10/10/2012
Laurence Bittencourt (1)
Para quem gosta de se dar ao trabalho de refletir sobre questões ligadas a ética na política, como este que aqui escreve, há uma pergunta que insistentemente me vem à mente e que é a seguinte. Antes, porém, uma explicação: o Ministro de Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli (foto) já foi advogado de José Dirceu (um dos réus do Mensalão), defendendo-o e recebendo para tanto. Foi advogado da CUT e do próprio PT. Pergunta: como então agora sob o Mensalão, ele que foi nomeado para o Supremo pelo ex-presidente Lula, e que já defendeu José Dirceu, irá incriminar o mesmo José Dirceu? É uma pergunta.
Claro que a boa ética (um pleonasmo sem dúvida) defenderia isso, ou seja, que apesar da nomeação (favores) e mesmo já tendo defendido José Dirceu, agora sob um “novo caso” ele mantivesse a eqüidistância e ética na hora da votação, ética que se exige da justiça, mas quem acredita em tal postura por parte do Dias Toffoli? Quem?
Claro, o Mensalão continua sendo uma boa referência e pode sem dúvida ser um divisor de águas no país, se bem que em se tratando de Brasil, é arriscado e até mesmo ingênuo, acreditar em mudanças de valores ou respeito à democracia. O mais correto penso eu, é não apostar todas as fichas na questão do divisor de águas.
Mas há outra incoerência, pelo menos eu vejo, com relação a esse julgamento, que foi julgado e aceito até o momento. Trata-se do seguinte. Como é possível que o Supremo Tribunal tenha aceitado a tese de que houve o Mensalão (incluindo inclusive favoravelmente o parecer do Ministro Lewandowski), a partir da denuncia feita pelo já condenado Roberto Jefferson, mas não inclui ou aceita a tese de que o presidente Lula tinha conhecimento e apoiava o ilícito, também denunciado pelo mesmo Jefferson? Não é estranho?
Ok, alguém pode argumentar que essas “escolhas” fazem parte do Direito e da democracia, ou então que já “venceu” o prazo para essa escolha. Bom, mas que é estranho isso é.
Essas incoerências lembram muito os argumentos usados por certos chamados “esquerdistas” (eles assim se auto-proclamam, ainda que muitos deles sejam visivelmente proto-burgueses ou em alguns casos, rigorosamente pequeno-burgueses) que diante da falta de ética do PT nas eleições ou no Mensalão, por exemplo, dizem de forma tranqüila que na política “vale tudo”. Como pode? No entanto, reparem nesses mesmos (em alguns deles) os argumentos que lançam na cara dos outros de que os americanos estão errados quando invadem países que tentam violar (e violam) a democracia. Não é estranho?
A reação tipicamente esquizofrênica ou ambivalente (se bem que o melhor adjetivo fosse o de totalitários) torna-se aberta e inescrupulosamente usada. E pior, usada sem o mínimo de culpa. Não é á toa que o PT enquanto partido consegue conviver com o apoio a Hugo Chaves e ainda assim se dizendo democrata. Pode isso? Deve poder não é? Estamos no Brasil. Aqui não vale tudo? As exigências éticas que eles fazem aos outros, não servem par si.
(1) Jornalista. laurenceleite@bol.com.br
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