sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Imigração, um debate irracional - HÉLIO SCHWARTSMAN


FOLHA DE SP - 11/10

SÃO PAULO - De tempos em tempos, tragédias como o naufrágio do barco carregado de africanos na costa da Itália, que matou quase 200 pessoas, nos fazem lembrar do problema dos imigrantes. Esse é um daqueles assuntos que mobilizam vieses cognitivos tão poderosos que o próprio debate fica prejudicado.

É verdade que, no Pleistoceno, tínhamos razões para temer quaisquer humanos que não pertencessem à nossa tribo. Não eram desprezíveis as chances de que eles nos atacassem e matassem para roubar-nos as mulheres e os poucos bens que pudéssemos possuir, ou simplesmente para evitar que nós os agredíssemos. Também havia a possibilidade de eles portarem doenças contra as quais não tivéssemos resistência. O medo de estrangeiros ficou gravado em nossas culturas e genes.

O mundo mudou bastante nas últimas centenas de milhares de anos, mas, nossas cabeças, não. Hoje, embora sejam remotas as chances de sermos assassinados por gringos com o objetivo de raptar nossas mulheres, seguimos desconfiando deles, o que se reflete em leis anti-imigração que são mais ou menos universais. E basta que surja uma adversidade econômica para que políticos tentem faturar alguns pontos culpando estrangeiros pelo infortúnio dos locais. Muitos têm sucesso.

Em termos objetivos, porém, trazer imigrantes tende a ser um bom negócio para países desenvolvidos. Esse parece ser o único modo de manter funcionando a economia no longo prazo, já que em muitas dessas nações os cidadãos têm filhos num ritmo inferior à taxa de reposição populacional. Mesmo no curto prazo, o país hospedeiro costuma faturar. As condições variam, mas há vasta literatura demonstrando que, ao menos nos EUA, a contribuição dos imigrantes supera os custos que acarretam. Isso é especialmente verdade se eles forem ilegais, já que pagam a maior parte dos impostos e quase não usam os serviços públicos.

De todos os picaretas - FERNANDO GABEIRA


O Estado de S.Paulo - 11/10

O intenso fim de semana na política foi um dos temas do Twitter. Dois candidatos da oposição uniram forças e foram muito comentados, perdendo apenas para temas como um quadro do Programa Raul Gil (SBT). As eleições presidenciais estão chegando e cada um, de acordo com suas limitações de tempo e restrições profissionais, tem a missão de fazer alguma coisa.

Individualmente, tentei fazer o PV e Marina Silva se entenderem e o partido ser o plano B caso a Rede não conseguisse registro no TSE, o que considerava altamente provável. Achava que o campo grosseiramente definido como socioambiental precisava apresentar-se como alternativa. Ele ainda é muito fraco. Dependia de uma união interna para disputar a simpatia do conjunto da oposição. Nos meus cálculos, o campo precisaria também rever alguns de seus dogmas para sair do gueto ecológico. Um é o de se fixar só na defesa de um Código Florestal abstrato, lutando contra ruralistas, que defendem outra abstração.

Minha proposta, em primeiro lugar, é introduzir o elemento científico para definir quanto de uma área deve ser preservado e quantos metros da margem de um rio serão resguardados para protegê-lo. No caso específico dos rios, considerava que a discussão em Brasília era muito limitada e deveria contar com os comitês de bacia, que conhecem o tema e trabalham diariamente com ele. Isso no caso de comitês de bacia que trabalham e venceram a etapa do faz de conta.

O mais importante para fortalecer o campo socioambiental seria reconhecer a importância da alimentação num planeta que brevemente chegará aos 9 bilhões de habitantes. Posso discorrer muito tempo sobre a importância política desse tema, mas a Primavera Árabe e revoltas em países africanos revelam como ele pode desestabilizar governos incapazes, momentaneamente, de financiar alimentos a preços acessíveis. Dentro dessa visão planetária, não tem sentido hostilizar o agronegócio, mas sim dialogar com ele e levá-lo, quando possível, a uma convergência com as propostas de sustentabilidade.

No meu caso particular, aprendi muito sobre a realidade agrícola discutindo com ex-ministro Alysson Paulinelli, ou sobre a produção de carne ouvindo o também ex-ministro Pratini de Moraes. Não tenho medo de ser chamado de velho conciliador, desde que acrescentem o adjetivo curioso. Colocar o tema dos alimentos numa projeção ecológica não só aumenta a credibilidade da proposta, como indica pé no chão, contato com a dura realidade cotidiana.

Meus esforços para reaproximar Marina e o PV foram em vão e as razões do fracasso não cabem numa análise política. Talvez num outro suporte, um romance psicológico, conseguisse explicar o que aconteceu. Os dois lados estavam irredutíveis.

Por baixo desse esforço havia outra divergência: a necessidade de um plano B. A realidade tem desmentido minha análise de que o plano B é tão importante quanto uma capa de chuva em Bruxelas. A insistência em não tê-lo significa confiar em certos resultados que podem falhar. Não me parece oportunista um candidato a presidente que tenha planos B. Em caso de vitória, terá de se acostumar com eles.

Com os rumos da oposição já traçados, mais a escolha de reduzir candidaturas, e não ampliar o leque, como pedia minha análise, só me resta agora tentar contribuir de outra maneira, dentro de minhas limitações. Uma forma de contribuir com uma alternativa para o Brasil foi ler 1.200 páginas dos debates da chamada esquerda democrática e produzir uma síntese para a Fundação Astrojildo Pereira, do PPS.

Quando os atores são tão imprevisíveis, é importante concentrar-se no roteiro. Apesar do apelo eleitoral, não basta condenar o PT e conseguir com isso um vínculo de simpatia em escala nacional. É preciso dizer como seria o Brasil pós-PT. De que forma impulsionar o crescimento econômico, como estabelecer políticas institucionais mais respeitosas, como se situar no mundo sem arroubos bolivarianos - há muitas coisas que precisam ser definidas com clareza.

O senso comum nos garante que acompanhando e participando da política podemos transformá-la. Mas o universo político brasileiro move-se com tanta independência e autonomia que parece uma galáxia distante. O balcão de negócios está instalado com toda a franqueza. Deputados vendem emendas, votos e, agora, o próprio mandato aos partidos em competição por bancadas numerosas.

O governo do PT contempla isso tudo com a maior tranquilidade porque acha que, no fundo, a desagregação vai ajudá-lo a permanecer no poder, sua obsessão. Não importa se seu reino se transformou num pântano, o importante é sentar na cadeira presidencial, distribuir cargos, verbas, enfim, o combustível que move essa sórdida engrenagem. Os marqueteiros ensinam o caminho do coração popular. Basta reservar para a propaganda uma boa parte dos recursos.

