domingo, 2 de dezembro de 2012

Fux vira alvo da artilharia pesada de Dirceu e admite que levou seu currículo para aquele que o STF, inclusive o próprio ministro, considerou corruptor e quadrilheiro



Se querem saber por que o Brasil ainda está longe de ser uma República, leiam o vasto material que há hoje da Folha sobre a indicação do ministro Luiz Fux para o Supremo Tribunal Federal. Ele próprio fala longamente e diz coisas constrangedoras. Patéticas até. Fux decidiu falar porque os petistas estão fazendo a sua caveira nos bastidores, especialmente junto à imprensa. O mínimo que dizem é que ele foi nomeado porque havia prometido inocentar os mensaleiros. Uma vez no cargo, fez o contrário: é o único membro da corte que praticamente não divergiu do relator e agora presidente do Supremo, Joaquim Barbosa.  Fux esteve com José Dirceu e com João Paulo Cunha, dois dos condenados à cadeia, à época apenas réus. Admite que a sua possível nomeação foi debatida. Mais: encontrou-se também com a mulher de Dirceu, que é diretora do jornal “Brasil Econômico”. Agendou-se uma entrevista de cinco páginas… Vou criticar as falas de Fux, mas, antes, vai um elogio.
Se os petistas estavam absolutamente certos de que Fux votaria com eles e se só pressionaram por sua nomeação com esse objetivo, impõem-se duas conclusões ditadas pela lógica:
a: dado que ele era considerado um dos candidatos possíveis para o cargo e que tinha currículo para tanto, não teria sido nomeado se não tivesse feito, então, a cena;
b: se nomeado foi e se não está votando conforme os petistas esperavam, deve-se concluir, ao menos, que os companheiros não têm como chantageá-lo, o que não deixa de ser um boa notícia.
Máquina de desqualificaçãoAlertei aqui, outro dia, que os ministros do STF tinham de se cuidar porque teria início uma onda de desqualificação. Luiz Fux é só primeiro. Outros virão. O que é mais espantoso nessa história toda é que petistas afirmam ou sugerem que o mensalão foi, sim, tema do encontro com Fux. Vale dizer: antes mesmo que o ministro fosse indicado, já se cuidava de tentar fraudar a Justiça.
Reproduzo trechos da entrevista que Fux concede a Mônica Bergamo na Folha de hoje. Tudo é bastante vexatório para ele, para o STF, para a Justiça brasileira, para o país. Leiam. Volto em seguida.
(…)
ANTÔNIO PALOCCI
“Na primeira vez que concorri, havia um problema muito sério do crédito-prêmio do IPI que era um rombo imenso no caixa do governo. Ele era ministro da Fazenda e foi ao meu gabinete [no STJ]. Eu vi que a União estava levando um calote. E fui o voto líder desse caso. Você poupar 20 bilhões de dólares para o governo, o governo vai achar você o máximo. Aí toda vez que eu concorria, ligava para ele.”
DELFIM NETTO
“Em 2009, participei com ele de um debate sobre ética, sociedade e Justiça. Fizemos uma amizade, batemos um papo. E aí comecei a estreitar. Porque, claro, alguém me disse: “Olha, o Delfim é uma pessoa ouvida pelo governo”. Aí eu colei no pé dele [risos].”
STEDILE
“Ele me apoia pelo seguinte: houve um grave confronto no Pontal do Paranapanema e eu fiz uma mesa de conciliação no STJ entre o proprietário e os sem-terra. Depois pedi a ele para mandar um fax me recomendando e tal. Ele mandou.”
SERGIO CABRAL
“Eu sou amigo dele e também da mulher dele. E ele levou meus currículos [para Dilma]. Você tem que ter uma pessoa para levar seu perfil e seu currículo a quem vai te nomear. Senão, não adianta. Agora, também não posso me desmerecer a esse ponto: eu tinha um tremendo currículo, 17 livros publicados.”
VolteiÉ patético ter de ler um ministro do Supremo a confessar que ficou cabalando votos junto a pessoas influentes para que, afinal, seu currículo fosse considerado. É evidente que jamais deveria ter pedido o auxílio de Dirceu. É evidente que jamais deveria ter se reunido com João Paulo…
O dado mais espantoso dessa história toda é que os próprios petistas admitem, por linhas tortas, que estavam tentando fraudar a independência do STF. A assessoria de Dirceu vaza que houve mais de um encontro. O deputado Cândido Vaccarezza, presente ao encontro do agora ministro com João Paulo, dá a entender que se tratou, sim, do mensalão!
Os petistas estão num operação para desmoralizar Fux e pespegar nele a pecha de traidor. E não têm nenhum receio de confessar que estavam armando uma conspirata para fraudar a evidência dos autos e dos fatos.
Por Reinaldo Azevedo

Anvisa, a praga dos sete anos



As recentes denúncias de irregularidades praticadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no registro de produtos fitossanitários, vulgarmente conhecidos por agrotóxicos ou defensivos agrícolas, são apenas a ponta mais visível do iceberg de ineficiência dessa agência que tem empacado o agronegócio.


O uso desses produtos não é uma opção. É uma imposição para proteger a nossa agricultura tropical das pragas e das ervas daninhas, assim como é fundamental para melhorar a produtividade das lavouras, em qualquer parte do planeta. ...


Mas, no Brasil, a agência reguladora trabalha sem transparência e a passos de cágado, fingindo desconhecer os prejuízos impostos ao produtor, a ponta mais frágil desse mercado gigantesco que movimenta US$ 50 bilhões por ano ao redor do mundo.


Defendo a rigidez da regulação e da fiscalização desses produtos e que o seu uso siga as recomendações aprovadas pelo órgão oficial, com prescrições feitas por profissional habilitado. A análise, a aprovação e a regulamentação dos fitossanitários devem proteger os agricultores e os consumidores de qualquer risco à saúde, em primeiro lugar.

Mas o que temos observado, nas últimas décadas, são centenas de processos abarrotando as gavetas da Anvisa. A duras penas, obtivemos uma vitória importante, quando a presidente Dilma Rousseff chefiava a Casa Civil e escalou sua assessora e hoje ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, para trabalharmos juntas.


Enfrentamos o cartel e mudamos um decreto da Anvisa, separando os pedidos de registro de fitossanitários em duas filas: a de produtos novos e a dos genéricos, em geral 50% mais baratos.

