sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Palmeiras atordoado


 

O Palmeiras é um enigma difícil de decifrar. No atual Brasileiro, em que se sustém por um fio tênue, teve gol legítimo anulado e se calou; sofreu pênalti inexistente e fechou o bico; não viu marcada penalidade escandalosa em seu favor e se fez de folha; ficou com jogador a menos, por expulsão injustificada, e fingiu que a história não era com ele.
Enfim, acumulou um calhamaço de motivos para espernear por erros que ressaltaram a péssima campanha e ainda assim dormiu em berço esplêndido, à espera da reação que nunca veio. Na hora em que resolve agir, pois o laço no pescoço anda bem apertado e lhe falta ar, o faz de maneira que não condiz com a grandeza de sua quase história centenária.
No desespero diante do abismo do descenso, briga para anular um jogo que perdeu sem que houvesse maracutaia do rival. Que, é bom ressaltar, ganhou com lisura, na bola e por competência. A alegação para cancelar os 2 a 1 em favor do Internacional é a de que ocorreu erro de direito. Concentra esforços de advogados para reclamar que interferência externa influiu no resultado, uma vez que o juiz Francisco Nascimento voltou atrás na decisão de confirmar gol de Barcos depois de ouvir o quarto árbitro e o delegado da partida.
A discussão já seria bem polêmica por si só, daria muito pano pra manga, se o Palmeiras fosse vítima de mais um dos tantos equívocos de que se lamenta na Série A deste ano. Mas veste roupagem extravagante, fantasmagórica, constrangedora, porque se baseia na defesa de um gol marcado com a mão. Um soco acintoso do centroavante, com a intenção de levar vantagem sobre os adversários e de induzir a arbitragem ao engano. Para aliviar a dor na consciência, agora se alega que ele só meteu a munheca na bola porque sofreu carga de Índio!
Não vou entrar na discussão jurídica, que isso é trabalho para os profissionais da área. Reservo-me o direito de manifestar-me como simples cidadão, como amante radical do futebol, como frequentador dos estádios desde os 9 anos de idade e como jornalista há quase 40.
Vi recursos absurdos no esporte, para se chegar à vitória. Alguns deles ao vivo – como o gol de mão de Luis Fabiano no Mundial de 2010 -, e não aplaudi. Não sou dos que se encantaram com o gol da “mano de Dios” feito por Maradona contra os ingleses na Copa de 1986, nem com o gol de Túlio numa Copa América pra cima dos argentinos. Gol de mão é desonestidade, tão reprovável como o roubo. Futebol é picardia, astúcia, inteligência, criatividade, drible. Não gol de mão.
O hino do Palmeiras fala em “transformar a lealdade em padrão” e o que se pretende, agora, é renegar também este símbolo do clube. Se quisesse de fato fazer um bem ao futebol, a diretoria deveria pedir ao tribunal que apurasse a eventual ajuda eletrônica que corrigiu a gafe do apitador. Constatado o procedimento não reconhecido pela Fifa, que Francisco Nascimento e colaboradores (todos) fossem punidos. Uma lição de moral e ponto final.
Torcer pela remarcação do duelo é de virar o estômago do palmeirense puro-sangue, daquele que aprendeu a amar um dos maiores vencedores do futebol nacional, dos que sempre viram um Palmeiras altivo e valente e não compactuam com mesquinharias. É desonrar a memória dos nonnos que largaram a Itália e fincaram raízes aqui, na base de suor e lágrimas. E que fundaram o Palestra como emblema de sua perseverança.
Se é pra cair, que o Palmeiras caia com dignidade e volte forte. Mas que não tente a sobrevida na Série A apegando-se a um infame gol de mão.
Publicado no jornal “O Estado de S.Paulo” de hoje.

Ministério Público ameaça ir à Justiça para garantir baianas do acarajé na Copa



Rodrigo Durão Coelho (UOL)
O Ministério Público da Bahia ameaça ir à Justiça para garantir que as tradicionais baianas que vendem o acarajé na Fonte Nova não sejam impedidas de comercializar o produto no estádio e seus arredores durante a Copa do Mundo de 2014.
A Fifa quer que a comercialização de alimentos fique a cargo da empresa que vencer a licitação cujo resultado deve ser anunciado em novembro. Já a Secopa (Secretaria Estadual para Assuntos da Copa do Mundo) diz acreditar em uma solução que satisfaça os interesses de ambos os lados.
O promotor do MP Ulisses Campos, que é coordenador do Núcleo de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Ministério Público (Nudephac) enviou um documento para vários órgãos defendendo a presença das vendedoras no torneio.

Charge do Sponholz



O diretor da Petrobras que libera dinheiro público para amigos


Patrocínio


O gerente de patrocínios da Petrobras tem apelido de bicho bravo. Mas é generoso: liberou R$ 600 mil de verba pública para a ONG de amigas

Répteis, com o couro grosso e o sangue frio, os jacarés estão entre os mais eficientes predadores do mundo. Por causa dessa característica, são raros os casos de pessoas que procuram se aproximar desses animais. Os poucos que correm esse risco podem até se dar bem – desde que o jacaré em questão não seja exatamente o bicho, mas um servidor público bem colocado na máquina federal. José Samuel Magalhães, gerente de comunicação da Petrobras para as regiões Centro-Oeste, Norte e Minas Gerais, tem tal credencial. Carrega o apelido de Jacaré desde a década de 1970, quando era petroleiro e membro do sindicato da categoria no interior de São Paulo. Hoje, trabalha no andar mais alto do edifício da estatal, em Brasília. A partir de sua sala ampla, avista ministérios, a catedral e o Museu da República. Decide o destino de uma parte dos milhões de reais que a Petrobras gasta em patrocínios culturais. São R$ 22 milhões sob seu controle neste ano. ...

Ao contrário do que seu apelido poderia sugerir, Jacaré tem muitos amigos – e o hábito de agraciá-los com as verbas públicas sob sua administração. Rangéria Amorim e Daniela Gonçalves, sócias do Instituto Zabilin de Arte e Cultura, uma ONG que funciona em Brasília, estão entre os privilegiados que receberam uma verba da Petrobras graças ao amigo Jacaré. Desde 2007, o Zabilin de Rangéria e Daniela recebeu cerca de R$ 600 mil da Petrobras, por meio de cinco patrocínios aprovados por Jacaré. A relação de amizade entre ele e as dirigentes do Zabilin está estampada em redes sociais. Jacaré e suas amigas aparecem em almoço regado a vinho, dentro e fora de um avião e até mesmo num aprazível piquenique.

