Além da areia e da água salgada, Ipanema e Boa Viagem têm pouco, pouquíssimo em comum. Não são irmãs separadas pelo nascimento, muito pelo contrário. São de famílias diferentes.
Isso justifica eu sair do Recife para passar uns dias nas areias do poxxxto 9.
Devidamente instalada na canga com o desenho do calçadão de Copacabana, apesar de estar em Ipanema, e já besuntada de protetor solar me misturei aos cariocas, americanos, franceses, nordestinos, suecos e mineiros que frequentam a cidade maravilhosa.
Uma mangue girl com pose de garota de Ipanema, fui logo pedindo um caldinho completo bem quentinho para aumentar a sede e a coragem de mergulhar nas gélidas águas cariocas.
Sabe o caldinho de feijão? Aquele com torresmo, ovo de codorna, queijo de coalho, charque, milho e ervilha? Não, aparentemente a iguaria não chegou à praia mais famosa do mundo.
E eu que imaginava inocentemente que o caldinho de praia era uma instituição internacional vendida nas praias do Nordeste à Saint-Tropez, passando por Angra e Caribe.
Treinando o desapego bairrista, me concentrei nos outros petiscos. Dessa vez, a ideia era provar um autêntico tira-gosto carioca. Olhei em volta analisando os ambulantes e consumidores para descobrir, incrédula, um mutirão de árabes. Não era miragem! Homens vestindo suas ghutras, devidamente amarradas pelo agal (que eu chamaria de burca, não fosse o solícito Google) gritavam pelas areias:
- Kiiiibe quentinho! Esfihaaaa saída do forno!
Fotos: Rodrigo Lobo
Eles eram muitos e seus clientes também. Tudo indica que a culinária do Golfo Pérsico é o sucesso do verão quando o assunto é gastronomia praieira.
Não sei em que momento a influência dos Emirados Árabes chegou ao Brasil.
No Recife estudei a importância da cultura portuguesa, a influência da mama África, a herança indígena e até rastros culturais dos holandeses. Mas árabe?
A esfiha chegou à praia em caravelas? Vamos herdar o petróleo?
De concreto dos meus “estudos” viajantes, ficou a certeza de que a esfiha de espinafre com ricota é a melhor do mundo muçulmano. Estou pensando em abrir uma barraca árabe, bem ao lado de Chico do Caldinho, em Boa Viagem Beach.
E, enquanto eu me empanturrava de kibe, biscoito Globo, mate com limão, açaí na tigela e outras iguarias cariocas, meu companheiro de viagem (leia-se; namorado fotógrafo) registrou nossa experiência com os ambulantes de Ipanema. Porque lá, você só não encontra caldinho. O resto tem!
Téta Barbosa é jornalista, publicitária, mora no Recife e vive antenada com tudo o que se passa ali e fora dali. Escreve aqui sempre às segundas-feiras sobre modismos, modernidades e curiosidades. Ela também tem um blog - Batida Salve Todos
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