sexta-feira, 1 de junho de 2012

Lindo Poema - Um épico - Domingos Guimarãens


Enviado por Pedro Lago - 
1.6.2012
 | 23h30m
POEMA DA NOITE


entro numa farmácia 
tenho 30 anos 
entro para pedir um remédio 
para calvície 
não que seja calvo 
mas um certo medo precoce 
da idade 
uma vaidade que a invenção 
do espelho 
nos impôs
não é culpa do espelho 
antes todo mundo queria ser velho 
logo 
hoje todo mundo quer ser jovem 
sempre
o fato é que peço o remédio 
para calvície 
o atendente é mais novo que eu 
e careca 
durante alguns segundo me olha 
descrente 
pega o remédio 
pergunta se eu tenho o cartão de desconto 
segue o protocolo 
e me entrega o remédio 
descrente
vou andando pela rua 
de uma terra inventada 
de uma terra sonhada 
e olho o mundo que passa 
de carro 
bicicletas 
skate 
patins 
para que tanta roda meu Deus? 
o mundo passa 
descrente 
o meu remédio para calvície 
sacoleja líquido na bolsa plástica 
pedi para o atendente 
não me entregar a bolsa 
plástica 
mas ele seguiu o protocolo 
descrente
olho a bolsa plástica 
e penso no continente de plástico 
que bóia hoje no meio do pacífico 
deserto de polímeros 
lembro dos pássaros 
encontrados mortos 
com bolsas plásticas 
no estômago 
sempre me sinto um assassino 
de pássaros 
quando carrego uma bolsa 
plástica 
matador de passarinho 
sigo andando 
e lembrando 
que não é de hoje 
que me sinto assim 
assassino 
no primário uma professora 
me olhou fundo nos olhos 
com olhos lacrimosos 
por uma vírgula 
comida 
ela contou que na segunda guerra mundial 
um batalhão avançado perguntou 
se deviam matar prisioneiros de guerra 
NÃO TENHAM PIEDADE! 
foi a resposta 
mataram todos
mas faltou a vírgula 
não, (vírgula) 
tenham piedade. 
Não era para matar ninguém 
Sempre que erro uma vírgula 
me sinto um assassino 
um criminoso 
de guerra 
as vírgulas 
balas perdidas 
assassinando as frases
e um carro freia forte 
assovia borracha no asfalto 
buzina 
me xinga 
eu no meio da rua 
distraído pelo plástico 
pela vírgula
meu primo sempre diz 
que eu não tenho medo 
dos carros 
para mim parecem mesmo 
burrinhos pacatos 
ruminando pixe 
mas não são 
alguns não freiam 
outros comem pixe 
ou melhor 
petróleo 
e os pássaros 
com plástico no estômago 
cobertos de petróleo 
num acidente 
ecológico 
e os peixes tentando respirar 
na superfície pastosa 
deserto de pixes 
andar de carro 
é ser um assassino 
de peixes
tenho 30 anos 
me chamo Domingos 
sou um dia inútil da semana 
caminhando pela utilidade 
dos dias 
as inutilezas que salvarão o mundo 
a preguiça de um domingo 
que salvará o mundo
sou Domingos 
me chamam Dodô 
sou uma ave extinta 
de uma terra inventada 
uma terra sonhada 
num domingo de sol 
quando Deus cochilou 
inventaram o Brasil.

Domingos Guimaraens nasceu no Rio de Janeiro em 1979 - É poeta e artista plástico. Pertence ao coletivo poético Os Sete Novos, ao lado de Augusto de Guimaraens Cavalcanti e Mariano Marovatto e, juntos, publicaram o livro Amoramérica. Domingos ajudou na organização do CEP 20000 (Centro de Experimentação Poética) por alguns anos. Como artista plástico, pertence ao grupo Opavivará.

Mesmo para quem queria 50 milhões do Corinthians, esse 1 milhão que Adriano levou foi uma grande moleza


1/06/2012
 às 16:20 \ Tema Livre

Ricardo Setti

O atacante Adriano aguarda audiência na 89ª Vara da Justiça do Trabalho, em São Paulo: dinheiro demais para quem teve todas as chances e as desperdiçou (Foto: Diogo Moreira / Frame)
É uma pena. O acordo fechado hoje entre o Corinthians e o atacante Adriano, na Justiça do Trabalho, em São Paulo, encerra uma novela que poderia ter outro desfecho.
O craque (ou seria ex-craque?) queria nada menos do que 50 milhões de reais pelo contrato que se encerraria neste mês, mas que o Corinthians interrompeu em março, demitindo Adriano por justa causa.
Ele faltou a dezenas de sessões de fisioterapia, faltou a treinos, não deu atenção a multas, fez promessas que não cumpriu, desperdiçou seguidamente as oportunidades que o clube lhe ofereceu — desde possibilidade de recuperar a forma física até assistência psicológica — e deixou de receber o empurrão colossal que a torcida costuma dar a quem já vem para o time na condição de ídolo.
Sem contar que, ainda hoje, se recuperasse a forma física e, sobretudo, uma força interior que parece se haver esvaído, Adriano ainda seria um grande e temível atacante.
Acabou fazendo acordo por algo em torno de 1 milhão de reais — bom demais para quem recebeu gordos salários em dia, quase não jogou e frustrou um grande clube e uma grande torcida.
Assim, o milhão de reais que acabou concordando em levar para casa está até bom demais.

Cinco dias de silêncio demonstraram que o candidato a D. Pedro III aprendeu a lição de D. João VI: ‘Quando não se sabe o que fazer, é melhor não fazer nada’