Antes da mudança, os genéricos não saíam do fim da fila. Os produtos novos tinham preferência para impedir a concorrência e garantir a sobrevivência do cartel do setor. Mas esse avanço acabou sendo consumido pela burocracia dessa sofisticada organização que atravessa governos.


Uma resistente "praga dos sete anos" assola a Anvisa.

Hoje, tanto a liberação de uma nova fórmula de defensivo, que exige rigorosa série de estudos e testes de campo, quanto a mera análise de um genérico, que já passou por todo o processo de avaliação toxicológica, demandam o mesmo tempo para receber o parecer técnico.


É inadmissível que sejam necessários os mesmos sete anos para liberar um produto novo ou um genérico, com prejuízos irreparáveis para toda a cadeia produtiva.

Não há justificativa técnica para que 600 pedidos de registros de genéricos idênticos à fórmula original estejam parados, punindo os nossos produtores, que gastam, anualmente, R$ 15 bilhões em defensivos agrícolas.


Os números ganham ainda mais relevância diante do peso expressivo dos defensivos no custo de manutenção das mais diversas culturas, das hortaliças aos grãos. No acumulado deste ano, as exportações de soja geraram R$ 50 bilhões em vendas.


Como defensivos representam 16% no custo de produção da soja e os genéricos que aguardam liberação teriam impacto de pelo menos cinco pontos percentuais nesse custo, os nossos produtores já poderiam ter economizado ao menos R$ 2,5 bilhões em 2012.


Não é de hoje que alerto sobre irregularidades na Anvisa. Em 2007, adverti que havia corrupção, proteção, lobby, reserva de mercado ou qualquer outro nome que se quisesse dar ao favorecimento de empresas, por parte de servidores da Gerência-Geral de Toxicologia.


O fiz de público, na CAS (Comissão de Assuntos Sociais). Denunciei a existência de um esquema para proteger empresas e impedir o registro de genéricos. Dirigentes indignados tentaram até me processar por calúnia.


A anunciada devassa em todos os processos que ingressaram no setor de agrotóxicos da Anvisa, de 2008 para cá, traduzem o porquê da recusa do Ministério Público em acatar a denúncia contra mim, entendendo que estava no livre exercício do mandato parlamentar.


Ainda não inventaram melhor defensivo contra essa praga chamada corrupção do que a democracia.

* Kátia Abreu é senadora pelo PSD-TO e presidente da Confederação Nacional de Agricultura (CNA)
Fonte: Brasil247 - 02/12/2012

Estudante com síndrome de Down é a 1ª do Brasil a se matricular em curso de direito



Jovem mineira portadora de síndrome, que trabalha como caixa de supermercado, é a a 21ª pessoa no Brasil e a primeira em Minas Gerais a se matricular em uma faculdade

“As pessoas me olham de um jeito estranho, como se eu fosse diferente”, percebe Aline. A professora se admirou quando, ainda criança, ela foi a primeira a aprender a ler em uma turma de escola regular. Muita gente se espanta ao descobrir que a moça acorda antes de o sol nascer e, sozinha, pega dois ônibus para chegar ao trabalho. Quem a conhece, porém, não se surpreende ao saber que ela quer estudar para ser advogada. Aos 25 anos, Aline Hélio Figueiredo Terrinha é a primeira pessoa com síndrome de Down a se matricular em um curso de direito no Brasil. ...


Até hoje, apenas 20 pessoas com a síndrome, classificada como doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ingressaram no ensino superior no país, segundo levantamento da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down (Febasd). Os cursos mais procurados foram educação física (quatro estudantes) e pedagogia (três). O Rio Grande do Sul é o estado campeão em número de universitários (quatro), seguido por São Paulo (três). Aline será a 21ª da lista, a primeira mineira. “Direito é um curso mais exigente, o estudante tem que ler muito. Ficamos felizes com a iniciativa da Aline”, diz a presidente da Febasd, Maria de Lourdes Marques Lima.


Em seu primeiro vestibular, Aline foi aprovada para ingressar em uma faculdade particular em Belo Horizonte. As aulas começam em 1º de fevereiro de 2013. No entanto, a moça não conseguiria pagar a mensalidade de R$ 650. “É quase meu salário”, explica. Ela tentará obter uma bolsa pelo Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), programa federal mantido pelo Ministério da Educação. Se tudo der certo, frequentará as aulas à noite, depois de sair do supermercado no qual é atendente de caixa. Ela precisaria abandonar o curso de auxiliar administrativo, iniciado em maio, pois passaria a ter poucas horas de sono, já que precisa acordar às 5h para chegar ao trabalho.

A moça mora com os pais e uma irmã em uma casa simples no Bairro Bela Vitória, Região Nordeste. Por volta das 5h40, pega o primeiro ônibus e desce no Centro, onde toma outro até o supermercado, no Bairro Funcionários, Região Centro-Sul. O expediente não tem horário exato para terminar, geralmente entre as 18h e as 19h. Por causa da rotina corrida, a mãe, Regina Figueiredo Terrinha, não queria que a filha estudasse à noite. “Pra ser sincera, sou contra. Fico com muito dó de ela trabalhar o dia todo e depois ainda ter aula. Vai ser uma maratona muito puxada. Mas ela é bem cabeça dura: quando quer, quer mesmo”, resigna-se a mulher, que tem 56 anos e é auxiliar de enfermagem. Aline está decidida: “Sei que é um curso difícil, mas se tiver força de vontade, perseverança, a gente consegue, na força de Deus”.

Caçula de quatro irmãos, Aline poderá ser primeira da família a ter diploma de nível superior. Ela nasceu em Montes Claros, no Norte de Minas, a 424 quilômetros da capital. Com 4,6 quilos e 56 centímetros, era maior do que costumam ser bebês com síndrome de Down. O diagnóstico da doença foi difícil. “Um pediatra chegou a dizer que ela não tinha Down”, lembra a mãe. Os cabelos, geralmente finos e lisos, são crespos em Aline. Com o tempo, porém, algumas das características típicas se tornaram evidentes, como os olhos com pálpebras oblíquas para cima e a face mais plana. Manifestou também outro traço habitual: um problema na visão. “O olho direito quase não enxergava. Ela fez uma cirurgia, mas, por causa de um erro médico, precisou retirar (o globo ocular)”, conta Regina. No lugar, implantou-se uma prótese de silicone.