O lugar não poderia ser mais apropriado: à beira do Lago Paranoá, que banha Brasília (em algumas áreas mais remotas da orla do Paranoá, é comum encontrar jacarés de verdade. Numa das fotos, Jacaré aparece à vontade, de sunga preta, preparando-se para tomar um revigorante banho de sol. Jacaré e as amigas costumam fazer reuniõezinhas de fins de semana e são figuras carimbadas em bares e restaurantes de Brasília, fato reconhecido pelas sócias do Instituto Zabilin. Eis o que disse a ÉPOCA Rangéria, a presidente do Instituto Zabilin, sobre sua relação com Jacaré. “Sou amiga dele. Meu vínculo com ele é de amizade.” Ela nega, porém, que seja favorecida na obtenção dos financiamentos da Petrobras. “Ao contrário. Sempre recebemos menos do que pedimos à Petrobras”, diz. “Se estivéssemos escondendo algo, não sairíamos em público com ele.”

Apesar de todas essas evidências, Jacaré não admite a amizade com as dirigentes da Zabilin. Por meio da assessoria de imprensa da Petrobras, ele afirmou que sua relação com as sócias da ONG “é apenas de patrocinador e proponente”. Jacaré também comentara com amigos que estava inclinado a liberar R$ 762 mil para o Espaço Cultural Mosaico, um teatro inexpressivo de Brasília ligado ao Zabilin, que pedira um patrocínio à Petrobras para sua manutenção. Depois de ÉPOCA perguntar sobre mais esse negócio, Jacaré mandou dizer que o pedido de patrocínio fora negado. E submergiu.

Quais seriam os motivos para Jacaré agir com as amigas do Zabilin tal como Pedro com Jesus a caminho da cruz? Uma primeira razão pode estar ligada a um fato: a ONG tem a ficha suja. O Zabilin tem dois convênios com o Ministério do Turismo inscritos na categoria “inadimplente”. Juntos, somam R$ 770 mil. Num deles, a ONG deixou de dar explicações sobre gastos realizados num projeto voltado ao entretenimento de adolescentes de Brasília. De acordo com técnicos do Ministério do Turismo, o Zabilin não apresentou a relação de pessoas contratadas para trabalhar nem cópias de bilhetes aéreos que justificassem as despesas. Num dos projetos, a Controladoria-Geral da União (CGU) identificou que a ONG não comprovou ter investido o valor combinado. De acordo com a CGU, o Zabilin também incorreu em outro desvio comum no pantanoso mundo das ONGs. Contratou como fornecedora uma empresa ligada a um de seus dirigentes. Rangéria diz que as explicações foram enviadas, mas o Ministério do Turismo ainda não as analisou.

Outra razão pode estar ligada à mania de Jacaré – aparentemente incorrigível – de favorecer ONGs e empresas de amigos. Em 2009, ÉPOCA mostrara seu empenho em ajudar a produtora Engenho de Arte, de sua amiga Núbia Santana. Jacaré autorizou um patrocínio de R$ 260 mil para a produção do filme Pra ficar de boa, sobre a reabilitação de jovens infratores de Brasília. Com o acréscimo de algumas cenas, Jacaré abriu mais a mão, e o dinheiro doado pela Petrobras à Engenho de Arte chegou a R$ 477 mil. Jacaré viajou para Paris para o lançamento do filme. Empolgado com a parceria, instruía Núbia Santana a obter patrocínios em outros órgãos de governo. Tinha até planos de tornar-se sócio de Núbia no empreendimento.

Jacaré ascendeu a um cargo importante na Petrobras graças às amizades. Ele é ligado ao gerente executivo de comunicação da estatal, Wilson Santarosa, desde os tempos do Sindicato dos Petroleiros de Campinas, ainda durante o governo militar. Com um orçamento de R$ 58 bilhões, a Petrobras é uma das maiores empresas de petróleo do mundo. Está entre as maiores patrocinadoras culturais do país. Com valores superlativos para investir em todas as áreas, recebe milhares de projetos de patrocínio todos os anos. Jacaré examina parte desses pedidos. Ele diz que segue o código de ética da Petrobras e nega os favorecimentos. Papo de Jacaré?

Após a publicação na edição 753 de ÉPOCA, Lucio Mena Pimentel, gerente de imprensa da Petrobras, enviou esta carta à redação:
A Petrobras reitera que não existem vínculos ou favorecimentos entre patrocinador e proponentes, e que o procedimento dos gestores e empregados da Petrobras é regulado por seu Código de Ética. A companhia patrocina projetos, não instituições ou ONGs. Assim como já informado, são realizados procedimentos rigorosos para a aprovação de patrocínios, como exigência de certidões negativas, FGTS e extrato da Receita Federal. Caso haja qualquer irregularidade, o patrocínio não é realizado. Como já informado diversas vezes, a contratação dos projetos de patrocínio obedece à rigorosa análise documental (certidões, estatutos, atas etc.), à aprovação da Secretaria de Comunicação do Governo Federal (Secom) e a análises jurídica, tributária e financeira. Além de omitir de forma arbitrária as informações enviadas pela Petrobras, a reportagem ignorou o fato de a companhia ser submetida a instrumentos de controle interno e externo, como auditorias da Corregedoria-Geral da União, do Tribunal de Contas da União, da Comissão de Valores Mobiliários e da Securities and Exchange Comission, dos Estados Unidos.

Nota da redação: A reportagem de ÉPOCA não ignorou a resposta da Petrobras. Registrou a versão da empresa para a relação entre seu gerente de comunicação e as sócias da ONG Zabilin (“patrocinador e proponente”). E também informou que ele afirma seguir “a conduta de ética da Petrobras” e “nega os favorecimentos”.
Fonte: Revista Época - 02/11/2012

Jornalista faz revelações importantes sobre Marighella


Míriam Leitão

No meu programa na Globonews, entrevistei o jornalista Mário Magalhães, que passou nove anos estudando a história de Carlos Marighella e escreveu o livro "Marighella, o guerrilheiro que incendiou o mundo", que traz revelações importantes.
Magalhães conta que fez 256 entrevistas, leu 600 livros e 70 mil arquivos sobre esse personagem polêmico e complexo da história recente do Brasil, que foi morto em 1969, depois de lutar contra duas ditaduras.
A entrevista foi gravada no Parque Lage, porque foi lá que Glauber Rocha, baiano como Marighella, filmou "Terra em Transe". Magalhães explicou que Glauber aderiu à ALN (Ação Libertadora Nacional), organização armada que o guerrilheiro fundou para combater a ditadura militar.
Segundo o jornalista, Glauber arrecadou com o cineasta francês Jean-Luc Godard dinheiro para ajudar a organização. Joan Miró, Visconti e Sartre também contribuíram.
O grupo de frades dominicanos que foi preso pouco antes da morte dele teve participação na luta armada, de acordo com Magalhães.
O jornalista contou também que o guerrilheiro detalhou as torturas sofridas, em 1936, numa CPI para investigar os crimes do Estado Novo, que se assemelhava à nossa Comissão da Verdade.
Nessa entrevista, que pode ser vista abaixo, ele revela inúmeras partes surpreendentes da vida desse personagem da História do Brasil.

