Ah, a “Batatolândia”! É assim que chamo esta Terra que escolhi há alguns anos como novo lar, e não por nada. Conhecidos em todas as rodas de piadas internas do mundo como os maiores comedores de batata do planeta, a Alemanha é ou não é a terra da batata?
Eu diria que não mais.
Depois de séculos alimentando um povo e dando a ele alguns centímetros a mais de altura ao longo do tempo (reza a lenda que batata faz crescer, e pelo visto, faz sim, considerando que japoneses só comem arroz), ao que parece o “tubérculo dos deuses” já não é mais.
A batata foi a estrela dos tempos de vacas magras. Depois da colheita, estocando-a no porão, dura meses. A história alemã é marcada por tempos ruins, de racionamento e contenção, de forma que a batata sempre salvou a pátria da inanição.
Até que li uma estatística deveras impactante: a Alemanha é a segunda nação que mais come macarrão na Europa. Parodiando a Dona Neves: ca que que como? A Itália a gente desconsidera. Segundo lugar? Pois é. Além disso, o consumo de batata caiu de 256 kilos por cabeça para 60 kilos em pouco mais de um século.
Dado interessante, visto que a produção de batata na Alemanha triplicou nas três últimas décadas. Entretanto, parte grande desta produção tem ido para a fabricação de amido, destilados e alimentos desidratados.
Eu moro na Saxônia, e aqui a batata ainda reina nas refeiçöes tradicionais. Mas é só você ir um pouco em direção à civilização (também conhecida como Oeste) para perceber que a batata concorre tête à tête com o macarrão tipo espaguete e outras massas no PF nosso de cada dia. Este, encontra-se por preços mais do que módicos no supermercado: ½ quilo por cerca de 50 centavos de Euro.
Além de tudo, a batata tem a concorrência com os seus subprodutos industrializados, como chips, purê em pó, batata frita congelada, a um microondas de distância. Em busca de conveniência, o consumidor tem renegado a ingrata tarefa de comprar (olha o peso!), lavar e descascar as batatas cruas, uma rotina altamente antiquada, diga-se de passagem. Afinal, quem tem tempo para isso hoje em dia, não?
Descascar batatas é lamentavelmente tido como sinal de pobreza. Prova disso é que o consumo do vegetal é inversamente proporcional ao poder aquisitivo da família. Isso diz muita coisa sobre a sociedade.
A boa notícia é que estou fazendo a minha parte para salvar as batatas. De tanta batata, já consigo descascar uma em menos de 15 segundos. Traí até o arroz por elas.
Tamine Maklouf é jornalista e ilustradora nas horas vagas. Mora na Alemanha desde agosto de 2009, onde se encontra na “ponte terrestre” Dresden-Berlim. De lá, mantém o blog www.diekarambolage.wordpress.com
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