Convivência com o preconceito

Todavia, não se notou em Aline um dos sintomas mais corriqueiros: o déficit de desenvolvimento intelectual. “Nunca a diferenciei dos outros filhos. Cuidei dela sem frescura. Nunca tive tempo de ficar paparicando ninguém; trabalhava demais”, conta a mãe. Matriculada em uma escola regular, ela foi a primeira da sala a aprender a ler. “A professora se surpreendeu. Até eu me surpreendi. Não era tão estudiosa, mas nunca levou bomba, sempre teve boas notas”, ressalta Regina. No histórico escolar, as melhores notas era alcançadas em história, português, filosofia e sociologia. Apesar do bom desempenho, sofria preconceito dos colegas. “Eles me tratavam mal, me humilhavam, falavam que eu tinha problema, que era feia, que era demônio. Ser rejeitado é ruim demais”, diz Aline.


Ela concluiu o ensino médio em 2005, chegou a fazer cursinho pré-vestibular, pensava em tentar entrar na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Mas não me preparei muito bem. Não estava muito interessada. Quis descansar um pouco a cabeça depois de tantos anos de escola”, explica. Em 2008, ela decidiu procurar um emprego. “Queria minha independência financeira, conhecer pessoas diferentes.” Indicada pelo Serviço de Proteção Social à Pessoa com Deficiência, mantido pela Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social de BH, Aline conseguiu uma vaga em um supermercado. Começou na salsicharia, embalando embutidos. Depois, tornou-se empacotado e, afinal, foi para o caixa.


No trabalho, apesar de a funcionária ser eficiente, o preconceito persiste. “Uma vez, uma cliente disse que eu era lerda, tinha problema, não podia trabalhar ali. Foi até reclamar com o gerente”, recorda. Sem querer se identificar, uma colega confirma a discriminação. Alguns clientes do supermercado, quando podem escolher, evitam usar o caixa da moça. “Mal sabem eles que a Aline, mesmo sendo especial, é a única entre as caixas com conhecimento e preparo suficiente para fazer uma faculdade”, diz a colega. Aline chegou a pensar em cursar medicina veterinária, mas acabou se decidindo pelo direito. “Quero advogar. Quando estiver bem fera na área, quero entrar na Promotoria de Justiça”, ambiciona.

LIVROS
Aline tem qualidades caras a um bom advogado. Expressa-se com segurança, tem cuidado ao escolher as palavras. No começo da conversa, ela parecia tímida, mas logo desandou a falar. “Essa fala mesmo, igual pobre na chuva”, brinca a mãe, rindo. Nas horas vagas, a filha gosta de ler, sobretudo livros de história. Atualmente, está lendo Cartas para Hitler, de Henrik Eberle, que reproduz a correspondência enviada ao ditador e narra, a partir dela, a ascensão e a queda do nazismo. Foi um dos cinco livros que ela ganhou de presente de um cliente do supermercado. Aline é fã dos enredos misteriosos de Agatha Christie e adora o romance Capitães da areia, de Jorge Amado. “A história me chamou a atenção. As crianças que viviam na rua eram humilhadas, tratadas pior do que bicho”, narra.


Outra paixão são as artes plásticas. Ela frequenta o Palácio das Artes, no Centro, cujos funcionários já a reconhecem. Nas últimas férias, em outra galeria, visitou a exposição Caravaggio e seus seguidores e se deliciou com as obras do pintor italiano. Também gosta muito de ouvir música sertaneja e de torcer pelo Atlético. Satisfeita, sorri ao descobrir que seria a primeira pessoa com síndrome de Down a cursar direito, mas enfatiza não querer provar nada: “Sei o que sou, não tenho que dar satisfação. Não sou diferente de ninguém”. A iniciativa de Aline deve “abrir caminhos”, avalia Maria de Lourdes, presidente da Febasd: “Ela serve de exemplo para toda a sociedade, que deve respeitar mais quem tem a síndrome. Queremos parabenizar Aline. Que ela desempenhe bem suas atividades e brilhe muito, para orgulho de todos nós”.
Fonte: Correio do Centro-Oeste - 02/12/2012

Na cama com Dilma!



- Charge do Angeli, via Folha.

Paulo Vieira tornou-se um milionário em 8 anos



Em 2004, quando disputou pelo PT uma cadeira de vereador na cidade paulista de Gavião Peixoto, Paulo Veira dispunha de um patrimônio de 135 mil. Incluiam-se nessa cifra um automóvel Renault Scenic (R$ 35 mil) e um apartamento no bairro paulistano do Butantã (R$ 70 mil).
Nessa época, Paulo trabalhava na Controladoria Geral da União. Recebia R$ 6,9 mil mensais do contribuinte para perscrutar as contas da Cia. Docas de São Paulo, vinculada à pasta dos Transportes, à procura de malfeitos. De repente, o companheiro decidiu fazer a vida.
Ele se deu conta de que aquela vontade de servir à sociedade, aquele ímpeto de proteger o bem público, tudo isso era impulsionado pela única invenção humana capaz de virar a cabeça do homem –o dinheiro. Decorridos oito anos, Paulo é um milionário. E frequenta o inquérito da Operação Porto Seguro como “chefe” da quadrilha.
Os repórteres Thiago Herdy e Marcelle Ribeiro informam: Paulo agora se locomove numa Range Rover de R$ 300 mil, resigstrada em nome de uma faculdade que ele abriu em Cruzeiro (SP) . Ao apartamento de R$ 70 mil adicionaram-se ao menos mais sete imóveis. Entre eles um imóvel brasiliense adquirido por R$ 1,5 milhão em moeda sonante e um apartamento na bairro de Perdizes, na capital paulista –coisa de R$ 515 mil.
A prosperidade levou Paulo a flertar com a ideia de abandonar o serviço público. Escutado pela PF, soou assim num grampo em que dialogava com a mãe: “Eu não pretendo ficar mais no serviço público não, viu? Pretendo não, ganho muito pouco!” O pouco a que se referia era o contracheque de R$ 23,8 mil que recebe desde 2010, quando Rosemary Noronha, a Rose, convenceu Lula a nomeá-lo diretor de Hidrologia da Agência Nacional de Águas.
Além do salário, pingava-lhe na conta um jeton de R$ 2,7 mil referente à cadeira que ocupava no conselho da Cia. Docas de São Paulo. “Para o meu padrão, para o meu patrimônio… eu já tenho um patrimônio bom que eu posso me manter”, disse Paulo na conversa com a mãe.
A PF escutaria Paulo noutro grampo impregnado de ironia. Num diálogo com o irmão Rubens Vieira, afastado da diretoria de Infraestrutura da Agência Nacional de Aviação Civil, o companheiro espantou-se com a descoberta de que o ex-impoluto senador Demóstenes Torres relacionava-se com Carlinhos Cachoeira.
“Eu vou escrever minha tese de mestrado de Filosofia sobre esse caso do Demóstenes. Tava pensando aqui, vou discutir essa questão do conceito de ética, como é que a sociedade tá enfrentando isso no momento contemporâneo. Esse caso dele é simbólico demais, parece que ele criou uma dupla personalidade, né?”
Agora, Paulo dispõe de matéria prima muito mais rica. Pode incluir em sua tese de mestrado a história de um servidor que, tendo sido contratato para proteger o erário, resolveu dar azo ao lado salteador de sua personalidade, vinculando-se a personagens como o pluri-encrencado Valdemar Costa Neto. Se prestar atenção às sentenças do STF, perceberá que a sociedade começou a enfrentar tudo isso com os rigores da lei.