Liberdade ameaçada


FLÁVIA PIOVERSAN


Na recente Assembleia Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), em São Paulo, graves denúncias foram lançadas acerca da restrição da liberdade de imprensa em países como Venezuela, Argentina, Equador, Bolívia e México. As hostilidades partem, sobretudo, de governos incomodados com o papel crítico da imprensa, resultando em um quadro generalizado de afronta à liberdade de expressão e ao acesso à informação. São estes os atores que tentam ainda debilitar o sistema interamericano de direitos humanos, tendo com uma das bandeiras ameaçar a Relatoria para a Liberdade de Expressão da OEA. 

Segundo dados da SIP, na região, em 2012, foram assassinados 17 jornalistas e outros 3 estão desaparecidos, sendo que 6 assassinatos ocorreram no México, 5 no Brasil, 4 em Honduras, 1 no Equador e 1 no Haiti. No período de 1987 a 2012, aponta a SIP a ocorrência de 418 assassinatos e 23 desaparecimentos de jornalistas na região, sendo que 42 mortes e 1 desaparecimento se deram no Brasil. 

Ao propor uma Agenda Hemisférica para a Defesa da Liberdade de Expressão, a Relatoria Especial para a Liberdade de Expressão da OEA elucida que os assassinatos de jornalistas são causados por motivos estritamente relacionados com o exercício profissional. Crimes são perpetrados para silenciar jornalistas, dissidentes e críticos. A impunidade que os acoberta revela uma cultura de intolerância à crítica com o aceite tácito dos crimes cometidos. 

Se, por um lado, há o crescente reconhecimento internacional de que a América Latina tem apresentado resultados exitosos no eficaz combate à pobreza e à desigualdade social, por outro, regimes "hiperpresidencialistas" têm colocado em risco o aparato civilizatório das liberdades públicas, resistindo de forma autoritária ao controle social. Calar a imprensa é o antídoto à crítica da opinião pública, ao permitir o retorno à perversa tese da irresponsabilidade absoluta do governante. 

Como lembra Norberto Bobbio, a opacidade do poder é a negação da democracia, que é idealmente o governo do poder visível, ou o governo cujos atos se desenvolvem em público, sob o controle democrático da opinião pública. 

A democracia pressupõe o livre exercício do direito de opinião, da liberdade de expressão, do direito de comunicação e do direito de informação (abrangendo o direito de informar, o direito de se informar e o direito de ser informado). Daí a importância do controle democrático exercido pela opinião pública. 

Uma imprensa livre e independente surge como uma exigência democrática. Para Amartya Sen, a liberdade de imprensa cumpre ao menos 4 funções essenciais ao regime democrático, ao contribuir para: a) a melhor compreensão do mundo em que se vive; b) a disseminação do conhecimento e a construção da crítica (função informativa da mídia); c) conferir voz aos grupos mais vulneráveis (função protetiva da mídia); e d) a formação de valores (a demandar o livre fluxo de ideias, informações e argumentos, mediante um processo interativo). 

A Declaração Universal de Direitos Humanos enuncia que: "Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras." No mesmo sentido, prescreve o Pacto de Direitos Civis e Políticos, ratificado por todos os países da região, adicionando que o exercício da liberdade de expressão "implicará deveres e responsabilidades especiais". Também a Convenção Americana de Direitos Humanos consagra a liberdade de pensamento e de expressão, dispondo que o "exercício deste direito não pode estar sujeito à censura prévia, mas a responsabilidades ulteriores". 

Acrescenta que "não se pode restringir o direito à liberdade de expressão por vias ou meios indiretos, tais como o abuso de controles oficiais ou particulares de papel da imprensa, (...) nem por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicação e a circulação de ideias e de opiniões". 

No atual contexto regional, salvaguardar a liberdade de imprensa é salvaguardar a própria democracia, protegendo o acesso à informação, fontes alternativas de informação, liberdade de expressão, diálogo e interação pública. A liberdade de imprensa se realiza na democracia, sendo, ao mesmo tempo, sua condição, pressuposto e requisito essencial.
Argentina, Venezuela, Equador, Bolívia e México tentam debilitar o sistema interamericano de direitos humanos. A opacidade do poder é a negação da democracia.
Publicado no Globo de hoje. Flávia Piovesan é procuradora do estado de São Paulo e professora da PUC-São Paulo.

PSICANÁLISE DA VIDA COTIDIANA Gabriela Cravo e Canela



CARLOS VIEIRA
A obra marcante de Jorge Amado se passa numa Bahia de 1920. Tempo histórico regido pelo poder dos Coronéis, dos donos das fazendas de cacau, maior fonte de renda da agricultura. A brutalidade dos coronéis, donos da política, tendo a Igreja como cúmplice, imprime uma sociedade autocrática, perversa, cínica e falsa. 
Transformada em novela pela TV Globo em 1975, sua segunda edição, 2012, acabou na última sexta-feira, deixando a marca de uma bela direção, produção e interpretação do núcleo novelístico da emissora dos Marinhos. O romance de Amado foi adaptado e escrito por Walter George Ddurst. Escrita por Walcyr Carrasco e Cláudia Souto, com colaboração de Daniel Berlinski e André Ryoki, com direção geral de Mauro Mendonça Filho, direção de Frederico Mayrinc e Noa Bressane e direção do núcleo de Roberto Talma. 
Gostaria de dar ênfase aos temas fundamentais do romance, contidos no capítulo final da novela. 
Pela primeira vez os coronéis são julgados e condenados. Cai o poder da “aristocracia cacaueira” dramatizada simbolicamente pelo enfarte do coronel Ramiro Bastos (o dono absoluto do poder político), e a ascensão de Mudinho Falcão, representante de uma nova ordem política – mais democrática e justa. Ilhéus respira um pouco de liberdade e respeito aos “direitos humanos”. Jorge Amado denuncia uma época onde a política, o judiciário e a ética eram regidos por pessoas, por interesses próprios da pequena classe dominante, fato não tão distante do atual julgamento do “mensalão”. Vence no romance e na novela uma ideia democrática, um novo tempo – o tempo da liberdade e da justiça social. 
No contraponto da histórica do escritor baiano, ícone da literatura brasileira e ocidental, o canto à liberdade está profundamente contido no personagem que leva o título do romance e da novela. A irreverência, ingenuidade e o lirismo infantil de Gabriela, mostram a prosa poética de Amado, intuindo e mostrando o amor em sua forma pura, romântica, linda e ideal. 
Na cena final onde estão fazendo amor e conversando sobre reatar seu casamento, Nacib Saad e Gabriela compõem um dueto belíssimo. “Gosto de cravo e sabor de canela”, a elegia a um amor sem cobranças, sem ciúme patológico, sem posse. Um amor sem precisar de “usar sapatos e vestes finíssimas”, metáfora da falsidade das relações amorosas da “alta sociedade” de Ilhéus. Gabriela e Nacib representam o amor sem ostentação, a imagem verdadeira de uma relação amorosa, onde o sentimento de ser predomina sob o faz de conta da burguesia cínica e vazia de afetos. Curioso o fato de que o vínculo amoroso e sexual era deslocado para uma “casa de recurso”, o famoso Bataclã, onde os homens do poder amavam com liberdade, até a liberdade de projetar a vida amorosa numa relação com sua “quenga”, prostituta. 
Nacib pede perdão à Gabriela – Gabriela não cobra perdão, não cobra culpa. Ela, de uma maneira ingênua e singela diz que sua condição para voltar é a verdade de quem ela é. Ser aceita não pelo nome de família, pela posição social, pela convivência com a mentira, com o desamor e o “faz de conta de que vivem bem”. Nacib não precisaria fazer uma Gabriela de “salto alto”, mas sim aceitar alguém verdadeiro, simples, mestiço e sem as impurezas da burguesia do coronelismo baiano, brasileiro. 
Em entrevista dada a Edla Van Steen, publicada pela autora em L&PM Pocket, volume I, de Viver & Escrever diz Jorge Amado: ... “Sou patrulhado por todos os lados. Tenho notado que certos críticos falam de livros meus e neles baixam o pau, sem sequer os terem lido. O fato importa-me pouco, mais vale uma carta de leitor, que se emocionou com a leitura de um romance meu, do que um artigo de certos ‘mestres’ da crítica: eles não têm a menor influência sobre o público que sabe o que quer”. 
Adiante, respondendo sobre o fascínio dos americanos do norte com sua visão romântica e não antropológica, no elogio da mestiçagem, diz Amado: “O Brasil é uma nação mestiça e daí resulta sua grandeza e a originalidade de nossa cultura. A mestiçagem é a nossa maior contribuição para o humanismo. Manuel Quirino, um sábio, já dizia que o mestiço é a maior riqueza do Brasil. Estou de acordo”. 
O gosto e o sabor do cravo e da canela mostram em Gabriela o romantismo e o lirismo da obra de Jorge Amado, descrevendo o amor, o amor da mestiçagem, o amor baiano e brasileiro que urge ser recriado nos dias atuais.
Carlos.A.Vieira, médico, psicanalista, Membro Efetivo da Sociedade de Psicanálise de Brasilia e de Recife. Membro da FEBRAPSI e da I.P.A - London.

