VALOR ECONÔMICO - 10/12
Do ponto de vista econômico, o Brasil é um país relativamente fechado: as exportações representam 13% e as importações 14% do PIB a preços de mercado. Mesmo assim, a conjuntura mundial tem alguma influência sobre as variações do nosso PIB, através da flutuação das exportações e importações físicas e da relação dos seus preços relativos, que chamamos de "relação de troca".
Quando ela cresce, ganhamos um "bônus" do mundo equivalente a um aumento acidental da nossa produtividade. É por isso que existe uma correlação (uma variação concomitante) entre a conjuntura mundial e a nacional: temos maior facilidade para crescer um pouco mais com uma conjuntura mundial favorável. A relação é tênue, mas talvez seja uma componente - juntamente com o pequeno declínio da relação de troca - de parte da explicação da dramática redução do crescimento do PIB nos últimos três anos. O resto é responsabilidade da nossa própria política econômica.
A tabela abaixo revela que entre o terceiro trimestre de 2002 e o terceiro trimestre de 2010, o PIB cresceu 3,8% ao ano. Entre o terceiro trimestre de 2010 e igual período de 2013, o crescimento foi de 1,8%, com uma composição profundamente diferente.
A queda de 80% do crescimento do setor industrial, somada à redução da expansão da economia mundial, talvez seja responsável por cerca de metade da redução de 2% da taxa de crescimento do PIB entre os dois períodos. Há seguramente outras causas e podemos sofisticar à vontade a qualidade do diagnóstico. No curto prazo, entretanto, é muito difícil deixar de aceitar o fato que foi a brutal queda de demanda da produção de manufaturados produzidos no Brasil, como consequência da combinação mortal da supervalorização cambial acompanhada de paulatina desorganização do sistema de tarifas efetivas e da ausência do "draw-back verde amarelo" que um dia tivemos.
O gráfico abaixo registra o saldo comercial (exportação menos importação) do setor de produtos manufaturados e a taxa de câmbio real (taxa de câmbio nominal dividida pelo salário nominal de cada ano). Com uma defasagem de 2 anos, o saldo responde às variações do câmbio real. Trata-se de visão puramente impressionista. Não é preciso procurar explicação mais sofisticada para entender que entre 2002 e 2007 o importante superávit (produzido pela correção cambial imposta pelo mercado em 1999), de US$ 139 bilhões, foi transformado num déficit de US$ 171 bilhões, entre 2008 e 2013, graças principalmente, à excessiva valorização cambial. No período, a política econômica "roubou" bilhões de dólares de demanda externa e interna da indústria de manufaturados nacional. A carga tributária elevada, a maior taxa de juro real do mundo e o câmbio mais valorizado do mundo (devido aos aumentos de salários nominais muito acima da produtividade do trabalho), usado como instrumento de controle da inflação, congelaram o "espírito animal" do empresário nacional e aumentaram os riscos de novos investimentos. Felizmente, o mercado, de novo, impôs a correção do câmbio. A taxa de juros real (com suas idas e vindas) é menor. Isso sugere que, entre 12 e 18 meses, a indústria de manufaturados usará melhor os fatores de que dispõe, ajudando na recuperação do crescimento.
Por outro lado, a clara disposição do governo de manter a busca da "modicidade tarifária" com amigável audiência e respeito aos limites do setor privado, aumentou a probabilidade de sucesso dos leilões de concessão de infraestrutura, até no setor ferroviário. Elas serão poderosas alavancas para acelerar os investimentos em infraestrutura. Finalmente, a lenta recuperação da economia mundial talvez possa nos dar um pequeno alento adicional. Esses três fatores poderão nos proporcionar um razoável 2014.
Se insistirmos, com a cooperação do Congresso, numa forte coordenação entre adequadas políticas fiscal e monetária, afastaremos as ameaças e as incertezas que hoje nos cercam. A dissipação da possível "tempestade perfeita", que seria o acontecimento simultâneo da queda de um ponto no nosso rating soberano e o início ("tapering") do afrouxo monetário dos EUA - que será, como sempre, desajeitado - depende apenas de uma ação firme e crível do governo brasileiro. É o que reforça a esperança de termos um 2014 um pouco melhor do que 2013.