Justiça do Trabalho condena ex-funcionária a indenizar antigos patrões por ofensas na web


 

Oposição quer saber de Cardozo por que PF retardou investigação e não grampeou Rose - Josias de Souza


Convidado a prestar esclarecimentos na Câmara e no Senado, o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) ouvirá de congressistas da oposição dois questionamentos bem específicos. Num, o ministro da Justiça será instado a explicar por que a Polícia Federal esperou passar a eleição municipal para deflagrar a Operação Porto Seguro. Noutro, será inquirido sobre as razões que levaram a PF a poupar Rosemary Noronha, a Rose, da interceptação telefônica e do monitoramento da correspondência eletrônica.
“Aparentemente, eles atrasaram a operação em função da campanha eleitoral”, diz Alvaro dias (PR), líder do PSDB no Senado. “Isso precisa ser explicado. Se for verdade que a Rosemary não foi grampeada, isso também terá que ser explicado. Não há justificativa para o não grampeamento dela.”
Iniciada em fevereiro de 2011 a partir de uma denúncia do ex-auditor do TCU Cyonil Borges Júnior, a investigação da máfia dos pareceres só produziu prisões e indiciamentos há dez dias. Em 23 de novembro, quase um mês após o segundo turno das eleições, os agentes da PF foram ao meio-fio para cumprir os mandatos judiciais de detenção e de busca e apreensão de papéis e computadores.
Antes, a juíza federal Adriana Zanetti autorizara a quebra dos sigilos de telefones e de e-mails dos irmãos Paulo e Rubens Vieira, diretores afastados da Agência Nacional de Águas e da Agência Nacional de Aviação Civil. Escutando-os e lendo-os, a PF verificou que os dois relacionavam-se com Rose, a ex-chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo. A praxe indicaria que também os telefones e a caixa de e-mails da parceira dos Vieira deveriam ter sido monitorados.
Num primeiro momento, noticiou-se que Rose fora grampeada. Porém, Cardozo informou a Dilma Rousseff que ela não chegou a passar pelo constrangimento. Daí o interesse da oposição pelo tema. Rumina-se a suspeita de que os telefones de Rose tenham sido preservados em função da proximidade dela com Lula.
Deseja-se esclarecer, de resto, outro ponto nebuloso da operação. Veiculou-se que, na batida que deu no escritório paulista da Presidência, a PF se absteve de recolher o computador de Rose. Ela teria rodado a baiana. E os agentes preferiram apenas copiar os arquivos de sua máquina.
Alvaro Dias acha estranho: “Em qualquer outro lugar, levariam o computador e a dona iria junto, seria detida por desacato. Foi noticiado que Rosemary telefonou para o José Dirceu no momento da ação policial. Em relação a ela, aparentemente, houve um tratamento atípico. O que não parece razoável.”
No Senado, o convite para ouvir Cardozo foi aprovado na Comissão de Justiça. A data do depoimento do ministro ainda não foi marcada. Na Câmara, o requerimento foi aprovado na Comissão de Fiscalização Finaneira e Controle. Ali, o ministro deve ser ouvido nesta terça-feira (4), numa audiência conjunta com a Comissão de Segurança Pública, que já havia convidado Cardozo para tratar de outro tema: o surto de violência em Estados como São Paulo e Santa Catarina.

Braço-direito, uma maldição em governos do PT


Para especialistas, burocracia estatal leva auxiliares a vender favores


BRASÍLIA — Primeiro foi Waldomiro Diniz, então braço-direito de José Dirceu. Um ano depois, foi a vez do próprio Dirceu, principal ministro do presidente Lula. Até a presidente Dilma Rousseff enfrentou de perto a maldição do número dois, quando Erenice Guerra, sua assessora mais próxima durante oito anos, foi pega em traficâncias suspeitas. Nos últimos dez anos, com frequência alarmante chegam às páginas notícias de que o principal assessor de uma alta autoridade do governo federal foi pego em irregularidades.
Há dez dias, foi a vez de Rosemary Noronha chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo e do advogado-geral adjunto da União, José Weber de Holanda, serem acusados de participar de uma quadrilha que negociava pareceres de órgãos federais. Rosemary ganhou o cargo pelas estreitas ligações que mantinha com o ex-presidente Lula, e foi mantida pela presidente Dilma. Segundo aliados, a primeira declaração de Lula teria sido semelhante à de quando seu governo foi pego no mensalão: “Eu me senti apunhalado pelas costas...”.
Se ainda é difícil mensurar o impacto do caso sobre a popularidade de Lula e de Dilma, o mesmo não se pode dizer em relação ao ministro-chefe da Advocacia-Geral da União, Luís Inácio Adams. Até duas semanas atrás, Adams vinha sendo considerado o mais influente ministro de Dilma, com trânsito livre no Palácio do Planalto e cotado para assumir desde a Casa Civil até uma cadeira no Supremo Tribunal Federal. O envolvimento de seu principal assessor no esquema evaporou seu prestígio.
De uma forma ou de outra, a maioria dos casos passa pela venda de facilidades ou de influência junto ao governo. Autor do livro “Capitalismo de laços”, o professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Sérgio Lazzarini vê na burocracia estatal a raiz do problema.
— A iniciativa privada quer duas coisas: participar dos projetos do governo e também que os problemas dela sejam resolvidos. No Brasil tudo é muito regulado, você vai construir um prédio e precisa ter não sei quantos alvarás, não pode cortar árvore sem autorização. Então, essas pessoas acabam agindo como facilitadoras de todos esse processo. Para a iniciativa privada, ter um conhecido na burocracia que vai agilizar um processo pode ser uma grande fonte de vantagem — explica.
A existência de 22 mil cargos de livre nomeação no governo permite que militantes políticos sem qualquer compromisso com o Estado assumam posições decisivas. Na opinião do cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília, esse aparelhamento explica casos de corrupção:
— Quando você abre a porta e deixa um zé-ninguém atuar, com a nomeação de militantes incompetentes e corruptos, acaba abrindo um flanco muito amplo para problemas no seu governo. Você tem o caso da Rose que queria emplacar o marido, mas como ele não tinha diploma e o cargo exigia, ela apelou ao Paulo Vieira e comprou um diploma falso.
Lazzarini lembra que pouco se fala em simplificar as regulações do Estado, o que diminuiria o espaço para as ações de tráfico de influência:
— O processo mais transparente é menos propenso a ter corrupção. Quando você tem um emaranhado grande, obviamente você tem que saber com quem vai falar. Há uma tendência de se blindar os caciques e deixar para os assistentes fazerem a intermediação. Então, a Dilma faz a faxina e coloca pessoas com capacidade no topo, mas embaixo ficam essas pessoas que vão servir para articular os favores.