Os navios encalhados



Mauro Santayana (Jornal do Brasil)
Severo Gomes – sua morte prematura, há 20 anos, ao lado de Ulysses Guimarães, foi lembrada estes dias – era uma inteligência peregrina. Sabia quase tudo do Brasil e não escondia sua ação em favor do golpe em 1964; explicava-a como desvio político equivocado. Mais tarde, conforme dizia sorrindo, transformara-se em um democrata infiltrado no governo autoritário. Ministro de Agricultura do governo Castello Branco e, mais tarde, de Indústria e Comércio de Geisel, tinha uma visão desolada do sistema administrativo brasileiro.
 Com Ulysses e Alberto Goldman
Getúlio agira bem, ao tentar construir uma burocracia de Estado, com o Dasp e os concursos públicos – mas se esquecera de que não tínhamos, no subdesenvolvimento de que padecíamos, de onde retirar um corpo de bons gestores da coisa pública. Bem que ele tentou, mais tarde, suprir essa dificuldade, com a criação da Fundação Getúlio Vargas, mas os seus sucessores não insistiram nessa necessária formação de quadros.
Severo gostava de contar a sua amarga experiência como Ministro da Agricultura e, mais tarde, da Indústria e Comércio. No Ministério da Agricultura, ele levou todos os meses de gestão sem saber exatamente quantos departamentos havia, nem o que realmente faziam os seus funcionários. Pelo que vira, dizia, o governo se parece a uma frota de navios encalhados, cada um deles preso ao próprio banco de areia, e no meio de denso nevoeiro. Da nave capitânea à última embarcação, os comandantes gritam, da ponte, as ordens, determinando rumo e velocidade, mas os navios permanecem parados. Como os tripulantes sabem que os barcos não se movem, jogam cartas e alguns enchem a pança, porque os celeiros estão cheios de ração.
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QUAL O DESTINO?
A imagem é irônica, no estilo de Severo, e exagerada. Há sempre, em qualquer repartição pública, geralmente entre os mais modestos, aqueles que tentam trabalhar com zelo – e, às vezes, com excesso de zelo. Graças a eles, as coisas funcionam, ainda que devagar. Mas, funcionam em que sentido? Os barcos que avançam, avançam para qual destino? O fato é que temos, hoje, no Brasil, um governo que se identifica na esquerda, mas a máquina administrativa, com seus executivos médios, continua empenhada na prática do neoliberalismo.
O presidente Fernando Henrique Cardoso tratou de colocar, nos postos de decisão (no governo e nas agências reguladoras) homens convencidos de que, fora da submissão à nova ordem internacional, não há salvação. São esses homens que controlam a máquina do Estado. Acusa-se o governo do PT de “aparelhar” o Estado. A diferença é aquela apontada por Nelson Jobim saudando Fernando Henrique: os apparatchíki de antes – e que, na sombra, continuam mandando – pertencem às elites, conhecem línguas estrangeiras, seguem com atenção os movimentos do mercado, de que são fundamentalistas fanáticos, e se vestem com esmero.
Enfim, esses que remanescem são competentes naquilo que pretendem. Sendo assim, foram eficientes na transferência maciça de dinheiro, pela ponte internacional do Paraná: emitiram, antes, portaria do Banco Central, que isentava da fiscalização da Receita Federal os carros fortes que iam e vinham do Paraguai. Souberam manipular, com as sutilezas das engrenagens financeiras, as contas CC-5, e, mediante fundos marotos, transferir dinheiros mal havidos ao Exterior, a fim de ali serem lavados e aromatizados.
E agora se encontram entre os que aprovam financiamentos do BNDES a empresas estrangeiras, como é o caso da Telefónica da Espanha e perdoam a sonegação bilionária do Banco Santander, calculada em 4 bilhões – cobrada pela Receita Federal.
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SALVAÇÃO ETERNA
Os que conhecem os mecanismos do poder sabem que não é fácil governar. A leitura das melhores biografias de grandes governantes mostra como é difícil tomar decisões das quais depende a salvação ou perdição dos povos. É sempre atual citar Richelieu, quando diz que os homens, em sua vida pessoal, quando erram, podem contar com a salvação eterna.
Os Estados, que só têm vida temporal, não dispõem desse consolo: eles se salvam ou se perdem na decisão de um segundo. É sobre esse fio de navalha que devem caminhar todos os dias os governantes.
Para chegar ao poder, Lula teve que negociar com os empresários, e contou com a ajuda inteligente de José Alencar. Com isso, elegeu-se e empossou-se, mas ele e sua sucessora não conseguiram que o governo assumisse o pleno controle da máquina administrativa.
É inegável que houve avanços consideráveis no caminho da emancipação de milhões de famílias, mediante as políticas compensatórias do governo, e que essas ações favoreceram a economia como um todo, e que – apesar de sua fragilidade essencial – a educação deu grandes passos, com o Enem, o Prouni e o programa nacional de formação técnica. Mas são apenas algumas naves que, com a tripulação mudada em boa parte, conseguem avançar no rumo escolhido, vencendo os encalhes e devassando o nevoeiro. As outras avançam com as luzes apagadas, na rota contrária ao interesse nacional.