Do ponto de vista econômico, o Brasil é um país relativamente fechado: as exportações representam 13% e as importações 14% do PIB a preços de mercado. Mesmo assim, a conjuntura mundial tem alguma influência sobre as variações do nosso PIB, através da flutuação das exportações e importações físicas e da relação dos seus preços relativos, que chamamos de "relação de troca".
Quando ela cresce, ganhamos um "bônus" do mundo equivalente a um aumento acidental da nossa produtividade. É por isso que existe uma correlação (uma variação concomitante) entre a conjuntura mundial e a nacional: temos maior facilidade para crescer um pouco mais com uma conjuntura mundial favorável. A relação é tênue, mas talvez seja uma componente - juntamente com o pequeno declínio da relação de troca - de parte da explicação da dramática redução do crescimento do PIB nos últimos três anos. O resto é responsabilidade da nossa própria política econômica.
A tabela abaixo revela que entre o terceiro trimestre de 2002 e o terceiro trimestre de 2010, o PIB cresceu 3,8% ao ano. Entre o terceiro trimestre de 2010 e igual período de 2013, o crescimento foi de 1,8%, com uma composição profundamente diferente.
A queda de 80% do crescimento do setor industrial, somada à redução da expansão da economia mundial, talvez seja responsável por cerca de metade da redução de 2% da taxa de crescimento do PIB entre os dois períodos. Há seguramente outras causas e podemos sofisticar à vontade a qualidade do diagnóstico. No curto prazo, entretanto, é muito difícil deixar de aceitar o fato que foi a brutal queda de demanda da produção de manufaturados produzidos no Brasil, como consequência da combinação mortal da supervalorização cambial acompanhada de paulatina desorganização do sistema de tarifas efetivas e da ausência do "draw-back verde amarelo" que um dia tivemos.
O gráfico abaixo registra o saldo comercial (exportação menos importação) do setor de produtos manufaturados e a taxa de câmbio real (taxa de câmbio nominal dividida pelo salário nominal de cada ano). Com uma defasagem de 2 anos, o saldo responde às variações do câmbio real. Trata-se de visão puramente impressionista. Não é preciso procurar explicação mais sofisticada para entender que entre 2002 e 2007 o importante superávit (produzido pela correção cambial imposta pelo mercado em 1999), de US$ 139 bilhões, foi transformado num déficit de US$ 171 bilhões, entre 2008 e 2013, graças principalmente, à excessiva valorização cambial. No período, a política econômica "roubou" bilhões de dólares de demanda externa e interna da indústria de manufaturados nacional. A carga tributária elevada, a maior taxa de juro real do mundo e o câmbio mais valorizado do mundo (devido aos aumentos de salários nominais muito acima da produtividade do trabalho), usado como instrumento de controle da inflação, congelaram o "espírito animal" do empresário nacional e aumentaram os riscos de novos investimentos. Felizmente, o mercado, de novo, impôs a correção do câmbio. A taxa de juros real (com suas idas e vindas) é menor. Isso sugere que, entre 12 e 18 meses, a indústria de manufaturados usará melhor os fatores de que dispõe, ajudando na recuperação do crescimento.
Por outro lado, a clara disposição do governo de manter a busca da "modicidade tarifária" com amigável audiência e respeito aos limites do setor privado, aumentou a probabilidade de sucesso dos leilões de concessão de infraestrutura, até no setor ferroviário. Elas serão poderosas alavancas para acelerar os investimentos em infraestrutura. Finalmente, a lenta recuperação da economia mundial talvez possa nos dar um pequeno alento adicional. Esses três fatores poderão nos proporcionar um razoável 2014.
Se insistirmos, com a cooperação do Congresso, numa forte coordenação entre adequadas políticas fiscal e monetária, afastaremos as ameaças e as incertezas que hoje nos cercam. A dissipação da possível "tempestade perfeita", que seria o acontecimento simultâneo da queda de um ponto no nosso rating soberano e o início ("tapering") do afrouxo monetário dos EUA - que será, como sempre, desajeitado - depende apenas de uma ação firme e crível do governo brasileiro. É o que reforça a esperança de termos um 2014 um pouco melhor do que 2013.
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