31/05/2012
 às 9:37 \ Direto ao Ponto

Augusto Nunes

Sem contar o período de tratamento contra o câncer na laringe,ressalva o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, Lula só emudeceu por mais de três dias em 2005, quando explodiu o escândalo do mensalão, e em julho de 2007, depois do acidente com o avião da TAM na pista de Congonhas. Abalroado pela descoberta de que virou achacador de ministros do Supremo Tribunal Federal, o mais falante presidente da história perdeu deliberadamente a voz no último sábado, assim que começou  a ser distribuída a edição de VEJA.
“Quando não se sabe o que fazer, é melhor não fazer nada”, vivia recomendando D. João VI. O candidato a D. Pedro III resolveu ouvir o conselho do avô do imperador que rebatizou de “Dom Predo” num comício em que prometeu para 2010 a transposição das águas do Rio São Francisco ─ que continuam onde sempre estiveram. “O silêncio de Lula está impressionantemente, absurdamente ensurdecedor”, espanta-se Sérgio Vaz no artigo reproduzido na seção Feira Livre.
O cronista Paulo Sant’Ana, em sua coluna no jornal Zero Hora, ficou intrigado com a inovadora reação do palanque ambulante: em vez de berrar que está indignado, o ex-presidente valeu-se do bisonho comunicado divulgado pelo Instituto Lula para comunicar ao país que está indignado. “Diz a nota que ele está indignado”, escreveu Paulo Sant’Ana nesta quarta-feira. “Quem está indignado não escreve uma nota dizendo que está indignado. Quem está indignado fica indignado. E vem para a televisão dar murros na mesa e na tela e gritar que está indignado”.
A indignação silenciosa grita que Lula é culpado. Os milhares de minutos de silêncio registram a despedida do estrategista genial que nunca existiu. Nascido e criado na imaginação dos devotos, o mito do intuitivo infalível, tão consistente quanto o Brasil Maravilha do cartório, sucumbiu aos dois últimos disparos do canhão sem mira. Ambos deveriam levar os inimigos à capitulação e livrar do camburão a tropa de mensaleiros. Ambos vão provocando estragos e baixas no exército liderado pelo general trapalhão.
O primeiro tiro foi a instauração da CPI do Cachoeira. Além de desviar para o Congresso os holofotes concentrados no julgamento do mensalão, a CPI seria o instrumento perfeito para que Lula se vingasse  do governador Marconi Perillo e do senador Demóstenes Torres. Nesta quarta-feira, Perillo entrou na lista de depoentes, mas ao lado do companheiro Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal. Logo chegará a vez do governador Sérgio Cabral, condenado ao mergulho no pântano pela aprovação da quebra do sigilo bancário da construtora Delta. O segundo tiro foi a intensificação do assédio aos ministros do Supremo. O disparo que deveria adiar o julgamento dos mensaleiros só serviu para apressá-lo.
Louco por um microfone, Lula emergiu da mudez nesta quarta-feira, num comício improvisado em Brasília. Sem quaisquer vestígios de indignação, Lula elogiou Lula, recitou lições sobre questões que desconhece, contou mentiras novas e velhas. Tratou de uma penca de assuntos, menos do que interessa ao Brasil decente. O farsante recuperou a fala mas perdeu um pedaço da memória: não consegue lembrar-se do que houve neste fim de maio. Não tocou no nome de Gilmar Mendes, passou ao largo do STF e fingiu que nem sabe direito o que é mensalão. O surto de amnésia conveniente talvez seja interrompido nesta quinta-feira, durante a entrevista prometida ao apresentador Ratinho, do SBT.
Caso lhes reste algum juízo, os quadrilheiros do mensalão vão torcer para que a audiência do programa fique perto do traço. Se muita gente ouvir a discurseira forjada para justificar o injustificável, os sinais de perigo poderão multiplicar-se. Dependendo do que Lula disser, a turma de José Dirceu será obrigada a sair do desespero para afundar no pânico.

Dia de cão - por Dora Kramer



Dora Kramer - O Estado de S.Paulo

A Comissão de Inquérito vem caminhando. Um passo à frente, dois para trás, mas andando: pediu quebra de sigilo da Construtora Delta em âmbito nacional, chamou dois governadores citados nos inquéritos da Polícia Federal, devagar vai esgarçando parcerias e desmontando o roteiro inicial de instrumento de vingança.
O exame mais detalhado desse saldo positivo, no entanto, ficará para outro dia, pois não se pode deixar de tratar do dia de ontem que definitivamente não foi bom para a CPMI devido ao pendor farsesco de determinadas excelências.
O espetáculo de grosseria que o deputado Silvio Costa finalmente protagonizou depois de muito ensaio desde a instalação da CPMI decorreu de uma primeira farsa, esta montada pelo senador Demóstenes Torres.
Recorreu ao silêncio na CPMI aludindo, não ao "direito constitucional" de não produzir provas contra si. Soaria contraditório, pois alega total inocência do que tange às acusações de envolvimento com a máfia Cachoeira.
Reivindicou a prerrogativa de calar alegando que já havia falado dois dias antes ao Conselho de Ética. Ofereceu a reprodução daquele depoimento por escrito a título de "colaboração", como se houvesse equivalência entre as duas instâncias.
Não há. Uma comissão de inquérito tem poderes que ultrapassam em muito as prerrogativas de um conselho. O que se diz lá produz provas, gera consequências. Cumpre lembrar que a denúncia que resultou no processo do mensalão foi feita em boa parte com base nos trabalhos da CPI dos Correios.
Além disso, no conselho se examina a quebra do decoro parlamentar do senador Demóstenes Torres ao dizer a seus pares uma coisa e logo depois ser desmentido pelas gravações de telefonemas feitas pela PF.
Na comissão, o objeto da investigação diz respeito ao Código Penal, às acusações de envolvimento com crimes. Como, de resto, sabe bem o senador. Com a manobra, no lugar de se diferenciar, igualou-se à raia miúda que já passou silente pela CPMI.
De onde o deputado Silvio Costa achou-se no direito de humilhá-lo aos gritos e em boa hora foi advertido pelo senador Pedro Taques, que passou a ser alvo da sanha desaforada do deputado.
Aos palavrões, a um só tempo feriu o decoro, fez de Demóstenes uma vítima e da CPMI palco de um espetáculo burlesco que seria de quinta categoria não fosse mesmo é de oitava.
Calmante. A declaração do advogado Técio Lins e Silva de que seu cliente Fernando Cavendish não recorrerá à Constituição para calar se for chamado à CPMI, pode funcionar como antídoto.
Lins e Silva não disse que Cavendish vai acusar ninguém. Mesmo assim, só a indicação de que se perguntado responderá, é bem capaz de arrefecer o "ânimo convocador" de muita gente na comissão.


