quarta-feira, 12 de setembro de 2012

OBRA-PRIMA DO DIA - PINTURA Retratos: Laura; Clara; e o mestre-escola


No apogeu das reuniões do Grupo do Leão, Malhoa começa também a se interessar por retratos. O que lhe atraía era tentar capturar o espírito de seu modelo, seu pensamento e em suas telas retratar a alma portuguesa. Veremos alguns desses retratos durante esta semana.
Começamos com o de uma menina, Laura, pintada em 1888. A tela faz parte do acervo do Museu José Malhoa, erguido em Caldas da Rainha, terra natal do artista. Muitos anos depois, em 1950, a retratada, já com o nome de casada, Laura Sauvinet Bandeira, doou seu retrato ao museu e dizem que na ocasião ela deixou escapar: “Eu era muito bonita!”.
É a obra mais conhecida de Malhoa. E só podemos concordar com Laura – ela era mesmo bonita.
Sua expressão serena, seu olhar tranquilo não mostram, no entanto, o que registros escritos deixaram como testemunho: a ansiedade da jovem para que as horas de pose, cansativas e maçantes, terminassem logo... O que é mais do que natural numa menina de 12 anos.

 

É um belo retrato: a paleta de cores muito bem escolhida, a pele luminosa, os lindos cabelos e o porte elegante. Nas mãos as flores que seriam muitas vezes pintadas por Malhoa, as hortênsias. Mas o que mais chama a atenção é o jogo de luz e sombra que ele tão bem utilizou, o que era uma marca de suas telas.
Pouco tempo depois, Malhoa adquire casa de campo em Figueiró dos Vinhos, no distrito de Leiria. Ali, além de figuras que ama retratar, redescobre os temas populares que o encantarão ao longo da vida. O Portugal sentimental e bucólico, o mesmo que Eça retrata em A Cidade e as Serras, quando Jacinto de Thormes troca Paris pela aldeia serrana.
Um exemplo é o retrato de Clara, a linda aldeã que transmite vitalidade e bom humor. Foi pintado em 1918.
Segundo registros do museu, Malhoa viu em Clara uma das personagens do romanceAs Pupilas do Senhor Reitor, de Julio Dinis.

 
(detalhe)

São muito diferentes as duas meninas-moças. Laura é mais jovem, mas Clara não deve ter ainda 20 anos. Vidas díspares, uma citadina, a outra camponesa, mas são as duas muito representativas das moças portuguesas. É só passar uma temporada por lá que encontraremos Claras e Lauras, não com as mesmas vestes, nem nas mesmas posições. Mas os rostos, a expressão, o olhar, a feminilidade, isso que Malhoa captou tão bem, esses ainda são os mesmos.
E por último o mestre-escola: junto a uma janela aberta sobre uma paisagem rural e luminosa, ele lê o jornal. Como sempre, é o domínio da luz que impressiona em Malhoa. A luz natural de um dia de verão se contrapõe à luz interior que com certeza não permitia que o mestre-escola lesse com vagar o seu jornal. 

(detalhe)
Não me perguntem o motivo, não saberia explicar, mas esse quadro me emociona...

Laura:  Museu José Malhoa, Caldas da Rainha
ClaraMuseu do Chiado, Lisboa
Meste-escola : Museu José Malhoa, Caldas da Rainha

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