terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Trincheiras na Venezuela - EDITORIAL FOLHA DE SP


FOLHA DE SP - 10/12

No primeiro teste eleitoral do presidente Nicolás Maduro, os pleitos municipais na Venezuela, realizados no domingo, evidenciaram, mais uma vez, um país dividido.

Em eleição definida como "plebiscitária" pela própria oposição, o PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) e outras siglas governistas conquistaram um número bem maior de prefeituras e obtiveram 49% do total de votos, contra 43% da MUD (Mesa de União Democrática) e seus aliados.

Foi o que bastou para Maduro celebrar o resultado e sacar, da cartilha chavista, declarações agressivas contra seu principal adversário, Henrique Capriles. Afirmou que o líder oposicionista é "fascista e prepotente" e o exortou a deixar a política, como se as urnas houvessem dado razão para tanto.

Longe de ser o caso. A oposição voltou a vencer em quatro dos cinco municípios que formam Caracas, além de seu distrito metropolitano. Manteve Maracaibo e Valencia, segunda e terceira maiores cidades do país, e tomou dos chavistas a prefeitura de Barinas, capital do Estado natal de Hugo Chávez.

Num país conturbado como a Venezuela, é difícil precisar quem se saiu melhor. Com o desabastecimento de alimentos e produtos de primeira necessidade, a inflação galopante (já perto de 60% ao ano), a falta de dólares na praça e a insegurança crescente, uma oposição mais forte talvez tivesse amealhado mais votos.

No entanto, são conhecidos os métodos chavistas. Os meios de comunicação são praticamente monopólio do governo, e eleitores têm fundados motivos para temer represálias caso votem na oposição.

Maduro, além disso, adotou medidas tão irresponsáveis quanto populistas a fim de obter sucesso eleitoral. Ordenou, mês passado, a redução do preço de eletrodomésticos em até 50%. A ação gerou uma onda de consumo e teve impacto na campanha, chamado por analistas de "efeito TV de plasma".

Vale, portanto, o mesmo raciocínio aplicado à oposição: não seria natural esperar votação mais expressiva dos governistas?

Do ponto de vista eleitoral, o copo está meio cheio, meio vazio. Já a situação da Venezuela não pode ser relativizada da mesma maneira. Entrincheirados em seus redutos, governo e oposição recusam

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