Espionado freneticamente pelos americanos, salvo pelos médicos cubanos e marchando triunfalmente para o topo da economia mundial, apesar do pessimismo dos próprios economistas, o PT vai construindo sua fantástica narrativa. Tudo pode acontecer num país imprevisível, onde os presidentes nem se preocupam mais em fazer sentido. As respostas desconexas de Dilma são apenas a continuidade hesitante da sólida ignorância de Lula, que sonhava com uma Terra quadrada para atenuar a poluição e com um mundo mais justo onde as mães não nascessem analfabetas. Tudo isso com penteado produzido por um cabeleireiro japonês, que deve prestar também seus serviços à Coreia do Norte, a julgar pelo estilo de Kim Jong-un.

Parece ironia, mas se a oposição deixar também de fazer sentido, seja por uma tardia descoberta dos encantos da literatura ou pela recusa a analisar friamente os problemas nacionais, aí, então, estaremos perdidos. Só nos restará escolher entre o bom humor dos comediantes e o mau humor dos manifestantes, mas até neste caso um tipo de síntese conciliatória é desejável. Um bom exercício seria completar a frase: Brasil, um país de todos...

Pau na concorrência política - VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 11/10

Partidos estabelecidos na praça de negócios políticos querem evitar competição de novas forças


EM 1982, O PT era pobre, mas limpinho. Desde sempre, foi um partido que o purismo leigo chamaria de "legítimo", "ideológico", com "representatividade social" ou seja lá qual for o qualificativo.

Na eleição daquele ano, teve 3,55% dos votos para deputado federal, quase 89% deles no Sudeste. Elegeu oito deputados federais, 1,7% da Câmara de então.

Dado esse desempenho, se estivesse em vigor a lei de cláusula de barreira que o Congresso voltou a cozinhar, o PT não teria direito a fundo partidário (dinheiro público para os partidos) nem tempo de TV. Discutiam-se tais coisas ontem, na Câmara.

Cláusulas de barreira condicionam o acesso a recursos públicos ou mesmo à representação no Congresso à obtenção de um número mínimo de votos, espalhados por um certo número de Estados.

Dados os últimos acontecimentos, o "risco Marina" e a inauguração de dois empreendimentos partidários (Pros e Solidariedade), os partidos estabelecidos na praça de negócios políticos ficaram em polvorosa. Querem dar um jeito na competição e aumentar as "barreiras à entrada", como se diria de um mercado.

Dizem, porém, que pretendem dar cabo de alguns "vícios". Está certo que vender cotas de fundo partidário e tempo de TV a fim de ganhar bom lugar num partido não cheira bem. Mas o pessoal parece mesmo querer dar um jeito na concorrência. Os mais bem-intencionados vão acabar jogando a criança fora com a água do banho.

É mais fácil para gente mais bem estabelecida na praça, política ou político-empresarial, criar um partido. Quanto mais novo, "de base" e pobre, mais difícil o caminho da turma que quer entrar na política. Não é exatamente o caso da Rede de Marina Silva, que tem muito político profissional, gente de elite e empresário para dar apoio e fundos.

Mas era o caso do PT de 1980. Pode ser o caso de uma nova Marininha em 2018 ou 2022.

Decerto o PT foi particularmente prejudicado pelas normais eleitorais do início dos anos 1980. A eleição de 1982 foi bastante viciada, entre outros motivos pela exigência do voto vinculado (o eleitor deveria votar de cabo a rabo, de governador a deputado). Porém, qualquer eleição é "viciada" por regras mais ou menos arbitrárias ou casuísticas.

Ainda assim, na eleição de 1986, o PT teve 6,9% dos votos, mas apenas 3,5% das cadeiras da Câmara.

Uma cláusula de barreira que exigisse representação mínima de 5%, como tantas vezes já se propôs, limaria o PT da Câmara da "Nova República" e da Constituinte.

O PT do início dos anos 1980 não tinha prefeitura, caixinha de amigos da prefeitura, de ministério, de governo, fundo partidário, neres de nada.

O dinheiro vinha do varejo da militância, de "movimentos sociais" (daqui e de fora), de sindicatos; pingava algum de empresários exóticos.

A marquetagem era amadora, como quase todo o resto. A propaganda de 1982 dizia "Trabalhador vota em trabalhador" (receita certa de fracasso numa sociedade então ainda mais elitista do que a de hoje). Ou "Vote no três que o resto é burguês" (três era o número do PT).

Os amadores autênticos tendem a ser os mais prejudicados por normas "moralizantes", várias das quais apenas reforçam o status quo.