Manter regra contra nepotismo é o desafio de Joaquim no CNJ


Proibição de contratar parentes em tribunais deve voltar à pauta


Pensador. Joaquim enfrentará o questionamento da abrangência da norma Foto: Givaldo Barbosa/27-11-2012
Pensador. Joaquim enfrentará o questionamento da abrangência da normaGIVALDO BARBOSA/27-11-2012
BRASÍLIA No comando do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, tem pela frente um grande desafio: tentar manter a regra que proíbe o nepotismo em tribunais de todo o país. A norma está sob ameaça. Na análise de recursos de servidores, depois de dois votos no CNJ para flexibilizar a regra, houve pedido de vista, e o assunto pode voltar à pauta.
Em 2005, o CNJ baixou resolução proibindo os tribunais de contratarem parentes de juízes ou servidores para cargo de confiança. No entanto, começaram a chegar ao Conselho processos de pessoas dispensadas pelos tribunais questionando a abrangência da norma. Em junho de 2011, o conselheiro Jorge Hélio levou ao plenário o caso de uma funcionária dispensada do Tribunal de Justiça gaúcho. Jorge Hélio votou contra o pedido. O ministro Cezar Peluso, que presidia o Conselho, pediu vista. Em abril deste ano, Peluso voltou o caso ao plenário e votou a favor da servidora. O conselheiro Carlos Alberto Reis de Paula, ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST), pediu vista. Devolveu o processo em outubro, com voto igual ao de Peluso. Temendo o esvaziamento da regra do nepotismo, o corregedor do CNJ, ministro do Superior Tribunal de Justiça Francisco Falcão, pediu nova vista. A intenção é devolver o processo ao plenário na gestão de Joaquim. São 15 conselheiros, contando com o presidente.
Punição de juízes e debate sobre salários em discussão
Boa parte dos integrantes do CNJ já sinalizou que pretende abrir brechas à resolução que vetou o nepotismo no Judiciário. Mas um grupo de conselheiros aposta que Joaquim Barbosa conseguirá reverter a tendência.
— Eu tenho esperança de que o ministro Joaquim Barbosa possa, com a capacidade e a liderança dele, brecar essa pauta corporativa. O CNJ a duras penas construiu a sua imagem. Ele não pode agora jogar por água abaixo essa imagem — disse o conselheiro Bruno Dantas, indicado pelo Senado para compor o órgão.
— O combate à corrupção passa pela diminuição da nomeação de parentes — concordou Jorge Hélio, representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Conselho.
Joaquim ainda não declarou quais serão suas prioridades na condução do CNJ e encontrará ainda um órgão dividido: enquanto parte dos integrantes quer priorizar o julgamento de processos disciplinares contra juízes, outros preferem que a instituição se dedique a cuidar de pleitos da corporação, como aumento de salário.
Para Jorge Hélio, o Conselho precisa focar, além da proibição completa ao nepotismo, o julgamento de processos disciplinares contra juízes que cometeram faltas disciplinares.
— No último congresso do Conselho, pautamos o combate à corrupção e celeridade nessas ações como prioridade de 2013. Para mim, está no mesmo kit o combate ao nepotismo de todas as formas.
Bruno Dantas concorda:
— Precisamos definir que a regra do nepotismo continua com a mesma rigidez. Tenho a preocupação de que o CNJ retroaja dez anos e mitigue a regra do nepotismo.
O ministro Carlos Alberto, por exemplo, defende outra pauta para o Conselho.
— O CNJ não existe para controle externo de juiz. Ele existe para fazer supervisão orçamentária, financeira e administrativa do Judiciário. A função de fiscalizar é subsidiária. Isso não pode ser priorizado — afirmou.
Carlos Alberto defende que o CNJ priorize melhorias na carreira da magistratura e reajustes salariais para a categoria.
— Isso é obrigação do CNJ, não do Supremo. O ministro Joaquim é homem de bem e ele tem inteligência. Espero que ele faça a leitura correta dos fatos. O STF é guardião da Constituição, mas quem cuida da política do Poder Judiciário é o CNJ. Há milhares de coisas que a gente podia fazer. Não só a política salarial. Nós não somos mercenários, mas temos o direito de ganhar bem. Há seis anos não temos reajuste — lamentou
.