Efeito CPI: J&F revê o plano de comprar a Delta


Durou 22 dias o plano do empreiteiro Fernando Cavendish de passar adiante o abacaxi da Delta Construções. A J&F, holding que controla o frigorífico JBS, desistiu de comprar a empreiteira. Concluiu que o negócio é demasiado tóxico.
A J&F havia anunciado sua decisão de assumir o controle administrativo da Delta em 9 de maio. Simultaneamente, incumbira-se a KPMG de realizar uma auditoria nos contratos e nas contas da construtora.
Estava combinado que, concluída a auditoria, a J&F decidiria se exerceria ou não a opção de compra da Delta. Súbito, antes mesmo da conclusão da razia da KPMG nas contas da Delta, o potencial comprador deu meia-volta.
O empresário Joesley Batista, mandachuva da J&F, disse que a Delta enfrenta problemas de caixa e de credibilidade. Não necessariamente nessa ordem. “A gente imaginava que em 30 dias a situação ia melhorar, mas o processo está sendo mais longo do que eu imaginava.”
Como assim? “Uma coisa era quando exista uma CPI sobre um contraventror, e a Delta era um apêndice, mas vimos que agora ela vai ficar sob suspeita por mais uns meses.”
O anúncio da desistência chega três duas depois de a CPI ter aprovado a quebra dos sigilos bancário e fiscal da matriz da Delta, sediada no Rio. Inicialmente, a intenção da comissão, expressa no plano de trabalho do relator Odair Cuna (PT-MG) era varejar apenas as contas da Delta no Centro Oeste.
Em comunicado oficial, a J&F anotou: “O prolongamento da crise de confiança sobre a Delta tem deteriorado o cenário econômico-financeiro da construtora, gerando um fluxo financeiro negativo e alterando substancialmente as condições inicialmente verificadas.”
Agora, a intenção do grupo controlado pela família Batista, de Goiás, é a de manter a gestão da Delta e criar uma empreiteira nova. Deve incorporar apenas o que há de aproveitável na Delta –os equipamentos, por exemplo. Quer dizer: a empreiteira de Cavendish tende a virar um esqueleto endividado.

O PT teme perder o controle da CPI e esta transformar-se em CPI do PAC.




O PT teme perder o controle da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira e que seu foco saia de “desvendar a farsa do mensalão”, a que se propôs, para outro, maior e mais perigoso para o partido: uma “CPI do PAC”, o Programa de Aceleração do Crescimento, que seria possível a partir a quebra de sigilo da empreiteira Delta.
O sinal amarelo acendeu a partir dos resultados da comissão nesta semana. A legenda tinha o objetivo principal de quebrar os sigilos do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e evitar que qualquer governador fosse convocado agora. Acabou com uma tripla derrota. Desistiu de colocar em votação a quebra de sigilo do tucano, não segurou os aliados na quebra de sigilo da Delta e ainda viu o governador correligionário, Agnelo Queiroz, do Distrito Federal, ser convocado para depor, assim como Perillo.
Ontem, petistas estavam preocupados com a situação, mas a preocupação maior era com as próximas semanas. A eles chegou a informação de que, a depender do caminhar das apurações, os partidos de oposição podem vir a apresentar requerimentos para convocar a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, e a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra.
Ambas, em momentos diferentes, coordenaram o PAC no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Belchior se manteve na Esplanada com a eleição de Dilma. Mas para Erenice isso não possível. Em setembro de 2010, denúncias de tráfico de influência a afastaram do cargo. Até mesmo o ex-ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, é citado entre petistas como possível alvo.
Com a possibilidade de a investigação ser ampliada, o PT avalia formas de se rearticular politicamente e consolidar a maioria que sempre teve na CPI. A estratégia é mostrar aos aliados o risco de uma apuração maior do que a prevista no objeto da comissão. O Rio de Janeiro do governador Sérgio Cabral (PMDB), por exemplo, é o maior contratante estadual da Delta no país. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), a principal pagadora da construtora no governo federal, ficou oito anos tendo a cúpula do PR à frente. O mesmo argumento serve ao PP e ao Ministério das Cidades com suas obras de saneamento. Ou seja, para petistas, se o foco ampliar, o PT muito provavelmente não estará sozinho em eventuais delitos que aparecerão.
Além disso, o Palácio do Planalto tem em construção um discurso preventivo para atenuar sua participação em irregularidades que vierem a ser descobertas na Delta.. A referência é ao pedido à Controladoria-Geral da União que abrisse processo administrativo para que a empresa seja declarada inidônea. Com isso, a União não mais a contratará. Nos contratos vigentes, avaliará caso a caso se a mantém nas obras ou se chama a segunda colocada nas licitações para finalizá-las.
O problema é que essa estratégia pode falhar se a quebra do sigilo demonstrar um PAC muito corrompido, conluios entre construtoras, bem como obras estaduais afetadas, qualquer que seja o governador. Caso atinja essa dimensão, o maior prejudicado pode ser o PT, tendo em vista ser o governo federal o maior pagador de obras civis no país.
Por outro lado, os partidos, ao perceberem que pode sobrar para todos, tendem a buscar um acordo e limitar a apuração. Ainda assim, pode haver prejuízo, uma vez que as investigações poderão ser continuadas pelos Ministério Público. Essa linha inclusive tem sido defendida por petistas da CPI: de fazer um relatório ligado ao objeto inicial da comissão, independentemente do rumo que ela tomar.
O PMDB, contudo, gostou do acerto com o PSDB nesta semana e acredita que é o PT quem mais depende dele na CPI do que o contrário. Rejeita também alinhamento automático com o aliado nas sessões, sob argumentos diversos, compartilhados por outros aliados.
Primeiro, que a coalizão não se estende à CPI, apenas ao processo legislativo. Ainda mais em uma CPI armada, inicialmente, para abater os inimigos petistas. Segundo, que os petistas buscam a hegemonia nas eleições municipais e têm deixado os parceiros nacionais à míngua, tanto em recursos da União quanto na disposição a apoio nas cidades. Cita-se o caso do irmão do presidente da CPI, senador Vital do Rego Filho (PMDB-PB), prefeito em Campina Grande (PB), que pena para o PT desistir da candidatura própria e apoiar sua candidata em outubro. Algo que não deve ocorrer.
Terceiro, que os petistas não cumprem acordos. Os dois partidos tinham acertado na segunda-feira que a quebra do sigilo nacional da Delta seria restrita às contas ligadas ao esquema da empresa do Centro-Oeste. No início da votação, os petistas do Senado foram os primeiros a votar pela quebra do sigilo nacional. O PMDB percebeu que não teria votos suficientes e acompanhou. Sem falar no constantemente ameaçado acordo para apoiar Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) na eleição para presidência da Câmara em 2013.
Esse, aliás, é outro problema para o PT resolver. As bancadas da Câmara e do Senado ainda não acertaram o passo. O que os separa é a divisão na avaliação inicial do rumo que o partido deveria dar à CPI. Os deputados sempre foram mais favoráveis a limitá-la ao Centro-Oeste e a não convocar os governadores, enquanto os senadores não tinham a convicção de restringir a apuração.
Há ainda os desacertos pessoais. Os senadores acabaram aceitando o plano de trabalho da CPI, mas foram surpreendidos quando o relator Odair Cunha (PT-MG) se disse favorável à quebra do sigilo da Delta. Também não gostaram das declarações do líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), de que “esse é o PMDB”, após a aliança da sigla com tucanos na blindagem a Sérgio Cabral e convocação de Agnelo Queiroz.
Os deputados, por sua vez, não gostaram das manifestações do líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA), sobre o episódio em que o deputado Cândido Vaccarezza (SP) foi surpreendido prometendo proteção a Cabral. Pinheiro disse que cabia ao deputado analisar se deveria sair da CPI. Outra declaração considerada desastrada por deputados foi a do senador Humberto Costa (PE) sobre Cabral. Ao tentar defender o governador, disse que tudo que havia contra Cabral eram imagens dele com guardanapos na cabeça. O que é falso. Em nenhum momento o pemedebista aparece nas fotos nessas circunstâncias.
O PMDB tem arrolada todas essas situações e avalia que, a partir de agora, a CPI será tomada por articulações e acordos instantâneos e pontuais, com PT, PSDB ou quaisquer outros. A única exceção para essa linha, na visão da sigla, seria o governo intervir na CPI, mostrar posição e compor maioria. Seria, assim, o único elemento aglutinador da base que poderia reorganizar a condução da comissão. Algo, por ora, improvável.
Fonte: Valor Econômico 