Entre o mercado e o social


Carlos Alberto Sardenberg, O Globo
Ouvi Eduardo Campos falar para empresários e investidores de São Paulo — e o pessoal gostou muito do que o governador contou sobre sua administração em Pernambuco e sobre sua visão de Brasil.
Não estavam no grupo aqueles nomes tradicionais, tipo chapa-branca, que, no fundo da alma, não gostam do PT, mas, do fundo do bolso, desgostam mais ainda de brigar com o governo. E acham que sempre se pode arrumar negócio bom mesmo numa administração ruim e/ou hostil ao capital privado.
Estavam no grupo pessoas de dinheiro, é claro, preocupadas, por exemplo, com o imposto sobre grandes fortunas. Aliás, perguntaram ao governador e adoraram a resposta.
Campos disse: há impostos demais no Brasil; é preciso reduzi-los e torná-los mais progressivos; ricos devem pagar mais, mas não se pode esfolar o investidor e a empresa; e, finalmente, que o imposto sobre grandes fortunas é tecnicamente ruim, arrecada pouco e cria muita desconfiança. Ou seja, muito barulho ideológico para pouco dinheiro.
Perguntaram também sobre o chavismo e os bolivarianos. Campos aproveitou bem a deixa para mostrar seu lado “gauche”. Atacou ferozmente as velhas oligarquias venezuelanas (e, por tabela, as latino-americanas) que enriqueceram à custa de privilégios e verdadeiros assaltos ao Estado.
Esse contraste entre uma elite muito rica e um povo muito pobre deu origem a Chávez e seus seguidores. Trata-se de um caminho equivocado, um atraso contra outro atraso, disse Campos, mas a forma de escapar disso é um regime moderno, democrático, capitalista e social.
Me lembrei de Tony Blair. Ou Bill Clinton. No Velho Continente, existia (ainda existe) uma esquerda socialista, estatizante, que se opunha à direita liberal tipo Thatcher. Blair inventou aí a Terceira Via: economia de mercado, ambiente de negócios amigável ao empreendedor, liberdade financeira, com forte investimento estatal nas áreas sociais, sobretudo saúde e educação. Mas, atenção: o setor público deve seguir as regras de eficiência do privado, com metas e meritocracia.
Campos encantou aquela plateia quando falou de sua gestão nas escolas de Pernambuco — diretores, professores e alunos premiados por bom desempenho, medido e avaliado regularmente — e nos hospitais, vários entregues à gestão privada.
Nos EUA, Clinton claramente colocou-se entre Ronald Reagan, seu antecessor, e a esquerda do seu Partido Democrata, esta representada por seu vice, Al Gore, e agressivamente contra o que chamava (e chama) de big money e suas variações (big oil, big pharma etc.).
FHC e Lula, o do primeiro mandato, ajudaram a formar essa Terceira Via por aqui, ainda que em condições bem diferentes. Nunca tivemos nossa Thatcher (ou nosso Reagan), de modo que FHC, um social democrata europeu, teve que tocar boa parte da agenda liberal para conquistar a estabilidade macroeconômica (metas de inflação, abertura comercial, câmbio flutuante, privatizações, responsabilidade fiscal).
Começou também os programas sociais — Bolsa Escola, por exemplo, e o aumento real do salário mínimo —, seu lado esquerdo. Mas perdeu o ímpeto reformista no segundo mandato.
Lula, de origem, digamos, mais socialista, foi obrigado a manter a base da estabilidade e, ainda, sob influência de Palocci, avançou nas reformas microeconômicas, especialmente nas leis e regras que garantiram a concessão e ampliação do crédito. E mais o Bolsa Família e os aumentos do salário mínimo.
No segundo mandato e depois da crise de 2008/09, Lula começou a estragar tudo, tarefa seguida por Dilma Rousseff. Inventaram os truques para aumentar o gasto público e a dívida total, sem o confessar, e expandiram a intervenção estatal — da regulação e controle cada vez maior do setor privado ao avanço forçado das estatais, incluindo bancos, e à tentativa de aceleração de grandes obras.
Sem contar o ambiente de incerteza criado por decisões do governo e dos tribunais que a todo momento criam novas obrigações e custos aos negócios. Cabe aqui a mão pesada do Fisco na interpretação e criação de regras que geram impostos e multas bilionários, numa ação ao mesmo tempo hostil ao grande capital e com o objetivo de gerar receita perdida com os subsídios aos setores privilegiados.
O resultado aparece na inflação mais alta, no baixo crescimento, na falta de investimentos (pela desconfiança do setor privado e ineficiência do setor público), no Custo Brasil recorde, na situação delicada de estatais como a Petrobras e as elétricas.
É curioso: quando se apresenta como terceira via entre PT e PSDB, Campos, na verdade, parece querer recuperar os lados positivos de FHC e Lula e mais a agenda de reformas que ficou pelo caminho. Como? Com Marina?
Voltaremos.

Carlos Alberto Sardenberg é jornalista.

Maduro cria órgão de inteligência para censurar informação na Venezuela


  • Cesppa terá o poder de censurar divulgação de dados públicos que forem considerados estratégicos

CARACAS - O governo venezuelano anunciou esta semana a criação do Centro Estratégico de Segurança e Proteção da Pátria (Cesppa), um órgão que poderá classificar como secreta qualquer informação que considere estratégica para a Venezuela. Se entender que há a necessidade de prevenir e neutralizar potenciais ameaças internas ou internas, o Cesppa vai censurar a divulgação de qualquer dado do governo ou entidade pública, em ação semelhante ao que era feito pelo Centro Situacional de Estudos da Nação (Cesna) criado por Hugo Chávez.

O decreto é quase idêntico ao firmado por Hugo Chávez em 1° de junho de 2010, criando o Cesna. A única diferença, segundo o jornal “La Nación” é que o Cesppa é ligado diretamente a Maduro, pelo Ministério de Despacho da Presidência e Seguimento da Gestão de Governo, em vez do Ministério das Relações Interiores e Justiça, órgão ao qual estava ligado o Cesna.“O órgão solicitará, organizará, integrará e avaliará as informações de interesse em nível estratégico da nação, associadas a atividade inimiga externa ou externa, proveniente de todos os órgãos de segurança e inteligência do Estado e outras entidades públicas e privadas, segundo o que for solicitado pela Direção Política e Militar da Revolução Bolivariana”, diz o texto publicado no Diário Oficial da Venezuela do dia 7 de outubro.
A criação do Cesppa é mais um movimento de Maduro em sua guerra contra os meios de comunicação na Venezuela. Na semana passada, ele definiu como “um crime” a divulgação de notícias sobre a escassez de produtos nos mercados, um problema grave e recorrente no país. E pediu que a Justiça venezuelana aplique sanções drásticas aos meios de comunicação que insistam nessa cobertura.
Associações venezuelanas de imprensa denunciam que a censura à mídia tornou-se uma política de Estado. Desde a venda, em março, da Globovisión - até então um dos raros canais independentes no país - e do conglomerado de comunicação Cadena Capriles, acertada em junho, quase não restam meios críticos ao governo chavista.
Em março, então como presidente interino, Maduro já intimidara os meios de comunicação que publicassem notícias sobre a violência no país, acusando-os de serem “sádicos do jornalismo”. O governo chegou a impor uma multa ao jornal “El Nacional” - de 1% de sua receita bruta - por publicar uma foto do necrotério de Caracas com pilhas de corpos de vítimas da insegurança na capital.

Educação não rima com black bloc e antimeritocracia (Editorial)


O Globo
Os fatos de segunda-feira, no Rio, são emblemáticos. A passeata convocada pelo sindicato de professores (Sepe) ocupou parte importante da Avenida Rio Branco, ao descer da Candelária em direção à Cinelândia, escoltada, como deve ser, pela PM.
Mas, na concentração antes do fim da manifestação, em frente ao Teatro Municipal, cumpriu-se o enredo de sempre: vândalos do Black Bloc, um grupo pequeno em relação aos manifestantes, passaram a provocar a polícia, à margem do comício.
Como era do desejo deles, e tornou-se inevitável, começou a pancadaria, enquanto novamente lojas eram depredadas, algumas saqueadas, coquetéis molotov e pedras voavam, tendo sido um momento de maior tensão a tentativa de invasão e depredação da Câmara de Vereadores, como já ocorrera na Assembleia Legislativa, dois símbolos da democracia representativa.