Valério reacende o caso Celso Daniel dizendo que Lula sofria extorsão



Carlos Newton
Já era esperada a reportagem da “Veja” dando detalhes do novo depoimento do empresário Marcos Valério ao Ministério Público Federal. É claro que a revista está guardando munição para gastar na hora certa. E os primeiros detalhes agora revelados confirmam o envolvimento do PT no assassinato do prefeito petista de Santo André, Celso Daniel, em janeiro de 2002.
 Celso Daniel, arquivo morto
Segundo a reportagem, Valério disse que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, estavam sendo extorquidos por figuras ligadas ao crime de Santo André. E apontou que Ronan Maria Pinto, que é apontado pelo Ministério Público como integrante de um esquema de cobrança de propina na prefeitura, seria um dos suspeitos de chantagear Lula e Carvalho, que foi secretário de governo em Santo André. Outro detalhe: o prefeito petista Celso Daniel era casado com a atual ministra do Planejamento, Miriam Belchior.
Valério teria negado, segundo a reportagem da Veja. E acrescentou: “Eles achavam que [o pagamento] ia ser através de mim, eu falei assim: ‘Nisso aí eu não me meto, não’”.
Segundo o Ministério Público de São Paulo, durante a gestão do ex-prefeito petista Celso Daniel na prefeitura de Santo André, foi montado um esquema de desvio de recursos públicos. O dinheiro estava sendo estocado a pretexto de financiar campanhas políticas do PT. Divergências em relação ao esquema teriam levado o empresário Sergio Gomes da Silva, amigo de Daniel, a encomendar o assassinato do então prefeito.
Segundo a “Veja”, apesar da negativa de Valério, o chantagista Ronan acabou sendo pago por um “amigo pessoal de Lula”, por meio de um banco “que não faz parte do mensalão”. Ou  seja, não foi o Rural nem o BMG.
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DELAÇÃO PREMIADA
O depoimento de Valério à Procuradoria foi dado na tentativa de conseguir uma delação premiada, mecanismo jurídico no qual alguém que é investigado pode se beneficiar colaborando com a Justiça.
Esse depoimento, segundo o jornal “O Estado de S. Paulo”, foi dado no fim de setembro. Nele, Valério teria citado Lula e o ex-ministro Antonio Palocci.
Segundo o jornal, o empresário mencionou outras remessas de recursos para o exterior, além das que foram feitas para o publicitário Duda Mendonça, que trabalhou na campanha de Lula em 2002 e foi absolvido pelo Supremo no processo do mensalão.
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OKAMOTO ENTENDE VALÉRIO
A cúpula do PT procurou  desqualificar o novo depoimento que o empresário Marcos Valério teria prestado à Procuradoria-Geral da República sobre o esquema. Saindo em defesa de Lula, os petistas disseram que Valério está tentando se livrar da pena imposta pelo STF e por isso não merece credibilidade.
Segundo a Folha de S. Paulo, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, disse duvidar que Valério tenha algo a acrescentar ao que já foi dito no julgamento do mensalão e ironizou o novo depoimento:  “Se eu fosse condenado a 40 anos de prisão também estaria me mexendo”.
Mas o certo é que, se Valério seguir “se mexendo”, pode balançar a República. Como no célebre filme de Hitchcock, o publicitário mineiro é hoje “o homem que sabia demais”.

Base aliada consegue esvaziar a CPI do Cachoeira, livrando Cabral e Agnelo



Carlos Newton
Embora dois dos principais alvos fossem da oposição (o ex-senador Demóstenes Torres e o governador tucano Marconi Perillo), a base aliada conseguiu esvaziar a CPI que investiga o bicheiro Carlinhos Cachoeira, salvando o governador do Rio Sergio Cabral, o governador de Brasília Agnelo Queiroz e outros políticos ligados ao PT, além do empresário Fernando Cavendish, dono da Delta.

A  CIP não vai ser prorrogada e acaba no final do ano. Os aliados do governo no Congresso barraram a investigação por mais seis meses e o clima esquentou com a oposição falando em pizza e os governistas em trabalho cumprido.
Além disso, a CPI decidiu não votar mais de 500 requerimentos para convocar testemunhas e quebrar sigilos de empresas ligadas a Carlinhos Cachoeira que teriam recebido dinheiro do esquema comandado pelo bicheiro.
Para a oposição, é o fim da CPI, porque nessa época do ano nada se faz no Congresso. “Eu acho que é só marcar a missa de sétimo dia agora. Porque realmente houve uma organização muito forte da base do governo para encerrar a CPI”, afirma o deputado Vanderlei Macris.

Daniel Dantas tenta impedir transferência para SP da investigação sobre sua relação com Valério



Reportagem de Flávio Ferreira, da Folha, revela que a defesa do banqueiro Daniel Dantas recorreu contra a decisão do Supremo Tribunal Federal de desmembrar para a Justiça Federal de São Paulo a investigação para apurar se o grupo Opportunity, dirigido por Dantas, usou o empresário Marcos Valério de Souza para fazer repasses de suborno ou doações ilegais ao PT.
 Dantas está todo enrolado…
O desmembramento foi determinado em agosto pelo ministro do STF Joaquim Barbosa, em um inquérito aberto em 2006 para aprofundar as investigações sobre fatos e pessoas não incluídos no processo do mensalão. A Procuradoria disse ter encontrado “elementos de prova que confirmam que as empresas Brasil Telecom, Telemig Celular e Anazônia Celular, que pertenciam ao grupo Opportunity, que era dirigido, à época dos fatos, por Daniel Dantas, aderiram ao esquema criminoso montado pelo empresário [Valério]“.
“As apurações já realizadas no inquérito do STF sobre o Opportunity foram encaminhadas à 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo e ao procurador da República Rodrigo de Grandis, que atuaram na Operação Satiagraha da Polícia Federal. A Satiagraha levou à condenação de Dantas e de executivos do Opportunity pela suposta prática de crimes financeiros e de corrupção, mas foi anulada pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça)”, lembra o repórter Flávio Ferreira, para destacar a importância da informação.
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POR QUE SÃO PAULO?
No pedido ao STF, a defesa de Dantas pediu que “o inquérito seja julgado pelo plenário do Supremo não pela 6ª Vara Federal de São Paulo”.
“Caso seja mantida a decisão de desmembramento dos autos, a defesa pede que o mesmo prossiga perante uma das varas federais da Subseção Judiciária do Rio de Janeiro”, segundo o Opportunity.
De acordo com o grupo, “o fato é que nenhum dos citados nas ‘descabidas alegações’ possui sede ou residência no Estado de São Paulo, e, portanto, prosseguir o processo na capital paulista viola o disposto no Código de Processo Penal brasileiro”.
O Opportunity afirmou ainda que “não é crível que Daniel Dantas tenha colaborado para financiar um governo que o perseguiu”.
Segundo o repórter da Folha, no pedido de desmembramento da investigação, a Procuradoria-Geral da República não detalhou a razão pela qual as apurações deveriam seguir para a Justiça Federal em São Paulo.