JBF desiste de comprar Delta


Adriana Vandoni

A J&F, grupo que controla o JBS, desistiu nesta sexta-feira (1º) da compra da Delta. Construções. Segundo a assessoria de imprensa do grupo, a J&F vai divulgar oficialmente a desistência ainda nesta tarde. A empresa ainda não informou os motivos da desistência, mas aconteceu depois que a CPMI quebrou o sigilo bancário da empresa.

No Ratinho, Lula rói a Lei Eleitoral, os fatos, as instituições, o decoro, o bom senso…



12:20:56

É o passado que insiste em não passar; é a rabada privada paga com a rabada pública!

Caros, o texto ficou longo (grande novidade!!!), mas acho que dá conta de quase todos os aspectos daquele grotesco espetáculo de ontem à noite. Avaliem. Se gostarem, espalhem.
*
Há dias a transgressão à Lei Eleitoral estava anunciada. Lula daria a sua primeira entrevista depois de deixar a Presidência da República ao Programa do Ratinho, do SBT. O SBT é a emissora do empresário e ex-banqueiro Silvio Santos, cujo banco, o Panamericano, quebrou, deixando um rombo de R$ 4,3 bilhões na praça. Isso deveria lhe ter custado o patrimônio pessoal e empresarial. Mas saiu ileso, sem gastar um centavo. O então presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu um jeitinho. Foi um dos maiores escândalos financeiros do país. Voltarei ao ponto mais abaixo. Pois bem: os petistas anunciavam, e a imprensa noticiava: a “entrevista” ao apresentador Ratinho será a primeira de uma série de aparições do ex-presidente em programas de TV para tentar catapultar a candidatura de Fernando Haddad (PT) à Prefeitura de São Paulo. Ou por outra: o desrespeito à Lei Eleitoral estava sendo, por espantoso que pareça, anunciado. Fazia-se a crônica do crime antes mesmo de ele acontecer. E assim se deu. Só não se esperava que pudessem ir tão longe — aposta sempre perdida quando se trata de Lula. E foram! Haddad, em pessoa, apareceu a tiracolo, para ter suas virtudes exaltadas por Lula e para tentar, ele mesmo, com peculiar ruindade, vender o seu peixe. Um escracho! Um acinte! Um deboche! A maracutaia que livrou a cara e o bolso de Silvio Santos vivia ali mais um capítulo das compensações, da política do “é dando que se recebe”. ...

Ataque boçal e antidemocrático
Lula — com o concurso do SBT, é evidente! — não foi além do aceitável apenas quando apareceu com seu candidato, um notável desajeitado, que mal escondia a condição de boneco de mamulengo. A certa altura do programa, Ratinho perguntou — com aquela falsa espontaneidade que, admita-se, o apresentador encarna muito bem — se o petista admitia voltar a se candidatar à Presidência da República. Depois de afirmar, obviamente, que Dilma tentará a reeleição, que está fazendo um trabalho extraordinário, não se conteve: “Se ela não quiser ser candidata, vou ser. Não vou permitir que um tucano volte a ser presidente do Brasil”. Ainda que a resposta pareça banal na sua boca e, até certo ponto, esperada, é bom que se destaque: não há democracia respeitável no mundo que aceite uma intervenção como essa. Lula transforma um dos partidos de oposição num anátema, como se, na Presidência, tivesse feito um mal ao Brasil. É essa abordagem verdadeiramente criminosa que o petismo tem da política que me causa — a mim e a quantos possam prezar o regime democrático — repúdio. Ratinho, com Haddad ali presente, numa programa que tinha justamente o objetivo de tirá-lo da obscuridade eleitoral, não perdeu tempo. Olhou para as câmeras e disparou:
— Zé Serra, cê tá ralado!

O empresário Ratinho, dono de concessões de emissoras de televisão, de tonto só tem o andado e o jeitão. É espertíssimo. Sabe que o tucano José Serra é candidato à Prefeitura de São Paulo e, pois, adversário de Haddad, não à Presidência. Mas estava ali prestando um serviço. Lula havia dado a Silvio Santos, afinal, quando fez a maracutaia do Panamericano, bem mais do que aquilo. A dívida, aliás, é impagável!

Pagando a rabada de Ratinho com a rabada do povo
Lula está com a aparência doentia, ainda bastante inchado e rouco, mas o caráter, o que ele tem, já está cem por cento. Nos primeiros instantes de programa, contou que havia prometido a entrevista ao apresentador porque eram amigos pessoais: “Já comi rabada na casa do Ratinho, e o Ratinho comeu rabada na Granja do Torto”. O valor de uma e de outra é certamente irrisório, mas não o simbolismo. O apresentador pagou a iguaria que ofereceu a Lula com seu próprio dinheiro, e Lula pagou a que ofereceu a seu amigo com o nosso. Mutatais mutandis (e põe uma montanha de “mutandis” aí…), o acordão do Panamericano foi uma rabada pública de dimensões pantraguélicas! Mas ainda não é a hora de falar disso. Sigamos.

O país de Lula é assim, fraterno, feito de amizades, compadrios, arranjos, acertos, conversas ao pé do ouvido, transgressões legais, artimanhas, manhas, arranjos à socapa, ilegalidades à sorrelfa, cochichos… À guisa ainda do troca-troca de rabadas, repetiu uma das divisas da República da Companheirada:
“Eu costumo dizer que um irmão nem sempre é um grande companheiro, mas que um companheiro é sempre um grande irmão”.
Na plateia, o irmão Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo (com os cabelos tingidos, mais negros do que as asas da graúna) e, claro!, Haddad, que logo seria chamado para uma das cadeiras dos entrevistados.