O dilema da gerentona Dilma Rousseff, por Elio Gaspari

Elio Gaspari, O Globo
Seria bom se fosse possível dizer que o governo da doutora Dilma tem tolerância zero com malfeitos. Há uma distância oceânica entre sua administração e a de Nosso Guia, mas tolerância zero é conversa fiada.
Na segunda metade do mandato, seu desafio será mostrar a diferença entre suas atitudes reativas e uma verdadeira política moralizadora do governo e da nação petista. Ou o PT acaba com seus esquemas ou esses esquemas acabam com o PT, produzindo uma sucessão presidencial demarcada pelo debate da corrupção.
Essa poderá ser a derradeira e benfazeja contribuição dos companheiros à política nacional. Quem pensa que o moralismo produzirá um novo Fernando Collor, engana-se. Produzirá um Joaquim Barbosa, sem conexões com a plutocracia ou acordos com usineiros.
No caso das Bolsas Consultorias do ministro Fernando Pimentel (R$ 2 milhões ao longo de dois anos), o Planalto blindou-o e alterou a composição da Comissão de Ética Pública da Presidência, que viria a arquivar o caso com argumentos constrangedores.
A quadrilha dos irmãos Vieira, que tinha um pé na sala da chefe do escritório da Presidência em São Paulo, mostra que o Planalto protegeu os malfeitores atropelando os mecanismos de defesa do Estado.
O baiano Paulo Vieira, ex-diretor da Agência Nacional de Águas, filiou-se ao PT de São Paulo em 2003, no primeiro ano de governo de Lula.
No ano seguinte, tentou ser vereador em Gavião Peixoto, mas não se elegeu. Em 2005, foi nomeado assessor especial de controle interno do Ministério da Educação. Em 2009, seu nome foi enviado ao Senado para ocupar uma vaga na diretoria da Agência Nacional de Águas. Foi rejeitado.
A boa norma determinava que a indicação fosse esquecida. O Planalto empurrou-o goela abaixo.
A essa época, Vieira já traficava interesses milionários do ex-senador Gilberto Miranda com o auditor Cyonil Borges, do TCU. Entrara também na rede de Rose Noronha. O nome da companheira aparecera numa lista de servidores que usavam cartões corporativos. Sua despesa, banal, fora de R$ 2.100, mas os comissários blindaram sua ida ao Congresso. Preferiram xeretar as despesas de Ruth Cardoso, para depois pedirem desculpas.
Paulo Vieira tratava dos interesses das ilhas do ex-senador Gilberto Miranda, operando nas agências reguladoras e monitorando a boa vontade de burocratas, oferecendo-lhes “mel na chupeta”.
Na operação de Vieira estava José Weber Holanda, o segundo homem da Advocacia Geral da União. Ele estivera no INSS, deixando seis procedimentos administrativos no seu rastro.
Em 2008, a Controladoria Geral da União estranhara a acumulação patrimonial do doutor e pedira a quebra do seu sigilo bancário. A Justiça Federal de Brasília negou o pedido, e o processo está parado.
Em 2011, no governo da doutora Dilma, Weber enganou o baronato da AGU. Estranha situação, pois, nessa época, um advogado da instituição cuidava do prosseguimento de um processo contra ele, travado por um mandado de segurança.
Em todos os episódios, os mecanismos de defesa do Estado foram esterilizados pela ação dos comissários. Até onde essa proteção deu-lhes uma sensação de onipotência e invulnerabilidade, só eles poderão dizer. Tomara que digam.
Não é esse o caso do ex-senador Gilberto Miranda. Ele ganhou a cadeira nos anos 90, com a mágica da suplência. Sua biografia tem abundantes referências à generosidade com que ajuda os amigos e ofende a Viúva.
Seus learjets eram uma espécie de táxis aéreos para notáveis de Brasília. Seu palacete francês no Jardim Europa valia US$ 4 milhões. Colecionou três Rolls Royces.
Tinha interesses na Zona Franca de Manaus e nas obras físicas para a rede de radares na Amazônia. Isso para não falar nas grandes aduanas do país. Referia-se ao presidente José Sarney como “Sassá” e teve um irmão no gabinete de Collor. Conhece as costuras dos bolsos da política brasileira.
Lendo-se os grampos da Operação Porto Seguro vê-se quão perto do comissariado Gilberto Miranda operava. Houve tempo em que ele dizia que “sou muito rico, não preciso de dinheiro”. Pelo visto, precisou e descobriu companheiros que também precisavam.

A República de Roses, por Mary Zaidan



Um favorzinho aqui, outro acolá. Nomeações, falsificações, tráfico de influência, e sabe-se lá mais o quê. Na semana em que a Suprema Corte encerrou a dosimetria das penas dos réus do mensalão, pela primeira vez decidindo mandar poderosos para a cadeia, a estrela foi Rosemary Noronha. Ou simplesmente Rose, ex-chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo, que se vangloria da intimidade com Lula, e que por 12 anos secretariou o agora condenado José Dirceu.
Perto dos crimes do mensalão, os “malfeitos” de Rose parecem pecadinhos, quase risíveis. Mas a naturalidade com que foram cometidos vai além da conhecida confusão do petismo entre o público e o privado. Expõe, em miúdos, como o PT apoderou-se do Estado.
O PT tem muitas Roses.
E o aval à prática veio de cima. Em 2004, a primeira-dama Marisa Letícia achou natural fazer nos jardins do Palácio da Alvorada uma estrela de cinco metros de diâmetro com sálvias vermelhas. Estrela, aliás, que continuava lá quando Dilma Rousseff assumiu a residência oficial.


A ex-ministra da Assistência Social de Lula, Benedita da Silva, também achou que podia ir rezar na Argentina à custa do erário. E o ex-ministro dos Esportes Orlando Silva pagou até tapioca com cartão corporativo, como se dele fora. Isso foi em 2008, quando se desbaratou a farra dos cartões que financiaram todo tipo de particulares com dinheiro do contribuinte.
Menos folclóricos e mais lucrativos foram o aporte milionário da Telemar, hoje Oi, para a Gamecorp, empresa do filho de Lula, ou os negócios da família Erenice Guerra, substituta de Dilma na Casa Civil e amiga da presidente. 
A lista de exemplos parece não ter fim.
Dilma foi rápida para demitir os citados no Rosegate, preservando a imagem de faxineira implacável. E antes que a água lhe roçasse o pescoço fez saber que pretende fechar os gabinetes da Presidência que ela própria criou em Belo Horizonte e em Porto Alegre.
O escritório de BH, que como o de São Paulo funciona em um andar de um Banco do Brasil cada vez mais dominado pelo governo de plantão, a presidente entregou para Sônia Lacerda Macedo, colega de ginásio e de armas. Nunca foi lá. Para o de Porto Alegre, que nem foi instalado, designou Cristian Raul Juchum em maio de 2011.
Os chefes regionais são remunerados mensalmente e nada fazem, pelo menos visível ao público pagante. Mas até Rose vir à tona, Dilma achava normal ter estruturas para atender a si nessas cidades, sob o argumento “republicaníssimo” de que nasceu em uma e fez política em outra.
Ou seja, por mais que finja tentar, nem Dilma escapa da República de Roses.

Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa, @maryzaidan

HUMOR A Charge do Amarildo



CRÔNICA Cartas de Toronto: Um (ex-) prefeito em apuros



Os problemas políticos por aqui começaram em 1998 quando os subúrbios da grande Toronto foram incorporados à cidade de Toronto. Até hoje não entendo a decisão da província de Ontário em tentar unificar segmentos da população com desejos e necessidades tão distintos em um único município.
Na época, a proposta defendia o argumento de que convergência de municípios vizinhos economizaria $136.2 milhões por ano. Em 2012, ainda não foram tornados públicos os dados que confirmam a decisão.
Mas Toronto não é o tipo de cidade que vive de centavos, e tudo ia muito bem até o dia em que a bendita incorporação dos subúrbios resultou na eleição Robert Bruce Ford em 2010. Em menos de dois anos, o pesado e polêmicoRob Ford conseguiu aprofundar as diferenças entre a cidade e os subúrbios de uma forma nunca imaginada.
E aos poucos a polaridade se transforma em rivalidade na semana em que Ford recebe ordem judicial para empacotar seu gabinete e esvaziar o assento de prefeito da maior cidade do Canadá.
Ford é deposto após usar o papel timbrado e outros recursos da prefeitura para arrecadar fundos para a sua fundação privada de futebol americano.
$3.150 dólares (aproximadamente R$6.779), a petulância em não devolver o dinheiro e o voto a favor de si mesmo quando o conselho da cidade decidia o caso foram os fatos que levaram à sua condenação na última segunda.
A deposição do prefeito do subúrbio vem a separar ainda mais parcelas da população que fingiam se unir. Os eleitores de Ford veem a cassação do mandato do prefeito como ativismo judicial e dizem com todas as letras que a oposição encontrou uma brecha na legislação para arruinar o seu representante.
Já a oposição, em grande maioria eleitores urbanos, contam os dias para o good-bye final e já especulam nomes de candidatos e prefeitos substitutos.
Enquanto isso, Ford constrói um circo em torno de sua tragédia política. Logo após o anúncio da perda do mandato, o até então prefeito correu para a frente das câmeras para dizer que irá lutar com unhas e dentes para defender seu posto como representante eleito da cidade.
E os dias se passaram até que Ford tivesse coragem para convocar a imprensa novamente para uma desculpa pública, quando declarou estar ciente das consequências de suas ações.

 FordCountdown.comarte de Keith Grachow

E os $3.150, você me pergunta? Vão muito bem, obrigada. Muito bem depositados na conta corrente da Rob Ford Football Foundation.

Veronica Heringer é bacharel em Jornalismo pela PUC-Rio, mestre em Media Production pela Ryerson University e estrategista em marketing digital. Bloga noMadame Heringer.com e escreve para o Blog do Noblat aos domingos.

O preço da honra, por Gaudêncio Torquato



O roteiro é mais que conhecido. Desvenda-se a trama de tráfico de influência envolvendo quadros da administração pública em conluio com figuras dos negócios privados, indiciam-se e afastam-se implicados, abrem-se processos, os casos entram nos longos corredores da Justiça, sob o bumbo midiático e a ação de partidos interessados em tirar vantagem da celeuma.
Vejam o último episódio. A investigação que flagrou a ex-chefe do gabinete da Presidência em São Paulo, Rosemary Nóvoa de Noronha, usando o cargo para intermediar interesses assume proporções impactantes por apontar suas ligações com o centro do poder (o próprio Palácio do Planalto, onde trabalha a presidente Dilma), com o ex-presidente Luiz Inácio e outras figuras de relevo, como o ex-ministro José Dirceu, mas acabará no baú do esquecimento.
Pois os braços da lei, como é sabido, costumam deter e punir criminosos, mas são curtos para propiciar assepsia completa em costumes e práticas de agentes públicos. Ainda mais quando se sabe que o tráfico de influência está no topo de nossas mazelas desde os tempos em que o escriba Pero Vaz de Caminha, na carta do Descobrimento do Brasil, pedia ao rei a volta a Portugal de seu genro, degredado na África por ter roubado uma igreja e espancado o padre.
Abre-se a questão com esta pergunta: por onde começar o combate às formas de corrupção com origem no tráfico de influência? A resposta sugere que se comece pelo Judiciário, pelo nexo que se forma entre corrupção e sentimento de impunidade.
É generalizada a impressão de que fossem punidos de forma rigorosa corruptos de todos os calibres, o país abriria um novo capitulo em sua história. Daí ser alvissareira a promessa do novo presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, de continuar a devassa nos Tribunais, luta em que se engajou a ex-corregedora do Conselho Nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon.
A limpeza nos canais e corredores do Judiciário seria fundamental para a implantação de um abrangente programa de moralização nos vãos e desvãos dos Poderes, firmando a crença de que a ansiada meta de passar o país a limpo, até que enfim, será atingida.
E por onde deveria começar a faxina no Poder que administra a Justiça? Se o exemplo deve partir de cima, é razoável sugerir que os Tribunais mais elevados devem abrir a tarefa de moralização institucional.
De início, pelo menos três situações deverão ser contempladas pela nova agenda do Superior Tribunal de Justiça: a advocacia praticada por advogados parentes de magistrados; o patrocínio de empresas para encontro de juízes e a independência da magistratura.
O que deve ser levado em conta, qualquer que seja a circunstância, é a preservação da identidade do Poder que administra e distribui a justiça e que goza do mais alto conceito da sociedade.
Não se trata de proibir filhos de juízes de exercer o múnus nem de censurar organizações que tentem estreitar laços com o Judiciário, mas evitar que a equidade da Justiça seja rompida e desviada em benefício de uns em detrimento de outros, ameaça sempre presente quando operadores do Direito alteram ou se empenham para adulterar procedimentos sagrados do império legal.
O juiz independente, por sua vez, é aquele que ordena uma justa sentença, nos termos do filósofo Francis Bacon: “Deus costuma abrir o seu caminho elevando vales e abaixando montanhas; de maneira que, se aparecer, do lado de uma das partes, um braço poderoso, uma pressão violenta, astuciosas vantagens, combinações, poderes, grandes conselhos, nesse caso a virtude do juiz consiste em nivelar desigualdades para poder fundar sua sentença em um terreno plano”.
É difícil uma planta conservar sua pureza quando banhada por lodo e impurezas. Mas, urge lembrar, flores também nascem no pântano.
Uma das promessas não realizadas pela democracia, na lembrança de Bobbio, é o combate ao poder invisível, que floresce nos votos de escambo e permuta (fontes de mensalões), nas malhas intestinas da administração pública e em máfias de intermediação de negócios.
Os governos, por mais democráticos, não conseguem dar plena transparência às suas ações, robustecendo, assim, o “poder mascarado” que se ramifica nos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
Da tríade que se forma nas modernas democracias – tecnocratas, círculos de negócios e atores políticos – origina-se a maior parcela do produto nacional bruto da corrupção. Esta composição, a merecer rigorosa análise dos mecanismos de defesa da sociedade, exige sistemas ágeis para apurar denúncias e um Judiciário imune às pressões de cadeias particulares – algumas com ligações políticas - que intentam interferir em processos para obter vantagens.
Castas, seitas, grupos, corporações, núcleos profissionais podem, até, fazer pressão junto aos Poderes para fazer valer pontos de vista – sob a égide da livre associação e liberdade de expressão – mas a eles se impõe o dever de exercitar suas funções de maneira transparente, obedecendo a preceitos éticos e morais condizentes com os padrões civilizatórios.
No caso do instrumental da Justiça, maiores cuidados devem ser tomados. Afinal, a Justiça não pertence a nenhum campo, a nenhum partido, todos são moralmente obrigados a defendê-la.
Por último, é oportuno acrescentar que os focos de corrupção que se disseminam nos porões da administração pública se relacionam a outros fenômenos perversos, dentre os quais a burocracia e a mediocracia.
O primeiro se ampara num amontoado de leis e regulamentos, donde se originam veredas e desvios para as negociatas e dribles na Justiça. O segundo leva em conta a influência política para a indicação e ocupação de cargos públicos.
Perfis medíocres e quadros despreparados acabam integrando os pelotões de corrupção nas três instâncias federativas. O servilismo emerge, dessa forma, na sombra do favoritismo. Sob a bandeira da injustiça e da indignidade. É mais do que hora de resgatar o brasão dos justos, hoje alvo de escárnio: “Não há nada que pague o preço da honra”.

