terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Cartas de Berlim: Do trabalho manual e seus prazeres


Albert Steinberger
Na semana em que cheguei em Berlim, deparei-me com quase 20 centímetros de neve na varanda de casa. Como bom brasileiro, considerava neve algo de outro planeta. Uma coisa com a qual não estava acostumado e tampouco sabia como lidar no dia-a-dia. E na Alemanha, a mão de obra é muito cara. Então, chamar alguém para dar um jeito no gelo acumulado, não era uma possibilidade para mim.
No final das contas, diante do medo da neve derreter e alagar a sala, resolvi improvisar. Munido de criatividade e baldes, transportei a neve para a banheira.
Na Alemanha, os problemas domésticos são geralmente consertados e resolvidos pelo próprio morador. Isso inclui a limpeza do apartamento. No Brasil, eu contava com a ajuda da Maria, que uma vez por semana lavava as minhas roupas e dava uma geral no meu apartamento, mas em Berlim, me encarrego pessoalmente da faxina.
As chamadas Putzfrauen daqui cobram por hora e, mesmo assim, é aquela passada de aspirador e tirada de pó básica dos móveis. Nada demais.


Com isso, a estadia na Alemanha tem aumentado a minha habilidade em fazer trabalhos manuais. Desde pendurar cortinas, até ajudar amigos com mudanças.
Do ponto de vista individual, me impressionou a capacidade revigorante de lavar uma pilha de louça suja. Sem brincadeiras, depois de um dia inteiro na frente no computador, esse tipo de movimento me ajuda a relaxar e pensar em outra coisa.
A cultura do faça você mesmo é muito forte aqui na Alemanha e não se resume a afazeres domésticos. O Clube de bicicleta alemão ADFC faz oficinas em que ensina noções de mecânica para que as pessoas possam consertar a suas bicicletas e fazer as revisões periódicas, elas mesmas. E claro que revisões de bicicleta na Alemanha são caríssimas.
Na verdade, tudo o que envolva o trabalho de uma pessoa costuma ser caro, porque há uma valorização do trabalho por aqui, seja ele braçal ou não.
Li recentemente um artigo em um blog de um brasileiro que vive em Amsterdam e enfrenta situações parecidas. Ele faz uma conexão interessante entre o fato da classe média limpar o próprio banheiro com a possibilidade de abrir um macbook dentro do ônibus sem medo. (Leia aqui)
Os dois países, Holanda e Alemanha, são sociedades com uma desigualdade social muito menor do que a brasileira. Por aqui, a grande maioria da população, principalmente a classe média, vai no fim do dia dar uma geral na casa, mas ao mesmo tempo pode caminhar sem medo a qualquer hora pelas ruas.
Falando nisso, deixa eu ir porque tem uma pilha de pratos me esperando.

Albert Steinberger é repórter freelancer, ciclista e curioso. Formado em Jornalismo pela UnB, fez um mestrado em Jornalismo de Televisão na Golsmiths College, University of London. Atualmente, mora em Berlim de onde trabalha como repórter multimídia para jornais, sites e TVs.

Nenhum comentário:

Postar um comentário