto Meireles instalava suas primeiras cinco empresas em Miami. No início do ano seguinte, Luiz Estevão e o sócio Fábio Monteiro de Barros Filho ganharam a licitação para construir o TRT. Em 1992, a obra recebeu 35,7 milhões de reais. No decorrer do ano, o sogrão montou outras quatro empresas em Miami. Pode ser uma mera coincidência de datas e, como não há nada de errado em abrir empresas nos Estados Unidos, só é estranho que Cleto Meireles se empenhe tanto em escondê-las. Na quinta-feira passada, na entrevista a VEJA, houve o seguinte diálogo: – Gostaria de falar sobre suas empresas nos Estados Unidos... – Não tenho empresas nos Estados Unidos. – Não tem? – Não tenho. – Há documentos mostrando que o senhor tem dezesseis firmas em Miami. – Na verdade, tenho apenas duas, a Controllers Holding Company e a NHE. – E as outras catorze? – Ah, eu abro e fecho, abro e fecho. – Sim, mas, entre abrir e fechar, quantas são? – Poucas. Só as duas que falei. Estou fora de atividade. – Mas no escritório-sede de sua empresa há uma placa com o nome de dezesseis companhias. Quantas são, afinal? – Uma só. É a Tauha Company, que eu abri nas Ilhas Virgens Britânicas há uns oito anos. A Tauha tem 90% da Controllers, e abaixo da Controllers tem algumas empresas que, na verdade, eu nem sei quantas são. Joedson Alves/ AE O ex-senador: dirigindo sem rumo para despistar jornalistas Na semana passada, surgiu outra coincidência envolvendo os negócios de Cleto Meireles com o assalto ao TRT paulista. A força-tarefa montada pelo governo e pelo Ministério Público, com a missão de tentar repatriar os dólares do saque ao TRT, acaba de descobrir que, nas mesmas Ilhas Virgens Britânicas onde o sogro do ex-senador abriu sua holding, o juiz Lalau também abriu uma empresa off-shore, que hoje possui conta bancária em um banco de Miami. Até agora, sabia-se que o juiz abrira uma firma nas Bahamas, também um paraíso fiscal caribenho, mas ninguém tinha notícia da existência de outra empresa, desta vez nas Ilhas Virgens Britânicas. Em nome das empresas, que Cleto Meireles nem sabe quantas são, está um belo patrimônio imobiliário. Há imóveis muito suntuosos, que ofuscam o apartamentaço que o juiz Lalau comprou na cidade, um dos sinais de riqueza que mais o comprometeram. Apenas na Avenida Brickell, a 200 metros do prédio em que Lalau comprou seu apartamento de 800.000 dólares, Cleto Meireles tem duas coberturas de frente para uma das regiões mais bonitas de Miami, a Bay Shore. "Há duas semanas nós vendemos uma cobertura nesse prédio por 1,2 milhão de dólares", informa a corretora Mary Gloria Arias, que trabalha na imobiliária Esslinger, Wooten e Maxwell. Em Coral Gables, outra região exclusivíssima de Miami, Cleto Meireles tem dois apartamentos num condomínio luxuoso, com academia de ginástica, marina privativa e restaurante internacional. O maior deles está avaliado em 2 milhões de dólares. O sogrão ainda tem terrenos e o conjunto comercial onde instalou seu bunker. O prédio tem 38 salas e está avaliado em 3,8 milhões de dólares. "Ah, é?" – Nos últimos tempos, Cleto Meireles vem tentando desfazer-se de todos os seus imóveis. Em dezembro passado, vendeu um terreno, no centro de Miami, à empresa MPI Taylor. O preço: 3,5 milhões de dólares. Aos eventuais interessados, o cubano Juan González, que se apresenta como funcionário de Cleto Meireles, exibe uma lista com cerca de setenta imóveis. "São todos de dom Cleto", diz o cubano. Entre esses imóveis, há uma casa espetacular, de 3,5 milhões de dólares, situada na margem de um dos canais de Miami Beach. "O pagamento dos imóveis pode ser feito aqui nos Estados Unidos ou no Brasil. Dom Cleto faz até desconto. Está precisando de dinheiro", afirma González. Não há, no entanto, nenhuma casa registrada em Miami em nome de Cleto Meireles ou de uma de suas empresas descobertas por VEJA. Por que ele está vendendo todos os seus bens? "Tudo o que tenho está à venda. Só não vendo os meus filhos", diz o sogrão. O fax, assinado pelo ex-senador: 200 000 dólares Enquanto Cleto Meireles corre atrás de dinheiro em Miami, seu genro Luiz Estevão foge da imprensa em Brasília. Na semana passada, vários jornalistas ficaram diante da casa do ex-senador na expectativa de ouvi-lo sobre o pedido de prisão preventiva que a Justiça Federal estava analisando – a acusação era por outro crime: sonegação fiscal de mais de 18 milhões de reais e uso de documento