O câncer e o ataque a quem tem plano de saúde privado

Aí chegou a hora da exploração eleitoreira do câncer. Lula fez digressões sobre a sua boa saúde até então, sem tomar remédios — no máximo, disse, ingeria uns Engovs para minimizar os efeitos da “marvada pinga” —, até que recebeu a notícia da doença. Fez um resumo até bem-humorado das dificuldades para, ora se não faria isto!, atacar aqueles que votaram contra a CPMF e, pasmem!, os brasileiros que têm plano privado de saúde! O homem que se tratou num dos hospitais mais equipados e caros do mundo — teria sido tudo pago por seu plano de saúde??? — tem clara noção do contraste entre o tratamento que ele recebe e aquele dispensado por seu governo à população pobre, certo? Quem é o responsável por isso? Ora, os que votaram contra a CPMF! “Se a gente quiser que o povo tenha o tipo de tratamento que eu tive, tem de ter dinheiro”. Não! Lula não foi se tratar no SUS — que ele chegou a declarar “perto da perfeição” e a oferecer como modelo a Obama. Preferiu o Sírio-Libanês. E afirmou, de modo um tanto oblíquo, que o conjunto dos brasileiros só não tem um Sírio-Libanês para chamar de seu por culpa dos adversários.

A mentira escandalosa sobre os planos de saúde
Está, sim, um tanto alquebrado, mas, afirmei, o caráter continua o mesmo. É o que sempre digo: doença não é categoria de pensamento, não melhora ninguém. Aproveitou, ainda, para fazer caricatura dos brasileiros que pagam plano privado de saúde, que seriam uns reclamões injustos: “Quem paga o plano de saúde dele? É o estado brasileiro, que não recebe imposto!” Trata-se de uma falsificação grosseira da verdade. Lula sabe muito bem o que é Imposto de Renda e como funciona — o governo petista bate sucessivos recordes de arrecadação. Quando o contribuinte declara os gastos de saúde está apenas — atenção! — deixando de ser tributado sobre aquele valor, mas é mentira que o estado esteja pagando alguma coisa! O coitado está efetivamente tirando um dinheiro do bolso para financiar a sua saúde e a da família. A afirmação é uma mentira, uma vigarice! Terá a oposição prestado atenção que o petista hostilizou, com essa afirmação, milhões de brasileiros obrigados a aderir à saúde privada para fugir do “sistema quase perfeito” de Lula? Se fosse ágil, estaria amanhã nas redes sociais fazendo esse debate. Mas até acordar do sono eterno…

Aí chegou a hora de Haddad
Aí chegou a hora de Haddad. Como quem não quer nada, como se a pergunta tivesse acabado de lhe ocorrer, Ratinho indagou por que ele escolhera o ex-ministro da Educação como candidato à Prefeitura de São Paulo. E o ApeDELTA explicou que queria alguém com uma cara nova, que tinha criado o ProUni e 14 universidades federais (mais um número mentiroso!). O candidato, então, foi chamado a integrar a mesa, como entrevistado. Tudo estava tão organizado, que havia até uma “reportagem” com uma estudante do quarto ano de medicina, financiada pelo ProUni. Ela, claro, estava gratíssima aos dois petistas. Setenta por cento das universidades federais estão em greve. Algumas delas não contam nem com sistema de esgoto. Aulas estão sendo ministradas em barracões e prédios improvisados. E isso é apenas um fato. Em 2010, formaram-se menos estudantes em universidades públicas do quem em 2004!

Exibindo notável falta de treino, um tanto desenxabido, Haddad engrolou ali um discurso segundo o qual os críticos do Bolsa Família (???) acusavam o programa de assistencialista — o que, atenção!, é falso! Lula roubou o programa do governo FHC, como já provei aqui. Antes de adotá-lo como seu, quem dizia que programas de bolsa deixava o pobre preguiçoso, “sem vontade de plantar macaxeira”, era o próprio Lula. E já estava na Presidência da República. Indagado por que quer ser prefeito, Haddad afirmou que pretende melhorar a vida das pessoas do portão para fora — tarefa que seria da Prefeitura — porque, do portão para dentro, tudo o que aconteceu de bom aos brasileiros é obra de Lula e, vá lá, de Dilma. E teve a cara de pau de falar justamente sobre  saúde, como se o governo do PT não administrasse o país, estados e cidades em que a área vive em petição de miséria. O atendimento na rede municipal de São Paulo é muito superior àquele dispensado pelo governo federal.

Lula retomou a palavra. Pelo visto, está disposto a ressuscitar a sua pantomima do arranca-rabo de classes — justo o homem que comandou o arranjo de mais de R$ 4 bilhões do Panamericano… Já chego lá! “Muita gente diz que o Lula só cuida dos pobres”…Meus Deus! Que calúnia! Muita gente diz que eu me pareço com o Brad Pitt, e eu não me ofendo… Ora, quem diz isso? Desconheço. Eu acho que o Lula cuida é mal dos pobres. O ProUni, por exemplo, com raras exceções, é o quê? Faculdade ruim, paga com dinheiro público, para os… pobres! Os ricos vão para as universidades públicas. Mas isso fica para outra hora.

SBT X Record e os evangélicos

Ali pelo fim da entrevista, algo curioso se deu. Ratinho anunciou que o Ibope do seu programa estava maior do que “o da emissora do bispo”, referindo-se à Record, de Edir Macedo, que concorre com o SBT no esforço de puxar o saco de Lula e do PT. E disse ao ApeDELTA: “Eu estive com o apóstolo Valdomiro [na verdade, é "Valdemiro"], e ele te mandou um abraço. E Lula: “Eu quero falar com ele!”. Ratinho responde: “Posso marcar?”. O petista disse que sim.

Pois é… Haddad é amplamente rejeitado, por enquanto, pelos cristãos, tanto católicos como evangélicos, por causa do kit gay preparado para as escolas e da defesa fanática que o PT faz da descriminação do aborto. Valdemiro, originalmente um desgarrado da Igreja Universal do Reino de Deus, de Macedo, é dono da Igreja Mundial do Poder, uma das pentecostais que mais crescem. E esse crescimento tem-se dado justamente sobre a Universal, tomando-lhe fiéis e pastores. Os dois donos de igreja travam uma batalha feroz, com pesadas acusações mútuas. Macedo já pôs o, por assim dizer, “jornalismo” da Record para atacar o adversário do mercado da fé. É bem possível que Lula queira falar com o concorrente de seu amigo Macedo para promover a paz religiosa… O dono da Universal também é proprietário (!) de um partido político, o PRB, que tem, por enquanto, um candidato à prefeitura de São Paulo: Celso Russomano. Nada, certamente, que o Babalorixá de Banânia não possa resolver.

