segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O NOME DAS PESSOAS



Luiz Berto
Dificilmente você encontrará alguém sendo chamado pelo santo nome de batismo. Quando isto acontece, pode esperar que vem o longo o complemento, o apelido sintético, sempre derivado de uma expressiva faceta do dono: uma mania, um aleijão, um jeito ou um defeito. Raramente, uma qualidade. Alguns são difíceis de decifrar, e outros estão à vista. O fato é que se tornam indissociáveis dos possuidores e vão além da própria morte.
Lá você vai encontrar (a pessoa ou a memória: alguns já partiram) Biscoito Duro, Urubu Viúvo, Cueca Engomada, Tosse de Cachorro, Bava-Ovo, Ampulheta, Cheira-Peido, Calça Mole, Muriçoca, Pedro Teimoso, Carlinho Catimbozeiro, Matias do Porco, Sula, Vavá Doido, Amendoim, Orlando dos Bois, Zé das Moças, Urso Branco, Tigela, Jipinho, Mirata, Nenê-Balança-os-Cachos, Pé-de-Quilo, Abano, Mané Doido e Mané Peito-de-Aço.
Na Coréia, zona boêmia, os nomes das putas são saborosos: Maria do Sinal, Porca Russa, Edileuza Beira-Rocha, Maria Cu-de-Apito, Ministrão, Macaca de Damos, Aranha, Vaca Braba, Miriam Escrota, Amara Pé-de-Pato e Maria Cu-de-Calo.
Estranha razão teria determinado o apelido daquele pacífico carregador de fretes: Manoel Rabo Fino. E tem mais: Decente, Feiúra, Zé da Brahma, Homem de Bem, Luiz Meu Avô, Luiz Sem-Vergonha, Veludo, Zezé Pentelho-de-Burro, Saturno dos Burros, Biu do Tacho, Piabinha, Manoel Cabelo-de-Rato, Boi Brabo, Rabeca e Bicho-Bom.
E tem mais. Muito mais. Mas os outros, eu não sou besta de contar. Vá lá e pergunte pro povo os apelidos das autoridades municipais.
Antes que você ganhe o seu
(Do livro “A Prisão de São Benedito”, 4ª edição, 1997, Editora Bagaço)

Nenhum comentário:

Postar um comentário