Curiosidades literárias: Goethe só escrevia em pé; Gilberto Freyre, a bico de pena



Antônio M. Rocha
O escritor Wolfgang Von Goethe escrevia em pé. Ele mantinha em sua casa uma escrivaninha alta.
 Goethe tinha lá suas manias…
O memorialista Pedro Nava aparafusava os móveis de sua casa a fim que ninguém os tirasse do lugar.
Gilberto Freyre nunca manuseou aparelhos eletrônicos. Não sabia ligar sequer uma televisão. Todas as obras foram escritas a bico-de-pena, como o mais extenso de seus livros, Ordem e Progresso, de 703 páginas.
Euclides da Cunha, superintendente de Obras Públicas de São Paulo, foi engenheiro responsável pela construção de uma ponte em São José do Rio Pardo (SP). A obra demorou três anos para ficar pronta e, alguns meses depois de inaugurada, a ponte simplesmente ruiu. Ele não se deu por vencido e a reconstruiu. Mas, por via das dúvidas, abandonou a carreira de engenheiro.
Machado de Assis, nosso grande escritor, ultrapassou tanto as barreiras sociais bem como físicas. Machado teve uma infância sofrida pela pobreza e ainda era míope, gago e sofria de epilepsia. Enquanto escrevia Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado foi acometido por uma de suas piores crises intestinais, com complicações para sua frágil visão. Os médicos recomendaram três meses de descanso em Petrópolis. Sem poder ler nem redigir, ditou grande parte do romance para a esposa, Carolina.
Graciliano Ramos era ateu convicto, mas tinha uma Bíblia na cabeceira só para apreciar os ensinamentos e os elementos de retórica. Por insistência da sogra, casou na igreja com Maria Augusta, católica fervorosa, mas exigiu que a cerimônia ficasse restrita aos pais do casal. No segundo casamento, com Heloísa, evitou transtornos: casou logo no religioso.
Aluísio de Azevedo tinha o hábito de, antes de escrever seus romances, desenhar e pintar, sobre papelão, as personagens principais mantendo-as em sua mesa de trabalho, enquanto escrevia.
José Lins do Rego era fanático por futebol. Foi diretor do Flamengo, do Rio, e chegou a chefiar a delegação brasileira no Campeonato Sul-Americano, em 1953.
(Texto enviado por Mário Assis

Livre pensar é só pensar (Millôr Fernandes)



Querem melar



Sebastião Nery
RIO – O general Otávio Costa era comandante da 6ª Região Militar da Bahia. Estava em Sergipe, no fim de semana, visitando a cidade histórica de Laranjeiras, terra dos dois históricos jornalistas Paulo e Joel Silveira. Sábado, recebeu um telefonema urgente de Brasília. Era o general Medeiros; chefe do SNI, que acabava de assumir seu posto no Planalto:
- General, segunda-feira o professor Abdias do Nascimento, líder negro, que está chegando dos Estados Unidos, vai fazer uma palestra no Centro Cultural Brasil-Alemanha, em Salvador, e lançar o Movimento de Libertação da Raça Negra. A ordem é melar.
 Abdias do Nasc imento
O general Otávio Costa sabia que o Centro Cultural Brasil-Alemanha ficava em um local pequeno, apertado, movimentado. Tentar melar seria exatamente promover. Ligou para Salvador, mandou um sargento negro, do Serviço Secreto, com a ordem de telefonar urgente, se necessário.
Segunda, 10 da manhã, Abdias abria sua conferência no Centro Cultural Brasil-Alemanha apinhado de escritores, professores, estudantes, intelectuais. Todos brancos. Lá no fundo, de pé, um negro.Abdias chamou : – Quero começar prestando uma homenagem a meus irmãos de cor. Convido meu irmão negro, que está lá no fundo, a presidir esta solenidade.
O sargento presidiu até o fim, com inteira competência. Sem melar.
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1,2 TRILHÃO
A aristocracia brasileira do dinheiro ocupa o 4º lugar no mundo com depósitos em paraísos fiscais. Os supermilionários nativos têm US$ 520 bilhões (R$ 1,2 trilhão) aplicados em contas secretas. À sua frente estão os chineses com US$ 1,18 trilhão, os russos com US$ 798 bilhões e os sul-coreanos com US$ 779 bilhões. Esses números, publicados pelo jornal inglês “The Observer”, estão em estudo da “Tax Justice Network” (Rede pela Justiça Fiscal). A fonte são documentos do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial e do Banco de Compensações Internacionais, o Banco Central mundial. O professor Helio Duque, meu mentor econômico, me ensina mais :
1 – O economista norte americano James Henry, um dos coordenadores do estudo, afirma: “O setor offshore é desenhado e operado não por obscuros bancos sem nome em ilhas suntuosas, mas pelos maiores bancos privados do mundo, escritórios de direito e de contabilidade sediados em capitais como Londres, Nova York e Genebra!”.
2. – “Os 50 maiores bancos do mundo são os alimentadores dos paraísos fiscais, com destaque para o Goldman Sachs e os suíços União dos Bancos Suiços e o Credit Suisse. A elite financeira mundial é constituída por 100 mil milionários detentores de trilhões de dólares aplicados além das fronteiras nacionais. Grande parte desse dinheiro é fruto da corrupção”.
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36 COM 151
3. – O pesquisador Daniel Aarão Reis, professor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense, disse no Globo que o Brasil tem 36 pessoas neste grupo seleto. Juntos, controlam US$ 151 bilhões. Nada mal para uma nação emergente. Quando se fala em taxar essas colossais fortunas ou acabar com as jurisdições secretas, os novos aristocratas ameaçam sair do pais, melar. Os governos encolhem-se. Na base da pirâmide as pessoas comuns ralam e pagam a conta. Até quando? Em 2011, a arrecadação federal brasileira foi de R$ 993 bilhões. Já o dinheiro expatriado, de brasileiros, nos paraísos fiscais sonegadores, representa R$ 1,2 trilhão.Imagine o efeito para o desenvolvimento nacional se parte desses recursos pudesse ser repatriada..
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MANTEGA
Há alguns anos, o governo analisou a hipótese da aprovação de uma anistia fiscal repatriadora desses capitais, um tema polêmico e provocador de debates que enveredam pela ética e envolvem recursos financeiros de procedência, em alguns casos, ilícita, frutos da corrupção e desvio de recursos públicos. As resistências transformaram-se em intransponíveis barreiras. A primeira chantagem é tirar empresas do pais Ameaçam melar. Uma parte dos milionários recursos aplicados nos paraísos fiscais tem declaração do Imposto de Renda. Para repatriação o tributo seria de 27,5%. O Ministério da Fazenda imaginou anistia que cobraria uma “taxa pedágio” variável, de 4% a 6% do IR.
Com a ascensão do italiano Guido Mantega ao Ministério da Fazenda, o tema foi jogado às calendas gregas.
sebastiaonery@ig.com.br

