segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Adriano e os caminhos do futebol




Por Afonsinho
Partindo do Adriano, dá para refletir sobre os caminhos do esporte. Casos como o do Imperador têm várias faces que sempre são analisadas em separado, nunca sincronizadas, ao mesmo tempo, como elas ocorrem. Na visão geral, neste nosso momento, o jogador recebe e tem de treinar, concentrar, jogar. Produzir futebol e pronto.
O cartola trata de arrumar jogos, oportunidades de o time se apresentar, render com bilheteria e todas as fontes que cercam os clubes, marcas de todos os tipos, avidamente, sem ética nem estética. Os uniformes estão pavorosos. João Saldanha já prenunciara isso. Própria dos nossos dias, essa visão fragmentada do mundo. Cada qual cuida do seu, ”salve-se quem puder”.
O calendário é atropelado logo de saída. A volta das férias engole os dias que se consegue alegando exames médicos, testes físicos etc. Interrompem a programação da chamada pré-temporada, supostamente feita para preparar um lastro, e começam os jogos “amistosos”. Quando um time perde duas ou três partidas, passa um período numa cidade afastada, tirando ainda mais o pouco convívio que as pessoas têm com seus mais próximos. E assim por diante.
Ao jogador cabe arranjar, a seu modo, como exercer sua vida com todas as urgências da sua mocidade, sendo atleta, saudável, com dinheiro no bolso e cercado dos apelos que a comunicação estimula, coerente com tudo. Admiráveis, e talvez temíveis, a coragem e a tranquilidade com que o Adriano sempre se colocou nos momentos de ser cobrado. Delicado até. Um conflito permanente ou talvez uma firmeza impressionante a maneira como se situa, em meio a tamanhas tentações, reafirmando sua condição social de origem.
Sua última declaração em meio a um show de que participou ainda ressoa. “Sou da favela p…” Não se esconde sua foto com armas pesadas, não bem explicadas, sua confissão de problemas com álcool e se teme por isso. Mais uma vez se apresenta com inteireza quando declara que não terá condição de jogar profissionalmente este ano e abre mão do contrato. Afinal, não era um contrato, tão propalado, de risco? Inegável sua capacidade de decisão dentro de campo. Digo isso como reconhecimento. Demorei a me convencer do seu valor. Sempre me parecia um boxeur jogando bola. Usando bem o corpo e só. Até no Corinthians, de passagem também tão discutida (deve render boa causa na Justiça). Com todas as “mancadas”, no pouquíssimo tempo em que jogou, fez o gol sem o qual o “Timão” não se sagraria campeão, dirão os moralistas.
Olha o Seedorf, que beleza. No momento, penso ser exagerado seu empenho, embora reconheça autenticidade. Messi é o maior e esbanja simplicidade. Talvez por isso. Sobram “jogadores-problema”. Isso ajuda a explicar o desequilíbrio dessas relações profissionais.
Vem aí a Copa do Mundo no Brasil. Além de estádios e outras obras, precisamos mobilizar as relações esportivas em todos os níveis. O Estado não pode fazer nada? Necessário aproveitar o embalo das mudanças iniciadas pela cúpula. Tenho uma admiração profunda pelos vários jogadores que, destacados em suas temporadas nos mercados mais ricos do futebol, retornaram às suas terras por um sentimento maior de Liberdade. Vi de perto o prestígio do Luiz Pereira em Madri. Romário voltou para o Brasil no ponto mais alto de sua carreira. Estão aí Juninho, Felipe, o grande Ronaldo Gaúcho e tantos outros. Garrincha e Pelé, os dois maiores, não saíram do Brasil, mesmo bicampeões mundiais.
O mesmo não se pode dizer do comportamento de “cartolas” que raspam os cofres dos clubes e deixam os jogadores com salários atrasados. Existem exceções. Ave! Na Bahia, torcedores atacam jogadores do seu próprio time. Torcedores? Dirigentes não são atacados. Blindagem e covardia. Em Belo Horizonte, criatividade. Torcida protesta contra futebol de enganação com louvação ao Neymar espetacular.
Inicia-se a temporada de conclusões, a começar pelas falsas conclusões estatísticas. Jornal publica em grande reportagem: rendimento do Botafogo é melhor sem Seedorf – 56,4 x 46,6. Como se todas as partidas fossem iguais. O nome do jogo é futebol. Em meio a tanta violência, uma fotografia maravilhosa da comunidade de Paraisópolis com seu campo de futebol preservado em meio a toda área superconstruída. O valor e o amor que o povo tem pela sua cultura. Lutem para conservar sempre. São Paulo tem outros campos semelhantes, o da Mooca mantém uma árvore no meio do campo (ainda existe?). No Rio de Janeiro, uma lei sábia não permite que se destruam campos tradicionais. Apesar de tudo, vários deles foram ocupados. Na Mangueira, o campo da Cerâmica já não tem, além de outros mais.
Nota: Paquetá já tem seu campeão. Praça 1 x 0 Moreninha F. C.

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