Gaudêncio Torquatojornalista, professor titular da USP, consultor político e de comunicação Twitter@gaudtorquato

Cordas vocais, por Dora Kramer


DORA KRAMER

02 de dezembro de 2012 | 2h 03

DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo
Não fosse a completa desmoralização do instrumento, seria o caso de o Congresso propor a criação de uma comissão de inquérito para investigar o esquema de corrupção envolvendo a Advocacia-Geral da União, o escritório da Presidência da República em São Paulo e agências reguladoras.
Mas como ninguém mais acredita em CPIs, a começar pelos parlamentares, tudo indica que seria proposta destinada ao fracasso. Assim perde-se o foro primordial para debate desse tipo de assunto e fica-se na dependência de "vazamentos" do inquérito policial para saber mais sobre o que aconteceu debaixo do nariz de uma presidente celebrada por aludido rigor ético.
É - ou pelo menos era - nas comissões de inquérito que os detalhes de episódios nebulosos podem vir à tona da maneira mais adequada em sociedades maduras: por intermédio do Legislativo no exercício de sua função de fiscalizar o Executivo.
Se o governo cala e o Parlamento por omissão consente, a tendência é que as ilicitudes cometidas no âmbito do poder público caiam no vazio e logo venham outras.
Quis o acaso que a Operação Porto Seguro revelasse as traficâncias da protegida número 1 de Lula e do número 2 da advocacia da Presidência com os irmãos Vieira, no momento em que o instituto das comissões de inquérito não vale uma Cibalena vencida.
Isso deixa o Congresso sem ação. Depoimentos seletivos desse ou daquele ministro ou mesmo de suspeitos podem render alguns momentos de glória para a oposição, mas acabam sendo palco para meras justificativas bovinamente aceitas pela maioria governista. Foi assim com os convocados na época da "faxina" em vários ministérios.
O Planalto por sua vez faz pose de impávido colosso com demissões inevitáveis e comissões de sindicâncias de eficácia questionável. O ex-presidente, avalista da atual governante, não se manifesta nem para negar que a amiga Rose estivesse autorizada a falar em seu nome para obter vantagens.
De onde as cordas vocais da sociedade estão nas comissões de inquérito. É por intermédio delas que as coisas chegam ao público sem subterfúgios. Consequências de escândalos só ocorrem quando há CPI.
Ou a denúncia de Roberto Jefferson teria ido adiante sem a comissão de inquérito? Mais provável é que o mensalão tivesse cumprido o rito da profecia de Delúbio Soares e fosse hoje nada além de uma piada contada nos salões da República.
Voltemos no tempo: Fernando Collor teria completado seu mandato não houvesse a CPI do PC Farias. Muitas comissões deram em coisa alguma, mas na ausência delas são diminutas ou quase nulas as chances de se elucidar determinados casos e fazer com que gerem resultados práticos.
Não obstante a gravidade das denúncias relativas a mais uma quadrilha atuante nos altos escalões do poder, o desmonte da força do Parlamento conspira contra a revelação da verdade dos fatos.
Voto aberto. A proposta do fim do voto secreto para cassação de mandatos parlamentares caminhou mais um passo.
O relator na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, deputado Alessandro Molon, deu parecer favorável à emenda que deve ir ao plenário no primeiro semestre de 2013.
Já aprovada no Senado, deve passar sem dificuldade. A não ser que haja mudança de orientação nas bancadas governistas se o Supremo deixar para a Câmara a palavra final sobre a perda dos mandatos dos parlamentares condenados.
Entreato. José Serra embarcou quinta-feira para Nova York para conversar na universidade de Colúmbia sobre uma série de palestras.
A política continua no horizonte, mas por enquanto o clima é de "curtir a indecisão" sobre o passo seguinte.