Bombas de gás lançadas para afastar manifestantes
Foto: Pedro Kirilo / Agência O Globo

Embora, na noite de segunda, sindicalistas demonstrassem preocupação com o que poderia acontecer na provocação da PM pelos black blocs, depois, na quarta-feira, o próprio Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação emitiu nota formal de apoio aos vândalos.
Mais este sintoma de radicalização do Sepe criou uma situação bizarra, paradoxal: um sindicato de professores, atividade ligada ao conhecimento e à cultura, estende a mão a um grupo de anarquistas, portanto inimigos da própria civilização, e cuja origem é uma metástase de frações marxistas radicais europeias que conseguiram fincar raízes na Alemanha na década de 80.
São conhecidas várias evidências de que o movimento grevista, no município e no estado, tem forte contaminação político-eleitoral, com o PSOL e o PSTU à frente da mobilização. Prova de que o objetivo primordial não é, ou não era, chegar a um acordo sobre condições de trabalho está nas primeiras propostas do Sepe: em fim de carreira, professores chegariam a ganhar mais de R$ 100 mil mensais. Nada sério, portanto.
Apoiar depredações do patrimônio público, incluindo o cultural, e privado foi um passo a mais na mesma direção. O processo de radicalização passa também por outra questão contraditória com o magistério: o sindicato é contra a meritocracia.
Vale dizer, não acredita que acumular conhecimentos deva ser valorizado. Contraria, portanto, a razão de ser da atividade do professor e a própria sistemática de evolução da Humanidade desde os primatas — o acúmulo, transmissão e produção de conhecimentos.
Há, sem dúvida, algo muito fora do eixo em todo este movimento numa categoria essencial para qualquer sociedade evoluir. É claro que o principal alvo é a modernização do ensino nas duas redes escolares. Infelizmente, não há registro de sindicatos mobilizados contra o uso político-partidário do ensino público.

Cartas de Seattle: Curso de morador de rua, quer?


Melissa de Andrade
Por que alguém pagaria US$ 2 mil para viver como um morador de rua por três dias com direito a guia turístico? Curiosidade? Pesquisa sociológica? Culpa?
Para aparecer num programa de TV, daqueles em que a famosidade se disfarça para ver se alguém descobre sua identidade?
Seja qual for a motivação, em Seattle você já pode passar por essa experiência com supervisão profissional.
Claro que você não será você. Ou, pelo menos, não parecerá você. Para se entranhar no submundo dos moradores de rua, é preciso virar um deles. Por isso o pacote começa com uma transformação.
Seu disfarce fará com que você passe despercebido entre os moradores de rua – com o efeito colateral desejado de não ser reconhecido pelos amigos.
Devidamente paramentado, você passará três dias e duas noites andando pelos lugares que os moradores de rua andam, comendo onde eles comem e até dormindo onde eles dormem.
A primeira noite será passada em um abrigo, submetendo-se a regras que incluem chegar às 7h da noite e estar pronto para sair às 7h da manhã. Os dias têm a parada obrigatória na biblioteca central da cidade, onde muitos moradores mantém seu “escritório”.
As informações privilegiadas e o acesso aos códigos e particularidades deste mundo ficam por conta do guia turístico, Mike Momany, ele próprio um morador de rua eventual devido a circunstâncias da vida.
Enquanto muita gente se pergunta se o tour é verdadeiro, ou mesmo se o “turismo de pobreza” deveria existir, Momany leva sua ideia muito a sério.
Chama o pacote de Curso Aplicado de Moradia de Rua e indica entre os benefícios o ganho de uma perspectiva real de como o público percebe aqueles que moram na rua. “Você passará a ter mais respeito por quem se vê tendo que enfrentar essa situação”.


Um “curso” assim talvez seja extremo, mas os residentes de Seattle bem que deveriam fazer um voluntariado, participar de debates ou mesmo ler mais para se informar sobre a questão dos moradores de rua na cidade.
Depois da crise, o centro de Seattle está ficando tomado pela população de rua, que aumentou e muito no último ano.
O problema existe, e é um problema social, econômico e de saúde pública que não se resolve ignorando os pedidos de esmola nem evitando os parques onde os moradores de rua gostam de passar o tempo.
Tem gente que claramente cresceu sendo “bem cuidado” e parece deslocado entre os que se vestem e agem do jeito que se costuma associar a mendigos.
Muitas das pessoas que carregam malas brilhosas no centro de Seattle não são turistas – são pessoas comuns que perderam emprego, gastaram as economias todas tentando achar outro e agora carregam a casa naquela mala.
Fazem um curso prático involuntário de morador de rua, sem direito a voltar para uma cama confortável e quentinha depois de três dias de aulas práticas. Poderia acontecer com qualquer um, repetem os documentários na televisão.

Melissa de Andrade é jornalista com mestrado em Negócios Digitais no Reino Unido. Ama teatro, gérberas cor de laranja e seus três gatinhos. Atua como estrategista de Conteúdo e de Mídias Sociais em Seattle, de onde mantém o blog Preview e, às sextas, escreve para o Blog do Noblat.

‘Guia das novas profissões’, um texto de Nelson Motta


Publicado no Globo desta sexta-feira
NELSON MOTTA
Com 17 anos, meu neto está na idade de escolher uma profissão. Feliz de quem já sabe o que quer fazer para viver, a maioria quase sempre só tem dúvidas, como o avô no seu tempo, que queria mas não tinha talento para ser músico, estudou para ser designer, mas criou as filhas escrevendo letras de música, livros e crônicas de jornal.
Meu neto já fez sua escolha, mas tentei chamar sua atenção para opções mais modernas, que só o Brasil de hoje oferece. Quando eu tentava escolher uma profissão em 1961, ninguém podia imaginar ter uma igreja, mas hoje há até anúncios em jornal de cursos para criar igrejas. Ser famoso por 15 minutos não é nada, ter sua própria igreja supera a profecia de Andy Warhol, rende e dura mais do que a fama e é tax-free.
Num país onde quase todas as organizações não governamentais vivem de verbas governamentais, ter a sua própria ONG é uma das melhores opções profissionais. Qualquer ONG, com qualquer finalidade, o mais trabalhoso é conseguir as verbas para os “cursos de capacitação”, depois é pagar as comissões e correr pro abraço.
A Alemanha tem 15 sindicatos, mas o Brasil tem treze mil. Aqui é mais fácil abrir um sindicato do que uma empresa, basta o apoio de alguma das várias centrais. Há dinheiro para todos: o imposto sindical garante um dia de trabalho de cada brasileiro para ser dividido entre eles. Além disso, sindicalista se tornou uma das profissões mais valorizadas do país, com altos cargos e salários em ministérios e estatais.
Um partido político dá mais trabalho para criar do que um sindicato, custa bem mais caro, mas qualquer zé-mané pode fazer o seu. O investimento é grande, mas é uma fábrica de dinheiro e vantagens.
O “militante funcional” é outra carreira em ascensão. Nada de agitar bandeirinha e gritar slogans na rua. Com o aparelhamento de ministérios e estatais, qualquer funcionário, concursado ou não, de qualquer profissão, deve se filiar ao partido no poder para garantir suas promoções e cargos, não como nomeação política, mas como “técnico de carreira”.
Mas não adiantou nada, meu neto quer ser advogado, gosta de justiça e de Direito.

