Se querem saber por que o Brasil ainda está longe de ser uma República, leiam o vasto material que há hoje da Folha sobre a indicação do ministro Luiz Fux para o Supremo Tribunal Federal. Ele próprio fala longamente e diz coisas constrangedoras. Patéticas até. Fux decidiu falar porque os petistas estão fazendo a sua caveira nos bastidores, especialmente junto à imprensa. O mínimo que dizem é que ele foi nomeado porque havia prometido inocentar os mensaleiros. Uma vez no cargo, fez o contrário: é o único membro da corte que praticamente não divergiu do relator e agora presidente do Supremo, Joaquim Barbosa. Fux esteve com José Dirceu e com João Paulo Cunha, dois dos condenados à cadeia, à época apenas réus. Admite que a sua possível nomeação foi debatida. Mais: encontrou-se também com a mulher de Dirceu, que é diretora do jornal “Brasil Econômico”. Agendou-se uma entrevista de cinco páginas… Vou criticar as falas de Fux, mas, antes, vai um elogio.
Se os petistas estavam absolutamente certos de que Fux votaria com eles e se só pressionaram por sua nomeação com esse objetivo, impõem-se duas conclusões ditadas pela lógica:
a: dado que ele era considerado um dos candidatos possíveis para o cargo e que tinha currículo para tanto, não teria sido nomeado se não tivesse feito, então, a cena;
b: se nomeado foi e se não está votando conforme os petistas esperavam, deve-se concluir, ao menos, que os companheiros não têm como chantageá-lo, o que não deixa de ser um boa notícia.
a: dado que ele era considerado um dos candidatos possíveis para o cargo e que tinha currículo para tanto, não teria sido nomeado se não tivesse feito, então, a cena;
b: se nomeado foi e se não está votando conforme os petistas esperavam, deve-se concluir, ao menos, que os companheiros não têm como chantageá-lo, o que não deixa de ser um boa notícia.
Máquina de desqualificaçãoAlertei aqui, outro dia, que os ministros do STF tinham de se cuidar porque teria início uma onda de desqualificação. Luiz Fux é só primeiro. Outros virão. O que é mais espantoso nessa história toda é que petistas afirmam ou sugerem que o mensalão foi, sim, tema do encontro com Fux. Vale dizer: antes mesmo que o ministro fosse indicado, já se cuidava de tentar fraudar a Justiça.
Reproduzo trechos da entrevista que Fux concede a Mônica Bergamo na Folha de hoje. Tudo é bastante vexatório para ele, para o STF, para a Justiça brasileira, para o país. Leiam. Volto em seguida.
(…)
ANTÔNIO PALOCCI
“Na primeira vez que concorri, havia um problema muito sério do crédito-prêmio do IPI que era um rombo imenso no caixa do governo. Ele era ministro da Fazenda e foi ao meu gabinete [no STJ]. Eu vi que a União estava levando um calote. E fui o voto líder desse caso. Você poupar 20 bilhões de dólares para o governo, o governo vai achar você o máximo. Aí toda vez que eu concorria, ligava para ele.”
ANTÔNIO PALOCCI
“Na primeira vez que concorri, havia um problema muito sério do crédito-prêmio do IPI que era um rombo imenso no caixa do governo. Ele era ministro da Fazenda e foi ao meu gabinete [no STJ]. Eu vi que a União estava levando um calote. E fui o voto líder desse caso. Você poupar 20 bilhões de dólares para o governo, o governo vai achar você o máximo. Aí toda vez que eu concorria, ligava para ele.”
DELFIM NETTO
“Em 2009, participei com ele de um debate sobre ética, sociedade e Justiça. Fizemos uma amizade, batemos um papo. E aí comecei a estreitar. Porque, claro, alguém me disse: “Olha, o Delfim é uma pessoa ouvida pelo governo”. Aí eu colei no pé dele [risos].”
“Em 2009, participei com ele de um debate sobre ética, sociedade e Justiça. Fizemos uma amizade, batemos um papo. E aí comecei a estreitar. Porque, claro, alguém me disse: “Olha, o Delfim é uma pessoa ouvida pelo governo”. Aí eu colei no pé dele [risos].”
STEDILE
“Ele me apoia pelo seguinte: houve um grave confronto no Pontal do Paranapanema e eu fiz uma mesa de conciliação no STJ entre o proprietário e os sem-terra. Depois pedi a ele para mandar um fax me recomendando e tal. Ele mandou.”
“Ele me apoia pelo seguinte: houve um grave confronto no Pontal do Paranapanema e eu fiz uma mesa de conciliação no STJ entre o proprietário e os sem-terra. Depois pedi a ele para mandar um fax me recomendando e tal. Ele mandou.”
SERGIO CABRAL
“Eu sou amigo dele e também da mulher dele. E ele levou meus currículos [para Dilma]. Você tem que ter uma pessoa para levar seu perfil e seu currículo a quem vai te nomear. Senão, não adianta. Agora, também não posso me desmerecer a esse ponto: eu tinha um tremendo currículo, 17 livros publicados.”
“Eu sou amigo dele e também da mulher dele. E ele levou meus currículos [para Dilma]. Você tem que ter uma pessoa para levar seu perfil e seu currículo a quem vai te nomear. Senão, não adianta. Agora, também não posso me desmerecer a esse ponto: eu tinha um tremendo currículo, 17 livros publicados.”
VolteiÉ patético ter de ler um ministro do Supremo a confessar que ficou cabalando votos junto a pessoas influentes para que, afinal, seu currículo fosse considerado. É evidente que jamais deveria ter pedido o auxílio de Dirceu. É evidente que jamais deveria ter se reunido com João Paulo…
O dado mais espantoso dessa história toda é que os próprios petistas admitem, por linhas tortas, que estavam tentando fraudar a independência do STF. A assessoria de Dirceu vaza que houve mais de um encontro. O deputado Cândido Vaccarezza, presente ao encontro do agora ministro com João Paulo, dá a entender que se tratou, sim, do mensalão!
Os petistas estão num operação para desmoralizar Fux e pespegar nele a pecha de traidor. E não têm nenhum receio de confessar que estavam armando uma conspirata para fraudar a evidência dos autos e dos fatos.