segunda-feira, 12 de novembro de 2012

DO AMOR



Laurence Bittencourt (1)
Foi Pascal, esse gênio moderno, inventor da máquina de calcular que disse em certo momento da sua vasta obra, que em todo objeto amoroso há muito daquilo que emprestamos a ele. Amamo-nos no outro como uma espécie de espelho.
A confusão, no entanto, que muitos casais fazem entre um e outro no ápice da paixão, deriva em muito dessa percepção que Pascal teve sobre o amor.
A psicanálise, como sempre ela, que se debruçou em muito sobre as noções de amor, avalizaria a assertiva de Pascal como acrescentaria certamente, que amamos no outro partes de nós mesmos. Da mesma forma que também há o seu inverso a partir do ódio.
Aliás, foi Freud que disse que o contrário do amor não é o ódio, porque quando odiamos, há também o amor. O contrário do amor para o pai da psicanálise seria a indiferença, ainda que a indiferença para muitos seja uma espécie de “janela” aberta para o surgimento do ódio. Bom, reflitam.
Na verdade fiquei pensando nessas questões ao ler recentemente um belo trecho poético do grande poeta francês Charles Baudelaire que disse algo muito próximo do que expressa o apóstolo Paulo, ao anunciar a importância do amor nas nossas vidas. Paulo remete em seu famoso trecho da carta aos Coríntios que se tivéssemos tudo e ainda assim nos faltasse o amor, tudo seria em vão.
Baudelaire, que tudo leva a crer não era um religioso no sentido moderno do termo, e que foi um dos “profetas” da modernidade, ou melhor, que conseguiu captar como poucos o surgimento do mundo de massas, a mecanização de diversas esferas da vida social e principalmente o recuo da tradição no mundo moderno, tem a mesma percepção sobre o amor, próximo ao que sentenciou Paulo.
O que nos diz Baudelaire? Transcorro livremente: “comecemos pelo amor, pois não há duvidas de que sem ele pouca coisa do mundo funcionaria”. Claro que há versos do francês, em especial no seu livro famoso “As flores do mal” que podemos ver certa descrença na paixão. Mas é inegável que o amor é peça fundamental no mundo. E não é preciso recorrer à psicanálise, ainda que não fosse perda de tempo e algo interessantíssimo, para termos este reconhecimento.
Como disse o teatrólogo Anton Tchecov autor de algumas das peças teatrais mais importantes que o mundo já conheceu (entre elas “A gaivota” e “O jardim das cerejeiras”), “aquilo que provamos quando estamos apaixonados talvez seja o nosso estado normal. O amor mostra ao homem como é que ele deveria ser sempre”.
(1) Jornalista. laurenceleite@bol.com.br
(2) Fotomontage: Blaise Pascal, Charle Baudelaire e Anton Tchekhov

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