As universidades do Brasil Maravilha são fábricas de lulas com diploma de doutor

Augusto Nunes

lula
Em agosto de 2010, no comício de inauguração de quatro prédios da Universidade Federal de Dourados, em Mato Grosso do Sul, Lula também reinaugurou a bazófia que se transformaria, de lá para cá, num dos seus mantras prediletos: “No meu último dia de presidente, eu vou olhar para mim e dizer que não tenho curso superior, mas fui o presidente que mais abriu universidade no Brasil”. Depende do critério utilizado.
Se o que vale é quantidade, o palanque ambulante tem razão. Na última década, o número de matrículas em cursos superiores dobrou. Entre 2011 e 2012, 867 mil brasileiros se formaram por alguma faculdade. Baseada no critério da qualidade, adotado por quem tem mais de cinco neurônios, uma reportagem publicada pelo site da BBC acaba de implodir a gabolice do maior dos governantes desde Tomé de Souza.
Sob o título ‘Geração do diploma’ lota faculdades, mas decepciona empresários, o texto enfileira informações estarrecedoras. Uma delas: segundo o Instituto Paulo Montenegro (IPM), vinculado ao Ibope, o índice de anafalbetismo funcional entre universitários brasileiros chega a 38%. ”Isso significa que quatro em cada dez universitários até sabem ler textos simples, mas são incapazes de interpretar e associar informações”, espanta-se o redator da BBC.
“Também não conseguem analisar tabelas, mapas e gráficos ou mesmo fazer contas um pouco mais complexas”, prossegue o desfile de assombros. “De 2001 a 2011, a porcentagem de universitários plenamente alfabetizados caiu de 76% para 62%. E os resultados das próximas pesquisas devem confirmar essa tendência de queda, prevê Ana Lúcia Lima, diretora-executiva do IPM”.
O que o pai do Brasil Maravilha chama de universidade, vista de perto, é só uma fábrica de lulas com diploma de doutor.

Proposta para tirar o NDES do BNDES


Steffen Kanitz
A partir da publicação desta lei, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, passará a ser denominado de Banco.
O Partido Bem Eficiente, em formação, propõe aos demais deputados de outros partidos que criem uma lei propondo a mudança da razão social do BNDES para B, de Banco.
Propõe a eliminação dos termos Social, Desenvolvimento, Econômico e Nacional da sigla BNDES, por razões éticas.
O BNDES aprovou empréstimo de R$ 190 milhões, a juros subsidiados, para a renovação de 227 quartos de luxo no Hotel Glória do Rio de Janeiro.
Façam os cálculos de quanto sairá por quarto. Serão renovados também duas suítes presidenciais de 300 metros quadrados.
Acontece que Renovação deveria ser custeada pelo lucro do Hotel, já que o Hotel existe e funciona, e nunca pelo povo Brasileiro.
Isto já é suficiente para retirar o Social da razão social do BNDES.
Um S não pode financiar um Hotel de 5 Estrelas, não está no seu Objeto Social.
Já que o BNDES faz os empréstimos que faz, basta tirar o S para ele voltar a ser coerente e não confundir os funcionários, os diretores do Banco, e o contribuinte brasileiro.
Em termos de Desenvolvimento, não há nenhum Desenvolvimento em refazer um hotel que já existe. Renovação não é Desenvolvimento, e sim Renovação, como estava explicitamente dito no projeto.
Em termo de Econômico, não há nada econômico em R$ 190 milhões serem emprestados para renovar, sequer construir, 352 quartos no total. A maioria de luxo discutível, num país que está se isolando cada vez mais do intercâmbio internacional.
Executivos do Uruguai, Argentina, Paraguai, e agora Venezuela, não possuem recursos para pagar um hotel destes.
E como o Hotel Glória pertence ao grupo Suíço Acron, o Termo Nacional também não é cabível.
Ou seja, o BNDES virou um Banco a serviço não de um país, de um projeto de desenvolvimento, de um ideal de justiça e equidade social. Renovar o BNDES é simples, basta tirar as siglas que não fazem mais sentido.
O objetivo aqui não é repensar o BNDES, é pedir uma “volta às origens“, um “back do basics”, como muitas vezes se faz em Administração quando uma empresa se desvia da sua razão social.
Num país que não acredita nos princípios da Administração isto é impossível, um caminho sem volta para o BNDES.
O Partido Bem Eficiente não espera eficiência neste caso, somente transparência.
A partir da publicação desta lei, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, passará a ser denominado de Banco.
Algo para se pensar.

CHARGE DO NANI


Comportamento promissor do mercado imobiliário


As vendas de imóveis novos na cidade de São Paulo mais que dobraram entre julho e agosto e cresceram 45,8% entre os primeiros oito meses do ano passado e deste ano, segundo o sindicato da habitação (Secovi). Mesmo levando em conta que 2012 foi um ano desfavorável (as vendas caíram 27% em relação a 2011), a recuperação deste ano ganha ímpeto, provocando avaliações favoráveis sobre o investimento imobiliário.

Estudo sobre o investimento no Brasil distribuído ontem pela consultoria LCA mostra que a produção de bens de capital para a construção cresceu 29,6%, no primeiro trimestre, e 58,5%, no segundo trimestre, com previsão de avanço de 8,4% no trimestre junho/agosto. Ou seja, o ritmo já foi mais forte, mas ainda é alto. Segundo o estudo, a construção civil continuará aquecida não só neste trimestre, como também em 2014, em razão da "defasagem de cerca de seis meses a um ano entre o lançamento e o início efetivo das obras".
A construção civil contribuirá, assim, para uma elevação da ordem de 7% na Formação Bruta de Capital Fixo de 2013, superando as projeções médias de mercado.
Conforme os indicadores do Secovi, a demanda mais expressiva foi para os imóveis de dois dormitórios, que participaram com 44,4% do total de unidades comercializadas entre janeiro e agosto. O ritmo das vendas, tanto nessa faixa como nos imóveis de até três dormitórios, tende a ser favorecido com o maior acesso a recursos do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), inclusive do FGTS. Desde 1.º de outubro, o valor máximo dos imóveis que podem ser financiados pelo SFH, com recursos dos depósitos de poupança, aumentou de R$ 500 mil para R$ 750 mil nas cidades de São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Brasília.
O mercado imobiliário apresenta um comportamento bastante favorável, em contraste com a média da economia, que cresce abaixo das expectativas, com fortes oscilações. Para isso contribuiu a evolução mais lenta dos preços pedidos pelos vendedores, que subiram 1,2%, entre agosto e setembro, tanto em São Paulo como na média de 16 cidades, conforme o índice Fipe/Zap Ampliado, da Fipe. Neste ano, os preços médios pedidos subiram 9,8%.
Mais preocupante é a aplicação de ônus adicionais sobre imóveis localizados na capital, onde o tributo municipal (IPTU) de 2014 poderá subir até 30% - para custear a proposta de Fernando Haddad de transferência direta de renda para os usuários de ônibus.
Fonte: Estadão