Ou prova ou deve ser cassado



Carlos Chagas
Tanto quanto os efeitos do ciclone na região de Nova York; acima e além dos resultados das eleições de domingo; mais do que a violência que assola São Paulo, Brasília não poderia ficar atrás na disputa pelas manchetes da semana. Terça-feira, o senador Mário Couto, do PSDB do Pará, declarou da tribuna ter vontade de cuspir na cara de seus colegas senadores corruptos, aqueles que enriqueceram roubando a nação e o povo.
Exortou o Supremo Tribunal Federal a examinar o patrimônio de cada senador. Abominou a prática de serem engavetados processos contra seus colegas ladrões, porque muitos tem jatinhos particulares, casas luxuosas e até 50 mil bois no pasto, sem condições de comprovar seu patrimônio, livres e andando pelo Congresso, apresentando projetos.
De quando em quando o Senado revela figuras singulares, aí está o exemplo do ex-senador Mão Santa, mas dessa vez foram ultrapassados todos os limites. Ou Mário Couto será responsável pela devassa de um dos maiores escândalos da História da República, não deixando pedra sobre pedra no Congresso, ou deverá ser recolhido ao manicômio mais próximo da Praça dos Três Poderes.
O que não dá é para omitir e esquecer a denúncia generalizada, que sem novas explicações atingiu o Senado inteiro. O representante do Pará não fulanizou suas acusações, apesar de não ser difícil identificar os colegas que possuem jatinhos ou 50 mil cabeças de boi. Não que seja crime ser fazendeiro bem sucedido ou dispor de recursos para ter aviões particulares, mas, do jeito que o senador enfatizou, essas riquezas foram adquiridas através da corrupção.
Como poderá o presidente do Senado, José Sarney, deixar de abrir sindicância e convocar o senador para explicar-se? Melhor dizendo, para dizer a quem e a quantos se referiu, em seu discurso? Mário Couto não poderá sair do gabinete do presidente senão como herói ou como doido. Que tenha provas de suas acusações ou que seu mandato seja cassado por insanidade.
Fica impossível o Senado deixar em branco um pronunciamento desses, sob pena de estar protegendo senadores que tem esquadrilhas privadas e monumentais rebanhos sem poder comprovar suas origens. Ou que cabe a seus dirigentes defender a honra da instituição através da punição a seu detrator.
As senadoras Lídice da Mata, do PSB da Bahia, e Vanessa Grazziotin, do PC do B do Amazonas, reagiram na hora, exigindo do senador que particularizasse sua denúncia, mas ele já havia deixado o plenário. Estranha, mesmo, foi a defesa de Mário Couto feita pelo senador Álvaro Dias, para quem as acusações foram genéricas, sem necessidade de maiores explicações.
Em suma, a próxima semana promete ser explosiva, tendo em vista a importância da defesa da instituição parlamentar ou, no reverso da medalha, a identificação dos acusados. Deixar que o barro escoa do ventilador, positivamente, não dá.

PM encontra túnel usado para levar droga à USP



É preciso haver sistema de identificação no atendimento médico



Pedro do Coutto
São tantas as falhas no sistema de saúde pública do país que têm que ser tomadas providências urgentes para reduzi-las substancialmente e evitar de forma total erros como os das aplicações de injeções de sopa e café com leite em veias de pacientes. Tal coisa é inadmissível.
Uma ideia de Elena, minha mulher, creio ser um passo básico. Todos os que trabalham em hospitais e postos de saúde, inclusive particulares, devem ser obrigados a terem fixados crachás nas vestes informando a profissão efetiva, com o registro no Conselho próprio (Conselho de Medicina ou Conselho de Enfermagem) CRM ou COREM. A classificação visa também a distinguir se o profissional que está prestando atendimento é ou não estagiário.
Este aspecto é de fundamental importância, sobretudo no sistema de emergência quando um imponderável número de casos alunos ainda em formação são colocados para substituir profissionais formados. Nos casos de seguro ou plano de saúde, os contratantes dos planos pagam a mensalidade para poderem receber atendimento médico, e não serem socorridos por aqueles que se encontram em período de formação. Os estagiários (médicos enfermeiros, auxiliares ou técnicos de enfermagem) podem intervir desde que supervisionados por profissional qualificado, isto é já com formação plena.
Com esse sistema muitas vidas seriam salvas e também preservada a integridade de milhares de pacientes. O número de atendimentos pelo menos cresce em ritmo do aumento do número de habitantes. Mas ultrapassa tal ritmo, pois tem de se levar em conta o aumento da violência. A Folha de São Paulo publicou em sua edição de quarta-feira reportagem de Clara Roman e Valmar Hupsel Filho revelando que, no estado de São Paulo, este ano um policial foi morto a cada 32 horas.
Imagine-se por aí quantos são feridos. Não somente policiais. A violência, nos dias de hoje, não escolhe rumo ou vítimas. Veja-se a incidência de casos no Rio. Observe-se o atendimento do Hospital Souza Aguiar, que, segundo a última estatística, atende diariamente a média de 2 mil pessoas. São os que não possuem plano ou seguro de saúde particular. Some-se a isso os atendidos na rede particular. As condições urbanas conduzem à necessidade de também uma assistência crescente. Os controles e medidas de segurança têm que acompanhar a demanda, cada vez mais elástica.
A identificação profissional é um passo positivo. Sozinha não vai solucionar todos os problemas, a começar pela falta de médicos em número adequado às exigências do atendimento. Mas reduz o volume. Será um passo decisivo inclusive para que o sistema de saúde possa ter um controle real do efetivo de que dispõe.
Estamos falando do atendimento urbano, esta é a visão imediata. Mas e quanto ao meio rural? O problema da saúde é maior do que se pensa à primeira vista. Alguma coisa tem de ser feita. Deve começar pela classificação da procura, sobretudo para que as intervenções cirúrgicas não fiquem para as calendas gregas. O Ministério da Saúde poderia entrar em ação concreta e montar uma rede geral no país. Afinal foi para isso que foi criado o SUS: Sistema Único de Saúde. O doente ou o acidentado não pode ser assinalado como federal, estadual ou municipal. São seres humanos.