Agora o Panamericano
Em 2008, o Banco Panamericano já estava quebrado. Mesmo assim, em 2010, a Caixa Econômica Federal comprou 49% das ações da instituição. Um ano depois, estava quebrado, com um rombo de R$ 4,3 bilhões. A única saída seria Silvio Santos arcar, conforme a lei, com os seus bens pessoais e os das suas empresas. A menos que aparecesse um super-Lula no meio do caminho, como apareceu. O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) ficou com o espeto. Luiz Sandoval, ex-presidente do Grupo Silvio Santos, contou tudo à Folha numa entrevista no dia 11 de março. A história de que o FGC é só dinheiro privado é conversa para boi dormir. A “sociedade” com a CEF rendeu a ignominiosa reportagem da “bolina de papel” em 2010, lembram-se? A operação salva-Silvio, rende agora a campanha eleitoral arreganhada para Haddad. Dado o tamanho do socorro — R$ 4,3 bilhões —, vem mais coisa por aí.

Os truques
É quase certo que a patranha desta quinta será lavada com convites aos demais candidatos à Prefeitura. Aposto que Serra e alguns outros serão convidados, sob o pretexto de garantir condições iguais a todos. Eles irão, claro! Mas se trata de um truque. Não haveria nada de errado em Lula conceder uma entrevista e elogiar fartamente as gestões petistas. Do mesmo modo, o candidato Haddad poderia ter sido entrevistado (outros teriam a sua chance). A malandragem está na operação casada, no uso de um programa de TV para que Lula faça proselitismo em favor do outro, transformando uma suposta entrevista em horário eleitoral gratuito. Ratinho e o SBT puseram um programa da emissora a serviço do lançamento de uma candidatura. A propósito: caso os demais candidatos sejam convidados, devem exigir da produção “reportagens” com pessoas gratas à sua atuação pública.

“Vamos bater nos jornalistas”
Ratinho encerrou o programa fazendo um gracejo, convidando Lula para um programa em conjunto, na televisão. Seria o certo. Finalmente, a vocação de animador de auditório! O apresentador emendou: “Tem muito jornalista que bateu em você; vamos bater neles”. E Lula respondeu: “Vamos entrevistá-los“. Trata-se de um gracejo revelador, a exemplo do troca-troca das rabadas. Políticos não entrevistam jornalistas porque estes, na sua profissão, não se candidatam a cargos públicos nem são sustentados pelo povo — há alguns que são, mas não são jornalistas, e sim paus-mandados. Lula nunca entendeu direito o trabalho da imprensa, não é? Daí que se dedique, com frequência, a tentativas de censura e intimidação.

Indagado, finalmente, e de forma indireta, sobre o caso Gilmar Mendes, o petista afirmou que não falaria a respeito se limitou a dizer: “Quem acusou que prove”!. Pois é! Só se Gilmar Mendes estivesse com um microfone na lapela. O relevante é que todo mundo sabe o que aconteceu. Não estivesse Lula ali a roer a Lei Eleitoral, os fatos, as instituições, o decoro e o bom senso, talvez um ou outro ainda pudessem ter direito à dúvida. Mas como duvidar?

Como acreditar num Lula que se dizia respeitador da lei enquanto a desrespeitava uma vez mais? O passado não quer passar. O passado quer ficar. A tradição de todas as gerações mortas insiste em oprimir como um pesadelo o cérebro dos vivos, como disse aquele…

Ave, Lula! As instituições, que hão de sobreviver, o espreitam!