PINTURA DO DIA - :"O Juramento dos Horácios", (Le Serment des Horaces)



Análise da obra:"O Juramento dos Horácios", de Jacques -Louis David




Le Serment des Horaces ( O Juramento dos Horácios) de Jacques-Louis David foi concluído em 1784, tem 3,3 por 4,25 metros, e foi encomendado pelo rei de França, Luís XVI. Encontra-se no Museu do Louvre, em Paris.
A pintura é uma representação de uma passagem da peça Horácio, do dramaturgo francês Pierre Corneille. Verdadeira ou lendária a luta entre Horácios e Curiácios foi registada, no século I a. C., pelo historiador Tito Lívio na obra "Ab Urbe Condita" . A cena representada refere-se às guerras entre Roma e Alba Longa, em 669 a.C. No reinado de Tullus Hostilius, deflagrou uma guerra entre Roma e Alba Longa para disputarem o domínio da Itália Central. Decidiu-se então, para evitar o derramamento de muito sangue e para salvar vidas de ambas as cidades, que a disputa se resolveria num combate mortal entre três irmãos romanos - os Horácios, e três irmãos albanos - os Curiácios, cujas famílias tinham relações familiares muito próximas. Da luta travada entre os dois grupos resultou a morte de dois irmãos Horácios. Os albanos festejavam já a vitória, quando o terceiro romano, Publius Horacius fingiu fugir.  Os Curiácios partiram em sua perseguição, decidindo a dada altura separar-se, seguindo cada um para seu lado, no encalce do adversário. Publius Horacius conseguiu enganá-los, voltando atrás e surpreendendo-os quando estavam separados. Apanhando-os a sós, eliminou-os um a um.
Publius retorna a Roma, atravessa as portas da cidade em triunfo, entre a aclamação do povo, mas ao chegar à praça principal encontra, entre a população, a sua  irmã Camila, que tinha ficado noiva de um dos irmãos Curiácios. Esta ao reconhecer o manto que o irmão trazia aos ombros, como sendo um que ela tinha feito para o seu amado, apercebeu-se da terrível verdade e começa a chorar.
Publius Horacius enfurece-se por a irmã derramar lágrimas por um inimigo, precisamente no momento em que comemorava a vitória de Roma. Então, de imediato desembainha a espada e mata-a, exclamando: "Assim morra todo aquele que chora um inimigo de Roma!".
As acções dos Horácios tornaram-se um símbolo do patriotismo romano, segundo o qual o Estado estava acima do indivíduo.
Jacques-Louis David pretendeu mostrar com a obra "O Juramento dos Horácios" que o cumprimento do dever está acima de qualquer sentimento pessoal, tal como o fizeram os três irmãos Horácios que juraram derrotar os inimigos ou morrer por Roma.
Na obra aparecem três homens vestindo trajes de luta, com os braços levantados em direcção a outro homem, que levanta três espadas ao alto. No lado direito da obra estão três mulheres sentadas, de olhos fechados, com gestos e expressões de consternação. Os três homens são os irmãos Horácios, prestando juramento de lealdade e solidariedade a Roma. O homem que segura as espadas e que toma o juramento é o pai Horácio, e atrás deles está Camila Horácio, de branco. No centro da pintura verifica-se a acção principal, o ritual de juramento, os homens apresentam expressões enérgicas. A atmosfera de virilidade e de robustez expressa-se nas quatro personagens, sob a frieza das  colunas dóricas ao fundo. Estas estão em contraposição às mulheres representadas, inertes e passivas. 
A obra, encomendada pelo rei Luís XVI, foi concluída em 1784 e exposta pela primeira vez em 1785.  A obra é considerada o paradigma da pintura neoclássica, convertendo-se em  modelo a ser seguido por pintores posteriores. Revela aspectos do final do período moderno, como a intenção da nobreza e monarquia em resgatar valores da Roma Antiga, como o civismo e a virtude, e o bem colectivo sobre os interesses individuais.

Jacques-Louis David

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Jacques-Louis David (pronúncia francesa [ dɒvid1 ] ) (Paris30 de agosto de 1748 – 
Bruxelas29 de dezembro de 1825) foi um pintor francês, o mais característico
 representante do neoclassicismo. Controlou durante anos  a atividade artística
 francesa, sendo o pintor oficial da Corte Francesa e de Napoleão Bonaparte.
Jacques-Louis David nasceu de uma próspera família parisiense. Quando tinha nove anos seu pai foi morto em duelo, e sua mãe o entregou aos cuidados de seus tios abastados, que providenciaram para que ele tivesse uma educação primorosa no Collège des Quatre-Nations, mas ele jamais foi um bom aluno - sofria de um tumor na face que afetava sua fala, e passava o tempo a desenhar. Desejava ser pintor, contrariando os planos de sua mãe e tios, que o queriam um arquiteto. Vencendo a oposição, buscou tornar-se aluno de François Boucher, seguidor do rococó e o principal pintor de sua geração, que era também seu parente distante. Mas Boucher, em vez de aceitá-lo como discípulo, o enviou para aprender com Joseph-Marie Vien, um artista que já trabalhava numa linha classicista, e o jovem ingressou então na Academia Real.
Tentou o Prêmio de Roma por quatro vezes, sendo em todas preterido. Depois do quarto fracasso iniciou uma greve de fome, mas não a levou ao cabo. Finalmente em 1774 teve sucesso, dirigindo-se a Roma para ingressar na Academia de Roma, e a ajuda do professor Vien o poupou de um estágio preliminar em outra escola, o que era uma praxe. Lá executou inúmeros desenhos e esboços das ruínas da cidade histórica, material que o proveu de inspiração para as arquiteturas de suas telas ao longo de toda a vida. Estudando os antigos mestres, sentia uma predileção por Rafael Sanzio, e ao visitar Pompeia ficou maravilhado. Depois destas impressões tão fortes decidiu adotar em seus trabalhos um estilo de acordo com os conceitos do classicismo.

