quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Número de mulheres eleitas em todo Brasil registra recorde


09 de outubro de 2012  18h09  atualizado às 19h29



FABRICIO ESCANDIUZZI
Direto de Florianópolis
Nas eleições que marcaram o aniversário dos 80 anos do direito do voto feminino no Brasil, o número de mulheres eleitas para as Câmaras municipais superou o recorde registrado no ano 2000.
Em 2012, 7.648 candidatas conseguiram conquistar uma cadeira no Poder Legislativo. O número representa o fim de uma tendência de queda registrada nas duas eleições anteriores. Após o recorde anterior, registrado em 2000 com a eleição de 7.001 vereadoras, a participação feminina caiu para 6555 eleitas em 2004 e 6512 em 2008.
O professor e doutor em demografia José Eustáquio Diniz Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE, explica que, apesar do recorde, o conceito de paridade ainda está muito longe de ser alcançado no Brasil. As mulheres representam apenas 13,3% do total de eleitos. "O avanço tem sido pequeno e o país ainda continua muito longe da paridade de gênero na política", disse.
Em seu estudo que produziu sobre o tema com os dados do pleito de domingo, ele afirma que o aumento de 2012 poderia ser explicado pela mudança da política de cotas. A alteração de apenas uma palavra na lei 12.034/2009 mudou a postura dos partidos políticos.
"A alteração pode parecer pequena, mas a mudança do verbo "reservar" para 'preencher' significou uma mudança no sentido de forçar os partidos a dar maiores oportunidades para as mulheres", afirma. "O ideal é que fosse garantido a paridade de gênero (50% para cada sexo) nas listas de candidaturas. Mas, diante do baixo número de mulheres candidatas, a mudança da lei em vigor já representou um avanço, mesmo que limitado."
Diniz Alves afirma que o primeiro sinal claro de mudanças ocorreu no número de candidaturas femininas, que saltou de 72,4 mil em 2008, (21,9% do total de candidaturas) para 133 mil em 2012 (31,5%).
No Brasil, as regiões norte e nordeste foram onde as mulheres tiveram o melhor desempenho em termos percentuais, com 14,8% e 15,5% respectivamente. O sudeste teve o pior desempenho, com apenas 11% de mulheres entre todos os eleitos. A representação nos três estados do sul chega a 13% e no centro oeste, 12,5%.
Entre os estados, Espírito Santo foi onde as mulheres tiveram o menor desempenho. Apenas 838 foram eleitas, o que representa 7,5% da representação política dos municípios. O melhor foi o Rio Grande do Norte, onde as mulheres representam 20,5% das candidaturas vitoriosas.
Na eleição majoritária a participação é ainda mais tímida: 11,8% das prefeituras serão comandadas por mulheres a partir de 2013. Eustáquio mostrou que, apesar de registrar menor número em 2012 (15.128) em relação a 2008 (15.142), as candidaturas femininas obtiveram mais sucesso este ano. Foram eleitas 663 prefeitas contra 504 há quatro anos.
Apesar de considerar a participação ainda tímida, José Eustáquio acredita que as mulheres deram "um passo à frente" na participação política em nível municipal. "Porém, de 1992 a 2012 o avanço foi, em média, de 1% no percentual de eleitas a cada eleição. Neste ritmo, a paridade de gênero nos espaços de poder municipais vai demorar 148 anos no Brasil", afirma comparando a política com o desempenho de equipes brasileiras em Jogos Olímpicos.
"A baixa participação feminina na política não corresponde ao papel que as mulheres desempenham em outros campos de atividade. Elas são maioria da população, já ultrapassaram os homens em todos os níveis de educação e possuem uma esperança de vida mais elevada. Nas duas últimas Olimpíadas conquistaram duas das três medalhas de Ouro. A exclusão feminina da política é a última fronteira a ser revertida, sendo que o déficit político de gênero em nível municipal não faz justiça à contribuição que as mulheres dão à sociedade."

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