Por Reinaldo Azevedo

Fonte: Veja.com Reinaldo Azevedo - 01/06/2012

A brutalidade em tela


Por Lilia Diniz em 01/06/2012 na edição 696 - Observatório de Imprensa

 Em emocionado desabafo durante o quadro “O que vi da vida”, exibindo em 20/5 no Fantástico, a apresentadora Xuxa Meneghel revelou ter sofrido abuso sexual em diversas ocasiões na infância e na adolescência. Os agressores seriam amigos da família e até um professor. Xuxa contou que a violência deixou sequelas em sua vida adulta. O Observatório da Imprensa exibido ao vivo pela TV Brasil na terça-feira (29/5) discutiu a exposição da fragilidades de celebridades na mídia as consequências dessas revelações para a sociedade. Nos últimos anos, o relato de famosos sobre questões pessoais delicadas tem estimulado a população a procurar ajuda.
A reação às declarações da apresentadora foi imediata e o assunto repercutiu nas redes sociais. A iniciativa de Xuxa foi elogiada por especialistas em crimes contra a criança, por encorajar a discussão do tema. A ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, destacou a coragem da apresentadora. Nos dias seguintes à exibição do quadro, houve um aumento de 30% nas denúncias de abuso sexual recebidas pelo ministério. A postura da apresentadora também encontrou críticas, segundo as quais a exploração da intimidade da artista teria sido um golpe de marketing.
A entrevista foi exibida dois dias depois da sanção da Lei Joanna Maranhão, que ampliou o prazo para a prescrição de crime sexual contra crianças. A lei leva o nome da nadadora porque, em 2008, a atleta denunciou um treinador por abusos quando ainda era criança. De acordo com o Ministério da Saúde, o abuso sexual é o segundo tipo de violência mais comum contra crianças e adolescentes. Na maior parte dos casos, o agressor é alguém da família ou uma pessoa próxima da criança.
Alberto Dines recebeu Eduardo Ferreira-Santos no estúdio de São Paulo. Psiquiatra e psicoterapeuta de adultos e adolescentes, Ferreira-Santos é formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Em Brasília, o programa contou com a participação de Veet Vivarta e Debora Diniz. Vivarta é jornalista e secretário executivo da ANDI – Comunicação e Direitos. Coordena a implementação das metodologias de monitoramento, análise e capacitação da mídia criadas pela entidade e hoje replicadas internacionalmente. Antropóloga, Debora Diniz, é professora da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisadora da ANIS – Instituto de Bioética Direitos Humanos e Gênero. É representante no Brasil do Research Project Review Panel (RP2) – Department of Reproductive Health and Research (RHR), da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Quando a realidade se impõe
Antes do debate no estúdio, em editorial, Alberto Dines comentou que a sociedade foi obrigada a encarar uma realidade que costuma ignorar. “O fato de esta violência ter ocorrido em uma família da classe média, aparentemente estruturada e distante da miséria que geralmente associamos à promiscuidade, torna ainda mais dramáticas as revelações da apresentadora”, afirmou o jornalista. Dines ponderou que a artista recebeu apoio da sociedade, mas também foi alvo de “chacota e cinismo” de quem atribuiu a atitude a uma busca pelos holofotes da mídia.
A reportagem exibida antes do debate no estúdio entrevistou o psicanalista Chaim Samuel Katz. Na avaliação de Katz, ao falar sobre o abuso a vítima pode se sentir aliviada: “A mídia é um modo de difundir várias opiniões já sedimentadas na vida social, mas também um modo usado por muitos para fazer uma catarse. A pessoa purga uma certa situação já vivida anteriormente e à qual ela não pode dar vazão. A pessoa quer contar alguma coisa, quer que repercuta para os outros, mas, especialmente, quer que repercuta para si próprio. Ela quer ser ouvida naquilo que, na intimidade, ela não conseguiu dizer ou se fazer ouvir suficiente”. Katz ressaltou que, ao escutar o relato de uma celebridade, o telespectador é fortemente impactado e o tema ganha uma importância afetiva.
A mídia pode ser um importante aliado no debate de temas considerados tabus. Em 2010, o Ministério Público do Distrito Federal procurou a parceria da imprensa para estimular as denúncias. A TV Brasília fez uma série de reportagens sobre abuso sexual. Daiane Garcez, repórter que participou da série, disse aoObservatório que o papel da imprensa foi mostrar que a denúncia é a principal forma de combate: “Se não se denuncia não se pode investigar, não se pode agir, não se pode acabar com o problema. O segundo ponto é mostrar às pessoas como elas podem identificar esse problema. Então, a partir do momento em que a pessoa está sentada, assistindo a uma reportagem, ela pode identificar que o vizinho dela se comporta daquele mesmo jeito que a vítima apresentada na reportagem se comporta”.
O papel da mídia
No debate ao vivo, Veet Vivarta destacou que Xuxa “levou para a sala dos telespectadores” uma questão ampla que permanece invisível. “A família acaba ignorando, se omitindo, ou até buscando preservar o abusador em função de todas as questões que seriam geradas por um processo de denúncia, de trazer a público essa questão. Esse ato da Xuxa é corajoso porque ajuda a sociedade a olhar para algo que acontece com muito mais frequência do que a gente imagina, mas está sempre cercado de medo, de vergonha, de negação desta realidade”, disse Vivarta.
Para o secretário executivo da ANDI, os números oficiais de abuso sexual contra crianças e adolescentes não refletem a realidade porque esta é uma questão de âmbito familiar pouco notificada. As vítimas, em geral, sentem-se culpadas, têm medo das consequências da revelação e as famílias protegem o agressor. Vivarta sublinhou que educadores e profissionais de saúde pública deveriam ser capacitados para reconhecer os sinais de abuso e, assim, auxiliar as famílias das vítimas.
Dines perguntou o que pode ser feito para que o debate sobre abuso sexual no Brasil não fique restrito ao noticiário sobre revelações pontuais. Veet Vivarta comentou que a imprensa poderia qualificar a discussão sobre o assunto e contextualizar as informações. Além de refletir sobre como e por que o abuso sexual contra crianças e adolescentes ocorre, a mídia deveria, sobretudo, estimular as famílias a buscar ajuda profissional: “Existe muito espaço e necessidade para uma informação que vá além do sensacional, que reconheça o quanto é impactante esta situação, mas ajude a sociedade a lidar com esta questão. Eu acho que esse é um trabalho que cabe à imprensa no pós-denúncia”, disse.
Em outros países, de acordo com Vivarta, celebridades têm se engajado de forma mais consistente nas causas sociais: “A gente acaba desenvolvendo um modelo perverso onde a celebridade entra na sua casa, não tem o menor pudor em vender ‘n’ produtos nos comerciais, na publicidade, não tem problema em vender no merchandising das novelas, mas se acha constrangida em assumir uma causa”. O jornalista ponderou que a imprensa deveria questionar essa situação.
De quem é a culpa?
O psicanalista Eduardo Ferreira-Santos explicou que há diferentes tipos de abusadores. Os contumazes têm um desvio de personalidade e não sentem vergonha ou remorso. Raramente procuram tratamento no campo da psiquiatria. Já alguns pacientes relatam que, em momentos específicos, e particularmente delicados, tiveram a oportunidade de viver uma “situação de sexualidade” com uma criança. “Eles confessam com muita vergonha porque não faz parte das suas características, do seu traço de personalidade”, disse o psiquiatra.
Ferreira-Santos contou que a polêmica em torno do abuso é antiga: “No final do século retrasado, quando começou a estudar seus pacientes com histeria, Freud denunciou, naquela Europa vitoriana, que havia casos de abuso sexual contra as crianças. E a sociedade como um todo se revoltou contra essa revelação: ‘Isso não é possível, não existe’. Isso levou o próprio Freud, o grande pai da psicanálise, a voltar atrás e criar a Teoria da Sedução, que é o que muita gente acaba usando hoje em dia. [A teoria diz que] a criança não foi abusada, ela imagina que foi abusada. Quando, na verdade, de fato, ela foi abusada, muitas vezes com violência. Ela acaba ficando com vergonha e assumindo a culpa por algo que foi cometido por um maior que está ali perto dela”.
Apenas no início da puberdade a vítima tem consciência plena das agressões. Eduardo Ferreira-Santos explicou que vergonha, medo e culpa são os sentimentos mais comuns quando o adolescente depara com a verdade. A vítima, então, sente-se profundamente deprimida e pode desenvolver importantes transtornos de personalidade. O psiquiatra ponderou que as páginas policiais estão repletas de serial killers que cometeram crimes sexuais bárbaros e se referem, em seus depoimentos, a casos de abuso praticados contra eles por pessoas mais velhas da sua própria família.
Sinais de alerta
Apesar dos questionamentos sobre a conduta de Xuxa, na avaliação de Ferreira-Santos é inegável que ela está sendo a protagonista de um drama vivido pela sociedade. Ele alertou aos pais e parentes para que fiquem atentos aos sinais de abuso contra as crianças e que denunciem o abusador. “Que essa denúncia não se perca arquivada como tantos inquéritos se perdem nesse Brasil e nesse mundo hipócrita que se esconde atrás de uma falsa moral, de uma falsa religiosidade, de uma falsa apresentação daquilo que é certo quando, debaixo do pano, tudo está acontecendo de uma forma errada”.
Para quem está fora do contexto familiar de silêncio e violência que cerca o abuso sexual, é chocante perceber que grande parte das mães não denuncia o agressor. A antropóloga Débora Diniz explicou que, na maioria dos casos, o abusador faz parte do regime doméstico de convivência com as crianças – é seu pai ou padrasto, por exemplo – e também é violento com as mães. Além disso, há uma série de dependências econômicas e emocionais que tornam o agressor poderoso perante a vítima.
“Por isso é tão importante uma figura pública como a Xuxa contar a própria história, falar da mãe, do silêncio que ela manteve em relação aos irmãos, porque permite que as instituições do Estado digam que a casa não tem portas fechadas diante dos atos de violência. Cabe ao Estado dizer: isso aqui também é um espaço de proteção e de proteção das crianças”, afirmou a antropóloga.
Debora Diniz ponderou que, embora ocorram casos de abusos contra meninos, sobretudo em ambiente religioso, a cena mais comum nas famílias é a de violência contra as meninas. Ela destacou uma frase do depoimento de Xuxa em que a apresentadora conta que se questionava sobre os motivos que teriam provocado o abuso, como o modo de se vestir ou de se comportar. Debora Diniz relatou que, em geral, as meninas costumam fazer essas mesmas perguntas em casos de abuso sexual e destacou que a sociedade brasileira devolve para o corpo da vítima a responsabilidade pelo crime.
***
A repercussão do caso Xuxa
Alberto Dines # editorial do Observatório da Imprensa na TV nº 641, exibido em 29/5/2012
No momento em que a sociedade brasileira se dispõe a pagar o alto preço da busca da verdade, a apresentadora Xuxa Meneghel entra em cena com uma contribuição corajosa e penosa.
A confissão que fez no programa Fantástico (20/5) sobre os abusos sexuais de que foi vítima quando criança até a adolescência chocaram o país. A sociedade cordial, complacente e despreocupada, de repente foi obrigada a defrontar-se com uma violência que não parece rara, mas teima em ignorar.
O fato desta violência ter ocorrido numa família da classe média, aparentemente estruturada e distante da miséria que geralmente associamos à promiscuidade, torna ainda mais dramáticas as revelações da apresentadora.
A extraordinária repercussão acionou um movimento de respeito e solidariedade em todos os escalões e esferas, chegando à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, ministra Maria do Rosário. Não faltou a dose habitual de chacota e cinismo atribuindo-se o gesto de expor tão cruamente sua vida íntima a uma compulsão marqueteira de quem está no show-bizz.
O deboche não colou: no programa seguinte foi lembrado outro caso, no interior de São Paulo, envolvendo um pai, advogado defensor de direitos humanos, que durante anos brutalizou não apenas a filha, também um filho menor.
Esta violência não é isolada, ela nos remete às revelações de pedofilia em entidades religiosas e à noção de que o pecado pode ser amenizado no confessionário.
Xuxa sacudiu uma sociedade que não gosta de ser sacudida nem incomodada. A imprensa tem o dever de ajudá-la a derrubar a hipocrisia.
***
A mídia na semana
** Uma entrevista feita por uma repórter do programa Brasil Urgente, da Band, em Salvador, foi parar na internet e causou revolta. Mirella Cunha agiu de forma agressiva com um jovem acusado de estupro e ainda debochou no ar por ele não saber o nome do exame que a vítima deve fazer para comprovar uma violência sexual. O vídeo bombou na rede e gerou notas de protesto do Sindicato dos Jornalistas e da OAB da Bahia. A Band emitiu um comunicado prometendo que adotará medidas disciplinares contra a repórter. Ainda não adotou.
** No Tocantins, outro repórter da Band teve que ouvir uma lição de moral do entrevistado. Após um acidente, um motorista ajudava os bombeiros a prestar atendimento à vítima quando foi interpelado pelo jornalista – que falou o que quis mas ouviu o que não quis.
***
[Lilia Diniz é jornalista]