David revolucionáriO


Momento marcante da Revolução que ele fixou em tela foi a
 Morte de Marat, um testemunho de sua filiação política e ao mesmo tempo uma obra-prima. Quando apresentou a tela na Convenção, disse:"Cidadãos, o povo novamente clamou por seu amigo; sua voz desolada foi ouvida: 'David, toma teus pincéis, vinga Marat!'… Eu ouvi a voz do povo, e obedeci". A obra foi um sucesso político imediato, e tornou-se também uma de suas criação mais bem sucedidas - simples, direta, e poderosamente tocante - consagrando o retratado, agora um mártir cívico, e o autor no ambiente revolucionário, onde ele, como auxiliar de Robespierre no Comité de Segurança Geral, foi um dos mais ferventes promotores do Terror.4 A esta altura a França estava envolvida em uma guerra com outras potências europeias, e aparentemente estava em vantagem. Assim o estado de emergência que havia suscitado o Comitê de Segurança Geral deixou de existir. Conspiradores aproveitaram o momento e prenderam Robespierre. Apesar de manifestar seu apoio a ele, David não foi executado, apenas preso. Na prisão fez um auto-retrato, mostrando-se muito mais jovem do que aparentava. Visitado por sua esposa no cárcere, concebeu a ideia para uma nova obra, A intervenção das Sabinas, como um apelo pela reunião nacional e pela paz, depois de tanto sangue derramado.David apoiou a Revolução Francesa desde o início, era amigo de Robespierre e membro do Clube dos Jacobinos. Enquanto outros deixavam o país em busca de novas oportunidades, David permaneceu para auxiliar na queda do antigo regime, votando pela morte do rei; de fato, na primeira Convenção Nacional que se reuniu ele foi alcunhado de "terrorista feroz". Logo, porém, ele voltou sua crítica contra a Academia, possivelmente por causa da hipocrisia que sentia nos bastidores e da oposição que suas obras haviam sofrido no início de sua carreira. Seus ataques lhe trouxeram ainda maiores inimizades, uma vez que a instituição era um refúgio dos realistas, mas com o aval da Assembleia Nacional ele planejou reformas na antiga escola segundo a nova constituição, passando a desempenhar um papel de propagandista da República tanto por sua atuação pública como através de suas pinturas.Quando Voltaire morreu em 1778 a Igreja negou-lhe sepultura cristã, e foi enterrado perto de um mosteiro, mas quando as propriedades eclesiásticas foram confiscadas David foi indicado chefe de uma comissão para trasladar os despojos dofilósofo para o Panteão. A cerimônia mobilizou uma multidão de cem mil pessoas, a despeito da chuva e do protesto dos conservadores. Foi o primeiro de uma série de grandes festejos organizados pelo pintor para a República, que espelhavam os antigos ritos pagãos, fazendo uso de uma série de símbolos retirados da antigüidade greco-romana.3 Os líderes da revolução logo compreenderam o enorme apelo que tais festas exerciam sobre a massa popular, por sua rica visualidade carregada de símbolos, sua teatralidade, e tais métodos foram mais tarde usados por Lenin, Hitler e Mussolini como instrumento de sua propaganda. O último grande festival organizado por David, e dedicado ao Ser Supremo, foi por ocasião da decapitação de Maria Antonieta.
Napoleão e David admiravam-se mutuamente. David desde o primeiro encontro ficara impressionado com o então general, e quando este subiu ao trono David solicitou fazer o seu retrato. Depois o pintou na cena da coroação, nas bodas com Josefina, outra grande composição, e de novo na da Passagem dos Alpes, montado em um fogoso cavalo. Por sua vez, Napoleão o indicou pintor oficial da corte, e pediu que ele o acompanhasse na campanha do Egito, mas o pintor recusou, alegando que era velho demais para aventuras, e enviou em seu lugar um de seus estudantes, Antoine-Jean Gros.Amizade com Napoleão[editar]Logo Napoleão reinava, e o ambiente se transformara radicalmente. Os mártires da Revolução foram removidos do Panteão e re-enterrados em vala comum, e suas estátuas destruídas. Sua esposa, que era realista, conseguir livrar David da prisão, e apesar de terem-se divorciado desde o episódio do regicídio, ela declarou que nunca deixara de amá-lo, e por fim voltaram a se casar em 1796. Reabilitado e reintegrado em seu atelier e posição, voltou a aceitar alunos e se retirou da política.

Últimos anos

Quando a monarquia Bourbon foi restaurada David foi um dos proscritos. Contudo Luís XVIII concedeu-lhe anistia e até mesmo ofereceu-lhe uma posição na corte, mas David recusou, preferindo o auto-exílio em Bruxelas. Lá pintou Cupido e Psiquê, vivendo tranqüilamente com sua esposa, e dedicando-se a composições em pequena escala e a retratos. Sua última grande criação foi Marte desarmado por Vênus e as três Graças, terminada um ano antes de sua morte. Segundo expressou, desejava que a obra fosse o seu testamento artístico. Exposta em Paris, reuniu uma multidão de admiradores.
Faleceu depois de ter sido golpeado por um carro na saída do teatro, em 29 de dezembro de 1825. Seu espólio foi vendido, mas as pinturas remanescentes obtiveram baixos valores. Por suas atividades revolucionárias seu corpo foi impedido de retornar à pátria, e foi sepultado no cemitério Evere, em Bruxelas. Seu coração, porém, repousa no cemitério Père Lachaise, em Paris.

Jacques-Louis David
Auto retrato (1794).
Nome completoJacques-Louis David
Nascimento30 de Agosto de 1748
ParisFrança
Morte29 de dezembro de1825 (77 anos)
BruxelasPaíses Baixos
NacionalidadeFrança francês
Influências
Influenciados
Principais trabalhosO Juramento dos Horácios(1784)
A Morte de Sócrates (1787)
A Morte de Marat (1793)
Napoleão cruzando os Alpes(1800)
PrémiosPrix de Rome (1774)
ÁreaPinturadesenho
FormaçãoCollège des Quatre-Nations
Movimento(s)Neoclassicismo


Neoclassicismo

Foi um movimento cultural nascido na Europa em meados do século XVIII, que teve larga influência na arte e cultura de todo o ocidente até meados do século XIX. Teve como base os ideais do Iluminismo e um renovado interesse pela cultura da Antiguidade clássica, advogando os princípios da moderação, equilíbrio e idealismo como uma reação contra os excessos decorativistas e dramáticos do Barroco e Rococó.


Contexto e caracterização geral

Os primeiros sinais do Neoclassicismo se fazem notar em vários pontos da Europa nas primeiras décadas do século XVIII, embora desde já se deva advertir que a cronologia dos estilos é sempre muito polêmica, e seus limites, muito imprecisos. O Neoclassicismo, como o nome indica, foi um movimento cultural revivalista, que voltou-se para a Antiguidade clássica - a Grécia e a Roma antigas - como a principal referência estética e modelo de vida. Considerava-se há muito tempo que a tradição clássica, onde se incluía a cultura renascentista, ela também um revivalismo classicista, era imbuída de grande autoridade moral e estética, e por isso era um modelo ideal. De fato, a "volta aos clássicos" é um fenômeno recorrente na história da cultura do ocidente.