Fim de semana prolongado dá um certo alívio a Lula, mas hoje começam a circular as revistas semanais...



Carlos Newton
Há ocasiões em que um final de semana prolongado é providencial. Especialmente para o ex-presidente Lula, pois os três maiores partidos de oposição se mobilizam para pedir à Procuradoria-Geral da República que investigue se ele teve participação no esquema do mensalão. Em função do feriado de hoje,  só poderão apresentar o requerimento na próxima semana.
O documento será assinado pelos presidentes do PSDB, Alberto Goldman (em exercício), do DEM, José Agripino Maia (RN) e do PPS, Roberto Freire (SP) e será protocolado terça-feira, em Brasília.
Como se sabe, no inquérito do mensalão, a própria Procuradoria-Geral da República já se recusou a investigar o ex-presidente, por considerar que não havia provas contra ele. Por isso, a oposição agora argumenta que surgiram novos elementos  que recomendariam uma investigação por parte do Ministério Público, como o mais recente depoimento de Marcos Valério, as declarações da ex-mulher de José Dirceu etc.
O documento vai citar também reportagem da revista “Veja” de duas semana atrás, segundo a qual o empresário Marcos Valério afirmou a interlocutores que Lula era o chefe do esquema.
Os três partidos vão pedir a abertura de uma nova ação penal, caso fique comprovado que Lula tinha ciência do esquema do mensalão, conforme denunciou na época o influente ex-deputado petista Helio Bicudo, em entrevista ao programa Sábado Especial, da Rede Vida, apresentado por Luiz Nogueira.
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Marcelo Mafra
Carlos Newton, seria importante divulgar diretamente no artigo os links para a entrevista do jurista Helio Bicudo ao programa Sábado Especial, de 10/6/2006, pela Rede Vida.

HUMOR A Charge de Amarildo




FINADOS. UMA CELEBRAÇÃO



Ralph J. Hofmann
Quando os espanhóis desembarcaram no México encontraram nas culturas azteca, olmeca, teotihuacano maia,zapoteca,  mixteco, tolteca e mexica, uma crença de que a morte não é o fim senão a continuidade da vida em outra esfera. Impuseram em poucos anos a religião católica sobre esta população. O resultado, aliás, como por onde passaram os conquistadores foi o sincretismo da religião católica com os ritos e costumes atuais, aliás, como já ocorrera na Europa onde traços das culturas mais antigas dos celtas, do nórdicos e outros estão presentes de forma dissimulada como no natal, na páscoa e nas celebrações de solstícios de inverno e verão.
No México os dois dias, Todos os Santos (01/11)  e Finados (02/11) obedecem o conceito pré-colombiano sobre a morte. Os mortos, e sua vida continuada,  são celebrados com festa, música, flores coloridas, teatros ritualizados e muita diversão.
Bancas vendem réplicas de esqueletos, algumas como marionetes com as quais as crianças brincam, e certas guloseimas da época.
As famílias ou levam as comidas favoritas dos seus mortos e montam uma refeição para eles nos cemitérios, ou montam em casa um altar com essas comidas.
É em suma uma celebração. Algo dentro do espírito de quem diz, talvez não acreditando muito: “Meus pêsames, mas o fulano passou desta vida para uma melhor”.
(1) Fotomontagem: Esqueleto do México e banheiro em forma de caixão em um cemitério.

CRÔNICA Cartas de Seattle: Dando de cara com um lobo no trabalho



Falar de Halloween no Dia de Finados é de mau gosto?
A escriba aqui pede desculpas aos mais sensíveis. A coincidência foi um azar provocado pelo calendário (falar de azar no Dia de Finados é de mau gosto?). Explico. O Halloween foi na última quarta, e estas Cartas de Seattle são publicadas só às sextas. Semana passada estava muito longe para tocar no assunto. Agora que o Halloween passou, parece um pouco fora de hora para ainda falar nisso.
Paciência, que valerá a pena.
O Halloween é evento da maior importância por aqui. É o carnaval deles. Com a semelhança de que a folia se espalha por alguns dias, ainda que de forma não oficial, especialmente quando o 31 de Outubro não cai no fim de semana.
E com a diferença de que durante o dia os fantasiados perambulam entre os não-fantasiados como se não estivessem vestindo nada demais. É nestes dias que você finge que é normal que a atendente do banco esteja vestida de melindrosa. Ou que haja um lobo de 1,80m de altura, com direito a máscara e rabo, na cozinha do seu trabalho. Ainda não captei a etiqueta para estas horas, e achei prudente conter a gargalhada.
A criatividade rola solta, como deve ser em um bom carnaval. Eu achava que o vento gelado era o motivo para as fantasias serem em geral mais recatadas em comparação com as brasileiras. Mas um radialista local tem outra explicação: Seattle é politicamente correta demais, é reservada demais, é reprimida demais. Será? Não combina com a fama de tolerante e cuca fresca que os nativos gostam de cultivar.
Ousados ou não, todos se fantasiam – crianças, adultos e cachorros. Sim, cachorros! Como parte da família que são (já fiz uma carta falando como Seattle tem mais cão do que criança), têm mais é que acompanhar os donos.

Foto: Pets Advisers@CC

Estima-se que, só em fantasias de Halloween para seus amigos de quatro patas, os americanos vão gastar US$ 370 milhões este ano, 19% a mais que no ano passado. Recessão, onde?
Para quem é de outra cultura, celebrar o Halloween é como ir a uma festa à fantasia fora de época. Mesmo que não se adote um personagem, vale a pena observar até onde vai a natureza humana no seu intuito de extravasar, chocar, inspirar e se divertir.
Com pais levando seus filhos fantasiados para o trabalho ou saindo mais cedo para acompanhar os pimpolhos na tradição de pedir doces nas casas dos vizinhos, o trânsito da cidade virou um caos a tarde toda.
De novo: parece dia de carnaval no Brasil.

Melissa de Andrade é jornalista com mestrado em Negócios Digitais no Reino Unido. Ama teatro, gérberas cor de laranja e seus três gatinhos. Atua como estrategista de Conteúdo e de Mídias Sociais em Seattle, de onde mantém o blog Preview e, às sextas, escreve para o Blog do Noblat.

Um poeta que resolve as coisas por decreto


O crítico literário, tradutor, professor, escritor e poeta paranaense Paulo Leminski Filho (1944-1989) expressa, no poema “Bem no Fundo”, uma vontade que as pessoas gostariam de sentir acontecer, ou seja, a resolução de todos os seus problemas, mesmo que fosse por decreto, tornando a “mágoa” nula sob “Silêncio perpétuo”, extinguindo o “remorso” por força de lei, mas “problemas não se resolvem” através de remédios legais, pois “problemas têm família grande” que gera “probleminhas” no cotidiano das pessoas.

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BEM NO FUNDO
Paulo Leminski
No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
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