Dá com uma das mãos e tira com a outra — Os novos aumentos de impostos para compensar a redução no setor automotivo


01/06/2012
 às 6:37


Por Lorenna Rodrigues e Priscilla Oliveira, na Folha:
Como forma de compensar as perdas que terá com a redução de impostos para setores como o automobilístico, o governo aumentou os tributos cobrados na produção de cerveja, água e refrigerantes. Segundo a Receita Federal, como resultado da taxação maior, o consumidor pagará em média um preço 2,85% maior nesses produtos a partir de outubro. Conforme a Folha antecipou na semana passada, foi aumentado também o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre motos, ar-condicionado e micro-ondas.
A medida é mais uma tomada com o objetivo de proteger a indústria nacional, pois deve afetar basicamente os produtos importados -os fabricantes da Zona Franca de Manaus, isentos do tributo, respondem por mais de 90% do mercado do país. Além de reajustar a tabela de preços médios sobre os quais é calculado o imposto pago por fabricantes de bebidas -o que ocorre todos os anos-, o governo decidiu elevar também a carga tributária do setor e ampliou a parcela do preço sobre a qual incide o tributo.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil), isso resultará em um aumento de 27% no total de impostos pagos por produtores de cerveja e de 10% pelos de refrigerante. A Receita não detalhou qual o aumento da carga tributária. “O volume de vendas deve ser prejudicado, obrigando as empresas a rever os investimentos previstos. As empresas do setor planejavam aportar R$ 7,9 bilhões este ano no país, o que geraria 300 mil novos empregos em toda a cadeia produtiva e um incremento de arrecadação da ordem de R$ 1,2 bilhão”, afirmou a entidade em nota.
O subsecretário de Tributação da Receita, Sandro Serpa, admitiu o caráter arrecadatório do aumento. “Temos um resultado prático, sem dúvida nenhuma, de aumentar a arrecadação. Mas temos, sim, uma realidade do setor hoje, que tem uma carga aquém de outros setores.” Em março do ano passado, o governo já havia anunciado o aumento na tributação de bebidas para compensar a perda de arrecadação com outras desonerações.
Por ano, isso significará R$ 2,4 bilhões a mais recolhidos aos cofres públicos. Devem compensar os R$ 2,7 bilhões em impostos dos quais o governo abriu mão com a redução da carga tributária do setor automotivo, adotada para estimular a economia, que vem tendo resultados muito abaixo do esperado neste início de ano.
(…)
Por Reinaldo Azevedo