Apesar de a arte clássica ser apreciada desde muito antes, segundo Cybele Gontar era-o de forma circunstancial e empírica, mas agora o apreço se construía sobre bases mais científicas, sistemáticas e racionais. Com essas descobertas arqueológicas e estudos teóricos tornou-se possível formar pela primeira vez uma cronologia da cultura e da arte dos gregos e romanos, distinguindo o que era próprio de uns e de outros, e fazendo nascer um interesse pela tradição puramente grega que havia sido ofuscada pela herança romana, ainda mais porque na época a
 Grécia estava sob domínio turco e por isso, na prática, era pouco acessível para os estudiosos e turistas do Ocidente cristão.
Acrescente-se a isso a descoberta de
 Herculano e Pompeia, duas antigas cidades romanas soterradas por uma erupção do Vesúvio, uma grande surpresa para os conhecedores e o público, tornando-se logo uma parada obrigatória no Grand Tour europeu e local de pesquisa para artistas e antiquários. Embora as escavações que começaram a ser realizadas nas ruínas em 1738 e 1748 não tenham encontrado grandes obras-primas, trouxeram para a luz uma quantidade de relíquias e artefatos que revelavam aspectos do cotidiano romano até então desconhecidos. Seguiram-se outras pesquisas sistemáticas da arte e cultura antiga, formaram-se importantes coleções públicas e privadas de arte e artefatos antigos e o "estilo grego" se tornava cada vez mais um favorito para os decoradores, estilistas de moda e arquitetos. Esses fatores contribuíram de forma importante para a educação de um maior público e para um alargamento da sua visão sobre o passado, estimulando uma nova paixão por tudo o que fosse antigo.
Também foi inestimável a contribuição de acadêmicos e antiquários como
 Robert Wood, John Bouverie, James Stuart, Robert Adam, Giovanni Battista Borra e James Dawkins, que publicaram a partir do século XVIII vários relatos detalhados e ilustrados de expedições arqueológicas, sendo especialmente influentes o tratado de Bernard de Montfaucon, L'Antiquite expliquee et representee en figures (1719-24), fartamente ilustrado e com textos paralelos em línguas modernas, não apenas no latim como era o costume acadêmico, e o do Conde de Caylus, Recueil d'antiquites (1752-67), o primeiro a tentar agrupar as obras de arte da Antiguidade clássica segundo critérios de estilo e não de gênero, abordando também as antiguidades celtas, egípcias e etruscas. Os escritos de Johann Joachim Winckelmann - um erudito alemão de grande influência entre os intelectuais italianos e alemães, incluindo Goethe, e muitas vezes considerado o principal mentor teórico do movimento - enalteceram ainda mais a arte grega, e vendo nela uma "nobre simplicidade e tranqüila grandeza", apelou para que todos os artistas a imitassem, restaurando uma arte idealista que deveria ser despida de toda transitoriedade, aproximando-se do caráter do arquétipo. Seu apelo gerou sonora resposta. A história, literatura e mitologia antigas voltavam a ser a fonte principal de inspiração para os artistas, ao mesmo tempo em que eram reavaliadas outras culturas e estilos antigos como o gótico e as tradições folclóricas do norte europeu, produzindo uma heterogeneidade de tendências que tornam o estudo deste período por vezes bastante árduo. Uma série de fatores se conjugaram para que em meados do século XVIII houvesse nascido uma nova corrente classicista, nítida e influente, centralizada em Roma, convivendo com e combatendo as últimas manifestações do Barroco e doRococó. Dois fatores foram principais: em primeiro lugar, o esgotamento da fórmula barroca e a condenação do que se viu nela como excessos, peso, decorativismo fútil, falta de decoro e irregularidade, acompanhado por um crescente interesse pela Antiguidade clássica de modo geral, com seus valores de racionalismo, modéstia, equilíbrio, harmonia, simplicidade formal, idealismo e desapego do luxo. Em segundo, o Neoclassicismo está intimamente ligado ao declínio da influência da religião e à ascensão dos ideais do Iluminismo, que tinham base no racionalismo, combatiam as superstições e dogmas religiosos, e enfatizavam o aperfeiçoamento pessoal e o progresso social dentro de uma forte molduraética. Os valores clássicos permaneceram uma forte referência nas academias de arte e de ciências mesmo durante o Barroco, o estilo anticlássico por excelência.

O Neoclassicismo conheceu seu ponto mais alto entre meados do século XVIII e as décadas iniciais do século XIX, quando Winckelmann fazia grande propaganda da cultura antiga e nas artes brilhavam
 Goethe, David, Haydn, Mozart e Canova, além de muitos outros. É uma das características deste período a coexistência do Neoclassicismo com um outro movimento cultural também de larga influência: o Romantismo. Ambos foram em muitos pontos estilos antitéticos, pois o Romantismo tendia a enfatizar o drama, o movimento, a visão individual, o irracional, o misticismo e a emoção, mas por outro lado, não era inteiramente avesso à referência clássica nem ao idealismo, tendo nascido também sob influência do Iluminismo. Muitas vezes será difícil distingui-los. Ao longo do século XIX ambas as escolas viriam a dialogar e se fundir cada vez mais, gerando o Academismo eclético, prosaico e sentimental do fim do século. No início do século XX o Neoclassicismo - bem como o Romantismo - havia sido suplantado pela estética modernista, embora continuasse a gerar frutos em algumas regiões. Na década de 1980, cultivada pelos pós-modernos, uma forma atualizada de Classicismo apareceu em cena com algum ímpeto, manifestando-se em várias formas de arte.O movimento teve também conotações políticas, já que a origem da inspiração neoclássica era a cultura grega e sua democracia, e a romana com sua república, com os valores associados de honradeverheroísmocivismo e patriotismo. Como consequência, o estilo neoclássico foi adotado pelo governo revolucionário francês como arma ideológica contra o "luxo imoral" e a "afetação decadente" das elites, tipificadas na galante e hedonista arte Rococó, pondo de lado a "nobre simplicidade e tranqüila grandeza" de Winckelmann e assumindo ares mais agressivos, dinâmicos, dramáticos e nitidamente propagandísticos, convocando a sociedade à mudança. Teve o pintor Jacques-Louis David como seu campeão e assumiu os nomes sucessivos de estilo Diretório, estilo Convenção e mais tarde, sob Napoleão, estilo Império, influenciando outros países. NosEstados Unidos, no tumultuado processo de conquista de sua própria independência, e inspirados no modelo da Roma republicana, o Neoclassicismo se tornou um padrão patrocinado pelo governo, sendo conhecido como Estilo Federal. Entretanto, desde logo o Neoclassicismo se tornou também um estilo cortesão, e em virtude de suas associações com o glorioso passado clássico, foi usado pelos monarcas e príncipes como veículo de propaganda para suas personalidades e feitos.