falso, em outro golpe, desta vez na obra do Superior Tribunal Militar, no Rio de Janeiro. O senador deixou a residência em seu carro e, antes de estacionar em frente ao escritório de suas empresas, deu voltas pela cidade para despistar os jornalistas. Na sede das companhias, Estevão deu entrevista, disse que não pensava em fugir da polícia e reeditou a cena célebre nos Estados Unidos, quando o presidente John Kennedy se deixou fotografar com um de seus pimpolhos brincando sob a mesa de seu gabinete. No golpe de marketing, Kennedy queria encantar os americanos com a informalidade de um pai de família. Deu certo. No caso de Estevão, alguém imagina que o mimetismo resolve alguma coisa? Todos os soldados de Cleto Meireles estão orientados para não revelar nada sobre o patrão. Em seu escritório no Rio, trabalha Mário Ino, que se apresenta como "superintendente dos negócios de Cleto Meireles". Ele conta que, desde a liquidação da Haspa pelo Banco Central, depois da falência na década de 80, sua tarefa é administrar o que "sobrou" do patrimônio do patrão – uns 10 milhões de reais, segundo ele. E os negócios no exterior? "Cleto não tem negócios no exterior. Tudo o que ele tem está no Brasil." VEJA também visitou o escritório das empresas de Cleto Meireles na Coconut Grove, em Miami. "Não há ninguém aqui com esse nome. Não existe Cleto aqui", disse a secretária Magali Domingues. Ao falar com VEJA, Cleto Meireles negou que possuísse escritório na Coconut Grove e que tivesse uma secretária chamada Magali Domingues. Após alguns minutos de conversa, no entanto, ele parece ter esquecido a negativa inicial. Perguntado onde poderia ser encontrado no dia seguinte, travou-se este diálogo: – Me liga no escritório lá – disse Cleto Meireles. – Mas lá é que trabalha Magali, a secretária que o senhor disse que nem conhece... – Ah, é? Bem, é que amanhã eu vou lá para saber quem é, afinal, essa tal Magali. Esse é o empresário misterioso que nem tem casa própria em Miami, mora ora com amigos, ora com amigos, ora em hotel, não sabe quantas empresas possui e nunca, nunca recebeu dinheiro do ex-senador Luiz Estevão.
FONTE VEJA ONLINE
|
###
Depois de quatro horas e meia de explicações em sessão secreta, o presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Cezar Peluso, conseguiu enquadrar os conselheiros e obteve o apoio para a licitação milionária de banco de dados. Apesar das suspeitas de direcionamento do contrato, levantadas pela multinacional IBM, os conselheiros concordaram em divulgar uma nota em que dizem ser regular a licitação.
Na nota veiculada ao final da sessão, cujo áudio foi gravado por decisão de Peluso, os conselheiros declararam não ter dúvidas sobre a legalidade e regularidade do processo licitatório. Ao final do texto, no entanto, ressaltaram que essa declaração de apoio não impede que órgãos de controle, como o Tribunal de Contas da União (TCU), investiguem o contrato para a compra de equipamentos da Oracle, licitação estimada em R$ 86 milhões.
O conselheiro Gilberto Martins, que na quarta-feira enviou um dossiê para os colegas elencando suspeitas sobre o processo, não quis se manifestar após a reunião. “O que houve está na nota”, restringiu-se a dizer.
No relatório encaminhado a todos os conselheiros, Gilberto Martins afirmou que as exigências previstas no edital afrontavam o princípio da legalidade e indicavam direcionamento do processo. Além disso, argumentou que o CNJ teria direcionado dinheiro para a empresa que venceria a licitação, mesmo antes de o processo ser concluído.
De acordo com integrantes do Conselho, durante as mais de quatro horas de explicações, Peluso teria reconhecido erros na sua gestão no relacionamento com os conselheiros e se comprometido a dialogar. Outros integrantes, que criticavam de forma mais incisiva, se disseram satisfeitos simplesmente por Peluso ter de se explicar.
Durante a sessão, conforme quatro conselheiros, foi sugerido a Peluso ampliar a transparência dos contratos e das decisões do CNJ. Além disso, conselheiros disseram também que apresentarão na próxima sessão, marcada para o dia 14, uma resolução para submeter aos conselheiros a escolha do secretário-geral da presidência do Conselho. A proposta surgiu em razão da insatisfação com o atual secretário, Fernando Marcondes, principal responsável pela licitação e que não teria se pronunciado na sessão.
FONTE: www.tribunadaimprensa.com.br